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Realização: SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEPATOLOGIA FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GASTROENTEROLOGIA Apoio: Hepato 2 29 09 06 LAYOUT 03.indd1 1Hepato 2 29 09 06 LAYOUT 03.indd1 1 29.09.06 11:35:5929.09.06 11:35:59 Hepato 2 29 09 06 LAYOUT 03.indd2 2Hepato 2 29 09 06 LAYOUT 03.indd2 2 29.09.06 11:36:0529.09.06 11:36:05 3 Editorial A Sociedade Brasileira de Hepatologia tem como um de seus objetivos primordiais a promoção de Educação Médica Continuada de elevada qualidade científica. Neste projeto ela se propõe a fazê-lo através de discussão de casos clínicos, entrevistas e revisões de atualização sobre temas fundamentais em Hepatologia, abordados por renomados especialistas da área. A Zambon participa desta iniciativa, levando à classe médica a melhor mensagem técnico- científica, com o apoio da Sociedade Brasileira de Hepatologia. Nesta edição o médico terá a oportunidade de atualizar seus conhecimentos através da informação mais precisa e atual sobre um importante problema: ASCITE. João Galizzi Filho Presidente Atha Comunicação e Editora – e-mail: 1atha@uol.com.br Criação e Coordenação editorial Cortesia: Realização: SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEPATOLOGIA FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GASTROENTEROLOGIA Apoio: Hepato 2 29 09 06 LAYOUT 03.indd3 3Hepato 2 29 09 06 LAYOUT 03.indd3 3 29.09.06 11:36:0529.09.06 11:36:05 Angelo Alves de Mattos Professor Titular da Disciplina de Gastroenterologia da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre (FFFCMPA); Professor do Curso de Pós-Graduação em Hepatologia da FFFCMPA; Doutor e Livre-Docente em Gastroenterologia. ASCITE: fisiopatologia, diagnóstico e tratamento 4 Aproximadamente 50% dos pacientes com cirrose com- pensada irão desenvolver ascite em um período de 10 anos de observação. Uma vez que a doença se desenvol- va, a mortalidade esperada em 2 anos é de 50%. Tendo em vista a incidência e o mau prognóstico que a ascite acarreta ao paciente, fica clara a necessidade de com- preender a sua patogenia e de ofertar um diagnóstico e um tratamento adequado para o seu controle. A patogê- nese, representada pela teoria da vasodilatação arterial, pode ser apreciada na figura 1. No diagnóstico diferencial das ascites, a despeito do va- lor do exame bioquímico, citológico, bacteriológico e cito- patológico, um destaque inicial deve ser dado à determi- nação dos níveis de proteína na ascite e do gradiente de albumina soro-ascite. Tendo em vista a correlação que observamos entre a presença de hipertensão portal e um gradiente elevado, poderíamos afirmar que níveis ≥1,1 g/dL associados a níveis de proteínas inferiores a 3,0 g/dL sugerem o diagnóstico de cirrose. Naqueles casos em que o gradiente fosse <1,1 g/dL e os níveis de proteínas elevados, dever-se-ia pensar em doença pe- ritoneal (p. ex. tuberculose ou carcinomatose peritone- al), e quando ambos os parâmetros estivessem acima dos níveis críticos discriminativos propostos a hipótese a ser considerada seria a de hipertensão portal pós-sinu- soidal (p. ex. insuficiência cardíaca congestiva). Por outro lado, quando tanto o gradiente quanto o nível de proteí- nas estivessem diminuídos, a causa da ascite não esta- ria relacionada nem a hipertensão portal nem a doença peritoneal (p. ex. síndrome nefrótica). Obviamente esses diagnósticos devem ser respaldados por investigação complementar. Seriam, então, o gradiente de albumina e os níveis de proteínas do líquido de ascite divisores de águas a orientar o clínico nos passos propedêuticos a serem seguidos. Ressaltamos o papel da contagem de células do líquido de ascite e sua análise diferencial, tendo em vista sua im- portância na sugestão diagnóstica da peritonite bacteria- na espontânea (PBE). Em recente reunião de consenso, foi definido que o diagnóstico presuntivo da PBE deve ser considerado quando o número de polimorfonucleares for superior a 250 células/mm3. O exame bacteriológico, no entanto, é gold standard no diagnóstico dessa enfermi- dade. Embora não seja utilizado como parâmetro inicial de tratamento da PBE (pela demora no resultado e pela percentagem significativa de resultados falso-negativos), serve para uma eventual readequação terapêutica. É apregoada sua realização com a inoculação do material coletado em frascos de hemocultura, o que possibilitaria uma positividade ao redor de 60% a 90% dos casos. Diante de suspeita de ascite maligna ou pancreática, deve ser realizado o exame citopatológico e a determi- nação da amilase. Após terem sido afastadas outras causas de ascite e confirmado que ela decorre de uma hepatopatia crônica, torna-se fundamental que se inicie o tratamento. De grande importância no manejo dos pacientes com der- rame peritoneal é identificar e afastar ou tratar, quando possível, a causa da hepatopatia. Assim, por exemplo, em um paciente com hepatopatia decorrente de alcoolismo é fundamental que esse hábito seja suspenso. Em regra, os pacientes com ascite necessitam de hos- pitalização, embora aqueles com derrame peritoneal de pequeno volume possam ser manejados em nível am- bulatorial. A restrição de sódio nos parece um passo fundamental do tratamento, preconizando-se uma limitação ao redor de 2 g, devendo o clínico adequar a dosagem do diurético quando necessário. O déficit de excreção hídrica é um achado freqüente no cirrótico. A ingestão de água, no entanto, só deve ser restringida naqueles em que a concentração séri- ca de sódio for inferior a 130 mEq/L. Caso o paciente apresente importante hiponatriemia (120 mEq/L), a despeito da restrição de líquidos, os diuréticos devem ser suspensos. A resposta inicial à dieta com restrição de sódio ocor- re somente em 5% a 15% dos pacientes. Em função disso, seu uso isolado parece ter pequeno papel tera- pêutico. Como a absorção da ascite é limitada, toda vez Hepato 2 29 09 06 LAYOUT 03.indd4 4Hepato 2 29 09 06 LAYOUT 03.indd4 4 29.09.06 11:36:1029.09.06 11:36:10 5 Figura 1 Teoria da Vasodilatação Arterial (modificado de Schrier et al.) que a capacidade for excedida haverá mobilização de líquido a partir do compartimento plasmático, com con- seqüente hipovolemia, azotemia e alterações eletrolí- ticas. A presença de edema periférico concomitante evita essa evolução, em decorrência de sua mobiliza- ção preferencial e ilimitada. Pelo exposto, fica sugeri- do que o tratamento deve resultar em perda média de 1 kg/dia naqueles pacientes com ascite e edema peri- férico e de 300-500 g/dia naqueles só com ascite. No início do tratamento, são utilizados diuréticos poupa- dores de potássio, preferencialmente a espironolactona. Tal substância apresenta um excelente efeito nos cirró- ticos, em decorrência do hiperaldosteronismo existente. A dose inicial, de 100 mg, pode ser aumentada a cada 3-5 dias, até um máximo de 400 mg/dia. O intervalo de dias utilizados para a modificação da dose é baseado no fato de que o pico de ação da droga é entre o terceiro e o quinto dia de uso. Como a espironolactona tem meia- vida longa, está justificada sua administração uma vez ao dia. Sendo o sítio de ação da droga ao nível do néfron dis- tal, a retenção proximal de sódio e de água explica a falha terapêutica em alguns pacientes. Nestes casos, associa-se um diurético de alça. A droga habitualmen- te utilizada é a furosemida, cuja dose varia de 40 a 120-160 mg/dia. No momento, há quem prefira que o início e os aumen- tos subseqüentes da terapia diurética façam-se com a utilização de ambos os diuréticos, pelo fato de isso pro- porcionar menor tempo de hospitalização e diminuição das complicações provenientes dos desequilíbrios dos níveis de potássio do soro dos pacientes. Hepato 2 29 09 06 LAYOUT 03.indd5 5Hepato 2 29 09 06 LAYOUT03.indd5 5 29.09.06 11:36:1029.09.06 11:36:10 Em recente reunião de consenso do International As- cites Club (IAC) foi somente preconizada a adição de diuréticos de alça (20-40 mg/dia de furosemida) quan- do o paciente falhar em responder a uma dose de até 200 mg/dia de espironolactona, após as primeiras duas a três semanas. Em aproximadamente 5% a 10% dos pacientes com fun- ção hepatocelular estável, há falta de resposta à tera- pêutica médica utilizada. Eles seriam considerados por- tadores de ascite refratária, definida como aquela que não pode ser mobilizada ou cuja recorrência precoce não pode ser evitada com a terapia médica. Várias situações devem ser observadas antes de rotular- mos uma ascite de refratária. A causa que mais freqüen- temente nos induz a considerar um derrame peritoneal como refratário é a ingestão excessiva de sódio. No en- tanto, tem sido dada especial atenção à PBE, ao uso dos antiinflamatórios não-hormonais, à trombose porta ou à associação com um carcinoma hepatocelular, já que po- dem induzir a uma falsa refratariedade da ascite. Uma vez definida a refratariedade da ascite, o clínico deve lançar mão de procedimentos alternativos, já que esta situação empobrece de forma particular o prog- nóstico dos pacientes (a sobrevida em um ano varia de 20-50%). A terapêutica através da paracentese, que consiste na retirada de 4 a 6 litros de ascite por dia com infusão intravenosa de 40 g de albumina, mostrou-se mais efe- tiva, acarretando menos complicações e diminuindo o tempo de internação dos pacientes, em comparação com o tratamento à base de diuréticos. Na dependên- cia do caso, a retirada do líquido de ascite pode ser realizada através de parecentese única, com infusão intravenosa de albumina. Tendo em vista o custo da reposição com albumina, foi realizado estudo multicêntrico randomizado comparan- do albumina, dextrana 70 e Haemaccel® na prevenção da hipovolemia. Concluiu-se pela maior eficácia da al- bumina, refletida por menor número de readmissões e maior sobrevida dos pacientes. Ficaria, no entanto, permitido o uso desses expansores plasmáticos nas paracenteses em que o volume drenado de ascite fosse inferior a 5 litros. Outra modalidade terapêutica que poderia ser utilizada nos casos de ascite refratária é a colocação de shunt transjugular intra-hepático portossistêmico (TIPS). O sucesso terapêutico alcançado é ao redor de 60% em um ano. A maior complicação desse método é o de- senvolvimento de encefalopatia portossistêmica (EPS), que ocorre em até 30% dos pacientes, embora seja, geralmente, de fácil manejo. Estenose de shunt ocorre em até 70% dos casos, quan- do eles são seguidos por um ano, embora estudos recen- tes sugiram que o TIPS com politetrafluoretileno diminua a possibilidade de oclusão. Quando o papel do TIPS e da paracentese terapêuti- ca foi avaliado, observou-se que o mesmo controla de maneira mais eficaz a ascite, a despeito da maior inci- dência de EPS, não havendo alteração significativa de sobrevida. Em regra, tem sido aceita a colocação de TIPS naqueles pacientes que não respondem à terapêutica com a para- centese (mais de três tratamentos ao mês). Por outro lado, ela tem sido contra-indicada em pacientes com EPS, naqueles com idade superior a 70 anos, naqueles com dis- função cardíaca (fração de ejeção inferior a 55%) e nos que apresentam escore de Child superior a 12. É importante enfatizar que o transplante hepático é a for- ma de terapia definitiva a ser ofertada aos pacientes com ascite refratária. Seriam, então, as alternativas anterior- mente consideradas procedimentos terapêuticos que pro- porcionariam uma vida mais digna a essa população de pacientes até a sua realização. Grosso modo, um escore Child-Pugh maior do que 10, em um paciente com ascite, poderia ser encarado como sinalizador para o transplan- te, já que a sobrevida de um ano que este proporciona varia de 75% a 85%. Parece ser de fundamental impor- tância a utilização de um índice prognóstico para indicar o transplante de forma mais precoce, antes que o paciente desenvolva ascite refratária, uma vez que deve ser pesa- do, na decisão do momento da indicação, o tamanho da fila de transplante. Bibliografia 1. Angeli P & Gatta A. Medical treatment of ascitis in cirrhosis. In: Ginès P, Arroyo V, Rodés J, Schrier RW eds. Ascites and Renal dysfunction in liver disease. Pathogenesis, diagnosis and treatment. Massachusetts:Blackwell Science 2005;227-41. 2. Arroyo V, Ginés P, Gerbes AL et al. Definition and diagnostic criteria of refractory ascites and hepatorenal syndrome in cirrhosis. Hepatology 1996; 23:164-176. 3. DAmico G, Luca A, Morabito A, Miraglia R, DAmico M. Uncovered transjugular intrahepatic portosystemic shunt for refractory ascites: a meta-analysis. Gastroenterology 2005; 129:1282-93. 4. Moore KP, Wong F, Gines P et al. The management of ascites in cirrhosis: Report on the Consensus Conference of the International ascites Club. Hepatology 2003; 38:258-66. 5. Runyon BA. Management of adult patients with ascites caused by cirrhosis. Hepatology 1998; 27:264-72. 6. Schrier RW, Arroyo V, Bernardi M, Epstein M, Hentiksen JH & Rodés J. Peripheral arterial vasodilatation hypothesis: a proposal for the initiation of renal sodium and water retention in cirrhosis. Hepatology 1988; 8:1151-1157. 7. Wongcharatrawee S & Garcia-Tsao G. Clinical management of ascites and its complications. Clin Liver Dis 2001; 5:833-50. 8. Wong F, Blendis L. The pathophysiologic basis for the treatment of cirrhotic ascites. Clin Liver Dis 2001; 5:819-32. 9. Yu AS, Hu K-Q. Management of ascites. Clin Liver Dis 2001; 5:541-68. 6 Hepato 2 29 09 06 LAYOUT 03.indd6 6Hepato 2 29 09 06 LAYOUT 03.indd6 6 29.09.06 11:36:1129.09.06 11:36:11 Colestase Intra-hepática da Gravidez Zapata, R et al. Liver International 2005 Jun; 25(3):548-54. 7 Estudo comentado A colestase intra-hepática da gravidez (CIP) é uma condição clínica pouco comum, resultante de alte- rações no metabolismo dos sais biliares não eluci- dadas completamente. Dessas alterações resultam dois problemas principais: a) prurido, a partir do segundo trimestre da gestação, por vezes intenso e incapacitante, e b) maior freqüência de prematuri- dade e de mortalidade fetal, de causa também pouco esclarecida. Do ponto de vista fisiopatológico, trata- se de um distúrbio primário na gênese da força os- mótica de propulsão biliar em nível canalicular. Esse distúrbio é induzido pelos elevados níveis de estróge- nos, aparentemente por interferência na formação de micelas pelo complexo sais biliares/colesterol/ fosfolipídeos. Alterações qualitativas e quantitativas nos sais bilia- res têm sido relatadas, como o aumento da relação ácido cólico-ácido quenodesoxicólico e da relação glicina-taurina entre os sais biliares conjugados. Do ponto de vista histopatológico, trata-se de um exem- plo de colestase pura, ou seja, uma estrutura hepáti- ca normal com plugs biliares visíveis em canalículos biliares, grânulos de bilirrubina em hepatócitos e cé- lulas de Kupfer e ductos biliares normais. O trata- mento dessa condição tem se baseado no alívio do prurido com a resina colestiramina, no intuito de es- tender a gestação o máximo possível para diminuir os problemas com o feto. A doença regride total e imediatamente com a interrupção da gravidez. O ácido ursodesoxicólico (UDCA), um isômero espa- cial do ácido quenodesoxicólico (QDCA), componente principal da bile do urso, tem concentração margi- nal na bile humana. Em comparação com o QDCA, principal componente da bile humana, é muito mais hidrófilo e não gera o ácido litocólico, metabólito na- tural do QDCA e hepatotóxico. A administração contínua de UDCAleva a uma mo- dificação do perfil dos sais biliares, com aumento da concentração deste ácido e redução do QDCA, melho- rando as características físico-químicas da bile. Essa propriedade levou à introdução da molécula UDCA como um agente para dissolver cálculos biliares. Logo verificou-se que essa estratégia não apresenta- va vantagem em relação à clássica colecistectomia e a idéia foi abandonada. Tornou-se então clara a sua utilidade no tratamento das doenças colestáticas e de algumas outras condições crônicas do fígado de patogenia pouco compreendida, como a esteatoe- patite não-alcoólica. Entretanto, foi na cirrose biliar primária que o UDCA encontrou sua aplicação mais importante, sendo hoje o medicamento de primeira escolha para o tratamento dessa condição. Um estudo publicado na edição de setembro de 2005 da Gastroenterology apresenta dados contundentes que dão suporte à segunda grande indicação desse fármaco, a colestase intra-hepática da gravidez. Até então, a droga mais eficaz para a doença, a colestira- mina, na melhor hipótese controlava o prurido, porém nada fazia pelo feto. O UDCA é a primeira droga que consegue, além de controlar o prurido (com vantagem em relação à colestiramina), reduzir significativamen- te a prematuridade e a mortalidade fetal e neonatal. Humberto Reyes, um dos grandes estudiosos do as- sunto, apresentou dados semelhantes em recente congresso brasileiro (Hepatologia do Milênio, Salva- dor-BA, julho de 2006), com base em sua experiên- cia de 12 anos em Santiago do Chile, cuja leitura re- comendamos aos interessados no assunto. Victorino Spinelli Toscano Barreto Médico hepatologista por YALE University Vice-presidente do Instituto do Fígado de Pernambuco - Universidade de Pernambuco Hepato 2 29 09 06 LAYOUT 03.indd7 7Hepato 2 29 09 06 LAYOUT 03.indd7 7 29.09.06 11:36:1129.09.06 11:36:11 20 21 04 U R S A C O L/ S B H 2/ S E T 06 Cortesia: Realização: SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEPATOLOGIA FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GASTROENTEROLOGIA Apoio: Hepato 2 29 09 06 LAYOUT 03.indd8 8Hepato 2 29 09 06 LAYOUT 03.indd8 8 29.09.06 11:36:1129.09.06 11:36:11
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