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Trabalho de Responsabilidade Civil, Prof. Fridolin

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL 
 
DEPARTAMENTO DE DIREITO PRIVADO E PROCESSO CIVIL 
João Borja 
ANÁLISE DE ACÓRDÃO SOBRE RESPONSABILIDADE 
CIVIL EM UM CASO DE ACIDENTE AÉREO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Alegre 
6 de julho de 2016 
 
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Análise de Acórdão sobre Responsabilidade Civil em um Caso de Acidente Aéreo 
1 
JOÃO BORJA 
ANÁLISE DE ACÓRDÃO SOBRE RESPONSABILIDADE 
CIVIL EM UM CASO DE ACIDENTE AÉREO 
Este trabalho faz parte dos componentes de avaliação da disciplina 
de Responsabilidade Civil, ministrada na UFRGS. 
Professor: Marco Fridolin Sommer dos Santos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Alegre 
6 de julho de 2016 
2 
 
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João Borja. Porto Alegre: UFRGS, 2016 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 3 
2 OBJETIVO........................................................................................................................ 4 
3 ANÁLISE DO ACÓRDÃO ............................................................................................... 4 
3.1 DANO MORAL ............................................................................................................... 4 
3.2 DANO RICOCHETE ....................................................................................................... 5 
3.3 LEGITIMIDADE DO PLEITO DOS IRMÃOS ............................................................... 6 
3.4 RESPONSABILIDADE OBJETIVA ............................................................................... 7 
3.5 PUNIÇÃO ....................................................................................................................... 8 
3.6 VALOR A SER INDENIZADO ....................................................................................... 9 
4 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 9 
4.1 VALOR PECUNIÁRIO DECIDIDO.............................................................................. 10 
4.2 DEFINIÇÕES SOBRE DANO MORAL ........................................................................ 11 
4.3 RESPONSABILIDADE OBJETIVA ............................................................................. 12 
4.4 FUNÇÃO PUNITIVA .................................................................................................... 12 
4.5 DANO EMERGENTE ................................................................................................... 13 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 14 
 
 
 
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Análise de Acórdão sobre Responsabilidade Civil em um Caso de Acidente Aéreo 
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1 INTRODUÇÃO 
A análise de Acórdãos é uma importante forma de aprendizado. Neles, é apresentada vasta 
gama de decisões jurisprudenciais, além de bases doutrinárias. Com esse intuito, procedeu-
se com uma análise sobre o Acórdão de Apelação Cível nº. 0061604-42.2009.8.19.0001 
TJ/RJ, relatado pela Dr. Des. Teresa de Andrade Castro Neves, tratando de um caso de 
acidente aéreo. 
O acidente aéreo em questão, foi proveniente de Manaus, com destino à Brasília, que após 
se chocar com outro jato, caiu na selva amazônica, matando todos aqueles que estavam na 
aeronave, causando o terceiro maior acidente aéreo da história do Brasil (fl. 101). Conforme 
a Relatora do acórdão analisado, há indiscutível existência de dano moral, devido prova do 
resultado e do nexo de causalidade, sendo dispensável a análise da culpa do transportador, 
já que a responsabilidade é objetiva, por exercer serviço público mediante concessão. 
O dano moral é direito personalíssimo, inserido na esfera individual de cada titular. Porém, o 
chamado Dano Ricochete vai além do evento danoso único, pois o dano que este causa 
repercute na esfera de vida de uma gama de pessoas eventualmente envolvidas ou ligadas 
àquela vítima. Por isso, não podem os irmãos ser considerados ilegítimos titulares do dano 
sofrido com a morte precoce, violenta e inesperada do outro irmão, tão somente porque 
outros parentes foram indenizados (fl. 12). 
A questão principal da decisão proferida foi o valor indenizatório, que já tinha sido fixado 
pelo juiz de primeiro grau em R$ 50.000,00 para cada um dos autores - irmãos da vítima (fl. 
11). Dada esta equação, o referente acórdão fortalece, perante aos casos futuros, que cabe 
ao julgador equilibrar a quantificação do dano quando do arbitramento do valor 
indenizatório, não afastando, portanto, “friamente” (como descreveu a relatora), o dano 
efetivamente sofrido com a “trágica morte” de um ente amado. 
 
 
 
1 Apelação Cível nº. 0061604-42.2009.8.19.0001. 
2 Opus cit. 
4 
 
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João Borja. Porto Alegre: UFRGS, 2016 
2 OBJETIVO 
O presente trabalho tem por finalidade a análise do conteúdo jurídico do Acórdão referido, 
que apresenta uma caso de indenização por danos morais dado um evento de acidente 
aéreo com vítimas fatais. Da sentença, foi provido parcialmente o recurso dos Apelantes: 
DAILTON FERREIRA TRINDADE e outros (irmãos da vítima); sendo o Apelado: VRG LINHAS 
AÉREAS S/A, condenado ao pagamento. Este provimento foi unânime entre os 
Desembargadores (Vigésima Câmara Cível do TJ/RJ). 
Um recurso da VRG LINHAS AÉREAS S/A foi apreciado em simultâneo ao recurso dos irmãos 
citados, porém, os dois recursos tratavam de aumento e diminuição do montante de 
pagamento indenizatório. Sendo assim, o recurso da Empresa teve provimento negado. 
Da análise realizada sobre o Acórdão referido, pretende-se identificar os aspectos legais, 
doutrinários e jurisprudenciais do acórdão, avaliando-se o caráter qualitativo presente. 
Sendo assim, será possível identificar o conteúdo base aceito, sob a ótica da 
Responsabilidade Civil, como sendo científico, jurídico ou político, e, neste último caso, se 
tomou como pressuposto a opinião pública. 
3 ANÁLISE DO ACÓRDÃO 
3.1 DANO MORAL 
Como definição geral de dano moral, a Relatora toma como base os dizeres de Cahali 
(19983), afirmando que o dano moral seria a privação ou diminuição da parte social ou da 
parte afetiva do patrimônio moral, isto é, daqueles bens que têm valor precípuo na vida do 
homem (fl. 11): 
- a paz; 
- a tranquilidade de espírito; 
 
3 CAHALI, Yussef Said. Dano Moral, 2ª Edição. Editora RT, São Paulo, 1998. 
 
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Análise de Acórdão sobre Responsabilidade Civil em um Caso de Acidente Aéreo 
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- a liberdade individual; 
- a integridade individual; 
- a integridade física; e 
- a honra. 
 
Então, devido ao dano extra-patrimonial (dano moral) repercutir na esfera íntima da vítima, 
é revestido de um caráter subjetivo que necessita de certa ponderação. A Relatora 
acrescenta ainda que, derivando do próprio fato ofensivo, não necessita de provas materiais 
concretas, ou seja, o dano moral existe in re ipsa (fl. 12), de acordo com Venosa (20044): 
“O dano moral está ínsito na própria ofensa, decorre da gravidade do ilícito em si. Se 
a ofensa é grave e de repercussão,por si só justifica a concessão de uma satisfação 
de ordem pecuniária ao lesado.” 
Dado o fato ofensivo contra o patrimônio moral da vítima, o juiz deverá se posicionar no 
lugar desta vítima, a fim de valorar os danos causados em sua parte social ou íntima afetiva. 
Este procedimento é explicado a seguir, nas palavras da Relatora (fl. 12): 
“Provada a ofensa, está demonstrado o dano moral a guisa de uma presunção natural 
que decorre da experiência humana do julgador em verificar ou não a sua 
configuração, de acordo com as regras da experiência comum do homem médio.” 
3.2 DANO RICOCHETE 
A Relatora define o dano ricochete como sendo o dano causado por um evento que 
repercute na esfera de vida de uma gama de pessoas eventualmente envolvidas ou ligadas a 
uma vítima. Se tratando, portanto, de dano moral e personalíssimo, inserido na esfera 
individual de cada titular. Neste âmbito, nega uma liminar contra a legitimidade de ação 
ativa dos parentes que se sentiram abalados, pois, conforme a Relatora, “os autores 
pleiteiam em nome próprio direito próprio e não alheio” (fls. 2-35). 
Lembra a Relatora, que a relação entre os apelantes e o réu (empresa) é extracontratual, 
sendo os danos advindos daquele contrato, que atingiram os apelantes, considerados 
ricochetes. Assim, os juros moratórios não são contados da publicação da sentença, nem são 
 
4 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil IV, 4ª Edição. Editora Atlas, São Paulo, 2004. 
5 Acórdão sob análise no presente trabalho (Apelação Cível nº. 0061604-42.2009.8.19.0001 TJ/RJ). 
6 
 
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contados da data da citação do réu, mas contados da data do evento danoso (fl. 16). Em 
corroboração, cita três sentenças semelhantes do TJ/RJ, que tiveram juros contados a partir 
do evento danoso, dadas as Súmulas 129 do TJE/RJ e 54 do STJ (fl. 17-18). 
3.3 LEGITIMIDADE DO PLEITO DOS IRMÃOS 
Como base, neste sentido, indica o posicionamento da Corte Superior (T4 - QUARTA 
TURMA), para o caso no pleito de uma ação indenizatória por irmãos dado um acidente de 
trânsito. Neste caso (fl. 5), tratou-se da legitimidade da ação devido à demora no juizamento 
da ação pelos Autores, sendo determinado que "a demora da parte na propositura da ação 
visando à reparação por dano moral pela morte de ente querido não pode ser tomada como 
causa para a diminuição da reparação a ser fixada"6. Ainda assim, entende a Relatora que “o 
elo entre irmãos se presume, posto que é natural a afetividade, sendo extraordinário a sua 
ausência, ou mesmo inimizade. Assim, competiria à empresa ré comprovar a falta de vínculo 
entre os irmãos e não aos autores a sua existência (grifo nosso)”. 
No sentido do dever de indenizar aos parentes próximos, em função da repercussão do dano 
não limitada à vítima, cita André Gustavo Corrêa de ANDRADE7, o qual sustenta a ideia de 
que não se prende, absolutamente, a fixação de apenas um valor de indenização por dano 
moral, havendo uma única vítima fatal. Isto, pois “o que se busca indenizar não é a morte 
em si, mas o dano psíquico, caracterizado pela dor espiritual, pelo sofrimento” (fl. 6). Desta 
forma, Andrade (20068) carimba o conceito de “núcleo familiar”, explicando que a 
indenização por danos morais não estaria limitada a ele. 
Ainda no sentido do direito de irmãos à indenização moral, a Relatora traz mais um caso 
jurisprudencial, sendo este provido pela “casa”9 (TJ RJ). Neste caso, tratou-se de um 
acidente de trem, com responsabilização objetiva ao Réu (risco da atividade com obrigação 
de resultado), em que reforçou a ideia de que (in verbis, fl. 7): 
 
6 REsp 810.924/RJ, DJ de 18.12.2006. 
7 ANDRADE, André Gustavo Corrêa de. Dano Moral e Indenização Punitiva, 1ª Edição. Editora Forense, Rio de Janeiro, 
2006. 
8 ANDRADE, André Gustavo Corrêa de. Dano Moral e Indenização Punitiva, 1ª Edição. Editora Forense, Rio de Janeiro, 
2006. 
9 Apelação Cível nº. 0035718- 12.2007.8.19.0001. 
 
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“A relação afetiva entre irmãos não se apaga mesmo que não estejam mais 
convivendo sob o mesmo teto ao tempo do acidente fatal. O decurso do tempo, ainda 
que longo, não é o bastante para romper, em definitivo, os vínculos de amor, 
amizade, carinho e afeição.” 
E outro com relação a um acidente com morte, fruto de natureza de transportadora, com 
finalidade de turismo. Neste último caso, o TJ/RJ10 observou a natureza extrapatrimonial da 
indenização por dano moral, não se tratando de direito sucessório. Por isso, acrescenta a 
sentença proferida: “os irmãos têm legitimidade para postular a reparação pelo dano moral” 
(fl. 8). 
No sentido de gradação da indenização entre irmãos, a Relatora menciona julgamento da 
Corte Superior (Quarta Turma do STJ)11, em que é mencionado o fator de proximidade a 
vítima em relação aos irmãos (in verbis, fl. 8): 
“Os irmãos têm direito à reparação do dano moral sofrido com a morte da irmã, 
sendo presumidamente maior a dor da irmã viúva que morava em companhia da 
vítima, diferente do irmão, casado, residente em outro endereço.” 
A autora toma como definição de dano moral os ensinamentos de Cahali (1988)12: “tudo 
aquilo que molesta gravemente a alma humana, ferindo-lhe gravemente os valores 
fundamentais inerentes a sua personalidade ou reconhecidos pela sociedade em que está 
integrado, qualifica-se, em linha de princípio, como dano moral; na dor, na angústia, no 
sofrimento, na tristeza pela ausência de um ente querido falecido” (fl. 9). Trecho este, no 
qual, a Relatora grifa a inclusão de “ente querido” diretamente na definição de dano moral, 
relevando fortemente este sentido como socialmente aceito como um valor social que não 
deve ser molestado ou agredido. 
3.4 RESPONSABILIDADE OBJETIVA 
Conforme fundamenta a Relatora, não há que se falar em irresponsabilidade do 
transportador, que deve cumprir a cláusula de incolumidade prevista no art. 734, do Código 
Civil (fl. 10). 
 
10 Apelação Cível nº. 0004110-28.2005.8.19.0207. 
11 STJ. REsp n° 254.318/RJ. 
12 CAHALI, Yussef Said. Dano Moral, 2ª Edição. Editora RT, São Paulo, 1998. 
8 
 
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Ainda, não há excludente de responsabilidade por ter o avião de menor porte atingido o 
avião da transportadora apelante e causado o acidente, já que à luz do art. 735, do Código 
Civil, a culpa do terceiro não elide a responsabilidade do transportador, que poderá 
perseguir eventual direito de regresso em face dos pilotos do Legacy (fl. 10). 
No âmbito da responsabilidade objetiva, a Relatora ressalta a definição do Prof. Des. Sérgio 
Cavalieri (200813), que contribui para a consagração, cada vez mais, da Teoria do Risco do 
Empreendimento (fl. 10). Por esta teoria, não há que se cogitar em provar a culpa da 
empresa, que exerce atividade econômica sujeita a riscos. 
3.5 PUNIÇÃO 
Conforme a Relatora, o pagamento da indenização, neste caso, não é meramente 
compensatória dos danos morais sofridos pelos autores, mas uma forma de punição do réu 
(in verbis): 
“Considera-se em tais casos a indenização como forma de atenuar o sofrimento 
causado pela precoce perda de um ente querido, além de uma punição ao seu 
causador, mesmo porque seria impossível pagar o preço pela dor da perda de um 
parente próximo, irmão,no caso ou da privação prematura e inesperada do convívio 
com a vítima, por ser tal dor imensurável e sem preço certo” (grifo nosso). 
No trecho acima, a Relatora esboça uma ideia de que a reparação por danos morais também 
teria uma natureza punitiva, e acrescenta o instituto da “análise econômica do direito” (fl. 
13). Esta abordagem permite que o juiz atinja, de forma significativa, a esfera patrimonial do 
causador do dano, de modo que este não se torne reincidente na conduta ilegítima. Isso tem 
o intuito de brecar as reiteradas violações de responsabilidade civil pelo meio empresarial, 
quando se torna economicamente mais vantajoso que isso aconteça. 
Como parâmetros de ponderação para a estimativa do valor a ser reparado, a Relatora cita a 
Apelação Cível nº. 2008.001.01187 TJ/RJ (fl. 14), que demarca os limites da indenização: 
“[...] deve ser fixada em patamares comedidos, ou seja, não exibe uma forma de 
enriquecimento para o ofendido, nem, tampouco, constitui um valor ínfimo que nada 
indenize e que deixe de retratar uma reprovação à atitude imprópria do ofensor, 
considerada a sua capacidade econômico-financeira.” 
 
13 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil, 8ª Edição. Editora Atlas, São Paulo, 2008. 
 
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3.6 VALOR A SER INDENIZADO 
Inicialmente, o juiz de primeiro grau estipulou uma indenização de R$ 50.000,00 para cada 
um dos irmãos da vítima (fl. 11). Para a decisão recursal, as bases do valor indenizatório, 
conforme ementa do acórdão, a qual será utilizada para casos futuros, foram (fl. 15-16): 
“As circunstâncias da morte, como a demora na localização dos restos mortais, 
retardando a realização de funeral (com caixão fechado) e criando maior desespero 
para os parentes, que ficaram na esperança vã de encontrar a vítima viva. Esta última 
consequência, ainda, foi causa de majoração da indenização.” 
Ao avaliar o caso, a Relatora demonstra preocupação de que a quantia arbitrada não possa 
servir de enriquecimento sem causa para as vítimas (autores). Ainda, adverte o surgimento 
da “indústria do dano moral”, que ameaça a banalização do dano moral pelo Poder 
Judiciário (fl. 13). 
Em razão da revisão do quantum, a Relatora fundamenta essa possibilidade indicando 
decisão do STJ14, que permite a revisão de valores, em sede de recurso especial, mas 
somente sendo cabível quando o valor fixado nas instâncias locais for exorbitante ou ínfimo, 
de modo a não seguir suficientemente os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade 
(fl. 14-15). 
Na folha 16, a Relatora levanta uma situação que pode ser chamada de dano emergente: 
“Cabe chamar atenção para o fato que a vida dos familiares fica em suspenso até que se 
realize o funeral”. Por fim, considerando as particularidades do caso, porém, sem analisá-las 
separadamente, mas, fazendo um esforço mental, subjetivo, sobre todo o desenrolar da 
situação, a Relatora entendeu que o valor mais adequado seria de R$ 80.000,00 para cada 
um dos irmãos (fl. 16). 
4 CONCLUSÃO 
Em seu relatório, a Dr. Des. Teresa de Andrade Castro Neves, faz uma extensa revisão da 
doutrina, de modo a fundamentar as hipóteses sobre as quais permeiam a sentença. Tanto 
 
14 STJ, AgRg no Ag 967410 / SP. 4ª Turma. 
10 
 
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há decisões interlocutórias meramente formais, em que a Relatora se baseia na 
jurisprudência, como a demarcação do início da incidência de juros de mora, como há 
parâmetros essenciais para o norteio do pleito material, em que a Relatora destaca os 
pontos a serem considerados sobre o direito imaterial infringido. 
No caso da definição de dano moral, fez uso da doutrina, citando os autores: Cahali (199815), 
Venosa (200416) e Andrade (200617). Se tratando da verificação da legitimidade do pleito dos 
irmãos da vítima, citou-se vasta jurisprudência confirmando como positiva a legitimidade. 
Com referência ao instituto da responsabilidade objetiva, faz referência à doutrina e a lei: 
Cavalieri (200818), e aos artigos 734 e 735 do Código Civil. 
Já pela ideia punitiva do dano moral, a Relatora expõe construção argumentativa própria, 
bem como de decisão já proferida pelo TJ/RJ. 
Finalmente, como forma de ponderação de um valor para a condenação, a Relatora utiliza 
parâmetros jurisprudenciais que fixam o limite inferior e o superior, ainda que nebulosos e 
subjetivos. 
4.1 VALOR PECUNIÁRIO DECIDIDO 
Na decisão do valor indenizatório, a decisão da Relatora é puramente subjetiva, levando em 
conta a avaliação do “homem médio” (fl. 12). Sendo assim, o valor foi quantificado levando 
em conta, como parâmetro, unicamente, o valor decidido em instância inferior. Ao 
entendimento deste Analista, a decisão do valor foi um “acordo implícito”, em que decidiu-
se por um valor que contentaria as duas partes, a fim de que cessasse as apelações. Nisso, o 
valor inicial, estipulado pela instância inferior foi de grande importância, pois a Relatora, no 
Acórdão referido, não poderia divergir muito desse valor. Ainda, na percepção deste 
Analista, qualquer um dos valores tomados foi irrisório (primeira e segunda instância), frente 
ao poder econômico da companhia aérea. 
 
15 CAHALI, Yussef Said. Dano Moral, 2ª Edição. Editora RT, São Paulo, 1998. 
16 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil IV, 4ª Edição. Editora Atlas, São Paulo, 2004. 
17 ANDRADE, André Gustavo Corrêa de. Dano Moral e Indenização Punitiva, 1ª Edição. Editora Forense, Rio de Janeiro, 
2006. 
18 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil, 8ª Edição. Editora Atlas, São Paulo, 2008. 
 
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Análise de Acórdão sobre Responsabilidade Civil em um Caso de Acidente Aéreo 
11 
Ainda, como limite ao parâmetro de conter a supremacia de uma parte em relação a outra, 
tem-se a monografia de Magro (2011), que discorreu sobre a possível aplicação da Cláusula 
Geral de Redução da Indenização (consagrada na responsabilidade subjetiva - artigo 944, 
caput, do Código Civil de 2002), que poderia ser aplicada também na responsabilidade 
objetiva, isto é, para os casos que independem de culpa do agente. Nisto, a autora cita 
Zanchim (200819 apud MAGRO 2011), o qual afirma que “viver em sociedade representa 
suportar os riscos do desenvolvimento, de forma que, no âmbito do Código Civil, em que 
não há presunção de hipossuficiência da vítima (como ocorre no Código do Consumidor e na 
legislação trabalhista), não há cabimento deixar sempre de lado a condição daquele que 
causou o dano”. Assim, neste âmbito, este Analista pressupõe que as indenizações prestadas 
não poderiam ameaçar a condição de “vivência” da empresa, por riscos presentes na 
sociedade tecnológica erga omnes. 
Sobre o artigo 944 do C.C, Rui Stoco (200420 apud MAGRO 2011) critica a influência da culpa 
na fixação do quantum indenizatório, pois entende que o legislador se equivocou, não por 
ter adotado o critério da equidade para a fixação da indenização, mas sim, por ter 
condicionado a redução com base no grau da culpa. Para o autor, seria mais adequado que a 
redução tivesse sido condicionado às possibilidade financeiras daquele que causou o dano e 
do que sofreu o dano. Ao menos estes critérios não foram utilizados pela Relatora. 
4.2 DEFINIÇÕES SOBRE DANO MORAL 
No referidoAcórdão, o dano moral é tratado como “dano imaterial” e, também, como 
“dano extrapatrimonial”. Pois bem, ao tratar a reparação moral como forma de punição, a 
Relatora diverge de Noronha (1993), o qual ensina que o “dano extrapatrimonial”, oriundo 
de violação psíquica, não pode ser tratado como indenização, mas como uma compensação 
pecuniária para amenizar o sofrimento causado. 
Para o “homem médio”, referido na medição do valor, Noronha (1993) afirma que este 
parâmetro é utilizado para a Apreciação in abstrato nos casos de culpa simples, em que o 
 
19 ZANCHIM, Kleber Luiz. Redução da indenização na responsabilidade objetiva. Revista de Direito Privado, 
São Paulo, v.9, n.33, 2008. 
20 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6ed. rev.atual. aum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. 
12 
 
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agente não observou os cuidados do “cidadão comum”. Portanto, não há sentido em 
observar subjetivamente o “homem médio”, para a verificação de um valor razoável a ser 
recebido, no caso de uma indenização por danos morais como no presente caso. Sendo 
assim, ao bem ver deste Analista, faltou uma análise mais detalhada quanto aos limites 
superior e inferior envolvidos, os quais deveriam ser quantificados para uma decisão mais 
adequada. 
4.3 RESPONSABILIDADE OBJETIVA 
Em complementação ao que foi exposto no Acórdão, tem-se os ensinamentos de Noronha 
(1993) que aderem ao caso, sendo a responsabilidade objetiva agravada, visto que o tipo de 
atividade (transporte de passageiros), traz a obrigação de garantia, ou seja, obrigação de 
indenizar independentemente do nexo de causalidade. Isto significa que, mesmo com um 
infortúnio, a empresa não poderia alegar a quebra no laço de causalidade para deixar de 
indenizar. 
4.4 FUNÇÃO PUNITIVA 
Conforme Facchini Neto (2002), esta função ainda se faz presente, principalmente ao tratar 
de danos extrapatrimoniais. Como isso, busca-se punir o réu pela conduta que ofenda 
gravemente o sentimento ético-jurídico prevalecente em determinada comunidade. O autor 
complementa que esta função tem em vista uma conduta reprovável passada, de intensa 
antijuridicidade. Sendo assim, da maneira exposta no Acórdão referido, a função punitiva 
não se adéqua, pois, deste modo, pune-se a conduta do risco da atividade como sendo algo 
antiético. 
Devido ao teto indenizatório ensejado pela função indenitária, Grivot (201121 apud MAGRO) 
preconiza a impossibilidade, no direito brasileiro, para a indenização punitiva. Segundo 
Grivot, há outras formas que atentam para um montante maior que o correspondente ao 
dano, como os punitive damages, o smart money, e os exemplary damages. Os quais têm a 
 
21 GRIVOT, Débora Cristina Holenbach. Limites ao valor da indenização: O problema da função punitiva da 
responsabilidade civil. In MAMEDE, Gladson, São Paulo, Ed. Atlas, 2011. 
 
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Análise de Acórdão sobre Responsabilidade Civil em um Caso de Acidente Aéreo 
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finalidade de gerar ao ofensor uma situação de repreensão pela sua conduta. Para isso, cita 
o relatório do Ministro Carlos Fernando Mathias (Quarta Turma, DJe 16/03/2009): 
“Ressalta-se que a aplicação irrestrita das “punitive damages” encontra óbice 
regulador em nosso ordenamento jurídico pátrio que, anteriormente à entrada do 
Código Civil de 2002, já vedava o enriquecimento sem causa como princípio 
informador do direito e, após a novel codificação civilista, passou a prescrevê-la 
expressamente, mais especificamente, no art. 884 do Código Civil de 2002 (...)” 
4.5 DANO EMERGENTE 
Em vias de decidir o valor da causa, a Relatora menciona que “a vida dos familiares fica em 
suspenso até que se realize o funeral”. Isto pode ser relacionado com o Dano Emergente da 
responsabilidade civil. Uma interpretação do Prof. Clóvis apud Facchini Neto (2002), pode 
ser feita, relacionando ao presente caso: o dano emergente surge a partir da privação de 
uma pessoa da possibilidade de gozar dos prazeres da vida, próprios de sua idade cultural e 
meio social em que vive, ou seja, prejuízos causados no lazer da pessoa afetada. 
 
 
14 
 
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João Borja. Porto Alegre: UFRGS, 2016 
REFERÊNCIAS 
FACCHINI NETO, Eugênio. Da responsabilidade civil no novo código, São Paulo: Saraiva, 
2002. 
MAGRO, Alexandra Lago. Exceção ao princípio da reparação integral do dano na 
responsabilidade civil objetiva. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em 
Direito Civil Aplicado da UFRGS, 56 fls., 2011. 
NORONHA, Fernando. Responsabilidade civil: uma tentativa de ressistematização. 
Revista de direito civil, imobiliário, agrário e empresarial, São Paulo: RT, v. 17, n. 64, 1993. 
RIO DE JANEIRO. Apelação Cível nº. 0061604-42.2009.8.19.0001 TJ/RJ, relatado pela Dr. 
Des. Teresa de Andrade Castro Neves, tratando de um caso de acidente aéreo. Rio de Janeiro, 
05 de maio de 2010.

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