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Aula 2 - História da Farmácia I

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História da Farmácia – Parte I 
Cléber Domingos Cunha da Silva
Disciplina: Integração à Prática Farmacêutica I
Período: 2014.1
Universidade Federal do Ceará
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A farmácia na Antiguidade
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Hipócrates
460 a.C – 370 a.C
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Galeno
130 d.C – 200 a.C
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 Hipócrates (Pai da Medicina) 
Patologia geral  apepsia (desequilíbrio) 
  pepsis (febre, inflamação e pus)
  crisis ou lysis (eliminação)
 Galeno (Pai da Farmácia).
 Combatia as doenças por meio de substâncias ou compostos que se opunham diretamente aos sinais e sintomas das enfermidades. 
 É precursor da alopatia. 
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Galeno (130 – 200 d.C.)
 Escreveu bastante sobre farmácia e medicamentos, e em suas obras se encontraram cerca de quatro centenas e meia de referências a fármacos. 
 Elaborou uma lista de remédios vegetais, conhecidos como "galênicos", a maioria dos quais era composta com vinho. 
 Observador e metódico, classificou e usou magistralmente as ervas. Fazia preparações denominadas "teriagas" feitas com vinho e ervas. 
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Os chineses, por exemplo, há mais de 2.600 anos já preparavam remédios extraídos de plantas.
 Mil anos depois, os egípcios faziam o mesmo, utilizando também sais de chumbo, cobre e ungüentos feitos com a gordura de vários animais, como hipopótamo, crocodilo e cobra.
 Na Grécia, Hipócrates, ao sistematizar os grupos de medicamentos - narcóticos, febrífugos e purgantes - inaugurou uma nova era para a cura. 
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 O primeiro documento farmacêutico data de cerca de 2500 a.C. 
 Na Antiguidade a Medicina e a Farmácia eram uma só profissão, mas na antiga Roma começou a separação daqueles que diagnosticavam a doença, daqueles que misturavam matérias para produzir porções de cura, era a época de Hipócrates e de Galeno.
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Vocabulário
Grécia
 Pharmakopoloi = vendedores de medicamentos e cosméticos.
 Rhizotomoi = prepadores de raizes.
 Pharmakopoeoi = preparadores de medicamentos.
 Myropoeoi = preparadores de unguentos.
 Migmatopoloi = vendedores de misturas.
 Aromatopoloi = vendedores de especiarias.
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A sociedade grega, baseada no trabalho escravo, considerava o trabalhador manual, cheir ourgos, como muito inferior ao que se dedicava ao cultivo do intelecto, o que explica que no Juramento de Hipócrates se introduza a proibição do uso da faca pelo médico, o que não é mais que uma manifestação da tendência para a ascensão da medicina através da separação das componentes funcionais que implicavam trabalho manual, como a cirurgia. Esta tendência terá o seu ponto mais alto na Idade Média com a ascensão da Medicina ao ensino nas Universidades, acompanhada da clara demarcação em relação à Cirurgia e à Farmácia, que permanecem como atividades mecânicas.
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 No século II, os árabes fundaram a primeira escola de farmácia de que se tem notícia, criando inclusive uma legislação para o exercício da profissão.
 A partir do século X, foram criadas as primeiras boticas - ou apotecas - na Espanha e na França. Eram as precursoras das farmácias atuais. 
 Cabia aos boticários conhecer e curar as doenças, e para o exercício da profissão deviam cumprir uma série de requisitos e ter local e equipamentos adequados para a feitura e guarda dos remédios. 
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O aparecimento da profissão farmacêutica no Ocidente
1162 – Na cidade de Arlés (França), foi determinada a separação das profissões médicas e farmacêutica.
1240 – Em Salermo (Itália), Frederico II proibiu qualquer sociedade entre médicos e farmacêuticos.
1462 – Em Portugal foi determinada a obrigatoriedade da separação entre médicos e farmacêuticos.
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A farmácia em Portugal entre os séculos XIV e XVI
- O primeiro documento respeitante à profissão farmacêutica que se conhece em Portugal é um diploma promulgado por D. Afonso IV em 1338 que estabelece a obrigatoriedade de serem examinados pelos médicos do rei todos os que exerciam os ofícios de médico, cirurgião e boticário na cidade de Lisboa.
- No século XVI a profissão farmacêutica é considerada como um ofício mecânico e esse é o entendimento que se manterá até ao Liberalismo. Este corresponde à forma como a farmácia e as restantes profissões da área de saúde se enquadravam na classificação clássica das artes, na qual a arte dos boticários e cirurgiões, a "Medicina ministrante", pertencia ao ramo mecânico enquanto a "Medicina Dogmática", a dos médicos, pertencia ao doutrinal.
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- A separação entre as profissões médica e farmacêutica também foi regulamentada por D. Afonso V, que promulgou uma carta em 1461 determinando a completa separação entre as profissões médica e farmacêutica. Este diploma vedou aos médicos e cirurgiões a preparação de medicamentos para venda e proibiu qualquer outra pessoa de vender medicamentos compostos ao público em localidades onde houvesse boticário. Em contrapartida, os boticários foram proibidos de aconselhar qualquer medicamento aos doentes. Este princípio da separação de interesses entre a prescrição e a dispensa foi reforçado em 1561, com a proibição das sociedades entre médicos e boticários e da dispensa de medicamentos por boticário parente do médico que os receitou.
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A ecologia do medicamento
 É no encontro com um outro corpo que o medicamento se torna compreensível. No corpo é que ocorre um engate entre o corpo químico (o medicamento) e o biológico (corpo humano). O medicamento marca o corpo, o modifica, o expande.
 O biológico e o social estão no prolongamento um do outro. É compreendendo a maneira como a molécula circula, como ela modifica seu ambiente, que podemos nos aproximar de sua natureza.
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 O medicamento tem necessidade de muitos humanos porque não pode ser entregue a si mesmo.
 Essa grande quantidade de humanos que acompanha o medicamento e vem suprir sua ausência de valor de troca é constituída de pessoas com tarefas bem definidas, as mais técnicas e portanto as menos intercambiáveis possível.
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Introdução
 O objeto da história da farmácia NÂO É a profissão farmacêutica, mas o MEDICAMENTO.
 É preciso estudar as relações entre o homem e o medicamento, entre as sociedades e os medicamento. LOGO, é preciso estudarmos a história dos medicamentos.
 Desse modo, a pergunta primeira é: O que é o medicamento?
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Pequena história do medicamento
1803 – Isolamento da morfina por Friedrich Wilhelm Adam Satürner
1853 – A aspirina é sintetizada em Strasbourg por Charles Frederich Gerhardt
1893 – Comercialização da aspirina (estudos foram refeitos por Félix Hoffmann)
1901 – Descoberta da Novocaína
1920 – Ergotamina – isolada por Arthur Stoll
1923 – Frederick Banting et John McLéod ganham Prêmio Nobel pela Insulina
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1928 – Aparece o primeiro antibiótico
1935 – Nascimento do primeiro anti-infeccioso
1936 – Emprego da heparina não-fracionada
1941 – Descoberta da Penicilina (primeiro antibiótico a tornar-se medicamento)
1942 – Descoberta dos anti-histamínicos
1946 - Descoberta da Estreptomicina (tuberculostático)
1947 – Descoberta dos anticoagulantes cumarínicos
1948 – Descoberta das Tetraciclinas: Clorotetracilina.
1949 – Descoberta do Lítio
1950 – Descoberta dos Neurolépticos
1951 – Primeira utilização de um tuberculostático por via oral (Isoniazida).
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1952 – Descoberta do Purinetol (anti-leucêmico)
1955 – Nascimento dos hipoglicemiantes sulfamidas
1956 – Lançamento da primeira pílula à base de progesterona
1957 – Vacinação contra vírus gripal
1957 – Descoberta dos IMAO, da clorotiazida e dos antidepressivos imipramínicos
1957 – Teratogenicidade da Talidomida
1961 - Descoberta da Ampicilina
1964 – Descoberta da Amoxicilina e da Carbenicilina.
1966 – Na França aparece a pílula Estro-progestínica
1967 – Aparece no mercado o primeiro beta-bloqueador (Avlocardyl)
1972 – A amoxicilina passa a ser comercializada.
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1974 – Descoberta do Cefadroxil
1980
– Produção do primeiro interferon recombinante (Interferon alfa-2a)
1985 – A zidovudina é identificada como medicamento anti-viral (anti-HIV)
1985 – Clonagem do gene da Eritropoetina Humana
1988 – Comercialização da Eritropoetina para tratamento de anemia por insuficiência renal.
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FOCOMELIA = 1961; Talidomida 
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Misoprostol = Methyl 7-((1R,2R,3R)-3-hydroxy-2-((S,E)-4-hydroxy-4-methyloct-1-enyl)-5-oxocyclopentyl)heptanoate. 
Abortivo (1992)
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Sildenafila
Disfunção eréctil (1998)
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Século XX
 A história do medicamento, no século XX, é a história das industrias farmacêuticas, de suas práticas de pesquisa, da construção de mercados de produtos terapêuticos e dos conflitos que elas suscitam.
 A industrialização do medicamento durante o séc. XX trouxe consequências fundamentais para a natureza dos agentes terapêuticos, para as formas de descoberta, de produção e de avaliação de seus efeitos e de sua comercialização.
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 É preciso (desafiador) considerar a indústria farmacêutica como um dos importantes atores do campo médico, na perspectiva de explorar-se as controvérsias e debates acerca das diversas especialidades, das redes estabelecidas entre empresas, médicos e instituições médicas, bem como entre as agências avaliadoras da segurança e eficácia dos medicamentos, na tentativa de definirmos os modos corretos de empregarmos medicamentos.
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Da ordem profissional à ordem industrial
- Assistiu-se uma descontinuidades de práticas entre o mundo da profissão, da oficina e da preparação de uma parte, e o mundo da especialidade industrial, padronizada, produzida em massa e distribuída para diversos setores capitalistas.
- Uma especialidade farmacêutica é definida como um medicamento condicionado, e não somente uma substância dentro de uma “apresentação” destinada a otimizar as qualidades farmacológicas, mas também simboliza um saber-fazer original para ações de “envazamento, contagem, pesar, medir, tampar, cortar, etiquetar, marcar, rotular” o que seria uma garantia também igualmente importante para a segurança e eficácia dos produtos como o é a pureza.
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O Nascimento da Clínica
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Espaços e Classes
O conhecimento das doenças é a bússola do médico: o sucesso da cura depende de um exato conhecimento da doença: o olhar do médico não se dirige inicialmente ao corpo concreto, ao conjunto visível, à plenitude positiva que está diante dele – o doente -, mas a intervalos de natureza, a lacunas e a distâncias em que aparecem como em negativo “os signos que diferenciam uma doença de uma outra, a verdadeira da falsa, a legitima da bastarda, a maligna da benigna”.
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Uma consciência política
O que define o ato do conhecimento médico em sua forma concreta não é, portanto, o encontro do médico com o doente, nem o confronto de um saber com uma percepção: é o cruzamento sistemático de várias séries de informações homogêneas, mas estranhas umas às outras – várias séries que envolvem um conjunto infinito de acontecimentos separados, mas cuja interligação faz surgir, em sua dependência isolável, o fato individual.
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A velhice da Clínica
Na clínica se encontram doenças cujo portador é indiferente: o que está presente é a doença no corpo que lhe é próprio, que não é o do doente, mas o de sua verdade.
No hospital, o doente é sujeito de sua doença, o que significa que ele constitui um caso; na clínica, onde se trata apenas de exemplo, o doente é o acidente de sua doença, o objeto transitório de que ela se apropriou.
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A lição dos hospitais
… os alunos deverão frequentar os hospitais “para adquirir o hábito de ver os doentes e a maneira geral de tratá-los”. Na “classe dos iniciados” estuda-se, primeiramente, anatomia, fisiologia, química, farmácia e medicina operatória; em seguida, matéria médica e patologia interna e externa: durante este segundo ano, os estudantes poderão “ser empregados no serviços dos doentes” nos hospitais. Finalmente, durante o último ano, os cursos precedentes são retomados e, aproveitando a experiência hospitalar já adquirida, iniciam-se as clínicas propriamente ditas.
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Abram alguns cadáveres
A anatomia patológica é uma ciência que tem por objetivo o conhecimento das alterações visíveis que o estado da doença produz nos órgãos do corpo humano. A abertura dos cadáveres é o meio de adquirir esse conhecimento; mas para que ela adquira uma utilidade direta...é preciso acrescentar-lhe a observação dos sintomas ou das alterações de funções que coincidem com cada espécie de alterações de órgãos.
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O Exame
É um controle normalizante, uma vigilância que permite qualificar, classificar, intervir. Estabelece entre os indivíduos uma visibilidade através da qual eles são diferenciados. Nele vêm-se reunir a cerimônia do poder e a forma da experiência, a demonstração da força e o estabelecimento da verdade médica.
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O exame inverte a economia da visibilidade no exercício do poder
Na medicina, são os doentes que têm que ser vistos. Sua iluminação assegura o controle do poder que o médico exerce sobre eles. É o fato de ser visto sem cessar, de sempre poder ser visto, que mantém sujeito o doente.
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O exame faz a individualidade entrar num campo documentário
O resultado do exame é um arquivo inteiro com detalhes e minúcias que se constitui ao nível dos corpos e dos dias. O exame situa os doentes numa rede de anotações escritas, constituindo um sistema de registro intenso e de acumulações documentária. É a escrita constituindo-se peça essencial na engrenagem da vigilância na clínica.
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Graças a esse aparelho da escrita que o acompanha, o exame abre duas possibilidades que são correlatas: a constituição do indivíduo como objeto descritível, analisável, para tornar possível a compreensão da sua evolução clínica; e por outro lado a constituição de um sistema comparativo que permite a medida de fenômenos bioquímicos, a descrição de grupos, a estimativa dos desvios dos indivíduos entre si, sua distribuição numa “população”.
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O exame faz de cada indivíduo um caso
O exame faz de cada doente e/ou paciente um caso que ao mesmo tempo constitui um objeto para o conhecimento e uma tomada de decisão. O caso é o indivíduo tal como pode ser descrito, mensurado, medido, comparado a outros e isso em sua própria individualidade.
O exame está no centro dos processos que constituem o indivíduo como efeito e objeto das ações normalizantes, curativas, prescritivas, investigativas, logo, de saber.
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Corpos dóceis
Houve, durante a época clássica, uma descoberta do corpo como objeto e alvo de poder.
Esses métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas forças e lhes impõem uma relação de docilidade-utilidade, são o que podemos chamar de “disciplinas”.
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Os processos “disciplinares” podem ser encontrados nos espaços hospitalares. Eles procedem à distribuição dos indivíduos no espaço. Para isso utiliza algumas técnicas.
a) Lugar fechado: cada indivíduo em seu lugar; e em cada lugar, um indivíduo. Isso permite conhecer, intervir e analisar.
b) Intercambialidade: No hospital, os pacientes são definidos pelo lugar que ocupam numa série, e pela distância que os separam uns dos outros. Estão numa fila. São espaços que realizam a fixação e permitem a circulação.
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Panoptismo na saúde
O registro do patológico tornou-se constante e centralizado. A relação de cada um com sua doença e sua morte passa pelas instâncias do poder, pelo registro que delas é feito, pelas decisões que elas tomam.
O panoptismo permite o estabelecimento de diferenças: nos doentes, observar os sintomas de cada um, sem que a proximidade dos leitos, a circulação dos miasmas, os efeitos do contágio misturem os quadros clínicos.
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O hospital-edifício está organizado de modo tal que permite a observação dos doentes,
o impedimento de contágios; ele é um operador terapêutico.
O Normal se estabelece pela organização de um corpo médico e um quadro de funcionários capazes de fazer funcionar normas gerais de saúde.
O panoptismo é a vigilância total da vida das pessoas na sociedade.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A saúde substituiu a salvação, i.é, a medicina ofereceu ao homem desde a modernidade a face obstinada e tranquilizante de sua finitude; nela a morte foi reafirmada, mas ao mesmo tempo, conjurada. O homem tomou conhecimento de si próprio.
A clínica é uma das manifestações do enfrentamento da morte, uma disposição fundamental do saber técnico-científico na medicina.
A clínica inaugurou o século XVIII, entretanto, dela ainda não escapamos.
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A saúde deixou de ser a "vida no silêncio dos órgãos". Ela exige autoconsciência de ser saudável, deve ser exibida, afirmada continuamente e de forma ostentosa, constituindo um princípio fundamental de identidade subjetiva.
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A Saúde perfeita tornou-se a nova utopia apolítica de nossas sociedades. Ela é tanto meio quanto finalidade de nossas ações. Saúde para a vida. Mas também viver para estar em boa saúde. Viver para fazer viver as biotecnologias. Assim, a nova moral que estrutura a biopolítica da saúde é a moral do bem-comer (sem colesterol), beber um pouco (vinho tinto para as artérias), ter práticas sexuais de parceiro único (perigo de AIDS), respeitar permanentemente sua própria segurança e a do vizinho (nada de fumo). Trata-se de restaurar a moralidade plugando-a de novo no corpo. O controle sobre o corpo não é um assunto técnico, mas político e moral.
Desde os primórdios da humanidade, a atividade do farmacêutico se mostrou fundamental.

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