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DIR. CIVIL RESUMO MAGISTRATURA ESTADUAL EM FOCO

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
1 
 
CAPÍTULO I 
CONCEITO E DIVISÃO DO DIREITO 
 
 
1- CONCEITO DE DIREITO 
 
É o conjunto de normas gerais e positivas que regulam a vida social. 
 
2- DISTINÇÃO ENTRE DIREITO E MORAL 
 
Ambas são normas de comportamento. No entanto distinguem-se precipuamente pela 
sanção (o direito tem o poder de coerção e a moral não) e pelo campo de ação, que na moral é 
mais amplo. 
 
3- DIREITO POSITIVO E DIREITO NATURAL 
 
Direito positivo é o ordenamento jurídico em determinado país e em determinada época. É 
o direito posto. 
 
Direito Natural é a idéia abstrata de direito, o ordenamento ideal, corresponde a uma justiça 
superior. 
 
4- DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVO 
 
Direito objetivo é o conjunto de normas impostas pelo Estado, de caráter geral, cuja 
observância os indivíduos podem ser compelidos mediante coerção. 
 
Direito subjetivo é a faculdade individual de agir de acordo com o direito objetivo, de 
invocar a sua proteção. 
 
5- DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO 
 
Direito público é o que regula as relações de um estado com outro estado ou de um estado 
com os indivíduos. 
 
Direito privado é o direito que disciplina a relação entre os indivíduos como tais, nas quais 
predomina o interesse de ordem particular. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
2 
 
 
CAPÍTULO II 
LEI DE INTRODUÇÃO AS NORMAS DO DIREITO 
BRASILEIRO (LINDB) 
 
 
1- CONTEÚDO E FUNÇÃO 
 
A LINDB se trata de uma legislação anexa ao CC, mas autônoma, dele não fazendo parte. 
Tem caráter universal, sendo aplicada a todos os campos do direito. 
 
É um conjunto de normas sobre normas. Enquanto o objeto da lei em geral é o 
comportamento humano a LINDB tem como objeto a própria norma, tem a lei como tema 
central. Dirige-se a todos os ramos do direito, salvo naquilo que for regulado de maneira 
específica. Ex. O direito penal somente admite a analogia in bonam partem. 
 
2- FONTES DO DIREITO 
 
A lei é o objeto da LINDB e a principal fonte do direito. 
 
São consideradas fontes formais do direito a lei, a analogia, os costumes e os princípios 
gerais do direito. 
 
Art. 4
o
 Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os 
costumes e os princípios gerais de direito. 
 
E fontes não formais são a doutrina e a jurisprudência. 
 
Dentre as formais a lei é a fonte principal, e as demais, são fontes acessórias. 
 
3- A LEI E SUA CLASSIFICAÇÃO 
 
3.1. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA LEI 
 
a) Generalidade: dirige-se a todos os cidadãos indistintamente. O seu comando é abstrato. 
b) Imperatividade: impõe um dever, uma conduta. Regula o comportamento humano. 
c) Autorizamento: é o fato de ser autorizante, é o que a distingue das demais normas éticas. A 
norma jurídica autoriza que o lesado pela violação, exija o cumprimento dela ou a reparação 
pelo mal causado. 
d) Permanência: a lei não se exaure numa só aplicação, pois deve perdurar até ser revogada 
por outra lei. Algumas normas, entretanto, são temporárias, destinadas a viger apenas 
durante certo período. Ex. Leis orçamentárias. 
e) Emanação de autoridade competente: de acordo com as competências previstas na CF. 
 
3.2. CLASSIFICAÇÃO DAS LEIS: 
 
a) Quanto à imperatividade se divide em cogentes (de imperatividade absoluta ou de ordem 
pública) e dispositivas (ou supletivas). As cogentes são as que ordenam ou proíbem determinada 
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
3 
 
conduta de forma absoluta, não podendo ser derrogadas pela vontade dos interessados. Normas 
dispositivas em geral são permissivas, como a que permite as partes estipular, antes de celebrado o 
casamento, quanto aos bens, o que lhes aprouver. Supletiva, é quando suprem a falta de 
manifestação de vontade das partes. 
 
b) Quanto ao autorizamento elas se classificam em mais que perfeitas, autorizam a aplicação de 
duas sanções, na hipótese de serem violadas. Perfeitas são as que impõem a nulidade do ato. 
Menos que perfeitas não acarretam a nulidade ou anulação do ato, somente impondo uma sanção 
em caso de violação do ato. E imperfeitas são leis cuja violação não acarreta nenhuma 
conseqüência. 
 
c) Quanto à natureza as leis são substantivas (tratem de direito material) ou adjetivas (tratam de 
direito processual). 
 
4- VIGÊNCIA DA LEI 
 
A lei passa por três fases: a da elaboração, a da promulgação e a da publicação. 
 
Embora nasça com a promulgação, só começa a vigorar com a publicação. Com a 
publicação, tem se o início da vigência, tornando-se obrigatória, pois ninguém pode escusar-se de 
cumpri-la alegando que não a conhece. 
 
Art. 3
o
 Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. 
 
De acordo com o art. 1º da LICC, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias após ser 
publicada, salvo disposição em contrário. Portanto a sua vigência não se inicia no dia de sua 
publicação, salvo se assim ela o determinar. 
 
Art. 1
o
 Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta 
e cinco dias depois de oficialmente publicada. 
 
O intervalo entre a sua publicação e a sua entrada em vigor chama-se vacatio legis. Em 
matéria de duração do referido intervalo, foi adotado o critério do prazo único, porque a lei entra 
em vigor na mesma data em todo o território nacional. 
 
Quando a lei é admitida no exterior a sua obrigatoriedade inicia-se três meses depois de 
oficialmente publicada. 
 
IMPORTANTE!!! Se durante a vacatio legis ocorrer nova publicação de seu texto, para 
correção de erros oficiais ou falha de ortografia, o prazo da obrigatoriedade começará a 
correr a partir da nova publicação. Se a lei já entrou em vigor, tais modificações são 
consideradas lei nova, tornando-se obrigatória após o decurso da vacatio legis. 
 
§ 3
o
 Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, 
destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores 
começará a correr da nova publicação. 
§ 4
o
 As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. 
 
Os direitos adquiridos na vigência da lei emendada são resguardados. O juiz ao aplicar a lei 
pode corrigir os erros materiais evidentes, mas não os erros substanciais. 
 
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
4 
 
Conta-se o prazo de vacatio legis fazendo a inclusão da data da publicação e do último dia 
do prazo, entrando em vigor no dia subseqüente a sua consumação integral. 
 
IMPORTANTE!!! O prazo de quarenta e cinco dias NÃO se aplica a decretos e regulamentos, 
cuja obrigatoriedade determina-se pela publicação oficial. 
 
Salvo alguns casos especiais a lei tem caráter permanente, permanecendo em vigor até ser 
revogada por outra lei (princípio da continuidade). O costume não revoga lei, nem esta perde sua 
eficácia pelo não uso. 
 
Revogação é a supressão da força obrigatória da lei, retirando-lhe a eficácia – o que só pode 
ser feita por outra lei. A revogação pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação). Se em 
seu texto constar o próprio termo, perde a eficácia independentemente de outra lei. A revogação 
pode ser expressa ou tácita. Expressa quando a lei nova declara em seu texto que a lei anterior ou 
parte dela fica revogada, tácita é quando não se traz declaração nesse sentido, mas mostra-se 
incompatível com o texto antigo ou regula integralmente a matéria tratada na lei anterior. 
 
Art. 2
o
 Não se destinandoà vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a 
modifique ou revogue. 
§ 1
o
 A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja 
com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei 
anterior. 
 
A lei Nova que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes não revoga 
nem modifica a lei anterior. No caso de incompatibilidade entre a lei geral e especial é possível a 
revogação de uma pela outra. 
 
§ 2
o
 A LEI NOVA, QUE ESTABELEÇA DISPOSIÇÕES GERAIS OU 
ESPECIAIS A PAR DAS JÁ EXISTENTES, NÃO REVOGA NEM MODIFICA 
A LEI ANTERIOR (CAI MUITO EM PROVA – DECORAR!!!!!) 
 
IMPORTANTE!!! A lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência, salvo 
disposição em contrário. Não há, portanto, o efeito repristinatório, restaurador, da primeira lei 
revogada, salvo quando houver pronunciamento expresso do legislador nesse sentido. 
 
§ 3
o
 Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei 
revogadora perdido a vigência 
 
LEMBRAR!!! Quando a lei é declarada inconstitucional HÁ efeito repristinatório; Quando a 
lei é revogada por outra e essa outra é posteriormente revogada, NÃO HÁ efeito 
represtinatório. 
 
5- OBRIGATORIEDADE DAS LEIS 
 
Ninguém pode recusar a cumprir uma lei alegando não a conhecê-la. 
 
Como consequência, não se faz necessário provar em juízo a existência da norma jurídica 
invocada, pois parte-se do pressuposto que o juiz conhece o direito (iura novit cúria). Esse princípio 
não se aplica ao direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário (Novo CPC, art. 
376), ou seja, o juiz só tem obrigação de conhecer o direito federal e o daquele onde jurisdiciona. 
 
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
5 
 
A teoria que explica a obrigatoriedade da lei para todos e a da necessidade social. Ela 
sustenta que a lei é obrigatória e deve ser cumprida por todos, não por motivo de um conhecimento 
presumido ou ficto, mas por elevadas razões de interesse público, ou seja, para que seja possível a 
convivência social. 
 
IMPORTANTE!!! O erro de direito só pode ser invocado quando não houver o objetivo de furtar-
se o agente ao cumprimento da lei. Ex. Serve para justificar a boa fé. 
 
6- A INTEGRAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS 
 
Como o juiz não pode eximir-se de proferir a decisão sobre o pretexto de que a lei é omissa, 
deve valer-se dos mecanismos legais destinados a suprir as lacunas da lei, que são: a analogia, os 
costumes e os princípios gerais do direito. 
 
Art. 4
o
 Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os 
costumes e os princípios gerais de direito (ordem hierárquica). 
 
Há uma HIERARQUIA na aplicação desses mecanismos, figurando a analogia em 
primeiro lugar. A analogia consiste em aplicar a um caso não previsto em lei um dispositivo legal 
a caso semelhante. 
 
O costume é colocado em plano secundário em relação a lei. O juiz só pode recorrer a ele 
depois de esgotadas as possibilidades em relação a analogia. É conceituado como a prática 
uniforme, constante, pública e geral de determinado ato, com a convicção de sua necessidade. 
 
Em relação à lei são três as espécies de costume. 
 
a) Secundum legem: quando sua eficácia obrigatória é reconhecida pela lei. 
b) Praeter legem: quando se destina a suprir as leis nos casos omissos. 
c) Contra legem: que se opõe a lei. Em regra o costume não pode modificar a lei, pois esta só 
se revoga, ou se modifica, por outra lei. 
 
Não se encontrando solução na analogia e nem nos costumes, deve se utilizar dos princípios 
gerais do direito. São estes constituídos de regras que se encontram na consciência dos povos e são 
universalmente aceitos, mesmo não escritos. Ex: “ninguém pode lesar outrem”, “é vedado o 
enriquecimento sem causa” e etc... 
 
IMPORTANTE!!! A equidade NÃO constitui meio supletivo de lacuna da lei, sendo mero 
recurso auxiliar na aplicação desta. É utilizada quando a lei expressamente a permite. 
 
7- APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS 
 
As normas são genéricas e contém um comando abstrato, não se referindo especificamente a 
casos concretos. Quando o fato se encaixa a norma dá-se o fenômeno da SUBSUNÇÃO. 
Quando este enquadramento não ocorre deve o juiz fazer uso da integração normativa, mediante o 
emprego da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do direito. 
 
Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica. Toda lei está sujeita a 
interpretação, não apenas as obscuras e as ambíguas. Por mais clara que seja a lei, esta deve ser 
interpretada. 
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
6 
 
 
A hermenêutica é a ciência de interpretação das leis, e como toda ciência, tem seus métodos. 
A seguir, os principais métodos de interpretação: 
 
a) Quanto às FONTES ou ORIGEM a interpretação classifica-se em autêntica, 
jurisprudencial e doutrinária. Interpretação autêntica é a feita pelo próprio legislador, 
por outro ato. Ex: legislador vota uma nova lei para interpretar lei anterior. Interpretação 
jurisprudencial é a fixada pelos tribunais, que pode ou não ter força impositiva, a depender 
do caso. E interpretação doutrinária é a feita pelos estudiosos do direito. 
 
b) Quanto aos MEIOS, a interpretação pode ser feita pelos métodos gramatical, lógico, 
sistemático, histórico e sociológico (teleológico). A interpretação gramatical consiste em 
exame do texto normativo sob o ponto de vista linguístico. Na interpretação lógica 
procura-se apurar a intenção do legislador por meio de raciocínios lógicos, com abandono 
dos elementos puramente verbais. A interpretação sistemática diz que a lei deve ser 
interpretada em conjunto com as outras leis pertencentes a mesma província do direito. 
Assim as normas tributárias devem ser interpretadas de acordo com os princípios que regem 
o direito tributário. A interpretação histórica baseia-se na investigação dos antecedentes da 
norma, a fim de descobrir seu exato significado. A interpretação teleológica tem por 
objetivo adaptar o sentido ou finalidade da norma as novas exigências sociais. Tal 
interpretação é recomendada na LICC em seu art. 5º. 
 
Art. 5
o
 Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais (interpretação 
teleológica) a que ela se dirige e às exigências do bem comum. 
 
IMPORTANTE!!! Os diversos métodos de interpretação não operam isoladamente, não se repelem 
reciprocamente, mas se completam. 
 
8- CONFLITO DAS LEIS NO TEMPO 
 
Para solucionar os conflitos da lei no tempo, são utilizados dois critérios: o das disposições 
transitórias e o da irretroatividade das normas. Disposições transitórias são elaboradas pelo 
legislador no próprio texto normativo, destinadas a evitar e a solucionar conflitos que poderão 
emergir do confronto da lei nova com a lei antiga, tendo vigência temporária. Irretroativa é a lei 
que não se aplica as relações constituídas anteriormente. Tem por objetivo assegurar a certeza, a 
segurança e a estabilidade do ordenamento jurídico. Não possui caráter absoluto, pois razões de 
política legislativa podem recomendar que em determinados momentos a lei seja retroativa, 
atingindo os efeitos de atos jurídicos praticados sob o império da norma revogada. 
 
A LINDB adotou o princípio da irretroatividade como regra e o da retroatividade 
como exceção. Assim, como regra, aplica-se a lei nova aos casos pendentes e aos futuros, só 
podendo ser retroativa quando: não ofender ato jurídico perfeito, direito adquirido e a coisa 
julgada e quando o legislador expressamente mandar aplicá-la a casos pretéritos.O art. 6º da LINDB preceitua que a lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitado o 
ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 
 
Ato jurídico perfeito é o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. 
 
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
7 
 
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao 
tempo em que se efetuou 
 
Direito adquirido é o que já se incorporou definitivamente ao patrimônio e a personalidade 
de seu titular. 
 
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por 
ele, possa exercer como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou 
condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. 
 
Coisa julgada é a imutabilidade dos efeitos da sentença, não mais sujeita a recurso. 
 
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba 
recursos. 
 
9- EFICÁCIA DA LEI NO ESPAÇO 
 
A regra geral é de que dentro do território brasileiro se aplica a lei brasileira. O art. 7º 
permite, excepcionalmente, a aplicação da lei estrangeira no Brasil, nos casos previstos em lei. 
 
A regra geral então é a territorialidade moderada/mitigada. 
 
A exceção à territorialidade mitigada é o estatuto pessoal (lei do domicílio do 
interessado). Ou seja, onde não se aplica a lei brasileira aplica-se o estatuto pessoal. Os casos 
de aplicação do estatuto pessoal são: 
 
a) nome 
b) capacidade 
c) personalidade 
d) direito de família 
e) bens móveis que o interessado traz consigo 
f) penhor 
g) capacidade sucessória 
 
Ex. Sujeito alemão que na Alemanha é casado e aqui quer casar novamente não pode se casar 
porque se aplica o estatuto pessoal. 
 
IMPORTANTE!!! A aplicação do estatuto pessoal só é possível se passar pela filtragem 
constitucional. Ex. Um árabe casado lá também não pode casar aqui. 
 
Exceção da exceção!!! Existem três casos de aplicação da lei estrangeira no território brasileiro 
com base em lei específica (e não o estatuto pessoal): 
 
a) Conflito sobre bens imóveis (lei do lugar do bem). 
b) Lugar do contrato (no que disser respeito à contrato internacional o lugar do contrato é a 
residência do proponente). 
c) Lei sucessória mais benéfica ao cônjuge ou aos filhos. 
 
Também se admite o cumprimento de decisão estrangeira no Brasil. Para que decisão 
judicial estrangeira, carta rogatória estrangeira ou laudo arbitral estrangeiro possa ser cumprida no 
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
8 
 
Brasil, exige-se o exequatur do STJ. Quem cumpre a decisão após o exequatur é o juiz federal. 
Para que o STJ dê o exequatur é preciso de: 
 
1) prova do trânsito em julgado (súmula 420 do STF) 
2) compatibilidade com a CF 
3) cumprimento das formalidades processuais (art. 963 e 964 do Novo CPC). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
9 
 
CAPÍTULO III 
VISÃO FILOSÓFICA DO CC/02. AS PRINCIPAIS TESES 
DO DIREITO CIVIL CONTEMPORÂNEO 
 
 
Para que o estudioso entenda efetivamente a codificação privada de 2002, é preciso conhecer 
a linha filosófica adotada pela norma emergente. 
 
Na exposição de motivos do CC/02, Miguel Reale demonstra a comissão revisora buscou 
fazer uma alteração principiológica do Direito Privado, em relação aos ditames básicos que 
constavam da codificação anterior, buscando a nova codificação valorizar a eticidade, a socialidade 
e a operabilidade. 
 
 PRINCÍPIO DA ETICIDADE: 
 
O tipo de Ética buscado pelo novo CC é defendido pela corrente kantiana: é o 
comportamento que confia no homem como um ser composto por valores que o elevam ao patamar 
de respeito pelo semelhante e de reflexo de um estado de confiança nas relações desenvolvidas, 
quer negociais, quer não negociais. É, na expressão kantiana, a certeza do dever cumprido, a 
tranquilidade da boa consciência. 
 
Esse princípio pode ser percebido pela leitura de vários dispositivos no CC: 
 
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos 
do lugar de sua celebração. 
 
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, 
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela 
boa-fé ou pelos bons costumes. 
 
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, 
como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. 
 
 PRINCÍPIO DA SOCIALIDADE: 
 
O CC/02 procura superar o caráter individualista e egoísta que imperava na codificação 
anterior, valorizando a palavra “nós”, em detrimento da palavra “eu”. Os grandes ícones do Direito 
Privado recebem uma denotação social: a família, o contrato, a propriedade, a posse, a 
responsabilidade civil, a empresa, o testamento. 
 
A função social da propriedade já estava prevista na CF 88 (art. 5º, XXII e XXIII, e art. 
170,III), tendo sido reforçada pelo art. 1.228, §1º do CC. 
 
§ 1
o
 O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas 
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade 
com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio 
ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e 
das águas. 
 
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
10 
 
Como novidade de grande impacto, a função social dos contratos passou a ser tipificada em 
lei, no art. 421 do CC. Trata-se de um princípio contratual de ordem pública, pelo qual o contrato 
deve ser, necessariamente, visualizado e interpretado de acordo com o contexto da sociedade. 
 
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função 
social do contrato. 
 
 PRINCÍPIO DA OPERABILIDADE: 
 
Tem dois significados: primeiro, há o sentido de simplicidade, uma vez que o CC/02 segue 
tendência de facilitar a interpretação e a aplicação dos institutos nele previstos (Ex. distinção feita 
entre prescrição e decadência). Segundo, há o sentido de efetividade, ou concretude do Direito 
Civil, o que foi seguido pela adoção do sistema de cláusulas gerais. 
 
Percebe-se na atual codificação um sistema aberto ou de janelas abertas, em virtude da 
linguagem que emprega, permitindo a constante incorporação e solução de novos problemas, seja 
pela jurisprudência, seja por uma atividade de complementação legislativa. 
 
As cláusulas gerais podem ser conceituadas como janelas abertas deixadas pelo legislador 
para preenchimento pelo aplicador do Direito, caso a caso. São exemplos de cláusulas gerais 
constantes no CC 02: 
 
 Função social do contrato: art. 421. 
 Função social da propriedade: art. 1.228, §1º. 
 Boa-fé: arts. 113, 187 e 422. 
 Bons costumes: arts. 13 e 187. 
 Atividade de risco: art. 927, parágrafo único. 
 
As cláusulas gerais têm um sentido dinâmico, o que as diferencia dos conceitos legais 
indeterminados, construções estáticas que constam da lei sem definição. Assim, pode-se afirmar 
que quando o aplicador do direito cumpre a tarefa de dar sentido a um conceito legal 
indeterminado, passará ele a constituir uma cláusula geral. 
 
Muitas das cláusulas gerais são princípios, mas não necessariamente. A função social do 
contrato é princípio contratual, mas a cláusula geral de atividade derisco não é princípio da 
responsabilidade civil. 
 
A adoção do sistema de cláusulas gerais pelo CC/02 tem relação direta com a linha 
filosófica adotada por Miguel Reale. É notório que o jurista criou a sua própria teoria do 
conhecimento e da essência jurídica, a ontognoseologia jurídica, baseando-se em duas subteorias: o 
culturalismo jurídico e a teoria tridimensional do direto: 
 
a) Culturalismo Jurídico (plano subjetivo): Reale busca o enfoque no aspecto subjetivo, do 
aplicador do direito. Três palavras orientarão a aplicação e as decisões a serem tomadas: 
cultura, experiência e história, que devem ser entendidas tanto do ponto de visto do julgador 
como do meio em que decisão será tomada. 
 
b) Teoria Tridimensional do direito (plano objetivo) – para Miguel Reale, Direito é fato, 
valor e norma. Ensina o mestre que a essa teoria vem sendo concebida desde 1940, distinguido-
se das demais teorias por ser “concreta” e “dinâmica”, eis que “fato, valor e norma estão sempre 
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
11 
 
presentes e correlacionados em qualquer expressão da vida jurídica, seja ela estudada pelo 
filósofo ou sociólogo do direito, ou pelo jurista como tal, ao passo que na tridimensionalidade 
genérica ou abstrata, caberia ao filósofo apenas o estudo do valor, ao sociólogo do fato e ao 
jurista da norma.” 
 
Fato, valor e norma serão imprescindíveis a apontar o caminho seguido para a aplicação do 
Direito. Dessa forma, dar-se-á o preenchimento das cláusulas gerais, das janelas abertas. Por esse 
processo os conceitos legais indeterminados ganham determinação jurídica, diante da atuação do 
magistrado, sempre guiado pela equidade. 
 
Primeiro, o magistrado julgará de acordo com a sua cultura, bem como do meio social. Os 
elementos culturais e valorativos do juiz serão imprescindíveis para o preenchimento da 
discricionariedade deixada pela norma privada. Ganha destaque o valor como elemento formador 
do direito. 
 
Segundo, tudo dependerá da história do processo e dos institutos jurídicos a ele 
relacionados, das partes que integram a lide e também a história do próprio aplicador. Aqui, ganha 
relevo o fato. 
 
Por fim, a experiência do aplicador do direito, que reúne fato e valor simbioticamente, 
visando à aplicação da norma. Esta, sim, elemento central daquilo que se denomina 
ontognoseologia, a teoria do conhecimento, da essência jurídica, criada por Reale. Encaixa-se 
perfeitamente a proposta de Reale, para que sejamos juristas (no ponto de vista das normas), 
sociólogos (diante da análise dos fatos) e filósofos (sob o prisma dos valores). 
 
O aplicador do direito deve estar atento à evolução tecnológica, para não tomar decisões 
descabidas, como a de determinar o bloqueio de todos à internet para proteger determinada pessoa. 
 
As cláusulas gerais são abertas e devem ser analisadas caso a caso. Frase-símbolo do atual 
sistema: direito é fato, valor e norma. 
 
1- DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 
 
Em princípio, o Direito Público tem como finalidade a ordem e a segurança geral, enquanto 
o Direito Privado reger-se-ia pela liberdade e pela igualdade. Enquanto no Direito Público somente 
seria válido aquilo que está autorizado na norma, no Direito Privado tudo aquilo que não está 
proibido por ela seria válido. Mas essa dicotomia não é um obstáculo intransponível e a divisão não 
é absoluta, como nada é absoluto nos nossos dias atuais. 
 
O direito constitucional, portanto, está baseado em uma visão unitária do ordenamento 
jurídico (Gustavo Tepedino). Tepedino entende que “é imprescindível e urgente uma releitura do 
CC e das leis especiais à luz da CF”. 
 
Os próprios constitucionalistas reconhecem o fenômeno de interação entre o Direito Civil e 
o Direito Constitucional como realidade do que se convém denominar neoconstitucionalismo, ou da 
invasão da CF. 
 
Por tal interação, o D. Civil não deixará de ser D. Civil; e o D. Constitucional não deixará de 
ser D. Constitucional. O D. Civil Constitucional nada mais é do q um novo caminho metodológico, 
que procura analisar os institutos privados a partir da CF, e, eventualmente, os mecanismos 
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
12 
 
constitucionais a partir do CC e da legislação infraconstitucional, em uma análise de mão 
dupla. 
 
Três são os princípios básicos do D. Civil Constitucional (Tepedino): 
 
1) Dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF): superprincípio ou princípio dos 
princípios. A valorização da pessoa humana é um dos objetivos da República Federativa do 
Brasil. A proteção da dignidade da pessoa humana, a partir do modelo de Kant, constitui o 
principal fundamento da personalização do Direito Civil, da valorização da pessoa humana 
em detrimento do patrimônio. 
 
2) Visa a solidariedade social, outro objetivo da República (art. 3º, I, CF). 
 
3) Princípio da isonomia ou igualdade lato sensu (art. 5º, caput, CF): “todos são iguais 
perante a lei, sem qualquer distinção, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e 
à propriedade”. Essa igualdade pode ser a mesma concebida pela seguinte expressão, 
atribuída a Aristóteles e Ruy Barbosa: A lei deve tratar de maneira igual os iguais, e de 
maneira desigual os desiguais. Do texto, nota-se na sua 1ª parte a consolidação do princípio 
da igualdade stricto sensu (a lei deve tratar de maneira igual os iguais), enquanto a 2ª traz o 
princípio da especialidade (...e de maneira desigual os desiguais). Essa é a essência da 
igualdade substancial. 
 
2- A EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
A eficácia horizontal dos direitos fundamentais é um que torna possível o D. Civil 
Constitucional. 
 
IMPORTANTE!!! Essa horizontalização dos direitos fundamentais nada mais é do que o 
reconhecimento da existência e aplicação dos direitos que protegem a pessoa nas relações 
entre particulares. Pode-se dizer que as normas constitucionais que protegem tais direitos têm 
aplicação imediata (eficácia horizontal imediata), com base no art. 5º, §1º, CF. 
 
A eficácia horizontal dos direitos fundamentais, “é indispensável no contexto de uma 
sociedade desigual, na qual a opressão pode provir não apenas do Estado, mas de uma 
multiplicidade de atores privados, presentes em esferas como o mercado, a família, a sociedade civil 
e a empresa”. 
 
Essa eficácia horizontal traz uma nova da matéria, eis que as normas de proteção da pessoa 
previstas na CF sempre foram tidas como dirigidas ao legislador e ao Estado (normas 
programáticas). Essa concepção anterior não mais prevalece. 
 
Do ponto de vista da terminologia, não se justifica mais denominar a CF/88 como uma 
Carta Política, fazendo crer que ela é mais dirigida ao legislador, tendo uma eficácia vertical. 
Melhor denominá-lo, portanto, como uma Carta Fundamental, pela prevalência de sua 
horizontalidade, ou seja, pela sua subsunção direta às relações interprivadas. Por exemplo, a 
dignidade humana é conceito que pode ser aplicado em qualquer relação, independentemente de 
qualquer ponte infraconstitucional. 
 
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
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Como exemplo tem-se um julgado do STF em que a tese foi adotada para assegurar a ampla 
defesa a associado que fora excluído do quadro de uma pessoa jurídica (STF, RE 201.819/RJ, 
Informativo 405). 
 
Existe uma relação inafastável entre essa eficácia das normas que protegem a pessoa nas 
relações entre particulares e o sistema de cláusulas gerais adotado pelo CC. 
 
2.1.3 O DIÁLOGO DAS FONTESA tese do diálogo das fontes foi desenvolvida na Alemanha por Erik Jayme e trazida ao 
Brasil por Claudia Lima Marques, da UFRGS. 
 
A essência da teoria é que as normas jurídicas não se excluem – supostamente porque 
pertencentes a ramos jurídicos diferentes –, mas se complementam. 
 
A primeira tentativa de aplicação da tese do diálogo das fontes se dá com a possibilidade de 
subsunção concomitante tanto do CDC quanto do CC a determinadas relações obrigacionais, 
sobretudo aos contratos. Isso diante da já conhecida aproximação principiológica, entre os dois 
sistemas, consolidada pelos princípios sociais contratuais, sobretudo pela boa-fé objetiva e pela 
função social dos contratos. Supera-se a ideia de que o CDC seria um microssistema jurídico, 
totalmente isolado do CC/02. 
 
Claudia Lima Marques demonstra três diálogos possíveis a partir da teoria exposta: 
 
a) Em havendo aplicação simultânea das duas leis, se uma lei servir de base conceitual 
para a outra, estará presente o DIÁLOGO SISTEMÁTICO DE COERÊNCIA. Ex. os 
conceitos dos contratos em espécie podem ser retirados do CC mesmo sendo o contrato de 
consumo, caso de uma compra e venda (art. 481, CC). 
 
b) Se o caso for de aplicação coordenada de duas leis, uma norma pode completar a outra, 
de forma direta (DIÁLOGO DE COMPLEMENTARIDADE) ou indireta (DIÁLOGO DE 
SUBSIDIARIEDADE). Ex. contratos de adesão que também são de consumo – em relação 
às cláusulas abusivas, pode ser invocada a proteção dos consumidores constante do art. 51 
do CC e ainda a proteção dos aderentes (art. 424 do CC). 
 
c) Os DIÁLOGOS DE INFLUÊNCIAS RECÍPROCAS SISTEMÁTICAS estão presentes 
quando os conceitos estruturais de uma determinada lei sofrem influências de outra. Assim, 
o conceito de consumidor pode sofrer influências do CC. É a influência do sistema especial 
no geral e vice-versa. 
 
É imperioso dizer que também são possíveis diálogos entre o D. Civil e o do D. do 
Trabalho. O D. do Trabalho é ramo do D. Privado, assim como o é o D. Civil. 
 
Conforme o art. 8º da CLT, o direito comum e, logicamente, o D. Civil são fontes 
subsidiárias do D. do Trabalho. Na verdade, pela aplicação da tese do diálogo das fontes, o que se 
propõe é uma nova leitura desse comando legal. Não se deve mais considerar o D. Civil como 
simples fonte subsidiária, mas, em alguns casos, como fonte direta do D. do Trabalho. 
 
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
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Isso porque, em muitas situações atualmente comuns à prática trabalhista, não há normas de 
D. do Trabalho regulamentando a matéria. Em tais casos é que as normas do CC serão aplicadas. A 
EC 45/2004 ampliou enormemente a competência da Justiça do Trabalho. 
 
Destaque-se que a teoria do diálogo das fontes surge para, no futuro, substituir e superar os 
critérios clássicos de solução das antinomias jurídicas (hierárquico, especialidade e cronológico). 
No momento, ainda é possível conciliar tais critérios com a referida tese. 
 
3- A INTERAÇÃO ENTRE AS TESES EXPOSTAS E A VISÃO UNITÁRIA 
DO ORDENAMENTO JURÍDICO 
 
Há uma relação direta entre o diálogo das fontes, a constitucionalização do D. Civil, a 
eficácia horizontal dos direitos fundamentais, a personalização do D. Civil e o sistema de cláusulas 
gerais construído pela ontognoseologia realeana. 
 
A constitucionalização do D. Civil nada mais é do que um diálogo entre o D. Civil e a CF 
(D. Civil Constitucional). Com isso se vai até a CF, onde repousa a proteção da pessoa como 
máxime do nosso ordenamento jurídico (personalização). 
 
Para q essa proteção seja possível, deve-se reconhecer a eficácia horizontal dos direitos 
fundamentais, ou seja, que as normas que protegem a pessoa, prevista no Texto Maior, têm 
aplicação imediata nas relações entre particulares. A porta de entrada dessas normas protetivas, nas 
relações privadas, pode se dar por meio das cláusulas gerais (eficácia horizontal mediata), ou 
mesmo de forma direta (eficácia horizontal imediata). 
 
Em síntese, percebe-se que todas essas teorias possibilitam a visão de um sistema unitário, 
em que há mútuos diálogos e o reconhecimento da interdisciplinaridade. Assim está sendo 
construído o D. Civil Contemporâneo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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LIVRO I 
DAS PESSOAS 
CAPÍTULO I 
DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE 
 
 
1-CONCEITO DE PESSOA NATURAL 
 
É o ser humano considerado sujeito de direitos e deveres. Para ser pessoa basta existir. 
 
Toda a pessoa é dotada de personalidade, isto é, tem capacidade para figurar em uma 
relação jurídica. Toda pessoa tem aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações 
(personalidade). 
 
Art. 1
o
 Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. 
 
IMPORTANTE!!! Capacidade é a medida da personalidade. A que todos possuem (art. 1º) é a 
capacidade de direito (de aquisição ou de gozo), mas nem todos possuem a capacidade de fato 
(de exercício de direito), que é a aptidão para exercer, por si só, os atos da vida civil. Ex. Os loucos 
e recém-nascidos somente tem capacidade de direito (de aquisição de direitos), mas não tem 
capacidade de fato (de exercício). 
 
IMPORTANTE!!! Capacidade não se confunde com legitimação. Esta é a aptidão para a prática de 
determinados atos jurídicos. 
 
Quem tem as duas espécies de capacidade tem a capacidade plena. Quem só tem a de 
direito, tem capacidade limitada, por isso são chamado de incapazes. 
 
2- DAS INCAPACIDADES 
 
Não existe incapacidade de direito, pois todos se tornam capazes ao nascer. Existe, 
portanto, somente incapacidade de fato ou de exercício. Incapacidade, portanto, é a restrição 
ao exercício de atos da vida civil. E pode ser de duas espécies: absoluta e relativa. 
 
A absoluta acarreta a proibição total do exercício, por si só, do direito. O ato somente 
poderá ser praticado pelo representante legal do absolutamente incapaz, sob pena de nulidade. 
 
A relativa permite que o incapaz pratique atos da vida civil, desde que assistido, sob pena 
de anulabilidade. Alguns atos, entretanto, podem ser praticados sem a assistência de seu 
representante legal, como por exemplo: ser testemunha, aceitar mandato, fazer testamento e etc... 
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
16 
 
 
Na representação (incapacidade absoluta) o incapaz não participa do ato, que é praticado 
somente pelo seu representante. Na assistência (relativa) reconhece-se ao incapaz certo 
discernimento, e, portanto, é ele quem pratica o ato, não sozinho, mas acompanhado, assistido pelo 
seu representante. 
 
#O que é benefício de restituição? 
Tem origem no direito romano e visava proteger menores e incapazes em geral, caso praticassem 
determinado ato que lhes fosse prejudicial. Hoje, o benefício de restituição não pode ser invocado 
pelo incapaz. 
 
2.1 INCAPACIDADE ABSOLUTA 
 
Art. 3
o
 São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos 
da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. (Redação dada pela Lei 
nº 13.146, de 2015) 
 
ATENÇÃO!!! Com o advento do estatuto da deficiência, são absolutamente incapazes 
APENAS OS MENORES DE DEZESSEIS ANOS!!!! São os menores impúberes que ainda não 
atingiram a maturidade suficiente para participar da atividade jurídica. 
 
 A partir da lei 13.146/2015 (Estatuto da Deficiência), as pessoas privadas do 
necessário discernimento por enfermidade ou deficiência mental e os excepcionais com 
desenvolvimentomental incompleto passaram a ser considerados 
ABSOLUTAMENTE CAPAZES!!!! 
 
2.2 INCAPACIDADE RELATIVA 
 
Art. 4
o
 São incapazes, RELATIVAMENTE a certos atos, ou à maneira de os 
exercer: 
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, 
de 2015) ; 
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua 
vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) 
IV - os pródigos. 
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação 
especial. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) 
 
Como as pessoas listadas acima possuem algum discernimento, elas podem praticar 
determinados atos por si só. Isto, porém, constitui exceção à regra, pois elas devem estar assistidas 
por seus representantes para a prática de atos em geral, sob pena de anulabilidade. 
 
2.2.1. Os Maiores De 16 e Menores De 18 Anos 
 
São menores púberes. Podem praticar apenas determinados atos sem a assistência. Não se 
tratando desses atos, eles precisam estar assistidos, sob pena de anulabilidade do ato. 
 
IMPORTANTE!!! Art. 180 CC. 
 
Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, NÃO PODE, para eximir-se 
de uma obrigação, invocar a sua idade se DOLOSAMENTE a ocultou quando 
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
17 
 
inquirido pela outra parte, ou SE, NO ATO DE OBRIGAR-SE, DECLAROU-
SE MAIOR. 
 
Se não houver malícia do menor, anula-se o ato para protegê-lo. Como ninguém pode 
locupletar-se a custa alheia, se determina a restituição da importância paga ao menor, se ficar 
provado que o pagamento nulo se reverteu em proveito dele. (art. 181 CC) 
 
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
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IMPORTANTE!!! Art. 928 CC 
 
Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele 
responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios 
suficientes (responsabilidade SUBSIDIÁRIA do menor). 
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, 
não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem. 
 
2.2.2. Os Ébrios Habituais e Os Viciados Em Tóxicos 
 
IMPORTANTE!!! Somente os alcoólatras e toxicômanos são considerados relativamente 
incapazes. Os usuários eventuais que, por efeito transitório dessas substâncias ficarem impedidos 
de exprimir plenamente sua vontade estão também incluídos no rol dos relativamente incapazes, 
porém, se encaixam no inc. III (os que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir 
sua vontade). (art. 3º) 
 
2.2.3. Os Que, Por Causa Transitória ou Permanente, Não Puderem Exprimir Sua 
Vontade 
 
Abrange as pessoas que não puderem exprimir suas vontades por causa transitória, ou em 
virtude de alguma patologia. Com o advento do Estatuto da Deficiência, é POSSÍVEL (de forma 
extraordinária) a interdição daqueles que não puderem exprimir sua vontade tanto por causa 
permanente, como por causa transitória, estando tais sujeitos a curatela, conforme art. 1767, 
inc. I, do CC: 
 
 Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela: 
I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não 
puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei nº 
13.146, de 2015) 
 
2.2.4. Os Pródigos 
 
Pródigo é o individuo que dissipa seu patrimônio desvairadamente. O CC atual não permite 
a interdição do pródigo para proteger seu cônjuge, ascendentes ou descendentes, mas sim, para 
protegê-lo. 
 
IMPORTANTE!!! O pródigo só ficará privado de praticar sem curador, atos que extravasam mera 
administração e implicam comprometimento do patrimônio, como emprestar, transigir, alienar e etc. 
Pode praticar validamente e sem necessidade de assistência os atos da vida civil que não envolvam 
o seu patrimônio. Ex: casar, autorizar casamento dos filhos e etc... 
 
2.2.5. Dos Índígenas 
 
A capacidade dos índigenas está regulada em legislação especial. 
 
3- CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE 
 
Cessa a incapacidade quando cessar a sua causa e pela emancipação. A menoridade cessa 
aos dezoito anos completos (primeiro instante do aniversário de 18 anos). Se nascido no dia 29 de 
fevereiro de ano bissexto, completa a maioridade em 1º de março. 
 
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016 
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A emancipação pode ser de três espécies: voluntária, judicial ou legal. 
 
Art. 5
o
 A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica 
habilitada à prática de todos os atos da vida civil. 
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: 
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante 
instrumento PÚBLICO, independentemente de homologação judicial 
(VOLUNTÁRIA), ou por sentença do juiz, ouvido o tutor (tutor não emancipa), 
se o menor tiver dezesseis anos completos; (JUDICIAL). 
(abaixo são as hipóteses de emancipação LEGAL) 
II - pelo casamento; 
III - pelo exercício de emprego público efetivo; 
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; 
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de 
emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha 
economia própria. 
 
A emancipação voluntária é concedida pelos pais se o menor tiver 16 anos completos. 
Deve ser concedida por ambos os pais, ou um deles na falta do outro. A impossibilidade de 
qualquer deles participar do ato deve ser comunicada em juízo. A divergência entre os pais deve ser 
dirimida pelo juiz. 
 
IMPORTANTE!!! Na emancipação voluntária é expressamente exigido o instrumento 
público, independentemente de homologação judicial. 
 
IMPORTANTE!!! A emancipação voluntária não produz efeito quanto a obrigação dos pais de 
indenizar as vítimas dos atos ilícitos praticados pelo menor emancipado. Isto se dá para evitar 
emancipações maliciosas (essa regra somente se aplica as emancipações voluntárias). 
Responsabilidade SOLIDÁRIA entre os pais e o menor. 
 
Se o menor estiver sob tutela, deve requerer sua emancipação ao juiz, que a concederá por 
sentença, depois de verificar a conveniência do deferimento para o bem do menor. 
 
IMPORTANTE!!! O tutor não emancipa, quem emancipa é o juiz através de sentença. 
 
IMPORTANTE!!! A emancipação voluntária e judicial devem ser registradas em cartório, 
não produzindo efeito antes do registro. A emancipação legal (casamento, emprego publico 
etc.) NÃO depende de registro e produzirá efeitos desde logo, a partir do ato ou fato que a 
provocou. 
 
IMPORTANTÍSSIMO!!! A emancipação em qualquer de suas formas é IRREVOGÁVEL. 
Entretanto, irrevogabilidade não se confunde com a invalidade do ato, que pode ser reconhecida. 
Proclamada a nulidade, ou mesmo a anulabilidade do ato que causou a emancipação, o 
emancipado retorna a situação de incapaz, salvo se a contraiu de boa fé. 
 
Emancipação NÃO tem efeitos penais (o direito penal só se preocupa com a idade 
biológica do sujeito). Por óbvio, cabe prisão civil, que não é penal. 
 
O pagamento dos benefícios previdenciários deve observar os limites da legislação 
previdenciária (até 21 anos), não levando em consideração a emancipação (assim como o direito 
penal, o direito previdenciário só se preocupa com a idade biológica). 
 
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4- COMEÇO DA PERSONALIDADE NATURAL 
 
A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, o que se constata com 
a respiração. “Se a pessoa respirou, viveu”.Art. 2
o
 A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a 
lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. 
 
Nascendo vivo ainda que morra em seguida, o novo ente chegou a ser pessoa, adquiriu 
direitos, e com sua morte os transmitiu. 
 
Três teorias procuram explicar e justificar a situação jurídica do nascituro: 
 
1ª) TEORIA NATALISTA: é a predominante no direito brasileiro. Sustenta que a personalidade 
somente é adquirida a partir do nascimento com vida, de maneira que o nascituro não seria 
considerado pessoa, gozando de mera expectativa de direito. 
 
Obs. Vale acrescentar que no sistema brasileiro, diferentemente do art. 30 do CC da Espanha, não 
se exige do recém nascido forma humana, nem sobrevida mínima (teste do pulmão na água. Teste 
de Galeno). 
 
É a que foi adotada (de modo mais claro) pelo CC/02. Por ser mais prática. 
 
2ª) TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL: o nascituro, ao ser concebido, adquire 
personalidade apenas para efeitos extra-patrimoniais, de modo que apenas consolida para efeitos 
patrimoniais a sua personalidade a partir do nascimento com vida. Seriam dois momentos: no 
momento em que é concebido só tem personalidade para efeitos não patrimoniais (vida...) e no 
momento em que nasce com vida adquire capacidade plena. 
 
3ª TEORIA CONCEPCIONISTA: sustentam que o nascituro goza de personalidade jurídica, 
inclusive para efeitos patrimoniais (nascituro é pessoa). É a mais moderna e vem sendo 
prestigiada no âmbito do Superior Tribunal de Justiça. 
 
Segundo o pensamento de Bevilaqua, a despeito da sedução teórica da corrente 
concepcionista, preferiu o legislador, por ser mais prática adotar a teoria natalista. Todavia, o 
próprio autor reconhece a fragilidade desta corrente, ao reconhecer em diversos artigos do CC, 
direitos do nascituro. 
 
IMPORTANTE!!! O nascituro tem direito a alimentos, com a nova lei de alimentos gravídicos não 
há discussão. São devidos sim, os alimentos ao nascituro. 
 
#Nascituro tem direito a reparação por dano moral? 
Mãe grávida que acompanhou a tortura do pai no regime militar. Danos morais reconhecidos. 
 
Pai do nascituro assassinado. STJ reconheceu os danos morais por não ter podido 
conhecer o pai. O fato de não ter conhecido o pai em vida vai diminuir o quantum. (Resp 
399028/SP). 
 
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#Grávida com gestação interrompida em razão de acidente de trânsito tem direito ao 
recebimento do Seguro DPVAT? 
 
SIM. O STJ decidiu que, se uma gestante envolve-se em acidente de carro e, em virtude 
disso, sofre um aborto, ela terá direito de receber a indenização por morte do DPVAT, nos 
termos do art. 3º, I, da Lei 6.194/74. O Ministro Relator afirmou expressamente que, em 
sua opinião, “o ordenamento jurídico como um todo – e não apenas o Código Civil de 
2002 – alinhou-se mais à teoria concepcionista para a construção da situação jurídica do 
nascituro, conclusão enfaticamente sufragada pela majoritária doutrina contemporânea. 
 
#O natimorto goza de proteção jurídica? 
Segundo a doutrina, sim, em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana deve-se 
respeitar o nome, a memória, a imagem daquele que nasceu morto. (enunciado nº 1 da 1ª 
jornada de direito civil). 
 
5- EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE NATURAL 
 
Somente com a morte real termina a existência da pessoa natural, que pode ser também 
simultânea (comoriência). 
 
a) Morte real: prevista no art. 6º CC, ocorre com o diagnóstico da paralisação da atividade 
encefálica. A sua prova se faz pela justificação, em caso de catástrofe e não encontro do corpo. 
Acarreta a extinção do poder familiar, a extinção dos contratos personalíssimos, a extinção da 
obrigação de pagar alimentos, dissolução do vinculo conjugal e etc. 
 
b) Morte simultânea ou comoriência: A comoriência traduz uma situação em que duas ou mais 
pessoas falecem na mesma ocasião, sem que se possa indicar a ordem cronológica dos óbitos. 
 
Comoriência é um termo do Direito Civil que indica presunção legal de morte 
simultânea de duas ou mais pessoas ligadas por vínculos sucessórios. Quando não se sabe 
quem morreu primeiro, presumem-se simultâneos. 
 
Dispõe o art. 8º do Código Civil de 2002: 
 
Art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se 
podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-
se-ão simultaneamente mortos. 
 
No Brasil não há presunção da ordem dos óbitos (Ex: o mais velho morre antes). Não 
se podendo indicar a ordem dos óbitos, presume-se simultâneos. 
 
IMPORTANTE!!! Não necessariamente no mesmo local e situação. Dá-se comoriência sempre 
que não se puder identificar a ordem dos óbitos. 
 
IMPORTANTE!!! Como efeito da comoriência, não há transferência de bens entre os 
comorientes. 
 
c) Morte civil: Há um resquício dela no CC, art. 1816, que trata o herdeiro, afastado da herança por 
indignidade, como se ele “morto” fosse antes da abertura da sucessão. Mas somente para afastá-lo 
da herança. Conserva, porém, a personalidade para os demais efeitos. 
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d) Morte presumida: com ou sem a declaração de ausência. Presume-se a morte quanto aos 
ausentes quando a lei autoriza a sucessão definitiva. 
 
Art. 6
o
 A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, 
quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão 
definitiva. 
 
A declaração de ausência produz efeitos patrimoniais, permitindo a abertura da sucessão 
provisória, e depois a definitiva. 
 
IMPORTANTE!!! O art. 7º do CC permite a declaração de morte presumida, para todos os 
efeitos, sem decretação de ausência nos seguintes casos: 
 
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; 
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for 
encontrado até dois anos após o término da guerra. 
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá 
ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença 
fixar a data provável do falecimento. 
 
6- INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL 
 
A pessoa natural se identifica na sociedade pelo nome, pelo estado e pelo domicílio. 
 
6.1. NOME 
 
Conceito: é a designação pela qual a pessoa se identifica no seio da família e da sociedade. 
Alguns se identificam pelo pseudônimo. Dispõe o art. 19 CC: 
 
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá 
ao nome. 
 
A utilização do nome ou pseudônimo de maneira ilícita gera direito a indenização. 
 
6.1.1. Natureza Jurídica 
 
O CC trata o nome como um direito da personalidade. Toda pessoa tem direito ao nome 
(art. 16 CC). 
 
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou 
representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja 
intenção difamatória. 
 
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda 
comercial. 
 
Trata-se de direito inalienável e imprescritível, essencial para o exercício regular dos direitos 
e cumprimento das obrigações. 
 
6.1.2. Elementos Do Nome Completo 
 
Nome civil = prenome + sobrenome (+ agnome). 
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Obs. Agnome é filho, neto, júnior, sobrinho... (William bossaneli Araujo neto). O agnome é 
elemento opcional. 
 
 
6.1.2.1. Prenome 
 
Pode ser livremente escolhido pelos pais desde que não exponham o filho ao ridículo.Irmãos não podem ter o mesmo nome, a não ser que seja duplo, estabelecendo a distinção. 
 
6.1.2.2. Sobrenome 
 
Sinal que identifica a pessoa indicando a sua filiação ou estirpe. É imutável. Adquire-se com 
o nascimento e, portanto, não é escolhido. É obrigatório. 
 
Obs. No caso de filho havido fora do casamento, não será lançado o nome do pai sem que este 
expressamente o autorize. O reconhecimento dos filhos havido fora do casamento é irrevogável e 
será feito pelos modos previstos no art. 1609 CC (escrito particular e testamento). 
 
Obs. Pseudônimo (ou cognome). Trata-se do nome utilizado por alguém para fins profissionais 
lícitos. O pseudônimo não é elemento componente do nome, mas merece a mesma proteção (art. 19 
da lei de registros públicos) 
 
IMPORTANTE!!! Nunca confundir pseudônimo com hipocorístico: o pseudônimo é o nome 
utilizado para fins profissionais, o hipocorístico é um apelido carinhoso, uma forma de identificação 
profissional e pessoalmente (lula, Xuxa, Pelé...). 
 
Obs. O hipocorístico pode ser acrescentado ao nome (Luiz Inácio “lula” da Silva). 
 
6.1.3. Imutabilidade Do Nome 
 
Em se tratando de direito da personalidade, a lei de registros públicos reconhece a 
possibilidade de mudança imotivada do nome, a partir do momento em que ele alcançar a 
maioridade civil. Basta a vontade de mudar o nome, nada mais. Para essa mudança, o titular deve 
requerer a mudança ao juiz. O prazo é de um ano, dos 18 aos 19 anos. 
 
6.1.3.1. Hipóteses De Mudança Do Nome 
 
Até 1999 o Brasil adotava o princípio da imutabilidade absoluta, só sendo possível a 
mudança do nome nos casos previstos em lei. Hoje, somos regidos pelo princípio da 
imutabilidade RELATIVA, é possível mudar não só nos casos previstos em lei, mas também 
quando há justificativa plausível, utilizando-se do princípio da razoabilidade. 
 
a) Hipóteses de mudança previstas em lei: 
 
(1) adoção 
(2) programa de proteção à testemunha (PROVITA) 
(3) nome vexatório 
(4) nomes ridículos ou exóticos 
 
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b) hipóteses não previstas em lei: 
 
(1) acréscimo do sobrenome do padrasto (com base na tutela jurídica do afeto. É pacífico no 
STJ). 
(2) viuvez 
(3) retirada do sobrenome do pai, que nunca deu atenção ao filho (STJ). 
 
Obs. Mudança de nome no casamento e na dissolução do casamento: 
 
 Art. 1565, §1º: permite a qualquer dos noivos acrescerem o nome um do outro. A 
mudança de nome é uma faculdade, não uma obrigação. 
 
 Art. 1578: como o nome é direito da personalidade, na separação e divórcio, a regra 
geral é a manutenção do nome, só perde o sobrenome se quiser. 
 
EXCEÇÃO: O cônjuge perde obrigatoriamente o nome se: (1) houver pedido expresso do outro 
cônjuge; (2) culpa grave no divórcio/separação; (3) não causar prejuízo à identificação dos filhos; 
(4) não causar prejuízo à identificação do próprio cônjuge (ex: Marta Suplicy). Essa á uma das 
poucas hipóteses onde ainda se discute culpa no divórcio/separação. 
 
6.2 ESTADO 
 
É o seu modo particular de existir. 
 
6.2.1. Aspectos 
 
O estado apresenta três aspectos: individual ou físico, familiar e o político. 
 
a) estado individual: modo de ser da pessoa quanto a idade, sexo, cor, altura, saúde (são ou insano) 
e etc... 
 
b) estado familiar: é o que indica a sua situação na família em relação ao matrimonio (solteiro, 
casado, viúvo...) e ao parentesco (pai, filho...). 
 
c) estado político: é a qualidade jurídica que advêm da posição do individuo na sociedade política, 
podendo ser nacional (nato ou naturalizado) ou estrangeiro. 
 
6.2.2. Caracteres 
 
Características e atributos do estado: 
 
a) Indivisibilidade: ninguém pode ser simultaneamente casado ou solteiro. 
b) Indisponibilidade: trata-se de bem fora do comércio, sendo inalienável e irrenunciável. 
c) Imprescritibilidade: não se perde nem se adquire o estado pela prescrição. 
 
 
 
 
 
 
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CAPÍTULO II 
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 
 
 
1- CONCEITO 
 
Distinguem-se dos direitos de ordem patrimonial por não ter conteúdo econômico imediato e 
não se destacar da pessoa de seu titular. São inerentes a pessoa humana, estando a ela ligados de 
maneira perpétua. 
 
Segundo Maria Helena Diniz são “direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe é 
próprio, ou seja, a sua integridade física; a sua integridade intelectual; e a sua integridade 
moral.” 
 
#E os entes despersonalizados? 
Não têm personalidade jurídica, mas são sujeitos de direitos (podem ser contratantes, podem ser 
empregado) e tem capacidade jurídica (capacidade de ser parte = pode ir a juízo). Frisa-se que, 
por não ter personalidade jurídica, os entes despersonalizados NÃO gozam de direitos da 
personalidade. 
 
Obs. Discussão na ADIN 3510 sobre a possibilidade de pesquisa com células tronco embrionárias. 
O PGR entendeu que não se poderia descartar o embrião para as pesquisas porque já se teria direitos 
da personalidade. O STF entendeu que o embrião laboratorial não tem direitos da 
personalidade, porque se tivesse seria impossível que se fizesse as pesquisas com ele. 
 
É praticamente unânime na doutrina que os direitos da personalidade estão elencados num 
ROL MERAMENTE EXEMPLIFICATIVO. Seria impossível prever todos os direitos a 
personalidade. 
 
IMPORTANTE!!! O direito brasileiro traz uma cláusula geral de proteção à personalidade. Está 
clausula geral é a dignidade da pessoa humana (art. 1º da CF), de modo que todos os direitos da 
personalidade (tipificados ou não) passam pela dignidade da pessoa humana. 
 
2- FUNDAMENTOS E CARACTERÍSTICAS 
 
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são 
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação 
voluntária. 
 
São também inalienáveis, imprescritíveis, absolutos (oponíveis erga omnes), 
impenhoráveis e vitalícios. 
 
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, 
e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. 
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IMPORTANTE!!! O parágrafo único do art. 12 estabelece que “em se tratando de morto, terá 
legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer 
parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.” 
 
IMPORTANTÍSSIMO!!! O art. 52 CC estabelece que “APLICA-SE ÀS PESSOAS 
JURÍDICAS, no que couber, a proteção dos DIREITOS DA PERSONALIDADE.” 
 
2.1. DANO MORAL 
 
O dano moral depende da violação da personalidade, a simples e pura dor, sofrimento, 
não é capaz de gerar indenização por dano moral. 
 
Dano moral seria a violação aos direitos da personalidade (violação da honra, da imagem, 
da privacidade, da integridade física). Não precisa ter dor, sofrimento para que se tenha dano 
moral. 
 
#É possível cumular dano moral com dano moral (duas categorias de dano moral)? 
Sim. Ex. dano estético + dano à imagem. Isso é dano moral + dano moral. 
 
 O STJ aceita, de forma pacífica, a cumulação de danos morais com danos estéticos. Tal 
entendimento encontra-se, inclusive, emoldurado na Súmula 387 do Superior Tribunal de Justiça. 
 
IMPORTANTE!!! A jurisprudência do STJ, majoritariamente, não aceitava o punitive damage. 
No Brasil o dano moral tem caráter meramente reparatório. O dano moral não se presta a punir o 
infrator. Pablo Stolze lembra queembora ainda não aceita amplamente, a teoria do punitive damage 
vem ganhando força, inclusive no STJ. Dupla faceta do dano moral (reparar e punir). Esse 
panorama tem se alterado para a aceitação ampla da função punitiva do dano moral. 
 
Obs. Se eu usar a imagem de alguém, indevidamente, para publicar no jornal só elogiando a pessoa, 
mesmo assim, existe dano moral a reparar, porque o dano moral é a violação à direito da 
personalidade (no caso imagem), mesmo sem ter havido depreciação do sujeito (dano à imagem 
sem dano à honra). 
 
Obs. Dano moral coletivo. Hoje já se fala em dano moral coletivo (art. 6º VI do CDC e art. 1º da 
lei da ACP). Ex. dano ao meio ambiente do trabalho. Essa indenização reverte-se em favor da 
coletividade, direcionado à um fundo (fluid Recovery - art. 13 da lei da ACP), e não em favor de 
cada um dos lesados (que podem ingressar com ações individuais). 
 
STJ - DANO MORAL COLETIVO. IMPOSSIBILIDADE (1ª 
TURMA). É necessária a vinculação do dano moral com a idéia de 
dor, sofrimento psíquico e de caráter individual, incompatível, 
assim, com a noção de transindividualidade. 
 
STJ - DANO MORAL COLETIVO. POSSIBILIDADE (2º 
TURMA). Segundo a 2ª turma, o entendimento segundo o qual o 
dano moral é incompatível com a idéia de transindividualidade não 
pode mais prevalecer. O dano extra patrimonial coletivo prescinde 
da idéia de dor, sofrimento ou abalo psíquico sofrido pelos 
indivíduos. Manifesta-se no prejuízo à imagem e moral coletivas e 
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sua averiguação deve pautar-se nas características próprias aos 
interesses difusos e coletivos. Destarte, o dano moral coletivo pode ser 
examinado e mensurado. 
 
O entendimento praticamente pacífico, hoje, é pela POSSIBILIDADE da fixação de dano 
moral coletivo. 
 
IMPORTANTÍSSIMO!!! #Pode existir dano moral contratual? A violação de um contrato, 
por si só, pode implicar em dano moral? 
COMO REGRA NÃO!!! O inadimplemento contratual vai gerar os efeitos do 
inadimplemento (perdas e danos). O STJ, todavia, reconhece que, eventualmente, ao se 
descumprir um contrato pode-se ferir a dignidade do outro contratante, caso em que haverá 
dano moral contratual. Ex. Quando o plano de saúde nega assistência; corte de energia indevido e 
etc. 
 
#No que consiste o critério bifásico para fixação de dano moral aplicado por algum dos 
ministros do STJ? 
 
Pelo método bifásico, fixa-se inicialmente o valor básico da indenização, levando em conta a 
jurisprudência sobre casos de lesão ao mesmo interesse jurídico. Assim, explicou o ministro, 
assegura-se "uma razoável igualdade de tratamento para casos semelhantes". Em seguida, o 
julgador chega à indenização definitiva ajustando o valor básico para mais ou para menos, 
conforme as circunstâncias específicas do caso (gravidade do caso, sofrimento das vítimas, 
condição financeira do responsável, número de autores e etc). 
 
IMPORTANTE!!! A indenização por dano moral é calculada de acordo com o dano - sistema 
aberto. Dessa forma, NÃO pode existir lei que limite a indenização (indenização tarifada). 
 
IMPORTANTE!!! 2.2 DANOS SOCIAIS 
 
 O dano social vem sendo reconhecido pela doutrina como uma nova espécie 
de dano reparável, decorrente de comportamentos socialmente reprováveis, pois diminuem o nível 
social de tranquilidade, tendo como fundamento legal o art. 944 do CC (A indenização mede-se pela 
extensão do dano). 
 Danos sociais são lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu 
patrimônio moral – principalmente a respeito da segurança – quanto por diminuição na qualidade de 
vida. Os danos sociais são causa, pois, de indenização punitiva por dolo ou culpa grave, 
especialmente, repetimos, se atos que reduzem as condições coletivas de segurança, e de 
indenização dissuasória, se atos em geral da pessoa jurídica, que trazem uma diminuição do índice 
de qualidade de vida da população. Alguns exemplos dados por Junqueira de Azevedo: o pedestre 
que joga papel no chão, o passageiro que atende ao celular no avião, o pai que solta balão com seu 
filho. Tais condutas socialmente reprováveis podem gerar danos como o entupimento de bueiros em 
dias de chuva, problemas de comunicação do avião causando um acidente aéreo, o incêndio de 
casas ou de florestas por conta da queda do balão etc. 
 Desse modo, diante da ocorrência de ato ilícito, a doutrina moderna tem admitido a 
possibilidade de condenação ao pagamento de indenização por dano social, como categoria inerente 
ao instituto da responsabilidade civil, além dos danos materiais, morais e estéticos. 
 
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 Registre-se, ainda, que na V Jornada de Direito Civil do CJF foi aprovado o Enunciado 455, 
reconhecendo a existência do denominado dano social: "A expressão dano no art. 944 abrange não 
só os danos individuais, materiais ou imateriais, mas também os danos sociais, difusos, coletivos e 
individuais homogêneos a serem reclamados pelos legitimados para propor ações coletivas". Para 
que haja a condenação em danos sociais, é necessário pedido nesse sentido, sob pena de 
julgamento extra petita (STJ - Rcl 12.062-GO -2015). 
 
Danos sociais não se enquadram como dano material, moral ou estético 
O dano social é, portanto, uma nova espécie de dano reparável, que não se confunde com os 
danos materiais, morais e estéticos, e que decorre de comportamentos socialmente reprováveis, 
que diminuem o nível social de tranquilidade. De igual forma, dano social não é sinônimo de 
dano moral coletivo. 
3- ATOS DE DISPOSIÇÃO DO PRÓPRIO CORPO 
 
Dispõe o art. 13 e 14 CC: 
 
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, 
quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons 
costumes. 
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, 
na forma estabelecida em lei especial. 
 
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do 
próprio corpo, no todo ou em parte, para DEPOIS DA MORTE. 
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer 
tempo. 
 
A comercialização de órgãos do corpo humano é expressamente vedada pela CF (art. 
199 §4º). 
 
IMPORTANTE!!! Aprovou-se na quarta jornada de Direito Civil o enunciado 276, com o seguinte 
teor: “O art. 13 do CC, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência medica, autoriza a 
cirurgia de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo CFM, 
e a consequente alteração do prenome e do sexo no registro civil.” 
 
4- TRATAMENTO MÉDICO DE RISCO 
 
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a 
tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. 
 
5- PROTEÇÃO A PALAVRA E A IMAGEM 
 
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à 
manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, 
ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser 
proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe 
atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se destinarem a fins 
comerciais. 
 
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A reprodução da imagem é reprodução da própria pessoa e somente ela pode autorizá-la. A 
carta magna foi explícita em assegurar, ao lesado, direito a indenização por dano material ou moral 
decorrente da violação da intimidade, da vida privada, da honra eda imagem da pessoa. 
 
A reprodução da imagem para fins comerciais (ou não, conforme a jurisprudência), sem 
autorização do lesado, enseja direito a indenização, ainda que não lhe tenha atingido a honra, a boa 
fama ou a respeitabilidade. 
 
6- PROTEÇÃO A INTIMIDADE 
 
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do 
interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato 
contrário a esta norma. 
 
Caso o dano, material ou moral, já tenha ocorrido, o direito a indenização é assegurado 
expressamente pela CF (art. 5º X). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CAPÍTULO III 
DA AUSÊNCIA 
 
 
1- DA CURADORIA DOS BENS DO AUSENTE 
 
A situação do ausente passa por três fases: 
 
a) Fase da curadoria (arts. 22 a 25 CC) 
b) Fase da sucessão provisória (arts. 26 a 36 CC) 
c) Fase da sucessão definitiva (arts. 37 a 39 CC) 
 
Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não 
houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o 
juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, 
declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. 
 
Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o 
ausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o 
mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes. 
 
Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de 
fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo 
curador. 
§ 1
o
 Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos 
descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o 
cargo. 
§ 2
o
 Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos. 
§ 3
o
 Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador. 
 
2- SUCESSÃO PROVISÓRIA 
 
Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou 
representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados 
requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão. 
 
Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram 
interessados: 
I - o cônjuge não separado judicialmente; 
II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários; 
III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte; 
IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas. 
 
Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá 
efeito cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe 
em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e 
partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido. 
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§ 1
o
 Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na sucessão 
provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo competente. 
§ 2
o
 Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até trinta 
dias depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir a sucessão provisória, 
proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente pela forma estabelecida nos arts. 
1.819 a 1.823. 
 
Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão 
garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos 
quinhões respectivos. 
§ 1
o
 Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia 
exigida neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a 
administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste 
essa garantia. 
§ 2
o
 Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua 
qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse 
dos bens do ausente. 
 
Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por 
desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína. 
 
Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do 
ausente, fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a este couberem; os 
outros sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses frutos e 
rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de acordo com o representante do 
Ministério Público, e prestar anualmente contas ao juiz competente. 
Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi 
voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e 
rendimentos. 
 
Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida 
a posse provisória, cessarão para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos, 
ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega 
dos bens a seu dono. 
 
Cessará a sucessão provisória pelo comparecimento do ausente e, converter-se-á em 
definitiva: 1) quando houver certeza da morte do ausente, 2) dez anos depois de passado em 
julgado a abertura da sucessão provisória, 3) quando o ausente contar 80 anos de idade e 
houverem decorridos cinco anos das ultimas noticias suas. 
 
3- DA SUCESSÃO DEFINITIVA 
 
Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a 
abertura da sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão 
definitiva e o levantamento das cauções prestadas. 
 
Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o 
ausente conta oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas notícias 
dele. 
 
Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão 
definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão 
só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou 
o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens 
alienados depois daquele tempo. 
Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não 
regressar, e nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens 
arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se 
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localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União, 
quando situados em território federal. 
 
 
 
 
 
 
TÍTULO II 
DAS PESSOAS JURÍDICAS 
 
 
1- CONCEITO 
 
Pessoas jurídicas são entidades a que a lei empresta personalidade, capacitando-as a serem 
sujeitos de direitos e obrigações. Atuam na vida jurídica com personalidade diversa dos indivíduos 
que a compõe. 
 
2- NATUREZA JURÍDICA 
 
Várias teorias procuram explicar o fenômeno da pessoa jurídica. Podem ser divididas em 
dois grupos: teorias da ficção e teorias da realidade. 
 
2.1 TEORIAS DA FICÇÃO 
 
Ficção legal: (Savigny) pessoa jurídica constitui uma criação artificial da lei. 
Ficção doutrinaria: criação dos juristas e da doutrina. 
 
Obs. Não são aceitas. O Estado é uma pessoa jurídica. Dizer que o estado é uma ficção é o mesmo 
que dizer que o direito que dele provem também o é. 
 
2.2 TEORIAS DA REALIDADE 
 
Teoria da realidade objetiva: Sustenta que a pessoa jurídica é um ser com vida própria, realidade

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