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1-Processo Ensino-Aprendizagem: do Conceito à Análise do Atual Processo Para se analisar os vários conceitos que envolvem o processo ensino-aprendizagem é necessário ter-se em mente as diferentes épocas nas quais estes se desenvolveram, como também compreender sua mudança no decorrer da história de produção do saber do homem. O conceito de aprendizagem emergiu das investigações empiristas em Psicologia, ou seja, de investigações levadas a termo com base no pressuposto de que todo conhecimento provém da experiência(1). Ora, se o conhecimento provém de outrem, externo ao indivíduo, isto significa afirmar o primado absoluto do objeto e considerar o sujeito como uma tábula rasa, como um ser vazio, sem saberes e com a função única de depositário de conhecimento. Este conceito inicial é baseado no positivismo que influenciou diferentes conhecimentos, entre eles o behaviorismo. Neste, a aprendizagem se dá pela mudança de comportamento resultante do treino ou da experiência(1). E se sustenta sobre os trabalhos dos condicionamentos respondente e, posteriormente, operante. Para refutar estes conceitos que determinam o ser humano como passivo e não produtor, surge a Gestalt, racionalista. Neste momento histórico não se fala em aprendizagem mas em percepção, posto que tal corrente não acredita no conhecimento adquirido, mas defende o conhecimento como resultado de estruturas pré-formadas, do biológico do indivíduo. Por fim, há de se chegar à psicologia genética tendo como representantes nomes como Piaget, Vygotsk e Wallon e que segundo Giusta (1), levam a uma concepção de aprendizagem a partir do confronto e colaboração do conhecimento destes três: empirismo, behaviorismo e gestáltico. Atualmente, não só na área da educação mas também em outras áreas, como a da saúde, pensa-se no indivíduo como um todo – paradigma holístico. Parte-se de uma visão sistêmica e portanto, amplia-se o conceito de educação, o conceito do processo de ensino-aprendizagem. O processo de ensino-aprendizagem tem sido historicamente caracterizado de formas diferentes que vão desde a ênfase no papel do professor como transmissor de conhecimento, até as concepções atuais que concebem o processo de ensino-aprendizagem com um todo integrado que destaca o papel do educando (2). As reflexões sobre o estado atual do processo ensino-aprendizagem nos permite identificar um movimento de idéias de diferentes correntes teóricas sobre a profundidade do binômio ensino e aprendizagem. Entre os fatores que estão provocando esse movimento podemos apontar as contribuições da Psicologia atual em relação à aprendizagem, que leva todos a repensar a prática educativa, buscando uma conceptualização do processo ensino-aprendizagem(2). Apesar de tantas reflexões, a situação atual da prática educativa das escolas ainda demonstra a massificação dos alunos com pouca ou nenhuma capacidade de resolução de problemas e poder crítico- reflexivo, a padronização dos mesmos em decorar os conteúdos, além da dicotomia ensino-aprendizagem e do estabelecimento de uma hierarquia entre educador e educando. A solução para tais problemas está no aprofundamento de como os educandos aprendem e como o processo de ensinar pode conduzir à aprendizagem (2). Acrescenta-se ainda que a solução está em partir da teoria e colocar em prática os conhecimentos adquiridos ao longo do tempo de forma crítica-reflexiva-laborativa: crítica e reflexiva para pensar os conceitos atuais e passados e identificar o que há de melhor; laborativa não só para mudar como também para criar novos conhecimentos. “Para que se repensem as ciências humanas e a possibilidade de um conhecimento científico humanizado há que se romper com a relação hierárquica entre teoria, prática e metodologia. Teoria e prática não se cristalizam, mas se redimensionam, criam e são também objetos de investigação. Nesse sentido, pesquisa é a atividade básica da ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino/aprendizagem e a atualiza”. (DIAS, 2001) Paulo Freire apud DIAS (3) diz que daí que seja tão fundamental conhecer o conhecimento existente quanto saber que estamos abertos e aptos à produção do conhecimento ainda não existente. Ensinar, aprender e pesquisar lidam com esses dois momentos do ciclo gnosiológico: o que se ensina e se aprende o conhecimento já existente e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente. A dodiscência – docência-discência – e a pesquisa, indicotomizáveis, são assim práticas requeridas por estes momentos do ciclo gnosiológico. Pensar nesse processo ensino-aprendizagem de forma dialética associando-se à pesquisa, promove a formação de novos conhecimentos e traz a idéia de seres humanos como indivíduos inacabados e 1 passíveis de uma curiosidade crescente – aqui considerada como uma curiosidade epistemológica, uma capacidade de refletir criticamente o aprendido – capaz de levar a um continum no processo ensinar- aprender. No processo pedagógico alunos e professores são sujeitos e devem atuar de forma consciente. Não se trata apenas de sujeitos do processo de conhecimento e aprendizagem, mas de seres humanos imersos numa cultura e com histórias particulares de vida. O aluno que o professor tem à sua frente traz seus componentes biológico, social, cultural, afetivo, lingüístico entre outros. Os conteúdos de ensino e as atividades propostas enredam-se nessa trama de constituição complexa do indivíduo (4). O processo de ensino-aprendizagem envolve um conteúdo que é ao mesmo tempo produção e produto. Parte de um conhecimento que é formal (curricular) e outro que é latente, oculto e provém dos indivíduos (5). Todo ato educativo depende, em grande parte, das características, interesses e possibilidades dos sujeitos participantes, alunos, professores, comunidades escolares e demais fatores do processo (2). Assim, a educação se dá na coletividade, mas não perde de vista o indivíduo que é singular (contextual, histórico, particular, complexo). Portanto, é preciso compreender que o processo ensino-aprendizagem se dá na relação entre indivíduos que possuem sua história de vida e estão inseridos em contextos de vida próprios. Pela diversidade individual e pela potencialidade que esta pode oferecer à produção de conhecimento, conseqüentemente ao processo de ensino e aprendizagem, pode-se entender que há necessidade de estabelecer vínculos significativos entre as experiências de vida dos alunos, os conteúdos oferecidos pela escola e as exigências da sociedade, estabelecendo também relações necessárias para compreensão da realidade social em que vive e para mobilização em direção a novas aprendizagens com sentido concreto(2). Pensar cada indivíduo como um contribuinte no processo de ensinar-aprender é participar da colocação de Giusta (1) sugerindo que se deve superar a dicotomia transmissão x produção do saber levando a uma concepção de aprendizagem que permite resgatar: a) a unidade do conhecimento, através de uma visão da relação sujeito/objeto, em que se afirma, ao mesmo tempo, a objetividade do mundo e a subjetividade; b) a realidade concreta da vida dos indivíduos, como fundamento para toda e qualquer investigação(1). Lembrando que o processo ensino-aprendizagem ocorre a todo momento e em qualquer lugar questiona-se então neste processo, qual o papel da escola? Como deve esta deve ser considerada? E qual o papel do professor? É função da escola realizar a mediação entre o conhecimento prévio dos alunos e o sistematizado, propiciando formas de acesso ao conhecimento científico. Nesse sentido os alunos caminham, ao mesmo tempo, na apropriação do conhecimento sistematizado, na capacidade de buscar e organizar informações, no desenvolvimento deseu pensamento e na formação de conceitos. O processo de ensino deve, pois, possibilitar a apropriação dos conteúdos e da própria atividade de conhecer (4). A escola é um palco de ações e reações, onde ocorre o saber-fazer. É constituída por características políticas, sociais, culturais e críticas (5). Ela é um sistema vivo, aberto (6). E como tal, deve ser considerada como em contínuo processo de desenvolvimento influenciando e sendo influenciada pelo ambiente, onde existe um feedback dinâmico e contínuo. É neste ambiente de produções e produto que se insere o professor, o educador, não como um indivíduo superior, em hierarquia com o educando, como detentor do saber-fazer, mas como um igual, onde o relacionamento ente ambos concretiza o processo de ensinar-aprender. O papel do professor é o de dirigir e orientar a atividade mental dos alunos, de modo que cada um deles seja um sujeito consciente, ativo e autônomo. É seu dever conhecer como funciona o processo ensino-aprendizagem para descobrir o seu papel no todo e isoladamente. Pois, além de professor, ele será sempre ser humano, com direitos e obrigações diversas (7). Pensar no educador como um ser humano é levar à sua formação o desafio de resgatar as dimensões cultural, política, social e pedagógica, isto é, resgatar os elementos cruciais para que se possa redimensionar suas ações no/para o mundo. Ainda no processo da história da produção do saber, permanece na atualidade o desafio de tornar as práticas educativas mais condizentes com a realidade, mais humanas e, com teorias capazes de abranger o indivíduo como um todo, promovendo o conhecimento e a educação. 2-O planejamento do trabalho pedagógico: algumas indagações e tentativas de respostas 2 Neste texto o autor discorre sobre a importância do planejamento. Faz uma análise crítica das condições históricas que favoreceram uma "tendência tecnicista", transformando o planejamento do ensino numa atividade mecânica e burocrática. José Cerchi Fusari nos convida a refletir sobre o verdadeiro sentido de planejamento, focalizando seus aspectos mais importantes. "Na prática docente atual, o planejamento tem-se reduzido à atividade em que o professor preenche e entrega à secretaria da escola um formulário" "O planejamento, nesta perspectiva, é, acima de tudo, uma atitude crítica do educador diante de seu trabalho docente" "A ação consciente, competente e crítica do educador é que transforma a realidade, a partir das reflexões vivenciadas no planejamento e, conseqüentemente, do que foi proposto no plano de ensino" "É preciso assumir que é possível e desejável superar os entraves colocados pelo tradicional formulário, previamente traçado, fotocopiado ou impresso, onde são delimitados centímetros quadrados para os "objetivos, conteúdos, estratégias e avaliação" "É importante desencadear um processo de repensar todo o ensino, buscando um significado transformador para os elementos curriculares básicos: - objetivos da educação escolar (para que ensinar e aprender?); - conteúdos (o que ensinar e aprender?); - métodos (como e com o que ensinar e aprender?); - tempo e espaço da educação escolar (quando e onde ensinar e aprender?); - avaliação (como e o que foi efetivamente ensinado e aprendido?)." Primeiramente é preciso entender o que seja interdisciplinaridade. Para melhor compreender esse conceito procurarei definir multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. 3-A INTERDISCIPLINARIDADE E O TRABALHO COM PROJETOS Multidisciplinar – trabalhamos a multidisciplinaridade quando elegemos um tema único a ser trabalhado com várias disciplinas. Neste caso recorremos à informação de várias matérias para estudar um determinado elemento, sem a preocupação de interligar as disciplinas entre si. Cada matéria contribui com informações pertinentes ao seu campo de conhecimento, sem uma real integração entre elas. Ultrapassa as fronteiras disciplinares, enquanto sua meta permanece nos limites do quadro de referência da pesquisa disciplinar. Interdisciplinar – quando as metodologias e conhecimentos de outras disciplinas podem ser utilizadas por professores de várias disciplinas. Aqui estabelecemos uma interação entre duas ou mais disciplinas. Há uma relação de reciprocidade, de mutualidade, um regime de co-propriedade, de interatividade, possibilitando o diálogo entre os interessados Transdisciplinar – não específico de uma disciplina, mas entre e além delas. Aqui a cooperação entre as várias matérias é tanta que não dá mais para separá-las, assim surge uma “macrodisciplina”. Para facilitar a transmissão e a absorção do conhecimento, os seres humanos dividiram o conhecimento em vários compartimentos, comumente chamados de disciplinas: Português, Matemática, Física, Química, História, Geografia, Artes, Filosofia, etc. Essas formas de classificação do conhecimento são artificiais, pois um problema geralmente nunca se encaixa unicamente dentro de uma só disciplina, daí a necessidade de se abordar um tema de forma integrada que envolva várias disciplinas. Essa organização curricular das disciplinas tem colocado-as como realidades estanques, fragmentadas e isoladas, dificultando a apropriação do conhecimento e a construção de uma visão contextualizada que vai permitir uma percepção sistêmica da realidade. Urge, portanto, pensar em uma proposta de educação interdisciplinar, organizando os currículos escolares de modo a possibilitar uma integração entre as disciplinas, que permitirá a construção de uma compreensão mais abrangente do saber, historicamente produzido pela humanidade. Aqui a necessidade de se reestruturar o tempo e espaço escolar, de construir uma grade curricular sem hierarquias. A educação hoje deve levar em consideração todas as dimensões do ser humano devido às mudanças que estão ocorrendo no mundo contemporâneo, tanto no campo econômico, quanto no campo cultural e no campo espiritual. Os quatro pilares onde deve fundamentar um novo tipo de educação, segundo a UNESCO[2] em relatório da Comissão internacional sobre a educação para o vigésimo primeiro século, 3 presidida por Delors são: Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver em conjunto e aprender a ser. A interdisciplinaridade pode ser uma importante contribuição para esse tipo de educação. O trabalho com projetos pode nos ajudar, e muito, no como trabalhar cientificamente e de forma interdisciplinar. Precisamos aprender a penetrar no âmago da abordagem científica e estabelecermos pontes entre as diferentes disciplinas, desenvolvendo a capacidade de conectar-se, adaptar-se às exigências da vida profissional com flexibilidade, e capacidade de atualizar-se constantemente, sempre com muita criatividade, e sabendo agir de forma cooperativa. Precisamos buscar uma educação dirigida para a totalidade do ser humano: intelectual e sensível, porque a inteligência assimila o conhecimento muito melhor e muito mais rapidamente quando esse conhecimento também é compreendido com o corpo e com o sentimento. Para tanto a escola deve estar livre de qualquer controle ideológico, político ou religioso, permitindo que o outro construa o seu conhecimento. A escola precisa adotar uma postura de neutralidade diante de todo e qualquer tema. O trabalho com projetos dentro da escola vai ensinar a todos: professores e alunos a trabalharem de forma interdisciplinar e cooperativa. Não tem receita. É só começar e o resto flui de forma surpreendente, porque todos aprendem com todos e é assim que vamos construir uma inteligência coletiva local, estabelecendo um diálogo entre as várias abordagens culturais, capaz de participar da inteligência coletiva planetária, através de interações em escala mundial. Para isso precisamos incentivar o desenvolvimento de todos os meios técnicos disponíveis, promovendo o domínio público da informação. Precisamos aprender a pensarcom clareza nas coisas e em seus contextos, com olhos no desenvolvimento industrial e na inovação tecnológica a fim de assegurar que suas aplicações não contradigam uma ética da responsabilidade perante outros seres humanos e o meio ambiente. A abordagem interdisciplinar é uma ciência e uma arte de dialogar. É interessante observar que a palavra inteligência em chinês é representada pelos ideogramas: cabeça e coração. E essa é a inteligência que buscamos hoje no ocidente: o equilíbrio entre o intelecto e o sensível, num diálogo entre a ciência e a arte, ou seja, a teoria e a prática. 4-Conceito e características da aprendizagem O formador é um facilitador de aprendizagem por isso tem como tarefa principal levar os formandos a aprender. Isto quer dizer que deve ser capaz de criar situações que favoreçam a aprendizagem. A aprendizagem é a capacidade de que quotidianamente necessitamos para responder adequadamente às diferentes solicitações e desafios que se nos colocam na nossa interacção com o meio. Será que existe um único tipo de aprendizagem, ou seja, aprende-se sempre da mesma maneira, independentemente do objectivo da aprendizagem? Por exemplo, durante um curso de formação quando se solicita aos formandos: que reproduzam um determinado conceito teórico; que a partir dos conceitos teóricos transmitidos resolvam um problema; que façam uma demonstração prática. Será que nas três situações apresentadas está presente o mesmo tipo de aprendizagem e serão os mesmos os processos cognitivos (mentais) em jogo? Para se conseguir realizar as diferentes tarefas constatamos que, provavelmente, existem vários tipos de aprendizagem e diferentes processos cognitivos. Para que o formador consiga cumprir a sua tarefa de facilitador de aprendizagem é necessário que compreenda o que se passa na cabeça do “sujeito que aprende”. Esta análise pode ajudá-lo a planificar a formação de modo a rentabilizar os processos internos intervenientes na aprendizagem. Com o intuito de auxiliar os utilizadores/futuros formadores a atingirem estes objectivos, o presente módulo vai abordar um conjunto de conceitos e reflexões sobre: conceitos e características da aprendizagem; teorias, modos/modelos/mecanismos de aprendizagem; processos, etapas e factores psicológicos da aprendizagem; fontes e métodos de motivação. O Conceito de aprendizagem A aprendizagem no seu todo encarada como acção educativa, tem como finalidade ajudar a desenvolver nos indivíduos as capacidades que os tornem capazes de estabelecer uma relação pessoal com o meio em que vivem (físico e humano), servindo-se para este efeito, das suas estruturas sensório-motoras, cognitivas, afectivas e linguísticas. 4 A aprendizagem está inevitavelmente ligada à História do Homem, à sua construção enquanto ser social com capacidade de adaptação a novas situações. Desde sempre se ensinou e aprendeu, de forma mais ou menos elaborada e organizada, já antes do início deste século existiam explicações para a aprendizagem, mas o seu estudo está intimamente ligado ao desenvolvimento da Psicologia enquanto ciência. Contudo, este estudo não se processou de forma uniforme e concordante. O estudo da aprendizagem centrou-se em aspectos diferentes, de acordo com as diversas correntes da Psicologia, e com as diferentes perspectivas que cada uma defendia. Destas teorias as que adquiriram maior relevo foram: as comportamentalistas (behavioristas) - a aprendizagem é vista como a aquisição de comportamentos expressos, através de relações mais ou menos mecânicas entre um estímulo e uma resposta, sendo o sujeito relativamente passivo neste processo; as cognitivistas – a aprendizagem é entendida como um processo dinâmico de codificação, processamento e recodificação da informação. O estudo da aprendizagem centra-se nos processos cognitivos que permitem estas operações e nas condições contextuais que as facilitam. O indivíduo é visto como um ser que interage com o meio e é graças a essa interacção que aprende; as humanistas - a aprendizagem baseia-se essencialmente no carácter único e pessoal do sujeito que aprende, em função das suas experiências únicas e pessoais. O sujeito que aprende tem um papel activo neste processo, mas a aprendizagem é vista muitas vezes como algo espontâneo. Estas diferentes perspectivas sobre a aprendizagem conduziram a diferentes abordagens e conceitos. No entanto, estas diferenças não devem ser encaradas como um problema, mas antes como uma vantagem, já que possibilita uma visão mais abrangente, não reduzindo a explicação da diversidade deste processo a uma única teoria. Actualmente a aprendizagem é vista como um processo dinâmico e activo, em que os indivíduos não são simples receptores passivos, mas sim processadores activos da informação. Todos os indivíduos à sua maneira e tendo em conta as suas características pessoais são capazes de “aprender a aprender”, isto é, capazes de encontrar respostas para situações ou problemas, quer mobilizando conhecimentos de experiências anteriores em situações idênticas, quer projectando no futuro uma “ideia” ou “solução” que temos no presente, interagimos com os estímulos (situações e problemas) de uma forma pessoal. 5- Dificuldades de aprendizagem Dificuldade de aprendizagem, por vezes referida como desordem de aprendizagem ou transtorno de aprendizagem, é um tipo de desordem pela qual um indivíduo apresenta dificuldades em aprender efetivamente. A desordem afeta a capacidade do cérebro em receber e processar informação e pode tornar problemático para um indivíduo o aprendizado tão rápido quanto o de outro, que não é afetado por ela. Características geraisA expressão é usada para referir condições sócio-biológicas que afetam as capacidades de aprendizado de indivíduos, em termos de aquisição, construção e desenvolvimento das funções cognitivas, e abrange transtornos tão diferentes como incapacidade de percepção, dano cerebral, disfunção cerebral mínima, autismo, dislexia e afasia desenvolvimental. No campo da Educação, as mais comuns são a Dislexia, a Disortografia e a Discalculia.Um indivíduo com dificuldades de aprendizagem não apresenta necessariamente baixo ou alto QI: significa apenas que ele está trabalhando abaixo da sua capacidade devido a um fator com dificuldade, em áreas como por exemplo o processamento visual ou auditivo. As dificuldades de aprendizagem normalmente são identificadas na fase de escolarização, por profissionais como psicólogos, através de avaliações específicas de inteligência, conteúdos e processos de aprendizagem.Embora a dificuldade de aprendizagem não seja indicativa do nível de inteligência, os seus portadores têm dificuldades em desempenhar funções ou habilidades específicas, ou em completar tarefas, caso entregues a si próprios ou se encarados de forma convencional. Estes indivíduos não podem ser curados ou melhorados, uma vez que o problema é crónico, ou seja, para toda a vida. Entretanto, com o apoio e intervenções adequados[1], esses mesmos indivíduos podem ter sucesso escolar e continuar a progredir em carreiras bem sucedidas, e mesmo de destaque, ao longo de suas vidas. 6- Tendencias pedagogicas A análise da prática pedagógica envolve referenciais amplos, como a compreensão da função social da educação escolar e a identificação das concepções de aprendizagem e ensino que lhe dão suporte.Como a função social atribuída à educação influencia a prática educativa? 5 . educar para conservar ou para transformar a sociedade faz diferença; . educar para formar cidadãos conformados à ordem estabelecida, ou para formar cidadãos críticos, faz diferença. Como as concepções de aprendizagem afetam a prática pedagógica? . acreditar que a aprendizagem é um processo puramente racional, que depende apenas do exercício e amadurecimento da razão (racionalismo, inatismo), ou perceber a aprendizagemcomo uma decorrência da captação dos conhecimentos por meio da experiência externa (empirismo), faz diferença no modo de organizar o ensino na escola; . acreditar que a aprendizagem provém da atividade mental do sujeito ao interagir com a realidade, ou da atividade do sujeito mediada por outros sujeitos socioculturais (cognitivismo, interacionismo, sociointeracionismo) leva as outras formas de organizar o ensino. Ao longo da história da educação, diferentes concepções de aprendizagem e diferentes funções atribuídas à educação geraram diferentes tendências ou teorias pedagógicas. Função social do ensino(intenções educativas) Concepções deaprendizagem Correntes / Tendências /Teorias Pedagógicas Ideologias subjacentes às tendências pedagógicas Organização do currículo Configuração de aspectos concretos do ensino Org. Tempo / Espaço Conteúdos Relação prof./alunoAgrupamentoAvaliação Na literatura educacional, vários autores desenvolveram estudos e se posicionaram acerca das tendências educacionais, classificado-as segundo suas ideologias subjacentes. O conhecimento dessas propostas pode ajudar os professores na identificação de critérios de análise e reformulação de sua prática. Entre os autores mais presentes na nossa formação podemos destacar: Palácios (1979), Saviani (1985) e Libâneo (1985). Palácios (1979) classificou as principais tendências contemporâneas para uma escola diferente entre três grandes grupos, de acordo com os aspectos envolvidos: aspectos didáticos (Escola Nova, aspectos de relacionamento (Antiautoritarismo) e aspectos sociopolíticos (Sócio-Política). Ao concluir o seu trabalho, o autor critica o parcialismo de cada uma dessas tendências, referindo-se à ilusão pedagógica da primeira (redução dos problemas da escola a problemas didáticos), a ilusão psicológica da segunda (redução dos problemas da educação a problemas de relações humanas no interior das instituições escolares) e à ilusão sociopolítica da última (tentativa de esgotar todos os problemas da escola com o conhecimento de sua função social). Palácios (1979) sugere a busca de uma perspectiva integradora que permita a abordagem do fator educativo como fator pedagógico de relacionamento sociopolítico (propõe uma análise dialética das questões educacionais). Saviani (1985) considera um primeiro grupo de teorias – pedagogia tradicional, pedagogia nova e pedagogia tecnicista – como teorias não críticas, por desconhecerem as determinações sociais do fenômeno educativo e pela abordagem técnica e neutra com que tratam as questões educacionais, atribuindo à escola um papel redentor de equalização social. Critica essa visão como ingênua e aponta um grupo de teorias no extremo oposto, as teorias crítico-reprodutivistas que atribuem à educação uma função de reprodução das desigualdades sociais. Ou seja, de um grupo que atribui um poder ilusório à escola remete a outro que enfatiza uma situação de impotência da mesma diante dos condicionantes sociais. Nesse impasse, posiciona-se em relação à escola como uma realidade histórica, isto é, suscetível de ser transformada intencionalmente pela ação humana. O desafio que apresenta é a busca de uma teoria crítica da educação que capte a escola como um instrumento capaz de contribuir para a superação do problema de marginalidade social. Libâneo (1985), por sua vez, utiliza como critério de classificação a posição que as tendências adotam em relação aos condicionantes sociopolíticos da escola, agrupando-se em dois grandes blocos: pedagogias liberais e pedagogias progressistas. Entre as liberais, inclui as tendências tradicional, renovada e tecniscista. Entre as progressistas, as tendências libertária, libertadora e crítico-social dos conteúdos. As pedagogias liberais, como o próprio nome indica, assumem princípios da doutrina liberal: liberdade, igualdade, respeito aos interesses individuais. O papel que assume a educação escolar no contexto das propostas de inspiração liberal é a preparação dos indivíduos para desempenhar diferentes papéis sociais de acordo com as suas aptidões. A função social da escola é, pois, a adaptação dos indivíduos à sociedade num sentido conservador. A ideologia liberal não tem um projeto de transformação social no sentido da equalização. Admite as diferenças de condições sociais como resultado das diferenças 6 individuais inatas: diferenças de dons e aptidões. Ocuparão as melhores posições, serão mais bem- sucedidos na vida social, os mais talentosos, os mais bem dotados, os mais esforçados. A tônica é posta no indivíduo e nos seus méritos pessoais (meritocracia). As pedagogias progressistas, contrariamente, partem da análise critica da realidade social. Vêem a educação como um mecanismo de transformação. A função da escola nesse contexto é a instrumentalização do educando para compreender a realidade social e atuar sobre ela num sentido transformador. Visam à inserção crítica do educando na realidade social. As correntes pedagógicas que se situam nessa perspectiva dão grande peso à igualdade, desenvolvendo propostas emancipatórias para todos. As diferenças invidivuais são compreendidas numa perspectiva de diferenças de universo socioculturais, justificando a diversificação do trabalho pedagógico em respeito às mesmas e, não, diferentes graus de aprendizagem e sucesso na escola. Considerando as classificações de Libâneo (1985) e Saviani (1985), podemos dizer que, no sistema educacional brasileiro, até a década 70 do século XX, predominam correntes pedagógicas de inspiração liberal conservadora ou não críticas: tendências tradicional, nova e tecnicista. Essas teorias de educação, ainda hoje, orientam e influenciam a prática pedagógica de muitos professores. No final de 70, as teorias crítico-reprodutivistas fizeram-se presentes no discurso educacional brasileiro especialmente no meio acadêmico. A década de 80 representou a reação a essa crítica extrema e a busca de alternativas para a construção deu uma educação pública de qualidade, fazendo emergirem teorias críticas autoritárias. Ganharam relevância, nesse momento, proposta como a pedagogia libertadora dos conteúdos socioculturais. O exame de algumas dessas teorias pode ser instrumental para a melhor compreensão da prática pedagógica e para a construção de projetos de educação bem fundamentados nas escolas. Teorias não críticas Pedagogia Tradicional A pedagogia tradicional baseia-se numa visão essencialista de homem, segundo a qual, todo homem é dotado de uma essência universal, apriorística e imutável (espírito, faculdades, razão), a qual deve ser realizada pela educação. Os homens são essencialmente iguais, as diferenças sociais entre ele se devem a diferenças de destino. A idéia de uma essência universal igual justifica o estabelecimento de esquemas lógicos predefinidos de educação, aos quais devem submeter-se todos os alunos. Ou seja, justifica a utilização do mesmo método, do mesmo ritmo, dos mesmos materiais e atividades para todos. As diferenças de resultados não levam ao questionamento do método (que se baseia na essência humana). Os fracassos e sucessos são da responsabilidade do aluno: decorrem de seu esforço, interesse, empenho nos estudos. Em outras palavras, do ponto de vista político, a ideologia que orienta essa tendência é conservadora (o destino é que define a posição de cada uma na sociedade); do ponto de vista da aprendizagem, a perspectiva é inatista: todos já nascem com uma essência; esta amadurece ao ser exercitada. Portanto, as capacidades superiores da inteligência (pensamento complexo, análise, síntese, julgamento) não são aprendidas, mas exercitadas. O modo de ensinar na escola tradicional reflete essas concepções: organizam-se os conhecimentos de cada disciplina a partir de uma lógica interna do mais simples para a mais complexo; estipulam-se programas para serem desenvolvidos por todos os alunos, emtempos determinados de acordo com a necessidade do professor para executá-los. Avaliam-se os resultados da aprendizagem com o objetivo de classificar os alunos, exercendo a educação uma função seletiva: identificação dos mais esforçados, dos mais interessados nos estudos, dos melhores (ver também verbete Avaliação Classificação no Dicionário Avaliação). Essa pedagogia sistematizou o modo como se desenvolve o ensino tradicional, ou seja, o ensino baseado na transmissão dos conteúdos culturais pelo professor: o método expositivo. O método expositivo se identifica com os passos formais de Herbat, levando ao seguinte desenvolvimento da aula: Apresentação do assunto (estimulação dos sentidos ver, ouvir, sentir a realidade); Associação (associar o novo com as idéias preexistentes); Sistematização (generalizar, organizar os conceitos); Aplicação (aplicar em situações práticas, exercitar). Os jesuítas foram os grandes difusores dessa pedagogia no Brasil. O método expositivo vulgarizou-se nos sistemas de ensino, reduzindo-se à fala do professor seguida de exercícios de fixação repetitivos. Ou 7 seja, no processo de difusão, o método perdeu as características que lhe davam um caráter de ensino sistemático, assumindo um caráter mecânico e repetitivo de condução do ensino. Pedagogia nova (ou renovadora, ou moderna) A pedagogia nova baseia-se numa visão existencialista de homem, segundo a qual, a natureza humana é moldada na existência, sendo o homem uma “tábua rasa” ao nascer. Indivíduos essencialmente diferentes exigem uma educação diferenciada, devendo predominar uma seqüência psicológica na organização do ensino. A abordagem dos fenômenos educacionais nessa vertente é de natureza predominantemente psicológica. À escola cabe suprir as experiências que permitem ao aluno educar-se, num processo ativo de construção e reconstrução do objeto, numa interação entre estruturas cognitivas do indivíduo e estrutura do ambiente. Essa perspectiva apresenta uma série de deslocamentos em relação à escola tradicional: do intelecto (lógico) para o sentimento, do esforço para o interesse, dos conteúdos para os métodos e processos de ensino. Segundo a proposta da escola nova, a educação deve apoiar-se nas Ciências Sociais e Humanas (Fisiologia, Biologia e Psicologia) e basear-se em princípios científicos. Educar-se para a vida, consistindo a educação integral do aluno no desenvolvimento de suas aptidões peculiares, de valores morais, de hábitos de higiene e saúde, vida cívica e social, literária e artística. O ensino é articulado com o método científico ou da descoberta, dando grande ênfase à atividade do aluno na solução de problemas. Podem-se identificar os seguintes passos na organização do ensino: . atividade (o ensino parte sempre de uma atividade que apresenta um desafio ao aluno); . problema a (atividade inicial leva à formulação de problemas); . levantamento de dados (levantamento dos dados disponíveis sobre a situação para subsidiar a formulação de hipótese de solução); . formulação de hipótese (que serão objeto de estudos pelos alunos); . confirmação ou rejeição das hipóteses. O ideário da escola nova difundiu-se entre os educadores brasileiros no século XX, especialmente a partir da década de 20, absorvendo sua ênfase psicológica (centrada nos métodos de aprendizagem, nos testes psicométricos) e sociológica (dinâmicas grupais, trabalho em grupo, agremiações, atividades sociais no interior da escola) que influenciaram especialmente a escola primária. Pedagogia tecnicista A partir dos anos 50, ganha força entre nós a influência behaviorista americana (comportamentalista), introduzindo alterações na organização da escola e o currículo, e culminando no tecnicismo que se instala oficialmente no sistema educacional brasileiro na década de 70, com a Lei n. 5.692/71. A intensificação da preocupação com os métodos levou à busca da eficiência instrumental. O eixo do ensino nessa perspectiva é a organização racional dos meios. Enquanto na escola nova os meios são controlados e definidos por professores e alunos, na tecnicista o processo racionalizado é que define o que farão professores e alunos, como e quando. Preocupação com a objetividade e a operacionalidade do ensino. Aqui o pressuposto é de que a maior produtividade do indivíduo (capital cultural individual) conduz à maior produtividade da sociedade (visão desenvolvimentista). A educação subordina-se à sociedade (reduzida a mercado) em sua função de formar recursos humanos (mão-de-obra) em primeiro lugar e não seres humanos plenos, cidadãos. É o que alguns autores vão chamar de visão produtivista da educação. Em termos da concepção de aprendizagem, a perspectiva empirista predomina nessa proposta, tendo como postulado básico que o conhecimento é produto da experiência exterior. Essa concepção coloca em relevo o objeto, os estímulos externos, a pressão do ambiente e, em plano secundário, a atividade do sujeito que conhece. O behaviorismo apóia suas investigações numa base empirista e chega a definir a aprendizagem como mudança de comportamento resultante do treino ou da experiência. Nessa perspectiva, a aprendizagem identifica-se com o condicionamento (reações a estímulos que podem ser previstas, medidas e controladas). O sujeito que aprende é um receptáculo de informações, passível de ser moldado (objeto e não sujeito). A aprendizagem, resultando da experiência externa, não precisa das significações do sujeito, nem de sua atividade organizativa. O que garante a aprendizagem é o ensino baseado em práticas pedagógicas que submetem os alunos à autoridade do professor, dos livros, dos exercícios programados, das avaliações. 8 Essa perspectiva conduz à crescente burocratização da escola, à fragmentação e à especialização do trabalho docente e ao reinado dos materiais instrucionais, reduzindo o papel do professor à administração de um sistema de instrução concebido por especialistas. Teorias Críticas Teorias crítico-reprodutivistas O cunho economicista da abordagem educacional dos anos 70 (visão produtivista da educação, propostas tecnicistas de organização da educação), gerou análises educacionais de fundamentação marxista, que colocam em discussão a relação escola-sociedade numa perspectiva de profunda crítica à escola como reprodutora das desigualdades sociais. As teorias crítico-reprodutivistas – teoria da escola/aparelho ideológico do Estado, Althusser (1974); teoria da violência simbólica, Bourdieu e Passeron (1975); teoria da mistificação pedagógica, Charlot (1979); teoria da escola dualista, Baudelot e Establet (1980) – preocuparam-se em explicar o funcionamento da escola tal como este ocorre na sociedade capitalista. Não apresentaram propostas pedagógicas, mesmo porque não viam a escola como instrumento de luta pela transformação social. Essas teorias tiveram como principais conseqüências no meio educacional: . colocaram em evidência o comprometimento da escola com os interesses do grupo dominante (escola dual: escola de natureza e qualidade diferenciadas para o povo e para as elites; escola excludente: instrumento de discriminação social e de legitimação do sucesso dos já favorecidos ); . disseminaram um pessimismo desmobilizador entre os educadores (especialmente da escola pública), levando-os a sentirem-se impotentes diante dos condicionadores sociais e a descreverem da força- educativa. Teorias críticas emancipatórias Se não é do interesse da classe dominante transformar radicalmente a escola, essa proposta deverá partir daqueles que lutam pelos interesses dos dominados, e foi essa busca que movimentou os educadores na década de 80: luta contra a seletividade, a discriminação, o rebaixamento do ensino das camadas populares. Na busca de saídas teórico-práticas para o impasse criado pela visão da escola como instância reprodutora da sociedade capitalista Dermeval Saviani, Luís AntônioCunha, Guiomar Namo de Mello e outros que se destacaram na época parecem ter encontrado em Gramsci seu grande inspirador. Com Gramsci, a escola recupera seu potencial da mudança como espaço contraditório em que se encontram em permanente conflito os interesses dos grupos dominantes e a luta emancipatória dos grupos historicamente subalternizados. A tendência democrática, intrinsecamente, não pode consistir apenas em que um operário manual se torne qualificado, mas em que cada “cidadão” possa se tornar “governante” e que a sociedade o coloque, ainda que “abstratamente”, nas condições gerais de poder fazê-lo; a democracia política tende a fazer coincidir governantes e governados (no sentido de governo com o consentimento dos governados), assegurando a cada governo a aprendizagem gratuita das capacidades e da preparação técnica geral necessárias ao fim de governar. (GRAMSCI, 1979, p. 137). Neste momento, ganham espaço tendências pedagógicas impregnadas de uma visão crítica e transformadora de educação, voltadas para o desenvolvimento humano e/ou para os interesses populares numa perspectiva emancipatória. Seus teóricos reconhecem tanto o papel ativo do educador na transformação da sociedade quanto os condicionantes histórico-sociais de sua prática (daí sua criticidade). Educação como uma instância dialética que serve a um projeto de sociedade. Instância mediadora que pode mediar tanto a conservação quanto a mudança. O projeto que realiza é definidor nesse sentido. Incluem-se nessa perspectiva progressista ou transformadora proposta não-formais como a Libertadora (Paulo Freire) e a Libertária (defensores da auto-gestão pedagógica). No plano da educação escolar formal, destaca-se a proposta crítico-social dos conteúdos que acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto com as realidades sociais. Pedagogia Libertária (autogestionários) A pedagogia libertária espera que a escola exerça uma transformação na personalidade dos alunos num sentido libertário e autogestionário. A escola instituirá, com base na participação grupal, mecanismos institucionais de mudança (assembléias, conselhos, eleições, reuniões, associações, etc), de tal forma que o aluno, uma vez atuando nas instituições externas, leve para lá tudo o que aprendeu. A autogestão é o conteúdo e o método. Há um objetivo pedagógico e um objetivo político. 9 A relação professor/aluno é de não diretividade. Educar na liberdade exige, também, a utilização de métodos de ensino-aprendizagem não impositivos, não coercitivos, que se baseiam nas investigações livres dos alunos, que quebrem pela raiz a velha transmissão do saber de cima para baixo. O professor é mais um facilitador da aprendizagem e animador do grupo à disposição dos alunos. Se a classe tradicional era a negação da palavra, da comunicação e das inter-relações, o grupo institucional se transforma em meio de diálogo, de mudanças e de intercâmbios, e o professor considera- se mais um técnico em organização de atividades grupais e um especialista em relações humanas do que um professor interessado em determinados conteúdos, em fazer adotar uma ou outra postura. Pedagogia Libertadora Na perspectiva libertadora de Paulo Freire, somente o processo de conscientização pode libertar o homem da alienação, da manipulação ideológica, da dominação de uma estrutura social determinada. A educação libertadora questiona concretamente a realidade das relações do homem com a natureza e com os outros homens, visando a uma transformação. A produção pedagógica de Paulo Freire apresenta dois momentos: o primeiro, de cunho idealista, acreditava na educação como o motor de transformação social; o seguinte, mais dialético, discute social, numa perspectiva de contradição. Assume a educação como um processo de diálogo, por meio do qual educador e educando problematizam o seu estar no mundo e suas visões sobre o mundo. Os conteúdos do ensino, denominados temas geradores, são extraídos da problematização da prática de vida dos educandos. A forma de trabalho educativo é o grupo de discussão, ao qual cabe gerir a aprendizagem tendo o professor o papel de animador, problematizador e de organizador das situações de ensino e aprendizagem significativas. Aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta e só tem sentido se resulta de uma aproximação crítica dessa realidade. Conhecer é um processo ativo e interativo. Educação crítica não é substituir os conceitos básicos das disciplinas por política, mas politizar o conteúdo das disciplinas a serem ensinadas e aprendidas (apropriadas). Pedagogia crítico-social dos conteúdos (ou dos conteúdos socioculturais) Reconhece e afirma o papel fundamental da escola na socialização do saber, patrimônio cultural da humanidade de conteúdos abstratos e formais, mas da socialização de conceitos significativos, concretos, ligados às realidades sociais; conteúdos escolares que tenham ressonância na vida sociais dos alunos. Nessa perspectiva emancipatória, reunindo elementos das diversas tendências, mais especialmente da libertadora e da crítico-social, podemos identificar as seguintes características nos componentes da prática educativa: . objetivos da educação: socialização dos conhecimentos; problematização da prática; . conteúdos escolares: conteúdos culturais relacionados à prática social, abordados de forma contextualizada, objeto de apropriação crítica; . metodologia: de uma visão sincrética (fragmentadas, confusa), por uma visão analítica (mediada pelo professor), para uma visão sintética; processos que garantam uma relação de continuidade entre o universo cultural do aluno e os conteúdos do ensino; metodologia dialética; . professor: mediador, orientador do processo de conhecimento; sujeito que aprende no processo de ensinar; investigador, pesquisador, ser contextualizado; . aluno: sujeito da aprendizagem, ser sociocultural; . relação professor/aluno: de respeito-mútuo, dialógica; vínculo emancipatório ou libertador; . relação professor/aluno/conteúdo: (conhecimento): interativa, mediana, não-linear, dialógica; . relação escola/sociedade: a escola reflete as contradições sociais; necessidade de explicitação das contradições para superá-las; . avaliação: acompanhamento do desenvolvimento do aluno; regulação do processo ensino- aprendizagem; comprovação do progresso do aluno na direção de um saber mais elaborado. Com o objetivo de ajudar o professor a situar-se no contexto dessas teorias educacionais procuramos traduzir, de forma esquemática (QUADRO 1), as configurações que assumem alguns elementos da prática educativa sob a influência das tendências mais presentes no nosso sistema educacional ao longo do século XX. 10 QUADRO 1 Tendências pedagógicas X práticas educativas Tendências Tradicional Papel do Professor Implementar ações Vigiar / Corrigir Aconselhar Papel do Aluno Memorizar conhecimento ouvir c/ atençãoFazer exercícios Conteúdos Escolares Fatos e conceitos científicos das disciplinas escolares Metodologia Didática Exposição oral pelo professor Função de Avaliação SelecionarClassificarContabilizar Renovada / Nova Facilitar a aprendizagem Coordenar atividade Apoiar Participar ativamente Pesquisar Demonstrar curiosidade Temas de interesse do aluno Temas da vida Descoberta pelo aluno Passos do método científico Acompanhar o processo de desenvolvimento do aluno Tecnicista Implementar ações Aplicar materiais instrucionaisControlar Dar respostas programadas Reagir a estímulos externos FatosConceitos Princípios científicos fragmentados Aplicação de materiais instrucionais pelo professor Medir Controlar Libertadora Crítico- social Mediar a construção do conhecimento Provocar, desafiar, problematizar Criar situações de aprendizagem Pensar, refletir Interpretarexperiências, vivências Buscar informações Pensar, refletir, interpretar experiências, vivências. Buscar informações Processar informações, fatos, conceitos, princípios, normas, procedimentos, valores, atitudes Conhecimentos científicos e experiências socioculturais vistos de forma globalizada Diálogo Construção coletiva do conhecimento Interações entre os sujeitos no processo de conhecimento Diagnosticar e regular as aprendizagens Orientar as intervenções pedagógicas Acompanhar o desenvolvimento do aluno Teorias “pós-críticas” Os anos 90 trouxeram uma nova perspectiva de abordagem das questões educacionais. Sem perder de vista a característica crítica, foram incorporadas outras categorias de análise ao campo educacional, reconhecido como um espaço epistemológico social (SILVA, 1999), em que é importante identificar as conexões entre saber, identidade e poder. Assim como as teorias críticas deslocaram a ênfase dos conceitos pedagógicos de ensino, aprendizagem, métodos didáticos, para os conceitos políticos e conscientização, libertação, prática social, as teorias pós- críticas vieram trazer um novo deslocamento na direção de conceitos como subjetividade, intersubejtividade, multiculturalismo, diversidade, identidade, gênero, etnia, representação (ver Dicionário de Educação Inclusiva). 11 As teorias educacionais, sustentadas tradicionalmente pela Biologia e pela Psicologia (final do século XX, início do século XXI), passaram a receber influência também da Sociologia e, no período de 50 a 70 do século XX, sofreram significativo viés desenvolvimentista e economicista, chegando nos anos 80, e mais especificamente na década de 90, a rever suas disposições em função de uma visão antropológica. É sobretudo a antropologia que vem obrigar os educadores a pensar os alunos como sujeitos socioculturais, portadores de subjetividades construídas no entrecruzamento de influências globais e particulares, devendo ser as diferenças objeto de respeito e, por outro lado, de questionamento em função de suas condições de produção numa sociedade desigual. Nesse contexto de influências de múltiplos campos do saber é que hoje pensamos a educação. Tendências / teorias pedagógicas x Práticas escolares O modo como os professores realizam o seu trabalho, selecionam os conteúdos das disciplinas, organizam os tempos e os espaços escolares, orientam as atividades dos alunos e definem instrumentos de avaliação indicam as intenções educativas e as concepções de aprendizagem que os orientam. Observando nossas práticas escolares, encontraremos evidências da presença de elementos das várias teorias pedagógicas nas mesmas, nem sempre inseridos de forma coerente à intencional: resultam daquilo que incorporamos em nossa passagem pela escola como alunos, das trocas com os colegas de profissão, de prescrições dos livros didáticos, dos cursos de formação e de soluções empíricas geradas no dia-a-dia da sala de aula. Identificar as ideologias subjacentes às próprias práticas, posicionando-se coletivamente sobre elas, é um passo importante no processo de autoconhecimento das escolas que desejam construir seu próprio caminho. Construir o seu Projeto Político Pedagógico é o grande desafio das escolas hoje e este projeto não se constrói sem uma consciência crítica e coletiva da direção que se deseja tomar. Educar para conservar ou transformar? Formar cabeças cheias ou cabeças bem feitas? A reflexão conjunta sobre questões dessa natureza é fundamental à organização curricular. A (re) construção da escola interpenetra o processo de formação sem serviço do seu grupo de educadores. Inúmeros professores da escola pública que se ocupam hoje de uma pedagogia e conteúdos socioculturais, articulada com a adoção de métodos que garantam a participação do aluno em um processo de aprendizagem significativa, avançam na construção de uma nova escola. Projetos de educação pública como a Escola Plural da PBH, a Escola Cidadã da Prefeitura de Porto Alegre, a Escola Sagarana do Estado de Minas Gerais, inserem-se numa perspectiva de educação democrática e inclusiva, pelo seu comprometimento com a construção de um ensino de qualidade para todos. Coerentes com esse propósito, buscam formas alternativas de desenvolver o processo ensino aprendizagem, fundamentadas em teorias da aprendizagem de base construtivista, interacionista e sociointeracionista (ver também verbete Aprendizagem, Dicionário Avaliação), de forma a garantir a todos os alunos o lugar de sujeitos do processo de conhecimento, promovendo o desenvolvimento de sua criticidade e de sua autonomia moral e intelectual, necessárias à construção de identidades cidadãs, conscientes de seus direitos e deveres. 7-As Relações Entre Desenvolvimento e Aprendizagem Para Piaget e Vygotsky As diferenças entre Piaget e Vygotsky parecem ser muitas, mas eles partilham de pontos de vista semelhantes. Ambos entenderam o conhecimento como adaptação e como construção individual e concordaram que a aprendizagem e o desenvolvimento são auto-regulados. Discordaram quanto ao processo de construção, ambos viram o desenvolvimento e aprendizagem da criança como participativa, não ocorrendo de maneira automática. Estavam preocupados com o desenvolvimento intelectual, porém cada um começou e perseguiu por diferentes questões e problemas. Enquanto Piaget estava interessado em como o conhecimento é construído, e com isso, a teoria é um acontecimento da invenção ou construção que ocorre na mente do indivíduo, Vygotsky estava interessado na questão de como os fatores sociais e culturais influenciam o desenvolvimento intelectual. 1. INTRODUÇÃO 12 Piaget escreveu sobre a interação entre indivíduo e meio constituída através de dois processos: organização interna das experiências e adaptação ao meio. Piaget não deu ênfase aos valores sociais e culturais no desenvolvimento da inteligência, pressupostos escritos por Vygotsky Lev Semenovich Vygotsky estudou sistematicamente a psicologia e seu projeto principal foi os processos de transformação do desenvolvimento na dimensão filogenética, histórico social e ontogenético. As diferenças entre os dois autores parecem ser muitas, mas eles partilham de pontos de vista semelhantes. Ambos entenderam o conhecimento como adaptação e como construção individual e compreenderam a aprendizagem e o desenvolvimento como auto-regulados. Discordaram quanto ao processo de construção desse conhecimento, ambos viram o desenvolvimento e a aprendizagem da criança como participativa, não ocorrendo de maneira automática. A criança transforma aquilo que aprende de acordo com sua capacidade interna e nata, tornando-se transformadora da aprendizagem, criadora, se essa capacidade de aprendizagem e oportunidade lhe for oferecida. Vygotsky e Piaget estavam preocupados com o desenvolvimento intelectual, porém cada um começou e perseguiu por diferentes questões e problemas. Piaget estava interessado em como o conhecimento é adquirido ou construído, onde a teoria é um acontecimento da invenção ou construção que ocorre na mente do indivíduo, Vygotsky estava preocupado com a questão de como os fatores sociais e culturais influenciam o desenvolvimento intelectual. A teoria de Vygotsky é uma teoria de transmissão do conhecimento da cultura para a criança, os indivíduos interagem com agentes sociais mais lecionados, como professores e colegas. As crianças constroem e internalizam o conhecimento que esses seres instruídos possuem. Enquanto que Piaget, não acreditava que a transmissão direta desse tipo fosse viável. Para ele as crianças adquirem uma forma própria de se desenvolver no social, mediante a construção pessoal desse conhecimento. Piaget aprovou a construção individual como singular e diferente, embora comumente ligada e próxima daquela da cultura, com isso a criança tem achance de errar e construir. Vai ocorrendo períodos de desequilibração para uma nova sustentação de bases. Sabemos que muitos indivíduos estão estacionados em algumas etapas de desenvolvimento e isso é refletido no dia-a dia, com um jeito particular de pensar. Em relação à aprendizagem e desenvolvimento, assunto deste estudo, tanto Vygotsky como Piaget, acreditavam no desenvolvimento e aprendizagem, embora, seus pontos de vista sobre o relacionamento sejam diferentes. Vygotsky tinha a idéia de que a aprendizagem é a força propulsora do desenvolvimento intelectual, enquanto que para Piaget o próprio desenvolvimento é a força propulsora.. Piaget tinha a concepção de que o nível de desenvolvimento colocava limites sobre o que podia ser aprendido e sobre o nível da compreensão possível daquela aprendizagem, onde cada pessoa tem um ritmo, não podendo ir além daquele estádio adquirido. Vygotsky chamou de zona de desenvolvimento potencial e zona de desenvolvimento proximal. A zona de desenvolvimento potencial é o nível de desenvolvimento em que os estudantes são capazes de solucionar problemas de forma independente, enquanto que a zona de desenvolvimento proximal é o nível em que os estudantes podem resolver problemas com “apoio”(Lester 1994, p.4), ou seja, com a modelação do conhecimento e a interação social, os estudantes podem aprender coisas que não aprendiam sozinhos. Piaget coloca que a nova construção é sempre realizada sobre uma construção anterior e que, com a desiquilibração, é sempre possível o avanço das construções anteriores. Os fatores sociais, para Vygotsky desempenham um papel fundamental no desenvolvimento intelectual. A cultura estabelece um conhecimento que é internalizado e construído pelas crianças. As crianças por sua vez vão tornando-se indivíduos com funções e habilidades intelectuais. Piaget, por sua vez, reconheceu infinitamente o papel dos fatores sociais no desenvolvimento intelectual. As interações sociais foram consideradas como uma fonte do conflito cognitivo, portanto, de desequilibração e, conseqüentemente, de desenvolvimento. Ou seja, também desta forma, são consideradas para a construção do conhecimento social. 2. O papel da linguagem no desenvolvimento intelectual para Vygotsky e Piaget A diferença mais nítida entre os dois teóricos, é referente ao papel da linguagem no desenvolvimento intelectual. Vygotsky trata a aquisição da linguagem do meio social como o resultado entre raciocínio e pensamento em nível intelectual. Piaget considerou a linguagem falada como manifestação da função simbólica, quando o indivíduo emprega a capacidade de empregar símbolos para representar, o que 13 reflete o desenvolvimento intelectual, mas não o produz (Fowler 1994). Piaget considerou a linguagem como facilitadora, mas não como necessária ao desenvolvimento intelectual. Para Piaget, a linguagem reflete, mas não produz inteligência. A única maneira de avançar a um nível intelectual mais elevado não é na linguagem com suas representações, e sim, através da ação. (Fowler 1994, p.8). Vygotsky (1987) faz uma diferenciação entre processos psicológicos, superiores rudimentares e processos psicológicos avançados. Nos primeiros, ele colocaria a linguagem oral, como processo psicológico superior adquirido na vida social mais extensa e por toda a espécie, e sendo produzido pela internalização de atividades sociais, através da fala. A interação e a linguagem têm um importante destaque no pensamento de Vygotsky, uma vez que irão contribuir no desenvolvimento dos processos psicológicos, através da ação. Vygotsky substituiu os instrumentos de trabalho por instrumentos psicológicos, explicando desta forma, a evolução dos processos naturais até alcançar os processos mentais superiores, por isso, a linguagem, instrumento de imenso poder, assegura que significados lingüisticamente criados sejam significados sociais e compartilhados. Vygotsky atribui importância a linguagem, pois além da função comunicativa, ela é essencial no processo de transição do interpessoal em intramental; na formação do pensamento e da consciência; na organização e planejamento da ação; na regulação do comportamento e, em todas as demais funções psíquicas superiores do sujeito, como vontade, memória e atenção. 3. As implicações do desenvolvimento para Piaget e Vygotsky Tomando o ponto de vista educacional, as duas teorias divertem. Embora Vygotsky e Piaget considerassem o conhecimento como uma construção individual, para Vygotsky toda construção era mediada pelos fatores externos sociais. Isto é, o professor e o programa institucional devem modelar ou explicar o conhecimento. Dessa forma, a criança constrói o seu próprio conhecimento interno a partir do que é oferecido. A criança não inventa, mas rememora, copia o que está socialmente exposto e a disposição. A sociedade atribui a isto, um processo de transmissão de cultura, e com isso o facilitador ou professor é o instrutor da criança. Assim, o trabalho do agente é, entre outras coisas, modelar cuidadosamente o conhecimento. Piaget considerou a construção do conhecimento como um ato individual da criança. Os fatores sociais influenciam a desequilibração individual através do conflito cognitivo e apontam que há construção a ser feita. A verdadeira construção do conhecimento não é medida, no sentido vygotskiano, pelo fator social e ambiente; ele não é copiado de um referencial e modelo. O conhecimento anterior é reconstruído diante da desiquilibração socialmente provocada e estimulada. O papel do professor é visto basicamente como o de encorajar, estimular e apoiar a exploração, a construção e invenção. “É óbvio que o professor enquanto organizador permanece indispensável no sentido de criar as situações e de arquitetar os projetos iniciais que introduzam os problemas significativos à criança. Em segundo lugar, ele é necessário para proporcionar contra-exemplos que forcem a reflexão e a reconsideração das soluções rápidas. O que é desejado é que o professor deixe de ser um expositor satisfeito em transmitir soluções prontas; o seu papel deveria ser aquele de um mentor, estimulando a iniciativa e a pesquisa”. Piaget. (1973. p16). Nas obras de Piaget, a criança pode utilizar as fontes e formas de informação no processo de construção. A criança pode ativamente ouvir uma exposição ou ler um livro e empregar a informação recebida na construção. O processo não é o de recriar um modelo, mas o de inventá-lo. 4. A interação social no desenvolvimento e aprendizagem escolar para Piaget e Vygotsky Para Vygotsky (1998), a aprendizagem não começa na escola, que toda situação de aprendizagem escolar se depara sempre com uma história de aprendizagem prévia. Vygotsky retoma o tema da zona de desenvolvimento proximal e sua relação com a aprendizagem. Tanto para Piaget como para Vygotsky, o ambiente da sala de aula requer interação social, embora por circunstâncias distintas. Para Vygotsky, o ambiente social é a fonte de modelos dos quais as construções devem se aproximar. É a fonte do conhecimento socialmente construído que serve de modelo e media as construções do indivíduo. A aprendizagem, e o desenvolvimento são adquiridos por modelos e, claro, pela motivação da criança. Para Piaget, a interação com os colegas e adultos. Vygotsky coloca que no cotidiano das crianças, elas observam o que os outros dizem, porque dizem, o que falam, porque falam, internalizando tudo o que é observado e se apropriando do que viu e ouviu. Recriam e conservam o que se passa ao redor. Em função desta constatação, Vygotky afirma que a 14 aprendizagem da criança se dá pelas interações com outras crianças de seu ambiente, que determina o que por ela é internalizado. A criança vai adquirindo estruturas lingüísticas e cognitivas, mediado pelo grupo. 5. O desenvolvimento cognitivo para Vygotsky e Piaget Segundo Piaget (1987), a origem do desenvolvimentocognitivo dá-se do interior para o exterior, ocorrendo em função da maturidade da pessoa. O autor considera que o ambiente poderá influenciar no desenvolvimento cognitivo, porém sua ênfase recai no papel do ambiente para o desenvolvimento biológico, ressaltando a maturidade do desenvolvimento. A abordagem de Vygotsky se contrapõe a de Piaget, o desenvolvimento é de fora para dentro, através da internalização. Vygotsky afirma que o conhecimento se dá dentro de um contexto, afirmando serem as influências sociais mais importantes que o contexto biológico. Resumindo, para a teoria vygotskiana, o desenvolvimento ocorre em função da aprendizagem, ao contrário do pensamento de Piaget que assegura ser a aprendizagem uma conseqüência do desenvolvimento. Ex: interação e troca com outras crianças e do adulto como modelo. O desenvolvimento cognitivo para Piaget, é o de equilibração, existiria uma interação entre o indivíduo e o meio, ligados com outros fatores como experiências, genética, maturação biológica, formando os esquemas, a assimilação, a acomodação, a adaptação e a assimilação. Parte II- Relação desenvolvimento e aprendizagem para Piaget e Vygostky 1. Desenvolvimento proximal e desenvolvimento real para Vygotsky Para Vygotsky (1987), a zona de desenvolvimento proximal representa o espaço entre o nível de desenvolvimento real, ou seja, aquele momento, onde a criança era apta a resolver um problema sozinha, e o nível de desenvolvimento potencial, a criança o fazia com colaboração de um adulto ou um companheiro. A referência da zona de desenvolvimento proximal implica na compreensão de outras idéias que completa a idéia central, tais como: a)O que a criança consegue hoje com a colaboração de uma pessoa mais especializada, mais tarde poderá realizar sozinha. b)A criança consegue autonomia na resolução do problema, através da assistência e auxílio do adulto, ou por outra criança mais velha, formando desta forma uma construção dinâmica entre aprendizagem e desenvolvimento. c)Segundo Vygotsky (1987), a aprendizagem acelera processos superiores internos que são capazes de atuar quando a criança encontra interagida com o meio ambiente e com outras pessoas. O autor ressalta a importância de que esses processos sejam internalizados pela criança. Vygotsky colocou que “as funções mentais superiores são produto do desenvolvimento sócio-histórico da espécie, sendo que a linguagem funciona como mediador”. Lima (1990), por isso que a sua teoria ficou conhecida como sócio-interacionista. Não se pode ignorar o papel desempenhado pelas crianças ao se relacionarem e interagirem com outras pessoas, que sejam professores, pais e outras crianças mais velhas e mais experientes. A mediação é a forma de conceber o percurso transcorrido pela pessoa no seu processo de aprender. Quando o professor, se utilizando a mediação, consegue chegar a zona de desenvolvimento proximal, através dos “porquês” e dos “como”, ele pode atingir maneiras através das quais a instrução será mais útil para a criança. Desta forma, o professor terá condições de não só utilizar meios concretos, visuais e reais, mas, com maior propriedade, fazer uso de recursos que se reportem ao pensamento abstrato, ajudando à criança a superar suas capacidades. 2. Desenvolvimento e aprendizagem para Piaget Ao elaborar a teoria psicogenética, Piaget procurou mostrar quais as mudanças qualitativas por quais passa a criança, desde o estágio inicial de uma inteligência prática (período sensório-motor), até o pensamento formal, lógico-dedutivo, a partir da adolescência. A adaptação do sujeito vai ocorrendo, de maneira que é necessário investigar. Para que esta adaptação se torne abrangente, é necessário investigar como esses conhecimentos são adquiridos. Este questionamento é o interesse principal da epistemologia genética. Dolle (1993). Segundo Piaget, o conhecimento não pode ser aceito como algo predeterminado desde o nascimento ou de acordo com a teoria inatista, nem resultado do simples registro de percepções e informações como 15 comenta o impirismo. Resulta das ações e interações do sujeito com o ambiente onde vive. Todo o conhecimento é uma construção que vai sendo elaborada desde a infância, através da interação sujeito com os objetos que procura conhecer, sejam eles do mundo físico ou cultural. Os objetos do conhecimento têm propriedades e particularidades que nem sempre são assimiladas pela pessoa. Por isso, uma criança que já construiu o esquema de sugar, com maior facilidade utiliza a mamadeira, mas terá que modificar o esquema para chupeta, comer com colher, etc. Também será mais fácil para essa criança, ela já tem esquemas assimilados. A este processo de ampliação ou modificação de um esquema de assimilação. Piaget chamou de acomodação, embora seja estimulado pelo objeto, é também possível graças à atividade do sujeito, pois é este que se transforma para a elaboração de novos conhecimentos. Com sucessivas aproximações, construindo acomodações e assimilações, completa-se o processo a que Piaget chamou de adaptação. A cada adaptação constituída e realizada, o esquema assimilador se torna solidificado e disponível para que a pessoa realize novas acomodações. O que promove este movimento é o processo de equilibração, conceito central na teoria construtivista. Diante de um estímulo, o indivíduo pode olhar como desafio, uma suposta falta no conhecimento, faz com que a pessoa se “desequilibra” intelectualmente, fica curioso, instigado, motivado e, através de assimilações e acomodações, procura restabelecer o equilíbrio que é sempre dinâmico, pois é alcançado por meio de ações físicas e também mentais. O pensamento vai se tornando cada vez mais complexo e abrangente, interagindo com objetos do conhecimento cada vez mais diferentes e abstratos. A educação é um processo necessário, é importante considerar o principal objetivo da educação que é autonomia, tanto intelectual como moral. A criança vai usando o sistema, pela sua própria estrutura mental, que Piaget destaca, a lógica, a moral, a linguagem e a compreensão de regras sociais que não são inatas, que não são impostas de dentro para fora e sim construídas pelo sujeito ao longo do desenvolvimento, através de estágios diferentes um do outro. A afetividade está correlacionada a esta inteligência e desempenha papel de uma fonte energética da qual dependeria o funcionamento da inteligência. ”A afetividade pode ser a causa de acelerações ou retardos no desenvolvimento intelectual e que ela própria não engendra estruturas cognitivas, nem modifica as estruturas do funcionamento nas quais intervém” Dolle (1993), Discussão Tanto Piaget como Vygotsky estavam preocupados com a questão do desenvolvimento e cada um buscou formas diferentes e complementares para elaboração das estruturas mentais e formação de esquemas. Para Piaget o conhecimento é construído, como forma de constituição individual, enquanto que Vygotsky comentou os fatores sociais, históricos e culturais influenciáveis no desenvolvimento. A teoria de Vygotsky trata o indivíduo como um agente e o meio, é externo, com isso, os indivíduos interagem com o social, com colegas e mediadores. Através disso, as crianças internalizam e constroem o conhecimento, sob influência desse meio e como são passados os conhecimentos. Piaget não desconsiderava que o conhecimento é influenciado pelo externo, como muitos pensam, apenas acreditava que a criança adquire esses modelos externos, através da cultura, história e modelo social, mas ao mesmo tempo tem uma influência constitucional única que a ajuda ou dificulta a construir seu conhecimento. Para Piaget a construção do conhecimento individual é única, a criança tem chance de errar e construir, para haver desequilíbrio necessário para novas aquisições. O facilitador deve investigar, reforçando, para que não ocorram falhas no processo de conhecimento etambém pra que não ocorra desgaste demasiado, sem medição. Quando a criança estiver “congelada” no desenvolvimento, cabe ao facilitador, mostrar o caminho para a aprendizagem. Muitas vezes, a criança sozinha “não dá conta” de suas próprias experimentações. Para Vygotsky, a aprendizagem é a força propulsora do desenvolvimento intelectual, enquanto que para Piaget, o próprio desenvolvimento é a força propulsora. As duas concepções sobre aprendizagem devem ser complementares, não adianta acreditar unicamente na constituição do próprio sujeito, e nem contar com meios externos. Deve haver senso de percepção para perceber o que a criança necessita no momento, a utilização inerente de construção ou uma espera do meio, por isso a utilização dos dois processos deve ser considerada. 16 Para Piaget o nível de desenvolvimento colocava limites sobre o que podia ser aprendido e sobre o nível de compreensão possível daquela aprendizagem, não podendo, a pessoa ir além do seu ritmo. Não adiantaria irem além do ritmo da criança, de maneira tradicional ou simplista. O que resultaria num bloqueio na aprendizagem. Se a criança não consegue ir além do que lhe é permitido mentalmente, cabe observar e usar técnicas para que esse desenvolvimento ocorra, com ajuda externa, e colocações de questões para a própria criança perceber onde está, dentro do que lhe é cobrado, exigido. Seria uma troca de meios para que esse desenvolvimento ocorra, fatores internos e externos intercalando-se. Porém, dependendo do nível intelectual da constituição mental, pode não haver um potencial para as novas acomodações. Vygotsky chamou de zona de desenvolvimento potencial e zona de desenvolvimento proximal, uma forma seria sem apoio na resolução de problemas e a outra forma, é a forma em que os indivíduos podem resolver os problemas com apoio, ou seja, com a modelação de conhecimento e a interação do meio social, os indivíduos podem adquirir conhecimentos que antes não podiam. A desequilibração é sempre possível para as construções anteriores. É necessário errar, para ocorrer o conhecimento. Não são somente as desequilibrações anteriores que podem ser desenvolvidas, mas as “superiores”, se existe a pessoa que oferece orientação para o indivíduo, ele acaba por superar, para poder ir aonde quer chegar. Na medida em que o indivíduo recebe uma orientação, ele começa a formular hipóteses, antes desconhecidas por ele mesmo. Os fatores sociais para Vygotsky desempenham um papel fundamental no desenvolvimento intelectual. A cultura estabelece um conhecimento que é internalizado e construído pelas crianças. Piaget reconheceu os fatores sociais no desenvolvimento intelectual que provoca desiquilibração e construção desse conhecimento. É necessário um modelo para orientar e fazer a criança pensar sobre como está para desenvolver-se. Nas trocas de valores entre o meio, o indivíduo vai aprendendo a pensar por si mesmo. Enquanto no referencial construtivista o conhecimento se dá a partir da ação do sujeito sobre a realidade, onde o ser é visto como ativo, para Vygotsky o sujeito não é apenas ativo, mas interativo, porque constitui conhecimento através de relações intra e interpessoais. É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que há internalização de conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a constituição de conhecimentos e da consciência. Enquanto para Piaget a aprendizagem depende do estágio de desenvolvimento atingido pelo sujeito, para Vygotsky, a aprendizagem favorece o desenvolvimento das funções mentais. Os estágios de desenvolvimento são importantes na a avaliação profissional, para saber onde o indivíduo se encontra para fornecer subsídios para novas aquisições. Os educadores não devem deixar de perceber o sujeito em relação ao tempo e a cultura. A criança transforma aquilo que aprende de acordo com sua capacidade interna, tornando-se transformadora da aprendizagem, criadora, se essa capacidade de aprendizagem e oportunidade lhe for oferecida. Sabemos que muitos indivíduos estão estacionados em algumas etapas de desenvolvimento e isso é refletido no dia-a dia, com um jeito particular de pensar. Considerações Finais Ambos os autores comentam o desenvolvimento como resultado da interação com o meio, no qual o sujeito é ativo e participativo. Piaget comenta que o mediador para construção do conhecimento é decorrente a ação interna do sujeito que constrói esquemas. Piaget comenta quatro fatores no desenvolvimento: maturidade biológica, experiência de contato, relação social e equilibração. Vygotsky determina o aspecto social e cultural. Vygotsky atribui esse papel de mediador pela linguagem que desenvolve também outras funções psíquicas no sujeito. Para Piaget a aprendizagem depende do real desenvolvimento. Para Piaget, o pensamento aparece antes da linguagem e para Vygotsky, o pensamento e a linguagem são processos diferentes e se tornam interdependentes em expressão do meio. 8-Desenvolvimento Psicossexual Freud Freud, o “pai” da psicanálise, elaborou uma teoria sobre a sexualidade, até hoje referida pela maioria dos autores. Ele classificou o desenvolvimento sexual em cinco fases: oral, anal, fálica, latência e genital, conforme a idade do indivíduo e a localização corporal da principal fonte de sentimentos prazerosos. 17 Primeiro ano de vida Nesta etapa da vida, o bebê a princípio não se diferencia de sua mãe, sentindo-se ligado a ela, como se ambos fossem uma só pessoa. Sua comunicação com o mundo se dá principalmente através da boca, pela sucção e pelo choro. O bebê sente-se bem quando suas necessidades orgânicas internas são saciadas através da amamentação. Ele sente-se seguro e calmo também quando é acariciado e aconchegado ao colo. Esta etapa foi denominada por Freud de “fase oral”, pois a boca é a parte do corpo onde há primazia dos sentimentos prazerosos. Porém, não é só a boca a detentora destes sentimentos prazerosos nesta fase. O bebê também gosta e necessita ser acariciado em todo o seu corpo. Durante o primeiro ano de vida o bebê descobre fortuitamente seus genitais e sente prazer em tocá-los. É comum em serviços de saúde vermos os bebês manipularem seus genitais assim que suas mães retiram-lhes a fralda para serem examinados pelo médico. O hábito de chupar o dedo ou a chupeta, a necessidade de colocar tudo na boca, quando já tem coordenação motora para isso, o desejo de morder, tudo isso é representativo do prazer que o bebê sente na região oral. Segundo ano de vida Durante o segundo ano de vida a criança se desliga parcialmente das necessidades orais, passando a se concentrar em outras atividades recém adquiridas. Ela já consegue andar e explorar melhor o ambiente em que vive. Nesta etapa muita atenção é dada às regiões genitais, pois é nesta fase que se adquire o controle esfincteriano. A partir dos 18 meses a criança já tem potencialmente maturidade neurológica para conter os esfíncteres, quando está desperta. Com o treinamento exercido pelos pais, a criança concentra grande parte de sua energia na aprendizagem deste controle e fica atenta à manipulação de seu corpo, quando é higienizada. Freud denominou esta etapa de “Fase anal”, por observar o grande prazer que as crianças demonstravam na região anal. As crianças freqüentemente brincam com a retenção de suas fezes e urina. Muitas revelam o prazer que sentem na região anal retardando o ato de defecar até a hora em que o bolo fecal acumulado produz violentas contrações musculares e sua passagem pelo esfíncter anal causa grande excitação das mucosas. Freud considera a retenção das massas fecais uma excitação masturbatória da zona anal. Terceiro ao sexto ano de vida Esta etapa é muito marcante no desenvolvimento do ser humano. As crianças descobrem de fato seus órgãos genitais e percebem as diferenças que existem entre meninos e meninas. É também nesta fase que percebemos uma ligação
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