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1.1.2 TOPICO I

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TÓPICO I - A Amazônia e o mercado mundial
Através das várias fases de sua ocupação, a Amazônia oferece seus 
produtos naturais para satisfazer principalmente as necessidades do mercado 
mundial. A região abre-se para o mundo através dos seus 50.000 km de rios 
navegáveis. Somente o rio Amazonas é formado por 1.100 rios afluentes até a 
foz. Também podem ser encontradas na região 80% das variedades de vida do 
planeta, constituindo-se na maior floresta tropical do mundo.
Os nove Estados que compõem a Amazônia brasileira são os seguintes: 
Acre, Rondônia, Amazonas, Pará, Mato Grosso, Roraima, Amapá, Tocantins e 
a porção a Oeste do meridiano 44º W do Estado do Maranhão (PASSOS, 1998: 
15). Além do grande complexo brasileiro, a Amazônia sul-americana é formada 
por mais oito países, compreendendo: Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, 
Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Para demonstrar o potencial 
e a capacidade da Amazônia brasileira, BECKER (1997: 9) acrescenta sobre o 
potencial da região de forma ampliada1.
Há cinco séculos passados, segundo MATTOS (1980: 31), “a Amazônia foi 
uma descoberta espanhola e uma conquista portuguesa: ao contrário, o [rio] 
Prata foi uma descoberta portuguesa e uma conquista espanhola”. Assim, 
historicamente a ocupação da região foi no intuito de aproveitar o grande 
potencial de recursos florestais, minerais e introduzir projetos agropecuários 
com fins de acumulação de capitais. Contudo, a Amazônia brasileira vem 
sendo ocupada ao longo dos tempos pela “cobiça internacional e pela 
potencialidade econômica” (PASSOS, 1998: 52). 
Neste sentido, o mundo volta-se para a região “amazônica, a terra 
cobiçada desde o século dezesseis” (ESPÍRITO SANTO, 1956: 125). Com o objetivo 
1 “...vista a partir do cosmos, a Amazônia sul-americana corresponde a 1/20 da 
superfície terrestre, 2/5 da América do Sul, 3/5 do Brasil, contém 1/5 da disponibilidade 
mundial de água doce e 1/3 das reservas mundiais de florestas latifoliadas, mas 
somente 3,5 milésimos da população mundial. A Amazônia sul-americana com 
6.500.000 km², envolve além do Brasil, sete países fronteiriços. O Brasil possui 63,4% 
da Amazônia sul-americana, sendo que a Amazônia brasileira corresponde a mais da 
metade do território nacional [59%]. Estende-se até os estados de Mato Grosso, 
Tocantins e parte do Maranhão. Ela não se confunde com a região Norte, que é uma 
divisão político-administrativa para fins censitários”.
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de usufruir os seus recursos naturais, os europeus foram “os primeiros a entrar 
em contato com o antigo e legítimo povo da floresta” (MELLO, 1991: 26). Eles 
vinham atraídos pelas vantagens econômicas oferecidas pela gama de 
produtos da floresta. Os colonizadores da América visavam a aproveitar os 
recursos da natureza ali existentes.
A ocupação do território amazônico iniciou-se no século XVI, sem, no 
entanto, apossar-se efetivamente da região. Somente no século XVII os 
“portugueses se instalam na foz do rio [Amazonas] em 1616, expulsando daí 
ingleses e holandeses, os primeiros ocupantes” (PRADO JÚNIOR, 1973: 43). Neste 
mesmo ano foi fundada a cidade de Belém, no Estado do Pará. A ocupação 
portuguesa ocorreu mais por “motivos políticos que econômicos. Sua função 
deu-se para afastar os holandeses e ingleses” (CHIAVENATO, 1984:152).
Assim, em clima de incertezas ocorreram os primeiros povoamentos, 
acompanhados de disputas tumultuadas devido ao fato de a região 
caracterizar-se por espaço de soberania duvidosa, e também pelo fácil acesso 
pelos rios navegáveis da região2. O fator que mais contribuiu com estreitas 
relações entre a Amazônia e a Europa no período colonial foram as técnicas do 
navio a vela, pois era mais prático ligar a região com a metrópole portuguesa 
que com a costa do Atlântico brasileiro. Neste sentido, “as condições adversas 
diziam respeito ao regime de correntes marítimas e também ao regime de 
ventos ao longo da costa” (SODRÉ, 2002: 144). Contudo, “a conquista européia e 
a posse da Amazônia, no decorrer dos séculos XVII e XVIII, se realizam sob 
um intenso processo de luta e disputa entre portugueses, espanhóis, 
franceses, ingleses e holandeses” (BENCHIMOL, 1992: 69). 
Com o final destas disputas, os “portugueses acabaram dominando o 
delta e a maior parte da calha central do rio Amazonas” (BENCHIMOL, 1992: 69). 
Assim, impulsionados pela grande capacidade econômica desta terra, “os 
2 “Abre-se para o mar pelo delta do Amazonas, desembocadura de um imenso sistema hídrico, 
sem paralelo no mundo, que se estende sobre uma área de 6.400.000 km² (dos quais 
3.800.000 em território brasileiro) e formando cursos d'água de grande volume, em boa parte 
perfeitamente navegáveis até por embarcações de vulto. A penetração foi, por isso, muito fácil. 
É a isto aliás que a colonização luso-brasileira deveu ao domínio sobre o vasto interior do 
continente sul-americano que de direito cabia aos hispano-americanos segundo os primeiros 
acordos ajustados entre as duas coroas ibéricas.(...) Mas se os rios da Amazônia oferecem 
esplêndida via de penetração e trânsito, e são altamente favoráveis ao homem, doutro lado a 
floresta equatorial que os envolve, densa e semi-aquática nas enchentes as águas fluviais, 
alagam extensões consideráveis das margens e representa grande obstáculo à instalação e 
progresso humano.” (PRADO JÚNIOR, 1988: 11).
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homens sonham em encontrar o paraíso” (GONDIM, 1994: 9). Os portugueses 
buscaram interferir na região através do extrativismo mineral e florestal, bem 
como produtos da caça e da pesca. O grande interesse na região foi provocado 
pelo surto das drogas do sertão e, assim, “a Amazônia substitui o Oriente como 
fonte de especiarias” (SODRÉ, 2002: 150). Mas é a mineração de ouro que na 
metade do século XVIII, quando as minas são descobertas “em Minas Gerais 
(último decênio do século XVII), Cuiabá, em 1719, e Goiás seis anos depois, 
desencadeia o movimento” (PRADO JÚNIOR, 1973: 39), e assim ocorre uma 
penetração na região de forma mais acentuada. Nesta perspectiva, as 
descobertas auríferas abriram um novo ciclo migratório europeu para o Brasil.
Foi através da entrada dos extrativistas e coletores dos produtos da 
região amazônica no século XIX que nasceu a Revolução dos Cabanos, entre 
1823 a 1839, e ocorreram lutas envolvendo índios, negros e brancos. No 
episódio, estes entraram em choque contra as opressões que foram cometidas 
pelo Estado brasileiro e assumiram um caráter separatista, reivindicando o 
“País do Amazonas” (GONÇALVES, 2001: 19). A Revolta dos Cabanos, mais 
conhecida como Cabanagem, resulta em um massacre, “do qual as 
desencontradas estatísticas chegaram a falar de 30 mil mortos entre os 
cabanos e 12 mil entre os que os combatiam” (GONÇALVES, 2001: 19). Para 
CHIAVENATO (1984: 147), “quando o estado do Pará tinha 120 mil habitantes, 
morreram 30 mil pessoas”. Assim, para sufocar os revoltosos pelas condições 
impostas, foi travada “a mais sangrenta guerra civil brasileira” (CHIAVENATO, 
1984: 149). 
Por outro lado, é importante conhecer os movimentos da colonização do 
País através da interferência européia. A colonização brasileira começou a sair 
do espaço da costa do Atlântico, onde, a partir de 1500, concentrou-se na 
extração do pau-brasil – a primeira forma econômica de exploração extrativado 
território brasileiro. Esta atividade se concentrava basicamente no litoral 
brasileiro. Conforme PRADO JÚNIOR (1988: 26), esta forma de extrativismo “não 
serviu em nada para fixar qualquer núcleo de povoamento no país”. A 
penetração e o povoamento na região amazônica aconteceram só mais tarde, 
principalmente através da “mineração e dispersão das fazendas de gado” 
(PRADO JÚNIOR, 1973:55).
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A colonização brasileira e o povoamento das diferentes regiões foram 
formados pelos marginalizados no processo histórico e se justificavam pelos 
interesses dos colonizadores europeus nos produtos brasileiros. Em princípio, 
quando o Brasil pertencia a Portugal, entraram os degredados, principalmente 
os vindos do país português (PRADO JÚNIOR, 1973: 87). Estes vinham para suprir 
as necessidades de mão-de-obra. 
Os povos originários em pouco contribuíram para a formação da força de 
trabalho na costa litorânea brasileira. Mesmo que estes não tenham se 
adaptado ao trabalho forçado nesta parte do País, na Amazônia foram muito 
úteis. O extrativismo fazia parte do seu dia-a-dia. Nesta região em muito 
contribuirão para o processo de colonização. Contudo, verificou-se uma grande 
“dificuldade de organizar a produção com base no escasso elemento indígena 
local” (FURTADO, 1999: 30-31). Assim, embora tímida a ocupação até a metade 
do século XX, a vida econômica era proporcionada, principalmente, pelos 
recursos naturais da floresta. PRADO JÚNIOR (1973: 211) diz que:
encontram os colonos na floresta amazônica um grande número de 
gêneros naturais aproveitáveis e utilizáveis no comércio: o cravo, a 
canela, a castanha, a salsaparrilha e sobretudo o cacau. Sem contar a 
madeira e produtos abundantes do reino animal: destes últimos, são em 
particular a tartaruga, bem como seus ovos, e o manacuru (peixe-boi) 
que servirão em escala comercial. Sem estas fontes de riqueza teria sido 
impossível ocupar o vale. Os colonos não teriam procurado, os 
missionários não encontrariam base material de subsistência para 
manter seu trabalho de catequese dos indígenas. 
Desta forma, “a coleta, a caça, a pesca, já são seus recursos no estado 
da natureza” (PRADO JÚNIOR, 1973: 212). Mas é através da “grande propriedade 
monocultural que se instala no Brasil o trabalho escravo” (PRADO JÚNIOR, 1988: 
34). A pouca adaptação dos povos originários ao trabalho nos canaviais 
dificultou a prosperidade do maior ciclo econômico da colônia portuguesa. Ao 
mesmo tempo, a “colonização preparava o surto do capitalismo mundial em 
que o País futuro iria ingressar na qualidade de nação dependente” (BOSI, 1994: 
378). Para que isto acontecesse fez-se necessário iniciar o tráfico de escravos, 
mas “calcula-se que, em média, apenas 50% chegavam com vida ao Brasil, e 
destes, muitos estropiados e inutilizados” (PRADO JÚNIOR, 1988: 37).
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O tráfico de escravos era o mais importante comércio das importações 
no ciclo açucareiro e representava “mais de uma quarta parte do valor das 
importações” (PRADO JÚNIOR, 1988: 116) no período compreendido entre 1796-
1804. Com a introdução do trabalho escravo importado, na “metade do século 
XVII o Brasil será o maior produtor mundial de açúcar” (PRADO JÚNIOR, 1988: 39). 
Neste período, as demais culturas alimentares ficavam restritas às 
necessidades de subsistência da população local, pois o objetivo maior de 
Portugal era a exportação de açúcar da colônia brasileira para servir ao 
mercado mundial.
No período “de 1831 a 1856, cerca de 500.000 escravos entraram no 
Brasil, a maioria em navios dos Estados Unidos” (MONIZ BANDEIRA, 1978: 76). 
Neste período o País já havia conquistado sua independência, o interesse no 
tráfico negreiro era pelos altos lucros na operação e fazia parte do ramo 
comercial “mais importante da fase mercantil” (SODRÉ, 2002: 126). Para a classe 
capitalista da época, “o escravo era, no fundo, um animal de serviço e, 
portanto, um desvalido. Mas era ao mesmo tempo um bem, uma mercadoria, 
imobilização de capital” (MARTINS, 1997: 67). 
Também “as correntes migratórias se intensificam depois de 1850; 
veremos coexistir, nas lavouras de café, trabalhadores escravos e europeus 
livres” (PRADO JÚNIOR, 1988: 175). Com o fim da escravidão negra em 13 de 
maio de 1888, a força de trabalho é trazida da Europa. O crescimento da 
economia do açúcar e do café transforma os escravos livres e os trabalhadores 
vindos do continente europeu em assalariados.
Neste sentido, pela emancipação política do País, em 1822, as correntes 
imigratórias ganharam um novo personagem e se intensificaram de forma 
bastante acentuada no final do século XVIII. Para SODRÉ (2002: 219), existem 
duas fases distintas no cenário mundial: a primeira se iniciou no século XVI, era 
dominantemente de capital comercial, e a classe dominante era a dos senhores 
feudais; a segunda ocorreu no século XVIII, quando se iniciou o processo de 
Independência brasileira: era dominantemente o capital industrial e a classe 
dominante era a burguesia.
Com o País independente de Portugal, o processo imigratório para o 
Brasil foi fruto de sérios problemas sociais na Europa e a longa agonia do 
feudalismo como sistema, também pela necessidade de força de trabalho à 
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disposição da produção dos cafezais e dos engenhos de açúcar, proporcionada 
pelo declínio gradativo do uso da mão-de-obra escrava. Além disso, no 
período de 1864 até 1870 o País estava mergulhado em sangrenta guerra 
contra o Paraguai e grande parte da mão-de-obra estava envolvida nos 
combates (LOBO: 1972: 139). PRADO JÚNIOR (1988: 190-191) nos demonstra a 
evolução imigratória:
o progresso da imigração no último quartel do século será rápido. Ela 
começa a crescer depois de 1871, atingindo em 1886 pouco mais de 
30.000 indivíduos. No ano seguinte, quando a abolição do regime servil 
se mostra já eminente, salta bruscamente para 50.000; e no próprio ano 
da abolição (decretada como vimos em maio de 1888) sobe para mais 
do dobro deste número (133.000). Daí por diante, até o fim do século, a 
imigração conservar-se-á sempre num nível médio anual largamente 
superior a 100.000.
No processo migratório, “desde 1870, o governo imperial tomou a si as 
despesas de viagem, desordenando delas o senhor de terras e o imigrante” 
(SODRÉ, 2002: 280). Para LOBO (1972: 137), a partir de 1876 a principal corrente 
migratória tinha como destino o Estado de São Paulo. Também se formou 
próspero núcleo de colonos alemães e italianos nos Estados do Rio Grande do 
Sul e de Santa Catarina. Contudo, comparado com o desenvolvimento das 
forças produtivas do País, a situação da Amazônia continuava estagnada. 
A população da região “em fins de séc. XVIII não alcançava uma 
centena de mil habitantes (incluindo índios domesticados)” (PRADO JÚNIOR, 1988: 
72). Neste período, “a Amazônia ficou muito atrás das demais regiões 
ocupadas e colonizadas no território brasileiro” (PRADO JÚNIOR, 1988: 74). Este 
fato é proporcionado pela economia cafeeira de São Paulo, sendo que na 
“última parte do século XVIII começa a ser cultivado em grande escala” (PRADO 
JÚNIOR, 1988: 85).
O ciclo cafeeiro cresceu, mas o País enfrentou graves problemas na 
formação da força de trabalho, tendo pouca disponibilidade de mão-de-obra 
para oxigenar a produção, principalmente com o fim do regime escravocrata.A 
senzala desaparece do cenário cafeeiro, pois “o trabalho livre amplia-se 
particularmente com a imigração” (SODRÉ, 2002: 271). Por outro lado, “a massa 
escrava evolui muito mais para a servidão do que para o trabalho livre. Além 
disso, chegando no século XIX, pode ser identificada uma maior intensificação 
dos interesses das multinacionais, pois o “capital estrangeiro começara a fluir 
para o Brasil em proporções consideráveis” (PRADO JÚNIOR, 1988: 223). Este fato 
criou sérios problemas em seus objetivos expansionistas, pela já existente falta 
de mão-de-obra no País. 
Contudo, em 1889, o quadro brasileiro era traçado em poucas 
coordenadas: o Brasil dispõe de “14 milhões de habitantes, distribuídos em 916 
municípios, com 348 cidades; conta com apenas dois portos aparelhados e 
apenas uma usina elétrica; com 8.000 escolas, 533 jornais, 360 quilômetros de 
rodovias, 10.000 quilômetros de ferrovias e 18.000 linhas telegráficas” (SODRÉ, 
2002: 316). Neste sentido, PRADO JÚNIOR (1988: 212) nos apresenta de forma 
clara como ocorreu o processo de exploração da força de trabalho brasileira no 
período expansionista.
Tal contingência, particular de pouca disponibilidade de mão-de-obra, 
forçará a adoção de um sistema de relações no trabalho que obrigasse o 
empregado, embora juridicamente livre, a conservar-se no seu lugar. O 
processo para chegar a este fim e que mais difundiu no Brasil será o de 
reter o trabalhador com dívidas. Pagando salários reduzidos, e 
vendendo-lhe ao mesmo tempo, por preços elevados, os gêneros 
necessários ao seu sustento, o empregador conseguirá com relativa 
facilidade manter seus trabalhadores sempre endividados e, portanto, 
impossibilitados de o deixarem. Este sistema tornar-se-á regra geral em 
muitas regiões do país; em particular na indústria da extração da 
borracha. Torna-se fácil estabelecê-lo por causa das distâncias que em 
regra separam as explorações rurais dos centros urbanos e do comércio, 
o que faz o proprietário, quase sempre, um fornecedor obrigatório dos 
gêneros consumidos por seus trabalhadores. Doutro lado, o baixo nível 
cultural da massa trabalhadora do país, tão recentemente egressa da 
escravidão, facilita o manejo arbitrário das contas sempre em prejuízo do 
empregado.
Nesta nova dinâmica de capitalismo de expansão, o Brasil, por possuir a 
maior reserva mundial de seringueiras nativas, projetou-se ao mercado mundial 
através do extrativismo, e “a exportação da borracha vem em contínuo 
aumento desde 1827” (PRADO JÚNIOR, 1988: 236). Há notícias de que os povos 
originários tinham amplo conhecimento das propriedades da borracha em 
1720, pois “os índios da Amazônia já conheciam a elasticidade da borracha e 
faziam bolas com as quais praticavam originais esportes” (FERREIRA, 1980). 
Através do aprendizado com os povos da floresta, a Amazônia brasileira 
projetou-se ao mercado mundial de forma mais acentuada a partir do ciclo da 
borracha3. Este produto amazônico, monoextrativista, aumentou sua produção 
a partir de 1870, estendendo-se gloriosamente até 1912. 
No mais acentuado período extrativista “a selva amazônica é invadida 
por legiões de brasileiros do Nordeste, flagelados da seca” (FERREIRA, 1980: 34). 
Nesta fase da investida capitalista na Amazônia, e que compreende o decênio 
1901-10, as exportações da borracha atingiram o nível mais alto das 
exportações brasileiras. Contudo, este ciclo beneficiava “apenas as classes 
seringalistas, os grandes latifundiários, enquanto a mão-de-obra desse ciclo, o 
seringueiro, num quadro econômico escravagista, ficava à margem dessa 
participação” (MARTINS, 1981: 17). 
Na passagem do século XIX para o século XX, a produção da borracha 
nativa mundial atingiu seu auge. O látex4 era quase na sua totalidade produzido 
na Amazônia brasileira, principalmente nos Estados do Pará, do Amazonas e 
do Acre, este último na divisa com os países vizinhos, o Peru e a Bolívia. O 
Brasil tornou-se o “maior exportador mundial do produto, chegando a contribuir 
com 100% de toda a produção do mercado mundial” (MARTINS, 1981:25). A 
Amazônia no ciclo da borracha foi exclusivamente monoextrativista, sendo esta 
atividade a principal da região (IANNI, 1986: 57). 
A procura do produto, principalmente pelos Estados Unidos, acentuou-se 
a partir de 1850, proporcionada pelos interesses da indústria automobilística. A 
borracha era usada principalmente na “fabricação de pneumáticos, provocando 
a corrida para a Amazônia” (MONIZ BANDEIRA, 1978: 155), e o produto extrativo 
passou a fazer parte do mercado mundial. Com esta nova alternativa 
3 “Ciclo da Borracha. Período da história econômica do Brasil marcado pela grande atividade 
de extração do látex da borracha nos seringais da Amazônia, para exportação. Essa atividade 
atingiu seu apogeu na primeira década do século XX, quando o Brasil era o maior produtor 
mundial do látex, que respondia por 26% do valor das exportações nacionais. A valorização da 
borracha no mercado internacional decorria do desempenho da indústria automobilística na 
Europa e Estados Unidos, o que intensificou a procura da matéria-prima para a produção de 
pneus. O predomínio brasileiro na produção passou a declinar depois que os ingleses iniciaram 
a cultura da seringueira no oriente, sobretudo na Tailândia e em Cingapura. [com as primeiras 
sementes da Amazônia]. Em 1914, o Brasil respondia apenas com a metade da produção e, 
em 1930, contribuía somente com 3%” (SANDRONI, 1994: 50).
4 “Látex, ou leite da seringueira, é o liquido branco que se obtém fazendo uma incisão na casca 
da seringueira. O nome leite – ou látex – é bem apropriado, pois a sua cor é branca como o 
leite. Um simples corte na casca da seringueira é suficiente para escorrer o líquido branco, leite 
ou látex. Deixando-se esse líquido exposto no ar, ele coagula, adquirindo consistência e 
elasticidade. Este produto da coagulação natural é denominado 'sernambi'. Já não é mais látex. 
Coagulado em condições naturais, chama-se sernambi, que é consistente e elástico. Mas, se 
aquele látex é forçado a coagular sob a ação de fumaça quente, adquire consistência e uma 
elasticidade maior do que o sernambi e recebe o nome de borracha” (FERREIRA, 1961: 248).
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econômica, “os Estados Unidos, desde o século passado [XIX], se tornaram a 
potência estrangeira mais interessada na Amazônia brasileira” (MENDONÇA, 
2000: 33). 
No entanto, neste período a região se apresentava como “a terra do 
crédito. Não há capital. O seringueiro deve ao patrão, o patrão deve à casa 
aviadora, a casa aviadora deve ao estrangeiro, e assim por diante” (WEINSTEIN, 
1993: 38). Neste processo, pela dispersão da coleta na vasta região 
amazônica, “o grande número de intermediários que participavam de cada 
transação fragmentava os lucros e gerava uma hierarquia de endividamento” 
(WEINSTEIN, 1993: 298).
Na época, “Belém e Manaus transformam-se em dois grandes centros 
do comércio exterior do Brasil” (MONIZ BANDEIRA, 1978: 155). Os reflexos desta 
fase podem ser avaliados pelo fortalecimento destas duas cidades, “que 
acabaram por capitalizar de modo imperial a vida política, social e econômica 
da região” (TOCANTINS, 1982: 106). O governo brasileiro por outro lado não 
conseguia um razoável controle da região, e o contrabando “desviava 
considerável parcela da receita que a extração da borracha produzia” (MONIZ 
BANDEIRA, 1978: 156). 
Assim, milhares de quilos da borracha eram desviados para os Estados 
Unidos através da aduana de Puerto Alonso, na Bolívia (MONIZ BANDEIRA, 1978: 
156).Ao mesmo tempo, acentuava-se a pirataria de todos os produtos 
florestais e minerais desta vasta região. Fatos desta natureza eram possíveis 
pelo fácil acesso por seus rios navegáveis e a facilidade da saída dos produtos 
pelo rio Amazonas direto ao mercado mundial.
Mesmo assim, o ciclo da borracha no Brasil representou um período de 
muita prosperidade aos grupos econômicos ali instalados. Para SOUZA (2002: 
184), “a economia do látex quebrou o isolamento e buscou integrar a região ao 
mercado mundial”. Este fato proporcionou a entrada de grande contingente 
migratório de trabalhadores para oxigenar a produção extrativista da Amazônia. 
QUADRO EVOLUTIVO DO AUMENTO POPULACIONAL AMAZÔNICO, 
QUE COMPREENDE O PERÍODO ENTRE 1823 A 1920.
Período Número de habitantes.
Até 1823 127.000
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De 1823 até 1872. 340.000
De 1872 até 1900 700.000
De 1900 até 1920 1.400.000
Fonte: Elaboração própria com base em Martins (1981:26), e Cardoso e Müller (1977: 25).
Para a região, no período de 1870-1910, “foram trazidos entre 
quinhentos e trezentos mil nordestinos” (PINTO, 1980: 103). Estes migraram 
para a região com a finalidade de servirem de força de trabalho, principalmente 
na extração do látex. Concordando com os dados, GONÇALVES (2001: 86) admite 
que entre “300 a 500 mil migrantes nordestinos deslocaram-se para a 
Amazônia durante o período de 1860 a 1912”. Para GALEANO (1987: 98), “em 
1900, 40 mil vítimas da seca abandonaram o Ceará. Tomaram o caminho 
habitual por esta época: a rota do Norte rumo à selva”. Contudo, a principal 
força de trabalho utilizada na região foi a do caboclo da floresta, por fazer parte 
de seu dia-a-dia o extrativismo. 
Para facilitar a estratégia comercial e a exportação dos produtos 
extrativos foi construída a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, conhecida como 
“estrada do diabo”, concluída em 1912. Este foi um dos mais importantes 
episódios da floresta. O presidente dos Estados Unidos da América, Theodore 
Roosevelt, chegou a dizer na época que “as duas maiores obras realizadas até 
então na América eram o canal de Panamá e a Estrada de Ferro Madeira-
Mamoré” (MELLO, 1991: 33), na Amazônia. A construção desta estrada deixou 
um saldo sinistro: “mais de trinta mil operários morreram, vítimas de acidentes 
e de doenças tropicais” (MELLO, 1991: 34). Contudo, “mal concluída em 1912, 
deixou de funcionar ferida pelo fim do ciclo da borracha amazônica” (MELLO, 
1991: 34). 
No ciclo da borracha a força de trabalho era controlada pelos barões da 
borracha, que faziam a conexão entre o mercado mundial e a região 
amazônica. Em 1912 os Estados Unidos absorviam 36% do total das 
exportações do Brasil. Na “mesma época 60% ou mais da borracha vendida 
em nova York procediam da Amazônia” (MONIZ BANDEIRA, 1978: 190). Nesta 
época, a interferência dos estadunidenses não se limitava à região amazônica, 
ela se fazia presente em todo o território brasileiro. Assim, no começo do 
século XX o Brasil tornou-se área de livre acesso ao mercado mundial e a 
Amazônia brasileira começou a internacionalizar-se de forma mais efetiva. 
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Entretanto, segundo FERREIRA (1980: 35), a Amazônia perdera o seu 
maior tesouro, as sementes tinham sido levadas para Londres, e de lá as 
mudas foram transplantadas no Ceilão e depois em Cingapura e na Malásia. 
Em 1910, somente a Malásia estava produzindo 160.000 hectares. Para 
SHOUMATOFF (1990: 36), as 70 mil sementes do colapso foram embarcadas da 
Amazônia em 1876, com destino a Londres, por Henry Wickham. Apenas duas 
mil sementes germinaram e deram origem a milhões de hectares na Malásia. 
HOMMA (1999: 97) também confirma a data da saída das sementes pirateadas 
em 1876. Assim, “o monopólio estava quebrado por plantações racionalizadas” 
(SOUZA, 2002: 190). E esta “disseminação das culturas de seringueiras no 
Oriente marcou o brusco final das décadas de prosperidade da Amazônia” 
(WEINSTEIN, 1993: 301). 
No final da década de 30 do século XX, o empresário Henri Ford, o 
maior fabricante de carros do mundo, com um milhão de unidades produzidas 
por ano, escreveu uma nova história na Amazônia. Este norte-americano, não 
contente com o domínio inglês na produção do produto na Malásia, veio para a 
região com o intuito de criar a cultura do plantio das seringueiras. Objetivava 
sair da extração nativa, para introduzir projetos florestais de extrativismo na 
região, visto que as sementes eram originárias da própria região. Também era 
impulsionado pelo sucesso da produção dos seringais cultivados no continente 
asiático. Neste sentido, “Ford fez um acordo com o governo do Pará, e no final 
de 1927 iniciaram-se os arrojados trabalhos da chamada Fordlândia às 
margens do rio Tapajós” (MELLO, 1991: 32). Com esta atitude, o governo 
brasileiro passou a intensificar o processo de internacionalização da Amazônia. 
Segundo MONIZ BANDEIRA (1978: 213):
por volta de 1926, o governo de Efigênio Sales dividiu o Estado do 
Amazonas em oito zonas para a exportação de minérios, das quais 
entregou seis à American Brasilian Co., Canadian Co. e The Amazon 
Co., todas pertencentes ao mesmo grupo financeiro. E em 1927, o grupo 
Ford obteve do Governador Dionísio Bentes a concessão de um milhão 
de hectares de terra na Amazônia para estabelecimento de uma ou 
várias empresas, que exploram a borracha nativa com apenas a 
obrigação de plantar 1.200 seringueiras, ou seja, uma seringueira por mil 
hectares. Era verdadeiramente um logro. (...) E a Ford não se obrigava a 
submeter à aprovação de qualquer autoridade brasileira as plantas das 
edificações ou construções. Gozava de isenção de todos os impostos 
existentes ou que porventura viessem a existir pelo espaço de 50 anos.
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Contudo, o empreendimento multinacional de interesses dúbios, “a 
chamada Fordlândia, projeto faraônico e mal conduzido por pessoas não 
adaptadas à terra terminou ingloriamente quando o governo paraense retomou 
às glebas doadas, após a morte de Henry Ford” (CARNEIRO, 1988: 20). As 
experiências (1927-1945) não deram certo, “tendo o governo brasileiro 
comprado todos os haveres dos norte-americanos em mais uma socialização 
dos prejuízos” (PASSOS, 1998: 52).
O ciclo monoextrativista da borracha brasileira durou cem anos e, 
embora a partir de 1912 apresentasse declínio na produção e perda da 
hegemonia mundial sobre o produto, ele se faz presente na região até nossos 
dias. O declínio na procura do produto deve-se ao fato da substituição 
gradativa da borracha in natura pelos derivados de petróleo e pela 
concorrência mundial do produto extraído da seringa por países que passaram 
cultivar a planta com sementes pirateadas da Amazônia. Mas foi através da 
Primeira Guerra Mundial que a indústria brasileira começou a desenvolver-se 
no País. PRADO JÚNIOR (1988: 261) demonstra de maneira clara o crescimento 
industrial brasileiro neste período.
A Grande Guerra de 1914-18 dará grande impulso à indústria brasileira. 
Não somente à importação dos países beligerantes, que eram nossos 
habituais fornecedores de manufaturas, declina e mesmo se interrompe 
em muitos casos, mas a forte queda do câmbio reduz consideravelmente 
a concorrência estrangeira. No primeiro grande censo posterior à guerra, 
realizado em 1920, os estabelecimentos industriais arrolados somarão 
13.336, com 1.815.156 contos de capital e 275.515 operários. Destes 
estabelecimentos, 5.936 tinhamsido fundados no qüinqüênio 1915-19, o 
que revela claramente a influência da guerra.
MARINI (2001: 12) nos apresenta a questão da industrialização brasileira, 
também de forma que o Brasil tira proveito da Primeira Guerra Mundial, 
retratando o seguinte quadro:
a história política brasileira apresenta, neste século, duas fases bem 
caracterizadas. A primeira, que vai de 1922 a 1937, é de grande 
agitação social, marcada por várias rebeliões e uma revolução, a de 
1930. Suas causas podem ser buscadas na industrialização que se 
produz no país na década de 1910, graças, sobretudo, à guerra de 1914, 
que leva a economia brasileira a realizar um considerável esforço de 
substituição de importações. A crise mundial de 1929 e suas 
repercussões sobre o mercado internacional vão manter num nível baixo 
a capacidade de importação do país e acelerar assim seu processo de 
industrialização.
Se a Primeira Guerra Mundial nos impulsionou para a industrialização, a 
Segunda Guerra Mundial (1939-1945) nos tornou cada vez mais dependentes 
da interferência dos EUA. Porém, “o surto industrial ficou assinalado no 
contraste entre os 13 mil estabelecimentos de 1920 e os 100 mil de 1957” 
(SODRÉ, 2002: 392). Por outro lado, o governo dos Estados Unidos tratava os 
países da América Latina como um rebanho submisso, sem vontade e 
autonomia (MONIZ BANDEIRA, 1978: 377, e GALEANO, 1987: 167). Através do acordo 
militar firmado em 1952, os Estados Unidos obrigavam os brasileiros à 
obediência, pois vedava a venda de produtos minerais estratégicos para os 
países da área socialista (SODRÉ, 2002: 419). Os reflexos do domínio mundial 
hegemônico dos americanos devem-se ao envolvimento dos países europeus 
nas duas grandes guerras e à conseqüente derrota de alguns. Para SANTOS e 
RUESGA (1988: 42), o processo de acumulação a partir da Segunda Guerra 
Mundial recebeu forte influência das inovações tecnológicas. Segundo MONIZ 
BANDEIRA (1978: 309):
a segunda guerra mundial, como continuação, pelas armas da 
concorrência entre os imperialistas, submeteu as nações mais fracas à 
hegemonia dos Estados Unidos. Ocorreu, internacionalmente, o 
fenômeno da concentração e centralização da riqueza, o processo pelo 
qual a liberdade de competição, principal mola do progresso capitalista, 
engendrou o sistema de monopólios. A derrota militar da Alemanha, 
Itália e Japão completou-se com o debilitamento econômico da Inglaterra 
e da França.
Para HAMILTON (1987: 68), a Segunda Guerra Mundial demonstrou a 
importância crucial do petróleo. Neste sentido, no período entre as guerras 
(1920-1940), já em pleno declínio da borracha, as indústrias concentravam-se 
fora da região amazônica, e a região continuava estagnada. Enquanto isso, o 
extrativismo dos demais produtos nativos tinha sido praticamente interrompido 
com o ciclo da borracha na região, por esta ser mais lucrativa e ter melhor 
aceitação no mercado mundial. Porém, com o declínio crescente das 
exportações da borracha, a região partiu para outras atividades, como o 
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extrativismo florestal e mineral, bem como a formação de núcleos 
agropecuários, com produção muito insignificante até os anos 40 do século XX.
Durante a Segunda Guerra Mundial aconteceu um novo impulso na 
produção da borracha amazônica, pois “o Japão ocupou rapidamente os 
seringais cultivados da Malásia e da Birmânia” (DERICKX, 1993: 109). O então 
presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, deslocou-se ao Brasil 
para encontrar-se com o Presidente brasileiro da época Getúlio Vargas. Do 
acordo entre os dois estadistas resultou a alternativa de a população 
nordestina deslocar-se para a região Norte em busca da borracha, com o 
objetivo de suprir as necessidades da indústria dos EUA (DERICKX, 1993: 109).
Assim, os nordestinos optam entre ir à Itália para lutar na Segunda 
Guerra Mundial ou deslocar-se para a região Norte e transformar-se em 
Soldados da Borracha. Para THOMÉ (1999: 39), “em 1942, com o estreitamento 
dos laços entre Brasil e Estados Unidos, se realizou a denominada 'Batalha da 
Borracha'”. Com o término do conflito mundial em 1945, “poucos retornaram, 
muitos permaneceram trabalhando na Amazônia, milhares e milhares perderam 
a vida neste esforço e estão sepultados em covas anônimas nas barrancas dos 
rios, entre eles o Juruá” (DERICKX, 1993: 109).
Em 1937, no período que antecede ao início da Segunda Guerra 
Mundial, o governo brasileiro, devido as várias crises no País, organizou a 
chamada “Marcha para o Oeste”, no período em que Getúlio Vargas era o 
presidente da República. Esta estratégia deslocou um grande contingente de 
pessoas para a região em busca da terra e trabalho, tanto no extrativismo, 
como na agropecuária. Na época a população da Amazônia continuava 
insignificante, mas passou a aumentar progressivamente ao longo dos anos.
QUADRO EVOLUTIVO DO AUMENTO POPULACIONAL NA 
AMAZÔNIA, NO PERÍODO ENTRE 1920 A 1970
Período Número de habitantes
Até 1920 1.400.000
De 1920 até 1950 1.850.000
De 1950 até 1960 2.600.000
De 1960 até 1970 3.600.000
 Fonte: Elaboração própria com base em Cardoso e Müller (1977: 53).
Aliado ao aumento populacional e ao desenvolvimento amazônico, o 
restante do País também evoluiu no campo da agropecuária e indústria. Em 
1953 o cultivo do café brasileiro encontrava-se extremamente favorecido pela 
aceitação no mercado mundial, e as exportações do produto forneceram 
“divisas (na proporção de 60 a 70% na ocasião)” (PRADO JÚNIOR, 1988:312). Por 
outro lado, também o rebanho bovino brasileiro passou “de 44,6 milhões de 
cabeças em 1940 para 90 milhões em 1966” (PRADO JÚNIOR, 1988: 339).
O desenvolvimento econômico brasileiro, nas várias fases do comércio 
mundial, limitou-se ao papel de fornecedor de produtos primários aos países 
importadores. Este fato se evidencia a partir da metade do século XX, quando 
realmente se efetiva a dependência e a subordinação da economia brasileira 
pelos “centros financeiros do sistema: as matrizes dos velhos trustes 
conhecidos hoje pela eufêmica designação de multinacionais” (PRADO JÚNIOR: 
1988: 346). MONIZ BANDEIRA (1978: 392) afirma que:
Em 1958, de 1.650 grupos estrangeiros, que tinham investimentos no 
Brasil, 591 firmas (pouco mais de 1/3) pertenciam aos Estados Unidos. 
Nessa mesma época, 552 firmas (num total de 1.353 registradas como 
brasileiras, mas com participação direta de capitais estrangeiros) eram 
americanas, sem contar aquelas (cerca de 76) onde havia triangulações.
 
Neste sentido, a economia capitalista mundial, historicamente, necessita 
de um centro de gravidade através de um Estado hegemônico. Este deve 
exercer “funções de liderança e governo sobre um sistema de nações” (ARRIGHI, 
1997: 27). Nesta trajetória, “um período sucede o outro, mas não podemos 
esquecer que os períodos são, também, antecedidos e sucedidos por crises” 
(SANTOS, 2001: 33). Em nossos dias é um pouco diferente, “o processo da crise 
é permanente, o que temos são crises sucessivas” (SANTOS, 2001: 35). Mesmo 
em crise cíclicas permanentes de forma não homogêneas, o centro do capital é 
determinado pelo poder superior dos estadunidenses. Historicamente, as crises 
podem determinar a transferência de comando do capital mundial, mas este 
deslocamento é apenas geográfico, pois as estruturas são determinadas pela 
vontade capitalista mundial, independentemente do local de comando.
É nesta perspectiva que, nofinal da terceira década do século XX, os 
Estados Unidos assumiram a representação capitalista mundial. O papel de 
país central o qualificava para interferir nas decisões dos países periféricos, 
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sempre que necessário, para restabelecer a ordem capitalista. As hegemonias 
são representadas por pólos controladores e centros do capital ao longo da 
história. Assim, BRAUDEL (1987: 69) determina que:
uma economia-mundo aceita sempre um pólo, um centro, representado 
por uma cidade dominante, outrora uma cidade-Estado, hoje uma 
capital, entende-se, uma capital econômica (nos Estados Unidos, Nova 
Iorque, não Washington). Aliás, podem existir, inclusive de modo 
prolongado, dois centros simultâneos numa mesma economia-mundo. 
Roma e Alexandria ao tempo de Augusto, Antônio e Cleópatra (1378-
1381; Londres e Amsterdam no século XVIII, antes da eliminação 
definitiva da Holanda. Pois um desses dois centros acaba sempre por 
ser eliminado. Em 1929, o centro do mundo, com um pouco de 
hesitação, passou assim, sem ambigüidade, de Londres para Nova 
Iorque.
WALLERSTEIN (2001: 51) classifica de forma um pouco diferente, mas 
concorda com o deslocamento do centro hegemônico capitalista mundial e 
acrescenta que cada período foi selado por uma guerra mundial. Assim, a 
“hegemonia das Províncias Unidas (Holanda) em meados do século XII, da 
Grã-Bretanha em meados do século XIX e dos Estados Unidos em meados do 
século XX” (WALLERSTEIN, 2001: 51). Estamos saindo de uma era hegemônica 
dos Estados Unidos (1945-1990) e ingressamos numa era pós-hegemônica 
(WALLERSTEIN, 2002: 19). Mesmo assim, o fim da hegemonia não significa que os 
Estados Unidos não estejam na frente do centro mundial do capital. Entretanto, 
enquanto o atual centro mundial capitalista desmonta lentamente, apresentam-
se de forma clara três centros: os Estados Unidos, a Europa Ocidental e o 
Japão (WALLERSTEIN, 2002: 39). Possivelmente, nas próximas décadas, se 
sucederão acontecimentos que vão determinar novos rumos para a economia 
capitalista.
Para PÉREZ (1996: 185), na atualidade existe uma crise do modelo do 
Estado. Assim, faz-se necessário entender o sistema social histórico, para que 
possamos entender a interferência do capitalismo nos países periféricos hoje. 
Foi o que aconteceu na América Latina, principalmente na década de 70. A 
ditadura brasileira ocorrida por ocasião do golpe militar em 1964 foi o reflexo da 
interferência dos EUA para manter a ordem do sistema na região. O sistema 
capitalista estava ameaçado, pois “na América Latina estava em marcha uma 
revolução política, impulsionada sobretudo pelo triunfo do Movimento 26 de 
julho em Cuba em 1958” (WALLERSTEIN, 2002: 23).
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O país centro da hegemonia capitalista mundial visava a manter a lógica 
imperialista mundial, enquanto que a introdução de ditaduras foi a marca da 
última metade do século XX na América Latina. O “capitalismo norte-americano 
consiste em manter e reproduzir as relações de produção capitalista, onde os 
agentes asseguram a hegemonia entre capitalistas” (TRAGTENBERG, 1980: 186). 
Assim, o Brasil, a partir dos governos da ditadura, escreveu uma nova história 
através da expansão capitalista, principalmente na Amazônia brasileira. MARINI 
(1980: 26) nos explica como foi o golpe promovido pelas forças armadas.
El golpe militar que depuso al presidente constitucional de Brasil, João 
Goulart, en abril de 1964, fue presentado por los militares brasileños 
como una revolución, y definido, un año después, por uno de sus 
voceros, como una “contrarrevolución preventiva”. Por sus repercusiones 
internacionales, sobre todo en América Latina, y ante las concesiones 
económicas que tuvo para los capitales norteamericanos, muchos lo 
consideraron sencillamente como una intervención disfrazada de 
Estados Unidos.
Assim, “o imperialismo norte-americano, àquela altura, já estava 
convencido de que lhe impunha a tarefa de expelir Goulart, como contingência 
da contra-revolução para conter as massas e o transbordamento da 
democracia” (MONIZ BANDEIRA, 1978: 450). Os estadunidenses, ao determinar um 
estado de ditadura no Brasil e na América Latina, não controlaram somente as 
massas, mas determinaram e estabeleceram a ordem do sistema capitalista na 
região. Nesta perspectiva, “os agentes da CIA estabelecem no Brasil extensa 
rede, com apoio de latifundiários, comerciantes e industriais, amatilhando os 
radicais da direita, para atos de terror, sabotagem e lutas de guerrilha” (MONIZ 
BANDEIRA, 1978).
O que levou os Estados Unidos a exigirem um golpe de Estado brasileiro 
foi a campanha contra o comunismo e a manutenção das estruturas do grande 
capital. É nesta lógica que se movimentou “a própria condição do imperialismo, 
que reside na exploração dos países dependentes” (SPILIMBERGO, 2002: 16). As 
estratégias e táticas na ação política se pautam em dois elementos básicos: 
“seu caráter premeditado e sua intencionalidade planejada” (DREIFUSS, 1986: 
23). Nesta ótica, as elites orgânicas se responsabilizam pelo “discurso político-
pedagógico para o conjunto das classes dominantes, apresentando não só 
como de interesse coletivo do capital, mas até da própria nação” (DREIFUSS, 
1986: 26). Nesta perspectiva, os vários setores da sociedade se envolveram 
nesta operação. Para MONIZ BANDEIRA (1978: 471):
a oposição pedia o impeachment de Goulart. As organizações de direita, 
tendo à frente a Campanha da Mulher Democrática (CAMDE), articulam 
a realização em todo o país das chamadas Marchas da Família, com 
Deus, pela liberdade, a fim de açular a fúria anticomunista nas classes 
médias. O tom e a cadência mostravam que existia um regente invisível, 
orquestrando a campanha, dentro do quadro dos conflitos internos e das 
lutas de classe, que se aguçavam e das quais o imperialismo norte-
americano também participava como empresário.
A grande meta desta regência invisível na América Latina foi no sentido 
de orientar as táticas conservadoras, bem como “homogeneizar a integração 
do continente no processo produtivo capitalista, através da transnacionalização 
política, econômica, militar e cultural de cada país” (DREIFUSS, 1986: 119). As 
estratégias empregadas na dominação dos países de economia dependente, 
principalmente os do Cone Sul, ocorreram através do sepultamento da 
soberania, pois não passava de um pacto de cooperação das diplomacias 
contra o comunismo e atingiram seu auge em 1976 e 1977 através da 
Operação Condor5 (PROCÓPIO, 1999: 98).
A estratégia dos estadunidenses pautava-se no apoio ideológico aos 
regimes autoritários, vindo a introduzir na prática sua política de dominação 
fora do território americano (HUGGINS, 1998: 135). Neste sentido, brasileiros, 
argentinos, chilenos, paraguaios e uruguaios realizaram esquemas conjuntos 
de terror. A operação tinha como alvo “caça aos militares de esquerda, 
rotulados de terroristas em uma estratégia diplomático-policial que resultou em 
5 A Operação Condor foi um conjunto de repressão política aos cidadãos do Cone Sul e foi 
firmado entre os países que impunham ditaduras militares em cadeia. Foi idealizada pelo 
Coronel Manuel Contreras, chefe da DINA (Dirección de Inteligencia Nacional). A aliança de 
cooperação mútua foi realizada no final de 1975 em Santiago através dos principais órgãos de 
inteligência da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai e tinha a DINA como sede 
no Chile. O pacto dava total liberdade de ação aos países membros e tinha como principalobjetivo a criação de um banco de dados sobre pessoas e organizações envolvidas em 
atividades políticas de oposição aos governos da ditadura. Tinha como objetivo criar uma 
simular da Interpool na América do Sul, porém voltada ao combate à subversão. Através do 
acordo mútuo dos países, era possível identificar revolucionários, criar códigos de informações 
secretas, trocar prisioneiros, criar táticas de tortura, execuções de prisioneiros e liberdade no 
combate aos inimigos entre os países membros. A operação “Mercosul do Terror”, como ficou 
conhecida, teve seu auge nos anos de 1976 e 1977. O serviço de inteligência repressivo só foi 
possível graças à ausência de fronteiras ideológicas e ao fato de ter elegido o comunismo 
como adversário, além da conivência e do apoio dos americanos, pois tinham interesses por 
estarem no auge do envolvimento com a Guerra Fria. 
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um saldo de centenas e mais centenas de desaparecidos no continente” 
(PROCÓPIO, 1999: 99).
Para MONIZ BANDEIRA (1983: 126), os agentes da CIA teceram toda a rede 
de conspiração contra as massas. Ao mesmo tempo, aglutinavam forças 
colaborando com os militares brasileiros, os latifundiários, os comerciantes e os 
industriais com a finalidade de sabotar as forças organizacionais da população, 
controlando as forças produtivas e consolidando o projeto proposto pela 
burguesia. Neste processo foi necessário intervir “nos sindicatos e demais 
órgãos de classe, dissolvendo agrupamentos políticos de esquerda e calando a 
imprensa, prendendo e assassinando líderes operários e camponeses, 
promulgando uma lei de greve que obstruiu o exercício desse direito laboral” 
(MARINI, 2000: 94).
O esforço das elites “latino-americanas visava à projeção de um 
conjunto de interpelações ideológicas como 'senso comum', buscando a 
formação de consenso no interior das próprias classes dominantes” (DREIFUSS, 
1986: 119). Através desta estrutura planejada e arquitetada, a sanha capitalista 
promoveu o terror e a ditadura, conseguindo mudar a correlação das forças 
políticas do País. A conseqüência imediata para a classe trabalhadora foi a 
“fixação do salário real debaixo do valor da força de trabalho” (MARINI, 2000: 
215). Neste sentido, MARINI (1980: 97-98) afirma que o aspecto mais evidente 
da ditadura.
ha sido la contención por la fuerza del movimiento reivindicativo de las 
masas. Interviniendo en los sindicatos y demás órganos de clase, 
disolviendo las agrupaciones políticas de izquierda, y acallando su 
prensa, encarcelando y asesinando líderes obreros y campesinos, 
promulgando una ley de huelga que obstaculiza el ejercicio de ese 
derecho laboral, la dictadura logró promover, por el terror, un nuevo 
equilibrio entre las fuerzas productivas. Se dictaron normas fijando 
límites a los reajustes salariales y reglamentando rígidamente las 
negociaciones colectivas entre sindicatos y empresarios, que acarrearon 
una redución sensible en el valor de los salários.
Faz-se necessário entender as estratégias do centro do capital, bem 
como o papel dos militares na ditadura brasileira. O governo militar, após 
efetivo controle das forças de oposição, transformou a região amazônica em 
área de expansão capitalista para grupos capitalistas nacionais e 
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internacionais, mesmo que esta tivesse que “se basear em uma maior 
exploração das massas trabalhadoras” (MARINI, 2000: 71).
Nesta perspectiva é necessário não perder os reais objetivos do capital 
global em implantar as ditaduras em cadeia nos anos 60 e 70 na América 
Latina. O modo ditatorial de o Estado conduzir o processo político e econômico 
foi a forma de interferência mais acentuada na expansão do capital 
internacional na região. Esta foi a maneira encontrada para preservar a 
hegemonia capitalista mundial, na América Latina e no Brasil.
Na Amazônia acentuou-se a expansão de grandes conglomerados 
econômicos internacionais, vindo a estabelecerem-se no Brasil com a 
finalidade da acumulação através da imposição militar. As modalidades de 
ações táticas foram puramente ofensivas, e as mais conhecidas foram as de: 
“doutrinação geral e específica; ação ideológico-social; pressão e penetração 
política; guerra psicológica geral e seletiva, pressão paramilitar e ação direta” 
(DREIFUSS, 1986: 120).
Para efetivar-se a estratégia de dominação, “a doutrinação geral e 
específica visava a formação de quadros das classes dominantes e a 
incorporação das lideranças das classes subalternas” (DREIFUSS, 1986: 120). 
Através da doutrinação, viabilizaram-se “as ações cívicas e comunitárias que 
funcionam como uma espécie de tática de freio à politização, foram 
desenvolvidas sob o título genérico de função social do capital” (DREIFUSS, 1986: 
122). Estas ações táticas se formavam através do cunho cívico-comunitário, e 
nasceram com o objetivo de demonstrar alta visibilidade e impacto 
condicionante.
Uma das bandeiras mais importantes das elites foi a reforma agrária 
capitalista. A intenção podia ser a de “aumentar a produtividade e os lucros, de 
abrir novos espaços à penetração do complexo agroindustrial de maquinário e 
fertilizante, ou simplesmente a fixação do camponês na sua área, para esvaziar 
problemas decorrentes da migração aos centros urbanos” (DREIFUSS, 1986: 
125). Através desta perspectiva, ocorreu uma nova dinâmica no tratamento da 
Amazônia brasileira, principalmente a partir dos anos 60 do último século, via 
expansão capitalista.
Neste sentido, “as ações de pressão e penetração política tinham como 
alvos e arenas de luta a mídia, o Congresso, as Forças Armadas, a burocracia 
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do Estado, os partidos, a igreja, o governo etc.” (DREIFUSS, 1986: 126). Para 
atingir a mídia era relativamente fácil, pois esta pertencia à elite capitalista 
distribuída nos vários setores da economia, e assim penetrava nos demais 
órgãos e instituições-alvo. Depois de efetivar as ações de pressão e 
penetração política, “as atividades de guerra psicológica consistiam na 
persuasão geral (propaganda, informação e desinformação, manipulação, etc.)” 
(DREIFUSS, 1986: 128).
No último estágio, a atuação tática das elites orgânicas era através de 
atividades de guerra psicológica, e esta visava à mobilização política, 
fornecendo subsídios e orquestração às campanhas eleitorais, apoio 
econômico e político a militantes, bem como formação de grupos para militares. 
Neste nível, a interferência foi do “amedrontamento de sindicalistas, o apoio 
aos fura greve, a provocação e atos de terrorismo, até a desestatização 
completa do regime e a sua derrubada por golpe de Estado” (DREIFUSS, 1986: 
131).
A América Latina foi transformada em um laboratório da 
desestabilização, pois o objetivo principal era preservar o sistema capitalista 
mundial. Fazia-se necessário usar as táticas mais avançadas para preservar o 
sistema, mesmo que fosse através da interferência das forças militares, 
dotando os países periféricos com estratégias de submissão e violência com as 
massas para assegurar a expansão do sistema capitalista mundial das elites. 
Todas estas táticas visavam restabelecer a lógica sistêmica e abrir caminhos 
para a entrada dos sobrinhos do “Tio Sam” na América Latina. Através da 
estratégia elaborada e engenhada por interessesalém-pátria, o Estado 
brasileiro passou a beneficiar os grandes projetos econômicos, dotando-os de 
estrutura financeira e do controle das massas pela ditadura.
Os militares no comando do Estado brasileiro, através do golpe de 
Estado, serviram de instrumento para fixação de grandes capitais na região 
amazônica, bem como a concentração da propriedade privada e expropriação 
dos povos da floresta. O real motivo da tomada do poder por meio da ditadura 
foi beneficiar os grupos econômicos, e estes passavam a controlar os 
movimentos políticos e econômicos do País. Os projetos “Sudam e Basa 
criados em 1966 marcam o início de uma nova fase de desenvolvimento 
extensivo do capitalismo na Amazônia” (IANNI, 1986: 67). Assim, “o Estado é o 
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penhor das condições, das relações sociais, do capitalismo, e o protetor da 
distribuição cada vez mais desigual da propriedade que esse sistema enseja” 
(BRAVERMAN, 1981: 242). 
Efetuou-se a estratégia de internacionalização da Amazônia, ocorrendo 
na prática a expansão capitalista com recursos provenientes do Estado 
brasileiro através dos incentivos fiscais. Ao mesmo tempo, a forma 
expansionista criada na região tornou-se dependente do Estado brasileiro. 
Nesta perspectiva, criaram-se as condições necessárias para dar início a uma 
fase mais acelerada “das relações de produção e as forças produtivas no 
extrativismo, agricultura e pecuária da região” (IANNI, 1986: 66). 
A proposta de ocupação da região, através da oferta de vastas áreas e 
condições para expansão, veio acompanhada dos mecanismos necessários 
para as empresas passarem a usufruir os recursos minerais e florestais 
abundantes na região. O Estado brasileiro colocou-se a serviço dos grandes 
conglomerados capitalistas nacionais e internacionais, visto ser a ditadura fruto 
de uma investida internacional de dominação econômica, militar, política e 
territorial.
O controle efetivou-se através do comando da hegemonia capitalista 
mundial, representada e controlada pelos Estados Unidos, pois o plano tinha 
objetivos claros: expandir o capital central nos países do Terceiro Mundo, bem 
como fortalecer o sistema de dominação capitalista mundial através das forças 
militares. Neste aspecto, efetivara-se na Amazônia brasileira a instalação de 
forma mais agressiva dos três fatores produtivos, “o capital, a terra e o 
trabalho” (ROSDOLSKY, 2001: 41).
No período pós-1964, o Estado brasileiro, sob domínio estrangeiro, 
através das estratégias mundiais, passou a servir aos “ianques” 
intensivamente, submetendo-se às metas do plano global capitalista. Os 
produtos da região amazônica, que já serviam ao mercado mundial, passavam 
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a se fazer cada vez mais presentes na região, mas agora a investida 
econômica pôde ser com recursos da nação brasileira em detrimento dos 
povos nacionais e os da floresta tropical.
Os seringueiros passaram à condição de posseiros ou fornecedores de 
força de trabalho na região. O governo federal, via Incra6, em 1970, contestou o 
domínio de propriedade em grande parte das áreas de extrativismo, 
promovendo a expansão de grupos econômicos. Neste sentido, é bom lembrar, 
que com o quase extinto ciclo da borracha nos anos 70, “é inegável que o 
extrativismo continua um setor econômico importante na economia da 
Amazônia. Continuam importantes o setor extrativo e o comércio de borracha, 
castanha, babaçu, madeira, peles, etc., na região do Brasil e no exterior” (IANNI, 
1986: 57-58).
Por outro lado, os capitalistas nacionais e internacionais, sempre atentos 
às riquezas minerais e florestais desta região, bem antes do início do ciclo da 
borracha, transformaram a Amazônia em fornecedora de produtos ao mercado 
mundial, mesmo não se instalando definitivamente nesta região, mas 
6 Incra – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Órgão do governo federal, que 
teve sua criação através do Decreto Lei n. º 1.110, de nove de julho de 1970. Tinha como 
finalidade o levantamento cadastral das propriedades e a demarcação das terras, bem como a 
implantação de políticas de colonização no território brasileiro. Tendo sido extinto em 1987, e 
substituído pelo Mirad, Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário. No Mato Grosso, 
o órgão limitou-se à tarefa de regularizar títulos de posse e aprovar projetos de colonização da 
iniciativa privada, pois os governos militares davam toda atenção ao projeto particular de 
colonização. 
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interferindo na área dentro da lógica do sistema. Conforme SANTOS (2001: 123), 
é esta lógica que determina os movimentos, pois as “populações em seus 
diferentes níveis, os pobres e os que vivem longe dos grandes mercados 
obrigam a combinações de formas e níveis do capitalismo”.
A região recebeu um grande contingente de empresas nacionais e 
multinacionais, com fins de constituírem seus negócios voltados para a 
concentração individual de capitais. O Estado brasileiro facilitou a expansão 
capitalista na região, tendo como estratégia os incentivos fiscais e o crédito. 
Segundo Marx7, a sua definição nos orienta sobre a lógica do crédito e as 
relações Estado/capital. Os conceitos podem ser vistos na obra O capital8.
A análise histórica revela que “a reprodução do capital, em escala 
internacional, não se efetiva nem se desenvolve sem algum tipo de 
participação do Estado do país dependente” (IANNI, 1988; 118). Na última 
fronteira de ocupação brasileira, desde que foi instalada a ditadura militar 
brasileira, a penetração de forma capitalista foi intensificada com ampla 
organização do poder do Estado. O poder público, com a finalidade de dar 
“segurança” à sociedade burguesa, desencadeou um processo de “controle e 
repressão de toda a organização e atividades políticas das classes 
assalariadas, para que o capital monopolista tenha as mãos livres para 
desenvolver a acumulação” (IANNI, 1981: 9). As várias formas de atuação e 
estratégias da ditadura ficam acentuadas em IANNI (1981: 22):
7 “Se o sistema de crédito é o propulsor principal da super produção e da 
especulação excessiva no comércio, é só porque o processo de reprodução, 
elástico por natureza, se distende até o limite extremo, o que sucede em 
virtude de grande parte do capital social ser aplicada por não proprietários dele, 
que empreendem de maneira bem diversa do proprietário que opera 
considerando receosos os limites de seu capital. (...). Assim este acelera o 
desenvolvimento material das forças produtivas e a formação do mercado 
mundial, e levar até certo nível esses fatores, bases materiais da nova forma 
de produção, é a tarefa histórica do modo capitalista de produção.(...) O 
sistema de crédito, pela natureza dúplice que lhe é inerente, de um lado, 
desenvolve a força motriz da produção capitalista, o enriquecimento pela 
exploração do trabalho alheio, levando a um sistema puro e gigantesco de 
especulação e jogo, e limita cada vez mais o número dos poucos que exploram 
a riqueza social; constitui a força de passagem para o novo modo de produção” 
(MARX, 1981: 510).
8 O capital: crítica da Economia Política. É considerada a obra mais importante de Karl Marx, e 
foi publicada em 1867 a primeira parte dos estudos, três anos após sua morte. A obra seconstitui em três livros divididos em seis tomos e foi traduzida para a língua portuguesa por 
Reginaldo Sant' Anna pela Editora Civilização Brasileira.
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a ditadura passou a atuar, de forma presente, sistemática, profunda e 
generalizada, na questão da terra, na Amazônia Legal, na política 
educacional, na indústria cultural, nas relações de produção, nas forças 
produtivas. O poder estatal passou a expressar, de forma cada vez mais 
aberta, as exigências da economia política da reprodução monopolista. 
Ao mesmo tempo em que se desenvolvia a superexploração do 
proletariado e do campesinato, desenvolvia-se o poder estatal, como 
máquina de violência concentrada e organizada. As mesmas relações e 
estruturas de apropriação econômica, determinadas pela reprodução do 
capital, desenvolviam e apoiavam-se nas relações e estruturas de 
dominação política. Em conjunto, conformava-se um Estado de cunho 
fascista.
Para facilitar e concretizar a realização dos objetivos dos capitalistas, o 
Estado adotou como estratégias a criação de órgãos facilitadores, para 
legalizar a estrutura necessária e a transferência de capitalistas para a região 
Amazônica. Desta forma, o Estado criou mecanismos que ofereciam as 
condições necessárias para a apropriação de terras devolutas, passando ao 
domínio de empresas nacionais e internacionais. Conforme PORTELA E OLIVEIRA 
(1991: 17),
terras devolutas – oficialmente não possuem dono. Trata-se de terras 
vagas ou desocupadas do ponto de vista jurídico, ou seja, sem titulação 
de propriedade. Terras tribais – ocupadas por sociedades indígenas e 
garantidas pelo governo federal. Não são terras tituladas, porque as leis 
do Brasil garantem aos índios apenas a posse da terra, pois é a União 
que detém a propriedade delas. Terras griladas – o “proprietário” possui 
títulos. Ou, então, são áreas não cobertas por títulos legais, cujos 
“proprietários” – pessoas ou empresas – reivindicam extensões maiores 
do que as cobertas pelos títulos. Terras Tituladas – o proprietário possui 
o título emitido pelo governo e registrado em cartório, que é o título legal 
de propriedade. 
As empresas, sendo possuidoras de capital, ou com a falta deste, mas 
com capacidade organizacional e poder político para instalarem-se na região, 
passaram a ter livre acesso aos benefícios oferecidos pelo Estado. Este exigia 
como troca dos grupos econômicos beneficiados apoio para fortalecer-se 
politicamente no País e manter a forma repressiva de governo. As terras 
devolutas de comunidades indígenas e griladas passaram à condição de terras 
tituladas nas mãos de grupos organizados. A ditadura de 1964 planejou a 
expansão do capital nacional e internacional na Amazônia, tornando a última 
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fronteira muito mais integrada ao mercado mundial e pouco ao mercado 
interno.
Assim, “a expansão capitalista na mais recente fronteira do Brasil 
processa-se mediante a criação de empresas sob o incentivo e a direção do 
Estado Autoritário” (CARDOSO e MÜLLER, 1977: 8). Através desta perspectiva, foi 
colocado o “Estado em favor do capital monopolista” (SODRÉ, 1975:17). A tônica 
da “política econômica governamental concentra-se sobre o processo de 
acumulação de capital, que é selecionado como fulcro do desenvolvimento” 
(IANNI, 1989: 12). Neste sentido, “o Estado moderno e a ordem reprodutiva 
sociometabólica do capital são mutuamente correspondentes” (MÉSZÁROS, 2002: 
127). IANNI (1986: 55) diz que:
o que ocorreu na Amazônia, nos anos 1964-78, foi principalmente um 
desenvolvimento extensivo do capitalismo. No extrativismo, na 
agricultura e na pecuária, desenvolveram-se as relações capitalistas de 
produção, juntamente com as forças produtivas. Este foi o quadro geral 
no qual se integrou a política estatal de ocupação, inclusive a 
colonização dirigida, oficial e particular. A rigor a expansão da empresa 
de extrativismo, agropecuária e mineração, da mesma forma que a 
demarcação e titulação de terras devolutas, tribais e ocupadas, ao lado 
da colonização dirigida, tudo isso expressa o processo mais ou menos 
amplo e intenso de expansão das relações capitalistas na região.
O Estado é decisivo, surge como mediador para facilitar a acumulação 
capitalista na região. Desta forma, “à medida que se acelera a concentração de 
capital, desenvolve-se a centralização” (IANNI, 1989: 19). Os diversos capitais 
transformam-se em um só através da centralização, mas “a concentração é um 
processo que consiste no aumento do capital das unidades empresariais, pela 
capitalização da mais-valia ali produzida” (IANNI, 1989: 18). O conceito sobre 
acumulação foi desenvolvido por MARX9.
9 “com a acumulação do capital, desenvolve-se o modo de produção 
especificamente capitalista, e, com o modo de produção especificamente 
capitalista, a acumulação do capital (...). Todo o capital individual é uma 
concentração maior ou menor dos meios de produção, com o comando 
correspondente sobre um exército maior de trabalhadores. Cada acumulação 
se torna meio de nova acumulação. Ao ampliar-se a massa de riqueza que 
funciona como capital, a acumulação aumenta a concentração dessa riqueza 
nas mãos de capitalistas individuais e, em conseqüência, a base da produção 
em grande escala e dos métodos de produção especificamente capitalistas. O 
crescimento do capital social realiza-se através do crescimento de muitos 
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O processo capitalista desencadeia na região formas de sujeição dos 
posseiros, dos indígenas e dos colonos ali residentes, ou os recém-chegados. 
O controle passa a efetivar-se “através do binômio clássico, ou seja, monopólio 
da terra e controle do trabalho” (PROCÓPIO, 1992: 19). Desta maneira, a região 
passa de uma economia completamente dominada pelo setor primário à “uma 
economia de setor secundário, modificam-se os instrumentos e a política 
econômica do governo. Como mediação num sistema de relações de classes 
sociais, o poder público adquire relevância especial na formação do capitalismo 
industrial” (IANNI, 1989: 46). 
Com a criação de órgãos como Sudam e Basa10 concretizaram-se 
mudanças em todos os setores da economia local. A partir da criação destes 
dois órgãos financiadores, com finalidade de incentivar e atrair capitalistas para 
esta vasta região, iniciou-se uma nova fase para o desenvolvimento extensivo 
do capitalismo dependente do Estado brasileiro. Neste sentido, a “política dos 
incentivos fiscais foi o instrumento que o Estado brasileiro beneficiou os 
monopólios estrangeiros instalados no país” (SODRÉ, 1975: 153). Portanto, 
efetivaram-se duas vias de integração: no primeiro estágio vinculou-se a região 
ao mercado mundial via exportação, e no segundo a internacionalização dos 
produtos através da produção. IANNI (1986: 61-62) enfatiza as estratégias do 
capital na Amazônia: 
em primeiro lugar, dinamizaram-se e diversificaram-se as atividades 
produtivas. Em segundo lugar, desenvolveu-se bastante o sistema de 
crédito, público e privado. Em terceiro, desenvolveu-se e ampliou-se a 
administração pública federal da região. Em quarto, desenvolveu-se e 
agravou-se a luta pela terra, luta essa que envolve, entre outros 
elementos: o poder público(federal, estadual, territorial e municipal); 
grandes e médias empresas agropecuárias e de mineração; posseiros, 
ou antigos sitiantes e grupos indígenas. Em quinto, recolocou-se a 
secular problemática indígena, seja quanto à defesa da sua cultura e 
terra, seja no que se refere à proletarização da sua mão-de-obra. Em 
capitais individuais e, com eles, a concentração dos meios de produção 
aumentam enquanto o capital social cresce.” (MARX, 1998: 729).
10 Sudam – Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia, órgão criado em 27 de 
outubro de 1966, pela Lei n.º 5.173, sendo considerado o principal instrumento nas mãos do 
capital nacional e estrangeiro, tendo como função criar incentivos fiscais e financeiros, com 
planos de valoração, atraindo assim investidores privados. Os incentivos fiscais eram 
direcionados aos empreendimentos agropecuária, indústria e mineração. Basa – Banco de 
Crédito da Amazônia S.A, criado em 28 de outubro de 1966, conforme Lei n.º 5.122, sendo que 
os dois órgãos passaram a atuar de forma articulada na região amazônica. 
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sexto, criaram-se núcleos coloniais, com a finalidade de construir 
reservas de mão-de-obra para empreendimentos públicos e privados. 
Em sétimo lugar, reformou-se amplamente a significação geopolítica da 
região amazônica, tanto no que diz respeito à “defesa nacional”, como 
no que se refere aos problemas da “segurança interna”.
Na região ocorreram grandes transformações econômicas, sociais e 
ambientais. O poder público adotou como estratégia do Estado contemplar as 
empresas privadas com grandes áreas de terras, vindo a beneficiar grandes 
conglomerados nacionais e internacionais. Isto foi possível por meio dos 
incentivos fiscais, pois o Projeto Sudam e o Basa canalizavam para a região 
uma nova proposta de ocupação, “com a finalidade de levar a empresa privada 
a participar do desenvolvimento da Amazônia” (CARDOSO e MÜLLER, 1977: 104) 
Assim, o binômio Estado-empresas privadas, nacionais e internacionais, 
conseguiu fazer a parceria certa com a finalidade de internacionalizar a 
Amazônia brasileira, bem como garantir a sobrevivência do sistema capitalista 
através do Estado ditatorial.
Desta ocupação criaram-se grandes monopólios e uma nova fase da 
história da expropriação dos recursos naturais da região se desencadeou. O 
então ministro da Justiça, Delfim Neto, um dos mentores do projeto econômico 
militar, não cansava de repetir a seguinte frase: “exportar é o que importa”. A 
filosofia de entrega do patrimônio brasileiro e a internacionalização dos 
espaços deixaram grandes sinais de “expropriação dos recursos naturais, 
minerais, florestais, dos solos, do suor dos trabalhadores e das nações 
indígenas” (OLIVEIRA, 1997: 15). HEGEMANN (1996: 61) acrescenta que: 
na década de 70, a Amazônia atraía inúmeras empresas brasileiras e 
internacionais que desejavam adquirir propriedades a preços baixos; 
fazer especulações rentáveis; utilizar subvenções do Estado ou 
conquistar partes do mercado e vantagens competitivas. Entre os atores, 
nem sempre sérios, estavam – além de várias empresas brasileiras e 
firmas fantasmas – algumas empresas estrangeiras como a 
Volkswagem, a Liquigás, a Nixdorf e até o Banco do Vaticano. O Banco 
Mundial também estava à frente em vários casos, concedendo 
empréstimos ou como investidor. 
Através das facilidades oferecidas pela ditadura, empresas nacionais e 
multinacionais instalaram-se nesta região, inclusive obtendo recursos 
financeiros para estruturação. Várias empresas usufruíram dos recursos 
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promovidos por mecanismos de incentivos fiscais, trazendo pouco retorno para 
a nação e quase nenhum para a região Amazônica, cenário dos projetos. 
Alguns destes nasceram apenas com a finalidade de especulação imobiliária 
da terra. É o caso das empresas de colonização privada, ou para extração dos 
recursos minerais, florestais e da agropecuária. Podemos destacar alguns dos 
projetos gigantescos surgidos nesta época, com grande quantidade de 
hectares de terra11.
GRANDES EMPRESAS INSTALADAS NA AMAZÔNIA BRASILEIRA NO 
PERÍODO DA DITADURA MILITAR ENTRE 1964 E 1985.
Nome das empresas Tamanho das áreas em hectares
Projeto Jari S. A 1.500.000
Suiá-Missu 678.000
Codeara 600.000
Georgia Pacific 500.000
Bruynzeel 500.000
Robim Mac Glolm 400.000
Toyamnka 300.000
Volkswagen 140.000
Fonte: Elaboração própria com base em Becker (1997: 26), Cardoso e Müller (1977: 161) e Pinto (1980: 215).
Além dos projetos mencionados, outros grupos econômicos foram 
beneficiados com grandes quantidades de terras na região. Entre estes grupos 
estão: Bradesco, Atlântica-Boa Vista, Bamerindus, Swift, Supergasbrás e 
outros. Estes são apenas alguns dos exemplos de grandes áreas distribuídas 
aos grupos capitalistas na Amazônia. No período da ditadura, com aval do 
próprio governo e “usando slogans nacionalistas, mais de seiscentas empresas 
transnacionais passaram a investir maciçamente na região” (GONÇALVES, 2001: 
14-15). 
Com posse de grande quantidade de terra desmataram em ritmo 
crescente a Amazônia, utilizando o “trabalho assalariado, que possibilita rápido 
desmatamento, e nas operações seguintes de aviões que espalham 
desfolhantes e sementes de capim que em três dias realizam uma operação 
equivalente a um ano de trabalho vivo” (BECKER, 1997: 26). Para SHOUMATOFF 
(1990: 72), os aviões tornaram-se um verdadeiro achado. “Podia-se jogar 
11 Hectare (ha), unidade de medida agrária com 10.000 m² cada unidade, ou o equivalente a 
um hectômetro. Esta unidade de medida é a mais usada dentro do território amazônico e serve 
de referência para informar as medidas de área.
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agente laranja ou bombas de napalm com eles, livrando-se das recalcitrantes 
culturas que habitavam a selva – índios, seringueiros e caboclos – e fazer o 
que precisava ser feito, sacrificando algumas milhares de pessoas pelos 
elevados propósitos do progresso”. 
Os desfolhantes são proibidos nos países de origem das multinacionais, 
mas utilizados na nova fronteira de colonização de forma extensiva. Este fato 
pode ser comprovado no “caso do rio Miranda – MS –, onde foi usado 
maciçamente o Tordon, o Dow-chemical, o Agente Branco da guerra do Vietnã 
nas fazendas de cerrado para dessecar as florestas e capoeiras da região do 
Pantanal” (PINHEIRO et al., 1998: 49). A estratégia capitalista para a região não 
ficou somente em desfolhar as florestas para posterior penetração. Nesta 
estratégia “o uso destes desfolhantes, mais que destruir a floresta, visa, muitas 
vezes, a destruir tribos indígenas; como são poderosos abortivos, provocam 
um verdadeiro genocídio” (PINHEIRO et al., 1998: 75). 
Além disso, a região amazônica, por ser pouco habitada, serve de 
experimento científico em testes para posterior liberação destes agrotóxicos 
por parte dos grupos econômicos internacionais. Usavam os países periféricos 
como experimento para avaliar a capacidade dos produtos tóxicos, pois “eles 
queriam que fóssemos cobaias, para terem maiores lucros” (PINHEIRO et al., 
1998: 109). 
Fatos desta natureza só acontecem quando o Estado é omisso e 
conivente. No caso brasileiro, o governo passou a ser colaborador, colocando-
se sempre na retaguarda do sistema imperialista e protetor dos grandes 
conglomerados internacionais. Assim, quando necessário, interferiu em nome

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