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Conflitologia - Nills

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Os conflitos são vistos como elementos importantes
na sociedade. Sociedades com industrialização avançada
não têm muito conflito interno; eles têm muito pouco.
Temos que organizar os sistemas sociais de forma que os
conflitos sejam encorajados e ganhem visibilidade, para
que os profissionais não monopolizem a sua condução. As
vítimas de crime, particularmente, perdem seu direito de
participar. Um processo judicial que possa devolver às
partes o direito ao seu próprio conflito tem ganhado
destaque. 
 
 
Introdução: 
 
 Talvez não devêssemos nem ter criminologia. Talvez
devêssemos abolir os institutos ao invés de fomenta-los.
Talvez as consequências sociais da criminologia sejam
mais ambíguas do que imaginamos. Eu acho que, de fato,
elas são. E acho que isso tem relação com o meu tema:
conflitos como propriedade. Minha suspeita é que a
criminologia, até certo ponto, ampliou um processo no
qual os conflitos tem sido retirados das partes diretamente
envolvidas e, deste modo, eles ou desaparecem ou tornam-
se propriedade de outras pessoas. Um desfecho deplorável,
em ambos os casos. Os conflitos devem ter utilidade, não
serem deixados de lado. E eles devem ter utilidade para os
envolvidos inicialmente no conflito. Os conflitos podem
prejudicar os indivíduos, assim como podem prejudicar os
sistemas sociais. É isso que aprendemos na escola. É para
isso que temos os funcionários públicos. Sem eles, a
vingança pessoal vai prosperar. Isso nos foi ensinado de
uma forma tão concreta, que acabamos por esquecer o
outro lado da moeda: nossa sociedade industrializara em
grande escala não possui muitos conflitos internos. Possui
muito poucos. 
 Conflitos podem matar, mas muito poucos podem
paralisar. Vou utilizar essa circunstância pra fazer um
esboço da situação. Não pode ser mais que um esboço.
Esse artigo representa o início do desenvolvimento de
algumas ideias; não a obra final, lapidada. 
 
 
Acontecimentos e Não-acontecimentos
 Vamos levar nosso ponto de partida para mais longe.
Vamos para a Tanzânia. Vamos abordar nosso problema
diretamente das montanhas ensolaradas da província de
Arusha. Aqui, dentro de uma casa relativamente grande
em vilarejo pequeno, houve uma espécie de
acontecimento. A casa ficou lotada. A maioria dos adultos
daquele vilarejo e, também vários dos vilarejos adjacentes,
estavam lá. Foi um evento animado, conversas, piadas,
risadas, atenção ávida, nenhuma frase se perdia. Era um
circo, um espetáculo. Era um processo judicial.
 Desta vez, o conflito era entre um homem e uma
mulher. Eles haviam sido noivos. Ele investiu bastante na
relação, durante um longo tempo, ate o dia em que ela
terminou tudo. Agora, ele queria o investimento de volta.
Ouro, prata e dinheiro, eram problemas fáceis de serem
resolvidos. Mas como resolver o problema relativo àquilo
que já tinha sido desembolsado, o que foi gasto em geral?
 O desfecho não tem importância dentro do nosso
contexto. Mas a estrutura da solução do conflito, sim.
Deve-se citar, especialmente, 5 elementos.
1- As partes, os ex-noivos, estavam no centro da sala, e
eram o centro das atenções de todo mundo. Eles falavam
frequentemente e escutavam com atenção também.
2- Perto deles, estavam parentes e amigos que também
estavam participando. Mas eles não assumiam.
3- Além disso, o público geral também estava
participando, com questões, informações ou piadas.
4- Os juízes, três secretários locais, eram extremamente
inativos. Eles eram obviamente ignorantes a respeito das
questões do vilarejo. Todas as pessoas restantes na sala
eram experts. Eles eram experts em normas e também em
medidas. Eles cristalizavam as normas e esclareciam o que
tinha acontecido, ao longo de suas participações no
procedimento.
 Meu conhecimento ao que se refere aos tribunais
britânicos é, de fato, limitado. Eu tenho algumas vagas
memórias da Vara da Infância e Juventude, onde devia ter
umas 20 ou 15 pessoas, a maioria delas assistentes sociais,
visando a sala para pequenas conferências ou trabalhos
preparatórios. Uma criança ou um jovem talvez estivesse
lá, mas, com exceção do juiz ou do escrivão, ninguém
parecia estar prestando atenção de verdade. A criança ou
jovem devia estar extremamente confusa, sem saber quem
era quem. Esse fato é confirmado em uma pesquisa feita
por Petter Scott (1959). Nos EUA, Martha Baum (1968)
fez observações parecidas. Mais recentemente, Bottoms e
McClean (1976) colaboraram com mais uma importante
observação: “Tem uma verdade que raramente é revelada
na literatura do direito ou nos estudos administrativos da
justiça criminal. É uma verdade a qual se evidenciou a
todos os envolvidos nesse projeto de pesquisa, enquanto
eles estudaram os casos que formaram nossos exemplos. A
verdade é que, majoritariamente, o assunto dos tribunais
criminais é monótono, banal, corriqueiro, e no fim das
contas, simplesmente entediante.
 Mas, ao invés de comentar mais sobre tal sistema,
vou me concentrar no que me é próprio. E eu afirmo: o
que ocorre não é nenhum acontecimento. É tudo uma
negação do caso tanzaniano.
 O que está acontecendo em praticamente todos os
casos escandinavos é a monotonia e a falta de audiências
importantes. Os tribunais não são elementos essenciais no
cotidiano dos nossos cidadãos, mas secundários, de 4
formas:
1- Eles são situados nos centros administrativos
das cidades, fora dos territórios que as pessoas
normais costumam frequentar.
2- Dentro desses centros, os tribunais são
geralmente localizados em um ou dois prédios
grandes e complexos. Advogados
frequentemente reclamam que eles gastam muito
tempo para se localizarem nesses prédios. Não é
preciso muito esforço para imaginar a situação
das partes e do público quando estão
encurralados entre as estruturas dos prédios. Um
estudo comparativo da arquitetura dos tribunais
pode se tornar tão relevante para a Sociologia
Jurídica quanto a pesquisa de Oscar Newman
(1972) sobre espaço defensivo é para a
Criminologia. Mas mesmo sem qualquer
pesquisa, eu digo com segurança que tanto a
situação física quanto a arquitetura são fortes
indicadores de que os tribunais da Escandinávia
pertencem aos administradores da lei.
3- Essa impressão é fortalecida quando você entra no
tribunal em si - se você tiver sorte o suficiente para
achar o caminho até ele. Também aqui, as partes
observam atentamente. As partes são representadas
e são esses representantes e o juiz que expressam a
pouca atividade que se manifesta nessas salas. Os
famosos desenhos de tribunais feitos por Honoré
Daumier representam a Escandinávia assim como
representam a França. Mas há variações. Nas
cidades pequenas, ou nas zonas rurais, os tribunais têm
mais fácil acesso do que nas cidades maiores. E no
extremo inferior do sistema judicial – os
chamados conselhos de arbitragem – as partes são, às
vezes, menos representadas pelos especialistas em
direito. Mas o símbolo do sistema judicial é o Supremo
Tribunal, no qual as partes diretamente envolvidas nem
mesmo vão às suas audiências judiciais. 
 4- Eu ainda não fiz nenhuma distinção entre os
conflitos cíveis e criminais. Mas não foi por acaso que o
conflito da Tanzânia era civil. Participação completa no
seu próprio conflito pressupõe elementos do direito
civil. O elemento chave em um processo criminal é que
este é convertido de algo entre as partes concretas para
algo entre uma das partes e o Estado. Primeiramente, as
partes estão sendo representadas. Em segundo lugar, a
parte que está sendo representada pelo Estado, ou seja, a
vítima, o é de tal forma que, na maioria dos
procedimentos, é deixada totalmente de fora dos
tribunais, sendo reduzida à peça que dá início a tudo. É,
além do mais, uma pessoa duplamente prejudicada.
Primeiramente, é prejudicada em face do ofensor, mas,
em seguida, de um jeito pior, prejudicada aoter negados
seus direitos de participar por completo do que deveria
ser um dos mais importantes encontros de sua vida. A
vítima perde o caso para o Estado. 
 
Ladroes profissionais 
 Todos sabemos que há razões honráveis e não
honráveis por trás do jeito como tais coisas
acontecem. As honráveis tem a ver com a necessidade
do Estado de reduzir os conflitos e, certamente, seu
desejo de proteger a vítima. É um tanto quanto
óbvio. Também é assim a razão menos honrável para o
Estado, ou Imperador, ou quem quer que esteja no
poder: usar os processos criminais para ganhos pessoais.
Os ofensores devem pagar pelos seus pecados. As
autoridades mostraram, em épocas
passados, considerável voluntariedade, representando a
vítima, de agir como destinatário do dinheiro ou outros
bens do ofensor. Mas estes dias passaram. A justiça
criminal não é comandada pelo lucro. Mas no entanto,
eles não passaram. Há, em qualquer banalidade, muitos
interesses em jogo; a maioria ligada à
profissionalização. 
 Advogados são particularmente habilidosos
em roubar conflitos. São treinados para isso, par
prevenir e resolver conflitos. Eles são socializados
dentro de uma sub-cultura com um alto grau
de consentimento relativo à interpretação de normas, e a
respeito de quais informações podem ser consideradas
relevantes em cada caso. Muitos de nós, como leigos, já
vivenciamos os tristes momentos de verdade quando
nossos advogados nos dizem que nossos melhores
argumentos no conflito contra o nosso vizinho não tem
nenhuma relevância legal e que nós temos que, pelo
amor de Deus, não falar deles na audiência. Ao invés,
eles escolhem argumentos que podemos considerar
irrelevantes ou até errados de se usar. Meu exemplo
favorito aconteceu logo após a guerra. Um
dos melhores advogados do meu país contou
orgulhosamente como ele havia acabado de salvar um
pobre cliente. Esse cliente havia colaborado com os
Alemães e o advogado declarou que ele havia sido uma
das pessoas chave na organização do movimento
nazista. Ele havia sido uma das mentes mestras por trás
de tudo. O advogado, no entanto, salvou seu cliente. E o
salvou mostrando ao júri como seu cliente era fraco,
sem habilidades e claramente deficiente tanto
socialmente quanto organicamente. Seu cliente
simplesmente não poderia ter sido um dos
organizadores dentre os colaboradores; ele não tinha
talento. E ele ganhou a causa. Seu cliente pegou uma
pena muito pequena, como uma pessoa pouco
importante. O advogado finalizou sua história me
contando, indignado, que nem o réu e nem sua esposa o
agradeceram no final. 
 Os conflitos se tornam propriedade dos advogados.
Mas os advogados não escondem que é com os conflitos
que eles lidam. A estrutura organizacional dos
tribunais evidencia esse argumento. As partes, o juiz,
a proibição de comunicação privilegiada, a falta de
estímulo à especialização – especialistas não podem ser
controlados internamente – evidenciam que tudo isso é
uma organização para a condução dos processos. Já os
mediadores estão em outra posição. Eles estão mais
interessados em converter a imagem do caso de um
conflito para um não-conflito. O modelo básico da
mediação não é com as partes opostas, mas sim com as
partes sendo levadas à direção de um objetivo bem
aceito: a preservação ou restauração do bem-estar. Eles
não são treinados em um sistema no qual é importante
que as partes possam controlar umas às outras. Não há,
no caso ideal, nada a ser controlado, porque só há um
objetivo. A especialização é estimulada. Ela aumenta o
conhecimento disponível, a perda de controle interno
não tem relevância. A perspectiva de um conflito cria
dúvidas desconfortáveis em relação à adequação do
mediador para aquele trabalho. Uma perspectiva de não-
conflito é uma pré condição para definir o crime
como alvo legítimo da mediação. 
 Uma maneira de reduzir a atenção dada ao conflito
é a redução da atenção dada a vitima. Outra maneira é
concentrar a atenção aos pontos em que o mediador é
treinado para agir. Imperfeições biológicas são perfeitas.
Assim como imperfeições da personalidade quando
estabelecidas anteriormente – bem antes do conflito
recente. Também se considera perfeito o rol de variáveis
que a criminologia pode oferecer. Nós temos, na
criminologia, uma ciência auxiliar na área dos
profissionais do sistema de controle criminal. Nós temos
focado no ofensor, transformamos ele ou ela em um objeto
de estudo, manipulação e controle. Nós reduzimos a
vítima e enaltecemos o ofensor. Essa crítica é, talvez, não
só relevante para a antiga criminologia, mas também para
a nova criminologia. Enquanto a antiga criminologia
explica os crimes como defeitos pessoais ou dificuldades
sociais, a nova criminologia explica os crimes como
resultados dos conflitos econômicos. A antiga
criminologia perde os conflitos, enquanto a nova
transforma os conflitos interpessoais em conflitos de
classes. E realmente são. São conflitos de classes –
também. Porém, analisando a questão, os conflitos
novamente são afastados das partes envolvidas
diretamente. Assim, como uma afirmação preliminar:
conflitos criminais tornaram-se propriedade de outras
pessoas – primeiramente, propriedade de advogados – ou
se torna interesse de outras para definição dos conflitos.
 
 
Ladrões Estruturais
 Há outros pontos além de manipulação profissional
de conflitos. Mudanças na estrutura básica social têm
trabalhado no mesmo sentido.
 O que particularmente tenho em mente são dois tipos
de segmentação facilmente observados em sociedades
altamente industrializadas. Primeiramente, existe a
questão da segmentação no espaço. Nós funcionamos
diariamente como migrantes entre grupos de pessoas que
não necessariamente estamos ligados – exceto com o
movimentador. Muitas vezes, com isso, conhecemos
nossos colegas de trabalho apenas como colegas de
trabalho, vizinhos apenas como vizinhos. Nós o
conhecemos como personagens e não como pessoas. Essa
situação é agravada com o extremo grau de divisão
trabalhista que nós aceitamos conviver. Somente
especialistas são capazes de avaliar cada um de acordo
com a competência – pessoal – individual. Retirando a
especialidade, caímos na avaliação generalizada da
suposta importância do trabalho. A não ser entre
especialistas, não somos capazes de avaliar o quão bom
alguém é no trabalho, mas somente o quanto aquele
personagem é importante. Em meio a isso, temos
possibilidades limitadas para entender o comportamento
de outras pessoas. O comportamento delas também terá
relevância limitada para nós. Personagens são mais fáceis
de substituir do que pessoas.
 O segundo tipo de segmentação tem a ver com o que
gosto de chamar de nosso reestabelecimento da sociedade
de castas. Não estou dizendo sociedade de classes, ainda
que existam tendências óbvias para essa direção. Na
minha visão, porém, entendo os elementos de castas mais
importantes. O que tenho em mente é a segregação
baseadas em atributos biológicos, como o sexo, cor,
capacidades físicas ou o número de invernos que
sobrevivemos desde o nascimento. A idade é
particularmente importante. É um atributo quase
perfeitamente sincronizado com a sociedade altamente
industrializada. É uma variável contínua, onde podemos
inserir quantos intervalos forem necessários. Podemos
dividir a sociedade em duas: adultos e crianças. Mas
também podemos dividi-la em dez: bebês, pré-escolares,
escolares, adolescentes, jovens, adultos, pré-pensionistas,
pensionistas, idosos e anciãos. E o mais importante: os
pontos de corte podem se mover de acordo com as
necessidades sociais. O conceito de adolescente era
particularmente aceitável 10 anos atrás. Não seria se a
realidade social não estivesse em acordo com a palavra.
Hoje, o conceito não é muito usado no meu país. A
condição de juventude não acaba aos 19 anos. Pessoas
jovens têm que esperar ainda mais paraobter permissão
para se juntarem à força de trabalho. A casta dos que não
se encontram na força de trabalho foi estendida aos 20
anos ou mais. Ao mesmo tempo, a saída da força de
trabalho – se é que você foi admitido, se não foi deixado
de fora por questões como raça ou sexo – é adiada até o
início dos 60 anos. No meu pequeno país de 4 milhões de
habitantes temos 800 mil pessoas segregadas no sistema
de educação. A crescente escassez de emprego
imediatamente levou as autoridades a aumentar a
capacidade da educação no encarceramento. Outros 600
mil são pensionistas.
 A segmentação de acordo com o espaço e de acordo
com atributos de casta tem consequências severas.
Primeiro e principalmente, leva a despersonalização da
vida social. Indivíduos são conectados por ligações
menores, em redes de trabalho mais próximas, onde são
confrontados com os mais significativos papéis. Isso cria
uma situação de limitação de informações guardadas entre
as pessoas. Sabemos menos sobre outras pessoas e temos
possibilidades limitadas para entender e prever seus
comportamentos. Se um conflito é criado, somos menos
capazes de lidar com essa situação. Não somente há
profissionais, capazes e que querem acabar com o conflito,
mas também temos mais vontade de acabar com ele.
 Em segundo lugar, a segmentação leva a destruição
de certos conflitos antes mesmo de eles começarem. A
despersonalização e mobilidade dentro da sociedade
industrial acabam com algumas condições essenciais para
a existência de conflitos; aqueles entre pessoas que
significam muito umas para as outras. O que
particularmente tenho em mente é crimes contra a honra e
difamação do caráter. Todos os países escandinavos
tiveram uma queda dramática nesse tipo de crime. Na
minha interpretação, não foi porque a honra passou a ser
mais respeitada, mas porque há menos honra para se
respeitar. As várias formas de segmentação significam que
seres humanos são interligados de maneira que
simplesmente significam menos um para o outro. Quando
são ofendidos, são ofendidos apenas parcialmente. E se
estão perturbados, podem simplesmente se mudar. E
afinal, quem se importa? Ninguém me conhece. Na minha
avaliação, a diminuição de crimes de infâmia e difamação
é um das mais interessantes e tristes sintomas de
desenvolvimentos perigosos nas sociedades
industrializadas. A queda aqui é claramente relacionada
com condições sociais que levaram ao aumento de outras
formas de crime que chamaram a atenção das autoridades.
É um importante objetivo para a prevenção de crimes
recriarem condições sociais que levaram ao aumento dos
crimes contra a honra de outras pessoas.
 A terceira consequência da segmentação de acordo
com o espaço e idade é que certos conflitos se tornam
invisíveis e, assim, não recebem nenhuma solução ou
qualquer coisa do tipo. Eu tenho em mente conflitos como
dois extremos em uma continuidade. Em um extremo,
temos os “superprivatizados”, aqueles tomando o lugar
dos indivíduos em meio a um segmento. Espancar a
mulher ou o filho é um exemplo. Quanto mais isolado o
segmento, a parte mais fraca fica sozinha, aberta para o
abuso. Inghe e Riemer (1943) fizeram o clássico estudo
muitos anos atrás sobre um fenômeno relatado em seu
livro sobre incesto. Seu principal argumento era que o
isolamento social de certas categorias dos trabalhadores
rurais Suíços era condição necessária para esse tipo de
crime. Pobreza significava que as partes no núcleo
familiar tornavam-se completamente dependentes umas
das outras. Isolamento significava que a parte mais fraca
na família não possuía contatos exteriores aos quais
poderia pedir ajuda. A força física do marido tem, sem
dúvidas, grande importância. Em outro extremo, temos
crimes praticados por grandes organizações econômicas
contra indivíduos tão fracos e ignorantes que não
conseguem sequer reconhecer que foram vitimizados. Em
ambos os casos, o objetivo para a prevenção dos crimes
pode ser recriar condições sociais que tornem os conflitos
visíveis e passíveis de solução.
 
 
Conflitos como propriedade
 Conflitos são retirados, distribuídos ou feitos
invisíveis. Isso importa? Isso realmente importa?
 Muitos de nós provavelmente concordaríamos que
devemos proteger as vítimas mencionadas. Muitos
também não iriam aprovar ideias que dizem que estados,
governos ou outras autoridades devem parar de roubar
impostos e, ao invés disso, deixarem as pobres vítimas
receberem esse dinheiro. Eu pelo menos aprovaria esse
procedimento. Mas eu não entraria nesse problema aqui e
agora. Compensação material não é o que eu tenho em
mente com a frase “conflitos como propriedade”. É o
conflito propriamente dito que representa a mais
interessante propriedade retirada, e não os direitos
retirados das vítimas ou devolvidos a ela. Nos nossos tipos
de sociedade, conflitos são mais escassos do que
propriedade. E eles são imensamente mais valiosos.
 São valiosos em diversos sentidos. Deixe-me
começar com o nível social, uma vez que já expliquei aqui
os fragmentos necessários de análise que podem nos
permitir ver qual é o problema. Sociedades altamente
industrializadas enfrentam problemas maiores ao
organizar seus membros de modo que uma quota decente
tome parte em alguma atividade. Segmentação de acordo
com a idade e sexo pode ser vista como um método sagaz
para segregação. A participação é tão escassa que os
participantes criam monopólios contra os que não
participam particularmente os que se recusam a trabalhar.
Nessa perspectiva, facilmente se observa que conflitos
representam um potencial para a atividade, para
participação. Os sistemas de controle criminal modernos
representam um dos muitos casos de oportunidades
perdidas para envolver cidadãos em tarefas que são de
imediata importância para eles. A nossa sociedade é de
monopolizadores de tarefas.
 A vítima é um grande perdedor nessa situação. Ela
não só sofreu, teve perdas materiais ou ficou ferido,
fisicamente ou de outra maneira. E não só o Estado deve
recompensá-la. Mas acima de tudo, ela perdeu
participação no seu próprio caso. É a Coroa que vem à
tona, e não a vítima. É a Coroa que descreve as perdas, e
não a vítima. É a Coroa que aparece no jornal, e muito
raramente, a vítima. É a Coroa que tem a chance de
conversar com o agressor, e nenhum dos dois está
interessado em continuar com aquela conversa. O
promotor está entediado há muito tempo. A vítima não
estaria. Ela poderia estar assustada, em pânico ou furiosa.
Mas ela não estaria pouco envolvida. Seria um dia
importante na vida dela. Uma coisa que lhe pertencia foi
tirada.
 Mas o maior perdedor somos nós – a extensão da
sociedade. Essa perda é primeiramente e mais importante,
uma perda de oportunidade de esclarecimento da norma.
É uma perda de possibilidades pedagógicas. É uma perda
de oportunidade para discussões contínuas do que
represente a lei da terra. O quão errado era o ladrão? O
quão certa era a vítima? Advogados são, como vimos,
treinados em acordos para o que é relevante no caso. Mas
isso significa uma incapacidade treinada em deixar as
partes decidirem o que elas acham que é importante.
Significa que é difícil encenarmos o que chamamos de
debate político na corte. Quando a vítima é pequena e o
agressor é grande – em termos de poder – o quão
condenável é o crime? E se for ao contrário, o ladrão
pequeno e o dono de uma casa grande? Se o ofensor é bem
educado, então ele deve sofrer mais, ou talvez menos, por
seus pecados? Ou se ele é negro, ou jovem, ou se a outra
parte é uma companhia de seguros, ou se a esposa
recentemente o deixou, ou se a sua fábrica terá que fechar
se ele for para a cadeia, ou se sua filha perderá o noivo, ou
se estava bêbado, triste ou bravo. Isso não tem fim. E
talvez não deva ter. talvez a lei Barotse, como descreveu
Max Gluckman (1967) seja um melhor instrumento para
esclarecimentoda norma, permitindo que as partes
conflitantes tragam a cada momento a velha cadeia de
argumentos e reclamações. Talvez decisões sobre
relevância e o peso do que é considerado relevante devam
ser retirados do alcance de estudantes da lei, os
ideologistas chefes do sistema de prevenção ao crime, e
trazidos de volta para decisões livres nas cortes.
 Uma futura perda geral – tanto para a vítima quanto
para a sociedade em geral – tem a ver com o nível de
ansiedade e de equívocos. Penso novamente na
possibilidade de encontros pessoais. A vítima está tão fora
do caso que não há chance alguma de conhecer o ofensor.
Nós a deixamos de fora, furiosa, talvez humilhada após
uma avaliação na corte, sem nenhum contato físico com o
ofensor. Ela não tem alternativa. Ela precisará de todo o
estereótipo clássico do ofensor para ter uma noção de
tudo. Ela tem a necessidade de entender, mas ao invés
disso, é somente mais um expectador. É claro, ela irá
embora mais assustada do que nunca, mais necessitado do
que nunca de uma explicação sobre o criminosos como
não-humanos.
 O ofensor representa um caso mais complicado. Não
é necessária muita introspecção para ver que a
participação direta da vítima pode ser uma experiência de
fato dolorosa. Muitos de nós nos esquivaríamos de um
encontro com esse personagem. Essa é a primeira reação.
Mas a segunda é um pouco mais positiva. Seres humanos
têm motivos pelos quais agem. Se a situação é encenada,
para que os motivos possam ser dados (motivos como as
partes os veem e não apenas as partes que os advogados
acharam relevantes), nesse caso talvez a situação não seja
tão humilhante.
 E, particularmente, se a situação fosse arrumada de
tal maneira que a questão central não fosse achar a culpa,
mas através da discussão, sobre o que poderia ser feito
para desfazer a ação, então a situação poderia mudar. E
isso é exatamente o que deveria acontecer quando a vitima
é reintroduzida no caso. Atenção séria centralizará nas
perdas da vítima. Isso leva a uma atenção natural de que
forma eles podem ser suavizados. Isso leva para
a discussão sobre a restituição. O agressor ganha a
possibilidade de mudar sua posição sendo um ouvinte para
uma discussão – muitas vezes uma altamente inteligível –
de quanta dor ele deveria receber, como um participante
numa discussão de como ele poderia fazer isso
bem novamente. O agressor tem perdido a oportunidade
de explicar para si mesmo para uma pessoa
cuja sua avaliação possivelmente importa. Ele,
assim, também perde uma das mais importantes
possibilidades de ser perdoado. Comparado com as
humilhações do juizado comum – vividamente descrito
por Pat Garlen (1976) numa recente pesquisa para
o British Journal of Criminology – isso não é,
obviamente, nada mal para o criminoso. 
 Mas deixe-me adicionar que eu penso que nós
deveríamos fazer isso independentemente de seus desejos. 
Não é sobre controle de saúde que estamos discutindo. É
controle do crime. Se os criminosos são chocados pelo
pensamento inicial da confrontação próxima com a vítima,
de preferência uma confrontação num local mais próximo
de uma das partes, e então? Eu conheço de recentes
conversas sobre essas questões que a maioria das
pessoas condenadas estão chocadas. Depois de tudo, elas
preferem se distanciar da vítima, da vizinhança, dos
ouvintes e talvez também do seu próprio processo judicial
por meio de seu vocabulário e dos especialistas em
ciências comportamentais que podem vir à estarem
presentes. Eles estão perfeitamente preparados para
desistir de seus direitos de propriedade para o conflito.
Então a questão é maior: Nós estamos dispostos a deixa-
los desistirem? Nós podemos dá-los essa maneira mais
fácil? 
 Deixe-me explicar um pouco melhor esse ponto: Eu
não estou sugerindo essas ideias fora de nenhum interesse
em particular no tratamento ou melhoramento nos
criminosos. Eu não estou baseando meu raciocínio na
crença de uma reunião mais pessoal entre ofensor e
vítima que pudesse reduzir a
reincidência. Talvez possa. Eu penso que poderia. Como é
agora, o ofensor perde a oportunidade para participação na
confrontação pessoal de uma natureza muito séria. Ele tem
perdido a oportunidade de receber um tipo de culpa que
pode ser muito difícil de neutralizar. Contudo, eu poderia
ter sugerido esses arranjos mesmo que estivesse
absolutamente certo de que eles não tinham efeitos sobre a
reincidência, talvez até mesmo se eles tivessem um efeito
negativo. Eu poderia fazer isso por outra causa, por mais
ganhos gerais. E deixe-me adicionar – Não é muito a
perder. Como nós todos sabemos hoje, pelo menos a
maioria, nós temos não estado aptos para inventar
qualquer cura para o crime. Exceto pela execução,
castração ou encarceramento pela vida toda, nenhuma
medida tem provado a eficiência comparado com qualquer
outro método. Nós também podemos reagir ao crime de
acordo com o quão próximo as partes envolvidas se
encontram e de acordo com os valores gerais da
sociedade. 
 Com essa última afirmação, como a maioria das
outras que fiz, eu acrescento mais problemas do que
respondo. Afirmações em políticas
criminais, particularmente com esses fardos de
responsabilidade, são usualmente preenchidas com
respostas. São questionamentos que precisamos. A
gravidade do nosso assunto faz-nos muito pedantes e
assim inúteis como transformadores de paradigmas. 
• Um tribunal orientado para as vítimas 
 Há claramente um modelo de tribunais de bairro por
trás de meu raciocínio. Mas isso é uma de algumas feições
peculiares, e é acerca disso que eu discutirei a seguir. 
Primeiramente e mais importante: É uma organização de
vítimas orientadas. Não é um estágio inicial. O primeiro
estágio será um tradicional um onde é estabelecido se foi
verdade que a lei vem sido quebrada, e se isso foi a pessoa
em particular quem a quebrou. 
 Depois vem a segunda etapa, na qual dentro desses
tribunais seria de maior importância. Isso poderia ser o
estágio onde a situação das vítimas fosse considerado,
onde todos os detalhes juridicamente importantes ou não
fossem trazidos para a atenção do tribunal.
Particularmente importante aqui seria a consideração
detalhada sobre o que poderia ser feito por ele, em
primeiro lugar e mais importante pelo ofensor,
segundamente pela vizinhança local e terceiramente
pelo Estado.Poderia o dano ser compensado, a janela
reparada, a tranca substituída, o muro pintado, a perda de
tempo por conta do carro que foi roubado dado de volta à
jardinagem ou a lavagem do carro em dez domingos numa
fila? Ou talvez, quando essa discussão iniciou, o dano não
seria tão importante como aparentava nos documentos
escritos para impressão de companhia de seguros? Pode o
sofrimento físico tornar-se um pouco menos doloroso por
qualquer ação do infrator, durante dias, meses ou
anos? Mas, além disso, teria a comunidade exaurido todos
os recursos que poderiam ter oferecido para ajudar? Foi
absolutamente certo que o hospital local não poderia ter
feito nada? E quanto uma mãozinha para o zelador duas
vezes ao dia se o infrator ofereceu para limpar o porão
todos os Sábados? Nenhuma dessas idéias é desconhecida
ou inexperiente, particularmente não na Inglaterra. Mas
nós precisamos de uma organização para a aplicação
sistemática delas. 
 Só então depois desse estágio passar, e isso deve
levar horas, talvez dias, para passar, só depois poderia vir
o tempo para uma decisão eventual de punibilidade.
Punição, assim, torna-se esse sofrimento o qual o juiz acha
necessário para aplicar além desses sofrimentos
construtivos não intencionais que o ofensor poderia passar
através de sua ação restaurativa vis-a-vis com
a vítima. Talvez nada possa ser feito ou nada deva ser
feito. Mas os bairros poderiam achar intolerável que nada
aconteceu. Tribunais locais fora de sintonia com valores
locais não são tribunais locais. Isso apenasé o problema
com eles, vendo do ponto de vista de reformas liberais. 
 Um quarto estágio tem de ser adicionado. Esse é o
estágio para serviço do ofensor. Sua situação geral e
pessoal é bem conhecida pelo tribunal. A discussão de
suas possibilidades para restaurar a situação da vítima não
pode ser realizada sem ao mesmo tempo dar informação
sobre a situação dos ofensores. Isso pode ter exposto
necessidades para social, educacional, medico ou ação
religiosa – não para prevenir mais crimes, mas por que as
necessidades devem ser conhecidas. Tribunais são arenas
públicas, as necessidades são visíveis. Mas é importante
que essa fase venha depois da condenação. Caso contrário,
temos uma re-emergência de todo o conjunto das
chamadas “medidas especiais” – tratamento compulsórios
– muitas vezes só eufemismos para prisões
indeterminadas. Através destas quatro etapas, estes
tribunais representariam uma mistura de elementos de
tribunais civis e criminais, mas com uma forte ênfase no
lado civil. 
• Um tribunal de orientação leiga 
 A segunda maior particularidade com o modelo do
tribunal que tenho em mente é que ele seria um com um
grau extremo de orientação leiga. Isto é essencial
quando conflitos são vistos como propriedade que
devem ser compartilhados. Há conflitos
como acontecem tantas coisas boas: eles não estão em
oferta ilimitada. Os conflitos podem ser tratados,
protegidos, nutridos, mas há limites. Se a alguns são
dados maior acesso na resolução, outros estão dando
menos. É tão simples quanto isso. 
 Especialização em solução de conflitos é o maior
inimigo; Especialização que em tempo devido ou indevido
conduz a profissionalização. Ou seja, quando os
especialistas obtêm poder suficiente para afirmar que eles
possuem dons especiais, principalmente através da
educação, dons tão poderosos que é obvio que eles
só podem ser tratados pelo certificado máximo. 
Com um esclarecimento do inimigo, nós também somos
capazes de especificar a meta; Deixa-nos a reduzir
especialização e particularmente a nossa dependência em
relação aos profissionais dentro do sistema máximo de
controle. 
 O ideal é claro; deveria ser um tribunal de igualdade
representando eles mesmos. Quando eles são capazes de
achar a solução entre eles mesmos, nenhum juiz é
necessário. Quando eles não são, os juízes também
deveriam ser iguais. Talvez o juiz seja mais fácil de
substituir, se nós fizermos uma séria demanda para trazer a
nosso presente tribunal mais perto desse modelo
de orientação leiga. Nós já temos juízes leigos a princípio.
Mas isso está muito longe da realidade. O que nós temos,
tanto a Inglaterra quanto meu país, é um tipo de
especialidade não-especialista. Primeiramente, eles são
usados repetidamente Segundamente, alguns até mesmo
treinados, ganham cursos especiais ou são enviados em
excursões para países estrangeiros para aprender sobre
como se comportar como um juiz leigo. Terceiramente, a
maioria deles também representam uma extrema amostra
extremamente tendenciosa da população com ao sexo,
idade, educação, renda, classe e experiência pessoal com
criminosos. Com juízes leigos reais, eu concebo um
sistema onde a ninguém foi dado o direito de tomar parte
em uma solução de conflitos mais que algumas vezes, e
depois tenham que esperar até que todos os outros
membros da comunidade tivessem a mesma experiência. 
 Advogados devem ser admitidos no tribunal? Nós
tínhamos uma velha lei na Noruega que os proibiam de
entrar em distritos rurais. Talvez eles devam ser admitidos
no estágio um onde é decidido se o homem é culpado. Eu
não tenho certeza. Experts são um câncer para qualquer
organismo leigo. É exatamente como Ivan Illich descreve
para o sistema educacional em geral. Cada vez que você
aumenta o cumprimento da educação compulsória na
sociedade, cada vez você também diminui a
mesma confiança da população no que eles têm aprendido
e entendido bem por si mesmos. 
 Experts comportamentais representam o mesmo
dilema. Há um lugar para eles nesse modelo? Deveria hav
er qualquer lugar? Na fase 1, decisões em fatos,
certamente não. Na fase 3, decisões sobre eventuais
punições, certamente não. É muito óbvio para ater-se
nisso. Nós temos a série de lamentáveis erros de
Lombroso, através do movimento por defesa social e
também perspectivas recentes para apresentar pessoas
supostamente perigosas através de previsões sobre quem
são e quando elas não são mais perigosas. Deixemos que
essas ideias desapareçam, sem mais delongas. 
 O verdadeiro problema relaciona-se com a função de
serviço dos especialistas em comportamento. Cientistas
sociais podem ser notados pelas respostas dinâmicas para
determinada sociedade. Em nossa grande maioria, nós
perdemos a possibilidade física de vivenciar a plenitude,
tanto no nível de sistema social e também no nível de
personalidade. Psicólogos podem ser vistos como
historiadores de maneira individual, sociólogos possuem
muito da mesma função para o sistema social. Assistentes
sociais são o ‘’óleo na máquina’’, uma parte significativa
do processo. Nós podemos funcionar sem eles, poderiam a
vítima e o réu serem piores?
 Talvez. Mas isso seria extremamente difícil de obter
se a corte estivesse ali. Nosso tema trata-se do conflito
social. Quem não está pelo menos estritamente
preocupado com a maneira dele ou dela lidarem com seus
próprios conflitos sociais se nós entendermos que há em
especialista nessa questão da mesma moeda? Eu não tenho
uma reposta clara, apenas sentimentos exacerbados sobre
uma conclusão vaga: vamos ter um pouco do
comportamento de especialistas como estamos
acostumados a fazer.
 E se nós tivermos algum, deixemos que a
misericórdia de Deus não tenha especialidade alguma em
crimes e resolução de conflitos. Deixemos que
especialistas gerais com uma base sólida fora sistema de
controle criminal.
 E o último aspecto relevante tanto para especialistas
em comportamento e advogados: se nós os acharmos
inviáveis em determinados casos ou em determinadas
fases, vamos tentar ultrapassar os problemas criados
amplamente de participação social. Vamos tentar fazê-los
atentarem a eles mesmos como pessoas-ressarcidas,
respondendo quando perguntadas, porém não
influenciadas, não no centro. Eles provavelmente
colaborarão nessa fase de conflitos, não assumirão o
controle.
 
 Há centenas de blocos contra a obtenção de tal sistema para operar dentro da
nossa cultura ocidental. Deixe-me citar apenas 3
principais. São eles: 
 
1) Há uma necessidade de vizinhança
2) Há poucas vítimas
3) Há muitos profissionais por perto
 Com uma carência de vizinhos eu tenho em mente o mesmo fenômeno que descrevi
como consequência da vida industrializada; a divisão de acordo com espaço e idade.
Muitos dos nossos problemas decorrem de bairros mortos ou comunidades locais
mortas. 
 Como podemos então empurrado em direção a bairros de tarefa que pressupõe eles
são altamente vivos. Eu não tenho bons argumentos, apenas um ou dois fracos. O
primeiro não é tão ruim. A morte não está completa. Em segundo, uma das principais
ideias posteriores sobre a concepção ‘’Conflitos como Propriedade’’ é que há uma
propriedade-vizinhança. Não é privado. Pertence ao sistema. É compreendido como
organizador para vizinhança. O maior risco que a vizinhança representa; mais
precisamos tribunais de bairro como uma das muitas funções qualquer sistema social
precisa para não morrer por falta de desafio.
 Igualmente mau é a parte das vítimas. Aqui, eu tenho
particularmente em mente uma falta das vítimas pessoais.
O problema por detrás disso é que as grandes unidades na
sociedade industrializada. Woolworth ou British Rail não
são boas vítimas. Mas novamente eu irei dizer: não há
uma falta de vítimas pessoais e elas precisam sair dessa
prioridade. Mas nós não devemos nos esquecer das
grandes organizações.Elas, ou suas
plataformas,certamente prefeririam não ter que aparecer
como vítimas numa corte da vizinhança de 5000 presentes
sobre todo o país. Porém, talvez elas estão sendo forçadas
a aparecer. Se a queixa é contundente o bastante para
trazer o réu para o posto de criminoso, então a vítima deve
aparecer. O problema relativo identifica-se com o seguro
das companhias a alternativa industrializada para amizade
ou gentilezas. Novamente, nós temos um caso no qual o
suporte deteriora a condição. Seguro leva as condições do
crime embora. Nós teremos, portanto que levar a
insegurança embora. Ou pior: nós teremos que guardar as
possibilidades de compensação através do seguro de
empresas retornem até que o procedimento descrito , tem
sido provado que por trás de toda possível dúvida não
restam outras alternativas- particularmente o réu não tem
possibilidade alguma. Estritamente o réu não possui
possibilidade alguma sequer. Talvez a resposta criará mais
papeladas, menos previsível , mais agressão para
costumes. E a solução não será necessariamente vista tão
razoável quanto a vista da perspectiva do segurado. Mas
isto não ajudará a proteger conflitos como combustível
social.
 Nenhum desses problemas pode, todavia, competir
com o terceiro e último que comentarei sobre: a
abundância de profissionais. Nós sabemos disso pelas
nossas próprias biografias pessoais ou observações
pessoais. E para acrescentar nós confirmamos isso de
todos tipos de pesquisa de ciências sociais: o sistema
educacional de qualquer sociedade não está
necessariamente sincronizado em qualquer necessidade
para o produto desse sistema. Em algum tempo, nós
pensamos que havia uma causa direta relacionada com o
número elevado de pessoas alfabetizadas num país com
Gross National Product. Hoje nós suspeitamos que esse
relacionamento de outro modo, se nós não estivermos
dispostos a usar o GNP como indicador expressivo. Nós
sabemos também que a maioria dos sistemas educacionais
são extremamente arbitrários. Sabemos que universitários
tiveram investimentos lucrativos na nossa educação,que
nós lutamos pelo mesmo para as crianças, e nós sabemos
que frequentemente temos transferido nossos interesses
fazendo nossa parte para que o sistema educacional se
torne ainda maior. Mais escolas para mais
advogados,assistentes
sociais,psicólogos,sociólogos,criminologistas. Enquanto
estou falando de forma não-profissional , nós estamos
aumentando a capacidade de estar aptos a preencher o
mundo inteiro com ele. 
 Não há uma base sólida para o otimismo. Por
outro lado o discernimento sobre a situação, e o objetivo
da formulação, é uma pré-condição para a ação. É claro
que o controle de sistema criminal não é dominante no
nosso tipo de sociedade. Mas isso tem alguma relevância.
E ocorrências aqui são atípicas bem colocadas como
ilustrações pedagógicas da tendência geral na sociedade.
Há também alguma sala para manobra. E quando nós
atingirmos os limites, ou eles nos atingirem, essa colisão
representa por si só como um argumento renovado para
mudanças amplamente concebidas.
 Outra fonte de esperança: ideias formuladas aqui
não são totalmente tão isoladas ou em divergência da
corrente principal (mainstream) do pensamento de que
quando nós deixamos nossa área de controle criminal e
entramos em outras instituições. Eu já havia mencionado
Ivan Illich com suas tentativas de obter aprendizado longe
de professores e voltado para as ações do ser humano.
Aprendizado compulsório,medicação compulsória e
consumo compulsório de soluções de conflitos possuem
similaridades interessantes. 
 Quando Ivan Illich e Paulo Freire são ouvidos, e
minha impressão é de que eles cada vez mais o são, o
sistema de controle criminal será também mais facilmente
influenciado.
 Outro, porém relacionado, a mudança principal no
paradigma é sobre o que acontecerá com todo o campo da
tecnologia. Até certo ponto, essas são as lições do terceiro
mundo que agora são facilmente vistas, até certo ponto
essa é a experiência do debate ecológico. O mundo está
obviamente sofrendo através da nossa técnica, o modo
como é feita. O sistema social no terceiro mundo está
sofrendo igualmente. Então a suspeita inicia-se. Talvez o
terceiro mundo não possa se apropriar de toda tecnologia.
Talvez alguns dos pensadores sociais antigos não estão
totalmente ultrapassados (afinal de contas). Talvez o
sistema social possa ser notado como unicamente
biológico. E talvez há determinados tipos de tecnologia
em larga escala que mata o sistema social, como ela mata
o planeta. Schumacher (1973) com seu livro ‘’Small is
Beautiful’’ ( O Negócio é Ser Pequeno) e o estudo do
Instituto de Tecnologia Intermediária entra aqui. Assim
como também, as inúmeras tentativas, sobretudo pelo
notado entendimento do Instituto de Pesquisa para paz
aponta os perigos no conceito de Gross National Product ,
e substitui isso com indicadores que tratam da dignidade,
igualdade e justiça. A perspectiva desenvolvida pelo grupo
de Johan Galup, nos indicadores mundiais poderia provar,
prática extremamente usada também dentro do nosso
campo de controle criminal. 
 Há também um fenômeno político em abertura. Na
social democracia da Escandinávia,grupos relacionados
possuem poder considerável, mas não possuem uma
explicação ideológica em relação a metas para uma
sociedade reorganizada. Esse vazio é sentido por muitos, e
cria a complacência para aceitar e também esperar
experimentação institucional considerável. 
 Portanto meu último ponto: sobre o que tratam as
universidades nessa figura? Sobre o que se trata o novo
Centro em Sheffield? A resposta deve ser provavelmente a
mais antiga: as universidades têm que reafirmar os antigos
questionamentos de compreensão e crítica. Mas a questão
de treinamento profissional deve ser vista com ceticismo
renovado. Vamos reestabelecer a credibilidade da luta
crítica entre seres humanos: baixa remuneração, altamente
considerado, mas sem poder extra fora o peso de suas boas
ideias Como deveria ser.

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