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ciências políticas e sociais texto 2014 2

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CIÊNCIAS POLITICAS E SOCIAIS
Uma breve introdução
No início dos estudos das Ciências Políticas e Sociais, não havia discriminação entre os conceitos da filosofia e das ciências. Pode-se dizer que a separação conceitual pertence à idade moderna. Só se vai tornar consciente na medida em que aumenta a separação dentre as posições metafísicas e naturalistas, por consequência da crise havida nos estudos filosóficos, desde o Renascimento. De um lado, a atitude escolástica, espiritualista, de raízes cristãs, aristotélicas e platônicas. Do outro, o começo da atitude que seculariza o pensamento filosófico em escolas recentes, as quais só chegam, no entanto, ao pleno amadurecimento de suas teses mais professadamente e antiespiritualistas depois da abertura de horizontes da filosofia de Kant. 
Com efeito, foi a filosofia crítica que, embora confessadamente idealista, determinou os impulsos e sugestões indispensáveis de onde saíram concepções de todo opostas ao idealismo. Depois de Kant, com as ações intelectuais dos positivistas evolucionistas, torna-se cada vez mais preciso o conceito de ciência, ficando quase todos em acordo para designá-la como conhecimento das relações entre coisas, fatos ou fenômenos, quando ocorre identidade ou semelhança, diferença ou contraste, coexistência ou sucesso nessa ordem de relações. 
A caracterização da ciência implica a tomada de determinada ordem de fenômenos, em cuja pluralidade se busca um princípio de unidade investigando-se o processo evolutivo, as causas, as circunstâncias, as regularidades observadas no campo fenomenológico. Herbert Spencer provoca uma definição nas vacilações que havia entre ciência e filosofia, quando ele indica os tipos de conhecimento existentes. Há, segundo ele, três variantes do conhecimento: o empírico ou vulgar, conhecimento não unificado; conhecimento científico, parcialmente unificado; e conhecimento filosófico, conhecimento totalmente unificado.
A ciência política – junto com a social - é indiscutivelmente aquela onde as incertezas mais afligem o estudioso, levando alguns a duvidar se se trata aqui realmente de ciência. Um problema de nomenclatura? De sentido comum aos estudiosos?
Há um campo movediço e oscilante do vocabulário político, as variações semânticas dos termos de que se serve o cientista social de país para país, com as mesmas palavras valendo para os investigadores do mesmo tema, coisas inteiramente distintas, como por exemplo, a palavra democracia, a que se emprestam variadíssimas acepções, ameaçando imergir num caos sem saídas os mais competentes e idôneos esforços de fixação conceitual. 
Até a expressão Estado, ao redor da qual se levanta vastíssima e respeitável literatura já centenária, trazendo o selo de contribuição monumental de afamados pensadores e filósofos, não pode ainda chegar a um ponto comum confiável no que se trata dos sentidos das expressões mais comuns nas ciências políticas, quando tem de se trabalhar com conceitos como os de governo, nação, liberdade, democracia, socialismo, etc.
Isto pode não ocorrer com as ciências da natureza, o que lhe é facilitado pelas circunstâncias e fenômenos terem aí exterioridade à parte do observador ou as substâncias de que trata, por exemplo, o químico em seu laboratório, poderem ser pesadas ou medidas, ou ainda a experiência do físico, que pela experiência, observação, medição possa chegar ao conhecimento de leis perfeitamente exatas e uniformes. Mas se o oxigênio, o enxofre e o hidrogênio “se comportam da mesma maneira na Europa, Austrália...., se qualquer mudança na composição do elemento químico encontra no cientista condições fáceis e seguras de exame e esclarecimento. 
O mesmo não se dá com o fenômeno social e político. Fica este sujeito a imperceptíveis variações, de um para o outro país, até mesmo na prática do mesmo regime; ou de um a outro século, de uma ou mais geração. As instituições, conservando por vezes o mesmo nome, já passaram todavia pelas mais caprichosas alterações. O material de que se serve assim o cientista social cria pela extrema mutabilidade de sua natureza, não somente dificuldades quase intransponíveis ao estudioso, como torna difícil senão impossível o reconhecimento, na Ciência Política, de leis fixas, uniformes, invariáveis. 
Outra dificuldade surge da impossibilidade em que fica o observador de neutralizar-se perante os fenômenos que estuda para daí alcançar conclusões válidas, lícitas, imparciais, objetivas, que não sejam fruto de inclinações emocionais passageiras ou de juízos preformados na mente do observador.
A consciência de quem observa não raro se liga ao fenômeno ou processo. Sua aderência a determinado Estado, seu lastro ideológico, sua vivência em certa época, suas reações psicológicas em presença dos mais distintos grupos, desde a Igreja, o irredutível, capaz se emprestar ao fenômeno observado todo o feixe de peculiaridades que o acompanham, recebidas ou inatas. 
Por mais que se esforce não chegará ele nunca a captar o fenômeno social imparcialmente, emancipado do círculo vicioso ou da camada densa de preconceitos que o rodeiam. Com essas ponderações há que atuar pois o estudioso da sociedade, que, com o mínimo de dogmatismo inconsciente, se proponha a versar sobre o conteúdo das ciências sociais, já advertido de seus possíveis embaraços.
Onde entram os sentimentos humanos, só a consideração despretensiosa dos aspectos históricos, jurídicos, sociológicos e filosóficos, ontem e hoje, neste ou naquele Estado, dará à problemática política da sociedade o aproximado teor de certeza que virá um dia recompensar o esforço do cientista social, honesto e incansável, cujo trabalho, antes da frutificação, sempre tomou em conta a medida contingente das verdades que se extraem do comportamento dos grupos e da dinâmica das relações sociais.
Em função destas supostas dificuldades de interpretar o que se passa na sociedade, no poder constituído há um desafio ao profissional das diversas áreas: como conhecer e saber dos mecanismos sociais e políticos de tal forma que se consiga antecipar, compreender, criar para esta mesma sociedade. Profissões como administradores, economistas, engenheiros, profissionais liberais em geral não estão livres da necessidade de entender o que se passa. Entre estes citados não é raro perceber uma certa falta de vontade ou de percepção da necessidade de compreender a sociedade. Não é raro, por isso, ações e projetos que não contemplam as reais necessidades dos grupos sociais para os quais trabalham. 
 
Objeto da Ciência Política
A Ciência Política, na contribuição da Filosofia, tem por objeto o estudo dos acontecimentos, das instituições e das ideias políticas, tanto em sentido teórico (doutrina) como em sentido prático (arte) referido ao passado, ao presente e às possibilidades futuras. Tanto os fatos como as instituições e as ideias, matérias desse conhecimento, podem ser tomados como foram ou deveriam ter sido (consideração do passado), como são ou devem ser (compreensão do presente) e como serão ou deverão ser (horizontes do futuro).
Mas nem todos os autores, tratadistas e publicistas que trabalham com temas da Ciência Política se põem de acordo com fixar de maneira tão ampla o conteúdo e a conformação desta disciplina. A Ciência Política parte de conceitos polêmicos, quanto ao método, quando à extensão de seus limites, quanto ao nome que se há de eleger para essa categoria de estudos. 
Outra dimensão importante que toma a Ciência Política é a de cunho sociológico. O estudo do Estado , fenômeno político por excelência, se constitui um dos pontos altos e culminantes da obra de Max Weber. Sua sociologia política abre propostas de estudos pertinentes à política científica, à racionalização do poder, à legitimação das bases sociais em que o poder repousa.
Pergunta-se aí sobre a influência e natureza do aparelho burocrático; investiga-se o regime político, a essência dos partidos, sua organização, sua técnica de combate e proselitismo, sua liderança, seus programas; interrogam-se asformas legítimas de autoridade, como autoridade legal, tradicional ou carismática; estuda-se a administração pública, como nela influem os atos legislativos, ou como força dos parlamentos, sob a égide de grupos socioeconômicos poderosos, empresta à democracia algumas de suas peculiaridades mais flagrantes. 
A Ciência Política não pode ignorar as raízes históricas da evolução política. Oppenheimer, a título de exemplo, traçou um roteiro que se estende, através d dos mais agudos transes e das mais amargas passagens, do Estado de conquista ou Estado de cidadania livre. Como forma de coação sobre os homens, o Estado se acha fadado a desaparecer, desde que a escravidão antiga e a escravidão capitalista, outrora forçosas, se tornavam doravante supérfluas. 
Se em Atenas, observa Oppenheimer, ao lado de cada cidadão livre trabalhavam cinco homens escravos na sociedade contemporânea a cada cidadão livre corresponde o dobro de escravos mas escravos doutra espécie, doutro cativeiro, escravos de ação que não tem de padecer ou suar quando trabalham. 
Se houver uma transposição do quadro acima para os dias de hoje, verifica-se uma situação análoga. Não mais se fala em escravidão nos moldes conhecidos historicamente mas há outro tipo de exploração, provavelmente mais sutil mas seguramente, muito próximo ao que existia antes. A preparação do profissional de hoje exige uma infinidade de qualidades, atributos, preparo, informação, capacidade de inovação e criação, que substituirá até dezenas de outros funcionários ou operários mas sem a garantia de que a compensação pela nova forma de trabalho será justa. É o que se verifica na análise de Karl Marx como exploração – o que foi sua grande preocupação na relação entre operários e patrões. Aliás, hoje em dia, a própria figura do patrão não é clara. O indivíduo trabalha para uma figura jurídica que ele não conhece.
Ciência Política e as demais Ciências Sociais
A cada década que passa mais se confirma uma constatação: quanto menos desenvolvida uma sociedade, quanto mais grave seu atraso econômico, mais instáveis e oscilantes as instituições políticas. Do mesmo passo, menos amplo e eficaz será então o Direito Constitucional em sua capacidade de organizar instituições que ab abranjam de modo efetivo toda a esfera de comportamento e decisão do grupo político. Daqui decorre pois uma crescente divisão entre a ordem constitucional estabelecida e a realidade política. Enfim, diminui com isso a possibilidade de toda a vida política – inclusive o comportamento e o poder de decisão de indivíduos e grupos – recair na órbita do direito regulamentado e das instituições criadas. 
Em países subdesenvolvidos, nominalmente democráticos, há um círculo minimum constitucional, onde operam as instituições que o poder oficializou, ao passo que nos países desenvolvidos esse minimum se converte em maximum; é onde a vida política real e vida política juridicamente institucionalizada tendem a coincidir. Dessa situação emergem em consequência um campo mais amplo mais arejado, mais desimpedido ao Direito Constitucional, que será o direito das instituições. 
Na sociedade subdesenvolvida, ao contrário, a vida política gera um teor elevadíssimo de controvérsias e impõe menos uma oposição ao governo do que às instituições , fazendo com que a parte mais importante do comportamento político e do funcionamento do poder transcorra fora das regiões oficiais ou do direito público legislado. A eficácia do sistema fica nesse caso preponderantemente sujeita à imprevisível ação de grupos de pressão, lideranças políticas ocultas e ostensivas, organizações partidárias lícitas e clandestinas, elites influentes, que produzem ou manipulam uma opinião pública dócil e suspeita em sua autenticidade.
Observa-se ademais que nos países subdesenvolvidos, os golpes de Estado, a violação regular do Direito Constitucional, o fermento revolucionário oriundo da insatisfação social, a luta de classes, brutalmente exacerbada pelo privilégio ou por violentas discrepâncias econômicas, compõem um quadro onde o processo político e a realidade do poder escapam não raro aos limites modestos da autoridade institucionalizada. Na falta deste direito, a Ciência Política aparece como disciplina apta a prestar contas da realidade. É o momento maior de sua atuação quando aponta as lacunas deixadas pela não observância do direito de todos. 
Economia e Ciência Política
Sem o conhecimento dos aspectos econômicos em que se baseia a estrutura social, dificilmente se poderia chegar à compreensão dos fenômenos políticos e das instituições pelas quais uma sociedade se governa. Considera-se correto o entendimento de cientistas políticos de que não há necessidade de ser marxista para reconhecer o fato econômico como fundamental na politização da sociedade, a tal ponto de que a Economia Política seja considerada como uma das Ciências Políticas. 
Democracia e socialismo, formas políticas de organização do poder, não podem abrir mão, no Estado moderno, de planificação. O conhecimento econômico se faz cada vez mais interessado e o Estado não o emprega unicamente para explicar ou conhecer o modo por que se satisfazem as necessidades materiais de uma sociedade, senão que os emprega, cada vez mais, para criar instrumentos novos e diretos de ação, vinculando-os a um programa de governo ou a uma política econômica específica. 
A corrente de ideias de que resulta o mais forte acento na identidade da Ciência Política com a Economia Política é sem dúvida dos pensadores marxistas. Deduz-se do Marxismo que todas as instituições sociais e políticas formam uma superestrutura tendo por base de sustentação uma infraestrutura econômica. Essa infraestrutura é determinante, em última análise, de tudo quando se passa em cima, sendo a função econômica decisiva, bem que não seja exclusiva, no influxo exercido sobre as instituições integrantes da chamada superestrutura social.
É evidente que pensadores falam de esferas políticas alheias a interesses econômicos, mencionando aquelas que se relacionam com a manutenção da paz e a administração da justiça. Mesmo aí, há implicações econômicas, seja na paz externa entre os Estados, ou pela paz interna social e política de um país, cujos reflexos psicológicos incidem com a máxima intensidade sobre o comportamento econômico e financeiro de um país. Basta leve comoção ou crise para que se comprove , sobretudo em sociedades de estrutura econômica frágil, quanto a paz é necessária ao bom curso dos negócios e como seu transtorno poderá refletir-se de modo negativo, com força quase instantânea sobre o conjunto das operações econômicas e financeiras. Demais paz social é fundamentalmente aquela que resulta da atenuação da luta de classes e da distribuição mais equitativa do poder econômico numa sociedade, mediante a prática da justiça social. 
Uma outra área que contribui para discutir a Ciência Política é a História. Quando se toma a História como acumulação crítica de fatos e experiências vividas, fácil se torna perceber a importância de seu estudo para a Ciência Política e a contribuição essencial que o historiador poderá oferecer nesse domínio. 
Se o filósofo, o economista, o sociólogo e o jurista quiseram, em outras épocas, monopolizar a Ciência Política ou imprimir-lhe uma diretriz que traduzisse exclusividade de perspectiva, também o historiador não foi insensível a essa orientação, querendo igualmente apropriar-se daquela disciplina, para reduzi-la a mera investigação acerca da origem e do desdobramento dos sistemas, das ideias e das doutrinas políticas, conhecidas e praticadas pelo gênero humano no decurso de tantos séculos. 
Dessas investigações seriam extraídas generalizações com o valor de “leis históricas”, trabalho empreendido por Karl Marx e Hegel. A Ciência Política dos ideólogos marxistas se serve da História como se houvesse ali decifrado o segredo de evolução dialética das instituições políticas e sociais. 
 Sociedade e Estado, grande pauta da Ciência Política
O vocábulo Sociedadetem sido empregado, conforme assinala Talcott Parsons, como a palavra mais genérica que existe para referir “todo complexo de relações do homem com seus semelhantes”. Sendo o mecanismo e o organicismo as duas formulações históricas mais importantes sobre os fundamentos da sociedade, todo conceito que se der de sociedade traduzirá na essência o influxo de uma ou de outra concepção. 
Quando Toennies diz que a sociedade é o grupo derivado de um acordo de vontades, de membros que buscam, mediante o vínculo associativo, um interesse comum impossível de obter-se pelos esforços isolados dos indivíduos, esse conceito é irrepreensívelmente mecanicista.
No entanto, quando Del Vecchio entende por Sociedade o conjunto de relações mediante as quais vários indivíduos vivem e atuam solidariamente em ordem a formar uma entidade nova e superior, oferece-nos ele um conceito de sociedade basicamente organicista. 
Os organicistas procedem do tronco milenar da filosofia grega. Descendem de Aristóteles e Platão. Na doutrina aristotélica assinala-se “o ser político”, que não pode viver fora da sociedade. Os instintos egocêntricos e altruístas que governam a condição humana, o instinto de preservação da espécie, fazem porém que o homem seja eminentemente social. 
Os organicistas, na teoria da Sociedade e do Estado, se veem arrastados quase sempre, por consequência lógica, às posições direitistas e antidemocráticas, ao autoritarismo, às justificações reacionárias do poder, à autocracia, até mesmo quando se dissimulam em concepções de democracia orgânica. É onde entram os papéis autoritários de lideranças políticas que têm capacidade de perceber a “vontade geral”, que se aproxima do que se conhece como despotismo das multidões. 
Esta concepção entende que o homem jamais nasceu na liberdade, e invocando o fato biológico do nascimento, quer mostrar que desde o berço o princípio da autoridade o toma nos braços, rodeando-o, amparando-o, governando-o. Dependência, autoridade, hierarquia, desamparo, debilidade, eis já em núcleo familiar os vínculos primeiros que envolvem a criatura humana e dos quais jamais conseguirá se livrar inteiramente. Os organicistas fazem a defesa da autoridade. Apreciam esta interpretação pois veem na sociedade o fato permanente, a realidade que sobrevive, a organização superior, o ordenamento que, sempre persiste, nunca desaparece, atravessando o tempo e as idades. Os indivíduos passam mas a sociedade fica. 
Os mecanicistas atacam a teoria organicista mostrando que não há identificação definitiva entre o organismo biológico e a sociedade; nesta ocorrem fenômenos que não acham equivalente naquele: as migrações, a mobilidade social, o suicídio. 
No que toca ao organismo, ele não vive por si mesmo, sendo inconcebível imagina-los fora do ser que integram. Com o indivíduo isso não acontece. Ele tem vida própria, seus fins e objetivos autônomos, a capacidade de deslocamento espacial e aptidão de mover-se no interior dos grupos de que faz parte. Ora, essa mobilidade o conduz ora à ascenção, ora ao descenso de categoria social, econômica ou profissional. 
A teoria mecânica é predominantemente filosófica e não sociológica. Seus representantes mais típicos foram alguns filósofos do direito natural desde o começo da idade moderna. Seus raciocínios levam invariavelmente à explicação e legitimação do poder democrático. 
Das teses contratualistas, dentro desta abordagem, infere-se que a base da sociedade é o assentimento e não o princípio de autoridade. A democracia liberal e a democracia social partem desse postulado único e essencial de organização social, de fundamento a toda a vida política: a razão, como guia da convivência humana com apoio na vontade livre e criadora dos indivíduos. 
Isto leva à discussão sobre Sociedade e Comunidade, que para Toennies, são duas formas de convivência humana, e opostas. A sociedade supõe, segundo ele, a ação conjunta e racional dos indivíduos no seio da ordem jurídica e econômica; nela, os homens, a despeito de todos os laços, permanecem separados. 
Já a comunidade implica a existência de formas de vida e organização social, onde impera essencialmente uma solidariedade feita de vínculos psíquicos entre os componentes do grupo. A comunidade é dotada de caráter irracional, primitivo, munida e fortalecida de solidariedade inconsciente, feita de afetos, simpatias, emoções, confiança, laços de dependência direta e mútua do “individual” e do “social”. 
Na comunidade a vontade se torna essencial, substancial, orgânica. Na sociedade, arbitrária. A comunidade surgiu primeiro, a sociedade apareceu depois. A comunidade é matéria e substância; a sociedade é forma e ordem. Na sociedade, há solidariedade mecânica; na comunidade, há solidariedade orgânica. . A comunidade é um organismo; a sociedade, uma organização.
Tendo a comunidade antecedida a sociedade, que é um estágio mais adiantado da vida social, esta não eliminou aquela. No interior da sociedade, que se acha provida de um querer autônomo que busca fins racionais, previamente estatuídos e ordenados, convivem as formas comunitárias, com seus vínculos tributários de dependência e complementação, com suas formas espontâneas de vida intensiva, com seus laços de estreitamento e comunicação entre os homens, no plano inconsciente e do irracional.
A sociedade e o Estado
Os conceitos de Sociedade e Estado, na linguagem dos filósofos e estadistas têm sido empregados ora indistintamente, ora em contraste aparecendo então a Sociedade como círculo amplo e o Estado como círculo mais restrito. A sociedade vem primeiro; o Estado vem depois. 
Com o declínio e dissolução do corporativismo medievo e consequentemente advento da burguesia, instaura-se no pensamento político do ocidente, do ponto de vista histórico e sociológico, o dualismo Sociedade-Estado. 
A burguesia vencedora, de então, se abraça à ideia desse conceito que faz do Estado a ordem jurídica, o corpo normativo, a máquina do poder político, exterior à Sociedade, compreendida esta como esfera mais dilatada, de substrato materialmente econômico, onde os indivíduos dinamizam sua ação e expandem seu trabalho. 
A sociedade, algo interposto entre o indivíduo e o Estado, é a realidade intermediária, mais larga e externa, superior ao Estado, porém inferior ainda ao indivíduo, enquanto medida de valor. 
Afinal, o que é o Estado?
O Estado como ordem política da sociedade é conhecido desde a antiguidade aos nossos dias. Todavia, nem sempre teve essa denominação, nem tampouco encobriu a mesma realidade. 
A polis dos gregos ou a civitas e a res publica dos romanos eam vozes que traduziam a ideia de Estado, principalmente pelo aspecto de personificação do vínculo comunitário, 
No Império Romano, durante o apogeu da expansão, e mais tarde entre os germânicos invasores os vocábulos Imperium e Regnum então de uso corrente passaram a exprimir a ideia de Estado, nomeadamente como organização de domínio e poder. 
O emprego moderno no nome Estado remonta a Maquiavel, quando este inaugurou O Principe com a frase famosa: “Todos os estados, todos os domínios que têm tido ou tem império sobre os homens são Estados, e são repúblicas ou principados”. 
Dentro da concepção sociológica, há os que consideram o Estado, pela origem e essência, como um grupo vitorioso que impôs a um grupo vencido com o único fim de organizar o domínio do primeiro sobre o segundo e resguardar-se contra rebeliões internas e agressões estrangeiras . Neste sentido o estado constitucional moderno não se desvinculou da ideia de uma organização da violência e do jugo econômico a que uma classe submete a outra. É o que Oppenheimer sustenta que esse Estado é a coação e exploração econômica. Outro pensador nesta mesma linha de pensamento é Duguit que considera o Estado como uma diferenciação entre fortes e fracos, onde os fortes monopolizam a força, de modo concentrado e organizado. 
Nesta linha há os que consideram o Estado em seu aspecto puramente coercitivo: uma organização social do poder de coerçãoou a organização da coerção social, ou a sociedade como titular de um poder coercitivo regulado e disciplinado. 
Dentro da linha de Marx e Engels o Estado é explicado como fenômeno histórico passageiro, resultado de uma luta de classes na Sociedade, desde que, da propriedade coletiva se passou à apropriação individual dos meios de produção. Instituição, portanto, que nem sempre existiu e que nem sempre existirá. Isto significa que o poder político deverá desaparecer assim como a exploração de uma classe sobre a outra.
Isto não significa que a sociedade pode dispensar o Estado, mesmo que este se constitua organização da respectiva classe exploradora para manutenção de suas condições externas de produção, a saber, para a opressão das classes exploradas. Dessa forma, a ideia de Estado se baseia na institucionalização da violência, junto com a força. 
No Estado moderno, houve uma racionalização do emprego da violência, tornando-a legítima, a tal ponto de Max Weber conceituar: “aquela comunidade humana que dentro de determinado território, reivindica para si, de maneira bem-sucedida, o monopólio da violência física legítima”. Por esse aspecto, os grupos e os indivíduos só terão direito ao emprego material da força com o assentimento do Estado, de tal forma que este se converte na única fonte do direito à violência. 
A materialização deste Estado se consolida pela existência de um poder político na sociedade, pelo domínio dos mais fortes sobre os mais fracos. Na ordem material, o elemento humano que se qualifica em graus distintos, como população, povo, nação, isto é, em termos demográficos, jurídicos, culturais. Há ainda o elemento território, compreendidos como em seu espaço físico e geográfico, com seu recursos naturais. 
Povo, Território, Governo e Soberania
Povo é o conjunto de indivíduos ligados a um Estado pelo vínculo político-jurídico da nacionalidade. Estão sob o mesmo conjunto de regras, leis e valores culturais.
Base geográfica do Estado, sobre a qual ele exerce a sua soberania, e que abrange o solo, rios, lagos, mares interiores, águas adjacentes, golfos, baías e portos.
O conjunto das funções necessárias à manutenção da ordem jurídica e da administração pública. Propriedade que tem um Estado de ser uma ordem suprema que não deve a sua validade a nenhuma outra ordem superior.
Contribuição de Max Weber
Intelectual alemão, considerado um dos fundadores da Sociologia, Max Weber (1864-1920) acredita que, para que um Estado exista, é necessário que um conjunto de pessoas obedeça à autoridade alegada pelos detentores do poder no referido Estado. Por outro lado, para que os dominados obedeçam, é necessário que os detentores do poder possuam uma autoridade reconhecida como legítima. 
Para Weber, o Estado é responsável pela organização e pelo controle social, porque detém o monopólio do uso da violência legítima, ou seja, só o Estado pode se utilizar da força para manter a ordem social. A dominação é presença marcante em uma sociedade. Neste sentido, que características uma liderança precisa ter para que a maioria a obedeça, ou ao menos, considere-a legítima? Para o autor, a dominação, ou seja, a probabilidade de encontrar obediência a um determinado mandato pode fundar-se em diversos motivos de submissão, pode depender de interesses, conveniências, costume, afeto. 
Max Weber construiu três tipos ideais de dominação legítima, veja a seguir:
1º – Dominação legal: este tipo de dominação tem relação com leis ou estatutos, obedece-se não à pessoa, mas à regra instituída. 
2º – Dominação tradicional: em virtude da crença na santidade das ordenações e dos poderes senhoriais. Obedece-se à pessoa em virtude de sua dignidade própria, santificada pela tradição: por fidelidade.
3º – Dominação carismática: em virtude de devoção afetiva à pessoa do senhor e a seus dotes carismáticos, faculdades mágicas, revelações ou heroísmo, poder intelectual ou de oratória. O tipo que manda é o líder. Obedece -se exclusivamente à pessoa do líder por suas qualidades excepcionais e não em virtude de sua posição estatuída ou de sua dignidade tradicional. 
Um exercício para analisar o quadro político e social que se apresenta para nós, observando de um outro ângulo. Esclarece-se que o que será exposto vai contra o que se tem observado no cotidiano, mas é aí que reside o exercício: procurar entender (sem que isso signifique tirar você de suas convicções).
A síndrome da ignorância política, por Ligia Deslandes
10/02/2014 
Acabei de crer. Ignorância é coisa que muita gente tem medo de debater. Chego a essa conclusão lendo alguns comentários nas redes sociais. O que há de ignorância, estupidez, generalização, ausência de pensamento crítico e falta de noção em muitos desses comentários é algo impressionante! E a escolaridade não tem nada a ver com isso. É como se estivéssemos diante de uma nova síndrome, a Síndrome da Ignorância Política!
Para além das redes sociais, nos deparamos todos os dias com pessoas com as mais diversas escolarizações que se pronunciam de forma generalista e simplista sobre os assuntos que estão em voga na mídia. Esses dias conversando com um amigo, ele teve coragem de, a partir de suas experiências na empresa que trabalhou, fazer uma analogia da fuga de Pizzolato para a Itália e dizer que se fugiu, mostrou que é culpado. Comecei a argumentar de que ele ao ir para a Itália seria o único a ter condições de demonstrar todos os erros e problemas que aconteceram no julgamento da AP 470, já que o julgamento no Brasil foi totalmente político e não levou em conta as provas nos autos. Não adiantou… Em sua mente, a crença generalista de que quem foge é culpado está cristalizada. O que fazer! Ele, mesmo diante de provas contundentes da inocência das pessoas iria se convencer?
Outro dia, conversando com um taxista, desconstruí muitos dos argumentos que ele tinha sobre o Governo e o PT com outros argumentos. Mas, notei que suas crenças sobre o assunto, não foram totalmente abaladas. A generalização e o pensamento único prejudicavam sua forma de pensar.
Crenças!!! São com elas que a ditadura e a imprensa trabalharam habilmente para monopolizar as opiniões, colonizar as mentes. Para isso contaram com uma rede de integrantes entre muitos empresários e alguns trabalhadores. Enquanto as esquerdas lutavam para restabelecer a democracia com duros embates contra as forças políticas internacionais e nacionais que queriam manter o Brasil dependente e subalterno a um projeto colonial de modernidade, a mídia formava as mentes para que esse projeto se desenvolvesse na sociedade a partir do próprio cotidiano das pessoas, segundo sua concepção de sociedade: Ricos cada vez mais ricos em detrimento dos pobres cada vez mais pobres.
Como esse conceito de sociedade poderia se alojar nas consciências? Onde estariam escondidas a inteligência e compreensão humanas? Onde teria ficado a tolerância e a solidariedade! De que forma a habilidade das pessoas em usar a mente para discernir se foi? Quando a capacidade das pessoas de conhecer a história e entender os movimentos sociais e políticos esvaneceu-se?
Fui ler Walter Mignolo e Enrique Dussel de novo para entender melhor isso. E compreendi o quanto foi providencial e eficaz essa inserção do projeto global colonial enraizar-se na vida cotidiana das pessoas. Tudo que temos hoje na sociedade foi criado e manipulado por um projeto global de capitalismo construído a partir das histórias de cada região e das histórias de vida das pessoas. A ditadura formou as mentes dentro desse processo. O processo de democratização com todas as suas lutas aconteceu num ambiente legitimado pelas crenças que a própria ditadura colonial capitalista formou, com ajuda da mídia e dos oportunistas que assim como em outros países também temos aqui.
Assim, é compreensível que o único partido que, de fato, foi construído em bases populares não tenha conseguido eleger Lula como presidente por tantas vezes e só o tenha conseguido fazendo concessões à elite politica colonialista que governavahá muito tempo o país.
É compreensível que apesar de estar no Governo nesses dez anos, o PT ainda não tenha o poder de promover todas as mudanças que gostaria, nem tenha conseguido governar sem aparelhar a máquina pública com muitos de seus adversários e que até mesmo alguns que fizeram parte do projeto do PT fossem cooptados por seus adversários.
É compreensível também que as demais forças políticas de esquerda não tenham conseguido entender a dinâmica desse contexto e que lutem somente por se promover dentro do cenário político nacional, se aliando, muitas vezes, aos adversários políticos do PT contra o próprio PT.
Mas é notório que o projeto político que o PT está desenvolvendo há dez anos com todos os problemas oriundos das concessões feitas ao capital e à elite está preocupando as forças políticas capitalistas e coloniais a ponto de fazer com que essas forças desenvolvam novos mecanismos de ocupação do poder, entre eles a criminalização através do judiciário.
Isso não está acontecendo a toa. É necessário que façamos um esforço para uma análise mais aprofundada do contexto político, deixando de lado as ideias generalistas que a formação colonialista nos impôs.
Fazendo isso, é possível perceber que os grandes tesouros que o PT trouxe para o país, não foram somente as melhorias econômicas e sociais na vida do povo brasileiro. O PT vem desmascarando desde 2003 até o momento atual a hipocrisia do sistema político nacional e seus mecanismos de imposição de uma cultura colonialista no país.
Cada vez mais compreendemos que nossa história política e social esteve aprisionada durante longos anos nos porões da ditadura. Ainda não conseguimos nos libertar totalmente das mentiras e enganações que nos foram contadas nesse período, mas, estamos aprendendo a duras penas que precisamos fazer o rito de passagem para uma nova forma de política.
Nosso amadurecimento enquanto povo vem passando por algumas reflexões e conclusões, a partir das experiências nessa última década. Cito aqui algumas delas:
Parte da sociedade brasileira sempre foi racista e elitista e sempre se preocupou somente com seus privilégios.
A mídia corporativa sempre esteve ao lado dos poderosos para se beneficiar politicamente e economicamente e nunca esteve do lado do povo.
O sistema judiciário é um apêndice da elite colonialista, aparelhado para criminalizar os pobres e aqueles que os defendem e dar vida boa aos ricos e poderosos que estão há anos usufruindo das benesses do sistema.
Educação não é só escolarização. As experiências de vida se somam ao aprendizado. Assim, não basta ter-se escolas, mas, uma educação de qualidade comprometida com as necessidades do povo.
Grande parte dos empresários brasileiros nunca se preocupou com a sociedade brasileira, mas, somente com os lucros que eles poderiam usufruir, o que durante muito tempo deixou o país endividado.
Nosso sistema político faz com que nossos representantes fiquem amordaçados a empresários colonialistas.
Grande parte dos médicos do Brasil nunca se preocupou com a saúde da população, mas, somente com seus privilégios capitalistas e corporativistas.
Não se pode governar sem participação popular e apoio direto ao projeto de país que se quer construir.
Política não é coisa de políticos, é cidadania colocada a serviço da sociedade e do povo. A criminalização da política e dos partidos só serve à mídia e a elite brasileira.
Seria ótimo que pudéssemos aprofundar essas reflexões entre nós e em todo o país. Por mais que as redes sociais sejam realmente um belíssimo instrumento de discussão e contraponto a tudo que até então vinha formando a opinião de todos nós brasileiros, é importante que façamos o corpo a corpo com o maior número de pessoas possível, debatendo esses assuntos.
Eu por mim, irei construir a partir de março desse ano, em minha casa, um grupo para debater política e as possibilidades de transformações sociais e urbanas, uma vez por mês. Que outros possam fazer o mesmo ou pensem em outras alternativas possíveis.

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