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HOMEOPATIA PROF.A DRA. GISLAINE JANAINA SANCHEZ FALKOWSKI Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-reitor: Prof. Me. Ney Stival Gestão Educacional: Prof.a Ma. Daniela Ferreira Correa PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Gabriela de Castro Pereira Letícia Toniete Izeppe Bisconcim Luana Ramos Rocha Produção Audiovisual: Heber Acuña Berger Leonardo Mateus Gusmão Lopes Márcio Alexandre Júnior Lara Pedro Paulo Liasch Gestão de Produção: Kamila Ayumi Costa Yoshimura Fotos: Shutterstock © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande responsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhecimento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivência no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mercado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................................................4 1 - HISTÓRICO DA HOMEOPATIA ..............................................................................................................................5 2 - HOMEOPATIA NO BRASIL ....................................................................................................................................9 3 - HOMEOPATIA NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DO BRASIL – SUS ................................................................ 13 4 - CONCEITOS FUNDAMENTAIS ............................................................................................................................ 15 5 - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA HOMEOPATIA ............................................................................................. 17 5.1. A EXPERIMENTAÇÃO EM HOMENS SÃOS ....................................................................................................... 17 5.2. LEI DOS SEMELHANTES ................................................................................................................................... 18 5.3. ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTO ÚNICO E DINAMIZADO .................................................................. 20 HISTÓRICO E PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA HOMEOPATIA PROF.A DRA. GISLAINE JANAINA SANCHEZ FALKOWSKI ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: HOMEOPATIA 4WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A homeopatia é o método terapêutico complementar/alternativo baseado na aplicação de uma lei farmacológica denominada a lei dos semelhantes ou princípio de similitude. Essa lei foi enunciada por Hahnemann desde 1796 em seu “Ensaio sobre um novo princípio para descobrir as virtudes curativas das substâncias medicinais”. No plano farmacodinâmico, o princípio dos semelhantes expressa-se da seguinte forma: “todo produto que for administrado em forte dose a um homem em boa saúde origina perturbações determinadas, em dose fraca, pode fazer desaparecer essas mesmas perturbações no homem doente”. A medicina complementar/alternativa é difundida pelo mundo e a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem estimulando o uso destes métodos. No Brasil, o Ministério da Saúde aprovou a “Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde (PNPIC-SUS)”, com o intuito de incentivar e apoiar projetos de assistência, ensino e pesquisas nas diversas esferas do SUS, juntamente com outras práticas não convencionais. A disciplina de homeopatiaestá dividida em quatro módulos: I – Histórico e Princípios Fundamentais da Homeopatia; II – Escolas Médicas Homeopáticas, Processo Saúde Doença na Homeopatia e Farmacologia Homeopática; III – Medicamentos e Tinturas Homeopáticas, Escolas e Métodos de Preparação das Formas Farmacêuticas derivadas: Método Hahnemaniano, Método Korsakoviano; IV – Método de Fluxo contínuo, Special Dinamization, Formas Farmacêuticas de Dispensação dos Medicamentos Homeopáticos, Bioterápicos, Farmácia Homeopática (Infraestrutura, produtos e legislações), Controle de Qualidade. Os conteúdos dos módulos servirão de apoio para o conhecimento e aplicação de seus fundamentos em diversos segmentos da prática homeopática. 5WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - HISTÓRICO DA HOMEOPATIA A homeopatia, do grego, Homoios: semelhante e pathos: doença. É uma modalidade terapêutica praticada há mais de duzentos anos, tendo como criador o médico alemão, Christian Friedrich Samuel Hahnemann, nascido em Meissen em 1755. Preparado para ser um comerciante, aprendeu várias línguas estrangeiras, assim como o alemão, inglês, francês, espanhol, latim, árabe, grego, hebreu, caldeu. O conhecimento em diversos idiomas lhe possibilitou, no início de sua vida profissional, sobreviver fazendo traduções, segundo Coulter (1982). Iniciou o curso de Medicina na Universidade de Leipzig (1775), porém, insatisfeito com o enfoque exclusivamente teórico das aulas e não prático transferiu seu estudo para Viena, concluindo-o em 1779 na Universidade de Erlangen, onde estudou no grande Hospital de Leopoldstadt Irmãos da Caridade, sob orientação do grande clínico Quarin, médico da família real, e por várias vezes reitor da Universidade de Viena, explica Coulter (1982). No ano de 1782, Hahnemann casou-se com Johanna Leopoldina Henriette Küchler, nove anos mais nova do que ele, enteada de um farmacêutico, o que lhe fez aprender e dominar as técnicas farmacêuticas da época. A família mudou-se para Dresden e ele se concentrou em escrever a partir de 1785 a 1789, cita Kayne (1997). Hahnemann era considerado bom médico da época, porém estava profundamente abalado em suas convicções médicas pela pobreza da terapêutica da época, de uma medicina que não curava epouco aliviava devido existir várias idéias fantasiosas sobre como se originam as doenças no interior dos indivíduos, levaram a práticas médicas reconhecidamente nocivas e prejudiciais aos pacientes. Chamada de “medicina heróica” adotava a estratégia de provocar a eliminação dos venenos internos através do aumento de diversas excreções orgânicas. A sangria feita através de sanguessugas, ventosas ou secção de veias. Mas não ficava só na sangria o tratamento da época, eram prescritas substâncias muito tóxicas, como o arsênico que reduziria a temperatura corporal, o calomelano (cloreto de mercúrio) que atuaria como purgativo e emético, na falsa crença de que a diarréia e os vômitos eliminariam as impurezas internas. Além disso, era comum o uso de substâncias cáusticas e irritantes sobre a pele, provocando supurações, o que era mais uma vez interpretado como eliminação de impurezas internas. Nesta época, ficou famosa a frase que se atribuía aos médicos, após o rotineiro falecimento dos pacientes atendidos: “ele morreu curado”. Os médicos julgavam-se autoridades máximas e não duvidavam de seus métodos mesmo diante de desastrosas evidências do dano que causavam. Diante de um ambienteiatrogênico, em 1789 Hahnemann decidiu abandonar a clínica médica, após nove anos de prática, coloca Black (1994). Iatrogenia: sofrimento causado por uma ação médica. Um dos escritos de Hahnemann reflete a sua angústia e o desânimo: “converter me em assassino de meus irmãos era para mim um pensamento tão terrível que renunciei à prática para não me expor mais a continuar prejudicando”, visto que a prática médica era executada contra o princípio ético de Hipócrates “Primum non nocere”, traduzido do latim significa: “em primeiro lugar, não prejudicar”. A partir daí ele passa a sobreviver realizando traduções de obras científicas, especialmente nas áreas de química e medicina, retomando estudos de antigos mestres como Hipócrates, Paracelsus, Van Helmont, Sydenhan, Boerhaave, Stahl e Haller. Stahl, médico do século XVIII, chegou a escrever: “A regra admitida na medicina, de tratar as enfermidades por meios opostos, é completamente falsa e equivocada. Estou persuadido de que as enfermidades cedem e se curam pelos agentes que produzem uma afecção semelhante” (BARBOSA NETO, 2006; GUEDES, 2015). 6WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Em 1790, Hahnemann traduziu o Tratado de Matéria Médica, do inglês Willian Cullen, que relatava as propriedades curativas da Chinchona officinalis, ou quinina, contra a malária. Cético das explicações fornecidas pelo autor, ele decide experimentar em si mesmo a substância, ondedesenvolveu sintomas semelhantes aos doentes com Malária, tais como esfriamento das extremidades, rubor facial, sonolência, prostração, pulsações na cabeça. De acordo com a auto-experimentação, Hahnemannformulou a hipótese de que a Quina promove melhora dos sintomas dos doentes com Malária porque provoca em pessoas saudáveis sintomas semelhantes aos da doença, apesar de saber que esta hipótese ter sidodescrita por Hipócrates no século 5 A.c., pai da medicina, onde afirmava que uma doença era combatida com substâncias que causavam sintomas parecidos, teoria também mencionado na Índia há mais de 2 milênios antes. No século XVI, o suíço Paracelso (1493–1541) afirmava que venenos ministrados em pequenas doses podiam curar enfermidades, no entanto o princípio “Similia similibus curantur” ou “semelhante pelo semelhante se cura” coube a Hahnemann a comprovação e a sistematização dessa lei de cura, descrito no parágrafo 26 do Organon o núcleo da Homeopatia: “Uma afecção dinâmica mais fraca é destruída permanentemente no organismo vivo por outra mais forte, se esta última for muito semelhante àquela em suas manifestações” (BARBOSA NETO, 2006; FONTES, 2012). Diversas outras drogas foram experimentadas por Hahnemann, como a beladona, mercúrio, digital, ópio, arsênico e muitos medicamentos de uso corrente na época. Os testes confirmaram sua teoria. Cada remédio provocava uma doença similar àquela para a qual era ordinariamente receitado. Similia similibus curantur ou “semelhante cura semelhante”, descrevendo o princípio da homeopatia, através do tratamento de substâncias que causam sintomas “semelhantes” aos da doença a ser tratada, segundo Corrêa (1997). Após várias experimentações em si mesmo e em sua família, Hahnemann publicou seus primeiros resultados em 1796, em um texto chamado de “Ensaio sobre um novo princípio para descobrir as virtudes curativas das substâncias medicinais, seguido de alguns comentários a respeito dos princípios aceitos na época atual”. Esse texto marca o nascimento do sistema médico que Hahnemann denominou Homeopatia (em alemão: homoopathie, do grego: homoios- semelhante + pathos- sofrimento). Logo após a primeira publicação sobre a nova doutrina, ele foi muito perseguido por farmacêuticos e médicos viu-se muitas vezes forçado a mudar de uma cidade para outra, cita Demarque (2002). Hahnemann começou seus tratamentos aplicando grandes doses, ele não utilizava as doses diluídas e potencializadas pela dinamização. Ele empregava doses elevadas de medicamentos, sobretudo na forma de tintura. Assim, antes que o organismo doente começasse a reagir, ocorria uma agravação inicial dos sintomas, pelo somatório dos sintomas naturais provocados pela doença, como sintomas artificiais, provocado pelo medicamento, desta formaele procurou desenvolver um procedimento para proteger o paciente e evitar intoxicações, expõe Bradford (2015) e Fontes (2012). Com a finalidade de diminuir os efeitos negativos da agravação dos sintomas, a partir de 1801 passou a diluir as substâncias para que fossem ministradas em pequenas quantias. Hahnemann concluiu também que, se os processos de saúde, doença e cura são dinâmicos, o medicamento também deveria ser. Sendo assim, as substâncias homeopáticas passariam pelo chamado processo de dinamização: ao serem preparadas, deveriam sofrer batidas fortes e ritmadas para despertar a energia contida nos elementos, coloca Bradford (2015); Haehl (1922) (Figura 1). Retomou a prática médica, porém como homeopata, em 1805, ano em que publicou “Esculápio na Balança” e “Medicina da Experiência” (FONTES, 2012). 7WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 1 – Dinamização Homeopática. Fonte: Marketing Quíron (2017). Em 1810, foi publicado o Organon da Arte de Curar, em sua primeira edição, recebendo inúmeras críticas e diversos ataques pessoais. Hahnemann perdeu o posto de médico da higiene que lhe havia concedido a cidade de Leipzig. Porém, tendo aberto um consultório médico, viu afluírem os doentes. Certos médicos, de espírito mais aberto, se interessaram pela doutrina e começaram a estudá-la. Grupos e sociedades médicas de homeopatias foram constituídos e as honras chegaram, explica Tetau (1980). Entre 1811 e 1826, publicou 6 volumes da Matéria Médica Pura, com 1.777 páginas e 64 medicamentos experimentados, afirma Fontes (2012). Em 1812, Hahnemann passou a proferir conferências na Universidade de Leipzig, levando sua doutrina para os alunos de medicina dessa instituição. Entusiasmados,Stapf, Franz, Gross, Hartmann, Hornburg, Wislecenius e os irmãos Fernando e Teodoro Rueckert,freqüentavam a casa de Hahnemann para aprofundar seus estudos e realizar experimentos homeopáticos, o que se chamou o grupo da “bandeira de Ouro”. Após formarem-se em médicos, acabaram difundindo a genial obra de Hahnemann. A reputação da homeopatia cresceu rapidamente graças aos bons resultados obtidos, atraindo a atenção de médicos e pacientes de vários países do continente europeu, coloca Demarque (2002) e Luz (2014). Ainda em 1812, as teorias de Hahnemann passaram por um teste extremo, quando Napoleão lhe deixou tratar 180 pessoas que sofriam de tifo, doença que assolava a França, matando milhares de pessoas e confundindo a maior parte dos médicos. Somente uma dessas 180 pessoas faleceu, um resultado impressionante na época, e a homeopatia começou a se afirmar entre as práticas médicas européias como uma prática complementar bem-vista, cita Balch & Stengler (2005). O criador da homeopatia conseguiu encontrar uma solução para a maioria das doenças tratadas por ele. Todavia, seu tratamento apresentava dificuldades diante das doenças crônicas, que reapareciam frequentemente com novos sintomas. Passou a pesquisar de forma exaustiva os casos crônicos reincidentes até encontrar a presença de um fator desencadeador desses processos denominado por ele de “miasma”, fornecendo a explicação da cronicidade de doenças como a Sicose, sífilis e a Psora. Assim, em 1828 publica “Doenças Crônicas, de sua natureza e de seu tratamento homeopático”, obra de suma importância dentro da doutrina homeopática, composta com 5 volumes, versa sobre a causa das doenças crônicas, junto com o estudo de uma série de novos medicamentos para o tratamento dessas doenças, explica Fontes (2012). 8WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Em 1820, Hahnemann tratou do príncipe Karl Philipp Von Schwarzenberg do exército austríaco (e que derrotouNapoleão), fazendo recomendações dietéticas, no entanto, após ter melhorado, voltou à vida de excessos, com festividades e álcool, faleceu de um ataque apoplético. O fato foi utilizado para ataques ao criador da Homeopatia, expõe Haehl (1922) e Jb News (2012). Alguns dos defensores de Hahnemann foram Goethe, que via nele o novo Paracelso, e o duque de Anhalt - Koethen, que o convidou para clinicar em seu ducado. Desta forma em 1821, Hahnemann foi acolhido no ducado de Anhalt-Koetlen, e nomeado conselheiro médico, isto é, médico particular, com isso, deixou Leipzig e passou a viver em Koethen. No dia 31 de março de 1830, morre aos 67 anos a primeira mulher de Hahnemann, com quem teve 11 filhos, sendo que alguns tiveram morte trágica, cita Haehl (1922) e Jb News (2012). Em 1832, abre-se o primeiro hospital homeopático, que sendo mal dirigido fecha em 1842, coloca Haehl (1922). Em 1834, aos 79 anos recebe uma jovem francesa Mélanie d’Hervilly de 37 anos que se revela uma fervorosa admiradora. Casa-se com ela em 1835 e o leva para Paris, obteve permissão para exercer a medicina em 12 de outubro de 1835, conseguiu muito sucesso e marcou o desenvolvimento da Homeopatia. Morreu aos 88 anos, no dia 02 de julho de 1843, cercado do mais nobre respeito e admiração pelo legado que deixou ao mundo científico: 21 livros e 25 traduções. Em suas obras ele interpreta saúde e doença com base no conceito de força vital, orientado especialmente pela concepção ternária de Barthez (1734-1806) segundo a qual o homem se compõe de corpo + princípio vital + alma. Sendo a força vital de natureza dinâmica e imaterial, pode ela ser influenciada por algo igualmente dinâmico e imaterial - seja pela doença, seja pelo medicamento dinamizado. Enquanto o fator nóxio leva a força vital ao desequilíbrio, instalando a doença, o medicamento dinamizado, condicionado pela similitude, atuaria sobre a mesma força vital reconduzindo-a ao equilíbrio inicial, expõe Haehl (1922). Em 1921, Richard Haehl, de Stuttgart, adquire todo o espólio literário de Hahnemann e funda o Museu de Hahnemann, em Stuttgart. Mais tarde o museu foi acomodado no Instituto Paracelsus-Hahnemann (Stuttgart). Neste mesmo ano, houve a publicação da 6ª. Edição do Organon, por meio de Richard Hael e a Inauguração do Hospital Homeopático de Stuttgart, expõe Haehl (1922). Em 1922, foi publicado a Biografia de Hahnemann em dois volumes por Richard Hael (Editora Schwabe - Leipzig), coloca Haehl (1922). Os discípulos alemães de hahnemann propagaram a homeopatia para a América e a Inglaterra. Na França, formou discípulos que a propagaram para os países latinos. Nos EUA, Hering fundou, em 1833, a Academia Americana de Homeopatia, e um de seus discípulos, James Tyler Kent, produziu uma enorme obra homeopática, filosófica e prática, em sua Matéria Médica e Repertório. Nos EUA, a homeopatia teve seu apogeu no final da Primeira Grande Guerra e quase desapareceu após a Segunda Grande Guerra, para renascer na década de 70 com o movimento naturalista. Na Inglaterra, a prática hospitalar é exercida livremente. A família real britânica sempre foi e continua sendo assistida por famosos homeopatas, afirma Corrêa (1997); Fontes (2012). 9WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 2 - HOMEOPATIA NO BRASIL Antes da introdução da homeopatia no Brasil, sua prática era conhecida pelas cortes brasileiras, pois, Hahnemann havia trocado correspondência com José Bonifácio, sobre mineralogia, porque ambos tinham grande interesse pelo assunto. Foi do Brasil que Hahnemann mandou buscar a planta Ipecacuanha para prepará-la segundo suas técnicas. Apesar do conhecimento da homeopatia no território brasileiro, ela foi introduzida no ano de 1840, pelo médico francês natural de Lyon, Dr. Benoit Jules Mure, tendo seu desembarque datado no dia 21 de novembro, por este motivo, esta data, no Brasil, se comemora o dia da Homeopatia, conforme Barbosa Neto (2006). Benoit Mure chegou ao Brasil acompanhado de outras famílias para organizar uma colônia comunitária na província de Sahy, baseada nos ideais de Charles Fourier, fundando um falanstério, em Santa Catarina, no qual o projeto resultou emfracasso, mudando-se para o Rio de Janeiro, ondepassou a exercer e a divulgar a Homeopatia, convertendo muitos médicos famosos à Homeopatia. O cirurgião português João Vicente Martins tornou-se seu primeiro assistente, afirma Luz (1988). Benoit Mure estudou e utilizou plantas e animais brasileiros. Incansável divulgador das idéias de Hahnemann, ele enviava gratuitamente pacotes com os principais medicamentos e uma Matéria Médica para todos os médicos alopatas que se interessassem pela Homeopatia. As tinturas e as substâncias utilizadas em homeopatia eram provenientes da Europa e os próprios médicos manipulavam-nas devido à inexistência de farmácias especializadas, coloca Luz (1991). O número de homeopatas foi crescendo e, por conseguinte, os farmacêuticos passaram a manifestar interesse pelas doutrinas, participando dos cursos organizados pelo Dr. Mure e seu colega, Dr. João Vicente Martins, segundo Fontes (2012). No período posterior a 1840, a Homeopatia foi largamente discutida pela imprensa, principalmente no jornal do Comércio. Sua imagem era denegrida através dos professores e grandes doutores em medicina, da Bahia e do Rio de Janeiro, e arduamente defendida pelo próprio editor do jornal, o Dr. José da Gama e Castro, que abria espaço permanente para as matérias polêmicas de João Vicente Martins e para os homeopatas da época, coloca Galhardo (1926). Em 1844, foi fundada a Escola de Homeopatia do Rio de Janeiro por Benoit Mure, juntamente com seu amigo e discípulo, João Vicente Martins, no local do primeiro consultório homeopático na cidade do Rio de Janeiro, à Rua São José, nº 59, com o objetivo de propagar a homeopatia em favor dos pobres. Atualmente a Escola de Homeopatia do Rio de Janeiro existe com o nome de Instituto Hahnemanniano do Brasil, desde 1959 com este nome (Figura 2). A prática homeopática era amplamente empregada devido ao seu baixo custo e eficiência, utilizada pelos leigos, escravos e pelas classes excluídas, um fator importante que contribuiu para sua perpetuação no Brasil, expõe Barbosa Neto (2006); Galhardo (1926). 10WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 2 – Instituto Hahnemanniano do Brasil. Fonte: Homeopatia e saúde (2017). A prática homeopática adquiriu diversos adeptos de renome que marcaram a História do Brasil, no entanto muitos deles não possuíam formação médica, apesar de terem grande conhecimento de medicina Homeopática, por isso foram denominados “Homeopatistas”, como era Monteiro Lobato que chegou a clinicar em seu sítio em Tremembé, e Rui Barbosa que tem uma frase que é assim: “Se tivesse um diploma de médico, certamente seria Homeopata” afirma Luz (1991); Luz (2014). Em 12 de janeiro de 1845, durante reunião anual do Instituto Homeopático do Brasil, foi apresentado, pelo Dr. João Vicente Martins, um plano de criação de uma Academia de Medicina Homeopática e Cirurgia. Os estatutos foram redigidos e foi então fundada e inaugurada, à Rua São José, nº 59, a Escola Homeopática do Brasil (primeira escola de formação homeopática), que funcionava com autorização do Governo Imperial, mas que não permitia aos seus diplomados o exercício da clínica, e com a direção de Bento Mure. Em 10 de janeiro de 1846, foram eleitos membros da diretoria do Instituto: Pedro de Araújo Lima (Marquês de Olinda), Bernardo José da Gama (Visconde de Goiana), o Conselheiro Candido José de Araújo Vianna, Manoel Duarte Moreira, e para secretários João Vicente Martins e Francisco Alves de Moura, mantendo-se Benoit Jules Mure na presidência da instituição, coloca Luz (2014). Em seus primeiros anos de existência, o Instituto difundia a homeopatia através da instalação de outros consultórios pela Corte e interior das províncias do Rio de Janeiro e São Paulo,tendo à frente dessa iniciativa Benoit Jules Mure e João Vicente Martins. Além dos consultórios, fundaram também uma farmácia homeopática denominada Botica Homeopática Central localizada no mesmo endereço do consultório central (Rua São José, 59), considerada a primeira instalada no Brasil, e a Casa de Saúde Homeopática na chácara do Marechal Sampaio (Largo do Castelo, 17), fundada em fevereiro de 1846 por Bento Mure, expõe Luz (2014). Amparada pelo aviso da Secretaria dos Negócios da Justiça, de 27/3/1846 e pela lei que estruturou o ensino no Brasil, de 3/10/1846, a Escola Homeopática do Brasil é autorizada, pelo Governo Imperial, a conferir certificados de estudo aos homeopatas que concluíssem seu curso. 11WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Para difundir os progressos da homeopatia no Brasil, Mure e seus companheiros fundaram uma revista, chamada “A Sciência”, que começou a circular em 1847. Além de uma discussão teórica, a revista divulgava também dados interessantes sobre o movimento homeopático que tomava impulso no país. Em setembro de 1847, divulga-se pela revista, por exemplo, que o consultório homeopático da Rua São José, atendia por mais de três horas por dia, tinha três mesas de consulta que no prazo de uma semana chegam a atender a 100 pacientes, que teria recebido 3 mil doentes no prazo em que o de Nova York recebera apenas 100, explica Bertolli Filho (1988); Bertolli Filho (1990); Galhardo (1926). Em 1847, a Escola Homeopática do Brasil é substituída pela Academia Médico-Homeopática do Brasil, sob a direção de João Vicente Martins, segundo Corrêa (1997). Bento Mure recebeu severas críticas no meio médico, por tentar difundir idéias totalmente desconhecidas no país. Desgostoso com a situação optou por sair do Brasil sete anos após sua chegada, deixando, entretanto, muitos discípulos continuaram seu trabalho, afirma Corrêa (1997). Entre novembro de 1848 e março de 1849, João Vicente Martins escreveu artigos nos jornais alertando a população para o perigo de uma epidemia de cólera, quando chegou a oferecer medicamentos homeopáticos ao Imperador Pedro II, para tratamento da doença na Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, expõeFiocruz(1930).Por ocasião da epidemia de febre amarela que afetou várias cidades do Brasil em 1850, o Instituto atuou no Rio de Janeiro, oferecendo tratamento gratuito aos pobres recolhidos na enfermaria de São Vicente de Paulo, fundada e mantida pela Sociedade Portuguesa de Beneficência, e no seu consultório central, conforme Fiocruz (1930) (Figura 3). Figura 3 – Texto de Benoit Mure e João Vicente Martins com o detalhe do anúncio do Primeiro consultório gratui- to para os pobres (1847). Fonte: Diniz (2008). Além disso, o seu primeiro secretário João Vicente Martins dirigiu-se à Câmara dos Deputados em fevereiro de 1850, oferecendo medicamentos homeopáticos para tratamento da febre e propondo que fossem criados hospitais onde estes pudessem ser ministrados, deixando a cargo do doente a escolha pelo tratamento alopático ou homeopático. No mês seguinte, não tendo obtido resposta, encaminhou novo oferecimento, sendo então ameaçado de deportação por sua insistência e crítica ao tratamento utilizado pela medicina alopática, segundo Fiocruz (1930). Por volta de 1851, a Escola Homeopática do Brasil, sob forte pressão dos farmacêuticos, aprovou a separação da prática médica da prática farmacêutica. 12WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Durante a epidemia de cólera em 1855, os homeopatas, destacando o Dr. Maximiano Marques de Carvalho, criticavam duramente os métodos empregados pela alopatia como a sangria, indicando o tratamento homeopático como o mais adequado para a cólera. No entanto, nos argumentos dos alopatas, buscava-se reforçar a supremacia da sua medicina, apesar da evidente recusa da população pela sangria. Os homeopatas, junto com outros “ignorantes do povo”, eram considerados charlatães, pelo simples fato de se oporem ao tratamento oficial proposto, considerados pela categoria, como o mais correto, ainda que os alopatas reconhecessem os “tristes efeitos” da sangria na epidemia da febre amarela. Em contrapartida os alopatas não conheciam suficientemente a homeopatia para poder julgá-la ou eliminá-la institucionalmente, explica Luz (2014). Em 1858, o Hospital da Ordem Terceira da Penitência abriu uma enfermaria homeopática, seguida pelo Hospital da Beneficência Portuguesa (1859), Hospital da Ordem Terceira do Carmo (1873), Santa Casa de Misericórdia (1883), Hospital Central do Exército (1902) e Hospital Central da Marinha (1909), explicaCorrêa(1997).Em 1886, com o Decreto nº 9.554, surgiu uma lei que dava direito de manipulação dos medicamentos homeopáticos apenas aos farmacêuticos, afirmaFontes (2012). No início do século XX, a Homeopatia cresce com a criação de ambulatórios e enfermarias nas forças armadas. Nesta época surge uma figura importante, o Dr. Nilo Cairo, que funda a Revista Homeopática do Paraná e escreve um livro de Homeopatia, cita Galhardo (1926). Em 1909, na cidade de São Paulo os Drs. Alberto Seabra, Murtinho Nobre, Afonso Azevedo, Militão Pacheco e Leopoldo Ramos fundaram o Dispensário Homeopático São Paulo, destinado ao atendimento homeopático gratuito, explica Matos (2009). Seabra ficou adepto à Homeopatia, devido à cura de um filho pela terapêutica Hahnemaniana, administrada pelos irmãos Manoel e Antônio Murtinho Nobre, coloca Weber (2011). Em 1912, nasce a Faculdade Hahnemaniana de medicina e, em 1916, o Hospital Hahnemaniano do Brasil, mostra Galhardo (1926). Em 1918, a variação letal do vírus Influenza se espalha por todos os continentes, chegando ao Brasil. A pandemia, conhecida como a gripe espanhola, matou mais de 20 milhões de pessoas. E por intermédio do medicamento “Gripina”, uma das fórmulas de Alberto Seabra, colaborou com a cura junto a Autoridades Sanitárias e o Governo da época, segundo AMSP (2018). No ano de 1926, foi realizado o primeiro congresso de Homeopatia no Rio de Janeiro, afirma Galhardo (1926). Em 1932, foi criada a Liga Homeopática Brasileira, que teve duração efêmera, no entanto, a associação Paulista de Homeopatia (APH) é fundada em 1936, local onde passa a ser oferecido o curso de especialização em Homeopatia. Atualmente, em São Paulo, é a Escola Paulista de Homeopatia (EPH) que responde pelo curso de especialização com duração de três anos, explica Galhardo (1926). Em 17 de abril de 1941, no Rio Grande do Sul, foi fundada oficialmente a Liga Homeopática do estado, iniciativa do doutor David Castro, também idealizador do Grupo de Estudos Homeopáticos de São Paulo, “Benoit Mure”. Ele muito trabalhou pela Homeopatia no Brasil formando muitos Homeopatas, afirma Weber (2011). Em 1945, com a finalidade de estimular a divulgação dos princípios homeopáticos no Brasil, foi fundada a Federação Brasileira de Homeopatia, com sede no Rio de Janeiro, cita Weber (2011). Em 1952, torna-se obrigatório o ensino de técnicas de farmácia homeopática nas faculdades de farmácia do Brasil, sendo uns dos primeiros países a ter o ensino obrigatório, explica Corrêia e Leite (2008). A partir de 1965 surgiram leis específicas para a farmácia homeopática, por meio do decreto nº 78.841, de 25 de novembro de 1976, sendo aprovada a parte geral da 1ª edição da Farmacopéia Homeopática Brasileira, segundo Fontes (2012). Em 4 de Julho de 1980 a Homeopatia é reconhecida, no Brasil, como especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina pelo Decreto nº 1000, conforme Fontes (2012). 13WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Existem várias publicações de Farmacotécnicas Homeopáticas de diversos autores farmacêuticos de cunho não oficial, mas consagradas pelo uso, sendo que a primeira farmacotécnica data de 1917, e foi escrita pelo Dr. Meira Penna, médico Homeopata, afirma Galhardo(1926). Entre grandes nomes da História da Homeopatiano Brasil são: Dr. Joaquim Murtinho, Dr. Sabino Olegário Ludgero, Dr. Saturnino de Soares de Meirelles, Dr. Licínio Cardoso, Dr. Francisco de Menezes Dias da Cruz, Dr. Galhardo, Dr. Resende, Dr. David Castro, expõe Galhardo (1926); Meirelles (1991). No Congresso Brasileiro de Homeopatia, realizado em Gramado (RS) em 1988, foi aprovada uma moção que culminou com a publicação do Manual de normas técnicas para farmácia homeopática, editado pela Associação Brasileira de Farmacêuticos Homeopatas (ABFH) em 1992. Esse manual foi aperfeiçoado três anos depois, contando com a colaboração de farmacêuticos de todo o Brasil, por meio de relatórios de grupos de estudos, trabalhos científicos, revisões bibliográficas e encontros regionais, afirma Fontes(2012).A segunda edição da Farmacopéia Homeopática Brasileira foi aprovada em 1998 e a Terceira em 2011 pela ANVISA, conforme Fontes (2012); ANVISA (2011). No ano de 2017, foi publicado um Dossiê Especial: Evidências Científicas em Homeopatia, disponível na revista de Homeopatia, elaborado pela Câmara Técnica de Homeopatia do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), que contou com o apoio da Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB) e da Associação Paulista de Homeopatia (APH). Esta publicação traz o panorama mundial da homeopatia como especialidade médica e a sua inclusão nos currículos das faculdades de medicina, além de inúmeras revisões que fundamentam os principais pressupostos homeopáticos com descrição de ensaios clínicos randomizados e placebos- controlados, revisões sistemáticas, descrição de centenas de experimentos e dezenas de linhas de pesquisa que atestam o efeito das ultradiluições em modelos físico-químicos e biológicos (in vitro, plantas e animais). Este Dossiê teve como objetivo principal informar, esclarecer e sensibilizar profissionais da saúde, meio acadêmico e os órgãos de comunicação sobre a validade e a importância do emprego da homeopatia como prática médica adjuvante e complementar às demais especialidades, bem como dar subsídios para a defesa da prática homeopática que vem sendo reiteradamente criticada pela falsa idéia de que não possui evidências científicas, mostra AMHB (2017). 3 - HOMEOPATIA NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DO BRASIL – SUS Na década de 1980, alguns estados e municípios brasileiros ofereciam o atendimento homeopático como especialidade médica aos usuários dos serviços públicos de saúde, porém como iniciativas isoladas e, às vezes, descontinuadas, por falta de uma política nacional. Em 1988, pela Resolução nº 4/88, a CIPLAN fixou normas para o atendimento em homeopatia nos serviços públicos de saúde e, em 1999, o Ministério da Saúde inseriu na tabela SIA/SUS a consulta médica em homeopatia, coloca Brasil (2015). A Lei nº 8.080, de 19/09/1990, que cria o SUS não contemplava a prática homeopática (BRASIL, 1990), apesar da Resolução CIPLAN nº 04/1988 estabelecer diretrizes para o atendimento homeopático, segundo Brasil (2015). A homeopatia mesmo não descrita na Lei nº 8.080 de 1990, em 1998 constatou-se que havia médicos homeopatas atendendo no SUS em 20 municípios brasileiros apoiados pelo gestor local, afirma Salles e Schraiber (2009). 14WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA A partir do I Fórum Nacional de Homeopatia, realizado no ano de 2004, em Belo Horizonte, Minas Gerais, intitulado “A homeopatia que queremos implantar no SUS”, onde a AMHB apresentou o tema “A estratégia de Juiz de Fora”, que alertava para a regulamentação e o controle social na implantação/implementação das práticas integrativas e complementares nos municípios, uma política nacional começava a se desenhar no país, explica Denez (2015). Em 2006, foi aprovada pelo Ministério da Saúde (MS) a Portaria nº 971, coloca Brasil (2006), que traz a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do SUS (PNPIC- SUS). Por meio desta portaria, o MS estabeleceu as diretrizes para a incorporação dessas 41 práticas no SUS, de forma a garantir qualidade, eficiência, eficácia e segurança a todos os seus usuários. Houve um importante marco teórico para a construção da PNPIC-SUS, sendo que um dos principais foi o documento da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 2002, com o título Traditional Medicine Strategy, expõe Barros (2007). A PNIC-SUS reforça a lógica da Resolução CIPLAN nº 04/1988 do Serviço de Práticas Integrativas e Complementares nos diferentes municípios brasileiros, segundoBrasil (2006); Barros (2007); Brasil (2009). A PNPIC-SUS apresenta dez diretrizes: estruturação e fortalecimento da atenção em PICs do SUS; desenvolvimento de estratégias de qualificação em PICs; fortalecimento da participação social, divulgação e informação dos conhecimentos básicos das PICs para profissionais de saúde; gestores e usuários do SUS; estímulo às ações intersetoriais; garantia de acesso a medicamentos homeopáticos e fitoterápicos; garantia de acesso aos demais insumos estratégicos; incentivo à pesquisa em PICs; desenvolvimento de ações de acompanhamento e avaliação; promoção de cooperação nacional e internacional, coloca Brasil (2006; 2009). Porém, apesar dessas recomendações, ainda não é observada uma ampliação significativa da rede de atenção homeopática no SUS, afirma Salles e Ayres (2013). No que diz a respeito à homeopatia, os dados da PNPIC-SUS demonstram que embora venha ocorrendo aumento da oferta de serviços, a assistência farmacêutica em homeopatia não acompanha essa tendência. Conforme levantamento da Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB), realizado em 2000, apenas 30% dos serviços de homeopatia da rede SUS forneciam medicamento homeopático. Em 2004, os dados levantados pelo Ministério da Saúde revelaram que somente 9,6% dos municípios que informaram ofertar serviços de homeopatia possuíam farmácia pública de manipulação, sendo que dos que as tinham, apenas 7,39% apresentavam farmacêutico habilitado em homeopatia, conforme Brasil (2006). Em 2007, foram 312.533 consultas com investimento federal, explica Brasil (2009). Agarantia de medicamentos homeopáticos no SUS ocorreu por meio da edição da Portaria nº 4.217/MS, de 28/12/2010, após pacto com dez estados da federação. O referido pacto os incluiu no elenco de referência da assistência farmacêutica na atenção básica e aprovou as normas de financiamento e execução do Componente Básico da Assistência Farmacêutica, expõe Brasil (2010; 2011). Com a edição da nova Portaria da Assistência Farmacêutica na Atenção Básica, de nº 1.555, de 03/07/2013, foi incluído um item específico para a aquisição de matrizes e tinturas homeopáticasde acordo com a Farmacopéia Homeopática Brasileira de 2011, segundo Brasil (2013). 15WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 4 - CONCEITOS FUNDAMENTAIS • Homeopatia: termo criado por Hahnemann em sua obra “Organon da arte de curar” para designar o sistema médico baseado na lei dos semelhantes (similia similibus curentur). • Alopatia: (do grego: alloion - diferente + pathos - sofrimento) termo criado por Hahnemann para designar a medicina oficial de seu tempo. Emprega remédios de ação diferente da doença que se visa tratar. • Enantiopatia: (do grego: enantio - contrário) baseada no princípio dos contrários (contraria contrariis curentur). Utiliza remédios de ação oposta à enfermidade natural. São exemplos desta terapêutica os medicamentos “anti”: antibióticos, antiinflamatórios, analgésicos, antiespamódicos etc. Confunde-se com a Alopatia. • Isopatia: (do grego: isos - igual) método terapêutico que utiliza (para curar ou prevenir) o mesmo fator que aparentemente é a causa da doença. São exemplos: as vacinas e os soros. • Tautopatia: (do grego tautos - o mesmo) método terapêutico usado em algumas intoxicações. Consiste em usar doses menores da própria substância que intoxicou o organismo. • Sintoma: sensação subjetiva. Aquilo que é sentido pela pessoa, mas não visualizado.• Sinal: um dado objetivo que pode ser observado. • Síndrome: conjunto de sinais e sintomas. • Diluição: É a redução da concentração do insumo ativo pela adição de insumo inerte adequado. • Dinamização: É o processo de diluições seguidas de sucussões e/ou triturações sucessivas do insumo ativo em insumo inerte adequado. • Droga: Matéria prima de origem mineral, vegetal, animal ou biológica, utilizada para preparação do medicamento homeopático. • Escala: É a proporção entre o insumo ativo e o insumo inerte empregada na preparação das diferentes dinamizações. As formas farmacêuticas derivadas são preparadas segundo as escalas Centesimal, Decimal e Cinquenta milesimal: ∘ Escala Centesimal: preparada na proporção de 1/100 (uma parte do insumo ativo em 99 partes de insumo inerte, perfazendo um total de 100 partes); ∘ Escala Decimal: preparada na proporção de 1/10 (uma parte do insumo ativo em nove partes de insumo inerte, perfazendo um total de 10 partes); ∘ Escala Cinquenta Milesimal: preparada na proporção de 1/50.000. 16WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA ∘ Fármaco: Insumo ativo com finalidade terapêutica que, em contato ou introduzida em um sistema biológico, modifica uma ou mais de suas funções. ∘ Formas farmacêuticas derivadas: São preparações oriundas do insumo ativo obtidas por diluições em insumo inerte adequado, seguidas de sucussões e/ou triturações sucessivas, conforme a farmacotécnica homeopática. ∘ Insumo ativo: É o ponto de partida para a preparação do medicamento homeopático, que se constitui em droga, fármaco, tintura-mãe ou forma farmacêutica derivada. ∘ Insumo inerte: Substância utilizada como veículo ou excipiente para a preparação dos medicamentos homeopáticos. ∘ Matriz: Insumo ativo de estoque para a preparação de medicamentos homeopáticos ou formas farmacêuticas derivadas. ∘ Medicamento homeopático: É toda forma farmacêutica de dispensação ministrada segundo o princípio da semelhança e/ou da identidade, com finalidade curativa e/ou preventiva. É obtido pela técnica de dinamização e utilizado para uso interno ou externo. ∘ Medicamento homeopático composto: É preparado a partir de dois ou mais insumos ativos. ∘ Medicamento homeopático de componente único: É preparado a partir de um só insumo ativo. ∘ Placebo: Substância que não possui nenhuma ação específica sobre o organismo humano, ou seja, trata-se de uma substância farmacologicamente inerte. ∘ Potência: É a indicação quantitativa do número de dinamizações que uma matriz ou medicamento homeopático receberam. ∘ Substância medicinal: Para designar as drogas, os fármacos, as tinturas-mães e os medicamentos homeopáticos, Hahnemann empregava o termo substância medicinal. Durante o experimento homeopático, as propriedades farmacodinâmicas de uma substância medicinal devem ser verificadas empregando-se a droga, fármaco ou a tintura-mãe e os medicamentos homeopáticos derivados destes. ∘ Sucussão: Processo manual que consiste no movimento vigoroso e ritmado do antebraço, contra anteparo semirrígido, do insumo ativo, dissolvido em insumo inerte adequado. Pode ser também realizado de forma automatizada, desde que simule o processo manual. ∘ Tintura-mãe: É preparação líquida resultante da ação de líquido extrator adequado sobre uma determinada droga de origem animal ou vegetal. ∘ Trituração: Consiste na redução do insumo ativo a partículas menores por meio de processo automatizado ou manual, utilizando lactose como insumo inerte, visando dinamizar o mesmo. 17WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 5 - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA HOMEOPATIA A Homeopatia é uma especialidade médica e farmacêutica que consiste em ministrar ao doente, doses mínimas do medicamento, de acordo com a lei dos semelhantes, para evitar a agravação dos sintomas e estimular a reação orgânica na direção da cura, coloca Fontes (2012). As bases da Homeopatia, reconhecidas por Hahnemann após suas experiências, são: 1 – Experimentação dos medicamentos em homens sãos; 2 – Princípio da Semelhança (ou Lei dos Semelhantes); 3 – Administração de medicamento único e dinamizado. 5.1. A experimentação em homens sãos Experimentação no homem sadio, também chamada experimentação patogenética, homeopática ou pura, é o procedimento de testar substâncias medicinais em indivíduos sadios para elucidar os sintomas que irão refletir sua ação. Para a homeopatia, a única forma de conhecer de maneira confiável os efeitos farmacológicos de uma substância medicinal é experimentando-a no organismo humano sadio. Não são utilizados testes em animais, pois cada espécie apresenta uma reação própria, muito diferente da reação dos seres humanos, por serem distintas as suas constituições. Para o elefante, a beladona é mortal em pequenas doses. Todavia é inócua para uma série de pequenos animais. A noz-vômica e o acônito são inofensivos para suínos e cães, respectivamente, mas podem matar um homem. Além disso, apenas os sintomas mais grosseiros podem ser registrados, uma vez que os animais não se expressam por palavras. Os testes em doentes também não são tolerados, pois a mistura dos sintomas provocados pela doença natural com os sintomas provocados pela droga teste impede uma avaliação correta do experimento, explica Fontes (2012). A experimentação no homem sadio foi uma das maiores contribuições de Hahnemann para a Medicina. Uma inovaçãodos métodos de pesquisa. A questão a ser respondida era: - Como descobrir possíveisefeitos curativos de determinada substância? Hahnemann estabelece orientações para a experimentação de substâncias: 1 - Em cada experiência deve-se estudar uma única substância diluídasegundo o método homeopático; 2 - Administrá-la repetidamente a um grande número de indivíduossaudáveis de ambos os sexos; 3 - Observar e anotar as alterações que daí surgirem no estado físico emental dos participantes. Com a experimentação, o pesquisador homeopata descobre várias manifestações quecada substância pode desencadear em uma pessoa que seja sensível a ela. Quando uma substância medicinal é administrada a um indivíduo os sintomas resultantes são compilados, registrando as manifestações específicas do organismo diante da agressão proporcional por tal substância. Desse modo, revela-se a farmacodinâmica da substância testada, afirma Barbosa Neto (2006); Fontes (2012). 18WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Atualmente as experimentações de novos medicamentos são controladas usando-seo método epidemiológico e para obter informações confiáveis sobre a farmacodinâmica das drogas e dos medicamentos obtidos a partir delas, os institutos de pesquisa homeopáticos adotam modernos protocolos de experimentação patogenética. O ensaio deve ser realizado de acordo com o método “duplo-cego”. Com essa metodologia não se sabe quais experimentadores receberam a droga e quais receberam o placebo. Além disso, apenas o diretor do experimento conhece qual substância está sendo ensaiada e quais sujeitos de pesquisa estão recebendo o medicamento placebo. A experiência tem início, em geral, com a administração da substância a ser testada em doses ponderais. Somente depois de anotados todos os sintomas e não havendo mais nenhuma manifestação sintomática é que se passa à dose seguinte, que é uma dinamização sempre mais diluída que a anterior. Os sintomas vão sendo anotados para cada uma das doses, nas três esferas: física, emocional e mental. Na conclusão do experimento, os sintomas são sistematizados pelo diretor e apresentados aos experimentadores para discussão, sendo retirados do registro os sintomas proporcionados pelos indivíduos que receberam o placebo. As descrições minuciosas de todas as alterações (sintomas) provocadas pelasubstância experimentada são chamadas patogenesias. O conjunto depatogenesias são compiladas em livros denominados Matéria Médica Homeopática, conforme Barbosa Neto(2006); Fontes (2012). 5.2. Lei dos semelhantes Qualquer substância capaz de provocar em um homem sadio, porém sensível, determinados sintomas é capaz de curar (Figura 4), desde que em doses adequadas, um homem que apresente um quadro mórbido semelhante, com exceção das lesões irreversíveis, expõe Fontes (2012). Esta lei não foi uma descoberta de Hahnemann. Hipócrates já expressara tal ideia noaforismo: similia similibus curantur (semelhante cura semelhante). Pelosemelhante se produz a enfermidade e, aplicando-se o semelhante, ela é curada. Todavia, foi Hahnemann o descobridor do seu mecanismo de aplicação e de sua utilização científica na cura dos doentes, afirmaBarbosa Neto (2006); Fontes (2012). Figura 4 – O princípio da similitude. Fonte: Similibus-Curantur (2009). 19WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Desde Hipócrates (400 a.C.), muitos médicos antes de Hahnemann aproximaram-sedesta lei. Galeno (séc. II d.C.) a reconhecia; Paracelso (séc XVI) chegou perto aoutilizar substâncias que tivessem características semelhantes aos sintomas do doente; Sydenham (séc. XVII) observou o efeito que Hahnemann experimentou e concluiu que ela curava a febre porque atiçava a febre, afirmaBarbosa Neto (2006). Para melhor elucidar a lei dos semelhantes segue o exemplo: Um doente com úlcera gástrica, durante uma visita ao médico homeopata, relate ter hemorragias freqüentes, eventuais diarréias explosivas, gosto amargo na boca, sensação de sufocamento com falta de ar à noite, grande inquietude de espírito, ansiedade e muito medo da morte, diminuição da memória, além de queimações no estômago, que acalmam com o calor e pioram com o frio. Por serem análogos aos da ingestão de arsênico, tais sintomas sugerem ao médico a indicação de Arsenicum album, que o prescreverá em doses bem diminutas. Desse modo para a aplicação da lei dos semelhantes, é necessário saber antecipadamente o que cada droga é capaz de provocar em indivíduos sadios (os chamados experimentadores). Neste exemplo, o medicamento Arsenicum album, prescrito na dose correta, será para esse doente o seu simillimum. É chamado de simillimum, o “remédio” que abrange a totalidade dos sintomas de um homem doente, ou seja, aquele medicamento cuja patogenesia melhor coincidir com os sintomas apresentados pelo doente. A Patogenesia é o conjunto de sinais e sintomas, objetivos (físicos) e subjetivos (emocionais e mentais), que um organismo sadio apresenta ao experimentar determinada substância medicinal. A administração de uma dose de determinada substância ela perturbará a homeostase orgânica, o organismo apresentará um grupo de sintomas relacionados à substância que está sendo testada. Esses sintomas são chamados de sintomas patogenéticos. Para que o organismo produza sintomas é necessário que a dosagem da substância testada seja forte o bastante para promover o seu desequilíbrio, ou que o organismo tenha alto grau de sensibilidade à substância testada, explica Fontes (2012). A semelhança entre o medicamento e o doente será tão maior quanto maior for a individualização dos sintomas, segundo Barbosa Neto (2006). Hahnemann cita várias aplicações da lei dos semelhantes relatadas por médicosanteriores a ele. Alguns exemplos: - Bertholon percebeu que a eletricidade aliviava um tipo de dor semelhante àque ela mesma produz; - Boulduc dizia que o ruibarbo é um laxante para pessoas saudáveis, por issocontrola a diarréia dos doentes; - Stahl comprovou que o estanho curava violentas dores de estômago eproduzia as mesmas dores em pessoas saudáveis; - Pesquisadores observaram que o arsênico produz fortes dores no peito eAlexander afirmou que o arsênico é remédio eficaz contra a angina do peito; - Cullen percebeu que a cânfora curava pacientes com febre baixa e fadiga eprovocava esses mesmos sintomas numa pessoa sã. - (outros inúmeros exemplos são citados por Hahnemann na introdução dasexta edição do Organon da arte de curar). Portanto, a indicação de um medicamento homeopático depende das características pessoais e reacionais do paciente. Para a homeopatia, enfermidade é o resultado da reação insuficiente do organismo diante da doença. Assim, faz-se necessário estimular a reação orgânica para que esta possa sobrepujar a força da doença. Quando uma droga é administrada provoca sintomas semelhantes aos que o paciente está sentindo, observando, em primeiro momento, aumento transitório dos sintomas. Entretanto, com o fim do efeito farmacológico, após a droga ter sido eliminada, nota-se um efeito biológico de sinal contrário, que é traduzido pela reação orgânica à droga, explica Fontes (2012). 20WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Após enunciar a lei dos semelhantes, Hahnemann reforça no parágrafo 27 dizendoque o método de cura mais radical, permanente e seguro será a administração de ummedicamento capaz de produzir (numa pessoa saudável) a totalidade dos sintomasdaquele caso individual de enfermidade que se pretende curar, surgindo dois conceitos de grande importância na Homeopatia: individualidade e totalidade, expõeBarbosa Neto (2006). 5.3. Administração de medicamento único e dinamizado O remédio único constitui um dos fundamentos mais importantes da homeopatia do ponto de vista médico-científico e o mais difícil de ser realizado na prática, pois exige do clínico conhecimentos bastante profundos da matéria médica homeopática. Baseia-se na totalidade dos sintomas do doente (o simillimum). A partir do momento que Hahnemann emprega o método de diluição das substâncias medicinais, ele faz uma série de experiências. A princípio, empregou doses pequenas, diluindo os medicamentos em água ou álcool, de acordo com determinadas proporções. Entretanto, observou que se o medicamento não era forte o suficiente para produzir a agravação dos sintomas, não era capaz de promover satisfatoriamente a reação orgânica. Como os resultados não foram os esperados, continuou os experimentos. Além de diluir os medicamentos, passou a imprimir agitações violentas chamada de “sucussões”. Hahnemann notou que, além da diminuição da agravação dos sintomas e dos efeitos tóxicos das altas doses, ocorria o aumento da reação orgânica. Todavia, Hahnemann nunca forneceu os detalhes de como descobriu o processo de dinamização. A partir desse experimento, o criador da homeopatia passou a utilizar diluições infinitesimais e potencializadas pelas fortes agitações que imprimia na manipulação dos medicamentos homeopáticos. Esse processo farmacotécnico, conhecido como dinamização, promove curas mais rápidas e suaves. A diluição do insumo ativo, sempre intercalada pelas sucussões, obedece a uma progressão geométrica, promovendo diminuição de sua concentração química e aumento de sua ação dinâmica que estimula a reação do organismo na direção da cura. Segue uma explanação inicial do processo de preparação do medicamento homeopático: - Uma parte do insumo ativo + 99 partes do insumo inerte + sucussões = 1ª dinamização centesimal hahnemanniana (1CH); - Uma parte da 1CH + 99 partes do insumo inerte + sucussões = 2ª dinamização centesimal hahnemanniana (2CH); - Uma parte da 2CH + 99 partes do insumo inerte + sucussões = 3ª dinamização centesimal hahnemanniana (3CH); - E assim sucessivamente, conforme figura 5. 21WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 5 – Dinamização. Fonte: Fontes (2012). Assim, quanto maior a potência ou dinamização do medicamento, menor a probabilidade de encontrar moléculas da droga inicial na solução, coloca Fontes (2012). Potência Diluição Concentração Expoentes 1ª dinamização centesimal hahnemanniana = 1CH 1/10 1 para 100 10-2 2ª dinamização centesimal hahnemanniana = 2CH 1/10.000 0,01 para 100 10-4 3ª dinamização centesimal hahnemanniana = 3CH 1/1.000.000 0,0001 para 100 10-6 4ª dinamização centesimal hahnemanniana = 4CH 1/100.000.000 0,000001 para 100 10-8 12ª dinamizaçãocentesimal hahnemanniana = 12CH 1/1.1023 0 (21 zeros) para 100 10-24 Acesse ao site: http://www.homeozulian.med.br/ 2222WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................23 1 - ESCOLAS MÉDICAS HOMEOPÁTICA ..................................................................................................................24 1.1. UNICISMO E A ESCOLA DE KENT (JAMES TYLER KENT: 1849-1916) ............................................................24 2 - CONCEPÇÃO HOMEOPÁTICA DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA: ENERGIA VITAL ....................................... 29 2.1. MECANISMO DE AÇÃO DO MEDICAMENTO HOMEOPÁTICO: PROCESSO DE CURA ..................................32 3 - FARMACOLOGIA HOMEOPÁTICA: AÇÃO PRIMÁRIA E REAÇÃO SECUNDÁRIA ............................................ 36 3.1. AÇÃO PRIMÁRIA DIRETA (PATOGENÉTICA) DA DROGA .................................................................................37 3.2. AÇÃO SECUNDÁRIA INDIRETA (CURATIVA) DO ORGANISMO ......................................................................37 3.3. A ENERGIA MEDICAMENTOSA ....................................................................................................................... 40 3.4. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO, ELIMINAÇÃO E POSOLOGIA ..............................................................................41 ESCOLAS MÉDICAS HOMEOPÁTICAS, PROCESSO SAÚDE DOENÇA NA HOMEOPATIA E FARMACOLOGIA HOMEOPÁTICA PROF.A DRA. GISLAINE JANAINA SANCHEZ FALKOWSKI ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: HOMEOPATIA 23WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO As escolas médicas homeopáticas, na sua prática, basicamente seguem a escola unicista, pluralista e organicista. A complexidade do entendimento da prática homeopática é discutida no processo saúde- doença, sua descontinuidade entre as diferentes abordagens permite ampliar o entendimento da natureza íntima do ser humano em seus diferentes tratamentos homeopáticos. O papel do medicamento homeopático é estimular e direcionar uma reação do organismo contra os desequilíbrios instalados, reequilibrando as funções orgânicas. Desta forma, busca- se estimular uma reação integrativa (psico-neuro-imuno-endócrino-metabólica), desde que o medicamento consiga abranger a totalidade de sintomas característicos do paciente. A Homeopatia atua no reequilíbrio da unidade substancial formada pelo corpo físico e a força vital. Este reequilíbrio orgânico-vital se manifesta nas demais instâncias superiores, modulando as suscetibilidades emocionais e psíquicas, e transmitindo uma sensação de bem- estar geral ao indivíduo, assim, agora, estudaremos com mais detalhes as diferentes formas de aplicação das escolas médicas homeopáticas e compreenderemos a ação do medicamento homeopático no homem. 24WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - ESCOLAS MÉDICAS HOMEOPÁTICA Em todas as técnicas de terapia existem variados tipos de conduta adotadas de acordo com a interpretação de conceitos desenvolvidos ou emitidos, geralmente, por diferentes grupos, normalmente denominados: “linhas”, “correntes” ou “escolas”. Não fugindo à regra, o mesmo acontece com a Homeopatia (LOBÃO, 1996), assim, foram criadas diferentes escolas homeopáticas, cada uma prescrevendo a seu modo (FONTES, 2012). Os principais motivos para haver diferentes “escolas médicas homeopáticas” destaca-se: a complexidade da doença observada, a imprecisão dos sintomas, o desconhecimento dos princípios homeopáticos, o processo de industrialização do medicamento homeopático, a inexistência de patogenesias capazes de cobrir a totalidade dos sintomas observados no doente, a necessidade do estudo constante e a experiência clínica particular de alguns homeopatas (FONTES, 2012). As principais escolas homeopáticas são: unicismo, pluralismo, complexismo e o organicismo. 1.1. Unicismo e a escola de Kent (James Tyler Kent: 1849- 1916) Conforme o § 273 do Organon, em nenhum caso de tratamento é necessário e também não é tolerável administrar a um doente mais de um medicamento único e simples em uma só vez, sendo absolutamente proibido dar a um doente, ao mesmo tempo, duas diferentes substâncias medicinais (HAHNEMANN, 2007). O medicamento prescrito para o quadro agudo ou quadro crônico será realizado através dispensação de um único medicamento, em dose única ou repetida, após cuidadosa escolha, de acordo com a lei de semelhança, aguardando a ação do medicamento e conseqüente reação do organismo. Segundo os princípios de Hahnemann, através da experimentação no homem são e sensível e exigência da individualização (ABRAH, 2018). Hahnemann costumava ver o paciente dele todos os dias e mudar o remédio receitado se este não fosse atuante. Por outro lado, acontecia-lhe receitar, para o mesmo doente e uma mesma doença, dois ou três remédios diferentes, porém alternando-os. Por exemplo, prescreve- se em uma síndrome coqueluchóide: 1 dose de Drosera 15 CH. Logo que o remédio faz efeito, a prescrição não é renovada. Quando se muda o quadro clínico é que desaparece a indicação do primeiro remédio, ou o doente está curado e nos abstemos de qualquer medicamento, ou então aparece uma nova sintomatologia que postula uma nova escolha, e assim por diante até que o paciente seja curado (TETAU, 1980). • Exemplo 1 de receita unicista: Pulsatilla nigricans 6LM Tomar 1 colher (chá) de 2 em duas horas. • Exemplo 2 de receita unicista: Sepia 12 CH Pingar 10 gotas diretamente na boca, 2 vezes ao dia (FONTES, 2012). 25WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA • Remédio único na primeira prescrição: A administração de remédio único por vez propicia atuação sem interferência, permite conclusões acertadas sobre a substância que atuou realmente e garante segunda prescrição correta. • Vantagens do unicismo: 1 – Verdadeira cura, com base na totalidade sintomática, e correlação de semelhança 2 – Seguimento detalhado 3 – Domínio da Matéria Médica 4 – Documentação 5 – Registro de transformações inerentes ao simillimum 6 – Interrupção de medicamento mal escolhido 7 – Identificação do medicamento complementar quando necessário 8 – Melhor avaliação dos sintomas patognomônicos da doença Sintomas patognomônicos: exclusivos de uma determinada doença, por si só já caracterizam uma doença. • Unicismo na prática: - Esforço contínuo - Reconhecimento pelo médico - Disponibilidade (potência adequada, momento oportuno) • Remédio único da segunda prescrição: Segundo o Organon, a primeira dose do simillimum cura a doença crônica; se não curar, ou repete-se o medicamento, ou prescreve-se outro, baseando-se nas manifestações residuais, após esgotar-se a atuação dinâmica anterior (ABRAH, 2018). As doutrinas de Hahnemann sofreram variantes praticadas por seus discípulos, caracterizadas sobre discussões do uso da alternância de medicamento e o emprego de altas dinamizações. Assim, seguiram-se, violentas polêmicas, tendo sido Hahnemann duramente criticado por alguns de seus alunos (Hartmann, Gross, Rummel, Kreschmann), o que lhe motivou profundo desgosto, entre 1832 e 1833. Numeroso grupo de homeopatas reuniu uma grande assembléia em Köthen, presidida por Hahnemann, que redigiu uma fórmula que resolvesse a situação e restabelecesse a concórdia entre os homeopatas (grupo de Leipzig e Köthen), fixando as bases primordiais da Medicina Homeopática. Os dois grupos mantiveram contínuas discussões sobre a doutrina, as investigações, as modificações e o que eles julgavam erros de Hahnemann. “Se ainda hoje, após mais de um século de prática, entre os homeopatas não há uma uniformidade absoluta no ponto de vista doutrinário, apesar da clareza dos princípios hahnemannianos, o que não seria em 1832” (ABRAH, 2018). Outra variante do unicismo hahnemannianoé o kentismo. A Escola Kentiana apoia o método dedutivo (do geral para o particular, dos princípios para os fatos), com postulados a priori do Iluminismo. James Tyler Kent, médico norte-americano foi muito influenciado pelo cientista e místico sueco Swendenborg. Kent relaciona a psora como “pecado original”, sendo por isso acusado de místico pelos homeopatas da época, que o acusavam pela marginalização da homeopatia (HALLER JR, 2009; PEEBLES, 1988). 26WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA A conduta realizada por Kent seguia-se: - Medicamento único; - Única dose; - Altas potências. Kent realizava experimentos com altíssimas potências, superiores a 1.000 FC, que, para obtê-las, projetou um aparelho dinamizador (milésima potência preparada por aparelho de fluxo contínuo). Mais tarde, este aparelho foi aperfeiçoado por Skinner (ABRAH, 2018; FONTES, 2012). No método de fluxo contínuo a diluição e a agitação ocorrem simultaneamente (CÉSAR, 2003). Figura 1 – Aparelhos de fluxo contínuo original do Dr. Thomas Skinner (1825-1906). Fonte: Kayne (1997). • Exemplo de receita kentiana: Phosphorus 10.000FC líquida Tomar todo o conteúdo do frasco, de uma só vez, em jejum (FONTES, 2012). • Plurarismo ou Alternismo: O pluralismo se consiste no tratamento com uma mistura de medicamento, chamados “complexos homeopáticos” (BARBOSA NETO, 2006). Na prática médica homeopática, o clínico prescreve dois ou mais medicamentos para serem administrados em horas distintas, alternadamente, com a finalidade de um complementar a ação do outro, atingindo, assim, a totalidade dos sintomas do paciente (FONTES, 2012). A diferença entre o unicismo e o pluralismo não se limita à prescrição. A forma do tratamento é reflexo da visão que se tem sobre saúde, doença e cura. A administração de vários “princípios ativos” por parte da prática pluralista tem, por objetivo, sanar vários problemas pontuais. Receita-se o remédio de acordo com a tendência do mesmo em influenciar determinado órgão ou sistema do corpo (BARBOSA NETO, 2006). • Plurarismo nos quadros agudos: Doença aguda recente requer com freqüência medicamento similar em vez de similimum verdadeiro. 27WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA No tumulto clínico de urgência, em condições de atendimento inadequadas e, principalmente, com base na experiência, com doenças agudas específicas ou epidêmicas, é usual prescrição pluralista e antecipada, passível de adaptações pessoais posteriores (remédio constitucional complementar), e se assim não o fizer, o doente certamente recorrerá à complexidade dos antibióticos e analgésicos. • Pluralismo triplo: Baseado na concepção de organismo fracionado, reagindo de modo independente, consiste na prescrição sistemática de 3 medicamentos: 1. De fundo ou constitucional →transtornos sensoriais/alta potência 2. Sintomático ou funcional →reações localizadas (perturbação funcional/média potência) 3. Orgânico (drenador, organotrópico) →estímulo das funções emunctoriais (lesão orgânica/ baixa potência) • Situações de Alternismo: Inerentes ao doente, à doença e ao meio social: 1. Na extrema urgência (impossibilidade de individualização) 2. Na indisponibilidade do medicamento homólogo à totalidade sintomática 3. No atendimento simultâneo da lesão ou crise e do estado geral (remédio principal mais remédio intercorrente) 4. Em ambulatório de grande rotatividade 5. Em certos casos agudos 6. Nas gestantes 7. Nas epidemias 8. Em etiologia múltipla concomitante 9. Na impossibilidade de seguimento clínico O pluralismo é uma prática repelida por Hahnemann (oposição à polifarmácia), cuja obstinação garantiu a transmissão exata de seus ensinamentos (ABRAH, 2018). Destitui de comprovação científica o caso clínico assim tratado, privando-o da compreensão da semelhança e impedindo sua divulgação (ABRAH, 2018). São vários os argumentos contra a prática pluralista: 1. Só conhecemos a ação das substâncias administradas individualmente nas experimentações em homens sãos. 2. Desconhecemos as interações entre as várias substâncias de um “complexo homeopático” (são vários medicamentos juntos ou tornam-se um novo medicamento?). 3. Se ocorrer melhora não saberemos qual a droga foi responsável. 4. O alívio de sintomas não é cura, há risco de supressão (12º prognóstico de Kent) (BARBOSA NETO, 2006). • Inconvenientes do pluralismo: 1. Desconhecimento da lei da semelhança 2. Tendência à polifarmácia 3. Segundo estímulo diferente antes de esgotar-se a ação farmacodinâmica anterior. 4. Estímulos opostos simultâneos (ABRAH, 2018). • Exemplo de receita pluralista: Barium carbonicum 6CH, 20 mL, 1 frasco Phytolacca decandra 6CH, 20 mL, 1 frasco 28WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Pingar 5 gotas de cada medicamento, diretamente na boca, de 2 em 2 horas, alternando- os a cada tomada (FONTES, 2012). • Complexismo: No complexismo, o clínico prescreve dois ou mais medicamentos para serem administrados simultaneamente ao paciente, de ação sinérgica sobre órgãos ou funções (ABRAH, 2018; FONTES, 2012). O complexismo se opõe a homeopatia original fundada por Hahnemann que tem por princípio a administração de um remédio constitucional, dinamizado e único por vez, porque a utilização de vários medicamentos não estará avaliando a verdadeira homeopatia que, desde os tempos de Hahnemann, quer ser colocada à prova (BARBOSA NETO, 2006). • Inconvenientes do Complexismo: A prescrição simultânea de vários medicamentos homeopáticos, após as aparentes vantagens iniciais se complica por dificuldades mediatas: 1. Impossibilidade de distinguir o medicamento que verdadeiramente atuou 2. Impossibilidade em distinguir aquele que eventualmente prejudicou 3. Possibilidades de combinações químicas e dissociações iônicas, imprevisíveis e não cogitadas na prescrição. 4. Acomodação do médico à lei do menor esforço para identificar o simillimum (ABRAH, 2018). • Exemplo de receita complexista: Hydratis canadensis 6CH, 20 mL, 1 frasco Hepar súlfur 6CH, 20 mL, 1 fraco Kalium bichromicum 6CH, 20 mL, 1 frasco Pingar 5 gotas de cada um dos medicamentos, diretamente na boca, de 2 em duas horas. • Outro exemplo: Eupatorium 5CH Bryonia Alba 6CH ãã ... qsp ... 30 mL Allium cepa 6CH Tomar 5 gotas 4 vezes ao dia. No complexismo industrial existem formulações farmacêuticas pré-elaboradas com associações medicamentosas afins, ou seja, que englobam grande número de sintomas relacionados a certa doença. A indústria farmacêutica homeopática produz em larga escala os complexos, também chamados de compostos ou específicos homeopáticos. Essas formulações têm por objetivo tratar enfermidades específicas (gripe, sinusite, cistite, abscessos etc.), sem considerar a individualidade e a integridade orgânica. Na maioria das vezes, proporcionam efeito meramente paliativo. Os compostos alopatizam a homeopatia, ou seja, tratam das doenças e não dos doentes. Nesse caso, a lei dos semelhantes PE ignorada. Entretanto, por meio deles, as populações carentes e distantes dos grandes centros têm a possibilidade de serem tratadas com medicamentos homeopáticos, mesmo sem a presença do médico e do farmacêutico homeopata. Os complexos industrializados recebem nome fantasia, devendo ser registrados no Ministério da Saúde (FONTES, 2012). 29WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA • Organicismo: No organicismo, o clínico prescreve o medicamento visando aos órgãos doentes, considerando as queixas mais imediatas do paciente. Essa conduta, portanto, acha-se bastante próxima da medicina alopática, que fragmenta o ser humano em órgãos e sistemas. Numa visão organicista, o clínico fixa-se apenas no problema local, não levando em conta os sintomas emocionais e mentais, que podem estar relacionados ao problema. • Exemplo de receita organicista para um caso de urticária (manifestação cutânea): Urtica urens 6CH, 20 mL, 1 frasco5 gotas de hora em hora. Cabe ressaltar que o medicamento Urtica urens é preparado a partir da urtiga, planta causadora de sintomas cutâneos semelhante à urticária. Existem ainda, na homeopatia, os profissionais ortodoxos, ou seja, os radicais que não admitem o emprego de outros recursos terapêuticos, além dos medicamentos homeopáticos, bem como os ecléticos, que os prescrevem combinados com outras práticas terapêuticas (acupuntura, medicamentos alopáticos e fitoterápicos etc.). A eficácia de cada conduta terapêutica vai depender muito da experiência clínica. Cabe ao clínico ter um vasto conhecimento das diferentes escolas médicas e sistemas terapêuticos para, com sabedoria, sem fanatismo ou radicalismo, buscar o “remédio” mais adequado ao paciente (FONTES, 2012). 2 - CONCEPÇÃO HOMEOPÁTICA DO PROCESSO SAÚDE- DOENÇA: ENERGIA VITAL Vitalismo é a doutrina filosófica, segundo a qual o funcionamento psicofísico do indivíduo é coordenado por uma forma de energia imaterial que interliga todas as suas partes. Essa energia é chamada de Energia Vital - EV - Força Vital ou Princípio Vital, não perceptível aos nossos sentidos, mas integrante de um composto substancial que inclui o corpo físico, a mente e o espírito, distinta das propriedades físico-químicas do corpo (BAROLLO, 2001). Existem duas escolas originadas na Grécia antiga: escola de Cós e a escola de Cnido. Essas duas escolas divergem na concepção do homem. Para Cos, a saúde depende de um princípio organizador da vida (concepções do animismo, do vitalismo), enquanto que Cnido, a saúde depende das interações físicas e químicas dos órgãos, sistemas e tecidos do organismo (concepção mecanicista, materialista, dinamista etc.). Na tabela 1, estão as principais diferenças entre ambas: Escola de Cós Escola de Cnido (Hipócrates) - Ressalta o temperamento e a constituição; - Dá mais importância ao doente; - É sintética, holística; - Doutrinas relacionadas: animismo, vitalismo; - Enfoque médico: Homeopatia - Lei empregada: lei dos semelhantes (Galeno) - Ressalta o transtorno local; - Dá mais importância à doença; - É analítica; - Doutrinas relacionadas: mecanicismo, materialismo, dinamismo (dinamismo vital, dinamismo físico-químico); - Enfoque médico: alopatia, enantiopatia; - Lei empregada: lei dos contrários. Tabela 1 - Escolas originárias da Grécia. Fonte: a autora. 30WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Na idade moderna, a concepção do homem era predominante, o Mecanicismo e o Vitalismo. Grandes médicos ora defendem uma concepção, ora a outra (HAHNEMANN, 1990). Os mecanicistas interpretam o homem como uma máquina, a doença como um defeito damáquina e a tarefa do médico como o conserto da máquina. Esta interpretação é baseada nafilosofia grega e tem seu ápice na filosofia de René Descartes e na física newtoniana. Enquanto que os vitalistas, interpretam o homem na totalidade do ser vivo, reconhecendo a doença como um desequilíbrio da força imaterial que mantém a vida (BARBOSA NETO, 2006). Segundo Hahnemann, a vida não pode ser revelada pelas leis da física, prevalecendo apenas substâncias inorgânicas (FONTES, 2012). Segundo Hahnemann (1988, s.p.), A vida humana não é de forma alguma regulada por leis puramente físicas, que prevalecem somente entre as substâncias inorgânicas. As substâncias materiais das quais se compõe nosso organismo já não seguem, em suas combinações vitais, as leis às quais se submetem as substâncias na sua condição inanimada; elas são reguladas pelas leis peculiares tão somente à vitalidade, elas são animadas e vitalizadas assim como o sistema como um todo é animado e vitalizado... A visão da Homeopatia é dada pelos parágrafos 9 e 19 do Organon. Parágrafo 9. No estado de saúde, a energia vital imaterial que dinamicamenteanima o organismo material, governa de maneira absoluta e mantém todas aspartes do organismo em uma admirável atividade harmônica, tanto em relação às sensações e funções, de modo que o espírito dotado de razão que reside em nós pode empregar livremente estes instrumentos vivos e sãos para os mais altos fins da nossa existência. A respeito deste parágrafo, James Tyler Kent, médico homeopata contemporâneo de Hahnemann, disse que é inacreditável como alguém conseguiu dizer tanto em tão poucas linhas. O parágrafo 9 descreve o que é a saúde para a Homeopatia: um equilíbrio dinâmico (sujeito a oscilações), mantido pela energia vital, que é a parte imaterial dos seres vivos. Para Hahnemann, a saúde está intimamente ligada aos objetivos de vida, à capacidade criativa do homem. A saúde não pode ser um fim, mas um meio (BARBOSA NETO, 2006) Hahnemann interpreta a força vital como a mantenedora do equilíbrio orgânico. Sob essa perspectiva, as doenças não são mais que manifestações deletérias da força vital modificada. Os microrganismos são apenas fatores necessários, mas não suficientes, para produzir doenças. Desse modo, os fungos, por exemplo, não podem ser considerados a causa única das micoses. Se por algum motivo a foca vital estiver comprometida e outros fatores estiverem contribuindo para o desenvolvimento fúngico (umidade, pH, temperatura etc.), esses microrganismos, sempre presentes, parecem emergir e atacar, “causando” a micose. É a força vital que mantém organismo em harmonia. Sem ela, o organismo não age, não sente e desintegra-se, sendo a força vital responsável pela integração dos diversos níveis dinâmicos da realidade humana (físico, emocional e mental) (FONTES, 2012). Os diversos sistemas do corpo e suas funções existem em harmonia porque há um princípio vital totalizador. Por isso o organismo é unidade (BARBOSA NETO, 2006). Atualmente, o erro que a maioria dos cientistas comete é o de trabalhar no âmbito da estrutura e acreditar que, conhecendo-a cada vez mais, um dia conhecerão a vida. Eles jamais conhecerão a vida enquanto continuarem atentos apenas nos seus aspectos estruturais. 31WWW.UNINGA.BR HO M EO PA TI A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Diante da complexidade da vida, instigam-se modelos conceituais para explicá-la, no entanto, os modelos não são necessariamente reais. Todavia, servem de instrumentos teóricos para descrever a realidade, ou seja, fornecem descrições simbólicas ou presumidas que ajuda esclarecer os fenômenos da natureza, exemplo disto é o modelo atômico. Sua validade não é contestada, pois ele esclarece muito bem os fenômenos físicos. Entretanto, os átomos nunca foram observados por alguém. Talvez eles nem existam da forma idealizada, assim, pode-se dizer que os modelos limitam a realidade em torno deles (FONTES, 2012). Apesar da força vital não ser diretamente observada, seus efeitos podem ser evidenciados pelo método de cristalização sensível desenvolvido por Ehrenfried Pfeiffer. O princípio baseia-se na capacidade de soluções de sais cristalizantes modificarem-se especificamente pela adição de substâncias orgânicas. Na cristalização sensível adiciona-se uma pequena quantidade do material orgânico a ser pesquisado (suco de planta, sangue, soro etc.) em uma solução de cloreto de cobre, que seca em placa de petri, sob temperatura, umidade e pressão constantes, em local totalmente isolado e isento de oscilações e vibrações. Ao utilizar um material inorgânico, ou uma folha em fase de fenecimento, em que a força vital está ausente ou bastante fraca, o cloreto de cobre cristaliza- se sob a forma de agulhas dispostas desordenadamente. Entretanto, com algumas gotas do suco extraído de folhas frescas, em que a força vital está bem ativa, as agulhas ficam dispostas de forma organizada, formando desenhos característicos (figura 2). Esse método permite verificar o grau de vitalidade presente nas substâncias orgânicas, bem como a presença ou ausência da força vital. Permite ainda elaborar diagnóstico de enfermidades humanas, animais e vegetais e controle de qualidade de extratos e tinturas (PEEIFFER, 1975). Figura 2 - Método de Cristalização sensível de
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