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Aula 10 Abordagens metodológicas

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Metodologia da Pesquisa Jurídica
Abordagens metodológicas
Material de referência
BARRAL, Welber Oliveria. Metodologia da pesquisa jurídica. Capítulo 6.
MEZZAROBA, Orides; MONTEIRO, Cláudia Servilha. Manual de metodologia da pesquisa no direito. Parte 2, Capítulos 1 e 2.
Métodos científicos ou raciocínios
Indutivo
Dedutivo
Hipotético-dedutivo
Dialético
Sistêmico
Fenomenológico
Método indutivo: análise do objeto em casos particulares para tirar conclusões gerais
Ex.: análise de casos nos tribunais para chegar ao modo como uma norma é aplicada em geral; análise de uma comunidade para concluir a influência do direito, análise da eficácia de uma norma, aplicação prática de alguma política social para testar seus resultados e gerar uma teoria geral, proposta de lei a partir de critérios de eficácia.
Cuidado: não é possível tirar conclusões universais da indução (Popper), por isso, de uma análise indutiva (uma estatística) de alguns casos não se pode concluir que todos os casos serão assim, mas pode-se apontar uma tendência ou indicar uma conclusão em relação aos casos estudados.
Método dedutivo: parte de argumentos gerais para argumentos particulares. Geralmente, parte-se de uma teoria de base para a análise de um fenômeno.
A partir de premissas (argumentos que se consideram verdadeiros e inquestionáveis), chega-se a conclusões formais (válidas apenas para aquelas premissas)
Silogismo:
Todo humano é mortal
Sócrates é humano
Logo, Sócrates é mortal
Ex.: análise de como a lei deve ser aplicada a um caso concreto, análise do conteúdo de uma norma, análise da interpretação que deve ser dada a uma norma, proposta de leis a partir de critérios de justiça, analisar a aplicação de uma norma a partir de uma teoria.
	
Fonte: MEZZAROBA, Orides; MONTEIRO, Cláudia Servilha. Manual de metodologia da pesquisa no direito, p. 67.
Figura 1 – Ilustração das limitações dos raciocínios dedutivo e indutivo
Método hipotético-dedutivo: apresenta características de ambos os anteriores. Advém das ideias de Karl Popper.
Adota-se um ponto de partida, proposições hipotéticas que acredita serem viáveis como estratégia de abordagem do objeto.
Essas hipóteses (respostas provisórias) serão comprovadas ou refutadas pela experimentação durante a pesquisa.
Etapas:
Verificação do problema
Formulação da hipótese viável
Condução do processo de falseamento da hipótese
Caso não sejam falseadas, serão provisoriamente corroboradas
Método dialético: famoso por ter sido utilizado por Marx, mas não é um método necessariamente relacionado ao comunismo, pois, mesmo antes de Marx, foi utilizado pelos filósofos gregos e, mas recentemente (séc. XIX) por Hegel
Dialética: arte do diálogo ou arte de saber argumentar e contra-argumentar
Utilizado para assuntos que a comprovação (mesmo temporária) não é possível – plano da opinião.
Dialética hegeliana
Tese: pretensão de verdade
Antítese: tese negada
Síntese: o resultado do contraditório (é uma nova tese)
Obs.: para que o método funcione, deve-se estar aberto para a possibilidade de sua tese ser modificada pela antítese, do contrário, teremos duas teses isoladas.
Ex.: pesquisa em diálogo com uma teoria, visando a contra-argumentar seus fundamentos.
Obs.: materialismo dialético (Marx e Engels): defende que a própria história evolui de forma dialética.
Etapas do método dialético
Observação e delimitação do objeto: estabelecem-se as qualidades próprias do objeto, diferenciando-o dos demais
Análise do objeto em sua dimensão, através da observação das partes que o compõe. Deve-se analisá-lo em todos os seus aspectos: político, econômicos, históricos, sociais. Busca-se informações por observações, entrevistas, questionários, etc., para determinar suas características quantitativas.
Análise concreta dos aspectos essenciais do objeto (forma, conte´do, fundamento, realidade, evolução, etc.
Método sistêmico
O objeto de estudo é um sistema de vários elementos (normas, ideias), mas envolve, também, sua influência no ambiente, a influência do ambiente no sistema, o equilíbrio dessas relações, a função do sistema no ambiente, etc.
Ex.: Estudo sistêmico do Sistema Penitenciário, do Sistema Tributário Nacional, etc. Para compor esse método, não apenas devem ser analisados os elementos, mas também a influência da sociedade no sistema e do sistema na sociedade (relação com o ambiente). Por isso, a Teoria Pura do Direito não é uma análise sistêmica, pois considera um sistema fechado.
Métodos auxiliares
Experimental
Estatístico
Histórico
Comparativo
Método experimental ou empírico: o objeto é submetido a um quadro controlado para a verificação de seus atributos (relacionado ao método indutivo).
Geralmente testam-se hipóteses sobre aquele objeto.
Deve-se sempre tomar cuidado com a relação de causa e efeito. Para isso, sempre que possível deve-se tentar variar as condições do experimento e verificar se o resultado se repete (caso se repita, aquilo que foi variado não é a causa).
No direito, pode ser feito a partir de entrevistas ou a análise de casos concreto, contudo, toda experiência com humanos deve ser aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa.
Para aprovar, deve-se enviar ao comitê, entre outros, um relatório de como será a pesquisa, como se minimizará os riscos e uma cópia do termo de consentimento que se irá disponibilizar ao pesquisado (deve ser o mais claro possível)
Método estatístico: método para tirar conclusão a partir de dados (mais ligada ao método indutivo e à pesquisa quantitativa)
Obs.: nós não sabemos fazer pesquisa estatística. Não significa que não possamos fazer, mas temos que ter isso em mente.
A estatística leva em conta a seleção da amostra, sua média, o cálculo do desvio padrão, sua variância, entre outros.
As conclusões tiradas não são necessárias, pois:
Deve-se refletir sobre a relação de causa e efeito
Deve-se ter em mente que sua amostra pode não representar o todo que sua conclusão pretende alcançar
Método histórico (relaciona-se ao método comparativo): 
Comparar o conjunto de características do objeto com o de suas origens históricas, ou
comparar com formações anteriores que poderiam ser consideras percursoras do estado atual de seu objeto.
Deve-se levar em conta o contexto histórico do objeto.
Método histórico-evolutivo: leva em conta a evolução do objeto no decorrer da história.
Método comparativo: confrontar atributos de dois objetos diferentes (buscando suas semelhanças, diferenças e as causas dessas)
Direito comparado: comparação de um instituto jurídico no Brasil e no direito estrangeiro
Comparação de institutos: comparação de dois institutos do ordenamento brasileiro (ex.: contrato civil, do consumidor e comercial).
Comparação de conceitos dentro e fora do direito: propriedade para o direito e para a sociologia, ética no direito e na filosofia.
Tipos de pesquisa
Pesquisa quantitativa x pesquisa qualitativa
Pesquisa teórica x pesquisa prática
Pesquisa descritiva x pesquisa prescritiva
Pesquisa quantitativa:
Quantidade: aquilo que pode ser medido, geralmente tem um perfil descritivo. Ex.: quantos juízes têm no Mato Grosso, qual é a demanda judiciária, qual a média de processos por juiz e, finalmente, o número de juízes é suficiente para a comunidade mato-grossense?
Pesquisa qualitativa:
Analisa as propriedades (qualidades) de determinada ideia ou instituto. Também pode usar dados estatísticos quantitativos, mas esse não é o foco.
Ex.: julgar o conteúdo das decisões dos juízes mato-grossenses, a capacidade de resolver os conflitos, etc.
Pesquisa teórica: foca no trabalho com bibliografia, pauta-se em uma revisão bibliográfica rigorosa, com grande quantidade e qualidade, perpassando os clássicos e as novidades.
Pesquisa prática: foca em informações empiricamente verificáveis, o trabalho é altamente descritivo, pois deve relatar todos os fenômenos estudados: as técnicas utilizada, os resultados obtidos, as variantes, para, diante de tudo isso, chegar a uma conclusão.
Recomenda-se que, mesmo o foco sendo
teórico ou prático, a pesquisa tenha aspectos práticos e teóricos (respectivamente).
Sendo assim, para uma pesquisa teórica, é bom que haja um mínimo de constatações práticas (ex.: como o STF aplica essas constatações teóricas), assim como, à pesquisa prática, recomenda-se um referencial teórico a ser seguido.
Também existem as pesquisas teórico-práticas, em que ambos os aspectos estão presentes em grande proporção (ex.: como ocorre no estudo de casos)
Pesquisa descritiva: descrição de como determinado instituto teórico ou determinado fenômeno prático funciona, estudar sua natureza, dimensionar a extensão dos problemas, procurar suas causas, etc.
Também pode ser chamada pesquisa analítica ou compreensiva
Prospectiva: previsão da evolução de um instituto no futuro (deve pautar-se em evidências sólidas para que não seja considerada mera opinião)
Pesquisa prescritiva: propõe soluções para problemas, seja sugerindo alterações de leis, novas teorias, adaptação de nosso direito ao estrangeiro, entre outros. Não deixa de ter aspectos descritivos.
Também pode ser chamada propositiva
Ferramentas de pesquisa
Documentos (ferramenta documental): inclui documentos históricos, documentos de dados, livros, jurisprudência, etc.
Observação in loco
Entrevistas
Fontes de pesquisa
Diretas: provenientes do próprio direito, como lei e jurisprudência
Indireta: não provêm do direito, mas relacionam-se com ele, como livros (“doutrina”), não só de direitos, mas de sociologia, filosofia, etc.
No projeto de pesquisa, não se deve apenas apontar o tipo da fonte, mas que tipos de fonte irá usar (doutrina, jurisprudência) e quais critérios vai utilizar para selecionar essa fonte: doutrina nacional sobre o assunto tal, doutrina italiana, jurisprudência do tribunal tal sobre o assunto x (pode-se indicar o termo que se utilizará para a pesquisa).
Redação científica: argumentação e falácias lógicas
Falácia da autoridade (magister dixit): afirmação acrítica baseada em uma ou algumas opiniões em que se valoriza o peso do autor que a produziu.
Falácia da força (argumetum ad baculum): Não se discute a opinião, apenas se ameaça destruir o emissor com seu poder.
Falácia da ignorância (argumentum ad ignorantiam): inversão do ônus da prova – algo é verdadeiro porque ninguém provou que é falso (ou vice-versa), mas o emissor também não tem argumentos para provar sua opinião.
Falácia de popularidade (argumentum ad populum): algo é válido porque a maioria acredita que seja (ligado à ideia de vontade da maioria).
Falácia da piedade(argumentum ad muisericordiam): apela-se ao sentimento emocional do receptor (benvinda em processos, mas não na pesquisa).
Falácia da causação: Dizer que um fato é consequência de outro sem demonstrar a causa (muito comum nas pesquisas)
Falácia do acidente (dicto simpliciter): generalizar uma informação a partir de um caso isolado ou de uma amostra pequena (também muito comum)
Falsa dicotomia: Dividir o posicionamento em duas alternativas antagônicas, sem considerar meios-termos.
Ataque ao emissor (argumentim ad hominem): Ataca-se o emissor sem discutir a pertinência do argumento (variações: atacar os motivos do emissor, falácia do hater, apelo ao preconceito)
Apelo à vaidade: “alguém culto como você acredita nisso?”
Falácia da retribuição (tu quoque): Desmerecer o argumento porque o emissor praticou a ação questionada.
Falácia do jogador: Acreditar que porque aconteceu pouco no passado, ocorrerá mais no futuro – ligada às estatísticas (a companhia aérea terá menos acidentes no futuro, pois teve muitos no passado e superou a média de acidentes por ano)
Falácia do pragmatismo: afirmar que algo é verdadeiro em razão de suas consequências (muito cometida pelo STF).
Falsa analogia: Comparar dois termos que não têm a mesma substância (ex.: o voto deve ser facultativo pois é um direito).
Falácia da ambiguidade: subverter o sentido da afirmação (ex.: assassinos de crianças são desumanos, portanto não devem ter direitos humanos)
Apelo à antiguidade ou à novidade (argumentum ad antiquitatem e argumetum ad novitatem): algo é bom ou válido porque é velho (sempre foi assim) ou porque é novo
Apelo ao ridículo: ridicularizar um argumento para derrubá-lo, ex.: se a evolução é verdadeira, somos parentes dos macacos.
Composição/divisão: todas as peças do caminhão são leves, logo, o caminhão é leve/o caminhão é pesado, então todas as suas peças são pesadas (ex.: lei de imprensa).
Definição circular ou tautologia: a maçã é o fruto da macieira
Argumento bola de neve: presumir que uma mudança em um sentido ocasionará novas mudanças no mesmo sentido.
Redução ao hitlerismo (Reductio ad Hitlerum): Algo é ruim porque Hitler (ou outro) fazia.
Repetição nauseante (Argumentum ad nauseam): repetição do mesmo argumento com a pretensão de que seja aceito.
Prova por verbosidade (Argumentum verbosium): utilizar discurso prolixo com conteúdo superficial para que a ideia seja aceita
Meio termo: argumento de que o meio termo é sempre o verdadeiro ou o melhor
Exclusão do grupo ou falácia do escocês: afirmar que algo não pertence a um grupo por não ter determinada característica. A característica pode ser comum ao elementos do grupo, mas o elemento continua no grupo se tiver a característica determinante deste
Espantalho: Criar ideias reprováveis ou fracas e atribuir à opinião contrária (ex.: ele é de esquerda, por isso defende a ditadura comunista).
Nariz vermelho ou de palhaço (Red herring): acréscimo de material irrelevante para desviar a atenção.
Bulverismo: partir do pressuposto que o adversário está comprovadamente errado “se você acredita nisso, nem adianta discutir com você”
Complexo do pombo enxadrista: proclamara vitória sem ter apresentado boa argumentação.
Utilização de qualquer argumento que sustente sua posição (mesmo que não concorde com ele).
Desqualificação de uma opinião porque um dos argumentos é inválido.
Falácia das falácias: só apontar as falácias na argumentação do outro, sem apontar argumentos em favor do seu ponto de vista.

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