Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
BLOCO DE ATIVIDADE DISCIPLINA: Leitura e Produção de Textos PROFESSORA: Nasle M. Cabana CURSO: ALUNO: PRELIMINARES LINGUAGEM: é a capacidade humana de expressar pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos. A Linguagem está relacionada a fenômenos comunicativos; onde há comunicação, há linguagem. Podemos usar inúmeros tipos de linguagem para estabelecermos atos de comunicação, tais como: sinais, símbolos, sons, gestos, placas e regras com sinais convencionais (linguagem escrita e linguagem mímica, por exemplo). Num sentido mais genérico, a linguagem pode ser classificada como qualquer sistema de sinais de que se valem os indivíduos para realizar atos de comunicação, podendo ser VERBAL - aquela que faz uso das palavras para comunicar algo - e NÃO VERBAL - aquela que utiliza outro método de comunicação, que não as palavras. LÍNGUA: é um instrumento de comunicação, sendo composta por regras gramaticais as quais possibilitam que determinado grupo de falantes consiga produzir enunciados que lhes permitam se comunicar e compreender-se. Por exemplo: falantes da língua portuguesa. Cada membro da comunidade pode optar por esta ou aquela forma de expressão. Por outro lado, não é possível criar uma língua particular e exigir que outros falantes a compreendam. Dessa forma, cada indivíduo pode usar de maneira particular a língua comunitária, originando a FALA. A fala está sempre condicionada pelas regras socialmente estabelecidas da língua, mas é suficientemente ampla para permitir um exercício criativo da comunicação. AFINAL, O QUE É A LÍNGUA? (Trecho trânsitos de Faraco e Tezza 2003, cap.1) Ela está presente em todas as nossas atividades; nós vivemos entrelaçados (às vezes soterrados!) pelas palavras; elas estabelecem todas as nossas relações, dizem ou tentam dizer quem somos, quem são os outros, onde estamos, o que vamos fazer, o que fizemos. Nossos sonhos são povoados de palavras; todas as nossas emoções e sentimentos se revestem de palavras. (...) Apesar dessa presença absoluta em nossa vida (ou talvez justamente por isso), ainda sabemos pouco sobre a linguagem e, em geral, temos uma relação problemática com ela, principalmente em sua forma escrita. Isto é, embora não sejamos nada sem a língua, parece que ela permanece alguma coisa estranha em nossa vida, como se ela não nos pertencesse. (Faraco e Tezza, 2003 p.9) REFLETINDO SOBRE A LÍNGUA Língua falada e língua escrita Na verdade, a realidade primeira da língua é a fala, tanto na história da humanidade como na nossa história pessoal. Isto é, a escrita surgiu depois, e fundamentada na realidade da fala. Observem: 1. Eu conheço ele dês que a gente era colega de colégio. 2. Eu o conheço desde o tempo em que éramos colegas no colégio. UM CONJUNTO DE VARIEDADES Toda língua é um conjunto de variedades. Em geral, pela própria orientação tradicional da escola e do ensino da escrita, temos uma tendência a imaginar a realidade da língua como alguma coisa homogenia, fixa, profundamente uniforme. Também decorre da tradição escolar a ideia que costuma separar as ocorrências linguísticas em dois grupos: o certo, identificado sempre com as formas gramaticais escolares, e o errado, que, em geral, é aquilo que a gente fala e ouve o dia inteiro. Essa é uma divisão tão forte que praticamente todos os falantes da língua portuguesa conservam, em algum grau, uma certa insegurança no uso da língua. (....) DIVERSIDADE LINGUÍSTICA Tecnicamente podemos dividir as variedades em: a) diferenças sintáticas: ele me disse x ele disse me; tu queria x tu querias, nós estávamos x nós estava. b) diferenças morfológicas: vamos x vamo. c) diferenças lexicais: pipa x raia x papagaio d) diferenças fonéticas: poRta x porta E QUE FATORES DETERMINAM ESSA VARIEDADE? 1) A região do falante. 2) O nível social do falante, sua escolaridade e sua relação com a escrita. 3) A situação da fala. VARIEDADE E VALOR As variedades mantêm uma relação de valor umas com as outras. A verdade é que todas as sociedades humanas estabelecem uma hierarquia entre suas variedades, atribuindo valores a este ou àquele traço da fala. Por motivos sociais e históricos, algumas variedades são consideradas boas (a essas damos o nome técnico de variedades padrões ou língua padrão) e outras más. Quando alguém nos diz algo, nós não apenas interpretamos as informações que nos são passadas pelas palavras em si, mas também o próprio falante, e costumamos avaliar também rapidamente toda a situação em que a fala ocorre. (Trechos transcritos de Faraco e Tezza, 2003, capítulo 1) ATIVIDADES I. Reflita e responda sobre as questões: 1.1 Afinal, o que é a língua padrão? 1.2 Como o padrão surgiu? 1.3 Os autores Faraco e Tezza definem aquilo que se chama ‘língua padrão’ de ‘um peixe ensaboado’? Tente explicar a metáfora utilizada pelos autores. II. Leia os textos a seguir: Texto 1. S. Carlos Favor comprar cerra, lustra move, ajaque, e foco para a porta da sala que está queimado. A bassoura de barre carçada quebrou o cabo. Na Santana tem umas boa que eu já vi. A mais simpre atura mais tempo, Tem vitamina das pranta. Texto 2. O galego começa a isolar-se do português desde o século XIV, com obras em prosa de que a Crônica Troiana é um dos melhores exemplos. Entre 1350 e 1450 houve na Galícia uma segunda floração lírica, da qual os portugueses não participaram. Mas a partir do século XVI o galego deixa de ser cultivado como língua literária e só sobrevive no uso oral. (...) 2.1 Agora levante aspectos linguísticos (vocabulário, grafia, estrutura, concordância, intenção) que diferenciem os dois textos. Em seguida determine o gênero de cada um. III. Leia os trechos a seguir antes de resolver as questões 3.1 e 3.2. DIFERENTES NÍVEIS DE LINGUAGEM TEXTO 1 ‘Nóis tava tudo lá escondido, né, doto. Daí, chegaro os home e pensou que nós tava esondendo deles, e não. Nóis tava mesmo é se escondendo dos bandido, que veio tudo num sei de onde. É só isso. Mas nóis somo tudo trabalhador, qualquer um de nóis pode dar prova.’ TEXTO 2 ‘É fácil relatar o que aconteceu. Nós estávamos aqui tranquilos, quando ouvimos uma movimentação, como não esperávamos ninguém e não reconhecemos as vozes imaginamos que seria melhor escondemos. Foi aí, seu delegado, que os policiais chegaram e imaginaram que nós, na verdade, também éramos ladrões.’ 3.1 Com base nos textos, só não se pode afirmar que: a) Os produtores de (1) e (2) podem estar se dirigindo a uma pessoa que exerce a mesma profissão deles. b) Os produtores de (1) e (2) manifestam respeito por seu interlocutor. c) O produtor do texto (2) conhece melhor o tipo de situação de interação em que se encontra. d) É possível supor que, nos dois trechos, a situação em que se dá o relato é face a face. e) As situações expressas pelos textos (1) e (2) são semelhantes, a única diferença a transparecer nos textos refere-se ao modo de relatar os fatos e de usar a linguagem. 3.2 Com base nos textos, todas as alternativas estão corretas, exceto: a) A sequência em que são narrados os fatos nos dois trechos é semelhante. b) Nos dois trechos, não há indicação sobre a atuação dos bandidos. c) No trecho (1), o produtor não se preocupa em demonstrar que o relato dos fatos é verdadeiro. d) Um dos últimos enunciados de (1), “É só isso”, e o primeiro enunciado de (2), “É fácil relatar o que aconteceu”, embora posicionados diferentemente, pretendem indicar que os fatos foram simples. e) No trecho (1), quando se diz “pensou que nós tava escondendo deles, e não” o conectivo “e”, nesse caso, funciona como “mas”. TEXTO 1: O GIGOLÔ DAS PALAVRAS Luiz Fernando Veríssimo.(In : LUFT, C. P. Língua E Liberdade. Porto Alegre: LPM, 1985.14-16p.) Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilhas estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com as suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa (“Culpa da revisão! Culpa da revisão!”). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente. Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer ‘escrever claro’ não é certo, mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, comover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática). A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura. Claro que eu não disse tudo isso para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas – isto eu disse – vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão dispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas a exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato- as sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenha também o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito. Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção de lexicógrafos, etimologistas e colegas. A Gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda. DISCUSSÃO SOBRE O TEXTO 01) Pesquise e defina de forma resumida os vários tipos de ‘gramática’. 02) Qual a opinião do autor sobre a necessidade do estudo da Gramática para aprender a usar a nossa ou qualquer outra língua?’ 03) Você concorda com Veríssimo? Por quê? 04) Durante a sua vida escolar, como foi sua relação com a disciplina Língua Portuguesa? 05) O autor, na linha 04, afirma ter ‘pouca intimidade com a Gramática’. Qual a sua relação com ela? Você a domina ou é dominado por ela? 06) Por que o autor afirma ser um gigolô das palavras? 07) Veríssimo afirma: ‘A Gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda.’ Por que ela deve ‘apanhar todos os dias’? Quem é que ‘manda' na Gramática? CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS TIPOLOGIA TEXTUAL Os textos, independentemente do gênero a que pertencem, se constituem de sequências com determinadas características linguísticas, como classe gramatical predominante, estrutura sintática, predomínio de determinados tempos e modos verbais, relações lógicas. Assim, dependendo dessas características, temos os diferentes tipos textuais. 1. NARRAÇÃO Modalidade em que se conta um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens.Há uma relação de anterioridade e posterioridade. O tempo verbal predominante é o passado. Estamos cercados de narrações desde as que nos contam histórias infantis até às piadas do cotidiano. É o tipo predominante nos gêneros: conto, fábula, crônica, romance, novela, depoimento, piada, relato, etc. 2. DESCRIÇÃO Um texto em que se faz um retrato por escrito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe de palavras mais utilizada nessa produção é o adjetivo, pela sua função caracterizadora. Numa abordagem mais abstrata, pode-se até descrever sensações ou sentimentos. Não há relação de anterioridade e posterioridade. Significa "criar" com palavras a imagem do objeto descrito. É um tipo textual que se agrega facilmente aos outros tipos em diversos gêneros textuais. Tem predominância em gêneros como: cardápio, folheto turístico, anúncio classificado, etc. 3. DISSERTAÇÃO Dissertar é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Dependendo do objetivo do autor, pode ter caráter expositivo ou argumentativo. 3.1 DISSERTAÇÃO EXPOSITIVA Apresenta um saber já construído e legitimado, ou um saber teórico. Apresenta informações sobre assuntos, expõe, reflete, explica e avalia ideias de modo objetivo. A intenção é informar, esclarecer. Ex: aula, resumo, textos científicos, enciclopédia, textos expositivos de revistas e jornais, etc. 3.1 DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA Um texto dissertativo-argumentativo faz a defesa de ideias ou do ponto de vista do autor. O texto, além de explicar, também persuade o interlocutor, objetivando convencê-lo de algo. Caracteriza-se pela progressão lógica de ideias. É tipo predominante em: sermão, ensaio, monografia, dissertação, tese, ensaio, manifesto, crítica, editorial de jornais e revistas. 4. INJUNÇÃO/INSTRUCIONAL Indica como realizar uma ação. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são, na sua maioria, empregados no modo imperativo, porém nota-se também o uso do infinitivo e o uso do futuro do presente do modo indicativo. Ex: ordens; pedidos; súplica; desejo; manuais e instruções para montagem ou uso de aparelhos e instrumentos; textos com regras de comportamento; textos de orientação (ex: recomendações de trânsito); receitas, cartões com votos e desejos (de natal, aniversário, etc.). OBS: Os tipos listados acima são um consenso entre os gramáticos. Muitos consideram também que o tipo ‘predição’ possui características suficientes para ser definido como tipo textual, e alguns outros possuem o mesmo entendimento para o tipo ‘dialogal’. 5. PREDIÇÃO Caracterizado por predizer algo ou levar o interlocutor a crer em alguma coisa, a qual ainda estar por ocorrer. É o tipo predominante nos gêneros: previsõesastrológicas, previsões meteorológicas, previsões escatológicas/apocalípticas. 6. DIALOGAL / CONVERSACIONAL Caracteriza-se pelo diálogo entre os interlocutores. É o tipo predominante nos gêneros: entrevista, conversa telefônica, chat, etc. GÊNEROS TEXTUAIS Os Gêneros textuais são as estruturas com que se compõem os textos, sejam eles orais ou escritos. Essas estruturas são socialmente reconhecidas, pois se mantêm sempre muito parecidas, com características comuns, procuram atingir intenções comunicativas semelhantes e ocorrem em situações específicas. Pode-se dizer que se tratam das variadas formas de linguagem que circulam em nossa sociedade, sejam eles formais ou informais. Cada gênero textual tem seu estilo próprio, podendo então, ser identificado e diferenciado dos demais através de suas características. Exemplos: CARTA: quando se trata de "carta aberta" ou "carta ao leitor", tende a ser do tipo dissertativo-argumentativo com uma linguagem formal, em que se escreve à sociedade ou a leitores. Quando se trata de "carta pessoal", a presença de aspectos narrativos ou descritivos e uma linguagem pessoal é mais comum. PROPAGANDA: é um gênero textual dissertativo-expositivo onde há a o intuito de propagar informações sobre algo, buscando sempre atingir e influenciar o leitor apresentando, na maioria das vezes, mensagens que despertam as emoções e a sensibilidade do mesmo. BULA DE REMÉDIO: é um gênero textual descritivo, dissertativo- expositivo e injuntivo que tem por obrigação fornecer as informações necessárias para o correto uso do medicamento. RECEITA: é um gênero textual descritivo e injuntivo que tem por objetivo informar a fórmula para preparar tal comida, descrevendo os ingredientes e o preparo destes, além disso, com verbos no imperativo, dado o sentido de ordem, para que o leitor siga corretamente as instruções. GÊNEROS JORNALÍSTICOS: EDITORIAL: é um gênero textual dissertativo-argumentativo que expressa o posicionamento da empresa sobre determinado assunto, sem a obrigação da presença da objetividade. NOTÍCIA: podemos perfeitamente identificar características narrativas, o fato ocorrido que se deu em um determinado momento e em um determinado lugar, envolvendo determinadas personagens. Características do lugar, bem como dos personagens envolvidos são, muitas vezes, minuciosamente descritos. REPORTAGEM: é um gênero textual jornalístico de caráter dissertativo-expositivo. A reportagem tem, por objetivo, informar e levar os fatos ao leitor de uma maneira clara, com linguagem direta. CHARGE: é um gênero textual narrativo onde se faz uma espécie de ilustração cômica, através de caricaturas, com o objetivo de realizar uma sátira, crítica ou comentário sobre algum acontecimento atual, em sua grande maioria. ATIVIDADES I. Leia o fragmento abaixo antes de responder as questões a, b e c: ‘Sempre fora invejosa; com a idade aquele sentimento exagerou-se de um modo áspero, invejava tudo na casa: as sobremesas que os amos comiam, a roupa branca que vestiam. As noites de soirée, de teatro, exasperavam-na. Quando havia passeios projetados, se chovia de repente, que felicidade! O aspecto das senhoras vestidas e de chapéu, olhando por dentro da vidraça com um tédio infeliz, deliciava-a, fazia-a loquaz: - Ai, me senhora! É um temporal desfeito! É a cântaros, está para todo o dia! Olha o ferro! E muito curioso; era fácil encontrá-la, de repente, cosida por trás de uma porta com a vassoura a prumo, o olhar aguçado. Qualquer carta que vinha era revirada, cheirada ... remexia sutilmente em todas as gavetas abertas; vasculhava em todos os papéis atirados. Tinha um modo de andar ligeiro e surpreendedor. Examinava as visitas. Andava à busca de um segredo, de um bom segredo! Se lhe caía um nas mãos! Era muito gulosa. Nutria o desejo insatisfeito de comer bem, de petiscos, de sobremesas.’ Queirós, Eça de. O primo Basílio 1. Qual é o tipo textual do fragmento? Justifique. 2. Extraia do fragmento aspectos descritivos psicológicos, incluindo frases que servem para montar o retrato interior da personagem. 3. No terceiro parágrafo, todos os elementos conduzem o leitor a formar qual julgamento sobre a personagem? 4. Identifique o tipo textual de cada fragmento utilizando os códigos: 1 narração, 2 descrição e 3 dissertação a) ( ) Acreditamos firmemente que só o esforço conjunto de toda a nação brasileira conseguirá vencer os gravíssimos problemas econômicos, por todos há muito conhecidos. Quaisquer medidas econômicas, por si só, não são capazes de alterar a realidade, se as autoridades que as elaboram não contarem com o apoio da opinião pública, em meio a uma comunidade de cidadãos conscientes. b) ( ) Nas proximidades deste pequeno vilarejo, existe uma chácara de beleza incalculável. Ao centro avista-se um lago de águas cristalinas. Através delas, vemos a dança rodopiante dos pequenos peixes. Em volta deste lago pairam, imponentes, árvores seculares que parecem testemunhas vivas de tantas histórias que se sucederam pelas gerações. c) ( ) O candidato á vaga de administrador entrou no escritório onde iria ser entrevistado. Ele se sentia inseguro, pesar de ter um bom currículo. O dono da firma entrou, sentou-se com ar de extrema seriedade e começou a lhe fazes perguntas mais variadas. Aquele interrogatório parecia interminável. d) ( ) Dizem as pessoas ligadas ao estudo da Ecologia que são incalculáveis os danos que o homem vem causando ao meio ambiente. O desmatamento de grandes extensões de terra, transformando-as em verdadeiras regiões desérticas, os efeitos nocivos da poluição e a matança indiscriminada de muitas espécies são apenas alguns dos aspetos a serem mencionados. TEXTO 2 LINGUAGEM, PODER E DISCRIMINAÇÃO A linguagem não é usada somente para veicular informações, isto é, a função referencial denotativa da linguagem não é senão uma entre outras; entre estas ocupa uma posição central a função de comunicar ao ouvinte a posição que o falante ocupa de fato ou acha que ocupa na sociedade em que vive. As pessoas falam para serem "ouvidas", às vezes para serem respeitadas e também para exercer uma influência no ambiente em que realizam os atos. O poder da palavra é o poder de mobilizar a autoridade acumulada pelo falante e concentrá-la num ato linguístico (Bourdieu, 1977). Os casos mais evidentes em relação a tal afirmação são também os mais extremos: discurso político, sermão na igreja, aula, etc. As produções linguísticas deste tipo, e também de outros tipos, adquirem valor se realizadas no contexto social e cultural apropriado. As regras que governam a produção apropriada dos atos de linguagem levam em conta as relações sociais entre o falante e o ouvinte. Todo ser humano tem que agir verbalmente de acordo com tais regras, isto é, tem que "saber": a) quando pode falar e quando não pode, b) que tipo de conteúdos referenciais lhe são consentidos, c) que tipo de variedade linguística é oportuno que seja usada. Tudo isto em relação ao contexto linguístico e extralinguístico em que o ato verbal é produzido. A presença de tais regras é relevante não só para o falante, mas também para o ouvinte, que, com base em tais regras, pode ter alguma expectativa em relação à produção linguística do falante. Esta capacidade de previsão é devida ao fato de que nem todos os integrantes de uma sociedade têm acesso a todas as variedades e muito menos a todos os conteúdos referenciais. Somente uma parte dos integrantes das sociedades complexas, por exemplo, tem acesso a uma variedade "culta" ou "padrão", considerada geralmente "a língua", e associada tipicamente a conteúdos de prestígio. A língua padrão é um sistema comunicativo ao alcance de uma parte reduzida dos integrantes de uma comunidade; é umsistema associado a um patrimônio cultural apresentado como um "corpus" definido de valores, fixados na tradição escrita. Uma variedade linguística "vale" o que "valem" na sociedade os seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e da autoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais. Esta afirmação é válida, evidentemente, em termos "internos", quando confrontamos variedades de uma mesma língua, e em termos "externos" pelo prestígio das línguas no plano internacional. Houve época que o francês ocupava a posição mais alta na escala de valores internacionais das línguas, depois foi a vez da ascensão do inglês. O passo fundamental na afirmação de uma variedade sobre as outras é sua associação à escrita e, consequentemente, sua transformação em uma variedade usada na transmissão de informações de ordem política e "cultural". A diferenciação política é um elemento fundamental para favorecer a diferenciação linguística. As línguas europeias começaram a ser associadas à escrita dentro de restritos ambientes de poder: nas cortes de príncipes, bispos, reis e imperadores. O uso jurídico das variedades linguísticas foi também determinante para fixar uma forma escrita. Assim foi que o falar de Île-de-France passou a ser a língua francesa, a variedade usada pela nobreza da Saxônia passou a ser a língua alemã, etc. O caso da história do galego-português é significativo neste sentido. Os caracteres mais específicos do português foram acentuados talvez já no século XII. Esta tendência a reconhecer os caracteres mais específicos das línguas semelhantes pode ser acentuada, como foi no caso do português e do galego, quando a região de uso de uma das duas variedades linguísticas constitui um centro poderoso, como foi a Galícia, desde o século XI. A língua literária chamada galego-português que se difundiu na Península Ibérica a partir do século XII era a expressão, no plano linguístico, do prestígio de Santiago de Compostela. A associação entre uma determinada variedade linguística e a escrita é o resultado histórico indireto de oposições entre grupos sociais que eram e são "usuários" (não necessariamente falantes nativos) das diferentes variedades. Com a emergência política e econômica de grupos de uma determinada região, a variedade por eles usada chega mais ou menos rapidamente a ser associada de modo estável com a escrita. Associar a uma variedade linguística a comunicação escrita implica iniciar um processo de reflexão sobre tal variedade e um processo de "elaboração" da mesma. Escrever nunca foi e nunca vai ser a mesma coisa que falar: é uma operação que influi necessariamente nas formas escolhidas e nos conteúdos referenciais. Nas nações da Europa ocidental a fixação de uma variedade na escrita precedeu de alguns séculos a associação de tal variedade com a tradição gramatical greco-latina. Tal associação foi um passo fundamental no processo de "legitimação" de uma norma. O conceito de "legitimação" é fundamental pra se entender a instituição das normas linguísticas. A legitimação é o "processo de dar 'idoneidade' ou 'dignidade' a uma ordem de natureza política, para que seja reconhecida e aceita" (Habermas, 1976). A partir de uma determinada tradição cultural, foi extraída e definida uma variedade linguística usada, como já dissemos, em grupos de poder, e tal variedade foi reproposta como algo de central na identidade nacional, enquanto portadora de uma tradição e de uma cultura. (...) Os cidadãos, apesar de declarados iguais perante a lei, são, na realidade, discriminados já na base do mesmo código em que a lei é redigida. A maioria dos cidadãos não tem acesso ao código, ou, às vezes, tem uma possibilidade reduzida de acesso, constituída pela escola e pela "norma pedagógica" ali ensinada. Apesar de fazer parte da experiência de cada um, o fato de as pessoas serem discriminadas pela maneira como falam, fenômeno que se pode verificar no mundo todo, no caso do Brasil não é difícil encontrar afirmações de que aqui não existem diferenças dialetais. Relacionado com este fato está o da distinção que se verifica no interior das relações de poder entre a norma reconhecida e a capacidade efetiva de produção linguística considerada pelo falante a mais próxima da norma. Parece que alguns níveis sociais, especialmente dentro da chamada pequena burguesia, têm tendência à hipercorreção no esforço de alcançar a norma reconhecida. Talvez não seja por acaso que, em geral, o fator da pronúncia é considerado sempre como uma marca de proveniência regional, e às vezes social, sendo esta a área da produção linguística mais dificilmente "apagada" pela instrução. A separação entre variedade "culta" ou "padrão" e as outras é tão profunda devido a vários motivos; a variedade culta é associada à escrita, como já dissemos, e é associada à tradição gramatical; é inventariada nos dicionários e é a portadora legítima de uma tradição cultural e de uma identidade nacional. É este o resultado histórico de um processo complexo, a convergência de uma elaboração histórica que vem de longe. GNERRE, Maurizio. Linguagem, Escrita e Poder. São Paulo: Martins Fontes, 1987, p.3-7. Responda as questões abaixo com base na leitura do texto. 1. “ As regras que governam a produção apropriada dos atos de linguagem levam em conta as relações entre o falante e o ouvinte”. (l.8) Você muda a linguagem que usa de acordo como interlocutor e a situação social do momento? Dê um exemplo? 2. “Somente uma parte dos integrantes das sociedades complexas tem acesso a uma variedade ‘culta’ ou ‘padrão’, considerada geralmente ‘a língua’, e associada tipicamente a conteúdos de prestígio”. (Final do primeiro parágrafo) Isso acontece no Brasil? Justifique sua resposta. 3. “O Passo fundamental na afirmação de uma variedade sobre as outras é a sua associação à escrita”. (Metade do segundo parágrafo) Pode-se dizer que é por isso que as pessoas tendem a ver na escrita “a verdadeira língua”? Explique. 4. “As línguas europeias começaram a ser associadas à escrita dentro de restritos ambientes de poder: nas cortes de príncipes, bispos, reis e imperadores”. (Final do segundo parágrafo) Que consequências este fato acarretou? Elas são visíveis hoje ou já se perderam no tempo? 5. “Associar uma variedade linguística a comunicação escrita implica iniciar um processo de reflexão sobre tal variedade e um processo de elaboração da mesma” (Metade do terceiro parágrafo) Entretanto, a variedade conhecida como “dialeto caipira” só teve a sua primeira descrição sistemática, gramatical, no século XX, embora fosse falada por milhares de pessoas. Por quê? E quais as consequências? 6. “Escrever nunca foi e nunca vai ser a mesma coisa que falar: é uma operação que influi necessariamente nas formas escolhidas e nos conteúdos referenciais”. (Metade do terceiro parágrafo) Explique. 7. “... o fato de as pessoas serem discriminadas pela maneira como falam ...” (Quinto parágrafo) Isso acontece no Brasil? Dê exemplos. 8. Explique a afirmativa: “Uma variedade linguística "vale" o que "valem" na sociedade os seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e da autoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais.” (2º. Parágrafo) CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS CRASE: Fusão de duas vogais idênticas a + a, indicada por meio do acento grave (à). QUANDO OCORRE A CRASE? REGRA GERAL: Quando o termo anterior exigir a preposição “a” e o termo posterior admitir o artigo “a” ou “as”. CASOS EM QUE OCORRE A CRASE I. QUANDO HOUVER FUSÃO DA PREPOSIÇÃO “A” COM ARTIGO FEMININO “A”. Fui a + a feira. → Fui à feira. Retornamos a + as praias. → Retornamos às praias. TESTE: Troque o termo feminino por um masculino; se o “a” se transformar em “ao” significa que há preposição eartigo. Fui ao mercado. Retornamos ao clube. II. QUANDO HOUVER FUSÃO DA PREPOSIÇÃO “A” COM O “A” DOS PRONOMES AQUELE (S), AQUELA (S), AQUILO (S). Fui a + aquele lugar. → Fui àquele lugar. Entregaram o premio a + aquele aluno. → Entregaram o prêmio àquele aluno. III. QUANDO HOUVER FUSÃO DA PREPOSIÇÃO “A” COM O “A” DO PRONOME RELATIVO “A QUAL, AS QUAIS”. A cidade a + a qual nos referimos fica longe. → A cidade à qual nos referimos fica longe. IV. OUTRAS OCORRÊNCIAS. 1. Indicação de horas. Chegou à uma hora e saiu às quatro horas. 2. Nas expressões femininas. Chegaram à noite. Agia às escondidas. Estava à disposição. Estou à procura de ajuda. Sentaram-se à sombra. OUTRAS: À tarde, à toa, a frente de, à beira de, à luz, à medida que, à procura de, às claras, às vezes, às ordens, às escondidas, etc 3. COM A EXPRESSÃO “À MODA DE” MESMO QUE SUBENTENDIDA. Fez um gol à moda de Pelé. Fez um gol à Pelé. V. CRASE FACULTATIVO 1. Diante de nomes de pessoas do sexo feminino. Ele fez referência a (à) Sandra. 2. Diante de pronomes possessivos femininos. Obedeço a (à) minha irmã mais velha. 3. Depois da preposição até. Fomos até a (à) feira. VI. OUTRAS OBSERVAÇÕES Não ocorre crase diante das palavras CASA e TERRA, a menos que venham, especificadas. Voltamos cedo a casa. → Voltamos cedo à casa dos amigos. Os marinheiros desceram a terra. → Os marinheiros desceram à terra dos anões. ATIVIDADE 1- Coloque o acento indicador de crase quando for necessário. a. Comunique nossas decisões a pessoas interessadas. b. Envie dinheiro a estas instituições beneficentes. c. Nada posso dizer-lhe a respeito disso. d. Não posso mais comprar a crédito. e. Já fiz minha contribuição a democracia brasileira. f. O atendimento a pacientes conveniados está suspenso. g. Não há mais nada a fazer. h.Trago a vocês as últimas novidades. i. Não vou a festas, não assisto a novelas e não aspiro a grandes posses. j. Diga as pessoas que me procurarem que tive de sair. k. Vamos a sua casa ou a minha? l. Vamos a Bahia ou a Santa Catarina nas próximas férias? m. Finalmente, chegamos a Florianópolis. n. Finalmente, chegamos a Florianópolis das quarenta e duas praias. o. Cheguei a casa tarde da noite ontem. p. Vários marinheiros preferiram não descer a terra. q. Fui a velha casa onde passei minha infância. r. Preciso ir a terra dos meus antepassados. s. Dobre a esquerda ali adiante. t. Vários policiais a paisana observavam a manifestação a procura dos lideres do movimento. TEXTO 3 FECHE SEUS CICLOS Mussak, Eugênio: Revista Você s/a nº108, 01/06/2007 O mundo não gosta de quem não termina o que começa Um ciclo é um conjunto de fenômenos que se sucedem em uma ordem determinada. Quando um falha, altera a sequência de tal modo que às vezes o ciclo não fecha. E um novo ciclo não pode ter início. Em nosso planeta há um imenso número de ciclos. Imagine que toda a água da chuva passa pela terra, evapora, forma nuvens e volta como chuva novamente. Os ciclos também aparecem em nossa vida prática. Nas empresas, eles se abrem com a definição de objetivos, são executados com a aplicação dos recursos e se fecham com a obtenção dos resultados esperados. Por isso, não entregar resultados equivale a deixar ciclos abertos, desperdiçando energia. As pessoas que fazem isso sempre serão questionadas pelas outras e apontadas como incompetentes e descartáveis. É bom lembrar que nas empresas os ciclos estão ficando cada vez mais curtos, pedindo mais atenção com a aplicação dos recursos, entre eles, a atitude humana. Mas o compromisso com o resultado não elimina outros, como o compromisso com a ética, a segurança, o meio ambiente, a qualidade. Então, é preciso não descuidar desses compromissos e ainda manter o resultado, pois sem ele não haverá um novo ciclo e o sistema travará. Esse cenário parece cruel, mas não podemos esquecer que é disso que se trata a empresa: atingir resultados e fazer isso gerando valor para seus clientes. Na companhia, fechar um ciclo é transformar trabalho em felicidade. O acionista, o cliente e o colaborador ficam felizes quando o ciclo fecha corretamente, e a vida continua. Então, lembre-se que esforços são apreciados, mas resultados são valorizados, pois sinalizam que o ciclo fechou. Em sua magistral obra, Machado de Assis inaugura o realismo na literatura brasileira e nos dá alguns exemplos da preocupação humana com os resultados. Brás Cubas fecha o ciclo da vida. Morre. Mas volta como um defunto escritor para revelar que sentia que, apesar de ter morrido, não havia concluído seus propósitos. Como epílogo de suas lembranças, o falecido escreve: “Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento”. No final, como que procurando alguma vantagem entre as coisas que ele não fez, diz: “Ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”. Esse romance machadiano tem um forte caráter psicológico, faz várias críticas sociais e, no final, dá ao personagem apenas o mérito de não ter colaborado com a continuidade da angústia humana. Entre o cômico e o trágico repousa a história de uma vida sem atitude, sem compromisso, sem resultados. Um ciclo que se fechou sem ter se concluído. Não caia nessa! Texto publicado sob licença da revista Você s/a, Editora Abril. .............................................................................................................................................................................. CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS 1. Sinônimos: São palavras que possuem significados iguais ou semelhantes. Exemplos: O faturista retificou o erro da nota fiscal. O faturista corrigiu o erro da nota fiscal. A criança ficou contente com o presente. Eles ficaram alegres com a notícia. 2. Antônimos: São palavras que apresentam significados opostos, contrários. Exemplos: Precisamos colocar ordem nessa baderna, pois já está virando anarquia. Cinco jurados condenaram e apenas dois absolveram o réu. 3. Homônimos: São palavras que apresentam a mesma pronúncia ou grafia, mas significados diferentes. Exemplos: Eles foram caçar, mas ainda não retornaram. (caçar – prender, matar) Vão cassar o mandato daquele deputado. (cassar – ato ou efeito de anular) 3.1 Homônimos homógrafos: São palavras iguais na grafia e diferentes na pronúncia. Exemplos: Almoço (ô) – substantivo Almoço (ó) – verbo Jogo (ô) – substantivo Jogo (ó) – verbo 3.2 Homônimos homófonos: São palavras que possuem o mesmo som e grafia diferente. Exemplos: Cela – quarto de prisão Sela – arreio Coser – costurar Cozer – cozinhar Concerto – espetáculo musical Conserto – ato ou efeito de consertar 3.3 Homônimos perfeitos: São palavras que possuem a mesma pronúncia e mesma grafia. Exemplos: Cedo – verbo Cedo – advérbio de tempo Sela – verbo selar Sela – arreio Leve – verbo levar Leve – pouco peso 4. Parônimos São palavras que possuem significados diferentes e apresentam pronúncia e escrita parecidas. Exemplos: Emergir – vir à tona Imergir – afundar Infringir – desobedecer Infligir – aplicar Relação de alguns homônimos Acender – pôr fogoAscender – subir Acento – sinal gráfico Assento – tampo de cadeira, banco Aço – metal Asso – verbo (1p.s) Banco – assento Banco – estabelecimento que realiza transações financeiras. Caçar- apanhar animais ou aves. Cassar – anular Calção – calça curta Caução – fiança, garantia Cerração – nevoeiro denso Serração - Ato de serrar Cerrar – fechar Serrar – cortar Cessão – ato de ceder Sessão – reunião Secção/seção - divisão Cesto - cesta pequena Sexto – numeral ordinal Cheque – ordem de pagamento Xeque – lance no jogo de xadrez Xeque – entre os árabes, chefe de tribo ou soberano Concerto – sessão musical Conserto – reparo, ato ou efeito de consertar Coser – costurar Cozer – cozinhar Expiar – sofrer, padecer Espiar – espionar, observar Estático – imóvel Extático – posto em êxtase, enlevado Estrato – tipo de nuvem Extrato – trecho, fragmento, resumo Incerto – indeterminado, impreciso Inserto – introduzido, inserido Incipiente – principiante Insipiente - ignorante Mal – advérbio, contrário de bem Mau – adjetivo, contrário de bom Viagem – substantivo Viajem - forma verbal Relação de alguns parônimos Absolver – perdoar Absorver – sorver Acostumar – habituar-se Costumar – ter por costume Acurado – feito com cuidado Apurado – refinado Afear – tornar feio Afiar – amolar Amoral – indiferente à moral Imoral – contra a moral, devasso Assoar – limpar o nariz Assuar - vaiar Cavaleiro – que anda a cavalo Cavalheiro – homem educado Comprimento – extensão Cumprimento – saudação Deferir – atender Diferir – adiar, retardar Delatar – denunciar Dilatar – estender, ampliar Descrição – ato de descrever. Discrição – qualidade de discreto Espiar - observar Expiar - sobrer castigo Eminente – alto, elevado, excelente Iminente – que ameaça acontecer Emergir – sair de onde estava mergulhado Imergir – mergulhar Emigrar – deixar um país Imigrar – entrar num país Estádio – praça de esporte Estágio – aprendizado Flagrante – evidente Fragrante – perfumado Fuzil – arma de fogo Fuzível - protetor de circuito elétrico Incidente – circunstância acidental Acidente – desastre Inflação – aumento geral de preços, perda do poder aquisitivo Infração – violação Infligir – aplicar pena ou castigo Infringir - transgredir, violar lei Onde – Usa-se com verbos que não indicam ação Aonde – Usa-se com verbos que indiquem ação. Peão – homem que anda a pé Pião – brinquedo Pleito – disputa eleitoral Preito – homenagem Ratificar – confirmar Retificar - corrigir 5. Polissemia É o fato de uma palavra ter mais de uma significação. Exemplo: Estou com uma dor terrível na minha cabeça. (parte do corpo) Ele é o cabeça do projeto. (chefe) Ele comprou uma nova linha telefônica. (contato ou conexão telefônica) Nós conseguimos traçar a linha corretamente. (traço contínuo duma só dimensão) 6. Denotação e conotação As palavras podem ser usadas no sentido próprio ou figurado. Exemplo: Janine tem um coração de gelo. (sentido figurado) Sempre tomo uísque com gelo. (sentido próprio) 6.1 Denotação É uso da palavra com seu sentido original, usual. Exemplo: A torneira estava pingando muito. O sol brilhava intensamente hoje. 6.2 Conotação É o uso da palavra diferente do seu sentido original. Exemplo: Ele tem um coração de manteiga. É um verdadeiro mar de emoções essa música. ATIVIDADE 1. Complete adequadamente as frases com uma das palavras entre parênteses. a. Teresa vê ---------------, escreve ---------------, dorme ---------------. (mal – mau) b. Esse homem é ---------------, seu filho também é ---------------. (mal – mau) c. A polícia apanhou o ladrão em -------------------- . (flagrante – fragrante) d. Na ----------------- de camisas trabalham duas pessoas que frequentam -------------- --- espírita. (sessão, seção, cessão) e. Em teatros se pode assistir a belos ------------------- (concertos – consertos) f. Em oficinas se têm péssimos ------------------. (consertos – concertos) g. Recebi o -----------------do presidente da firma por ter acertado o ------------------ do seu cinto. (comprimento – cumprimento) h. O juiz poderá ------------------ pena severa àquele que ------------------ essa lei. (infligir – infringir) i. O advogado impetrou ------------------ de segurança e conseguiu do juiz uma liminar. (mandato – mandado) j. O nadador desapareceu dentro d’água, isto é, ------------------. (imergiu – emergiu) k. Manuel veio confirmar, isto é, ------------------ a proposta. (retificar – ratificar) l. Os prisioneiros ------------------ o regime interno. (infringiram – infligiram) m. Maria recebeu do namorado um ------------------ lenço. (flagrante – fragrante) n. O animal foi bem dominado pelo ----------------------. (cavaleiro – cavalheiro) o. O pianista executou Chopin durante o -------------------. (concerto – conserto) p. A ------------------ é uma qualidade indispensável a todo homem de bem. (descrição – discrição) q. Para ------------------ a qualquer posto de responsabilidade, é necessário competência. (acender – ascender) r. Para ------------------ qualquer fogão, é preciso fogo. (acender – ascender) s. O comércio ------------------ as portas mais cedo ontem. (cerrou – serrou) t. O seu ----------------------- muito frio não me agradou. (comprimento – cumprimento) u. Enquanto – o nariz, ele ------------------- o cantor (assoar – assuar) v. O governo acabou com a ------------------. (inflação – infração) w. A ---------------------- é causa de muitos acidentes na estrada. (cerração – serração) x. Depois da – das dez, ela se dirigiu à farmácia e, na --------------------- de perfumaria, comprou uma colônia e fez a – a uma senhora pobre, que lhe pediu o perfume. (cessão – sessão – seção) y. Espero que os diretores ---------------------- confortavelmente. (viagem – viajem) z. Nossa --------------------- foi muito agradável. (viagem – viajem) 2. Em “o prefeito deferiu o requerimento do contribuinte”, o termo grifado poderia perfeitamente ser substituído por: a) apreciou; b) arquivou; c) despachou favoravelmente; d) invalidou; e) despachou negativamente. 3. Complete as lacunas usando adequadamente (mas / mais / mal / mau): Pedro e João ____ entraram em casa, perceberam que as coisas não iam bem, pois sua irmã caçula escolhera um ____ momento para comunicar aos pais que iria viajar nas férias; _____ seus dois irmãos deixaram os pais _____ sossegados quando disseram que a jovem iria com os primos e a tia. a) mau - mal - mais - mas b) mal - mal - mais - mais c) mal - mau - mas - mais d) mal - mau -mas - mas e) mau - mau - mas - mais TEXTO 4 FAÇA A SUA PARTE Como um ato isolado pode liderar um comportamento coletivo Mussak, Eugênio. Revista Você s/a nº107, 01/05/2007 Uma das abordagens mais recorrentes ao tema da sustentabilidade ambiental é a responsabilidade individual. Ou seja, o que “você” está fazendo para diminuir a possibilidade da catástrofe no planeta? Há dois tipos de resposta possíveis. Primeiro: você não está nem aí para o meio ambiente porque acha que a maioria pensa assim e não adiantaria nada fazer alguma coisa, pois seria apenas uma gota no oceano. Segundo: você faz a sua parte. Neste caso, suas motivações podem ser uma das seguintes: fazer bonito na frente de outras pessoas; ficar em paz com sua consciência; acreditar que seu gesto pode, de fato, fazer a diferença. Se você está nesta última categoria, pode confiar, você está fazendo a diferença e as pessoas como você são a grande esperança do planeta,porque suas ações têm efeito multiplicador. Para ilustrar, vou contar uma história da qual muito me orgulho. Eu e minha mulher moramos em São Paulo há menos de dez anos, vindos de Curitiba, no Paraná. Nossa cidade de origem é conhecida por algumas soluções urbanísticas, entre elas, o hábito de separar o lixo orgânico do reciclável. Curitiba é, no mundo inteiro, a cidade que ostenta o maior índice de separação doméstica de lixo. As pessoas não conseguem não separar, estão condicionadas por um programa que começou nas escolas básicas há cerca de 30 anos. Pois bem, quando montamos nosso apartamento na pauliceia, uma das primeiras providências foi comprar dois recipientes para separar o lixo. Mas, eis que, passadas umas semanas, o zelador do prédio nos fez um comentário desconcertante. “Professor”, disse-me ele, “nós achamos muito bonito o senhor e sua mulher separarem o lixo, mas eu queria lhe avisar que quando chega aqui embaixo nós juntamos tudo de novo porque por aqui não há coleta diferenciada”. Assim, do nada, o comentário colocou nossa cívica iniciativa na categoria dos atos inúteis. Tínhamos dois caminhos possíveis: aceitar a nova realidade e acabar com o costume, ou manter o hábito, ainda que inócuo. Optamos pelo segundo caminho. Foi quando duas coisas boas aconteceram. A primeira foi a descoberta de que um supermercado próximo mantinha um programa próprio de coleta seletiva e aceitava, de bom grado, contribuições dos vizinhos. A segunda, melhor ainda, foi a informação de nosso zelador de que, passados cerca de seis meses, vários vizinhos do prédio já estavam fazendo a mesma coisa. Uau! Nossa teimosia ecológica foi a tal “bola de neve” que cresce à medida que desce a encosta, atraída pela consciência e pela responsabilidade. Sempre é assim — um ato coletivo começa de um ato individual. Hoje, só 2% da cidade de São Paulo são atendidos por coleta seletiva, mas já é um começo. Lembre-se: você é uma parte da humanidade e é responsável pelo todo. Lidere essa ideia ponto final! QUESTÕES: 1) Que características o texto apresenta que justificam ser considerado um Artigo de Opinião? 2) Qual é a tese geral defendida pelo autor? 3) Como ele argumenta a favor da ideia que ele defende? 4) Você acredita que um ato isolado pode mudar o comportamento coletivo? Explique. 5) Comente as atitudes possíveis das pessoas diante da possibilidade de catástrofe ambiental, citadas pelo autor. TEXTO 5 AMOR E OUTROS MALES Rubem Braga Uma delicada leitora me escreve: não gostou de uma crônica minha de outro dia, sobre dois amantes que se mataram. Pouca gente ou ninguém gostou dessa crônica; paciência. Mas o que a leitora estranha é que o cronista "qualifique o amor, o principal sentimento da humanidade, de coisa tão incômoda". E diz mais: "Não é possível que o senhor não ame, e que, amando, julgue um sentimento de tal grandeza incômodo". Não, minha senhora, não amo ninguém; o coração está velho e cansado. Mas a lembrança que tenho de meu último amor, anos atrás, foi exatamente isso que me inspirou esse vulgar adjetivo – "incômodo". Na época eu usaria talvez adjetivo mais bonito, pois o amor, ainda que infeliz, era grande; mas é uma das tristes coisas desta vida sentir que um grande amor pode deixar apenas uma lembrança mesquinha; daquele ficou apenas esse adjetivo, que a aborreceu. Não sei se vale a pena lhe contar que a minha amada era linda; não, não a descreverei, porque só de revê-la em pensamento alguma coisa dói dentro de mim. Era linda, inteligente, pura e sensível – e não me tinha, nem de longe, amor algum; apenas uma leve amizade, igual a muitas outras e inferior a várias. A história acaba aqui; é, como vê, uma história terrivelmente sem graça, e que eu poderia ter contado em uma só frase. Mas o pior é que não foi curta. Durou, doeu e – perdoe, minha delicada leitora – incomodou. Eu andava pela rua e sua lembrança era alguma coisa encostada em minha cara, travesseiro no ar; era um terceiro braço que me faltava, e doía um pouco; era uma gravata que me enforcava devagar, suspensa de uma nuvem. A senhora acharia exagerado se eu lhe dissesse que aquele amor era uma cruz que eu carregava o dia inteiro e à qual eu dormia pregado; então serei mais modesto e mais prosaico dizendo que era como um mau jeito no pescoço que de vez em quando doía como bursite. Eu já tive um mês de bursite, minha senhora; dói de se dar guinchos, de se ter vontade de saltar pela janela. Pois que venha outra bursite, mas não volte nunca um amor como aquele. Bursite é uma dor burra, que dói, dói, mesmo, e vai doendo; a dor do amor tem de repente uma doçura, um instante de sonho que mesmo sabendo que não se tem esperança alguma a gente fica sonhando, como um menino bobo que vai andando distraído e de repente dá uma topada numa pedra. E a angústia lenta de quem parece que está morrendo afogado no ar, e o humilde sentimento de ridículo e de impotência, e o desânimo que às vezes invade o corpo e a alma, e a "vontade de chorar e de morrer", de que fala o samba? Por favor, minha delicada leitora; se, pelo que escrevo, me tem alguma estima, por favor: me deseje uma boa bursite. 01 – Quanto à significação textual, só está correta a afirmação: A – O cronista defende a ideia de que o amor é um sentimento incômodo. B – O cronista objetivou contar a história de seu último amor. C – O autor demonstra ser masoquista, pois deseja ter bursite, como deixa claro no último parágrafo. D – Na visão do cronista, a dor do amor é inferior à dor ocasionada por bursite. 02 – São também significações presentes no texto, relativamente à leitora citada, exceto: A – O adjetivo constituinte do sintagma "delicada leitora", várias vezes empregado pelo autor em relação à leitora indignada, deixa entrever uma ironia sutil. B – Nos sintagmas "minha senhora" e "minha delicada leitora", o pronome "minha" não expressa relação de posse, mas indica afetividade. C – O autor se desculpa com a leitura por ter qualificado o amor de "incômodo". D – Para o autor, não importa o sentimento da leitora. 03 – O que aborreceu a leitora do texto foi A – o adjetivo “incômodo”, usado pelo autor. B – a ironia do autor ao dizer minha delicada leitora. C – a comparação do amor com uma bursite. D – o autor dizer que seu coração está velho e cansado. 04 – O amor é o principal sentimento da humanidade. Essa ideia é A – do autor B – da leitora C – de todos os leitores D – de todas as pessoas 05 – Quanto ao gênero, esse texto se classifica como A – um conto B – um poema C – uma crônica D – um artigo 06 – “Pouca gente ou ninguém gostou dessa crônica; paciência.” De acordo com o texto, as pessoas não gostaram A – dessa crônica. B – de uma outra crônica do autor. C – de nenhuma crônica do autor. D – da crônica de um outro autor. 07 – “ Na época eu usaria talvez adjetivo mais bonito...” “na época” se refere ao tempo A – que escrevia essa crônica B – que escrevia outra crônica C – antigamente D – que ele ainda amava. 08 – O autor não pretende descrever sua amada A – pois a lembrança dela o faz sofrer. B – porque ele agora tem ódio de sua amada.C – já que ele não quer que ninguém saiba quem é sua amada. D – sem motivo algum. 09 – Por favor, minha delicada leitora; se, pelo que escrevo, me tem alguma estima, por favor: me deseje uma boa bursite.” Ele quer que a leitora lhe deseje uma boa bursite porque ele A – gosta de sofrer B – gostou de sua leitora C – julga a dor do amor maior que a dor da bursite. D – julga a dor do amor menor que a dor da bursite. 10 – Todas as afirmativas abaixo estão de acordo com o texto, exceto: A – O amor, segundo o autor, traz uma dor pior do que uma bursite. B – De acordo com o texto, o amor, no início, é doce. C – O autor diz que já teve bursite. D – Por sofrer muito com o amor que perdeu, o autor diz que o ódio lhe invade o coração. TEXTO 6 BEIJOS E ABRAÇOS Luis Fernando Veríssimo Os franceses se beijam, e não apenas quando estão se condecorando. Mas dois franceses só chegam ao ponto de se beijar no fim de um longo processo de desinformatização do seu relacionamento, que começa quando um propõe ao outro que abandone o "vous", e eles passem a se tratar por "tu", geralmente depois de se conhecer por alguns anos. Não sei se existe um prazo certo para o "vous" dar lugar ao "tu", mas é um passo importante, e até ele ser dado, o cumprimento entre os dois jamais passará de um seco aperto de mãos. Os russos se beijam com qualquer pretexto e dizem que a progressão, lá, não é do aperto de mão para o abraço e o beijo, mas de beijos protocolares para beijos cada vez mais longos e estalados. Na Itália, os homens andam de braços dados na rua, sem que isso indique que são noivos, e o beijo entre amigos também é comum. Os anglo- saxões são mais comedidos e mesmo os americanos, que são ingleses sem barbatana, reagem quando você, esquecendo onde está, ameaça abraçá-los. Ninguém é mais informal que um americano, ninguém é mais antifrancês na velocidade com que chega à etapa equivalente ao "tu" sem nenhum ritual intermediário, mas a informalidade não se estende à demonstração física. Até aquele nosso hábito de bater no braço do outro quando se aperta a mão, aquela amostra grátis de abraço, eles estranham. Já nós somos da terra do abraço; mas também temos nossas hesitações afetivas. O brasileiro é expansivo, mas tem, ao mesmo tempo, um certo pudor dos seus sentimentos. O meio-termo encontrado é o insulto carinhoso. Não sei se é uma característica exclusivamente brasileira, mas é uma instituição nacional. - Seu filho da mãe! - Seu cafajeste! São dois amigos que se encontram. - Não, Só me faltava encontrar você. Estragou meu dia. - Este lugar já foi mais bem freqüentado... Depois dos insultos, se abraçam com fúria. Os sonoros tapas nas costas - outra instituição brasileira - chegam ao limite entre a cordialidade e a costela partida. Eles se adoram, mas que ninguém se engane. É amor de homem. Quanto maior a amizade, maior a agressão. E você pode ter certeza que dois brasileiros são íntimos quando põem a mãe no meio. A mãe é o último tabu brasileiro. Você só insulta a mãe do seu melhor amigo. - Sua mãe continua na zona? - Aprendendo com a sua. - Dá cá um abraço! E lá vêm os tapas. Um estrangeiro despreparado pode levar alguns sustos antes de se acostumar com a nossa selvageria amorosa. - Crápula! - Vigarista! - Farsante! - My God! Eles vão se matar! Não se matam. Se abraçam, às gargalhadas. Talvez ensaiem alguns socos nos braços ou simulem direitos no queixo. Mas são amigos. Depois de algum tempo o estrangeiro se acostuma com cenas como esta. Até acha graça. - Olha aqueles dois se batendo. Até parece briga. Um está batendo na cara do outro. Devem ser muito amigos. Agora trocam pontapés. É enternecedor. Agora um pega uma pedra do chão e... Acho que é briga mesmo! Às vezes é briga mesmo. QUESTÕES: 1. Qual o grau de intimidade que deve ser atingido para que dois franceses cheguem ao ponto de se beijar? 2. Quem são os anglo-saxões? 3. Explique a expressão “os americanos são ingleses sem barbatanas”. 4. No contexto, explique por que um americano é um antifrancês. 5. Explique a seguinte colocação: “Você só insulta a mãe de seu melhor amigo.” 6. Identifique os autores das seguintes falas: “- Crápula! - Vigarista! - My God? Eles vão se matar!” 7. Indique quais são as construções possíveis: a) Você vai “de encontro a seu amigo” ou “ao encontro de seu amigo”? b) O mau motorista vai “de encontro ao poste” ou “ao encontro do poste”? 8. Levando ao extremo as colocações do texto, como mediríamos o grau de intimidade entre dois amigos brasileiros? 9. O texto apresenta um narrador, ou seja, aquele que nos conta um acontecimento. Qual a sua nacionalidade? Comprove sua resposta com elementos do texto. TEXTO 7 A ARTE DE FAZER ESCOLHAS Revista Vida Simples nº 106 01/06/2011 - Por Eugênio Mussak Parece que cada vez mais temos que optar por isso ou aquilo. Mas como nos prepararmos para tantas decisões? Tomar um sorvete figura entre meus programas favoritos quando vou a Manaus. Trata-se de uma experiência diferente de qualquer outro lugar do mundo, não porque os manauras dominem técnicas secretas da arte dos gelados que nem os italianos conhecem, mas porque eles dispõem de matéria prima invejável: as frutas amazônicas com seus sabores incríveis. As mais conhecidas, como o açaí, o cupuaçu, a graviola, e o buriti estão entre elas, mas não são as únicas, apesar de que apenas elas já colocam o freguês em uma situação de difícil decisão. “Não posso pedir uma bola de cada?”, perguntei ao atendente da sorveteria, para ouvir a resposta óbvia: “Claro que o senhor pode, mas vai ter que levar uma caixa, e não apenas uma casquinha”. Como eu só queria um sorvete para sair lambendo enquanto caminhava pelo quente entardecer tropical, não me restou alternativa, a não ser escolher dois sabores, abrindo mão de todos os demais. Pelo menos por enquanto. O que poderia ter sido apenas um acontecimento corriqueiro, me colocou em contato com uma questão filosófica: a necessidade humana de fazer escolhas na vida. Enquanto saboreava meu manjar amazônico não pude deixar de aprofundar meu pensamento da questão das escolhas e, claro, lembrei-me de algumas das mais difíceis que tive que fazer ao longo de minha trajetória. E de repente me dei conta que escolher é uma das coisas a que mais o homem se dedica. Não há um dia sequer que não tenhamos que escolher algo e abrir mão de algo também. É claro que, na maioria das vezes fazemos escolhas simples, como o sabor do sorvete, a cor da gravata ou o filme a assistir. Mas quem não sofreu calado quando teve que decidir que vestibular fazer? Ou quando recebeu uma proposta para mudar de emprego? E, suprema decisão, que atire a primeira pedra quem nunca esteve dividido entre dois amores. Sim, parece que passamos a vida decidindo, e, ainda que a maioria das pessoas não tenha essa consciência, os momentos de decisão são, também, momentos de ansiedade. Só que uma ansiedade que deriva de uma coisa boa: a existência de mais de uma opção. A rigor, a ansiedade de escolher é a ansiedade de ser livre. Escolher é exercer a liberdade, com suas prerrogativas e responsabilidades. E a liberdade só pode ser bem exercida por que está preparado para ela, ou seja, quem tem maturidade intelectual e emocional para tanto. A liberdade é um valor adulto. Poder escolher é uma conquista. Então por que às vezes sofremos com isso? A escolha é um privilégio, o problema é a renúncia. Ao escolher dois sabores de sorvete você abre mão de todos os demais. Até aí tudo bem – sempre dá para voltar amanhã. O que nos martiriza são as renúncias definitivas ou aquelas que nos causam insegurança. Para os mortais comuns, a escolhada carreira, por exemplo, significa renunciar a uma grande quantidade de opções, talvez melhores. Ainda que uma carreira não seja uma condenação, pois sempre é possível mudar, tal escolha carrega o peso de que, depois de investir anos em estudos e sonhos, não é exatamente fácil dar a guinada. Em nosso sistema educacional ainda há o agravante de que a escolha tem que ser feita por garotos recém saídos da adolescência. A inscrição no vestibular é, por esse motivo, um momento de tensão. Como fui professor de cursinho pré-vestibular, acompanhei muitos desses dramas. Vi de tudo. De jovens cheios de certeza àqueles que procuravam orientação vocacional em clínicas especializadas, passando pelos menos previdentes que, na hora H apelavam até para um jogo de par ou ímpar. “Se der par faço biológicas. Se der ímpar faço humanas”. Dá pra imaginar a ansiedade? É evidente que não é assim que devemos escolher. Uma escolha é uma decisão e, como tal, obedece a uma lógica. A técnica de tomada de decisões tem um mandamento: quanto maior o número de variáveis consideradas na tomada de decisão, maior a probabilidade de acerto. Em outras palavras, escolher significa pesar todos os prós e contras, inclusive projetando-os no tempo – a variável mais abstrata. E dá para fazer isso o tempo todo? Cada vez que eu quiser almoçar fora, para escolher o restaurante vou ter que montar uma planilha no Excel, com colunas de vantagens e desvantagens, considerando o desejo, a saúde, o ambiente etc.? Por incrível que pareça, sim, é isso mesmo que fazemos, sem usar um computador e um software, é claro, mas lançando mão de algoritmos mentais que consultam todas essas variáveis rapidamente, emitindo, inclusive, notas ponderadas. Você pode, por exemplo, decidir por um restaurante caro (nota alta na coluna do “não”) porque ele vai ajudá-lo a impressionar a namorada (nota altíssima na coluna do “sim”). E você faz isso mentalmente, consultando a lógica (tenho o dinheiro), a emoção (estou apaixonado) e o fator tempo (é agora ou nunca). Então estamos condenados a decidir e a conviver com a dúvida de termos feito a escolha certa? Se tomar uma decisão provoca ansiedade, muito pior é não ter a oportunidade de decidir. Pense nas pessoas que você conhece, especialmente das gerações com mais vivência, que se queixam de estarem fazendo algumas coisas por não terem tido a oportunidade de fazer outras. “Eu não tive a chance de estudar”; “Na minha época a gente casava com o primeiro pretendente”; “Eu tive que continuar negócio da família” – estes são apenas alguns dos lamentos mais comuns de pessoas que, aparentemente, não puderam escolher. Se pudessem – ou se percebessem que podiam – muitas delas teriam dado rumos diferentes às suas vidas. Poder escolher é bom, muito bom, ainda que dê alguma dor de cabeça. Escolher angustia, não poder escolher mortifica. Em inglês, escolher é to choice, mas os americanos, sempre práticos, utilizam uma expressão curiosa para falar sobre escolhas, especialmente no mundo dos negócios, em que os executivos vivem tendo que tomar decisões – trade off. Mais do que uma escolha, a expressão trade off quer significar uma troca. E a troca significa uma espécie de condenação determinista a que todos estamos sujeitos. Afinal, não se pode ter tudo. Quer isto? Então não vai ter aquilo! E lamba os beiços, porque tem gente que não vai ter isto nem aquilo – parece dizer o destino com seu olhar de reprovação diante de nosso desespero. Às vezes temos, sim, que fazer escolhas difíceis, e sofremos muito por causa disso. Até a literatura já se debruçou sobre o tema. O escritor americano William Styron levou o drama da escolha a um nível épico em seu livro A escolha de Sofia, que virou filme e rendeu um Oscar de melhor atriz para Maryl Streep. O enredo trata da situação vivida por uma mãe judia, que é forçada por um soldado alemão a escolher entre o filho e a filha, ambos crianças. Só um poderia ser salvo, o outro seria executado. Se ela não escolhesse um, ambos seriam mortos. No limite da decisão ela opta por poupar o garoto, pois, por ser mais forte, teria mais chance de sobreviver (imagine o sofrimento e a velocidade com que ela montou a tal planilha mental). Como agravante, nem dele teve mais notícias. A história é ambientada no pós-guerra, com a protagonista já vivendo nos Estados Unidos, tentando reconstruir vida, mas sempre atormentada por aquele momento dramático em que teve que fazer a escolha mortal. A força do drama relatado pelo autor transformou o título em sinônimo de decisão quase impossível de ser tomada. Daquelas que nunca teremos certeza de termos acertado. A maioria de nós jamais terá que tomar uma decisão tão dramática, mas com certeza todos viveremos momentos difíceis, em que o fantasma da dúvida de termos decidido certo assombrará nossa memória, talvez por muito tempo. É bem verdade que a tomada da decisão diminui a ansiedade, apesar da dúvida. “É este, pronto!”- e vamos em frente. Ainda assim, sofremos um pouquinho. Sociedades modernas, livres, democráticas, têm essa qualidade – o cidadão tem que fazer escolhas diariamente. Trata-se de um direito e até uma obrigação. Nos regimes totalitários, o Estado considera os cidadãos incapazes de escolher seus próprios caminhos, por isso ele as tutela, as trata como menores irresponsáveis, que devem apenas concordar e obedecer. São títeres nas mãos dos poderosos. E pensar que há famílias que também são assim. No mundo livre acontece o oposto. Quem se recusa a escolher os rumos de sua vida vira uma espécie de pária, um estorvo para os demais. Sempre lembrando que qualquer escolha pressupõe responsabilidade sobre ela. Apesar disso, ter a oportunidade de escolher o que fazer com sua vida, no macro ou no microcosmo da existência, ainda é a melhor situação, disparado. E, já que você escolheu ler este texto até o fim, espero que tenha gostado e que ele tenha agregado pitadas de lógica ao seu autoconhecimento. Afinal, conhecer-se e saber pensar são dois elementos fundamentais na hora das decisões. Grandes ou pequenas. TEXTO 8 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Marina Ceccato Mendes Você já parou para pensar no que significa a palavra "progresso"? Pois então pense: estradas, indústrias, usinas, cidades, máquinas e muitas outras coisas que ainda estão por vir e que não conseguimos nem ao menos imaginar. Algumas partes desse processo todo são muito boas, pois melhoram a qualidade de vida dos seres humanos de uma forma ou de outra, como no transporte, comunicação, saúde, etc. Mas agora pense só: será que tudo isso de bom não tem nenhum preço? Será que para ter toda essa facilidade de vida nós, humanos, não pagamos nada? Você já ouviu alguém dizer que para tudo na vida existe um preço? Pois é, nesse caso não é diferente. O progresso, da forma como vem sendo feito, tem acabado com o ambiente ou, em outras palavras, destruído o planeta Terra e a Natureza. Um estudioso do assunto disse uma vez que é mais difícil o mundo acabar devido a uma guerra nuclear ou a uma invasão extraterrestre (ou uma outra catástrofe qualquer) do que acabar pela destruição que nós, humanos, estamos provocando em nosso planeta. Você acha que isso tudo é um exagero? Então vamos trocar algumas idéias. E o Desenvolvimento Sustentável? O atual modelo de crescimento econômico gerou enormes desequilíbrios; se, por um lado, nunca houve tanta riqueza e fartura no mundo, por outro lado, a miséria, a degradação ambiental e a poluição aumentam dia-a-dia. Diante desta constatação, surge a idéia do Desenvolvimento Sustentável (DS), buscando conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental e, ainda, ao fim da pobreza no mundo. As pessoas que trabalharam na ‘Agenda 21’ escreveram a seguinte frase: "A humanidade de hoje tem a habilidade de desenvolver-se deuma forma sustentável, entretanto é preciso garantir as necessidades do presente sem comprometer as habilidades das futuras gerações em encontrar suas próprias necessidades". Ficou confuso com tudo isso? Então calma, vamos por partes. Essa frase toda pode ser resumida em poucas e simples palavras: desenvolver em harmonia com as limitações ecológicas do planeta, ou seja, sem destruir o ambiente, para que as gerações futuras tenham a chance de existir e viver bem, de acordo com as suas necessidades (melhoria da qualidade de vida e das condições de sobrevivência). Será que dá para fazer isso? Será que é possível conciliar tanto progresso e tecnologia com um ambiente saudável? Acredita-se que isso tudo seja possível, e é exatamente o que propõem os estudiosos em Desenvolvimento Sustentável (DS), que pode ser definido como: "equilíbrio entre tecnologia e ambiente, relevando-se os diversos grupos sociais de uma nação e também dos diferentes países na busca da equidade e justiça social". Para alcançarmos o DS, a proteção do ambiente tem que ser entendida como parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente; é aqui que entra uma questão sobre a qual talvez você nunca tenha pensado: qual a diferença entre crescimento e desenvolvimento? A diferença é que o crescimento não conduz automaticamente à igualdade nem à justiça sociais, pois não leva em consideração nenhum outro aspecto da qualidade de vida a não ser o acúmulo de riquezas, que se faz nas mãos apenas de alguns indivíduos da população. O desenvolvimento, por sua vez, preocupa-se com a geração de riquezas sim, mas tem o objetivo de distribuí-las, de melhorar a qualidade de vida de toda a população, levando em consideração, portanto, a qualidade ambiental do planeta. O DS tem seis aspectos prioritários que devem ser entendidos como metas: 1) A satisfação das necessidades básicas da população (educação, alimentação, saúde, lazer, etc); 2) A solidariedade para com as gerações futuras (preservar o ambiente de modo que elas tenham chance de viver); 3) A participação da população envolvida (todos devem se conscientizar da necessidade de conservar o ambiente e fazer cada um a parte que lhe cabe para tal); 4) A preservação dos recursos naturais (água, oxigênio, etc); 5) A elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas (erradicação da miséria, do preconceito e do massacre de populações oprimidas, como por exemplo os índios); 6) A efetivação dos programas educativos. Na tentativa de chegar ao DS, sabemos que a Educação Ambiental é parte vital e indispensável, pois é a maneira mais direta e funcional de se atingir pelo menos uma de suas metas: a participação da população.
Compartilhar