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teoria politica - resumo

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Teoria Política
I 
 
Índice 
Platão (428/427 – 348/347 a.C.) ...................................................................................................... 1 
Aristóteles (384 – 322 a.C.) .............................................................................................................. 6 
Cícero (106 – 43 a.C.) ..................................................................................................................... 11 
Santo Agostinho (340 – 430) .......................................................................................................... 13 
São Tomás de Aquino (1226 – 1274) ............................................................................................. 15 
Maquiavel (1469 – 1527) ............................................................................................................... 17 
Jean Bodin (1530 – 1596) ............................................................................................................... 22 
Thomas Hobbes (1588 – 1679) ...................................................................................................... 26 
Francisco de Vitória (1485 – 1546) ................................................................................................ 29 
John Locke (1642 – 1704) .............................................................................................................. 31 
Montesquieu (1689 – 1755) .......................................................................................................... 35 
Rousseau (1712 – 1778) ................................................................................................................. 38 
Immanuel Kant (1724 – 1804) ....................................................................................................... 44 
Jeremy Bentham (1748 – 1832) ..................................................................................................... 45 
Jonh Stuart Mill (1806 – 1873) ....................................................................................................... 47 
Alexis de Tocqueville (1805 – 1859) .............................................................................................. 48 
Karl Marx (1818 – 1883)................................................................................................................. 50 
1 
 
 
Platão (428/427 – 348/347 a.C.) 
Platão foi o maior pensador político de todo o role de filósofos que dispensaram tempo e 
reflexão sobre este tema, ainda na atualidade encontra-se patenteado nos escritos do filósofo 
ateniense uma sabedoria tal que, pode ser perfeitamente incumbida à realidade aparente do 
presente. Neste sentido, os seus pensamentos políticos são os pilares de todo o saber dessa 
esfera na esfera contemporânea. As suas principais obras são: “A República”, “Politikos” (O 
Político) e “Nomoi” (As Leis). 
Na sua perspectiva existiu um espaço temporal onde o mundo de Deus e o mundo do 
Homem eram sobrepostos, o que potenciava um governo divino do ser humano, patenteando-
se a paz e a prosperidade, em que os conceitos de miséria, fome e mau-estar não se definiam. 
Cada humano dedicava-se à filosofia e à ciência, sem existir preocupação com os bens materiais. 
Contudo, os dois mundos dividem-se e, por conseguinte, Deus liberta-se do governo dos homens, 
mas deixando ensinamentos aos mais aptos para que consigam governar em boa medida o ser 
humano para o dirigir à paz e à prosperidade anterior. 
No mundo dos homens reina o conceito de mudança, o que se denota por ser sempre 
negativa, dado que os governantes são iguais aos governados, isto é, estão no mesmo patamar 
e, desta forma inicia-se o grande problema político a não superioridade legítima e divina da classe 
governante aquando comparada com os demais seres humanos, já no mundo de Deus não se 
efetiva esse conceito, o que promove um melhor ambiente civilizacional. Apesar de ambos os 
mundos, após divididos não se misturarem, Deus irá sempre salvar o Homem do abismo. 
Por conseguinte, Platão elabora um regime político que se assemelha ao governo de Deus 
– Kalipolis ou Aristrocacia – o governo ideal, em que cada elemento da sociedade desempenha o 
que lhe compete, ou seja, é-lhe concedido a função para a qual revela mais destreza e, em último 
formato, para o que está destinado a realizar, pois se o mesmo não se efetivar irá reinar a 
desordem, a injustiça, a maldade e a intolerância. Não obstante, os elementos civis que revelam 
a capacidade funcional de cada indivíduo são os governantes, sublinha-se filósofos, que possuem 
capacidades divinas, é-lhes incumbido pela divindade sabedoria superior aos seus congéneres 
para os governar. 
A sociedade idílica platónica divide os seus habitantes segundo três classes, a saber: 
2 
 
1. Metal-bronze: os trabalhadores e artesãos, ou seja, indivíduos que se 
submetem aos instintos primários sem possuírem capacidade de abandonarem essa 
volição natural; 
2. Metal-prata: os guerreiros, que auxiliam quem governa, são sujeitos que 
evidenciam enorme coragem e personalidade para defender a Pólis dos inimigos; 
3. Metal-ouro: os governantes que são filósofos, agindo pela razão em 
detrimento dos desejos básicos. São indivíduos que revelam enorme capacidade de 
memória, facilidade de aprendizagem e boa natureza, isto é, conseguem distinguir o bem 
do mal, o justo do injusto, são sujeitos com a capacidade de tomar as melhores decisões, 
regem-se por valores, são, em última análise, inteligentes, por outro lado apresentam-se 
como uma minoria na sociedade. Não obstante, são indivíduos que não se podem 
submeter aos desejos básicos e não podem poluir o espírito com álcool e o amor. 
Num regime de Kalipolis, deve existir respeito entre todos os concidadãos e o inerente 
trato como tal. A vital subsistência deste idealismo está assente em bases que podem ser 
corruptíveis e, nesse sentido é vital respeitar certos e determinados aspectos para não se efetivar 
a decadência social. Em primeiro ponto, a existência de propriedade privada e riqueza promove 
a ascensão de valores incompatíveis com os defendidos pelo regime político de Platão, então é 
imperativo a classe governante, acima de tudo, não possuir bens, sem ser os de primeira 
necessidade. A existência de comunidade e viver em comunitarismo é vital para este tipo de 
regime, neste sentido os filósofos estão dependentes, na esfera da subsistência, dos demais 
indivíduos, na medida em que recebem comida dos outros, o que promove um sentimento de 
dependência entre governantes e governados, prevenindo o sentimento do governo sem 
responsabilidade e valores para com os restantes sujeitos, o que se efetiva em tipos de regimes 
em que a classe governante apresenta-se como um conjuntos de sujeitos que olham para os 
restantes pertencentes da sociedade apenas como autómatos e números, definhando o aspecto 
humano da sociedade e realizando medidas políticas desfasadas do bem-estar social. Constata-
se uma temeridade à escravatura ultrapassando o próprio receio pela morte. 
A educação é o pilar supremo na perspectiva de Platão na Kalipolis, na medida em que é 
o ponto de partida que irá reger os valores defendidos pela sociedade, mais evidente nos 
filósofos, daí ser imperativo um adequado método de ensino. Nesta medida, o filósofo ateniense 
promovia a existência de mulheres na classe governante, pois são seres dotados das mesmas 
capacidades do que os homens e o único factor decisivo para um bom governante é a educação, 
retirando a questão do género da análise social. Posto isto, os filósofos submetiam-se a uma 
educação bem delineada e eficaz para o desenvolvimento pleno de todas as capacidades, os seus 
elementos consubstanciavam-se na matemática,geometria, ginástica para o corpo ("mente sã 
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em corpo são") e música para o espírito/alma. Este último elemento deve estimular o 
desenvolvimento do pensamento, da reflexão, as ideias e os valores a seguir. Resumindo-se no 
aforisma de "se a lama for boa o corpo também o será". A partir do momento em que os 
fundamentos valorativos estão construídos é o ponto de avanço para a dialética, argumentação 
e contra-argumentação, para se alcançar a verdade. Um avanço precoce entre o domínio dos 
elementos referidos e o desenvolvimento da dialética torna os indivíduos cépticos e, por 
consequência, não conseguem ser governantes que se regem por um quadro de valores definido. 
A classe governante denota-se com uma visão muito mais abrangente do todo por consequência 
de uma educação que enquadra todas as grandes áreas do saber e existindo a valorização das 
ciências teóricas sobre as práticas. 
Platão enuncia que quem governa tem de estar disposto a contar com "mentiras 
piedosas", ou seja, omissões em prole de um bem maior, no seio social e como regra de atuação 
entre a sociedade civil. Neste sentido, constata-se uma legitimidade da censura, para manter a 
população pura, porque caso se patenteie liberdade de expressão total existe o risco de essa 
mesma liberdade tal promova a ascensão de grupos que defendem ideais pondo em causa os 
próprios pilares da liberdade, pelos quais ascenderam ao poder. Ou seja, existe certo e 
determinado tipo de propaganda que subverte o quadro valorativo social. 
Sendo Platão um filósofo defensor do idealismo e crítico dos sofistas, promove a rejeição 
ao relativismo, dado que banaliza e torna legítimo a malvadez, pois se todas as ações e valores 
são tomados como iguais e plenos não se constata uma linha valorativa certa ou errada, 
banalizando-se ações erradas e com maldade no seu cerne. Não obstante, a religião torna-se 
impiedosa para manter os valores na sociedade, porque sem a mesma não há valores. A 
educação é o ponto de partida, o que leva aos costumes, depois às relações sociais e, por fim, à 
lei, posto isto se o fundamento for podre e a inculcação de valores impura, a lei futura irá possuir 
um fundo valorativo negativo. 
De modo a defender a propagação do sistema educacional ideal e a sua irreverente 
hostilidade à mudança é explicada pelo facto, de que Platão, refere que a mudança é sempre um 
fenómeno negativo e, por conseguinte, alterar o método de educação irá prejudicar e definhar 
regime de Kalipolis. 
Neste regime político torna-se imperativo organizar os casamentos, isto é, por exemplo, 
casar indivíduos com alma de metal ouro com outros do mesmo tipo, contudo não existe 
determinação factual e, daí os descendentes desses casais organizados não seriam do mesmo 
tipo de alma que os seus progenitores. Não obstante, a incompatibilidade de trabalho com a 
maternidade, Platão argumenta que a educação deve ser resvalada para instituições da Pólis, 
com o objectivo de aumentar o contacto entre futuros cidadãos, promovendo o trato como co-
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cidadãos, tornando os objectivos pessoais comuns e, em última análise impedir o egoísmo da 
parentalidade, ou seja, favorecer os parentes apenas por esse simples facto, sem ter em conta 
as suas capacidades, e, com esta educação "estatal" não se constatava guerras entre indivíduos 
que buscam ultrapassar o seu semelhante e difundia-se a educação igual por todos os cidadãos, 
decalcando os valores morais positivos que estão na base do regime de Kalipolis. 
Quando se atinge a Sociedade de Sábios, em que todos os pontos referidos anteriormente 
se conjugam está-se perante um vazio jurídico, pois as leis denotam-se como demasiado vagas e 
abstractas para se conseguir abranger os inúmeros casos concretos. Neste sentido, a única justiça 
patente neste regime político é a Religião, na medida em que é o único garante do certo e do 
errado, do justo e do injusto, neste sentido é o sustento e a fonte de toda a base valorativa, sem 
a mesma não existem valores subjacentes a uma sociedade, tão como se torna inexistente um 
padrão de valores tornados como universais e mandatários com o objectivo de padronizar o 
comportamento individual e colectivo. Por conseguinte, é imperativo que a Religião pertença ao 
foro público e não privado, porque quando se caracteriza por este último transforma-se em 
superstição. Somente com a referência a Deus o conceito de certo e errado se pode entender. 
O filósofo ateniense tem plena noção que este tipo de regime não é possível, contudo 
importa tentar alcança-lo da melhor forma possível. 
Por outro lado, a Kalipolis não consegue perdurar, na medida em que tudo o que nasce 
pode ser corrompido, sendo que o mal nasce quando a visão predominante se resvala para a 
esfera pessoal, subentende-se o interesse privado, e não colectiva. Neste sentido, a propriedade 
privada é factor impulsionador da corrupção, dado que quando a classe governante deixa de se 
preocupar com o bem geral e apenas com o interesse individual a sociedade começa-se a 
degenerar. Perante estes factos, Platão enuncia que uma cidade (Pólis) não pode possuir muita 
riqueza, pois caí na ociosidade e ganha o gosto pela novidade, nem uma cidade deve ter excessiva 
pobreza, dado que é o ponto de começo para a criminalidade, sendo assim o ideal é o meio termo 
entre pobreza e riqueza. 
Perante estes pontos que referi, a Kalipolis não sustém o meio termo e decaí, degenera 
para um outro tipo de regime político – a Timarquia ou Timocracia. 
O regime político de Timocracia, isto é, a classe governante encontra-se apenas 
preocupada com o interesse próprio, pois procura somente resvalar o maior número de riqueza 
para si, advém devido ao comportamento das mulheres, na medida em que começam a impor o 
direito a prendas e dinheiro aos seus maridos, começando deste modo, a tentação ao homem – 
"essas coisas que as mulheres têm a mania de debitar, como prendas e dinheiro". Chegando a 
este ponto os governantes apenas se preocupam com bens materiais, apropriando-se de tudo o 
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que consigam e tratando os seus semelhantes – os co-cidadãos – de uma forma depreciativa, 
como escravos. Contudo, neste regime ainda se mantém algumas características do antecedente, 
tais como o respeito pelos magistrados e a aversão às profissões manuais, mas a educação 
definha e, neste sentido a classe sábia já não conseguem distinguir os metais das almas dos 
indivíduos e orientar os mesmos para as suas profissões ideais e destinadas, caindo, deste modo 
a sociedade para um foro pantanoso e desdenhoso. Posto isto, o regime degenera-se, existindo 
menos educação, mais gosto pela riqueza e pela propriedade privada e menos respeito. 
Ultrapassando estes pontos o regime degenera-se uma vez mais, alcançando a Oligarquia, 
uma situação em que os governantes, de reduzido número na sociedade, controlam e abusam 
das massas para seu benefício próprio, neste sentido os pobres são afastados da cidade e dá 
origem a dois tipos de Pólis, a cidade para os ricos e a cidade para os pobres. Quando se 
desobedece à lei, sublinha-se aos valores morais emanados pela Religião, para obter riqueza e o 
mercado selvagem atinge o seu epíteto, a criminalidade é difundida, devido ao excesso de 
pobreza, como referi em pontos antecedentes, nascida da educação precária dos governantes. 
Não obstante os ricos são indivíduos cobardes, pois não entram em conflitos armados, porque 
isso implicava armar as massas e, esta última, possuindo armamento poderia revoltar-se e, os 
próprios ricos também não querem fazer a guerra, devido às implicações monetárias implícitas. 
Os governantes tornam-se pessoas avarentas, sem honra e somente com gosto pela riqueza, 
desprezando as massas e a educação e só pelo receio oupela obrigação é que aparentam ser 
justos, na sua visão deturpada do certo e do errado. 
A certa altura as massas, os pobres, ganham "consciência de classe", percebem que se 
agregarem face a um inimigo comum, os ricos, que os conseguem destituir do poder, na medida 
em que estes últimos apenas possuem poder e riqueza proveniente do esforço e do lavor das 
massas que é explorada em prole de interesses pessoais de quem governa. Neste sentido, visto 
que os pobres não têm nada a perder, dado que não existe educação, leis e efetiva-se uma 
excessividade de pobreza, estes últimos revoltam-se contra os ricos e tomam o poder, 
alcançando a Democracia, uma transformação estrutural do regime político antecedente. 
Em regime de Democracia, o poder foi tomado pelas massas, pelos pobres, e os ricos 
fugiram da cidade, por conseguinte como o pobre somente está preocupado em se alimentar, 
dado que não existia condições de vida sustentáveis anteriormente, efectua-se o caos e a 
anarquia, inexistindo leis, a justiça denota-se fraquejada, ninguém manda nem ninguém 
obedece, o que se torna importante é a tirania da maioria, constatando-se uma plena subversão 
valorativa evidente, com o pudor resvalado para o fim das preocupações civis e tornando-se 
evidente a imbecilidade, confundindo-se a anarquia com a liberdade e a arrogância com a 
coragem, em suma uma completa desvalorização dos valores. Por conseguinte, os melhores da 
sociedade, os mais aptos, os antigos metais ouro, não governam, porque como chamam os seus 
6 
 
co-cidadãos à razão e, estes últimos, não querem ver a verdade, o poder nunca resvala para os 
sábios – o pastor é igual ao rebanho. Portanto, quem atinge o poder são os piores elementos da 
sociedade, os que proferem e argumentam tendo em conta o que as massas pretendem ouvir, 
são chamados de demagogos. 
Patenteando-se o excesso de liberdade em que os filhos julgam-se iguais aos pais, os 
jovens iguais aos mais velhos, a precariedade da lei e a igualdade extrema e quando todos os 
indivíduos agem como bem lhes apetece, surge um sentimento de apreço pela ordem, pelo 
autoritarismo e por um líder forte que consiga orientar o caos latente, por conseguinte esse líder 
é um tirano autoritário – "o tirano, esse líder forte que o povo quer, que vai levar à prosperidade" 
– começa a sua atuação sempre como um demagogo, o que diz o que os indivíduos não possuem 
a coragem de o dizer. 
Neste ponto atinge-se a Tirania, quando um líder forte e autoritário toma o poder, 
começando por derramar sangue dos seus opositores ou então é morto pelos seus inimigos mais 
pessoais, caso consiga levar a sua pretensão avante torna-se um tirano completo, que por 
questão da degeneração fica com valores negativos intrínsecos, dado que se apresenta como um 
indivíduo de alma metal ouro, mas degenerado pela educação corrompida. 
O tirano começa a criar guerras por todas as regiões com o objectivo de ser necessário 
um chefe para governar a sociedade e para derrotar os inimigos, por outro lado também afasta 
os membros com mais valor deste tipo de sociedade, dado que são constantemente contra o 
mesmo. Como tal, o tirano rodeia-se de indivíduos desprezíveis, possuindo em toda e qualquer 
circunstância uma proteção de guardas fortemente estabelecida, na medida em que encontra-
se num estado tal de paranoia e é dominado pelos instintos mais básicos existentes na natureza 
humana, tornando o num indivíduo mau, infeliz, sem amigos e louco, constantemente com o 
receio de ser morto ou deposto, vendo conspirações em todas as situações e tratando o povo, as 
massas, como escravos, em suma não possui liberdade, vive em constante sentimento de 
sobressalto. Este tipo de regime político é o que mais se afasta da Kalipolis, o regime mais puro. 
Por fim, pode-se mencionar que a "República", onde está patenteado todo este 
pensamento político de Platão, é um guia de como alcançar o regime ideal e, ao mesmo tempo, 
é um aviso de como não se operar para se decair na degeneração social e na destruição completa 
de todas as bases humanas e dos valores intrínsecos ao bom-viver. 
Aristóteles (384 – 322 a.C.) 
Aristóteles (séc. IV a.C.) discípulo de Platão, realiza as suas obras como uma reformulação 
do seu mentor, contudo alterando as ideais centrais e fundamentais do mesmo. Esta personagem 
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histórica tinha como profissão ser médico, o que influenciou em grande parte o seu pensamento 
e a sua reflexão política. Foi o preceptor de Alexandre, o Grande. 
As suas principais obras denominam-se: "A Política", ou seja, é a compilação dos 
apontamentos dos seus alunos nas aulas que dava e, "Ética a Nicómaco", um tratado sobre a 
ética. 
Pode-se afirmar que a Teoria Política é uma retoma ou de Platão, ou de Aristóteles, 
dependendo dos vários teóricos. 
Para Aristóteles a Política é um processo evolutivo, como já iremos depreender, sendo 
que evolui do mais básico e simples para o mais complexo e árduo. 
Em primeiro lugar, a Política surge no Casal, onde se evidenciam os sentimentos/instintos 
mais básicos do ser humano e, que, segundo este filósofo ateniense, o Casal apenas possui a 
função da reprodução, neste sentido apenas se pode concretizar segundo uma mulher e um 
homem, Aristóteles rejeita a homossexualidade, em contraponto com Platão. 
Em segundo lugar, surge A Casa (Oikos), neste espaço constata-se o Casal com filhos e 
escravos, onde cada elemento possui uma função própria proveniente da sua natureza, uns 
nascem para mandar, outros para obedecer. Não obstante, a mulher nasceu para obedecer, visto 
caracterizar-se, segundo o filósofo, como um ser inferior a que lhe era precária as habilitações 
necessárias para ser sábia e justa, nesse sentido tem de obedecer ao homem, intrinsecamente. 
Os escravos são mera propriedade e quem manda são os homens, pois têm sabedoria e todas as 
qualidades de um líder exímio. A Casa procura a autossuficiência. 
Em terceiro lugar, surge a Aldeia, que se caracteriza por se constituir como um conjunto 
de casas. 
Por fim, apresenta-se a Pólis (A Cidade), a mais importante associação, que ao contrário 
das antecedentes busca algo mais do que a mera autossuficiência, procura a felicidade e o "Eu 
Zein", o bem viver. A ciência que governa A Casa é a economia (oikos nomos) e a ciência que 
governa a Pólis é a Política, nunca ambas se devem misturar. O proprietário da Casa chama-se 
Déspota, onde não há liberdade, apenas um regime autoritário, em que o homem é que é o líder 
e todos os outros constituintes lhe devem obediência. Quando a economia e a política entram 
em uni som deixa de existir liberdade na Pólis, na medida em que apenas no espaço público essa 
virtude se apresenta. Por conseguinte, o ser humano pela sua natureza política (Anthropos Physei 
Politik zoon), tem a necessidade de aperfeiçoar as suas capacidades políticas, posto isto é 
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imperativo resvalar para o seio público onde existe liberdade e não reina a tirania e a autocracia 
da Casa. 
O ser humano inventou a Política para se patentear liberdade e deixar de haver 
proprietários e indivíduos autoritários, dado que os políticos apenas são representantes dos seus 
eleitores e não seus "donos", é o que se evidencia na Pólis, mas não na Casa. 
Segundo a análise de Aristóteles, o ser humano tanto possui algo de divino, como de 
bestial/animal. Posto isto, a lei é o único garante da manutenção do bom comportamento dos 
indivíduos, sem lei estes últimos mostram a sua natureza violenta e desgraçada. A lei é o garante 
da ordem. Sem leis e sem justiça, o homem é o pior de todos os animais, dado que nem todos os 
indivíduos são virtuosos e pertence à sua natureza serem caracterizados por qualidades 
negativas. 
O filósofo ateniense, criou o conceitode cidadania, participação política, governar e ser 
governado e possibilitar todos os cidadãos de possuírem algum efeito no processo judicial. Neste 
sentido, a escravatura era o mecanismo que possibilitava a existência de tempo para que os 
cidadãos pudessem reflectir e debruçar-se sobre dilemas políticos e a vida da Pólis. Por outro 
lado, a Democracia era um dado adquirido, porquanto a Pólis caracterizava-se por um pequeno 
número de pessoas e cidadãos. A Pólis era suficientemente grande para a autocracia, 
suficientemente pequena para que existisse participação política e para que todos os seus 
intervenientes se pudessem conhecer para que existisse vigilância mútua. 
Na perspectiva de Aristóteles, a privação da propriedade privada denota-se como algo 
extremamente negativo para o Homem e, por conseguinte, à Pólis, uma vez que o ser humano é 
detentor de dois grandes motivos de interesse e devoção: afectos e propriedade privada. Neste 
sentido, o filósofo emanava que ambos estão interligados, porque a Homem vê as fontes de 
afectos (os filhos, as relações interpessoais e a sua mulher), como propriedade de si mesmo (meu 
filho, minha namorada, minha mãe, meu pai, meu irmão), extinguindo as emoções/afectos o 
sentido individual da sociedade desvanecesse. As emoções tornam os seres humanos em boas 
pessoas, o amor e a compaixão, são exemplos dos sentimentos que nascem do conceito de 
propriedade privada/individual. 
Os problemas da sociedade surgem com a perversidade do Homem. 
Para ambos os filósofos, Platão e Aristóteles, possuem duas formas de ver os regimes 
políticos: 
• Platão: 
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Com leis Sem leis 
Monarquia (governo de um) Tirania (governo de um) 
Aristocracia (governo de alguns) Oligarquia (governo de alguns) 
Democracia (governo de muitos) Democracia (governo de muitos) 
 
• Aritóteles: para este filósofo distingue-se dois tipos de regimes 
políticos – os puros e os corrompidos – o primeiro, a classe dirigente visa a 
justiça, as boas leis e a procura da obtenção da satisfação do interesse geral, 
o segundo consubstancia-se em regimes onde se apenas procura a satisfação 
dos interesses pessoais da classe dirigente, o povo é tratado como escravos 
dos decisores políticos e reina as más leis. 
Puros Corrompidos 
Realeza (Basileus) (governo de um) Tirania (governo de um segundo os 
seus interesses) 
Aristocracia (governo de uma minoria) Oligarquia (governo de alguns 
segundo os seus interesses) 
Politie/Governo Constitucional 
(governo de massas) 
Democracia (governo de massas 
segundo os interesses da população pobre) 
 
Neste sentido, segundo Aristóteles, dos piores regimes políticos, o mais suportável é a 
Democracia, enquanto a massa dirigente não apregoar a expropriação da propriedade privada e 
desde que os indivíduos se possam dedicar aos seus próprios interesses. 
Os regimes políticos estão condenados à inevitável degeneração interna, isto é, a 
corrupção da classe dirigente. Por conseguinte, este filósofo defende que o regime idílico 
realizável seria um que se mostrasse como um misto dos regimes puros, possuindo 
características dos três, uma vez que um regime desse género é o garante de uma sociedade no 
centro, entre pobreza e riqueza, visto que ambos os extremos promovem regimes políticos 
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degenerados e à má ação por parte da população. No caso da existência de extremo luxo nenhum 
dos indivíduos pertencentes à sociedade dirige a mesma e, quem de facto a dirige, comanda-a 
como um Déspota, ou seja, um líder autoritário e sem consideração pela liberdade. Por outro 
lado, no caso de extrema pobreza quem é o líder, ou pertence à elite dirigente, não sabe liderar 
e divide a sociedade em escravos (massas) e donos (elite no poder). Não obstante, segundo estes 
factores Aristóteles alcança uma teoria que emana o seguinte: a pobreza intelectual está 
intimamente ligada à pobreza financeira, na medida em que, com pouca riqueza é muito difícil 
alcançar um alto grau académico e, em segundo ponto, os indivíduos pobres possuem uma 
mentalidade característica da sua classe, a não promoção de incentivos à procura de uma boa 
educação, dado que as elites são vistas pelas massas como más pessoas. 
No momento em que existiam um dos dois extremos referidos o regime político vingado 
é um dos três seguintes: oligarquia, democracia ou tirania. Por conseguinte, estes regimes 
promovem a desigualdade, a falta de liberdade e igualdade, sendo que quando as massas 
alcançam o momento de ruptura em que não detêm nada a perder, visto que são expropriadas 
de todas as posses e, inclusive, nem comida conseguem alcançar, está dado o fermento inerente 
ao método subversivo de revolução. Estes extremos alimentam sentimentos radicais, uma vez 
que é categórico a existência de um mínimo sustentável para todos os habitantes, com o 
objectivo de perdurar a ordem civil. 
Em contraponto, nos regimes em que exista uma classe média numerosa, isto é, em maior 
número que a elite dirigente e as massas, são aqueles onde a estabilidade e liberdade se 
efectivam, dado que esta última promove o conservadorismo, a manutenção do status quo e, 
deste modo, consegue controlar as massas ou impedir que as mesmas se revoltem, visto que são 
em menor número e, por outro lado, impedem o autoritarismo da elite, pois a classe média 
detém poder sobre a mesma para tal. Uma segunda forma de manter a estabilidade e a liberdade 
é através da lei, evitando desigualdades. Uma terceira forma é a existência de magistratura, que 
vigie os comportamentos de todos os indivíduos. Em quarto lugar, deve ser impedido o 
enriquecimento da elite dirigente. Em quinto lugar, é imperativo tornas as contas públicas do 
conhecimento público. Em último lugar, é categórico adequar a educação ao princípio da 
constituição, isto é, inculcar os ideais da classe dirigente na população massificada. 
Por outro lado, o clima, como a religião, explica o comportamento e a maneira de ser das 
sociedades: em primeiro lugar, nos climas frios as sociedades são compostas por indivíduos 
corajosos, porém inferiores intelectualmente e politicamente, apregoam a liberdade, mas são 
indisciplinados; em segundo lugar, nos climas mais quentes que os anteriores, mais 
concretamente nos povos asiáticos, as características são de uma sociedade com indivíduos 
inteligentes, mestres da arte, contudo são escravos perpétuos, apenas sabem obedecer; por fim, 
os povos de climas amenos, são caracterizados pela sua inteligência, coragem e boas governança. 
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Cícero (106 – 43 a.C.) 
Marcus Tullius Cicero foi um filósofo do séc. I a.C., e um grande defensor e idealista da 
República Romana. A sua vida foi percorrida durante o declínio deste regime político idílico, 
segundo o autor, o que se demonstrou como a sua fatal inimiga, uma vez que, a Cícero foi-lhe 
cortada a língua e as mãos e, seguidamente, exibido como exemplo para os restantes cidadãos o 
que se sucede às pessoas que contrariam o poder ao criticar a política sua contemporânea. Neste 
ambiente reinava a pouca intolerância, como este último facto serviu de prova. As suas principais 
obras são: "De Republica" – uma réplica de "A República" de Platão – e "De Legibus" – cópia de 
"As Leis" de Platão. 
Segundo Cícero, como já foi mencionado era um grande idealizante da República Romana 
e considerava-a como o melhor regime político que existiu, até então. O filósofo defendia que 
existia certas pessoas que eram vocacionadas para a direcção do governo e, por conseguinte, o 
maior acto de patriotismo era esse mesmo. 
A República Romana combinava os três regimes políticos puros que Aristóteles 
mencionou e, este regime político demonstrava-se como um misto destes últimos, isto é, a 
premonição aristotélicado melhor regime humanamente realizável. Não obstante, os três 
elementos da República Romana que a evidenciavam como a mistura dos regimes puros eram os 
seguintes: o elemento monárquico (realeza) era materializado pelos magistrados, ou seja, o 
governo segundo a dicotomia actual, que possuía o Potestas (Poder); o elemento aristocrático 
era o Senado, os senadores, que como membros deste último, estava concentrado a Auctoritas 
(Autoridade) e os Patrícios (autores e descendentes de autores da República Romana); por fim, 
o elemento democrático estava concentrado no povo, as massas e na sua ilusão de poder através 
do voto, que se apresentava como público para que existisse responsabilização pelo mesmo, 
simbolizando a Libertas (Liberdade). SPQR (Senatus, Populusque, Romanus). 
Não obstante, pode-se afirmar que nenhuma das democracias contemporâneas se 
apresentam como democráticas, stricto sensu, na medida em que as massas não possuem um 
papel preponderante ou decisor sobre a vida política do regime, por outro lado, a República 
Romana está na base de todas as democracias ocidentais existentes, contudo muito desfasadas 
da forma originária. A perfeita representação da República Romana, foi o regime puro e primeiro 
dos EUA, isto é, o que os Pais Fundadores se debruçaram para realizar e o conseguiram 
efectivamente, porém até aos dias de hoje já sofreu bastantes alterações, alterando o seu sentido 
ideal da República Romana. No regime originário dos EUA existia uma elite que depurava as 
volições das massas, impedindo-as de agirem como bem entendessem, prevenindo ascensões de 
tiranos. Neste regime os três elementos dos três regimes puros, segundo Aristóteles, estavam 
12 
 
presentes, o elemento democrático estava concentrado no povo, nas massas, porém com o 
contraponto que já mencionei, através da Câmara dos Representantes, uma vez que os seus 
pertencentes eram eleitos segundo sufrágio universal e directo o elemento aristocrático estava 
materializado no Senado, que servia como uma contestação do poder popular (Câmara dos 
Representantes) e, por fim, o elemento monárquico estava materializado na figura do 
Presidente. Não obstante, hoje em dia este regime já não se encontra como explicitei, na medida 
em que o regime criado pelos Pais Fundadores sobre imagem da República Romana, não contava 
com a existência de partidos políticos, que em certa medida, deturparam o equilíbrio existente, 
dos "check and balances" que se patenteavam, um certo controle de poderes mútuo, o que 
actualmente já não se denota efectivamente, uma vez que um mesmo partido pode possuir nas 
suas mãos todos os elementos políticos do regime, o Presidente, Senado e Câmara dos 
Representantes, retraindo o efeito de ponderação e estabilidade de poderes. 
Cícero representa a escola de pensamento do estoicismo, ou seja, a convicção de que o 
universo é uma casa onde habitam os seres humanos e os Deuses, "a pátria comum de todos os 
seres inteligentes", e na sua origem está a lei natural, em contraste com a lei positiva, ou seja, a 
lei dos homens, mutável e pública, com o intuito da sociedade controlar a classe dirigente, 
impedindo-a de ostentar demasiado poder e realizar actos ilegais. Esta lei natural, é a balança 
interior que permite aos indivíduos separarem o bem do mal, o certo do incorreto, o justo do 
injusto, porque é algo inculcado nos seres humanos por ação divina, algo superior e com 
capacidade de um julgamento derradeiro, devido à capacidade racional dos mesmos, dado que 
lhes é revelado ao espírito a existência figuras divinas. Esta lei não pode ser contrariada por outra 
qualquer, é o tipo de lei que fundamenta todos os regimes políticos legítimos, sublinha-se, puros, 
é categórico a desobediência a leis injustas e não naturais (Art. 21 – Direito de Resistência), é 
possibilitado ao ser humano a contestação a leis não subjacentes à luz do possibilitado pela lei 
natural. 
Todo o Homem nasceu com o intuito de alcançar a Justiça, a equidade e a igualdade, 
todos os seres humanos são iguais, possuem níveis de razão comuns, virtudes e defeitos 
análogos, não obstante todo o ser humano pode ser aperfeiçoado. São todos estes factores que 
resvalam para o espírito humano o sentimento de pertença a um grupo comum – a Humanidade 
– daí o ser humano não ser indiferente a um congénere, todos são co-cidadãos da circunscrição. 
Por conseguinte, o Homem é possuidor de duas pátrias, a que lhe é impostas pelo lugar onde 
nasceu, daí não dever de ser possível a descriminação e a segregação, uma vez que não se escolhe 
a pátria onde se nasce e, em segundo lugar, encontra-se a pátria que se escolhe, a verdadeira e 
última pátria e que a se deve ser afecto todo o sentimento do indivíduo, segundo Cícero. 
13 
 
Santo Agostinho (340 – 430) 
Aurélio Agostinho, considerado um dos dois pais do catolicismo, nasceu em 340 d.C, no 
Norte de África em Tagarte e morreu em 430 d.C ao pé de Cartago, vivendo a sua vida no seio do 
Império Romano. O seu pai era pagão e a sua mãe cristã, não obstante o filósofo não era 
considerado nenhum santo até aos 34 anos de idade, aquando da sua conversão ao cristianismo, 
sendo que deixou de ser um indivíduo pecador para um ser merecedor de santidade. 
Agostinho é contemporâneo do declínio do Império Romano, que caiu em 476 d.C (o 
Império Romano do Ocidente) o que influenciou o seu pensamento político. Neste sentido, 
Aurélio em 410 d.C apercebe-se que a invasão visigoda saqueou Roma, lançando um choque 
extremo da unidade imperial, fragilizando o seu poder sobre os territórios pertencentes ao 
Império e deflagrando um choque nas populações, que começaram a desacreditar no poder 
supremo e magnânimo do mesmo. É neste contexto que Aurélio redige "A Cidade de Deus" (De 
Civitate Dei), com o objectivo de demonstrar os acontecimentos sucedidos e, por um lado, 
evidenciando o seu pensamento político. A razão do declínio desta unidade política agregadora 
foi, pela maioria dos cidadãos, atribuída ao cristianismo, uma vez que este tipo de religião estava 
cada vez mais a alastrar-se dentro das fronteiras deste (em 380 d.C o cristianismo foi considerado 
a religião do Império). Não obstante, os romanos possuíam uma visão utilitarista da religião, na 
medida em que consistia, para eles, um "sum game", isto é, uma troca de oferendas às divindades 
por manifestações positivas para as populações, provocando uma perseguição aos cristãos, dado 
que estes não detinham esse tipo de considerações da sua religião e, por outro lado, não 
aceitavam o cargo de Imperador como uma posição divina, resvalando a sua perseguição no foro 
político e não, como se ousa pensar, no seio religioso. 
A religião e a política são dois conceitos extremamente estreitos entre si, segundo Santo 
Agostinho, pois a palavra "Igreja" deriva de Ecclesia (eclésia) uma assembleia popular, sublinha-
se de e para os cidadãos, com residência nas Pólis gregas, concluindo que desde a sua 
constituição, a Igreja foi uma instituição política. Para Agostinho, a Bíblia é um livro 
predominantemente político, daí a sua redação dos primeiros dez volumes d' "A Cidade de Deus" 
constituírem uma defesa do cristianismo do paganismo e os outros doze volumes apresenta a 
sua tese. 
A tese apresentada por Santo Agostinho no seu livro (413 – 426 d.C) menciona o seguinte: 
1. Em primeiro lugar, existem duas cidades que estão em constante conflito 
– Cidade dos Homens e a Cidade Celestial ou de Deus – sendo que o ser humano encontra 
no seu interior esta conflitualidade, entre o bem e o mal, o certo e o errado, diluindo a 
teoria platónica com a Bíblia, num esforço de agregar a teoria das ideias com o estoicismo. 
14 
 
Neste sentido, a universalidade do cristianismo apenas foi conseguidapela junção de 
marcas intelectuais de grandes filósofos com os ensinamentos bíblicos e do grande 
universo populacional do Império. 
2. Em segundo lugar, Santo Agostinho utiliza os ensinamentos da ceita 
maniqueísta para demonstrar esta dualidade perpétua do ser humano. Por conseguinte, 
o pensamento maniqueísta expressa que há uma luta interna entre dois princípios, o da 
luz e o das trevas, sendo a alma uma partícula de luz na escuridão do mundo físico, 
contudo de modo à alma se tornar pura é imperativo ascender, resvalando, neste ponto 
com a teoria das ideias de Platão, do dualismo do mundo sensível e inteligível, casando-
se com o conceito de Deus, pois este último é imutável e está presente na mente do 
Homem, ou seja, é o garante da existência do mundo inteligível. 
• O mundo sensível denomina-se por um espaço onde reina a 
mutabilidade, é meramente transitório, privado, dos interesses individuais e 
egoístas, é a fonte de todos os males. Por conseguinte, o pecado original é a prova 
de que o ser humano tem a tendência para pender à realização de ações maldosas 
e é por esse facto que a razão deve suprimir a base instintiva. Todo o male provém 
da centralidade em interesses individuais e próprios, não obstante Deus não 
detém qualquer culpa neste sentido, uma vez que o mesmo colocou livre-arbítrio 
no ser humano, ora este último consegue escolher entre o bem e o mal, deste 
modo, Santo Agostinho respondeu a Epicuro ("Enquanto omnisciente e 
omnipotente, tem conhecimento de todo o mal e poder para acabar com ele. Mas 
não o faz. Então não é omnibenevolente. Enquanto omnipotente e 
omnibenevolente, então tem poder para extinguir o mal e quer fazê-lo, pois é 
bom. Mas não o faz, pois não sabe o quanto mal existe e onde o mal está. Então 
ele não é omnisciente. Enquanto omnisciente e omnibenevolente, então sabe de 
todo o mal que existe e quer mudá-lo. Mas não o faz, pois não é capaz. Então ele 
não é omnipotente"). 
• O mundo inteligível define-se como sendo o espaço imutável, das 
ideias e do modelo para os Homens. 
3. Em terceiro lugar, uma vez que o ser humano é tendencialmente 
pecaminoso, esse facto implica consequências políticas, pressupondo a teoria das duas 
cidades em conflito de Santo Agostinho, na Cidade Celestial o governante é Deus, onde 
habita uma paz verossímil e o bem universal, por outro lado, na Cidade do Homem, 
predomina o mal, as trevas e a preocupação una dos interesses pessoais, sendo que é 
impossível a habitação da paz e prosperidade, o que significa a predominância de um 
15 
 
poder que seja o garante, ou atenuante, destas características negativas, sendo o Poder 
Político, ou seja, a sua origem é negra, pois a sua exigência e necessidade deriva do 
pecado original, do mal e das trevas, para difundir a paz, o controle, como um 
representante de Deus na Cidade do Homem. 
4. Por fim, Santo Agostinho menciona ainda que o Poder Político apresenta 
três vertentes da sua função: 
• Oficio de mandar: poder dever, isto é, quem é detentor do mesmo 
serve um propósito e um objectivo específico, o aumento das condições da 
sociedade; 
• Oficio de providência: satisfazer as necessidades daqueles que são 
comandados; 
• Oficio de aconselhar: concelheiro do povo. 
O pensamento de Santo Agostinho esteve no centro da análise de Lutero e dos seus 
ensinamentos. Por conseguinte, os Pais Fundadores dos EUA, protestantes de religião e 
iluministas, demonstram concretamente a reflexão de Agostinho nos "Federalist Papers" – "a 
necessidade de governo é um mal, mas essa necessidade existe, aquilo que temos a fazer é 
encontrar o sistema de governo menos mau do que os outros". 
São Tomás de Aquino (1226 – 1274) 
Nasceu em 1226 e morreu em 1274, sendo considerado o segundo pai do catolicismo. No 
séc. XIII, existe uma série de acontecimentos que vão influenciar o seu pensamento e, deste 
modo "determinar" as suas reflexões, tais como: 
1. A criação de letras de câmbio, fomentando o comércio, o que leva à 
apropriação de riqueza e, consequentemente ao egoísmo humano; 
2. O surgimento de grandes universidades, difundindo as ideias e 
propagando a educação académica; 
3. O grande movimento que congrega a razão e a fé (escolástica); 
4. Coexistência com a preponderância de poder do Sacro Império Romano-
Germânico no seio europeu. 
16 
 
Aquando da Idade Medieval, que começa com o fim do Império Romano do Ocidente (476 
d.C), muitos dos escritos e pensamentos de grandes filósofos e pensadores foram perdidos, dado 
que se restringiu o acesso à academia e do liceu, porém muitos desses documentos 
encontravam-se na grande Biblioteca de Alexandria, até ser queimada. Não obstante, os árabes 
e os judeus conservaram esses ensinamentos e no séc. XIII, foram as reflexões de Aristóteles que 
foram disseminadas e trazidas para a Europa pela mão de Al-Andalus, uma região árabe que se 
localizava na península ibérica e era um grande interposto comercial. Aquino utiliza o 
pensamento de Aristóteles para expor as suas próprias reflexões. 
As principais obras de Aquino são: "Do Reino", "Comentários à Política de Aristóteles" e 
"Summa Teológica". Por conseguinte, o filósofo italiano, menciona que a política nada tem em 
relação com o pecado original, pois a sua origem é puramente racional, uma vez que o poder 
abstracto provém de Deus e o poder concreto da natureza humana, inspirando-se na 
transferência dos dez mandamentos de Deus para o ser humano (Moisés), ou seja, foi o Homem 
que concretamente colocou em vigor o poder abstracto. Neste sentido, para existir poder político 
é categórico a inclinação natural do ser humano para a existência em sociedade, do sentimento 
comunitarista de pertença a uma unidade superior ao indivíduo, sendo que este apenas existe 
como pertencente de um todo e deve contribuir para o bem-estar deste último. Por outro lado, 
o ideal individualista apenas nasce aquando da Revolução Francesa (1789). Não obstante, é 
igualmente imperativo a determinação de um elemento voluntário para a existência de poder 
político, isto é, o consentimento dos membros da sociedade, no momento em que esse factor 
não se verifique é legítimo depor o governante, revelando uma autêntica e plena relação 
contratual entre sociedade e governante. Por exemplo, o monarca era legitimado pelo contracto 
entre as Cortes e o mesmo, neste sentido se este último não fosse reconhecido pelo povo era 
deposto, num movimento chamado monarcómaco. Esta ênfase ao poder de quem é governado 
impossibilita a anulação por parte do poder político à autonomia e independência dos grupos 
que pertencem à sociedade. 
O pensamento de Aquino está na génese da Doutrina Social da Igreja Católica (séc.XIX) 
escrita pelo Papa Leão XIII (1891), como contraponto ao imparável movimento do proletariado, 
tendo como linhas ideológicas as reflexões de Karl Marx, patenteadas no "Manifesto do Partido 
Comunista" (1848) em conjunto com Friedrich Engels e no "Das Kapital" (1867). Neste sentido, a 
doutrina emanava que o Estado deveria de intervir na sociedade aquando na incapacidade dos 
grupos pertencentes à mesma de satisfazer os seus objectivos e em situações de extrema crise, 
caso estas duas situações não se verificarem não existe papel na intervenção do Estado na 
sociedade. Não obstante, Napoleão III e Bismarck foram dois governantes europeus pós-
marxismo que implementaram medidas intervencionistas para atenuar o movimento 
despoletado pelo pensamento de Karl Marx. 
17 
 
Por outro lado, Doutrina Social da Igreja Católica influenciou em grande medida o 
princípio da subsidiariedade que regula a UE, na actualidade, e que esteve nos contornos 
originários da CEE, visto que os seus fundadores eram democratas-cristãos,apoiados pela igreja 
protestante e católica, na medida em que este princípio se baseia numa intervenção do Estado 
atenuada e nos mesmo moldes das características da doutrina, algo institucionalizado após o 
Tratado de Maastricht (1992). 
Maquiavel (1469 – 1527) 
Niccolò di Bernardo dei Machiavelli, nasceu em 1469 em Florença e morreu em 1527. Por 
conseguinte, durante a sua vida, o autor, viveu conturbado com a ideia da unificação italiana, isto 
é, unificar os reinos do Norte, do Sul e de Roma, daí ter realizado a sua mais enigmática obra "O 
Príncipe", tendo o objectivo de descrever a estratégia desse ideal, neste sentido, pode-se afirmar, 
a título informal que Maquiavel foi o precursor do nacionalismo, com mais de trezentos anos de 
antecedência. Por sua vez, o seu desejo é concretizado em 1861. 
Quando o Império Romano do Ocidente se desconfigura, em 1476, a Igreja Católica 
começa a centralizar o seu poder sobre vários territórios, ao anexa-los a Roma, neste sentido, 
estendendo a influência territorial cristã de uma costa à outra da península itálica, no sentido 
vertical, tendo Roma como capital. 
A península itálica ao longo da História é ocupada por vários povos e representava um 
polo de interesses para potências europeias como, o Sacro Império Romano-Germânico, a 
Espanha e a França, usufruindo do seu poder para intervir na região itálica. Não obstante, é neste 
contexto que Maquiavel se encontra. 
Avançando um pouco na linha histórica, visionando a unificação da Itália e os seus 
antecedentes, a Revolução Francesa de 1789, repercutiu inúmeras consequências para a 
península, nomeadamente as invasões napoleónicas, que se demonstraram como forças de 
"libertação da nação", utilizando o nacionalismo como instrumento para se depurar a liberdade. 
As sementes nacionalistas deixadas pelas invasões produziram efeitos em 1848, aquando da 
Primavera dos Povos, que levou à unificação italiana em 1861, pela mão de Vítor Emanuel II, o 
posterior Rei da Itália unificada (Veneza é agregada em 1866 e Roma em 1871). 
Nicolau, escreve "O Príncipe" em 1513, tão como "Discussões sobre a Primeira Década de 
Tito Lívio), contudo ambas as obras apenas são publicadas em 1531, devido à censura da 
inquisição. A primeira obra exorava a libertação e unificação italiana e a segunda uma "ode" ao 
patriotismo e à virtude. Em 1520, publica "A Arte da Guerra". 
18 
 
Maquiavel, é um dos poucos, se não o único, teórico político clássico, que influenciou em 
grande medida o pensamento político subsequente, que não pertencia a uma elite, isto é, Nicolau 
Maquiavel provém de uma família posicionada nos patamares mais baixos da hierarquia social. 
Em 1434, a família Medici instala-se no poder, permanecendo no mesmo durante 60 
anos, isto é, até 1994, contudo o governo desta família não se enquadrava com os interesses 
franceses, por conseguinte o governo francês invade Florença e manda exilar a família em 
questão. De seguida, entre 1494-98 o padre Savonarola instala uma república teocrática em 
Florença, sendo que era um acérrimo crítico da ostentação de luxo e depravação da família 
Medici. Por outro lado, Savonarola detestava, igualmente o Papa Alexandre VI, da família Bórgia, 
uma vez que o mesmo possuía diversos filhos e, estando este num cargo papal, é imoral e pecado 
deter filhos. É neste sentido, que o autoritário Savonarola implementa os actos de fé em 
Florença, ou seja, a condenação religiosa de um individuo ao acto de ser queimado vivo numa 
fogueira, localizada numa praça pública. Contudo, Savonarola, acaba por ser julgado e 
condenado à mesma sentença, aquando da sua deposição do poder. 
Em 1498, Florença atinge o patamar de uma república, liderada por Soderini. Por 
conseguinte, em prol da estreita ligação entre este dirigente político e Maquiavel, este último, 
consegue deter um emprego na administração da cidade, o cargo de Secretário da 2º 
Chancelaria, que agregava as pastas das RI, guerra e interior. Por conseguinte, é neste cargo que 
Nicolau se dirige a vários países europeus (França, Sacro Império Romano-Germânico, etc.) em 
delegações diplomáticas e, é nestas viagens laborais, que Maquiavel conhece o Papa Alexandre 
VI e um dos seus filhos, César Bórgia, sendo que este último inspira Maquiavel a realizar a obra 
"O Príncipe". 
Em 1512, Espanha apreende que Soderini não constitui uma mais valia aos interesses 
espanhóis, é nesse sentido que o "obrigam" a depor do cargo e trazem os Medici do exílio para 
de novo governar. Não obstante, Maquiavel perde o seu estreito "contacto" que lhe possibilitou 
o cargo público e, por sua vez, perde-o e é exilado, escrevendo "O Príncipe" enquanto no exílio, 
dedicando-o a Lourenço di Medici, como manobra de evasão para lhe ser retirado o afastamento 
de Florença e voltar a pertencer ao governo público. 
Em 1527, os Medici são depostos pela França e é neste ano que Nicolau Maquiavel morre. 
Maquiavel, é considerado por muitos o "Pai"/inspirador da escola realista na área das RI. 
O autor florentino, separa definitivamente o poder político da religião, dizendo que 
ambos são indissociáveis, uma vez que, o poder político está num patamar muito mais superior 
que o da religião. 
19 
 
Para Maquiavel a política é a arte, ou técnica, para a aquisição, manutenção e aumento 
do poder. Não obstante, é o valor mais elevado de todos os outros, é um jogo de soma-zero (zero 
sum-game), isto é, quando uma parte ganha a outra perde o correspondente ao ganho do 
congénere. O Príncipe, o líder político de Maquiavel, deve ter como volição o bem do Estado e 
não o meramente pessoal, sendo que a política serve única e exclusivamente para fundar uma 
república, governar num reino, constituir um exército, administrar a Justiça, aumentar o Império, 
fazer a guerra (principal actividade e ferramenta para o Príncipe atingir o poder) e manter o 
Estado etéreo (Maquiavel é o criador da palavra "Estado"). O Estado define-se pelo "o que está", 
ou seja, todos os senhorios que tiveram ou têm poder sobre os homens são Estados. 
Nicolau parte do pressuposto que o ser humano é um ser mau, maquiavélico, por 
natureza, o que possui reprecurssões para o modo de governo de um ser desta forma, leva a uma 
apropriação do poder e execução do mesmo de forma autoritária. 
O Homem, na perspectiva de Maquiavel, encontra-se constantemente em competição 
pelo poder, neste sentido se nenhum individuo se destacar e tomar as rédeas do poder, não 
existe governo, ordem, reina a anarquia e a instabilidade. Por conseguinte, o Príncipe tem de ser 
uma pessoa que emane a ordem na sociedade, através de um poder autoritário e, desse modo, 
extinguir com a anarquia social latente. 
Então, é categórico que o Príncipe possua as determinadas características: 
• Realista: um indivíduo que seja capaz de conceber a realidade como ela é 
e não viva em constantes ilusões ideológicas; 
• Egoísta: o poder é um monopólio do Príncipe, sempre tendo em vista o 
bem do Estado; 
• Calculista; 
• Julgado pelos que o rodeiam: quem o rodeia tem de possuir uma conduta 
igual à do Príncipe, no sentido em que apenas deve pensar no bem do Estado e não no 
próprio, neste sentido quem o rodeia, se se não reger por estes ideais, o Príncipe é o 
julgado pelas massas; 
• Indiferente perante o bem e o mal; 
• Dissimulado: "é sempre fácil encontrar alguém a quem enganar, quando 
existem necessidades", ou seja, é imperativo que o Príncipe pareça clemente, fiel, 
humano, religioso, sincero. É neste sentido que o líder revela uma imagem que mesmo 
20 
 
que não seja a sua inerente, é a que as massas pretendem num dirigente, pois a mesma 
é muito facilmente iludida e anda constantemente em busca da opinião da maioria, isto 
é, se a maioriaresvalar para uma certa característica de um líder, o restante da população 
irá no mesmo sentido. Não obstante, a pequena minoria que possui uma ponião diferente 
da maioria apenas é ouvida quando esta última não sabe em qual partido escolher. Neste 
sentido, é muito fácil controlar o grande número, indo de encontro com os seus interesses 
e na máscara da imagem; 
• Ostentação de grandeza; 
• Corajoso e convicto; 
• Firme nas decisões. 
O Príncipe deve ser alguém que domine todos os pontos antecedentes, uma vez que 
existem dois tipos de combate latentes: 
1. Combate pelas Leis: o governante deve ser Raposa (astuto, manhoso e 
flexível), de modo a evitar armadilhas, pois o Direito é o produto da vontade de quem 
manda; 
2. Combate pela Força: o Príncipe deve ser Leão (forte, firme e convicto) para 
se defender dos Lobos (os outros governantes e a oposição). 
O autor florentino, depreende que é categórico o Príncipe deter todas estas 
características e condições para governar, dado que o estudo do passado possibilita uma 
previsão, ou antecipação, dos comportamentos futuros, podendo-se retirar máximas e regras a 
seguir, aquando na posse do poder político, como: 
• "Aquele que permite alguém tornar-se poderoso faz a sua própria 
desgraça"; 
• Um Príncipe, ou um futuro Príncipe, deve ascender ao poder utilizando 
alguém poderoso, pois um líder apoiado em alguém forte possui sempre mais problemas 
em manter-se no poder, do que quando se eleva apoiando-se em alguém fraco (povo); 
• À ascensão política segue-se a decadência, é imperativo ser-se inteligente 
para se sair do poder no momento correcto e mais benéfico; 
• Os principais pilares de todos os Estados são as boas leis e as boas armas 
e não há boas leis, sem boas armas; 
21 
 
• Os homens hesitam menos em prejudicar alguém que é amado do que 
alguém que é temido, mas não odiado ou desprezado, na medida em que o amor se 
quebra, contudo o medo é uma constante; 
• O povo não quer ser oprimido, porém quando recebe algum "incentivo", 
um sinal das boas graças do líder, mesmo menor que seja, o mesmo fica subserviente ao 
Príncipe; 
• Quando os homens recebem algum bem-vindo do que apenas esperavam 
mal, ganham reconhecimento; 
• Os Príncipes devem confiar aos outros, sublinha-se ministros, as 
competências de anunciar as medidas que suscitam rancor e ódio, numa manobra de 
evasão para o líder, pois a ele deve ser incumbido o anúncio das medidas mais vantajosas 
e benevolentes, com o intuito de ganhar reconhecimento nas massas; 
• Ninguém abdica de um ganho presente para um futuro; 
• "Se queres a paz, prepara-te para a guerra". 
A política, na perspectiva de Maquiavel é a convergência de três pontos: 
1. Virtude: a vontade de deter o poder; 
2. Necessidade: o Homem só realiza o bem quando pressionado pela 
necessidade; 
3. A fortuna: constitui-se como um resíduo irracional, mas é responsável por 
metade das ações. A fortuna, ou sorte, em analogia é a mulher, então é imperativo 
submeter a mesma e trata-la com firmeza, uma vez que as mesmas são mais atraídas 
pelos homens mais jovens, porque são menos respeitadores e mais ferozes e audazes. 
Por fim, o objectivo último do pensamento político de Maquiavel era demonstrar uma 
estratégia eficaz, na sua perspectiva, de como um Príncipe, um líder político com todas aquelas 
virtudes e seguindo de perto todo a obra, "O Príncipe", conseguiria unificar a Itália. Por 
conseguinte, na opinião de Nicolau, o Papa era demasiado fraco para se demonstrar digno de ser 
Príncipe. 
22 
 
Jean Bodin (1530 – 1596) 
Jean Bodin, nasceu em 1530 e morreu em 1596, na França, tendo vivido toda a sua vida 
nesse país. O filósofo realizou a sua academia em Direito e provinha de uma família burguesa. 
Não obstante, foi o teórico que concebeu o conceito de soberania, tal e qual como se apresenta 
na contemporaneidade. 
O tempo histórico contemporâneo a Bodin, séc. XVI, caracteriza-se por um período assaz 
conturbado por um conflito entre duas forças religiosas, por um lado os Protestantes, por outro 
os Católicos, originando a Reforma e a Contra-Reforma, como acontecimentos chave para esse 
desembocar de conflitos em larga escala entre ambos os partidos do mesmo. A Reforma possui 
o seu início em 1517, quando Lutero afixou na sua igreja as "95 Teses Herécticas", emanando um 
protesto claro sobre vários princípios que da doutrina da Igreja Católica Romana, propondo uma 
reforma da mesma. Por outro lado, a Contra-Reforma inicia-se em 1545, como combate à 
Reforma de Lutero, que a partir no seu ponto de partida ganhou seguidores, os chamados 
Protestantes. 
Jean, vive num contexto político e social, que durante cerca de 40 anos se evidenciam 
inúmeros conflitos religiosos entre católicos e protestantes. Por conseguinte, é neste contexto 
que surge a necessidade da criação de um conceito chave que iria concomitantemente extinguir 
tais atritos, esse conceito era o de Soberania, de modo a colocar ambos os partidos do conflito 
em paz. 
Torna-se imperativo referir outra personagem histórica de grande papel nos 
acontecimentos desembocados na França do séc. XVI, Jean Calvino (1509 – 1564), em França 
tenta difundir os seus ideais e pensamentos, contudo não consegue, uma vez que a perseguição 
aos indivíduos protestantes se fazia sentir no seio francês e sendo Calvino um protestante, 
tornou-se categórico a saída do mesmo do país, dirigindo-se para Genebra, local onde pregou a 
sua palavra. Em pontos genéricos o seu pensamento consiste nos seguintes pontos essenciais: 
1. O Estado deve estar subordinado à Igreja; 
2. Oposição categórica às indulgências; 
3. Aceitação do capitalismo, isto é, a interpretação bíblica de que Deus 
reconhece o esforço dos homens em quererem prosperar e possuir riqueza, no entanto, 
rejeita a ostentação da mesma. 
23 
 
Os seguidores da doutrina de Calvino eram denominados de Huguenotes, indivíduos da 
ordem caracterizada pelo nome de nobreza. Em 1562, inicia-se os conflitos religiosos em França, 
daí o secularismo intensivo e enraizado no Estado actual. 
Neste contexto, patentearam-se diversas lutas de poder entre católicos e protestantes, 
desembocando na Conspiração de Amboise, em 1560, entre os Huguenotes, liderados por 
Henrique de Navarra e, do outro lado, os Bourbon. O líder que encabeçava o movimento 
protestante detinha como ambição usurpar o poder de uma grande família católica, os Guise, 
entanto a conspiração foi descoberta e os conspiradores, sublinha-se os protestantes, foram 
massacrados. De seguida, o apaziguamento foi encontrado pela mão de L´Hôpital, o Primeiro 
Ministro francês, em que o mesmo em 1561 proclama a liberdade de consciência aos 
protestantes e em 1563, a liberdade de culto público. 
Em 1572, efectiva-se o massacre de Santo Bartolomeu, em que os Huguenotes são mortos 
em massa pelos católicos, com o pretexto de que o casamento de Henrique de Navarra com 
Margarida de Valois, irmã do Rei Carlos IX que irá morrer em 1574, foi realizado apenas pelo 
interesse de Henrique de Navarra se apropriar do poder da coroa. Os orquestradores deste 
acontecimento violento foram, o Reis Carlos IX, o Duque de Guise (Henrique) e, pelo futuro Rei 
de França, Henrique, o futuro Henrique III. Às mãos deste massacre morreram mais de 70 mil 
pessoas, porém Henrique de Nevarra escapa. 
Em 1576, o palco francês encontra-se tripartido em facções distintas, tais como: 
• Santa Liga: facção católica, cujo objectivo resume-se no fim da existência 
de protestantes no território francês e colocar o Henrique de Guise no trono, por sua vez 
o líder deste movimento. Nesta altura também se efectivou a proibição do culto 
protestante; 
• Protestante: encabeçada por Henriquede Navarra; 
• Les Politiques: fação católica moderada, liderada pelo irmão de Henrique 
III, François e L´Hôpital. 
É neste ano de 1576 que Jean Bodin, o principal teórico da facção “Les Politiques”, realiza 
e imprime a sua principal obra, "Seis Livros da República", no qual se evidenciava sinuosamente 
o conceito de Soberania, sendo que seria o mesmo, a "faísca" possível para a efectivação da 
ordem na França. Não obstante o conceito resume-se no seguinte: o poder absoluto e perpétuo 
de uma Res Publica. Deste ponto de partida, Jean Bodin chegou à conclusão que o garante da 
ordem e da paz no palco francês seria, uma completa e incisiva divisão do Estado e da religião, 
24 
 
sendo que o primeiro era possuidor de Soberania, detendo o poder autoritário na sua posse, 
como garantia da propagação da ordem, em plena alegoria com, Estado visto como religião laica 
capaz de ordenar todas as outras religiões. 
Alguns anos depois de 1576, em 1587, após a morte de Carlos IX a casa real francesa 
apresenta-se com um dilema substancial e estrutural, em que não existe um herdeiro para 
suceder ao falecido e deflagra, entre 1587 – 1589, a "Guerra dos Três Henriques", perpetuada 
por Henrique III, Henrique de Navarra e Henrique de Guise. O Duque de Guise é assassinado em 
1588 por Henrique III e este último é morto por um fanático católico, ficando vivo Henrique de 
Navarra, o proclamado Rei de França, em 1589. 
Henrique de Navarra não era reconhecido como Rei de França, tanto pelos católicos 
franceses nem pelo Papa, é neste sentido que o mesmo se converte ao catolicismo, com o intuito 
de apaziguar as tensões entre protestantes e católicos e conseguir deter o poder real francês, 
sendo reconhecido por essas duas entidades supramencionadas em 1595. Henrique de Navarra 
concedo igualdade de direitos políticos aos protestantes e legalidade de culto nas cidades de 
maioria desta última. Não obstante, este Rei, foi o primeiro monarca absoluto, com uma visão 
claramente agregada com Jean Bodin, sendo assassinado em 1610. 
Entre 1624 e 1642, Richelieu é o PM francês e compreende a grande ameaça latente para 
a França, ou seja, uma Alemanha unificada, focando todos os seus esforços para que tal não 
aconteça. Relativamente às liberdades concedidas por Henrique de Navarra aos protestantes, 
Richelieu extingue com a igualdade de direitos políticos dos protestantes. 
Em 1685, com Luís XIV no trono, acaba com a tolerância religiosa para com os 
protestantes, algo que só voltará em 1789, pela mão da Revolução Liberal. 
Para Jean Bodin, a Res Publica é: um governo bem ordenado de um certo número de 
famílias e daquilo que lhes é comum, como por exemplo as leis, os costumes e o tesouro, 
subjacente a um poder soberano. 
Por conseguinte, segundo Bodin o fim primeiro da Res Publica é a Justiça e a perpetuidade 
da mesma, sendo que o elemento essencial é a família que deve fidelidade e obediência ao chefe 
da mesma. Quando os indivíduos saíem do espaço da casa são cidadãos da Res Publica, sendo 
que se patenteia uma subjugação e obediência ao Soberano, que em troca submissão resvala 
justiça e protecção, numa obrigação mútua. 
A Res Publica assume a diversidade interna das várias comunidades que apoiam o 
Soberano, dado que cada indivíduo é detentor de autonomia. Neste contexto a soberania é 
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absoluta e perpétua, isto é, não é algo temporário e não pode ser revogado, revelando a 
continuidade no tempo da entidade Estado. Neste sentido, a soberania é atribuída de forma 
incondicional e indivisível e o Soberano é o representante de Deus na Terra, significando que o 
mesmo cria as leis e que não é obrigatório o próprio respeitar as mesmas. O Soberano encontra-
se acima das leis humanas, dado que é o próprio que as faz. Não obstante, o Soberano deve-as 
cumprir em jeito de exemplo, contudo o Estado não possui limites ao seu poder, caso contrário 
pode implodir e os tempos dos conflitos religiosos recorrentes voltam. Mesmo que o Soberano 
se torna um Tirano é impossível ser deposto. Por outro lado, Jean Bodin, ainda afirma que a 
religião deve ser algo praticado publicamente, uma vez que a prática resguardada para a esfera 
pessoal, consequentemente origina conspirações. 
Bodin, afirma que o poder absoluto não reconhece igual na ordem interna nem superior 
na ordem externa, sendo que para o filósofo este conceito detém várias atribuições: 
1. Fazer leis vinculativas sobre os súbditos quer no geral, como no particular 
sem o consentimento de outrém e muitas das vezes mesmo indo contra a vontade dos 
mesmos, com a consequência de se patentear actos coercivos caso o incumprimento 
destas leis; 
2. Fazer a guerra e a paz; 
3. Cunhar moeda; 
4. Julgar em última instância acima da lei positiva e dos magistrados; 
5. Cobrar impostos; 
6. Conceder amnistias; 
7. Direito de vida e de morte sobre os cidadãos. 
Jean Bodin, por fim, emana que o poder do Soberano possui alguns limites, caso o mesmo 
queira se reger por eles, que são: 
1. Leis de Deus e da Natureza; 
2. Leis Humanas que são comuns a todas as nações; 
• Leis constitucionais do Reino, tal como a Lei Sálica, que impede as 
mulheres de puderem ser coroadas monarca de um reino; 
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• Leis que habitualmente necessitam do consentimento dos três 
Estados (Clero, Nobreza e Povo); 
3. Respeito pela propriedade privada, sem justa causa. 
Thomas Hobbes (1588 – 1679) 
Thomas Hobbes nasceu em 1588 e morreu em 1679, com 91 anos de idade. Logo a partir 
do seu nascimento, Hobbes acredita que já estava predestinado a viver com medo, uma vez que 
quando a sua mãe estava grávida do autor inglês, ela soube das notícias que a armada marítima 
espanhola se encontrava nas águas britânicas. Nesse sentido, o filósofo depreendeu que o seu 
nascimento prematuro, proveniente, segundo Hobbes, das notícias que a sua progenitora 
recebeu, causou consequências para toda a pessoa que é Thomas Hobbes, chegando a pronunciar 
que “ao nascer, a sua mãe deu à luz gémeos: Hobbes e o medo”. 
Hobbes viajou um pouco por todo o continente europeu, chegando a ser exilado em 
França. As suas obras são o sustento do apoio a um governante da Grã-Bretanha, Cromwell. 
O contexto histórico em que Thomas viveu foi um bastante conturbado em que uma série 
de conflitos se patentearam, nomeadamente o conflito entre parlamentaristas e monárquicos. 
Não obstante, este último acontecimento levou à vitória das forças parlamentares, lideradas por 
Cromwell que instituiu, após a guerra civil, de 1649 a 1653 uma Respublika na Grã-Bretanha, 
chamada de “Commonwealth”, eliminando a monarquia e condenando Carlos I à morte e levando 
as ilhas britânicas a um sistema parlamentar. Posteriormente, entre 1653 a 1659, o governante 
torna-se o “Lord Protector do Reino” e transforma o seu domínio na Respublika dos Santos, 
considerado por alguns autores como o primeiro caso de um regime totalitário na história, na 
medida em que o regime parlamentarista foi abolido e o Cromwell concentrou em si todos os 
poderes, tão como lidava de forma bastante violenta com a oposição. O Governante, aquando do 
poder, expurgou inúmeros indivíduos, com o pretexto de os libertar dos seus pecados mortais, 
chegando a matar pelo menos 30% da população irlandesa da época. 
O conflito entre Monarquia-Parlamento e a Guerra dos 30 Anos, foram pontos decisivos 
para o pensamento teórico de Hobbes. Este último, escreveu muitas obras, das quais se destaca 
as seguintes: “Elements of Law” (1640), “De Cive” (1642), “Leviathan” (1651) e “Behemot” (1654). 
Estes dois últimos títulos são ambos retirados de nomes bíblicos. Sendo que, Thomas é muito 
inspirado em ensinamentos da bíblia. 
O seu pensamento político tem início com uma visão lógica e processualda história, dado 
que, Thomas Hobbes revela o estádio primário em que o ser humano viveu na antiguidade e que 
pode vir a reviver, caso existam circunstâncias para tal. Neste sentido, o Estado de Natureza, é o 
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ponto de partida do Homem, um estádio em que não existia poder político, patenteava-se uma 
igualdade de facto entre todos os indivíduos, reinava a “lei do mais forte”, isto é, o detentor de 
mais força física é o que subjuga os mais fracos e, por conseguinte, o ser que detém mais poder 
dentro do conjunto dos seus congéneres. Todos os Homens seguem os seus próprios interesses 
individuais, daí, Hobbes considerar que o Homem neste estádio se encontrava em guerra 
perpétua com o Homem. Não obstante, todos os indivíduos desejam adquirir os mesmos bens, 
revela-se uma desconfiança mútua e o recurso à força como meio para atingir os fins. Em suma, 
não há lei acima do Homem. 
No momento em que os indivíduos deixam de se sentirem confortáveis, ou seja, 
possuírem um emprego, comida no estômago e capital há um foco exímio apenas no acto de 
sobreviver, a moralidade perde-se, as leis deixam de existir e os Homens decaem, mais uma vez, 
para o seu estádio de natureza latente. Em busca da sobrevivência a moralidade deixa de fazer 
efeito. O que se conclui, que o Estado civilizacional que todos nós tomamos por adquirido é 
extremamente frágil. 
Retornando a Hobbes, o Homem não possui quaisquer tendências para a associabilidade, 
o “Homem é lobo do Homem”, por outras palavras, todos os indivíduos odeiam-se 
reciprocamente, têm o desejo perpétuo e sem tréguas de adquirir o poder, apenas a morte é 
possível de cessar tal busca. 
Para Thomas o poder político é o conjunto dos meios empregues para obter uma 
vantagem futura e aparente. O filósofo inglês foi o primeiro e único contractualista que 
apresentou o Estado de Natureza como algo factual e, numa das três situações que o mesmo 
apresenta, pode-se voltar a restituir: 
1. Guerra-civil; 
2. Anarquia; 
3. Sociedade primitivas; 
A característica humana que promove a saída deste estádio, é a razão, isto é, descobrir os 
meios mais adequados para alcançar os fins que se deseja e agir segundo os interesses, tendo o 
ideal de conservar a vida como o mais primário e importante. Logo, o medo da morte é o 
catalisador para a fuga do Estado de Natureza, uma vez que, não havendo lei moral, reinando a 
“lei do mais forte” e com a sociedade civil em constante conflito, a morte é algo bastante presente 
e evidente. Neste sentido, a razão nasce da necessidade. 
Os indivíduos chegam à conclusão que na ausência de lei e de um poder comum é 
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inexequível a prosperidade e a paz, estando o medo sempre latente, o medo de morrer. Neste 
sentido, entre os mesmos, alcançam um contracto com um Leviatã, um Deus mortal, Homem 
artificial em que a arte do mesmo imita a arte de Deus, cujo objectivo consubstancia-se em 
promover essa tal segurança e garantia da paz entre os Homens. 
Hobbes faz uma distinção bipartida do Estado, o Corpo é a sociedade civil e a Alma é o 
poder soberano, nas mãos do Leviatã, ou seja, a alma é o que comanda o corpo e, este último, 
meramente obedece. 
O objectivo do contracto é que o Leviatã extinga com a insegurança e garantir o que o 
Estado de Natureza não permite, a paz, prosperidade, defesa dos indivíduos e ordem. O Leviatã 
tem de garantir dois pontos vitais: (i) a vida e (ii) a propriedade privada, sendo que todos os 
direitos individuais no anteposto EN são resvalados para o Leviatã, nomeadamente a liberdade. 
Para Hobbes o “dinheiro é o sangue da cidade”, ou seja, é o trabalho árduo da população e a 
“opinião é sedição”, isto é, promove a revolta popular e entra em contraponto com o poder forte 
do Leviatã. 
O poder soberano exposto pelo filósofo inglês, é constituído por certas e determinadas 
características emanadas no Convenant (contracto). Este último é concluído por todos os 
indivíduos entre si e não entre as massas e o Leviatã, daí o poder deste estar legitimado pelo 
Convenant e não pode ser retirado. Todo o poder e todos os direitos dos indivíduos são colocados 
na posse do Leviatã, pois este está acima dos Homens, que renunciam a inexistência do contracto 
com o receio de propulsar o EN novamente. O soberano é a única pessoa, física ou jurídica, capaz 
de potenciar tais efeitos. 
Os indivíduos fundem-se na Commonwealth (Estado), apenas possui uma vontade, a do 
Leviatã e devem obediência a este último que, por sua vez, é o dirigente das ações dos Homens 
para o bem comum, mantendo estes últimos controlado por actos coercivos negativos e 
perpetuando o medo de tais efeitos. 
Segundo Hobbes, o poder soberano detém três características: 
1. Irrevogável: o poder não pode ser restituído para os indivíduos 
novamente, refutando com as teorias contractualistas em lato sensu; 
2. Absoluto: o Leviatã é o ser que depreende a distinção entre o bem 
e o mal, o correcto e o incorrecto, daí a total obediência dos Homens no mesmo, 
pois estes transferiram todo o seu poder, os seus direitos e as suas vontades ao 
soberano. Neste sentido, o Leviatã não é submetido a leis humanas nem 
eclesiásticas, existindo uma autêntica distinção entre soberano e súbditos; 
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3. Indivisível: acumulação de poderes sobre uma única pessoa, física 
ou jurídica; 
O Leviatã é detentor de ambos os poderes, tanto temporal como espiritual, daí que a 
imagem perpetuada na obra “Leviathan” seja um homem empunhado numa mão uma espada 
(poder temporal – poder político) e na outra um báculo (poder espiritual – poder religioso). Sendo 
uma mesmo ser o possuidor de ambos os poderes. 
Francisco de Vitória (1485 – 1546) 
Nasceu em 1485 e morreu em 1546, era um padre dominicano e era o titular da cátedra 
de teologia da Universidade de Salamanca, sendo o expoente máximo da neoescolástica. 
Para Vitória o poder político é distinto da graça e do pecado original. Daí o Papa, segundo 
a sua perspectiva, não poder ser detentor de qualquer legislação sobre questões políticas, apenas 
se pode remeter aos problemas religiosos. O poder político possui origem humana e no direito 
natural, concretiza-se nos diferentes povos. A origem natural significa que, o poder vale por si 
próprio, e independente da vontade humana, sendo que o que é correcto ou errado não detém 
validação da volição ou do pensamento do Homem. Em contraponto o direito positivo, não passa 
de uma inserção do direito natural num respectivo tempo e num espaço, porém as aplicações 
práticas podem-se alterar dependendo das circunstâncias. 
Neste role de pensamento, uma lei é injusta quando as suas conclusões não acompanham 
o direito natural, logo, face a estas detenções do direito positivo injusto os indivíduos detêm o 
direito à resistência, através da guerra justa. Este conceito é estudado já por Cícero, sendo que 
para o mesmo a guerra que vem ou que foi de legítima defesa é justa e para Santo Agostinho, 
desde que a guerra possua como objectivo a paz e a defesa do bem é considerada justa. 
Segundo Francisco de Vitória o direito natural pode ser depreendido racionalmente, 
mesmo que os governos ou os governantes o tentem esconder dos olhos populares. Qualquer 
povo, por direito natural pode constituir uma Respublika (direito à auto-determinação), pois esse 
direito nasce das ações livres do Homem. Não é categórico o consentimento de todos os 
indivíduos de um povo para a sua auto-determinação, ou seja, a constituição de uma Respublika, 
apenas basta a maioria. O caminho seguinte é a construção de Respublikas de todos os povos 
para que estas se possam agregar e criar as bases para uma Respublika maior, uma comunidade 
do género humano, cujo objectivo é o bem comum internacional, assente na tal organização

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