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A crise na educação - Hannah Arendt

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Instituto São Boaventura – ISB
Bacharelado em Filosofia – Filosofia da Educação
Ricardo Rodrigues Lima
ARENDT, Hannah. A crise na educação.
	A relação entre educação e política é de suma importância, pois é pela educação que os novos indivíduos são inseridos no mundo. Cabe à educação transmitir os valores, regras, normas já existentes no mundo. A crise na modernidade se acentua porque esta relação foi quebrada, a educação perdeu seu fundamento e transformou-se num saber pragmático.
	O educar hoje é fazer algo, crendo que só se aprende aquilo que se pode colocar em prática. Com esta nova visão de educação houve uma ruptura na inserção dos novos indivíduos, perdeu-se a base que consistia em cuidar do mundo e dos novos indivíduos para que sejam inseridos adequadamente. No entanto, a crise pode oferecer uma ampla reflexão sobre os pressupostos vigentes, como destaca Hannah Arendt:
Referimo-nos à oportunidade, fornecida pela própria crise – a qual tem sempre como efeito fazer cair máscaras e destruir pressupostos – de explorar e investigar tudo aquilo que ficou descoberto na essência do problema, essência que, na educação, é a natalidade, o facto de os seres humanos nascerem no mundo. O desparecimento dos pressupostos significa simplesmente que se perderam as respostas [...]. A crise força-nos a regressar às próprias questões e exige de nós respostas, novas ou antigas, mas, em qualquer caso, respostas sob a forma de juízos diretos. (ARENDT, Hanna. A crise na educação. Pág. 2).
	O momento da crise nos coloca em reflexão e com isso, somos levados a rever as questões exigindo novas respostas sobre o sistema em que estamos inseridos. 
Por mais que uma crise na educação possa afetar o mundo inteiro, na América ela toma outra forma, isso por conta do fator politico. Arendt acentua que este fator político se dá pela América ser uma terra de imigrantes. “A escola não serve apenas para americanizar as crianças, mas tem, também, efeitos sobre seus pais” (ARENDT, Hannah. A crise na educação. Pag. 4) é o que expõe a autora ao tratar sobre o papel político que a educação representa numa terra de imigrantes.
	Em seu texto, A crise na educação, Hannah Arendt aborda acerca de três ideias-base na educação; uma das ideias-base é a da criação do mundo da criança. Essa ideia foi estruturada em um mundo, onde a criança tem autonomia e deve governar a si própria. 
A partir deste pressuposto os adultos assumem o papel de ouvintes, sua função se resume a assistir o processo das crianças. É as próprias crianças que devem decidir o que irão fazer ou não. Com isso, o adulto fica quase sem contato com a criança porque não pode interferir no processo da mesma. Por outro lado, a própria criança é submetida a uma autoridade tirânica da maioria. “Emancipada face à autoridade dos adultos, a criança não foi, portanto, liberta, mas antes, submetida a uma autoridade muito feroz e verdadeiramente tirânica: a tirania da maioria” (ARENDT, Hannah. A crise na educação. Pag. 6).
Por sofrer tal pressão a criança acaba por cair ou num conformismo – aceitando tudo, sem ter preocupação por nada – ou cai na delinquência. A criação do mundo das crianças isola-as dos adultos como se tivessem duas instâncias distintas; temos assim, uma quebra na relação que deveria ser normal no mundo.
Na ideia de emancipação das crianças criou-se o mundo delas, na qual o adulto não pode interferir no seu aprendizado. Porém, com esta ideia de emancipação criou-se uma profunda crise de autoridade, em especial na educação. 
A educação, com a escola, que exercia o papel de inserir os novos seres no mundo tinha o papel de cuidar destes seres para que não fossem jogados no mundo que lhes é novo e, ao contrário também, cuidar do mundo para que não sofra constantes mudanças com os novos habitantes.
Normalmente é na escola que a criança faz a sua primeira entrada no mundo. Ora, a escola é, de modo algum, não o mundo, nem deve pretender sê-lo. A escola é antes a instituição que se interpõe entre o domínio privado do lar e o mundo, de forma a tomar possível a transição da família para o mundo. [...] A escola representa de certa forma o mundo, ainda que não o seja verdadeiramente. (ARENDT, Hanna. A crise na educação. Pág. 10).
O papel da educação era de cuidar das crianças e do mundo. No entanto, com o modelo de educação moderno de emancipação criou-se tal problema que não se tem distinção do que seja público e do que seja privado, vemos assim, as crianças desprotegidas, jogadas num mundo em que não foram inseridas para viverem nele. Percebe-se uma sociedade que expõe suas crianças ao mundo sem terem o mínimo preparo para habitá-lo.
O educar é voltar ao passado e ensinar para as crianças a autoridade que seus antepassados criaram e é pela autoridade que os novos seres devem ser inseridos. Deve-se levar em conta que o mundo é obra humana e estes são passageiros; podemos cair num mundo inconstante que está exposto a constantes mudanças. Por isso a importância do educar com ensino. É difícil educar sem ensina. O papel do educar não é somente ensinar como viver, pelo contrário, tem um sentido mais profundo e necessário: mostrar como o mundo é. Hannah Arendt aborda sobre o educar e o ensinar:
Não é possível educar sem ao mesmo tempo ensina: uma educação sem ensino é vazia e degenera com grande facilidade numa retórica emocional e moral. Mas podemos facilmente ensinar sem educar e podemos continuar a aprender até o fim dos nossos dias sem que, por essa razão, nos tomemos mais educados. (ARENDT, Hanna. A crise na educação. Pág. 14).
	Educar sem ensinar é construir uma educação vazia que é passageira. O educar é um ato de amor tanto pelas crianças como pelo mundo, pela sua conservação e transformação.
	Por isso a importância em educar as crianças para que sejam preparadas para assumirem a responsabilidade pelo mundo e de suas possíveis renovações, para que haja um mundo comum a todos.

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