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Interceptação Telefônica: Procedimentos e Requisitos

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Aula 12
Legislação Penal e Processual Especial p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2
Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
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AULA 
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA 
 
Sumário 
 
1 - Considerações Iniciais ............................................................................................... 03 
2 - Terminologia ........................................................................................................... 07 
3 - Geração de provas....................................................................................................19 
4 - Requisitos da interceptação telefônica .........................................................................31 
5 - Procedimento...........................................................................................................45 
6 - Execução da medida..................................................................................................50 
7 - Crime descrito na Lei 9296/96.....................................................................................53 
8 - Lista de Questões sem comentários.............................................................................54 
9 - Lista de Questões com comentários.............................................................................61 
10 - Resumo.................................................................................................................74 
11 - Gabarito................................................................................................................76 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA 
1 - Considerações Iniciais 
 
 O sigilo da correspondência, das comunicações telegráficas, de dados e das 
comunicações telefônicas estão relacionados com a proteção constitucional da 
vida privada e da intimidade. 
 
 A Constituição Federal, em seu art. 5º, XII, preconiza que é inviolável o 
sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das 
comunicações telefônicas, salvo no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses 
e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução 
processual. 
 
 Em uma interpretação gramatical (literal) do dispositivo constitucional 
acima seria forçoso concluir que apenas na hipótese das comunicações telefônicas 
o sigilo poderia ser violado. Todavia, nenhum desses sigilos (da correspondência, 
das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas) estão 
protegidos de maneira absoluta, porquanto não existe nenhum direito 
fundamental absoluto. Essa é a lição dada pelo decano do STF, Min. Celso de 
Mello: “não há, no sistema constitucional brasileiro, direitos ou 
garantias que se revistam de caráter absoluto, mesmo porque razões 
de relevante interesse público ou exigências derivadas do princípio 
da convivência das liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, 
a adoção, por parte dos órgãos estatais, de medidas restritivas das 
prerrogativas individuais ou coletivas, desde que respeitados os 
termos estabelecidos pela própria Constituição. O estatuto 
constitucional das liberdade públicas, ao delinear o regime jurídico 
a que estão sujeitas – e considerado o substrato ético que as informa 
– permite que sobre elas incidam limitações de ordem jurídica, 
destinadas, de um lado, a proteger a integridade do interesse social 
e, de outro, a assegurar a coexistência harmoniosa das liberdades, 
pois nenhum direito ou garantia pode ser exercido em detrimento da 
ordem pública ou com desrespeito aos direitos e garantias de 
terceiros.”1 
 
1 MS 23452/RJ, Rel. min. Celso de Mello, Pleno, DJ 12/05/2000. 
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 No HC de nº 70814/SP, o Supremo Tribunal Federal entendeu que podia 
ocorrer a violação do sigilo de correspondência de preso em prol do interesse 
coletivo (segurança pública). Vejamos: 
 
HABEAS CORPUS - ESTRUTURA FORMAL DA 
SENTENÇA E DO ACÓRDÃO - OBSERVÂNCIA - 
ALEGAÇÃO DE INTERCEPTAÇÃO CRIMINOSA 
DE CARTA MISSIVA REMETIDA POR 
SENTENCIADO - UTILIZAÇÃO DE CÓPIAS XEROGRÁFICAS NÃO 
AUTENTICADAS - PRETENDIDA ANÁLISE DA PROVA - PEDIDO 
INDEFERIDO. - A estrutura formal da sentença deriva da fiel observância das 
regras inscritas no art. 381 do Código de Processo Penal. O ato sentencial que 
contem a exposição sucinta da acusação e da defesa e que indica os motivos em 
que se funda a decisão satisfaz, plenamente, as exigências impostas pela lei. - A 
eficácia probante das cópias xerográficas resulta, em princípio, de sua formal 
autenticação por agente público competente (CPP, art. 232, parágrafo único). 
Peças reprográficas não autenticadas, desde que possível a aferição de sua 
legitimidade por outro meio idôneo, podem ser validamente utilizadas em juízo 
penal. - A administração penitenciária, com fundamento em razões de segurança 
pública, de disciplina prisional ou de preservação da ordem jurídica, pode, sempre 
excepcionalmente, e desde que respeitada a norma inscrita no art. 41, parágrafo 
único, da Lei n. 7.210/84, proceder a interceptação da correspondência remetida 
pelos sentenciados, eis que a cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar 
não pode constituir instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas. - O reexame 
da prova produzida no processo penal condenatório não tem lugar na ação 
sumaríssima de habeas corpus. (HC 70814, Relator: Min. CELSO DE MELLO, 
Primeira Turma, julgado em 01/03/1994) 
 
 No mesmo sentido, nota-se que pode existir violação do sigilo de dados 
bancários e fiscal em benefício do interesse coletivo, desde que baseado nas 
hipóteses legais. Assim, por exemplo, essa quebra de sigilo de dados bancários 
e fiscal pode ser determinada pela autoridade judiciária, Comissão Parlamentar 
de Inquérito e Administração Tributária. 
 
 Atualmente no ordenamento jurídico brasileiro a interceptação telefônica, 
bem com a interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática 
e telemática é tratada pela Lei 9.296, de 24 de julho de 1996. 
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 Questão: Em que momento passou a vigorar a Lei 9296/96? 
 
 A resposta está no art. 11 da Lei 9296/96 (Esta Lei entra em vigor na data 
de sua publicação), ou seja, em 25 de julho de 1996. 
 
 Com exceção do art. 10 da Lei 9296/962, os demais artigos desse diploma 
legal versam sobre normas genuinamente processuais, aplicando-se, no ponto, o 
princípio do tempus regit actum, ou seja, a lei processual penal aplicar-se-á desde 
logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior 
(art. 2º do CPP – aplicação imediata da lei processual). Assim, desde que 
preenchidos os requisitos legais, as interceptações telefônicas realizadas a partir 
da data de 25 de julho de 1996 são consideradas válidas, ainda que o crime tenha 
sido praticado antes de 25 de julho de 1996. 
 
 Questão: São válidas as interceptações telefônicas decretadas antes da 
vigência da Lei 9296/96? 
 
 Antes da edição da Lei 9296/96, o assunto interceptação telefônica era 
regulamentado pelo Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei nº 4117/62), em 
seu art. 573. Ocorre que o art. 5º, XII, da Constituição Federal exige uma lei 
específica para cuidar do temário interceptação telefônica, ou seja,o assunto em 
questão é típico exemplo de reserva legal qualificada. Em razão disso, todas as 
interceptações telefônicas decretadas com base na Lei 4117/62 foram 
consideradas provas ilícitas, mesmo existindo autorização judicial, ante a 
inobservância do comando do art. 5º, XII, da CF que exigia lei específica sobre a 
matéria, o que não era o caso do Código Brasileiro de Telecomunicações. Em 
resumo, toda interceptação telefônica ocorrida antes da vigência da Lei 
9296/96 deve ser considerada prova ilícita. Vejamos esse julgado do 
Supremo Tribunal Federal. 
 
2 O art. 10 da Lei 9296/96 versa sobre o crime de realizar interceptação de comunicações 
telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial 
ou com objetivos não autorizados em lei. Para os fatos ocorridos antes de 25 de julho de 1996 
não se aplica a irretroatividade da lei penal mais gravosa (art. 5º, XL, da Constituição Federal) 
3 Art. 57 da Lei 4117/62: Não constitui violação de telecomunicação: 
II – O conhecimento dado: 
e) ao juiz competente, mediante requisição ou intimação deste; 
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 HABEAS-CORPUS. CRIME QUALIFICADO 
DE EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO (CP, ART. 
357, PÁR. ÚNICO). COMETIDO CONTRA 
MAGISTRADO. PROVA ILÍCITA: CONJUNTO 
PROBATÓRIO ORIGINADO, EXCLUSIVAMENTE, DE INTERCEPTAÇÃO 
TELEFÔNICA, POR ORDEM JUDICIAL, PORÉM, PARA APURAR OUTROS 
FATOS (TRÁFICO DE ENTORPECENTES): VIOLAÇÃO DO ART. 5º, XII e LVI, 
DA CONSTITUIÇÃO. 
1. O art. 5º, XII, da Constituição, que prevê, excepcionalmente, a violação do 
sigilo das comunicações telefônicas para fins de investigação criminal ou 
instrução processual penal, não é auto-aplicável: exige lei que estabeleça as 
hipóteses e a forma que permitam a autorização judicial. Precedentes. a) 
Enquanto a referida lei não for editada pelo Congresso Nacional, é considerada 
prova ilícita a obtida mediante quebra do sigilo das comunicações telefônicas, 
mesmo quando haja ordem judicial (CF, art. 5º, LVI). b) O art. 57, II, a, do 
Código Brasileiro de Telecomunicações não foi recepcionado pela atual 
Constituição (art. 5º, XII), a qual exige numerus clausus para a definição das 
hipóteses e formas pelas quais é legítima a violação do sigilo das comunicações 
telefônicas. 
2. A garantia que a Constituição dá, até que a lei o defina, não distingue o telefone 
público do particular, ainda que instalado em interior de presídio, pois o bem 
jurídico protegido é a privacidade das pessoas, prerrogativa dogmática de todos 
os cidadãos. 
3. As provas obtidas por meios ilícitos contaminam as que são exclusivamente 
delas decorrentes; tornam-se inadmissíveis no processo e não podem ensejar a 
investigação criminal e, com mais razão, a denúncia, a instrução e o julgamento 
(CF, art. 5º, LVI), ainda que tenha restado sobejamente comprovado, por meio 
delas, que o Juiz foi vítima das contumélias do paciente. 
4. Inexistência, nos autos do processo-crime, de prova autônoma e não 
decorrente de prova ilícita, que permita o prosseguimento do processo. 
5. Habeas-corpus conhecido e provido para trancar a ação penal instaurada 
contra o paciente, por maioria de 6 votos contra 5. (HC 72588, Relator: Min. 
MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 12/06/1996, DJ 04-08-2000) 
 
 
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2 – Terminologia 
 
 
 
 Questão: Qual é a diferença entre comunicação telefônica e comunicação 
ambiental? 
 
 A comunicação telefônica é aquela que abrange não só a conversa por 
telefone, mas também de outros dispositivos que utilizam a telemática (e-mail, 
whatsapp, sms, facetime). Nesse sentido é teor do art. 1º da Lei 9296/96: A 
interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em 
investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta 
Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de 
justiça. Parágrafo único. O disposto neste Lei aplica-se à interceptação do fluxo 
de comunicações em sistema de informática e telemática. De outro lado, será 
considerada como comunicação ambiental toda aquela que não for telefônica, 
ou melhor, é aquela que ocorre no próprio ambiente sem a utilização de qualquer 
meio ou método artificial de transmissão de som e imagem. Em resumo, 
comunicação ambiental é uma conversa estabelecida entre duas ou mais pessoas 
sem o emprego de telefone, em qualquer recinto (público ou privado). 
 
Comunicações 
Telefônicas
Ambientais
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 É de extrema importância fazer a distinção entre interceptação telefônica, 
escuta telefônica, gravação telefônica, comunicação ambiental, interceptação 
ambiental, escuta ambiental e gravação ambiental. 
 
 Em rápida análise, vamos apresentar algumas características básicas da 
interceptação, escuta e gravação. 
 
Interceptação (telefônica/ambiental) – é sempre realizada por um 
terceiro e sem o conhecimento dos comunicadores. 
Escuta (telefônica/ambiental) – a captação também é realizada por um 
terceiro, porém há conhecimento dela por um dos interlocutores. 
Gravação clandestina (telefônica/ambiental) – a captação é realizada por 
um dos interlocutores, sem o conhecimento do outro. 
 
 Sobre o assunto, vale a pena destacar a lição do professor Renato Brasileiro 
de Lima. 
 
 Interceptação telefônica (ou interceptação em sentido estrito): 
consiste na captação da comunicação telefônica alheia por um 
terceiro, sem o conhecimento de nenhum dos comunicadores. Essa é a 
interceptação em sentido estrito (ou seja: um terceiro intervém na 
comunicação alheia, sem o conhecimento dos comunicadores). 
 
 Escuta telefônica: é a captação da comunicação telefônica por 
terceiro, com o conhecimento de um dos comunicadores e 
desconhecimento do outro. Na escuta, como se vê, um dos comunicadores 
tem ciência da intromissão alheia na comunicação. É o que ocorre, por 
exemplo na hipótese em que familiares da pessoa sequestrada, ou a 
vítima de estelionato, ou ainda aquele que sofre intromissões 
ilícitas e anônimas, através do telefone, em sua vida privada, 
autoriza que um terceiro leve adiante a interceptação telefônica. 
 
 Para a 5ª Turma do STJ (REsp 1630097/RJ, Rel. Min. Joel Ilan 
Paciornik, j. 18/04/2017, DJe 28/04/2017), sem consentimento do 
acusado ou prévia autorização judicial, é ilícita a prova, colhida 
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de forma coercitiva pela polícia, de conversa travada pelo 
investigado com terceira pessoa em telefone celular, por meio do 
recurso ‘viva-voz’, que conduziu ao flagrante do crime de tráfico 
ilícito de entorpecentes no interior de sua residência. In casu, 
embora nada de ilícito houvesse sido encontrado em poder do acusado, 
a prova da traficância fora obtida em flagrante violação ao direito 
constitucional à não autoincriminação, uma vez que aquele foi 
compelido a reproduzir, contra si, conversa travada com terceira 
pessoa pelo sistema viva-voz do celular, que conduziu os policiais à 
sua residência e culminou com a arrecadação de todo material 
estupefaciente em questão. Desse modo, estar-se-ia diante da situação 
onde a prova está contaminada,diante do disposto na essência da 
teoria dos frutos da árvore envenenada. 
 
 Gravação telefônica ou gravação clandestina: é a gravação da 
comunicação telefônica por um dos comunicadores, ou seja, trata-se 
de uma autogravação (ou gravação da própria comunicação). Normalmente 
é feita sem o conhecimento do outro comunicador, daí falar-se em 
gravação clandestina; 
 
 Comunicação ambiental: refere-se às comunicações realizadas 
diretamente no meio ambiente, sem transmissão e recepção por meios 
físicos, artificiais, como fios elétricos, cabos óticos etc.. Enfim, 
trata-se de conversa mantida entre duas ou mais pessoas sem a 
utilização do telefone, em qualquer recinto, privado ou público. 
 
 Interceptação ambiental: é a captação sub-reptícia de uma 
comunicação no próprio ambiente dela, por um terceiro, sem 
conhecimento dos comunicadores. Não difere, substancialmente, da 
interceptação em sentido estrito, pois, em ambas as hipóteses, ocorre 
violação do direito à intimidade, porém, no caso da interceptação 
ambiental, a comunicação não é a telefônica. A título de exemplo, 
suponha-se que, no curso de investigação relativa ao crime de tráfico 
de drogas, a autoridade policial realize a filmagem de indivíduos 
comercializando drogas em uma determinada praça, sem que os 
traficantes tenham ciência de que esse registro está sendo efetuado. 
 
 Escuta ambiental: é a captação de uma comunicação, no ambiente 
dela, feita por terceiro, com o consentimento de um dos comunicadores. 
Por exemplo, imagine-se a hipótese de cidadão vítima de concussão 
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que, com o auxílio da autoridade policial, efetue o registro 
audiovisual do exato momento em que o funcionário público exige a 
vantagem indevida para si em razão de sua função. 
 
 Gravação ambiental: é a captação no ambiente da comunicação 
feita por um dos comunicadores (ex. gravador, câmeras ocultas etc.)4. 
 
 Questão: Qual é a natureza jurídica da comunicação 
(telefônica/ambiental)? 
 
 Estamos diante de uma fonte de prova, isto é, são coisas ou pessoas que 
têm conhecimento sobre o fato delituoso. 
 
 Questão: Qual é a natureza jurídica da interceptação 
(telefônica/ambiental)? 
 
 Cuida-se de um meio de obtenção de prova, isto é, são procedimentos 
investigatórios levados a efeito por autoridades diversas dos membros do Poder 
Judiciário (ex: Polícia e MP). 
 
 Questão: Qual é a natureza jurídica da gravação das interceptações 
telefônicas? 
 
 Trata-se da materialização da fonte de prova, ou seja, é o resultado da 
operação técnica da interceptação telefônica. 
 
 Questão: Qual é a natureza jurídica da transcrição e da mídia das 
interceptações telefônicas? 
 
 
4 BRASILEIRO DE LIMA, Renato. Legislação Criminal Especial Comentada. Volume único. 6ª 
edição. Salvador: Editora JusPodvm, 2018, p.321/322. 
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 Cuida-se do meio de prova, isto é, tudo aquilo produzido no processo 
mediante a observância do contraditório, com a finalidade de demonstrar a 
verdade, auxiliando o magistrado na formação de seu convencimento. 
 
 É interessante ainda apontar alguns dados sobre a interceptação e a 
escuta ambiental. 
 
 Tanto a interceptação como a escuta ambiental são considerados pela 
doutrina como meios de obtenção de prova nominados, isto é, são meios de 
obtenção descritos em lei (Lei de Organização Criminosa5), porém atípicos, ou 
seja, o procedimento probatório para tais meios de prova não foi estabelecido em 
lei. Diante da ausência desse procedimento probatório para a 
interceptação e a escuta ambiental (art. 3º, II, da Lei 12850/13), a 
doutrina aponta que deve ser aplicada, por analogia, as regras estabelecidas na 
Lei 9296/96 (Lei da Interceptação das Comunicações Telefônicas). 
 
 Questões: A captação ambiental é lícita? Essa captação ambiental 
necessita de prévia autorização da autoridade judiciária competente? 
 
 O melhor caminho para responder essa indagação é analisar o local em que 
essa gravação é realizada. Dessa forma, vamos analisar as seguintes hipóteses. 
 
 • Captação de conversa alheia realizada em local público: Na espécie, 
em virtude de a conversa ter sido realizada em local público, não há expectativa 
de privacidade. Houve renúncia à proteção da intimidade ou da vida privada. 
Dessa forma, essa captação pode ser feita independente de prévia autorização 
judicial. Exemplo: As câmaras de vigilância situadas em prédios residenciais e 
comerciais podem ser utilizadas pela Polícia para solucionar os crimes praticados 
em local público, não necessitando para tanto de prévia ordem judicial. 
 
 
5 Art. 3º da Lei 12850/13: Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo 
de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção de prova: 
II – captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos. OBS: O termo captação 
foi empregado de modo equivocado pelo legislador, porquanto captação é o resultado da 
interceptação. Assim, o termo “captação” deve ser compreendido como interceptação e escuta 
ambiental. 
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 • Captação de conversa alheia realizada em local público, porém 
com natureza sigilosa expressamente declarada pelos interlocutores: Na 
espécie, ante o caráter sigiloso ressaltada por, ao menos, um dos interlocutores 
é indispensável a prévia autorização judicial, ainda que a conversa ocorra em 
local público. 
 
 Questão: É válida a captação ambiental de uma conversa travada entre 
advogado e seu cliente em local público, porém com conteúdo sigiloso? 
 
 Nessa situação nem menos uma autorização 
judicial poderá dar legitimidade à captação 
ambiental dessa conversa, porquanto ao advogado 
é assegurado o sigilo profissional para exercer 
o seu mister. Não foi por acaso também que o Estatuto da Advocacia (Lei 
8906/94) insculpiu em seu art. 7º, II6, como direito do advogado a inviolabilidade 
de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de 
trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica e telemática, desde que 
relativas ao exercício da advocacia. Por oportuno, vale ressaltar que tal sigilo 
pode ser devassado se o advogado também tiver participação na empreitada 
criminosa. 
 
• Captação de conversa alheia realizada em local privado: A conversa 
realizada em local privado está acobertada pelo direito à inviolabilidade domiciliar 
(art. 5º, XI, da Constituição Federal7). Dessa forma, é forçoso concluir que pode 
ser feita a captação dessa conversa, desde que tenha prévia autorização judicial. 
 
 Questão: É possível ingressar em residência no período noturno para 
instalar equipamentos para a captação de sinais óticos ou acústicos? 
 
 
6 Art. 7º da Lei 8906/94: São direitos do advogado: 
II – a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de 
trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas 
ao exercício da advocacia. 
7 Art. 5º, XI, da CF: A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem 
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar 
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial. 
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 O Supremo Tribunal Federal enfrentou essa questão e entendeu como 
válida a instalação de tais equipamentos no período noturno. Vejamos: 
 
 
EMENTAS: 1. COMPETÊNCIA. Criminal. Originária. 
Inquérito pendente no STF. Desmembramento. Não 
ocorrência. Mera remessa de cópia, a requerimento 
do MP, a juízo competente para apuração de fatos 
diversos, respeitantes a pessoas sem prerrogativa de foro especial. Inexistência 
de ações penais em curso e de conseqüente conexão. Questão de ordem resolvida 
nesse sentido. Preliminar repelida. Agravo regimental improvido. Voto vencido. 
Não se caracteriza desmembramento ilegal de ação penal, a mera remessa de 
cópia de inquérito, a requerimento do representante do Ministério Público, a outro 
juízo, competente para apurar fatos diversos, respeitantes a pessoas sujeitas a 
seu foro. 2. COMPETÊNCIA. Criminal. Ação penal. Magistrado de Tribunal Federal 
Regional. Condição de co-réu. Conexão da acusação com fatos imputados a 
Ministro do Superior Tribunal de Justiça. Pretensão de ser julgado perante este. 
Inadmissibilidade. Prerrogativa de foro. Irrenunciabilidade. Ofensa às garantias 
do juiz natural e da ampla defesa, elementares do devido processo legal. 
Inexistência. Feito da competência do Supremo. Precedentes. Preliminar 
rejeitada. Aplicação da súmula 704. Não viola as garantias do juiz natural e da 
ampla defesa, elementares do devido processo legal, a atração, por conexão ou 
continência, do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos 
denunciados, a qual é irrenunciável. 3. COMPETÊNCIA. Criminal. Inquéritos. 
Reunião perante o Supremo Tribunal Federal. Avocação. Inadmissibilidade. 
Conexão inexistente. Medida, ademais, facultativa. Número excessivo de 
acusados. Ausência de prejuízo à defesa. Preliminar repelida. Precedentes. 
Inteligência dos arts. 69, 76, 77 e 80 do CPP. Não quadra avocar inquérito policial, 
quando não haja conexão entre os fatos, nem conveniência de reunião de 
procedimentos ante o número excessivo de suspeitos ou investigados. 4. PROVA. 
Criminal. Interceptação telefônica. Necessidade demonstrada nas sucessivas 
decisões. Fundamentação bastante. Situação fática excepcional, insuscetível de 
apuração plena por outros meios. Subsidiariedade caracterizada. Preliminares 
rejeitadas. Aplicação dos arts. 5º, XII, e 93, IX, da CF, e arts. 2º, 4º, § 2º, e 5º, 
da Lei nº 9.296/96. Voto vencido. É lícita a interceptação telefônica, determinada 
em decisão judicial fundamentada, quando necessária, como único meio de 
prova, à apuração de fato delituoso. 5. PROVA. Criminal. Interceptação telefônica. 
Prazo legal de autorização. Prorrogações sucessivas. Admissibilidade. Fatos 
complexos e graves. Necessidade de investigação diferenciada e contínua. 
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Motivações diversas. Ofensa ao art. 5º, caput, da Lei nº 9.296/96. Não 
ocorrência. Preliminar rejeitada. Voto vencido. É lícita a prorrogação do prazo 
legal de autorização para interceptação telefônica, ainda que de modo sucessivo, 
quando o fato seja complexo e, como tal, exija investigação diferenciada e 
contínua. 6. PROVA. Criminal. Interceptação telefônica. Prazo legal de 
autorização. Prorrogações sucessivas pelo Ministro Relator, também durante o 
recesso forense. Admissibilidade. Competência subsistente do Relator. Preliminar 
repelida. Voto vencido. O Ministro Relator de inquérito policial, objeto de 
supervisão do Supremo Tribunal Federal, tem competência para determinar, 
durante as férias e recesso forenses, realização de diligências e provas que 
dependam de decisão judicial, inclusive interceptação de conversação telefônica. 
7. PROVA. Criminal. Escuta ambiental. Captação e interceptação de sinais 
eletromagnéticos, óticos ou acústicos. Meio probatório legalmente admitido. 
Fatos que configurariam crimes praticados por quadrilha ou bando ou organização 
criminosa. Autorização judicial circunstanciada. Previsão normativa expressa do 
procedimento. Preliminar repelida. Inteligência dos arts. 1º e 2º, IV, da Lei nº 
9.034/95, com a redação da Lei nº 10.217/95. Para fins de persecução criminal 
de ilícitos praticados por quadrilha, bando, organização ou associação criminosa 
de qualquer tipo, são permitidos a captação e a interceptação de sinais 
eletromagnéticos, óticos e acústicos, bem como seu registro e análise, mediante 
circunstanciada autorização judicial. 8. PROVA. Criminal. Escuta ambiental e 
exploração de local. Captação de sinais óticos e acústicos. Escritório de advocacia. 
Ingresso da autoridade policial, no período noturno, para instalação de 
equipamento. Medidas autorizadas por decisão judicial. Invasão de domicílio. Não 
caracterização. Suspeita grave da prática de crime por advogado, no escritório, 
sob pretexto de exercício da profissão. Situação não acobertada pela 
inviolabilidade constitucional. Inteligência do art. 5º, X e XI, da CF, art. 150, § 
4º, III, do CP, e art. 7º, II, da Lei nº 8.906/94. Preliminar rejeitada. Votos 
vencidos. Não opera a inviolabilidade do escritório de advocacia, quando o próprio 
advogado seja suspeito da prática de crime, sobretudo concebido e consumado 
no âmbito desse local de trabalho, sob pretexto de exercício da profissão. 9. 
PROVA. Criminal. Interceptação telefônica. Transcrição da totalidade das 
gravações. Desnecessidade. Gravações diárias e ininterruptas de diversos 
terminais durante período de 7 (sete) meses. Conteúdo sonoro armazenado em 
2 (dois) DVDs e 1 (hum) HD, com mais de quinhentos mil arquivos. 
Impossibilidade material e inutilidade prática de reprodução gráfica. Suficiência 
da transcrição literal e integral das gravações em que se apoiou a denúncia. 
Acesso garantido às defesas também mediante meio magnético, com reabertura 
de prazo. Cerceamento de defesa não ocorrente. Preliminar repelida. 
Interpretação do art. 6º, § 1º, da Lei nº 9.296/96. Precedentes. Votos vencidos. 
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O disposto no art. 6º, § 1º, da Lei federal nº 9.296, de 24 de julho de 1996, só 
comporta a interpretação sensata de que, salvo para fim ulterior, só é exigível, 
na formalização da prova de interceptação telefônica, a transcrição integral de 
tudo aquilo que seja relevante para esclarecer sobre os fatos da causa sub iudice. 
10. PROVA. Criminal. Perícia. Documentos e objetos apreendidos. Laudos ainda 
em processo de elaboração. Juntada imediata antes do recebimento da denúncia. 
Inadmissibilidade. Prova não concluída nem usada pelo representante do 
Ministério Público na denúncia. Falta de interesse processual. Cerceamento de 
defesa inconcebível. Preliminar rejeitada. Não pode caracterizar cerceamento de 
defesa prévia contra a denúncia, a falta de laudo pericial em processo de 
elaboração e no qual não se baseou nem poderia ter-se baseado o representante 
do Ministério Público. 11. AÇÃO PENAL. Denúncia. Exposição clara e objetiva dos 
fatos. Acusações específicas baseadas nos elementos retóricos coligidos no 
inquérito policial. Possibilidade de plena defesa. Justa causa presente. Aptidão 
formal. Observância do disposto no art. 41 do CPP. Recebimento, exceto em 
relação ao crime previsto no art. 288 do CP, quanto a um dos denunciados. Votos 
vencidos. Deve ser recebida a denúncia que, baseada em elementos de prova, 
contém exposição clara e objetiva dos fatos delituosos e que, como tal, possibilita 
plena e ampladefesa aos acusados. 12. MAGISTRADO. Ação penal. Denúncia. 
Recebimento. Infrações penais graves. Afastamento do exercício da função 
jurisdicional. Aplicação do art. 29 da Lei Orgânica da Magistratura Nacional - 
LOMAN (Lei Complementar nº 35/79). Medida aconselhável de resguardo ao 
prestígio do cargo e à própria respeitabilidade do juiz. Ofensa ao art. 5º, LVII, da 
CF. Não ocorrência. Não viola a garantia constitucional da chamada presunção de 
inocência, o afastamento do cargo de magistrado contra o qual é recebida 
denúncia ou queixa. (Inq 2424, Relator: Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, 
julgado em 26/11/2008) 
 
 Questão: É válida a gravação clandestina (ambiental ou telefônica) sem 
autorização judicial? 
 
 Antes de responder essa indagação, 2 assuntos ganham relevo no temário 
gravação clandestina: a) proteção ao segredo, isto é, direito de que terceiros não 
tenham acesso à intimidade individual; b) direito de reserva, isto é, o direito de 
não ter notícias referentes à vida privada divulgadas para outrem. 
 
 A gravação clandestina sem autorização judicial deve ser analisada à luz do 
princípio da proporcionalidade, ou seja, é considerada válida quando tal 
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gravação visa produzir prova de ser vítima de uma ação criminosa praticada por 
outrem. Essa é a posição do Supremo Tribunal Federal. Vejamos: 
 
PROVA. Criminal. Conversa telefônica. Gravação 
clandestina, feita por um dos interlocutores, sem 
conhecimento do outro. Juntada da transcrição em 
inquérito policial, onde o interlocutor requerente 
era investigado ou tido por suspeito. Admissibilidade. Fonte lícita de prova. 
Inexistência de interceptação, objeto de vedação constitucional. Ausência de 
causa legal de sigilo ou de reserva da conversação. Meio, ademais, de prova da 
alegada inocência de quem a gravou. Improvimento ao recurso. Inexistência de 
ofensa ao art. 5º, incs. X, XII e LVI, da CF. Precedentes. Como gravação 
meramente clandestina, que se não confunde com interceptação, objeto de 
vedação constitucional, é lícita a prova consistente no teor de gravação de 
conversa telefônica realizada por um dos interlocutores, sem conhecimento do 
outro, se não há causa legal específica de sigilo nem de reserva da conversação, 
sobretudo quando se predestine a fazer prova, em juízo ou inquérito, a favor de 
quem a gravou. (RE 402717, Relator: Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, 
julgado em 02/12/2008) 
 
 Questão: É válida gravação clandestina de uma confissão de suspeito que 
não foi alertado do direito constitucional de permanecer em silêncio? Ex: Policial 
que grava confissão de suspeito sem alertá-lo do direito constitucional ao silêncio. 
 
 Pois bem. Estamos diante de prova ilícita, porquanto ao preso não lhe foi 
informado o direito de permanecer em silêncio (art. 5º, LXIII, da CF8). Essa é a 
posição do STF: 
 
I. Habeas corpus: cabimento: prova ilícita. 1. 
Admissibilidade, em tese, do habeas corpus para 
impugnar a inserção de provas ilícitas em 
procedimento penal e postular o seu 
desentranhamento: sempre que, da imputação, possa advir condenação a pena 
privativa de liberdade: precedentes do Supremo Tribunal. II. Provas ilícitas: sua 
 
8 Art. 5º, LXIII, da CF: O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer 
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado. 
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inadmissibilidade no processo (CF, art. 5º, LVI): considerações gerais. 2. Da 
explícita proscrição da prova ilícita, sem distinções quanto ao crime objeto do 
processo (CF, art. 5º, LVI), resulta a prevalência da garantia nela estabelecida 
sobre o interesse na busca, a qualquer custo, da verdade real no processo: 
conseqüente impertinência de apelar-se ao princípio da proporcionalidade - à luz 
de teorias estrangeiras inadequadas à ordem constitucional brasileira - para 
sobrepor, à vedação constitucional da admissão da prova ilícita, considerações 
sobre a gravidade da infração penal objeto da investigação ou da imputação. III. 
Gravação clandestina de "conversa informal" do indiciado com policiais. 3. 
Ilicitude decorrente - quando não da evidência de estar o suspeito, na ocasião, 
ilegalmente preso ou da falta de prova idônea do seu assentimento à gravação 
ambiental - de constituir, dita "conversa informal", modalidade de 
"interrogatório" sub- reptício, o qual - além de realizar-se sem as formalidades 
legais do interrogatório no inquérito policial (C.Pr.Pen., art. 6º, V) -, se faz sem 
que o indiciado seja advertido do seu direito ao silêncio. 4. O privilégio contra a 
auto-incriminação - nemo tenetur se detegere -, erigido em garantia fundamental 
pela Constituição - além da inconstitucionalidade superveniente da parte final do 
art. 186 C.Pr.Pen. - importou compelir o inquiridor, na polícia ou em juízo, ao 
dever de advertir o interrogado do seu direito ao silêncio: a falta da advertência 
- e da sua documentação formal - faz ilícita a prova que, contra si mesmo, forneça 
o indiciado ou acusado no interrogatório formal e, com mais razão, em "conversa 
informal" gravada, clandestinamente ou não. IV. Escuta gravada da comunicação 
telefônica com terceiro, que conteria evidência de quadrilha que integrariam: 
ilicitude, nas circunstâncias, com relação a ambos os interlocutores. 5. A hipótese 
não configura a gravação da conversa telefônica própria por um dos 
interlocutores - cujo uso como prova o STF, em dadas circunstâncias, tem julgado 
lícito - mas, sim, escuta e gravação por terceiro de comunicação telefônica alheia, 
ainda que com a ciência ou mesmo a cooperação de um dos interlocutores: essa 
última, dada a intervenção de terceiro, se compreende no âmbito da garantia 
constitucional do sigilo das comunicações telefônicas e o seu registro só se 
admitirá como prova, se realizada mediante prévia e regular autorização judicial. 
6. A prova obtida mediante a escuta gravada por terceiro de conversa telefônica 
alheia é patentemente ilícita em relação ao interlocutor insciente da intromissão 
indevida, não importando o conteúdo do diálogo assim captado. 7. A ilicitude da 
escuta e gravação não autorizadas de conversa alheia não aproveita, em 
princípio, ao interlocutor que, ciente, haja aquiescido na operação; aproveita-lhe, 
no entanto, se, ilegalmente preso na ocasião, o seu aparente assentimento na 
empreitada policial, ainda que existente, não seria válido. 8. A extensão ao 
interlocutor ciente da exclusão processual do registro da escuta telefônica 
clandestina - ainda quando livre o seu assentimento nela - em princípio, parece 
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inevitável, se a participação de ambos os interlocutores no fato probando for 
incindível ou mesmo necessária à composição do tipo criminal cogitado, qual, na 
espécie, o de quadrilha. V. Prova ilícita e contaminação de provas derivadas 
(fruits of the poisonous tree). 9. A imprecisão do pedido genérico de exclusão de 
provas derivadas daquelas cuja ilicitude se declara e o estágio do procedimento 
(ainda em curso o inquérito policial) levam, no ponto, ao indeferimento do 
pedido.(HC 80949, Relator: Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, 
julgado em 30/10/2001). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3 – Geração de Provas (trilogia Olmstead-Katz-Kyllo) 
 
 Essa trilogia citada diz respeito a 3 precedentes advindos da Suprema Corte 
dos Estados Unidos e versa sobre matéria probatória. 
 
 Esses precedentes abordam o uso crescente de técnicas invasivas para 
a produção de prova no processo penal e sua validade. 
 
 Direito probatório de 1ª geração: o caso Olmstead. 
 
 Cuida-se de um precedente da Suprema Corte Norte-Americana em 1928. 
Na espécie, houve uma interceptação telefônica sem autorização judicial 
realizada em via pública, ou seja, não houve ingresso na residência do suspeito. 
Para solucionar se tal interceptação telefônica era, ou não, válida, a Suprema 
Corte dos Estados Unidos fundamentou a sua decisão com base na teoria 
proprietária (trespass theory). Assim, em virtude de não ter ocorrido o ingresso 
na residência do suspeito, a Suprema Corte Norte-Americana entendeu que não 
era necessária autorização judicial para a interceptação telefônica. Em outras 
palavras, como nenhuma propriedade de Olmstead foi devessada pelas 
autoridades, a interceptação telefônica feita sem autorização judicial foi 
considerada válida. Nesse estágio inicial da trilogia nota-se uma proteção 
constitucional de coisas, objetos e lugares. 
 
 Direito probatório de 2ª geração: o caso Katz. 
 
 Esse precedente da Suprema Corte Norte-Americana ocorreu no ano de 
1967 no caso conhecido Katz vs United States. Na espécie, houve uma 
interceptação telefônica em uma cabine pública (orelhão) sem autorização 
judicial. Estamos diante de uma prova lícita ou ilícita? 
 
 Se fosse empregada a teoria proprietária (trespas theory), a prova seria 
lícita, pois não houve qualquer devassa ao domicílio do suspeito. Contudo, a 
Suprema Corte não adotou esse caminho. Ora, se o suspeito utiliza um telefone 
público e, portanto, paga por tal prestação de serviço, é de se esperar do Poder 
Público, no mínimo, uma expectativa de proteção da intimidade. Logo, tal prova 
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foi considerada ilícita. Adotou-se a teoria da proteção constitucional integral, isto 
é, não se pode proteger apenas a propriedade do suspeito, mas também as 
expectativas de privacidade. 
 
 Direito probatório de 3ª geração: o caso Kyllo. 
 
 Cuida-se de um precedente de 2001 produzido pela Suprema Corte dos 
Estados Unidos. No caso concreto, o suspeito cultivava maconha no interior de 
seu domicílio. A Polícia desconfiava dessa situação, porém não tinha os meios 
necessários para obter autorização judicial para ingressar na residência ante a 
falta de qualquer prova concreta. Diante dessa situação, sem ingressar na 
residência, os policiais utilizaram equipamentos de captação térmica a fim de 
verificar se no interior daquela residência havia lâmpadas de intensa 
luminosidade, equipamento usualmente empregado no cultivo de maconha. Para 
tanto, tais policiais não solicitaram prévia autorização judicial. Indaga-se: Essa 
prova é lícita? 
 
 À luz da teoria proprietária (1ª geração) a prova é lícita, pois houve a 
observância do direito à inviolabilidade domiciliar. De acordo com a teoria da 
proteção constitucional integral (2ª geração), a prova seria lícita, pois o suspeito 
não teria feito nada para impedir a utilização das lâmpadas de intensa 
luminosidade, ou seja, não há expectativa de privacidade. Contudo, a Suprema 
Corte Norte-Americana trilhou outro sentido, pois entendeu que o avanço dos 
meios tecnológicos não pode permitir que a intimidade e a vida privada 
sejam devassadas. Logo, esse equipamento de captação térmica, por não ficar 
à disposição de todos, deveria ter seu uso previamente autorizado pela 
autoridade judiciária para ser considerada prova lícita, o que não ocorreu no caso. 
 
 Questão: É necessária prévia autorização judicial para a extração de dados 
e de conversas armazenadas em aparelhos celulares? 
 
 De fato, o STF tem um precedente antigo que autorizava a autoridade 
policial ver o conteúdo do aparelho celular, independente de prévia autorização 
judicial. Todavia, é interessante ressaltar que essa decisão foi tomada com base 
em aparelhos celular desprovido das funcionalidades atuais, tais como e-mails, 
WhatsApp, dentre outras. Vejamos esse julgado da Suprema Corte. 
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HABEAS CORPUS. NULIDADES: (1) INÉPCIA DA 
DENÚNCIA; (2) ILICITUDE DA PROVA PRODUZIDA 
DURANTE O INQUÉRITO POLICIAL; VIOLAÇÃO DE 
REGISTROS TELEFÔNICOS DO CORRÉU, 
EXECUTOR DO CRIME, SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL; (3) ILICITUDE DA PROVA 
DAS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS DE CONVERSAS DOS ACUSADOS COM 
ADVOGADOS, PORQUANTO ESSAS GRAVAÇÕES OFENDERIAM O DISPOSTO NO 
ART. 7º, II, DA LEI 8.906/96, QUE GARANTE O SIGILO DESSAS CONVERSAS. 
VÍCIOS NÃO CARACTERIZADOS. ORDEM DENEGADA. 1. Inépcia da denúncia. 
Improcedência. Preenchimento dos requisitos do art. 41 do CPP. A denúncia 
narra, de forma pormenorizada, os fatos e as circunstâncias. Pretensas omissões 
– nomes completos de outras vítimas, relacionadas a fatos que não constituem 
objeto da imputação –- não importam em prejuízo à defesa. 2. Ilicitude da prova 
produzida durante o inquérito policial - violação de registros telefônicos de corréu, 
executor do crime, sem autorização judicial. 2.1 Suposta ilegalidade decorrente 
do fato de os policiais, após a prisão em flagrante do corréu, terem realizado a 
análise dos últimos registros telefônicos dos dois aparelhos celulares 
apreendidos. Não ocorrência. 2.2 Não se confundem comunicação telefônica e 
registros telefônicos, que recebem, inclusive, proteção jurídica distinta. Não se 
pode interpretar a cláusula do artigo 5º, XII, da CF, no sentido de proteção aos 
dados enquanto registro, depósito registral. A proteção constitucional é da 
comunicação de dados e não dos dados. 2.3 Art. 6º do CPP: dever da autoridade 
policial de proceder à coleta do material comprobatório da prática da infração 
penal. Ao proceder à pesquisa na agenda eletrônica dos aparelhos devidamente 
apreendidos, meio material indireto de prova, a autoridade policial, cumprindo o 
seu mister, buscou, unicamente, colher elementos de informação hábeis a 
esclarecer a autoria e a materialidade do delito (dessa análise logrou encontrar 
ligações entre o executor do homicídio e o ora paciente). Verificação que permitiu 
a orientação inicial da linha investigatória a ser adotada, bem como possibilitou 
concluir que os aparelhos seriam relevantes para a investigação. 2.4 À guisa de 
mera argumentação, mesmo que se pudesse reputar a prova produzida como 
ilícita e as demais, ilícitas por derivação, nos termos da teoria dos frutos da árvore 
venenosa (fruit of the poisonous tree), é certo que, ainda assim, melhor sorte 
não assistiria à defesa. É que, na hipótese, não há que se falar em prova ilícita 
por derivação. Nos termos da teoria da descoberta inevitável, construída pela 
Suprema Corte norte-americana no caso Nix x Williams (1984), o curso normal 
das investigações conduziria a elementos informativos que vinculariam os 
pacientes ao fato investigado. Bases desse entendimento que parecem ter 
encontrado guarida no ordenamento jurídico pátrio com o advento da Lei 
11.690/2008, que deu nova redação ao art. 157 do CPP, em especial o seu § 2º. 
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3. Ilicitude da prova das interceptações telefônicas de conversas dos acusados 
com advogados, ao argumento de que essas gravações ofenderiam o disposto no 
art. 7º, II, da Lei n. 8.906/96, que garante o sigilo dessas conversas. 3.1 Nos 
termos do art. 7º, II, da Lei 8.906/94, o Estatuto da Advocacia garante ao 
advogado a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de 
seus instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, 
telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia. 3.2 Na 
hipótese, o magistrado de primeiro grau, por reputar necessária a realização da 
prova, determinou, de forma fundamentada, a interceptação telefônica 
direcionada às pessoas investigadas, não tendo, em momento algum, ordenado 
a devassa das linhas telefônicas dos advogados dos pacientes. Mitigação que 
pode, eventualmente, burlar a proteção jurídica. 3.3 Sucede que, no curso da 
execução da medida, os diálogos travados entre o paciente e o advogado do 
corréu acabaram, de maneira automática, interceptados, aliás, como qualquer 
outra conversa direcionada ao ramal do paciente. Inexistência, no caso, de 
relação jurídica cliente-advogado. 3.4 Não cabe aos policiais executores da 
medida proceder a uma espécie de filtragem das escutas interceptadas. A 
impossibilidade desse filtro atua, inclusive, como verdadeira garantia ao cidadão, 
porquanto retira da esfera de arbítrio da polícia escolher o que é ou não 
conveniente ser interceptado e gravado. Valoração, e eventual exclusão, que 
cabe ao magistrado a quem a prova é dirigida. 4. Ordem denegada. (HC 91867, 
Relator: Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 24/04/2012, 
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-185 DIVULG 19-09-2012 PUBLIC 20-09-2012) 
 
 Todavia, recentemente o Superior Tribunal de Justiça adotou posição 
diversa. Eis alguns julgados sobre o tema. 
 
PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO 
ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO 
DE DROGAS. NULIDADE DA PROVA. AUSÊNCIA 
DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL PARA A PERÍCIA 
NO CELULAR. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. 
1. Ilícita é a devassa de dados, bem como das conversas de whatsapp, obtidas 
diretamente pela polícia em celular apreendido no flagrante, sem prévia 
autorização judicial. 
2. Recurso ordinário em habeas corpus provido, para declarar a nulidade das 
provas obtidas no celular do paciente sem autorização judicial, cujo produto deve 
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ser desentranhado dos autos. (RHC 51.531/RO, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, 
SEXTA TURMA, julgado em 19/04/2016, DJe 09/05/2016) 
 
 
 PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM 
HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. 
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. ACESSO DE 
MENSAGENS DE TEXTO VIA WHATSAPP. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO 
JUDICIAL. GARANTIAS CONSTITUCIONAIS. ART. 5º, X E XII, DA CF. ART. 
7º DA LEI N. 12.965/2014. NULIDADE. OCORRÊNCIA. 
CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. RECURSO EM HABEAS 
CORPUS PROVIDO. 
1. A Constituição Federal de 1988 prevê como garantias ao cidadão a 
inviolabilidade da intimidade, do sigilo de correspondência, dados e comunicações 
telefônicas, salvo ordem judicial. 
2. A Lei n. 12.965/2014, conhecida como Marco Civil da Internet, em seu art. 7º, 
assegura aos usuários os direitos para o uso da internet no Brasil, entre eles, o 
da inviolabilidade da intimidade e da vida privada, do sigilo do fluxo de suas 
comunicações pela internet, bem como de suas comunicações privadas 
armazenadas. 
3. A quebra do sigilo do correio eletrônico somente pode ser decretada, elidindo 
a proteção ao direito, diante dos requisitos próprios de cautelaridade que a 
justifiquem idoneamente, desaguando em um quadro de imprescindibilidade da 
providência. (HC 315.220/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, 
SEXTA TURMA, julgado em 15/09/2015, DJe 09/10/2015). 
4. Com o avanço tecnológico, o aparelho celular deixou de ser apenas um 
instrumento de comunicação interpessoal. Hoje, é possível ter acesso a diversas 
funções, entre elas, a verificação de mensagens escritas ou audível, de 
correspondência eletrônica, e de outros aplicativos que possibilitam a 
comunicação por meio de troca de dados de forma similar à telefonia 
convencional. 
5. Por se encontrar em situação similar às conversas mantidas por e-mail, cujo 
acesso é exigido prévia ordem judicial, a obtenção de conversas mantidas pelo 
programa whatsapp, sem a devida autorização judicial, revela-se ilegal. 
6. Recurso em habeas corpus provido para declarar nula as provas obtidas no 
celular do recorrente sem autorização judicial, determinando que seja 
desentranhado, envelopado, lacrado e entregue ao denunciado do material 
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decorrente da medida.(RHC 75.055/DF, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA 
TURMA, julgado em 21/03/2017, DJe 27/03/2017) 
 
 Também é nula decisão judicial que autoriza o espelhamento do WhatsApp 
para que a Polícia monitore conversas do investigado via WhatsApp Web, 
conforme decidiu o STJ, verbis: 
É impossível aplicar a analogia entre o instituto da interceptação 
telefônica e o espelhamento, por meio do Whatsapp Web, das 
conversas realizadas pelo aplicativo Whatsapp. 
Inicialmente, cumpre salientar que, ao contrário da interceptação telefônica, 
no âmbito da qual o investigador de polícia atua como mero observador de 
conversas empreendidas por terceiros, no espelhamento via WhatsApp Web o 
investigador de polícia tem a concreta possibilidade de atuar como participante 
tanto das conversas que vêm a ser realizadas quanto das conversas que já 
estão registradas no aparelho celular, haja vista ter o poder, conferido pela 
própria plataforma online, de interagir diretamente com conversas que estão 
sendo travadas, de enviar novas mensagens a qualquer contato presente no 
celular, e de excluir, com total liberdade, e sem deixar vestígios, qualquer 
mensagem passada, presente ou futura. Insta registrar que, por mais que os 
atos praticados por servidores públicos gozem de presunção de legitimidade, 
doutrina e jurisprudência reconhecem que se trata de presunção relativa, que 
pode ser ilidida por contra-prova apresentada pelo particular. Não é o caso, 
todavia, do espelhamento: o fato de eventual exclusão de mensagens enviadas 
(na modalidade "Apagar para mim") ou recebidas (em qualquer caso) não 
deixar absolutamente nenhum vestígio nem para o usuário nem para o 
destinatário, e o fato de tais mensagens excluídas, em razão da 
criptografia end-to-end, não ficarem armazenadas em nenhum servidor, 
constituem fundamentos suficientes para a conclusão de que a admissão de 
tal meio de obtenção de prova implicaria indevida presunção absoluta da 
legitimidade dos atos dos investigadores, dado que exigir contraposição idônea 
por parte do investigado seria equivalente a demandar-lhe produção de prova 
diabólica (o que não ocorre em caso de interceptação telefônica, na qual se 
oportuniza a realização de perícia). Em segundo lugar, ao contrário da 
interceptação telefônica, que tem como objeto a escuta de conversas 
realizadas apenas depois da autorização judicial (ex nunc), o espelhamento 
via QR Code viabiliza ao investigador de polícia acesso amplo e irrestrito a toda 
e qualquer comunicação realizada antes da mencionada autorização, operando 
efeitos retroativos (ex tunc). Em termos técnico-jurídicos, o espelhamento 
seria melhor qualificado como um tipo híbrido de obtenção de prova 
consistente, a um só tempo, em interceptação telefônica (quanto às 
conversas ex nunc) e em quebra de sigilo de e-mail (quanto àsconversas ex 
tunc). Não há, todavia, ao menos por agora, previsão legal de um tal meio de 
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obtenção de prova híbrido. Por fim, ao contrário da interceptação telefônica, 
que é operacionalizada sem a necessidade simultânea de busca pessoal ou 
domiciliar para apreensão de aparelho telefônico, o espelhamento via QR 
Code depende da abordagem do indivíduo ou do vasculhamento de sua 
residência, com apreensão de seu aparelho telefônico por breve período de 
tempo e posterior devolução desacompanhada de qualquer menção, por parte 
da autoridade policial, à realização da medida constritiva, ou mesmo, 
porventura acompanhada de afirmação falsa de que nada foi feito. (STJ, 6ª 
Turma, RHC 99735, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/11/2018 – 
Informativo 640) 
 
 OBS: Não confunda interceptação telefônica com a quebra de sigilo de 
dados telefônicos. Quebra de sigilos de dados telefônicos diz respeito ao registro 
de dados documentados e armazenados pelas empresas de telefonia. Ainda vale 
destacar que a quebra de sigilos de dados telefônicos não está sujeita à cláusula 
de reserva de jurisdição. Exemplo: A Comissão Parlamentar de Inquérito pode 
determinar essa quebra de sigilo de dados telefônicos, com base no art. 58, §3º, 
da Constituição Federal9. 
 
 Questão: É possível a obtenção de dados cadastrais da vítima e do 
suspeito independentemente de prévia autorização da autoridade judiciária? 
 
 A resposta é afirmativa. Após tal possibilidade ter sido contemplada na Lei 
de Lavagem de Capitais e na Lei de Organização Criminosa, o Código de Processo 
Penal, após o advento da Lei 13344/16, também passou a admitir referida 
obtenção de dados cadastrais da vítima e do suspeito independentemente de 
autorização judicial. Aludida obtenção de dados cadastrais da vítima e do 
suspeito não violam o direito à intimidade. Vejamos o art. 13-A do CPP: 
 
 Art. 13-A do CPP: Nos crimes previstos nos 
arts. 148, 149, 149-A, no §3 do art. 158 e no art. 
159 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 
 
9 Art. 58, §3º, da CF: “ As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de 
investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das 
respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto 
ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de 
fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao 
Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores. 
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1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei nº 8069, de 13 de julho de 1990 
(Estatuto da Criança e do Adolescente), o membro do Ministério Público ou o 
delegado de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou 
de empresas de iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima 
ou de suspeitos. 
 
 Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e 
quatro) horas conterá: 
 I – o nome da autoridade requisitante; 
 
 II – o número do inquérito policial; 
 
 III – a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela 
investigação; 
 
 Questão: Qual seria o alcance da expressão “dados cadastrais” descrita no 
art. 13-A do CPP? 
 
 Em que pese a omissão do art. 13-A do CPP sobre o alcance do termo 
“dados cadastrais”, é possível empregar, por analogia, o art. 17-B da Lei de 
Lavagem de Capitais e do art. 15 da Lei de Organização Criminosa para resolver 
esse vácuo legislativo. Vejamos. 
 
 Art. 17-B da Lei 9613/98: A autoridade policial e o Ministério Público 
terão acesso, exclusivamente, aos dados cadastrais do investigado que informam 
qualificação pessoal, filiação e endereço, independentemente de autorização 
judicial, mantidos pela Justiça Eleitoral, pelas empresas telefônicas, pelas 
instituições financeiras, pelos provedores de internet e pelas administradoras de 
cartão de crédito. 
 
 Art. 15 da Lei 12850/13: O delegado de polícia e o Ministério Público 
terão acesso, independentemente de autorização judicial, apenas aos dados 
cadastrais do investigado que informem exclusivamente a qualificação pessoal, a 
filiação e o endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, 
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instituições financeiras, provedores de internet e administradores de cartão de 
crédito. 
 
 Outra questão interessante diz respeito à requisição de informações de 
estações rádio base. Por meio da estação rádio base (ERB), é possível 
saber a localização aproximada de qualquer aparelho celular ligado – 
não necessariamente em uso – e, consequentemente, de seu usuário. 
Grosso modo, as ERBs são as antenas ou estações fixas utilizadas 
pelos aparelhos móveis para se comunicar. Utilizando seus dados, é 
possível saber o local aproximado onde se encontra o referido 
aparelho. Ademais, muitos celulares possuem GPS, o que permite 
encontra-los em determinado momento ou saber, posteriormente, por 
onde seus proprietários estiveram. Tais informações podem ser 
extremamente úteis em determinadas investigações, não apenas como 
indício de que determinado agente estava nas proximidades do local 
do crime no exato momento em que o delito foi executado, mas também 
contra-indício para infirmar a validade de eventual álibi apresentado 
pelo acusado no sentido de que estava em local diverso à época do 
delito10. 
 
 
 Questão: É possível a requisição de informações acerca de estações rádio 
base sem autorização judicial? 
 
 Esse assunto é extremamente polêmico ante 
a redação dúbia constante no art. 13-B do Código 
de Processo Penal, introduzido pela Lei 13344/16, 
que apesar de exigir prévia autorização judicial 
para o acesso de tais informes (art. 13-B, caput, do CPP), dispensa referida 
ordem judicial pelo decurso do tempo, ou seja, nos termos do art. 13-B, §4º, do 
CPP se não existir manifestação do magistrado no prazo de 12 horas, as empresas 
de telecomunicações podem disponibilizar o acesso imediato do posicionamento 
das estações rádio base. 
 
 
10 BRASILEIRO DE LIMA, Renato. Legislação Criminal Especial Comentada. Volume único. 6ª 
edição. Salvador: Editora JusPodvm, 2018, p. 332. 
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 Vejamos o art. 13-B do Código de Processo Penal. 
 
 Art. 13-B do CPP: Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes 
relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o 
delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização judicial, às 
empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que 
disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, 
informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do 
delito em curso. 
 
 §1º Para os efeitos deste artigo, sinal significa o posicionamento da estação 
de cobertura, setorização e intensidade de radiofrequência. 
 
 §2º Na hipótese de que trata o caput, o sinal: 
 
 I – não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer 
natureza, que dependeráde autorização judicial, conforme disposto em lei; 
 
 II – deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por 
período não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por igual 
período; 
 
 III – para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será 
necessária a apresentação de ordem judicial; 
 
 § 3º Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá ser 
instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado do registro 
da respectiva ocorrência policial; 
 
 §4º Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a 
autoridade competente requisitará às empresas prestadoras de serviço de 
telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios 
técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a 
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localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com imediata 
comunicação ao juiz. 
 
 OBS: Esse art. 13-B, §4º, do CPP é alvo de fundadas críticas, pois a matéria 
em apreço é sujeita à cláusula de reserva jurisdicional, não podendo deixar de 
ser apenas pelo mero decurso de tempo. Sobre o assunto, vale destacar a posição 
dos professores Ronaldo Batista Pinto e Rogério Sanches Cunha, “ou bem se 
entende que a ordem judicial é necessária e pouco importa o tempo que 
o juiz demorará para proferir a decisão, ou bem se entende que a 
diligência em estudo prescinde do filtro judicial em por 
consequência, não será o atraso de 12 horas que impedira a sua 
efetivação11” 
 
 Questão: Qual é a finalidade da interceptação telefônica? 
 
 A resposta a essa indagação advém da própria Constituição Federal (art. 
5º, XII12) e do art. 1º, caput, da Lei nº 9.296/9613, ou seja, colher elementos 
probatórios no âmbito da investigação criminal ou na esfera processual penal. 
Por oportuno, repare que a interceptação telefônica somente pode ser decretada 
no campo criminal. Vale dizer, não é admissível interceptação telefônica na 
esfera cível/administrativa. 
 
 
Apesar de não ser possível a decretação de 
interceptação telefônica para processos cíveis e 
administrativos, nada impede que uma 
interceptação telefônica efetivada na esfera 
 
11 BATISTA PINTO, Ronaldo; SANCHES CUNHA, Rogério. Tráfico de pessoas: Lei 13344/2016 
comentada por artigos. Salvador: Editora Juspodivm, 2016, p. 125. 
12 Art. 5º, XII, da CF: é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, 
de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses 
e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual. 
13 Art. 1º da Lei 9296/96: A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, 
para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta 
Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. 
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em 
sistema de informática e telemática. 
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criminal possa ser empregada como prova emprestada em feitos cíveis e 
administrativos. Essa é a posição atual do Supremo Tribunal Federal: 
 
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. 
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ORDINÁRIO 
EM MANDADO DE SEGURANÇA. 
PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO 
DISCIPLINAR. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. PROVA EMPRESTADA DO 
PROCESSO PENAL. POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE 
COMPROVADA. ALEGAÇÃO GENÉRICA. NECESSIDADE DE REEXAME DO 
CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. JURISPRUDÊNCIA 
CONSOLIDADA. RECURSO DE AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (RMS 
34786 ED-AgR, Relator: Min. ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado 
em 29/06/2018) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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4 – Requisitos da Interceptação Telefônica 
 Inicialmente, vejamos os arts. 1º e 2º da Lei 9.296/96: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 1º requisito: Ordem judicial fundamentada do juiz competente. 
 
 Primeiramente, é interessante destacar que é atribuição exclusiva do Poder 
Judiciário determinar a interceptação das comunicações telefônicas (princípio da 
reserva jurisdicional), salvo quando estiver em vigor o estado de defesa (art. 
136, §1º, I, “c”, da CF14) e o estado de sítio (art. 139, III, da CF). 
 
14 Art. 136, §1º, da CF: O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de 
sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as 
medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes: 
I - restrições aos direitos de: c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; 
Art. 1º da Lei 9296/96: A interceptação de comunicações telefônicas, de 
qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução 
processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do 
juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. 
 
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de 
comunicações em sistema de informática e telemática. 
 
Art. 2º da Lei 9296/96: Não será admitida a interceptação de comunicações 
telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: 
 
I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; 
 
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; 
 
III – o fato investigado constituir infração punida, no máximo, com pena de 
detenção. 
 
Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a 
situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos 
investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada. 
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 Quem é o órgão jurisdicional competente? 
 
 Nem sempre é possível afirmar, de plano, qual é o órgão jurisdicional 
competente para apreciar um pleito de interceptação telefônica, notadamente 
quando estivermos diante de uma investigação embrionária. Para solucionar esse 
problema, tanto a jurisprudência como a doutrina pátria leva em conta a teoria 
do juízo aparente, isto é, se, “no momento da decretação da medida, os 
elementos informativos até então obtidos apontavam para a competência 
da autoridade judiciária responsável pela decretação da interceptação 
telefônica, devem ser reputadas válidas as provas assim obtidas, 
ainda que, posteriormente, seja reconhecida a incompetência do juiz 
inicialmente competente para o feito15”. Essa é a posição do Supremo 
Tribunal Federal. Vejamos: 
 
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. 
PENAL E PROCESSO PENAL. CRIMES DE 
TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES E DE 
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. ARTIGOS 33 E 35 DA LEI 11.343/06. 
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. 
INADMISSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
PARA JULGAR HABEAS CORPUS: CRFB/88, ART. 102, I, D E I. HIPÓTESE 
QUE NÃO SE AMOLDA AO ROL TAXATIVO DE COMPETÊNCIA DESTA 
SUPREMA CORTE. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. APLICABILIDADE DA 
TEORIA DO JUÍZO APARENTE. ENCONTRO FORTUITO DE PROVAS. 
ADMISSIBILIDADE.PLEITO DE REVOGAÇÃO DA CUSTÓDIA PREVENTIVA. 
TEMA NÃO DEBATIDO PELAS INSTÂNCIAS PRECEDENTES. SUPRESSÃO 
DE INSTÂNCIAS. AUSÊNCIA DE EXAME DE AGRAVO REGIMENTAL NO 
TRIBUNAL A QUO. ÓBICE AO CONHECIMENTO DO WRIT NESTA CORTE. 
INOBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. INEXISTÊNCIA DE 
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 
1. As provas colhidas ou autorizadas por juízo aparentemente competente à 
época da autorização ou produção podem ser ratificadas a posteriori, mesmo que 
venha aquele a ser considerado incompetente, ante a aplicação no processo 
investigativo da teoria do juízo aparente. Precedentes: HC 120.027, Primeira 
Turma, Rel. p/ Acórdão, Min. Edson Fachin, DJe de 18/02/2016 e HC 121.719, 
Segunda Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 27/06/2016. 2. Nas 
 
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interceptações telefônicas validamente determinadas é passível a ocorrência da 
serendipidade, pela qual, de forma fortuita, são descobertos delitos que não eram 
objetos da investigação originária. Precedentes: HC 106.152, Primeira Turma, 
Rel. Min. Rosa Weber, DJe de 24/05/2016 e HC 128.102, Primeira Turma, Rel. 
Min. Marco Aurélio, DJe de 23/06/2016. 3. In casu, o recorrente foi denunciado 
pela suposta prática dos crimes tipificados nos artigos 33 e 35 da Lei nº 
11.343/06 e encontra-se preso preventivamente. 4. A competência originária do 
Supremo Tribunal Federal para conhecer e julgar habeas corpus está definida, 
exaustivamente, no artigo 102, inciso I, alíneas d e i, da Constituição da 
República, sendo certo que o paciente não está arrolado em qualquer das 
hipóteses sujeitas à jurisdição desta Corte. 5. Agravo regimental desprovido. (HC 
137438 AgR, Relator: Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 26/05/2017) 
 
 OBS: A teoria do juízo aparente não pode ser empregada para manipular 
o órgão jurisdicional competente. Exemplo: Não há dúvidas nenhuma que 
determinado fato criminoso deve ser processado e julgado na Justiça Comum 
Estadual. Logo, na espécie, não pode um juiz federal decretar a interceptação 
telefônica com base na teoria do juízo aparente, porquanto desde o início da 
persecução penal é sabido que o ilícito era afeto ao Juízo Estadual. 
 
 
 2º requisito: Indícios razoáveis de autoria ou participação em 
infração penal. 
 
 Na verdade, esse requisito versa sobre o fumus comissi delicti 
consubstanciado nos indícios razoáveis de autoria ou participação na infração 
penal. Chamo ainda a atenção para destacar que não é necessária a certeza da 
autoria (ou participação) para o magistrado decretar a interceptação telefônica, 
bastando que os elementos de prova existentes a presença de indício suficiente 
de autoria. 
 
 Questão: É válida a interceptação de prospecção? 
 
 Interceptação de prospecção seria aquela interceptação telefônica 
decretada pela autoridade judiciária competente antes da prática criminosa. Não 
é válida esse tipo de interceptação. A lei brasileira exige que exista, ao menos, 
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indícios de autoria ou de participação na infração penal (art. 2º, I, da Lei 
9296/96). Com isso, conclui-se que interceptação telefônica somente é 
cabível após a prática criminosa. 
 
 3º requisito: Se a prova não puder ser feita por outros meios 
disponíveis. 
 
 É um típico exemplo da aplicação do princípio da proporcionalidade, com a 
adoção do subprincípio da necessidade, ou seja, a interceptação telefônica deve 
ser encarada como instrumento de ultima ratio, ou seja, não será utilizada se 
existir outra medida menos invasiva para a produção de determinada prova. 
 
 
 4º requisito: Infração punida com pena de reclusão. 
 
 Repare que o legislador não exigiu qualquer quantitativo, mas sim tão 
somente a espécie de pena privativa de liberdade, que necessariamente deve ser 
de reclusão. 
 
 Questão: O que é crime de catálogo? 
 
 É aquele que admite a interceptação das comunicações telefônicas, sendo, 
portanto, um delito apenado com reclusão. 
 
 Ainda vale a pena abordar o tema serendipidade16, isto é, encontro 
fortuito de provas em relação a outras condutas criminosas e/ou a outras 
pessoas. Exemplo: A Justiça autoriza a interceptação para apurar a prática de 
um roubo praticado por um agente. Durante a interceptação das comunicações 
telefônicas descobre-se que tal pessoa também cometeu tráfico internacional de 
drogas. 
 
 
16 Decorre do termo “serendipity”, isto é, descobrir coisas por acaso. 
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 Questão: É possível usar elementos probatórios de crime punido com 
detenção resultante de encontro fortuito de provas? Exemplo: Interceptação 
telefônica decretada para investigar o delito de tráfico de drogas, porém durante 
a interceptação telefônica descobre-se a prática de um crime punido com 
detenção (ameaça – art. 147 do CP)17. OBS: É denominado de crime achado o 
delito descoberto em virtude da interceptação telefônica como decorrência do 
encontro fortuito de provas. 
 
 Pois bem. Desde que a interceptação telefônica tenha sido decretada 
originariamente para investigar um delito apenado com reclusão, não há qualquer 
empecilho para que os elementos probatórios colhidos nessa medida sejam 
empregados também para o crime sancionado com detenção. Vejamos a posição 
do Supremo Tribunal Federal. 
 
HABEAS CORPUS. INTERCEPTAÇÃO 
TELEFÔNICA. PRAZO DE VALIDADE. 
ALEGAÇÃO DE EXISTÊNCIA DE OUTRO MEIO 
DE INVESTIGAÇÃO. FALTA DE TRANSCRIÇÃO 
DE CONVERSAS INTERCEPTADAS NOS RELATÓRIOS APRESENTADOS AO 
JUIZ. AUSÊNCIA DE CIÊNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO ACERCA DOS 
PEDIDOS DE PRORROGAÇÃO. APURAÇÃO DE CRIME PUNIDO COM PENA 
DE DETENÇÃO. 
1. É possível a prorrogação do prazo de autorização para a interceptação 
telefônica, mesmo que sucessivas, especialmente quando o fato é complexo a 
exigir investigação diferenciada e contínua. Não configuração de desrespeito ao 
art. 5º, caput, da L. 9.296/96. 
2. A interceptação telefônica foi decretada após longa e minuciosa apuração dos 
fatos por CPI estadual, na qual houve coleta de documentos, oitiva de 
testemunhas e audiências, além do procedimento investigatório normal da 
polícia. Ademais, a interceptação telefônica é perfeitamente viável sempre que 
somente por meio dela se puder investigar determinados fatos ou circunstâncias 
que envolverem os denunciados. 
3. Para fundamentar o pedido de interceptação, a lei apenas exige relatório 
circunstanciado da polícia com a explicação das conversas e da necessidade da 
continuação das investigações. Não é exigida a transcrição total dessas conversas 
 
17 OBS: É denominado de crime achado o delito descoberto em virtude da interceptação telefônica 
como decorrência do encontro fortuito de provas. 
Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 12
Legislação Penal e Processual Especial p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2
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o que, em alguns casos, poderia prejudicar a celeridade da investigação e a 
obtenção das provas necessárias (art. 6º, § 2º, da L. 9.296/96). 
4. Na linha do art. 6º, caput, da L. 9.296/96, a obrigação

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