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Teoria Política I Índice Platão (428/427 – 348/347 a.C.) ...................................................................................................... 1 Aristóteles (384 – 322 a.C.) .............................................................................................................. 6 Cícero (106 – 43 a.C.) ..................................................................................................................... 11 Santo Agostinho (340 – 430) .......................................................................................................... 13 São Tomás de Aquino (1226 – 1274) ............................................................................................. 15 Maquiavel (1469 – 1527) ............................................................................................................... 17 Jean Bodin (1530 – 1596) ............................................................................................................... 22 Thomas Hobbes (1588 – 1679) ...................................................................................................... 26 Francisco de Vitória (1485 – 1546) ................................................................................................ 29 John Locke (1642 – 1704) .............................................................................................................. 31 Montesquieu (1689 – 1755) .......................................................................................................... 35 Rousseau (1712 – 1778) ................................................................................................................. 38 Immanuel Kant (1724 – 1804) ....................................................................................................... 44 Jeremy Bentham (1748 – 1832) ..................................................................................................... 45 Jonh Stuart Mill (1806 – 1873) ....................................................................................................... 47 Alexis de Tocqueville (1805 – 1859) .............................................................................................. 48 Karl Marx (1818 – 1883)................................................................................................................. 50 1 Platão (428/427 – 348/347 a.C.) Platão foi o maior pensador político de todo o role de filósofos que dispensaram tempo e reflexão sobre este tema, ainda na atualidade encontra-se patenteado nos escritos do filósofo ateniense uma sabedoria tal que, pode ser perfeitamente incumbida à realidade aparente do presente. Neste sentido, os seus pensamentos políticos são os pilares de todo o saber dessa esfera na esfera contemporânea. As suas principais obras são: “A República”, “Politikos” (O Político) e “Nomoi” (As Leis). Na sua perspectiva existiu um espaço temporal onde o mundo de Deus e o mundo do Homem eram sobrepostos, o que potenciava um governo divino do ser humano, patenteando- se a paz e a prosperidade, em que os conceitos de miséria, fome e mau-estar não se definiam. Cada humano dedicava-se à filosofia e à ciência, sem existir preocupação com os bens materiais. Contudo, os dois mundos dividem-se e, por conseguinte, Deus liberta-se do governo dos homens, mas deixando ensinamentos aos mais aptos para que consigam governar em boa medida o ser humano para o dirigir à paz e à prosperidade anterior. No mundo dos homens reina o conceito de mudança, o que se denota por ser sempre negativa, dado que os governantes são iguais aos governados, isto é, estão no mesmo patamar e, desta forma inicia-se o grande problema político a não superioridade legítima e divina da classe governante aquando comparada com os demais seres humanos, já no mundo de Deus não se efetiva esse conceito, o que promove um melhor ambiente civilizacional. Apesar de ambos os mundos, após divididos não se misturarem, Deus irá sempre salvar o Homem do abismo. Por conseguinte, Platão elabora um regime político que se assemelha ao governo de Deus – Kalipolis ou Aristrocacia – o governo ideal, em que cada elemento da sociedade desempenha o que lhe compete, ou seja, é-lhe concedido a função para a qual revela mais destreza e, em último formato, para o que está destinado a realizar, pois se o mesmo não se efetivar irá reinar a desordem, a injustiça, a maldade e a intolerância. Não obstante, os elementos civis que revelam a capacidade funcional de cada indivíduo são os governantes, sublinha-se filósofos, que possuem capacidades divinas, é-lhes incumbido pela divindade sabedoria superior aos seus congéneres para os governar. A sociedade idílica platónica divide os seus habitantes segundo três classes, a saber: 2 1. Metal-bronze: os trabalhadores e artesãos, ou seja, indivíduos que se submetem aos instintos primários sem possuírem capacidade de abandonarem essa volição natural; 2. Metal-prata: os guerreiros, que auxiliam quem governa, são sujeitos que evidenciam enorme coragem e personalidade para defender a Pólis dos inimigos; 3. Metal-ouro: os governantes que são filósofos, agindo pela razão em detrimento dos desejos básicos. São indivíduos que revelam enorme capacidade de memória, facilidade de aprendizagem e boa natureza, isto é, conseguem distinguir o bem do mal, o justo do injusto, são sujeitos com a capacidade de tomar as melhores decisões, regem-se por valores, são, em última análise, inteligentes, por outro lado apresentam-se como uma minoria na sociedade. Não obstante, são indivíduos que não se podem submeter aos desejos básicos e não podem poluir o espírito com álcool e o amor. Num regime de Kalipolis, deve existir respeito entre todos os concidadãos e o inerente trato como tal. A vital subsistência deste idealismo está assente em bases que podem ser corruptíveis e, nesse sentido é vital respeitar certos e determinados aspectos para não se efetivar a decadência social. Em primeiro ponto, a existência de propriedade privada e riqueza promove a ascensão de valores incompatíveis com os defendidos pelo regime político de Platão, então é imperativo a classe governante, acima de tudo, não possuir bens, sem ser os de primeira necessidade. A existência de comunidade e viver em comunitarismo é vital para este tipo de regime, neste sentido os filósofos estão dependentes, na esfera da subsistência, dos demais indivíduos, na medida em que recebem comida dos outros, o que promove um sentimento de dependência entre governantes e governados, prevenindo o sentimento do governo sem responsabilidade e valores para com os restantes sujeitos, o que se efetiva em tipos de regimes em que a classe governante apresenta-se como um conjuntos de sujeitos que olham para os restantes pertencentes da sociedade apenas como autómatos e números, definhando o aspecto humano da sociedade e realizando medidas políticas desfasadas do bem-estar social. Constata- se uma temeridade à escravatura ultrapassando o próprio receio pela morte. A educação é o pilar supremo na perspectiva de Platão na Kalipolis, na medida em que é o ponto de partida que irá reger os valores defendidos pela sociedade, mais evidente nos filósofos, daí ser imperativo um adequado método de ensino. Nesta medida, o filósofo ateniense promovia a existência de mulheres na classe governante, pois são seres dotados das mesmas capacidades do que os homens e o único factor decisivo para um bom governante é a educação, retirando a questão do género da análise social. Posto isto, os filósofos submetiam-se a uma educação bem delineada e eficaz para o desenvolvimento pleno de todas as capacidades, os seus elementos consubstanciavam-se na matemática,geometria, ginástica para o corpo ("mente sã 3 em corpo são") e música para o espírito/alma. Este último elemento deve estimular o desenvolvimento do pensamento, da reflexão, as ideias e os valores a seguir. Resumindo-se no aforisma de "se a lama for boa o corpo também o será". A partir do momento em que os fundamentos valorativos estão construídos é o ponto de avanço para a dialética, argumentação e contra-argumentação, para se alcançar a verdade. Um avanço precoce entre o domínio dos elementos referidos e o desenvolvimento da dialética torna os indivíduos cépticos e, por consequência, não conseguem ser governantes que se regem por um quadro de valores definido. A classe governante denota-se com uma visão muito mais abrangente do todo por consequência de uma educação que enquadra todas as grandes áreas do saber e existindo a valorização das ciências teóricas sobre as práticas. Platão enuncia que quem governa tem de estar disposto a contar com "mentiras piedosas", ou seja, omissões em prole de um bem maior, no seio social e como regra de atuação entre a sociedade civil. Neste sentido, constata-se uma legitimidade da censura, para manter a população pura, porque caso se patenteie liberdade de expressão total existe o risco de essa mesma liberdade tal promova a ascensão de grupos que defendem ideais pondo em causa os próprios pilares da liberdade, pelos quais ascenderam ao poder. Ou seja, existe certo e determinado tipo de propaganda que subverte o quadro valorativo social. Sendo Platão um filósofo defensor do idealismo e crítico dos sofistas, promove a rejeição ao relativismo, dado que banaliza e torna legítimo a malvadez, pois se todas as ações e valores são tomados como iguais e plenos não se constata uma linha valorativa certa ou errada, banalizando-se ações erradas e com maldade no seu cerne. Não obstante, a religião torna-se impiedosa para manter os valores na sociedade, porque sem a mesma não há valores. A educação é o ponto de partida, o que leva aos costumes, depois às relações sociais e, por fim, à lei, posto isto se o fundamento for podre e a inculcação de valores impura, a lei futura irá possuir um fundo valorativo negativo. De modo a defender a propagação do sistema educacional ideal e a sua irreverente hostilidade à mudança é explicada pelo facto, de que Platão, refere que a mudança é sempre um fenómeno negativo e, por conseguinte, alterar o método de educação irá prejudicar e definhar regime de Kalipolis. Neste regime político torna-se imperativo organizar os casamentos, isto é, por exemplo, casar indivíduos com alma de metal ouro com outros do mesmo tipo, contudo não existe determinação factual e, daí os descendentes desses casais organizados não seriam do mesmo tipo de alma que os seus progenitores. Não obstante, a incompatibilidade de trabalho com a maternidade, Platão argumenta que a educação deve ser resvalada para instituições da Pólis, com o objectivo de aumentar o contacto entre futuros cidadãos, promovendo o trato como co- 4 cidadãos, tornando os objectivos pessoais comuns e, em última análise impedir o egoísmo da parentalidade, ou seja, favorecer os parentes apenas por esse simples facto, sem ter em conta as suas capacidades, e, com esta educação "estatal" não se constatava guerras entre indivíduos que buscam ultrapassar o seu semelhante e difundia-se a educação igual por todos os cidadãos, decalcando os valores morais positivos que estão na base do regime de Kalipolis. Quando se atinge a Sociedade de Sábios, em que todos os pontos referidos anteriormente se conjugam está-se perante um vazio jurídico, pois as leis denotam-se como demasiado vagas e abstractas para se conseguir abranger os inúmeros casos concretos. Neste sentido, a única justiça patente neste regime político é a Religião, na medida em que é o único garante do certo e do errado, do justo e do injusto, neste sentido é o sustento e a fonte de toda a base valorativa, sem a mesma não existem valores subjacentes a uma sociedade, tão como se torna inexistente um padrão de valores tornados como universais e mandatários com o objectivo de padronizar o comportamento individual e colectivo. Por conseguinte, é imperativo que a Religião pertença ao foro público e não privado, porque quando se caracteriza por este último transforma-se em superstição. Somente com a referência a Deus o conceito de certo e errado se pode entender. O filósofo ateniense tem plena noção que este tipo de regime não é possível, contudo importa tentar alcança-lo da melhor forma possível. Por outro lado, a Kalipolis não consegue perdurar, na medida em que tudo o que nasce pode ser corrompido, sendo que o mal nasce quando a visão predominante se resvala para a esfera pessoal, subentende-se o interesse privado, e não colectiva. Neste sentido, a propriedade privada é factor impulsionador da corrupção, dado que quando a classe governante deixa de se preocupar com o bem geral e apenas com o interesse individual a sociedade começa-se a degenerar. Perante estes factos, Platão enuncia que uma cidade (Pólis) não pode possuir muita riqueza, pois caí na ociosidade e ganha o gosto pela novidade, nem uma cidade deve ter excessiva pobreza, dado que é o ponto de começo para a criminalidade, sendo assim o ideal é o meio termo entre pobreza e riqueza. Perante estes pontos que referi, a Kalipolis não sustém o meio termo e decaí, degenera para um outro tipo de regime político – a Timarquia ou Timocracia. O regime político de Timocracia, isto é, a classe governante encontra-se apenas preocupada com o interesse próprio, pois procura somente resvalar o maior número de riqueza para si, advém devido ao comportamento das mulheres, na medida em que começam a impor o direito a prendas e dinheiro aos seus maridos, começando deste modo, a tentação ao homem – "essas coisas que as mulheres têm a mania de debitar, como prendas e dinheiro". Chegando a este ponto os governantes apenas se preocupam com bens materiais, apropriando-se de tudo o 5 que consigam e tratando os seus semelhantes – os co-cidadãos – de uma forma depreciativa, como escravos. Contudo, neste regime ainda se mantém algumas características do antecedente, tais como o respeito pelos magistrados e a aversão às profissões manuais, mas a educação definha e, neste sentido a classe sábia já não conseguem distinguir os metais das almas dos indivíduos e orientar os mesmos para as suas profissões ideais e destinadas, caindo, deste modo a sociedade para um foro pantanoso e desdenhoso. Posto isto, o regime degenera-se, existindo menos educação, mais gosto pela riqueza e pela propriedade privada e menos respeito. Ultrapassando estes pontos o regime degenera-se uma vez mais, alcançando a Oligarquia, uma situação em que os governantes, de reduzido número na sociedade, controlam e abusam das massas para seu benefício próprio, neste sentido os pobres são afastados da cidade e dá origem a dois tipos de Pólis, a cidade para os ricos e a cidade para os pobres. Quando se desobedece à lei, sublinha-se aos valores morais emanados pela Religião, para obter riqueza e o mercado selvagem atinge o seu epíteto, a criminalidade é difundida, devido ao excesso de pobreza, como referi em pontos antecedentes, nascida da educação precária dos governantes. Não obstante os ricos são indivíduos cobardes, pois não entram em conflitos armados, porque isso implicava armar as massas e, esta última, possuindo armamento poderia revoltar-se e, os próprios ricos também não querem fazer a guerra, devido às implicações monetárias implícitas. Os governantes tornam-se pessoas avarentas, sem honra e somente com gosto pela riqueza, desprezando as massas e a educação e só pelo receio oupela obrigação é que aparentam ser justos, na sua visão deturpada do certo e do errado. A certa altura as massas, os pobres, ganham "consciência de classe", percebem que se agregarem face a um inimigo comum, os ricos, que os conseguem destituir do poder, na medida em que estes últimos apenas possuem poder e riqueza proveniente do esforço e do lavor das massas que é explorada em prole de interesses pessoais de quem governa. Neste sentido, visto que os pobres não têm nada a perder, dado que não existe educação, leis e efetiva-se uma excessividade de pobreza, estes últimos revoltam-se contra os ricos e tomam o poder, alcançando a Democracia, uma transformação estrutural do regime político antecedente. Em regime de Democracia, o poder foi tomado pelas massas, pelos pobres, e os ricos fugiram da cidade, por conseguinte como o pobre somente está preocupado em se alimentar, dado que não existia condições de vida sustentáveis anteriormente, efectua-se o caos e a anarquia, inexistindo leis, a justiça denota-se fraquejada, ninguém manda nem ninguém obedece, o que se torna importante é a tirania da maioria, constatando-se uma plena subversão valorativa evidente, com o pudor resvalado para o fim das preocupações civis e tornando-se evidente a imbecilidade, confundindo-se a anarquia com a liberdade e a arrogância com a coragem, em suma uma completa desvalorização dos valores. Por conseguinte, os melhores da sociedade, os mais aptos, os antigos metais ouro, não governam, porque como chamam os seus 6 co-cidadãos à razão e, estes últimos, não querem ver a verdade, o poder nunca resvala para os sábios – o pastor é igual ao rebanho. Portanto, quem atinge o poder são os piores elementos da sociedade, os que proferem e argumentam tendo em conta o que as massas pretendem ouvir, são chamados de demagogos. Patenteando-se o excesso de liberdade em que os filhos julgam-se iguais aos pais, os jovens iguais aos mais velhos, a precariedade da lei e a igualdade extrema e quando todos os indivíduos agem como bem lhes apetece, surge um sentimento de apreço pela ordem, pelo autoritarismo e por um líder forte que consiga orientar o caos latente, por conseguinte esse líder é um tirano autoritário – "o tirano, esse líder forte que o povo quer, que vai levar à prosperidade" – começa a sua atuação sempre como um demagogo, o que diz o que os indivíduos não possuem a coragem de o dizer. Neste ponto atinge-se a Tirania, quando um líder forte e autoritário toma o poder, começando por derramar sangue dos seus opositores ou então é morto pelos seus inimigos mais pessoais, caso consiga levar a sua pretensão avante torna-se um tirano completo, que por questão da degeneração fica com valores negativos intrínsecos, dado que se apresenta como um indivíduo de alma metal ouro, mas degenerado pela educação corrompida. O tirano começa a criar guerras por todas as regiões com o objectivo de ser necessário um chefe para governar a sociedade e para derrotar os inimigos, por outro lado também afasta os membros com mais valor deste tipo de sociedade, dado que são constantemente contra o mesmo. Como tal, o tirano rodeia-se de indivíduos desprezíveis, possuindo em toda e qualquer circunstância uma proteção de guardas fortemente estabelecida, na medida em que encontra- se num estado tal de paranoia e é dominado pelos instintos mais básicos existentes na natureza humana, tornando o num indivíduo mau, infeliz, sem amigos e louco, constantemente com o receio de ser morto ou deposto, vendo conspirações em todas as situações e tratando o povo, as massas, como escravos, em suma não possui liberdade, vive em constante sentimento de sobressalto. Este tipo de regime político é o que mais se afasta da Kalipolis, o regime mais puro. Por fim, pode-se mencionar que a "República", onde está patenteado todo este pensamento político de Platão, é um guia de como alcançar o regime ideal e, ao mesmo tempo, é um aviso de como não se operar para se decair na degeneração social e na destruição completa de todas as bases humanas e dos valores intrínsecos ao bom-viver. Aristóteles (384 – 322 a.C.) Aristóteles (séc. IV a.C.) discípulo de Platão, realiza as suas obras como uma reformulação do seu mentor, contudo alterando as ideais centrais e fundamentais do mesmo. Esta personagem 7 histórica tinha como profissão ser médico, o que influenciou em grande parte o seu pensamento e a sua reflexão política. Foi o preceptor de Alexandre, o Grande. As suas principais obras denominam-se: "A Política", ou seja, é a compilação dos apontamentos dos seus alunos nas aulas que dava e, "Ética a Nicómaco", um tratado sobre a ética. Pode-se afirmar que a Teoria Política é uma retoma ou de Platão, ou de Aristóteles, dependendo dos vários teóricos. Para Aristóteles a Política é um processo evolutivo, como já iremos depreender, sendo que evolui do mais básico e simples para o mais complexo e árduo. Em primeiro lugar, a Política surge no Casal, onde se evidenciam os sentimentos/instintos mais básicos do ser humano e, que, segundo este filósofo ateniense, o Casal apenas possui a função da reprodução, neste sentido apenas se pode concretizar segundo uma mulher e um homem, Aristóteles rejeita a homossexualidade, em contraponto com Platão. Em segundo lugar, surge A Casa (Oikos), neste espaço constata-se o Casal com filhos e escravos, onde cada elemento possui uma função própria proveniente da sua natureza, uns nascem para mandar, outros para obedecer. Não obstante, a mulher nasceu para obedecer, visto caracterizar-se, segundo o filósofo, como um ser inferior a que lhe era precária as habilitações necessárias para ser sábia e justa, nesse sentido tem de obedecer ao homem, intrinsecamente. Os escravos são mera propriedade e quem manda são os homens, pois têm sabedoria e todas as qualidades de um líder exímio. A Casa procura a autossuficiência. Em terceiro lugar, surge a Aldeia, que se caracteriza por se constituir como um conjunto de casas. Por fim, apresenta-se a Pólis (A Cidade), a mais importante associação, que ao contrário das antecedentes busca algo mais do que a mera autossuficiência, procura a felicidade e o "Eu Zein", o bem viver. A ciência que governa A Casa é a economia (oikos nomos) e a ciência que governa a Pólis é a Política, nunca ambas se devem misturar. O proprietário da Casa chama-se Déspota, onde não há liberdade, apenas um regime autoritário, em que o homem é que é o líder e todos os outros constituintes lhe devem obediência. Quando a economia e a política entram em uni som deixa de existir liberdade na Pólis, na medida em que apenas no espaço público essa virtude se apresenta. Por conseguinte, o ser humano pela sua natureza política (Anthropos Physei Politik zoon), tem a necessidade de aperfeiçoar as suas capacidades políticas, posto isto é 8 imperativo resvalar para o seio público onde existe liberdade e não reina a tirania e a autocracia da Casa. O ser humano inventou a Política para se patentear liberdade e deixar de haver proprietários e indivíduos autoritários, dado que os políticos apenas são representantes dos seus eleitores e não seus "donos", é o que se evidencia na Pólis, mas não na Casa. Segundo a análise de Aristóteles, o ser humano tanto possui algo de divino, como de bestial/animal. Posto isto, a lei é o único garante da manutenção do bom comportamento dos indivíduos, sem lei estes últimos mostram a sua natureza violenta e desgraçada. A lei é o garante da ordem. Sem leis e sem justiça, o homem é o pior de todos os animais, dado que nem todos os indivíduos são virtuosos e pertence à sua natureza serem caracterizados por qualidades negativas. O filósofo ateniense, criou o conceitode cidadania, participação política, governar e ser governado e possibilitar todos os cidadãos de possuírem algum efeito no processo judicial. Neste sentido, a escravatura era o mecanismo que possibilitava a existência de tempo para que os cidadãos pudessem reflectir e debruçar-se sobre dilemas políticos e a vida da Pólis. Por outro lado, a Democracia era um dado adquirido, porquanto a Pólis caracterizava-se por um pequeno número de pessoas e cidadãos. A Pólis era suficientemente grande para a autocracia, suficientemente pequena para que existisse participação política e para que todos os seus intervenientes se pudessem conhecer para que existisse vigilância mútua. Na perspectiva de Aristóteles, a privação da propriedade privada denota-se como algo extremamente negativo para o Homem e, por conseguinte, à Pólis, uma vez que o ser humano é detentor de dois grandes motivos de interesse e devoção: afectos e propriedade privada. Neste sentido, o filósofo emanava que ambos estão interligados, porque a Homem vê as fontes de afectos (os filhos, as relações interpessoais e a sua mulher), como propriedade de si mesmo (meu filho, minha namorada, minha mãe, meu pai, meu irmão), extinguindo as emoções/afectos o sentido individual da sociedade desvanecesse. As emoções tornam os seres humanos em boas pessoas, o amor e a compaixão, são exemplos dos sentimentos que nascem do conceito de propriedade privada/individual. Os problemas da sociedade surgem com a perversidade do Homem. Para ambos os filósofos, Platão e Aristóteles, possuem duas formas de ver os regimes políticos: • Platão: 9 Com leis Sem leis Monarquia (governo de um) Tirania (governo de um) Aristocracia (governo de alguns) Oligarquia (governo de alguns) Democracia (governo de muitos) Democracia (governo de muitos) • Aritóteles: para este filósofo distingue-se dois tipos de regimes políticos – os puros e os corrompidos – o primeiro, a classe dirigente visa a justiça, as boas leis e a procura da obtenção da satisfação do interesse geral, o segundo consubstancia-se em regimes onde se apenas procura a satisfação dos interesses pessoais da classe dirigente, o povo é tratado como escravos dos decisores políticos e reina as más leis. Puros Corrompidos Realeza (Basileus) (governo de um) Tirania (governo de um segundo os seus interesses) Aristocracia (governo de uma minoria) Oligarquia (governo de alguns segundo os seus interesses) Politie/Governo Constitucional (governo de massas) Democracia (governo de massas segundo os interesses da população pobre) Neste sentido, segundo Aristóteles, dos piores regimes políticos, o mais suportável é a Democracia, enquanto a massa dirigente não apregoar a expropriação da propriedade privada e desde que os indivíduos se possam dedicar aos seus próprios interesses. Os regimes políticos estão condenados à inevitável degeneração interna, isto é, a corrupção da classe dirigente. Por conseguinte, este filósofo defende que o regime idílico realizável seria um que se mostrasse como um misto dos regimes puros, possuindo características dos três, uma vez que um regime desse género é o garante de uma sociedade no centro, entre pobreza e riqueza, visto que ambos os extremos promovem regimes políticos 10 degenerados e à má ação por parte da população. No caso da existência de extremo luxo nenhum dos indivíduos pertencentes à sociedade dirige a mesma e, quem de facto a dirige, comanda-a como um Déspota, ou seja, um líder autoritário e sem consideração pela liberdade. Por outro lado, no caso de extrema pobreza quem é o líder, ou pertence à elite dirigente, não sabe liderar e divide a sociedade em escravos (massas) e donos (elite no poder). Não obstante, segundo estes factores Aristóteles alcança uma teoria que emana o seguinte: a pobreza intelectual está intimamente ligada à pobreza financeira, na medida em que, com pouca riqueza é muito difícil alcançar um alto grau académico e, em segundo ponto, os indivíduos pobres possuem uma mentalidade característica da sua classe, a não promoção de incentivos à procura de uma boa educação, dado que as elites são vistas pelas massas como más pessoas. No momento em que existiam um dos dois extremos referidos o regime político vingado é um dos três seguintes: oligarquia, democracia ou tirania. Por conseguinte, estes regimes promovem a desigualdade, a falta de liberdade e igualdade, sendo que quando as massas alcançam o momento de ruptura em que não detêm nada a perder, visto que são expropriadas de todas as posses e, inclusive, nem comida conseguem alcançar, está dado o fermento inerente ao método subversivo de revolução. Estes extremos alimentam sentimentos radicais, uma vez que é categórico a existência de um mínimo sustentável para todos os habitantes, com o objectivo de perdurar a ordem civil. Em contraponto, nos regimes em que exista uma classe média numerosa, isto é, em maior número que a elite dirigente e as massas, são aqueles onde a estabilidade e liberdade se efectivam, dado que esta última promove o conservadorismo, a manutenção do status quo e, deste modo, consegue controlar as massas ou impedir que as mesmas se revoltem, visto que são em menor número e, por outro lado, impedem o autoritarismo da elite, pois a classe média detém poder sobre a mesma para tal. Uma segunda forma de manter a estabilidade e a liberdade é através da lei, evitando desigualdades. Uma terceira forma é a existência de magistratura, que vigie os comportamentos de todos os indivíduos. Em quarto lugar, deve ser impedido o enriquecimento da elite dirigente. Em quinto lugar, é imperativo tornas as contas públicas do conhecimento público. Em último lugar, é categórico adequar a educação ao princípio da constituição, isto é, inculcar os ideais da classe dirigente na população massificada. Por outro lado, o clima, como a religião, explica o comportamento e a maneira de ser das sociedades: em primeiro lugar, nos climas frios as sociedades são compostas por indivíduos corajosos, porém inferiores intelectualmente e politicamente, apregoam a liberdade, mas são indisciplinados; em segundo lugar, nos climas mais quentes que os anteriores, mais concretamente nos povos asiáticos, as características são de uma sociedade com indivíduos inteligentes, mestres da arte, contudo são escravos perpétuos, apenas sabem obedecer; por fim, os povos de climas amenos, são caracterizados pela sua inteligência, coragem e boas governança. 11 Cícero (106 – 43 a.C.) Marcus Tullius Cicero foi um filósofo do séc. I a.C., e um grande defensor e idealista da República Romana. A sua vida foi percorrida durante o declínio deste regime político idílico, segundo o autor, o que se demonstrou como a sua fatal inimiga, uma vez que, a Cícero foi-lhe cortada a língua e as mãos e, seguidamente, exibido como exemplo para os restantes cidadãos o que se sucede às pessoas que contrariam o poder ao criticar a política sua contemporânea. Neste ambiente reinava a pouca intolerância, como este último facto serviu de prova. As suas principais obras são: "De Republica" – uma réplica de "A República" de Platão – e "De Legibus" – cópia de "As Leis" de Platão. Segundo Cícero, como já foi mencionado era um grande idealizante da República Romana e considerava-a como o melhor regime político que existiu, até então. O filósofo defendia que existia certas pessoas que eram vocacionadas para a direcção do governo e, por conseguinte, o maior acto de patriotismo era esse mesmo. A República Romana combinava os três regimes políticos puros que Aristóteles mencionou e, este regime político demonstrava-se como um misto destes últimos, isto é, a premonição aristotélicado melhor regime humanamente realizável. Não obstante, os três elementos da República Romana que a evidenciavam como a mistura dos regimes puros eram os seguintes: o elemento monárquico (realeza) era materializado pelos magistrados, ou seja, o governo segundo a dicotomia actual, que possuía o Potestas (Poder); o elemento aristocrático era o Senado, os senadores, que como membros deste último, estava concentrado a Auctoritas (Autoridade) e os Patrícios (autores e descendentes de autores da República Romana); por fim, o elemento democrático estava concentrado no povo, as massas e na sua ilusão de poder através do voto, que se apresentava como público para que existisse responsabilização pelo mesmo, simbolizando a Libertas (Liberdade). SPQR (Senatus, Populusque, Romanus). Não obstante, pode-se afirmar que nenhuma das democracias contemporâneas se apresentam como democráticas, stricto sensu, na medida em que as massas não possuem um papel preponderante ou decisor sobre a vida política do regime, por outro lado, a República Romana está na base de todas as democracias ocidentais existentes, contudo muito desfasadas da forma originária. A perfeita representação da República Romana, foi o regime puro e primeiro dos EUA, isto é, o que os Pais Fundadores se debruçaram para realizar e o conseguiram efectivamente, porém até aos dias de hoje já sofreu bastantes alterações, alterando o seu sentido ideal da República Romana. No regime originário dos EUA existia uma elite que depurava as volições das massas, impedindo-as de agirem como bem entendessem, prevenindo ascensões de tiranos. Neste regime os três elementos dos três regimes puros, segundo Aristóteles, estavam 12 presentes, o elemento democrático estava concentrado no povo, nas massas, porém com o contraponto que já mencionei, através da Câmara dos Representantes, uma vez que os seus pertencentes eram eleitos segundo sufrágio universal e directo o elemento aristocrático estava materializado no Senado, que servia como uma contestação do poder popular (Câmara dos Representantes) e, por fim, o elemento monárquico estava materializado na figura do Presidente. Não obstante, hoje em dia este regime já não se encontra como explicitei, na medida em que o regime criado pelos Pais Fundadores sobre imagem da República Romana, não contava com a existência de partidos políticos, que em certa medida, deturparam o equilíbrio existente, dos "check and balances" que se patenteavam, um certo controle de poderes mútuo, o que actualmente já não se denota efectivamente, uma vez que um mesmo partido pode possuir nas suas mãos todos os elementos políticos do regime, o Presidente, Senado e Câmara dos Representantes, retraindo o efeito de ponderação e estabilidade de poderes. Cícero representa a escola de pensamento do estoicismo, ou seja, a convicção de que o universo é uma casa onde habitam os seres humanos e os Deuses, "a pátria comum de todos os seres inteligentes", e na sua origem está a lei natural, em contraste com a lei positiva, ou seja, a lei dos homens, mutável e pública, com o intuito da sociedade controlar a classe dirigente, impedindo-a de ostentar demasiado poder e realizar actos ilegais. Esta lei natural, é a balança interior que permite aos indivíduos separarem o bem do mal, o certo do incorreto, o justo do injusto, porque é algo inculcado nos seres humanos por ação divina, algo superior e com capacidade de um julgamento derradeiro, devido à capacidade racional dos mesmos, dado que lhes é revelado ao espírito a existência figuras divinas. Esta lei não pode ser contrariada por outra qualquer, é o tipo de lei que fundamenta todos os regimes políticos legítimos, sublinha-se, puros, é categórico a desobediência a leis injustas e não naturais (Art. 21 – Direito de Resistência), é possibilitado ao ser humano a contestação a leis não subjacentes à luz do possibilitado pela lei natural. Todo o Homem nasceu com o intuito de alcançar a Justiça, a equidade e a igualdade, todos os seres humanos são iguais, possuem níveis de razão comuns, virtudes e defeitos análogos, não obstante todo o ser humano pode ser aperfeiçoado. São todos estes factores que resvalam para o espírito humano o sentimento de pertença a um grupo comum – a Humanidade – daí o ser humano não ser indiferente a um congénere, todos são co-cidadãos da circunscrição. Por conseguinte, o Homem é possuidor de duas pátrias, a que lhe é impostas pelo lugar onde nasceu, daí não dever de ser possível a descriminação e a segregação, uma vez que não se escolhe a pátria onde se nasce e, em segundo lugar, encontra-se a pátria que se escolhe, a verdadeira e última pátria e que a se deve ser afecto todo o sentimento do indivíduo, segundo Cícero. 13 Santo Agostinho (340 – 430) Aurélio Agostinho, considerado um dos dois pais do catolicismo, nasceu em 340 d.C, no Norte de África em Tagarte e morreu em 430 d.C ao pé de Cartago, vivendo a sua vida no seio do Império Romano. O seu pai era pagão e a sua mãe cristã, não obstante o filósofo não era considerado nenhum santo até aos 34 anos de idade, aquando da sua conversão ao cristianismo, sendo que deixou de ser um indivíduo pecador para um ser merecedor de santidade. Agostinho é contemporâneo do declínio do Império Romano, que caiu em 476 d.C (o Império Romano do Ocidente) o que influenciou o seu pensamento político. Neste sentido, Aurélio em 410 d.C apercebe-se que a invasão visigoda saqueou Roma, lançando um choque extremo da unidade imperial, fragilizando o seu poder sobre os territórios pertencentes ao Império e deflagrando um choque nas populações, que começaram a desacreditar no poder supremo e magnânimo do mesmo. É neste contexto que Aurélio redige "A Cidade de Deus" (De Civitate Dei), com o objectivo de demonstrar os acontecimentos sucedidos e, por um lado, evidenciando o seu pensamento político. A razão do declínio desta unidade política agregadora foi, pela maioria dos cidadãos, atribuída ao cristianismo, uma vez que este tipo de religião estava cada vez mais a alastrar-se dentro das fronteiras deste (em 380 d.C o cristianismo foi considerado a religião do Império). Não obstante, os romanos possuíam uma visão utilitarista da religião, na medida em que consistia, para eles, um "sum game", isto é, uma troca de oferendas às divindades por manifestações positivas para as populações, provocando uma perseguição aos cristãos, dado que estes não detinham esse tipo de considerações da sua religião e, por outro lado, não aceitavam o cargo de Imperador como uma posição divina, resvalando a sua perseguição no foro político e não, como se ousa pensar, no seio religioso. A religião e a política são dois conceitos extremamente estreitos entre si, segundo Santo Agostinho, pois a palavra "Igreja" deriva de Ecclesia (eclésia) uma assembleia popular, sublinha- se de e para os cidadãos, com residência nas Pólis gregas, concluindo que desde a sua constituição, a Igreja foi uma instituição política. Para Agostinho, a Bíblia é um livro predominantemente político, daí a sua redação dos primeiros dez volumes d' "A Cidade de Deus" constituírem uma defesa do cristianismo do paganismo e os outros doze volumes apresenta a sua tese. A tese apresentada por Santo Agostinho no seu livro (413 – 426 d.C) menciona o seguinte: 1. Em primeiro lugar, existem duas cidades que estão em constante conflito – Cidade dos Homens e a Cidade Celestial ou de Deus – sendo que o ser humano encontra no seu interior esta conflitualidade, entre o bem e o mal, o certo e o errado, diluindo a teoria platónica com a Bíblia, num esforço de agregar a teoria das ideias com o estoicismo. 14 Neste sentido, a universalidade do cristianismo apenas foi conseguidapela junção de marcas intelectuais de grandes filósofos com os ensinamentos bíblicos e do grande universo populacional do Império. 2. Em segundo lugar, Santo Agostinho utiliza os ensinamentos da ceita maniqueísta para demonstrar esta dualidade perpétua do ser humano. Por conseguinte, o pensamento maniqueísta expressa que há uma luta interna entre dois princípios, o da luz e o das trevas, sendo a alma uma partícula de luz na escuridão do mundo físico, contudo de modo à alma se tornar pura é imperativo ascender, resvalando, neste ponto com a teoria das ideias de Platão, do dualismo do mundo sensível e inteligível, casando- se com o conceito de Deus, pois este último é imutável e está presente na mente do Homem, ou seja, é o garante da existência do mundo inteligível. • O mundo sensível denomina-se por um espaço onde reina a mutabilidade, é meramente transitório, privado, dos interesses individuais e egoístas, é a fonte de todos os males. Por conseguinte, o pecado original é a prova de que o ser humano tem a tendência para pender à realização de ações maldosas e é por esse facto que a razão deve suprimir a base instintiva. Todo o male provém da centralidade em interesses individuais e próprios, não obstante Deus não detém qualquer culpa neste sentido, uma vez que o mesmo colocou livre-arbítrio no ser humano, ora este último consegue escolher entre o bem e o mal, deste modo, Santo Agostinho respondeu a Epicuro ("Enquanto omnisciente e omnipotente, tem conhecimento de todo o mal e poder para acabar com ele. Mas não o faz. Então não é omnibenevolente. Enquanto omnipotente e omnibenevolente, então tem poder para extinguir o mal e quer fazê-lo, pois é bom. Mas não o faz, pois não sabe o quanto mal existe e onde o mal está. Então ele não é omnisciente. Enquanto omnisciente e omnibenevolente, então sabe de todo o mal que existe e quer mudá-lo. Mas não o faz, pois não é capaz. Então ele não é omnipotente"). • O mundo inteligível define-se como sendo o espaço imutável, das ideias e do modelo para os Homens. 3. Em terceiro lugar, uma vez que o ser humano é tendencialmente pecaminoso, esse facto implica consequências políticas, pressupondo a teoria das duas cidades em conflito de Santo Agostinho, na Cidade Celestial o governante é Deus, onde habita uma paz verossímil e o bem universal, por outro lado, na Cidade do Homem, predomina o mal, as trevas e a preocupação una dos interesses pessoais, sendo que é impossível a habitação da paz e prosperidade, o que significa a predominância de um 15 poder que seja o garante, ou atenuante, destas características negativas, sendo o Poder Político, ou seja, a sua origem é negra, pois a sua exigência e necessidade deriva do pecado original, do mal e das trevas, para difundir a paz, o controle, como um representante de Deus na Cidade do Homem. 4. Por fim, Santo Agostinho menciona ainda que o Poder Político apresenta três vertentes da sua função: • Oficio de mandar: poder dever, isto é, quem é detentor do mesmo serve um propósito e um objectivo específico, o aumento das condições da sociedade; • Oficio de providência: satisfazer as necessidades daqueles que são comandados; • Oficio de aconselhar: concelheiro do povo. O pensamento de Santo Agostinho esteve no centro da análise de Lutero e dos seus ensinamentos. Por conseguinte, os Pais Fundadores dos EUA, protestantes de religião e iluministas, demonstram concretamente a reflexão de Agostinho nos "Federalist Papers" – "a necessidade de governo é um mal, mas essa necessidade existe, aquilo que temos a fazer é encontrar o sistema de governo menos mau do que os outros". São Tomás de Aquino (1226 – 1274) Nasceu em 1226 e morreu em 1274, sendo considerado o segundo pai do catolicismo. No séc. XIII, existe uma série de acontecimentos que vão influenciar o seu pensamento e, deste modo "determinar" as suas reflexões, tais como: 1. A criação de letras de câmbio, fomentando o comércio, o que leva à apropriação de riqueza e, consequentemente ao egoísmo humano; 2. O surgimento de grandes universidades, difundindo as ideias e propagando a educação académica; 3. O grande movimento que congrega a razão e a fé (escolástica); 4. Coexistência com a preponderância de poder do Sacro Império Romano- Germânico no seio europeu. 16 Aquando da Idade Medieval, que começa com o fim do Império Romano do Ocidente (476 d.C), muitos dos escritos e pensamentos de grandes filósofos e pensadores foram perdidos, dado que se restringiu o acesso à academia e do liceu, porém muitos desses documentos encontravam-se na grande Biblioteca de Alexandria, até ser queimada. Não obstante, os árabes e os judeus conservaram esses ensinamentos e no séc. XIII, foram as reflexões de Aristóteles que foram disseminadas e trazidas para a Europa pela mão de Al-Andalus, uma região árabe que se localizava na península ibérica e era um grande interposto comercial. Aquino utiliza o pensamento de Aristóteles para expor as suas próprias reflexões. As principais obras de Aquino são: "Do Reino", "Comentários à Política de Aristóteles" e "Summa Teológica". Por conseguinte, o filósofo italiano, menciona que a política nada tem em relação com o pecado original, pois a sua origem é puramente racional, uma vez que o poder abstracto provém de Deus e o poder concreto da natureza humana, inspirando-se na transferência dos dez mandamentos de Deus para o ser humano (Moisés), ou seja, foi o Homem que concretamente colocou em vigor o poder abstracto. Neste sentido, para existir poder político é categórico a inclinação natural do ser humano para a existência em sociedade, do sentimento comunitarista de pertença a uma unidade superior ao indivíduo, sendo que este apenas existe como pertencente de um todo e deve contribuir para o bem-estar deste último. Por outro lado, o ideal individualista apenas nasce aquando da Revolução Francesa (1789). Não obstante, é igualmente imperativo a determinação de um elemento voluntário para a existência de poder político, isto é, o consentimento dos membros da sociedade, no momento em que esse factor não se verifique é legítimo depor o governante, revelando uma autêntica e plena relação contratual entre sociedade e governante. Por exemplo, o monarca era legitimado pelo contracto entre as Cortes e o mesmo, neste sentido se este último não fosse reconhecido pelo povo era deposto, num movimento chamado monarcómaco. Esta ênfase ao poder de quem é governado impossibilita a anulação por parte do poder político à autonomia e independência dos grupos que pertencem à sociedade. O pensamento de Aquino está na génese da Doutrina Social da Igreja Católica (séc.XIX) escrita pelo Papa Leão XIII (1891), como contraponto ao imparável movimento do proletariado, tendo como linhas ideológicas as reflexões de Karl Marx, patenteadas no "Manifesto do Partido Comunista" (1848) em conjunto com Friedrich Engels e no "Das Kapital" (1867). Neste sentido, a doutrina emanava que o Estado deveria de intervir na sociedade aquando na incapacidade dos grupos pertencentes à mesma de satisfazer os seus objectivos e em situações de extrema crise, caso estas duas situações não se verificarem não existe papel na intervenção do Estado na sociedade. Não obstante, Napoleão III e Bismarck foram dois governantes europeus pós- marxismo que implementaram medidas intervencionistas para atenuar o movimento despoletado pelo pensamento de Karl Marx. 17 Por outro lado, Doutrina Social da Igreja Católica influenciou em grande medida o princípio da subsidiariedade que regula a UE, na actualidade, e que esteve nos contornos originários da CEE, visto que os seus fundadores eram democratas-cristãos,apoiados pela igreja protestante e católica, na medida em que este princípio se baseia numa intervenção do Estado atenuada e nos mesmo moldes das características da doutrina, algo institucionalizado após o Tratado de Maastricht (1992). Maquiavel (1469 – 1527) Niccolò di Bernardo dei Machiavelli, nasceu em 1469 em Florença e morreu em 1527. Por conseguinte, durante a sua vida, o autor, viveu conturbado com a ideia da unificação italiana, isto é, unificar os reinos do Norte, do Sul e de Roma, daí ter realizado a sua mais enigmática obra "O Príncipe", tendo o objectivo de descrever a estratégia desse ideal, neste sentido, pode-se afirmar, a título informal que Maquiavel foi o precursor do nacionalismo, com mais de trezentos anos de antecedência. Por sua vez, o seu desejo é concretizado em 1861. Quando o Império Romano do Ocidente se desconfigura, em 1476, a Igreja Católica começa a centralizar o seu poder sobre vários territórios, ao anexa-los a Roma, neste sentido, estendendo a influência territorial cristã de uma costa à outra da península itálica, no sentido vertical, tendo Roma como capital. A península itálica ao longo da História é ocupada por vários povos e representava um polo de interesses para potências europeias como, o Sacro Império Romano-Germânico, a Espanha e a França, usufruindo do seu poder para intervir na região itálica. Não obstante, é neste contexto que Maquiavel se encontra. Avançando um pouco na linha histórica, visionando a unificação da Itália e os seus antecedentes, a Revolução Francesa de 1789, repercutiu inúmeras consequências para a península, nomeadamente as invasões napoleónicas, que se demonstraram como forças de "libertação da nação", utilizando o nacionalismo como instrumento para se depurar a liberdade. As sementes nacionalistas deixadas pelas invasões produziram efeitos em 1848, aquando da Primavera dos Povos, que levou à unificação italiana em 1861, pela mão de Vítor Emanuel II, o posterior Rei da Itália unificada (Veneza é agregada em 1866 e Roma em 1871). Nicolau, escreve "O Príncipe" em 1513, tão como "Discussões sobre a Primeira Década de Tito Lívio), contudo ambas as obras apenas são publicadas em 1531, devido à censura da inquisição. A primeira obra exorava a libertação e unificação italiana e a segunda uma "ode" ao patriotismo e à virtude. Em 1520, publica "A Arte da Guerra". 18 Maquiavel, é um dos poucos, se não o único, teórico político clássico, que influenciou em grande medida o pensamento político subsequente, que não pertencia a uma elite, isto é, Nicolau Maquiavel provém de uma família posicionada nos patamares mais baixos da hierarquia social. Em 1434, a família Medici instala-se no poder, permanecendo no mesmo durante 60 anos, isto é, até 1994, contudo o governo desta família não se enquadrava com os interesses franceses, por conseguinte o governo francês invade Florença e manda exilar a família em questão. De seguida, entre 1494-98 o padre Savonarola instala uma república teocrática em Florença, sendo que era um acérrimo crítico da ostentação de luxo e depravação da família Medici. Por outro lado, Savonarola detestava, igualmente o Papa Alexandre VI, da família Bórgia, uma vez que o mesmo possuía diversos filhos e, estando este num cargo papal, é imoral e pecado deter filhos. É neste sentido, que o autoritário Savonarola implementa os actos de fé em Florença, ou seja, a condenação religiosa de um individuo ao acto de ser queimado vivo numa fogueira, localizada numa praça pública. Contudo, Savonarola, acaba por ser julgado e condenado à mesma sentença, aquando da sua deposição do poder. Em 1498, Florença atinge o patamar de uma república, liderada por Soderini. Por conseguinte, em prol da estreita ligação entre este dirigente político e Maquiavel, este último, consegue deter um emprego na administração da cidade, o cargo de Secretário da 2º Chancelaria, que agregava as pastas das RI, guerra e interior. Por conseguinte, é neste cargo que Nicolau se dirige a vários países europeus (França, Sacro Império Romano-Germânico, etc.) em delegações diplomáticas e, é nestas viagens laborais, que Maquiavel conhece o Papa Alexandre VI e um dos seus filhos, César Bórgia, sendo que este último inspira Maquiavel a realizar a obra "O Príncipe". Em 1512, Espanha apreende que Soderini não constitui uma mais valia aos interesses espanhóis, é nesse sentido que o "obrigam" a depor do cargo e trazem os Medici do exílio para de novo governar. Não obstante, Maquiavel perde o seu estreito "contacto" que lhe possibilitou o cargo público e, por sua vez, perde-o e é exilado, escrevendo "O Príncipe" enquanto no exílio, dedicando-o a Lourenço di Medici, como manobra de evasão para lhe ser retirado o afastamento de Florença e voltar a pertencer ao governo público. Em 1527, os Medici são depostos pela França e é neste ano que Nicolau Maquiavel morre. Maquiavel, é considerado por muitos o "Pai"/inspirador da escola realista na área das RI. O autor florentino, separa definitivamente o poder político da religião, dizendo que ambos são indissociáveis, uma vez que, o poder político está num patamar muito mais superior que o da religião. 19 Para Maquiavel a política é a arte, ou técnica, para a aquisição, manutenção e aumento do poder. Não obstante, é o valor mais elevado de todos os outros, é um jogo de soma-zero (zero sum-game), isto é, quando uma parte ganha a outra perde o correspondente ao ganho do congénere. O Príncipe, o líder político de Maquiavel, deve ter como volição o bem do Estado e não o meramente pessoal, sendo que a política serve única e exclusivamente para fundar uma república, governar num reino, constituir um exército, administrar a Justiça, aumentar o Império, fazer a guerra (principal actividade e ferramenta para o Príncipe atingir o poder) e manter o Estado etéreo (Maquiavel é o criador da palavra "Estado"). O Estado define-se pelo "o que está", ou seja, todos os senhorios que tiveram ou têm poder sobre os homens são Estados. Nicolau parte do pressuposto que o ser humano é um ser mau, maquiavélico, por natureza, o que possui reprecurssões para o modo de governo de um ser desta forma, leva a uma apropriação do poder e execução do mesmo de forma autoritária. O Homem, na perspectiva de Maquiavel, encontra-se constantemente em competição pelo poder, neste sentido se nenhum individuo se destacar e tomar as rédeas do poder, não existe governo, ordem, reina a anarquia e a instabilidade. Por conseguinte, o Príncipe tem de ser uma pessoa que emane a ordem na sociedade, através de um poder autoritário e, desse modo, extinguir com a anarquia social latente. Então, é categórico que o Príncipe possua as determinadas características: • Realista: um indivíduo que seja capaz de conceber a realidade como ela é e não viva em constantes ilusões ideológicas; • Egoísta: o poder é um monopólio do Príncipe, sempre tendo em vista o bem do Estado; • Calculista; • Julgado pelos que o rodeiam: quem o rodeia tem de possuir uma conduta igual à do Príncipe, no sentido em que apenas deve pensar no bem do Estado e não no próprio, neste sentido quem o rodeia, se se não reger por estes ideais, o Príncipe é o julgado pelas massas; • Indiferente perante o bem e o mal; • Dissimulado: "é sempre fácil encontrar alguém a quem enganar, quando existem necessidades", ou seja, é imperativo que o Príncipe pareça clemente, fiel, humano, religioso, sincero. É neste sentido que o líder revela uma imagem que mesmo 20 que não seja a sua inerente, é a que as massas pretendem num dirigente, pois a mesma é muito facilmente iludida e anda constantemente em busca da opinião da maioria, isto é, se a maioriaresvalar para uma certa característica de um líder, o restante da população irá no mesmo sentido. Não obstante, a pequena minoria que possui uma ponião diferente da maioria apenas é ouvida quando esta última não sabe em qual partido escolher. Neste sentido, é muito fácil controlar o grande número, indo de encontro com os seus interesses e na máscara da imagem; • Ostentação de grandeza; • Corajoso e convicto; • Firme nas decisões. O Príncipe deve ser alguém que domine todos os pontos antecedentes, uma vez que existem dois tipos de combate latentes: 1. Combate pelas Leis: o governante deve ser Raposa (astuto, manhoso e flexível), de modo a evitar armadilhas, pois o Direito é o produto da vontade de quem manda; 2. Combate pela Força: o Príncipe deve ser Leão (forte, firme e convicto) para se defender dos Lobos (os outros governantes e a oposição). O autor florentino, depreende que é categórico o Príncipe deter todas estas características e condições para governar, dado que o estudo do passado possibilita uma previsão, ou antecipação, dos comportamentos futuros, podendo-se retirar máximas e regras a seguir, aquando na posse do poder político, como: • "Aquele que permite alguém tornar-se poderoso faz a sua própria desgraça"; • Um Príncipe, ou um futuro Príncipe, deve ascender ao poder utilizando alguém poderoso, pois um líder apoiado em alguém forte possui sempre mais problemas em manter-se no poder, do que quando se eleva apoiando-se em alguém fraco (povo); • À ascensão política segue-se a decadência, é imperativo ser-se inteligente para se sair do poder no momento correcto e mais benéfico; • Os principais pilares de todos os Estados são as boas leis e as boas armas e não há boas leis, sem boas armas; 21 • Os homens hesitam menos em prejudicar alguém que é amado do que alguém que é temido, mas não odiado ou desprezado, na medida em que o amor se quebra, contudo o medo é uma constante; • O povo não quer ser oprimido, porém quando recebe algum "incentivo", um sinal das boas graças do líder, mesmo menor que seja, o mesmo fica subserviente ao Príncipe; • Quando os homens recebem algum bem-vindo do que apenas esperavam mal, ganham reconhecimento; • Os Príncipes devem confiar aos outros, sublinha-se ministros, as competências de anunciar as medidas que suscitam rancor e ódio, numa manobra de evasão para o líder, pois a ele deve ser incumbido o anúncio das medidas mais vantajosas e benevolentes, com o intuito de ganhar reconhecimento nas massas; • Ninguém abdica de um ganho presente para um futuro; • "Se queres a paz, prepara-te para a guerra". A política, na perspectiva de Maquiavel é a convergência de três pontos: 1. Virtude: a vontade de deter o poder; 2. Necessidade: o Homem só realiza o bem quando pressionado pela necessidade; 3. A fortuna: constitui-se como um resíduo irracional, mas é responsável por metade das ações. A fortuna, ou sorte, em analogia é a mulher, então é imperativo submeter a mesma e trata-la com firmeza, uma vez que as mesmas são mais atraídas pelos homens mais jovens, porque são menos respeitadores e mais ferozes e audazes. Por fim, o objectivo último do pensamento político de Maquiavel era demonstrar uma estratégia eficaz, na sua perspectiva, de como um Príncipe, um líder político com todas aquelas virtudes e seguindo de perto todo a obra, "O Príncipe", conseguiria unificar a Itália. Por conseguinte, na opinião de Nicolau, o Papa era demasiado fraco para se demonstrar digno de ser Príncipe. 22 Jean Bodin (1530 – 1596) Jean Bodin, nasceu em 1530 e morreu em 1596, na França, tendo vivido toda a sua vida nesse país. O filósofo realizou a sua academia em Direito e provinha de uma família burguesa. Não obstante, foi o teórico que concebeu o conceito de soberania, tal e qual como se apresenta na contemporaneidade. O tempo histórico contemporâneo a Bodin, séc. XVI, caracteriza-se por um período assaz conturbado por um conflito entre duas forças religiosas, por um lado os Protestantes, por outro os Católicos, originando a Reforma e a Contra-Reforma, como acontecimentos chave para esse desembocar de conflitos em larga escala entre ambos os partidos do mesmo. A Reforma possui o seu início em 1517, quando Lutero afixou na sua igreja as "95 Teses Herécticas", emanando um protesto claro sobre vários princípios que da doutrina da Igreja Católica Romana, propondo uma reforma da mesma. Por outro lado, a Contra-Reforma inicia-se em 1545, como combate à Reforma de Lutero, que a partir no seu ponto de partida ganhou seguidores, os chamados Protestantes. Jean, vive num contexto político e social, que durante cerca de 40 anos se evidenciam inúmeros conflitos religiosos entre católicos e protestantes. Por conseguinte, é neste contexto que surge a necessidade da criação de um conceito chave que iria concomitantemente extinguir tais atritos, esse conceito era o de Soberania, de modo a colocar ambos os partidos do conflito em paz. Torna-se imperativo referir outra personagem histórica de grande papel nos acontecimentos desembocados na França do séc. XVI, Jean Calvino (1509 – 1564), em França tenta difundir os seus ideais e pensamentos, contudo não consegue, uma vez que a perseguição aos indivíduos protestantes se fazia sentir no seio francês e sendo Calvino um protestante, tornou-se categórico a saída do mesmo do país, dirigindo-se para Genebra, local onde pregou a sua palavra. Em pontos genéricos o seu pensamento consiste nos seguintes pontos essenciais: 1. O Estado deve estar subordinado à Igreja; 2. Oposição categórica às indulgências; 3. Aceitação do capitalismo, isto é, a interpretação bíblica de que Deus reconhece o esforço dos homens em quererem prosperar e possuir riqueza, no entanto, rejeita a ostentação da mesma. 23 Os seguidores da doutrina de Calvino eram denominados de Huguenotes, indivíduos da ordem caracterizada pelo nome de nobreza. Em 1562, inicia-se os conflitos religiosos em França, daí o secularismo intensivo e enraizado no Estado actual. Neste contexto, patentearam-se diversas lutas de poder entre católicos e protestantes, desembocando na Conspiração de Amboise, em 1560, entre os Huguenotes, liderados por Henrique de Navarra e, do outro lado, os Bourbon. O líder que encabeçava o movimento protestante detinha como ambição usurpar o poder de uma grande família católica, os Guise, entanto a conspiração foi descoberta e os conspiradores, sublinha-se os protestantes, foram massacrados. De seguida, o apaziguamento foi encontrado pela mão de L´Hôpital, o Primeiro Ministro francês, em que o mesmo em 1561 proclama a liberdade de consciência aos protestantes e em 1563, a liberdade de culto público. Em 1572, efectiva-se o massacre de Santo Bartolomeu, em que os Huguenotes são mortos em massa pelos católicos, com o pretexto de que o casamento de Henrique de Navarra com Margarida de Valois, irmã do Rei Carlos IX que irá morrer em 1574, foi realizado apenas pelo interesse de Henrique de Navarra se apropriar do poder da coroa. Os orquestradores deste acontecimento violento foram, o Reis Carlos IX, o Duque de Guise (Henrique) e, pelo futuro Rei de França, Henrique, o futuro Henrique III. Às mãos deste massacre morreram mais de 70 mil pessoas, porém Henrique de Nevarra escapa. Em 1576, o palco francês encontra-se tripartido em facções distintas, tais como: • Santa Liga: facção católica, cujo objectivo resume-se no fim da existência de protestantes no território francês e colocar o Henrique de Guise no trono, por sua vez o líder deste movimento. Nesta altura também se efectivou a proibição do culto protestante; • Protestante: encabeçada por Henriquede Navarra; • Les Politiques: fação católica moderada, liderada pelo irmão de Henrique III, François e L´Hôpital. É neste ano de 1576 que Jean Bodin, o principal teórico da facção “Les Politiques”, realiza e imprime a sua principal obra, "Seis Livros da República", no qual se evidenciava sinuosamente o conceito de Soberania, sendo que seria o mesmo, a "faísca" possível para a efectivação da ordem na França. Não obstante o conceito resume-se no seguinte: o poder absoluto e perpétuo de uma Res Publica. Deste ponto de partida, Jean Bodin chegou à conclusão que o garante da ordem e da paz no palco francês seria, uma completa e incisiva divisão do Estado e da religião, 24 sendo que o primeiro era possuidor de Soberania, detendo o poder autoritário na sua posse, como garantia da propagação da ordem, em plena alegoria com, Estado visto como religião laica capaz de ordenar todas as outras religiões. Alguns anos depois de 1576, em 1587, após a morte de Carlos IX a casa real francesa apresenta-se com um dilema substancial e estrutural, em que não existe um herdeiro para suceder ao falecido e deflagra, entre 1587 – 1589, a "Guerra dos Três Henriques", perpetuada por Henrique III, Henrique de Navarra e Henrique de Guise. O Duque de Guise é assassinado em 1588 por Henrique III e este último é morto por um fanático católico, ficando vivo Henrique de Navarra, o proclamado Rei de França, em 1589. Henrique de Navarra não era reconhecido como Rei de França, tanto pelos católicos franceses nem pelo Papa, é neste sentido que o mesmo se converte ao catolicismo, com o intuito de apaziguar as tensões entre protestantes e católicos e conseguir deter o poder real francês, sendo reconhecido por essas duas entidades supramencionadas em 1595. Henrique de Navarra concedo igualdade de direitos políticos aos protestantes e legalidade de culto nas cidades de maioria desta última. Não obstante, este Rei, foi o primeiro monarca absoluto, com uma visão claramente agregada com Jean Bodin, sendo assassinado em 1610. Entre 1624 e 1642, Richelieu é o PM francês e compreende a grande ameaça latente para a França, ou seja, uma Alemanha unificada, focando todos os seus esforços para que tal não aconteça. Relativamente às liberdades concedidas por Henrique de Navarra aos protestantes, Richelieu extingue com a igualdade de direitos políticos dos protestantes. Em 1685, com Luís XIV no trono, acaba com a tolerância religiosa para com os protestantes, algo que só voltará em 1789, pela mão da Revolução Liberal. Para Jean Bodin, a Res Publica é: um governo bem ordenado de um certo número de famílias e daquilo que lhes é comum, como por exemplo as leis, os costumes e o tesouro, subjacente a um poder soberano. Por conseguinte, segundo Bodin o fim primeiro da Res Publica é a Justiça e a perpetuidade da mesma, sendo que o elemento essencial é a família que deve fidelidade e obediência ao chefe da mesma. Quando os indivíduos saíem do espaço da casa são cidadãos da Res Publica, sendo que se patenteia uma subjugação e obediência ao Soberano, que em troca submissão resvala justiça e protecção, numa obrigação mútua. A Res Publica assume a diversidade interna das várias comunidades que apoiam o Soberano, dado que cada indivíduo é detentor de autonomia. Neste contexto a soberania é 25 absoluta e perpétua, isto é, não é algo temporário e não pode ser revogado, revelando a continuidade no tempo da entidade Estado. Neste sentido, a soberania é atribuída de forma incondicional e indivisível e o Soberano é o representante de Deus na Terra, significando que o mesmo cria as leis e que não é obrigatório o próprio respeitar as mesmas. O Soberano encontra- se acima das leis humanas, dado que é o próprio que as faz. Não obstante, o Soberano deve-as cumprir em jeito de exemplo, contudo o Estado não possui limites ao seu poder, caso contrário pode implodir e os tempos dos conflitos religiosos recorrentes voltam. Mesmo que o Soberano se torna um Tirano é impossível ser deposto. Por outro lado, Jean Bodin, ainda afirma que a religião deve ser algo praticado publicamente, uma vez que a prática resguardada para a esfera pessoal, consequentemente origina conspirações. Bodin, afirma que o poder absoluto não reconhece igual na ordem interna nem superior na ordem externa, sendo que para o filósofo este conceito detém várias atribuições: 1. Fazer leis vinculativas sobre os súbditos quer no geral, como no particular sem o consentimento de outrém e muitas das vezes mesmo indo contra a vontade dos mesmos, com a consequência de se patentear actos coercivos caso o incumprimento destas leis; 2. Fazer a guerra e a paz; 3. Cunhar moeda; 4. Julgar em última instância acima da lei positiva e dos magistrados; 5. Cobrar impostos; 6. Conceder amnistias; 7. Direito de vida e de morte sobre os cidadãos. Jean Bodin, por fim, emana que o poder do Soberano possui alguns limites, caso o mesmo queira se reger por eles, que são: 1. Leis de Deus e da Natureza; 2. Leis Humanas que são comuns a todas as nações; • Leis constitucionais do Reino, tal como a Lei Sálica, que impede as mulheres de puderem ser coroadas monarca de um reino; 26 • Leis que habitualmente necessitam do consentimento dos três Estados (Clero, Nobreza e Povo); 3. Respeito pela propriedade privada, sem justa causa. Thomas Hobbes (1588 – 1679) Thomas Hobbes nasceu em 1588 e morreu em 1679, com 91 anos de idade. Logo a partir do seu nascimento, Hobbes acredita que já estava predestinado a viver com medo, uma vez que quando a sua mãe estava grávida do autor inglês, ela soube das notícias que a armada marítima espanhola se encontrava nas águas britânicas. Nesse sentido, o filósofo depreendeu que o seu nascimento prematuro, proveniente, segundo Hobbes, das notícias que a sua progenitora recebeu, causou consequências para toda a pessoa que é Thomas Hobbes, chegando a pronunciar que “ao nascer, a sua mãe deu à luz gémeos: Hobbes e o medo”. Hobbes viajou um pouco por todo o continente europeu, chegando a ser exilado em França. As suas obras são o sustento do apoio a um governante da Grã-Bretanha, Cromwell. O contexto histórico em que Thomas viveu foi um bastante conturbado em que uma série de conflitos se patentearam, nomeadamente o conflito entre parlamentaristas e monárquicos. Não obstante, este último acontecimento levou à vitória das forças parlamentares, lideradas por Cromwell que instituiu, após a guerra civil, de 1649 a 1653 uma Respublika na Grã-Bretanha, chamada de “Commonwealth”, eliminando a monarquia e condenando Carlos I à morte e levando as ilhas britânicas a um sistema parlamentar. Posteriormente, entre 1653 a 1659, o governante torna-se o “Lord Protector do Reino” e transforma o seu domínio na Respublika dos Santos, considerado por alguns autores como o primeiro caso de um regime totalitário na história, na medida em que o regime parlamentarista foi abolido e o Cromwell concentrou em si todos os poderes, tão como lidava de forma bastante violenta com a oposição. O Governante, aquando do poder, expurgou inúmeros indivíduos, com o pretexto de os libertar dos seus pecados mortais, chegando a matar pelo menos 30% da população irlandesa da época. O conflito entre Monarquia-Parlamento e a Guerra dos 30 Anos, foram pontos decisivos para o pensamento teórico de Hobbes. Este último, escreveu muitas obras, das quais se destaca as seguintes: “Elements of Law” (1640), “De Cive” (1642), “Leviathan” (1651) e “Behemot” (1654). Estes dois últimos títulos são ambos retirados de nomes bíblicos. Sendo que, Thomas é muito inspirado em ensinamentos da bíblia. O seu pensamento político tem início com uma visão lógica e processualda história, dado que, Thomas Hobbes revela o estádio primário em que o ser humano viveu na antiguidade e que pode vir a reviver, caso existam circunstâncias para tal. Neste sentido, o Estado de Natureza, é o 27 ponto de partida do Homem, um estádio em que não existia poder político, patenteava-se uma igualdade de facto entre todos os indivíduos, reinava a “lei do mais forte”, isto é, o detentor de mais força física é o que subjuga os mais fracos e, por conseguinte, o ser que detém mais poder dentro do conjunto dos seus congéneres. Todos os Homens seguem os seus próprios interesses individuais, daí, Hobbes considerar que o Homem neste estádio se encontrava em guerra perpétua com o Homem. Não obstante, todos os indivíduos desejam adquirir os mesmos bens, revela-se uma desconfiança mútua e o recurso à força como meio para atingir os fins. Em suma, não há lei acima do Homem. No momento em que os indivíduos deixam de se sentirem confortáveis, ou seja, possuírem um emprego, comida no estômago e capital há um foco exímio apenas no acto de sobreviver, a moralidade perde-se, as leis deixam de existir e os Homens decaem, mais uma vez, para o seu estádio de natureza latente. Em busca da sobrevivência a moralidade deixa de fazer efeito. O que se conclui, que o Estado civilizacional que todos nós tomamos por adquirido é extremamente frágil. Retornando a Hobbes, o Homem não possui quaisquer tendências para a associabilidade, o “Homem é lobo do Homem”, por outras palavras, todos os indivíduos odeiam-se reciprocamente, têm o desejo perpétuo e sem tréguas de adquirir o poder, apenas a morte é possível de cessar tal busca. Para Thomas o poder político é o conjunto dos meios empregues para obter uma vantagem futura e aparente. O filósofo inglês foi o primeiro e único contractualista que apresentou o Estado de Natureza como algo factual e, numa das três situações que o mesmo apresenta, pode-se voltar a restituir: 1. Guerra-civil; 2. Anarquia; 3. Sociedade primitivas; A característica humana que promove a saída deste estádio, é a razão, isto é, descobrir os meios mais adequados para alcançar os fins que se deseja e agir segundo os interesses, tendo o ideal de conservar a vida como o mais primário e importante. Logo, o medo da morte é o catalisador para a fuga do Estado de Natureza, uma vez que, não havendo lei moral, reinando a “lei do mais forte” e com a sociedade civil em constante conflito, a morte é algo bastante presente e evidente. Neste sentido, a razão nasce da necessidade. Os indivíduos chegam à conclusão que na ausência de lei e de um poder comum é 28 inexequível a prosperidade e a paz, estando o medo sempre latente, o medo de morrer. Neste sentido, entre os mesmos, alcançam um contracto com um Leviatã, um Deus mortal, Homem artificial em que a arte do mesmo imita a arte de Deus, cujo objectivo consubstancia-se em promover essa tal segurança e garantia da paz entre os Homens. Hobbes faz uma distinção bipartida do Estado, o Corpo é a sociedade civil e a Alma é o poder soberano, nas mãos do Leviatã, ou seja, a alma é o que comanda o corpo e, este último, meramente obedece. O objectivo do contracto é que o Leviatã extinga com a insegurança e garantir o que o Estado de Natureza não permite, a paz, prosperidade, defesa dos indivíduos e ordem. O Leviatã tem de garantir dois pontos vitais: (i) a vida e (ii) a propriedade privada, sendo que todos os direitos individuais no anteposto EN são resvalados para o Leviatã, nomeadamente a liberdade. Para Hobbes o “dinheiro é o sangue da cidade”, ou seja, é o trabalho árduo da população e a “opinião é sedição”, isto é, promove a revolta popular e entra em contraponto com o poder forte do Leviatã. O poder soberano exposto pelo filósofo inglês, é constituído por certas e determinadas características emanadas no Convenant (contracto). Este último é concluído por todos os indivíduos entre si e não entre as massas e o Leviatã, daí o poder deste estar legitimado pelo Convenant e não pode ser retirado. Todo o poder e todos os direitos dos indivíduos são colocados na posse do Leviatã, pois este está acima dos Homens, que renunciam a inexistência do contracto com o receio de propulsar o EN novamente. O soberano é a única pessoa, física ou jurídica, capaz de potenciar tais efeitos. Os indivíduos fundem-se na Commonwealth (Estado), apenas possui uma vontade, a do Leviatã e devem obediência a este último que, por sua vez, é o dirigente das ações dos Homens para o bem comum, mantendo estes últimos controlado por actos coercivos negativos e perpetuando o medo de tais efeitos. Segundo Hobbes, o poder soberano detém três características: 1. Irrevogável: o poder não pode ser restituído para os indivíduos novamente, refutando com as teorias contractualistas em lato sensu; 2. Absoluto: o Leviatã é o ser que depreende a distinção entre o bem e o mal, o correcto e o incorrecto, daí a total obediência dos Homens no mesmo, pois estes transferiram todo o seu poder, os seus direitos e as suas vontades ao soberano. Neste sentido, o Leviatã não é submetido a leis humanas nem eclesiásticas, existindo uma autêntica distinção entre soberano e súbditos; 29 3. Indivisível: acumulação de poderes sobre uma única pessoa, física ou jurídica; O Leviatã é detentor de ambos os poderes, tanto temporal como espiritual, daí que a imagem perpetuada na obra “Leviathan” seja um homem empunhado numa mão uma espada (poder temporal – poder político) e na outra um báculo (poder espiritual – poder religioso). Sendo uma mesmo ser o possuidor de ambos os poderes. Francisco de Vitória (1485 – 1546) Nasceu em 1485 e morreu em 1546, era um padre dominicano e era o titular da cátedra de teologia da Universidade de Salamanca, sendo o expoente máximo da neoescolástica. Para Vitória o poder político é distinto da graça e do pecado original. Daí o Papa, segundo a sua perspectiva, não poder ser detentor de qualquer legislação sobre questões políticas, apenas se pode remeter aos problemas religiosos. O poder político possui origem humana e no direito natural, concretiza-se nos diferentes povos. A origem natural significa que, o poder vale por si próprio, e independente da vontade humana, sendo que o que é correcto ou errado não detém validação da volição ou do pensamento do Homem. Em contraponto o direito positivo, não passa de uma inserção do direito natural num respectivo tempo e num espaço, porém as aplicações práticas podem-se alterar dependendo das circunstâncias. Neste role de pensamento, uma lei é injusta quando as suas conclusões não acompanham o direito natural, logo, face a estas detenções do direito positivo injusto os indivíduos detêm o direito à resistência, através da guerra justa. Este conceito é estudado já por Cícero, sendo que para o mesmo a guerra que vem ou que foi de legítima defesa é justa e para Santo Agostinho, desde que a guerra possua como objectivo a paz e a defesa do bem é considerada justa. Segundo Francisco de Vitória o direito natural pode ser depreendido racionalmente, mesmo que os governos ou os governantes o tentem esconder dos olhos populares. Qualquer povo, por direito natural pode constituir uma Respublika (direito à auto-determinação), pois esse direito nasce das ações livres do Homem. Não é categórico o consentimento de todos os indivíduos de um povo para a sua auto-determinação, ou seja, a constituição de uma Respublika, apenas basta a maioria. O caminho seguinte é a construção de Respublikas de todos os povos para que estas se possam agregar e criar as bases para uma Respublika maior, uma comunidade do género humano, cujo objectivo é o bem comum internacional, assente na tal organização
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