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Jéssica Yara Ferreira Silva 1 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 TECIDO ÓSSEO formado por osteócitos que se situam-se em lacunas no interior da matriz óssea, osteoblastos localizados na periferia e osteoclástos (células gigantes, móveis e multinucleadas) localizados nas lacunas de Howship. Todo osso é revestido internamente pelo endósteo, membrana conjuntiva que contém células osteoprogenitoras, e externamente pelo periósteo de tecido conjuntivo fibroso frouxo. Célula Osteoprogenitora Osteoblasto Osteoclasto Osteoblastos: sintetizam a parte orgânica da matriz óssea (colágeno tipo 1, proteoglicanos, glicoproteínas). Participam também da mineralização da matriz, sendo capazes de concentrar fosfato de cálcio. Dispõem-se nas superfícies ósseas, lado a lado, lembrando um epitélio simples. Uma vez aprisionados na matriz recém- formada (osteóide, quando ainda não calcificada), passa a ser chamados de Osteócitos: localizam-se nas lacunas da matriz (cada lacuna contém uma célula) e comunicam-se entre si através de seus prolongamentos que se situam dentro de canalículos. São essenciais para a manutenção da matriz, através da regulação da concentração de cálcio e íons. Sua morte é seguida de reabsorção óssea, que é mediada pelos Osteoclastos: derivados dos macrófagos, são células móveis, gigantes e multinucleadas. São encontrados normalmente dentro de depressões da matriz escavadas por sua atividade, chamadas de lacunas de Howship. Possuem atividade de reabsorção óssea, mediada indiretamente pela concentração de cálcio e íons no sangue coordenada por citocinas localmente e por hormônios como a calcitonina (tireoide) e paratormônio (paratireoides). Matriz óssea: • Orgânica: hidroxiapatita Ca10(PO4)6(OH)2. • Inorgânica: é formada por fibras colágenas de colágeno tipo 1, proteoglicanos e glicoproteínas. Tipos de ossos (histologicamente): • Osso primário/imaturo: aparece no desenvolvimento embrionário e nas reparações de fraturas. É temporário e substituído pelo secundário. Apresenta fibras colágenas dispostas em várias direções sem organização. • Osso secundário/maduro/lamelar: possui fibras colágenas dispostas em lamelas, paralelas umas às outras, concêntricas em torno de canais com vasos, formando sistemas de Havers ou ósteons com de 4 a 20 lamelas, coladas umas nas outras por substancia cimentante. São nas lamelas que se encontram as lacunas com osteócitos. Os canais de Havers (longitudinal) são revestidos por endósteo e contém vasos e nervos. Se comunicam entre si e com a cavidade medular por canais de Volkman (transversais ou oblíquos) que atravessam as lamelas ósseas. Objetivos ABERTURA INTERMEDIÁRIA 1. Descrever a classificação da fratura exposta + TTO 2. Definir a conduta de emergência para fraturas 3. Entender o processo de consolidação óssea pós fratura 4. Diferenciar a consolidação de fratura em crianças e adultos Jéssica Yara Ferreira Silva 2 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 Ossificação: O primeiro tecido ósseo é formado a partir de um modelo cartilaginoso, num processo que se inicia, num osso longo, por ossificação intramembranosa a partir do pericôndrio que recobre a parte média da diáfise formação de colar ósseo. Ossificação intramembranosa ocorre no interior de membranas de tecido conjuntivo, contribuindo para o crescimento de ossos curtos e para aumento de espessura em ossos longos. Diferenciação de células mesenquimatosas em osteoblastos sintetizam osteóide (matriz óssea não mineralizada) se mineraliza osteócitos. Enquanto se forma o colar ósseo, as células cartilaginosas envolvidas pelo mesmo vão formar o centro de ossificação primário por ossificação endocondral a partir de um molde de cartilagem hialina, em direção longitudinal. Ossificação endocondral: Células cartilaginosas se hipertrofiam (volume) formam tabiques morrem por apoptose matriz cartilaginosa se mineraliza vasos sanguíneos do periósteo atravessam o cilindro ósseo (colar) e penetram a cartilagem calcificada trazem células osteoprogenitoas do periósteo proliferação de osteoblastos. Osteoblastos formação de matriz óssea mineralização tecido ósseo primário. Desde o início da formação óssea, surgem os osteoclastos e ocorre absorção do tecido ósseo formado no centro, dando espaço ao canal medular. Mais tarde, em cada epífise, surgem os centros secundários de ossificação, semelhante ao centro primário, porém com crescimento radial. Quando o tecido ósseo dos centros secundários ocupa as epífises, o tecido cartilaginoso fica reduzido a dois locais: cartilagem articular e disco epifisário. Jéssica Yara Ferreira Silva 3 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 Metabolismo de Cálcio no tecido ósseo: • Paratormônio: atua diretamente nos receptores dos osteoblastos deixa de sintetizar colágeno e secretam fator estimulador de osteoclastos número de osteoclastos reabsorção de matriz óssea liberação de fosfato de cálcio calcemia. *a concentração de fosfato não aumenta no sangue, pois o próprio paratormônio acelera a excreção renal dos íons* • Calcitonina: possui efeito inibidor sobre os osteoclastos, inibindo a reabsorção óssea. Irrigação: O osso como um elemento vivo necessita de aporte sanguíneo e a irrigação deve estar compatibilizada com sua estrutura. Basicamente, há vasos epifisários, metafisários e diafisários. Eles penetram no osso através de orifícios que são numerosos nas extremidades mas que, na região diafisária, são em número de um ou dois, sendo, nesta localização, chamados de forames dos vasos nutrientes. A superfície diafisária recebe, ainda, inúmeros pequenos vasos provenientes do periósteo. Assim que a artéria nutriente penetra no canal medular ela divide-se em um ramo ascendente e outro descendente que dirigem-se às extremidades e, à medida que se ramificam, nutrem a medula óssea, endósteo e parte do córtex. No adulto há ampla anastomose entre os ramos terminais da artéria nutriente, vasos epifisários e metafisários mas, na Disco epifisário: disco cartilaginoso não penetrado por osso em expansão. É responsável pelo crescimento longitudinal do osso até a vida adulta. Nele distinguem-se 5 zonas: 1 – Zona de repouso: cartilagem hialina sem alterações morfológicas. 2 – Zona de proliferação: multiplicação de condrócitos, formando fileiras ou colunas paralelas e empilhadas em sentido longitudinal. 3 – Zona de cartilagem hipertrófica: condrócitos aumentados de volume, onde a matriz cartilaginosa fica reduzida à tabiques. Os condrócitos entram em apoptose. 4 – Zona de cartilagem calcificada: mineralização dos tabiques e termina a apoptose dos condrócitos 5 – Zona de ossificação: capilares sanguíneos e células osteoprogenitoas invadem as cavidades deixadas pelos condrócitos mortos. Jéssica Yara Ferreira Silva 4 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 criança, a cartilagem de crescimento representa uma barreira e normalmente vasos epifisários não se comunicam com os metafisários. TIPOS DE OSSOS Do ponto de vista histológico: • Osso esponjoso - ou trabecular, possui lâminas de tecido ósseo formando uma rede irregular, deixando espaços lacunares entre si. As epífises e metáfises são constituídas de osso esponjoso, assim como os ossos curtos e chatos, embora apresentem uma fina camada de osso cortical na superfície. • Osso compacto – ou cortical, é do tipo lamelar, que contém lâminas de tecido ósseo fortemente unidas, formando uma estrutura densa. A diálise dos ossos longos é composta de osso cortical, disposto ao redor de sua cavidade medular. Do ponto de vista anatômico: • Ossos longos:cilíndricos, de comprimento bem superior à espessura (ex.: fêmur, tíbia, fíbula, úmero, rádio, ulna, clavícula, metacarpos, metatarsos, falanges). Esses ossos possuem um canal medular e também ganham o nome de ossos tubulares. A sua anatomia é dividida em três porções: epífise, metáfise e diálise. A epífise é a extremidade que articula com outro osso, sendo a sua superfície recoberta pela cartilagem articular. Nas crianças a epífise é formada pelo núcleo de ossificação secundário e pela cartilagem de crescimento que é estrutura bastante delicada, e responsável pelo crescimento longitudinal do osso. A diáfise é o corpo longo do osso, que apresenta no interior o canal medular, preenchido por medula óssea. A parede da diáfise chama-se córtex que é formada por osso bastante denso e resistente - osso lamelar ou cortical. À medida que se avança para as extremidades, a diáfise alarga-se e a córtex vai adelga-se, dando origem à metáfise. A metáfise é a região mais alargada interposta entre a diáfise e a epífise. Nesta região não há mais canal medular, pois todo o osso está preenchido por lamelas ósseas que espacialmente assumem orientações variadas, formando o osso esponjoso. • Ossos curtos: com equivalência nas três dimensões (ex.: ossos do carpo, ossos do tarso). • Ossos chatos, planos ou laminares: foliáceos, de comprimento e largura equivalentes (ex.: escápula, ossos da pelve, ossos do crânio). • Ossos irregulares: de geometria complexa (ex.: vértebras, osso temporal). FRATURA Fratura é a perda da continuidade do osso, por um trauma de alta energia sobre um osso previamente hígido, ou de baixa energia em ossos doentes (poróticos), ou ainda por pequenos traumas repetitivos (fraturas por estresse). “Um corpo sob ação de uma força sofre deformação que, dentro de certos limites, é reversível. Isto é, uma vez retirada a força o objeto recupera as dimensões originais. Porém, se a força aumentar, a deformação atinge um limite em que ocorrerá a quebra do material constituindo-se uma fratura (limite máximo). ” Traumatismo direto: a fratura localiza-se no local de aplicação da força: Ex: quando um indivíduo recebe um golpe na perna e tem fratura da tíbia. Traumatismo indireto: a fratura localiza-se à distância do local de aplicação da força. Ex: uma pessoa que, ao desequilibrar- se, cai apoiando a mão. O impacto é aplicado na região palmar, mas pode transmitir-se pelo membro superior e provocar fratura no cotovelo, ombro ou clavícula. Jéssica Yara Ferreira Silva 5 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 Foco de fratura: O osso ao quebrar-se sangra, o periósteo é descolado ou roto em diferentes graus e forma- se, nas adjacências da fratura, um hematoma que se expande até ser contido pelas partes moles. É neste local que vão surgir as primeiras reações no sentido de reparar a lesão e consolidar a fratura. Extremidades fraturadas + hematoma + periósteo Classificação das fraturas segundo: 1. O isolamento do foco de fratura a) Fechada - não há comunicação do foco com o meio externo; são aquelas fraturas em que não existe ruptura da pele e consequentemente comunicação do foco fraturário com o ambiente externo. Em geral são de tratamento conservador, porém em certos casos requerem um tratamento cirúrgico imediato quando houver: • Lesão vascular • Compressão nervosa • Desvio importante • Politraumatizados (pela necessidade de mobilização precoce). Estas fraturas apresentam um melhor prognóstico no tratamento porque tem menor probabilidade de infecção. O tratamento inicial das fraturas fechadas deve ser sempre a imobilização da fratura, evitando-se que lese estruturas vizinhas. Naqueles casos em que a fratura for instável, muitas vezes a imobilização gessada não é suficiente para uma imobilização eficiente (por exemplo nas fraturas diafisárias do fêmur ou nas fraturas da tíbia com muito desvio e com muitos fragmentos). Quando isso ocorrer, procedemos a tração trans-esquelética para alinhamento da fratura e posteriormente o tratamento cirúrgico como solução definitiva (estabilização da fratura). b) Exposta - o foco de fratura comunica-se com o meio externo através de lesão em diferentes graus das partes moles. São exemplos fraturas que ocorrem nos membros, fraturas pélvicas com comunicação com cavidade retal ou vaginal e fratura da mandíbula com comunicação com a cavidade oral. As fraturas expostas envolvem, em geral, elevada energia para sua ocorrência, com concomitante lesão das partes moles, o que favorece a infecção pelos germes, além de dificultar sua consolidação. O diagnóstico de uma fratura exposta pode ser muitas vezes difícil, pois uma ferida pode estar a uma distância considerável do local da fratura e haver comunicação com o foco fraturário. Quando existe uma ferida localizada no mesmo segmento de uma fratura, esta fratura deve ser considerada exposta até que se prove o contrário. As fraturas expostas podem ser classificadas pela classsificação de Gustillo e Anderson, que vai ser descrita adiante em fraturas expostas. 2. Mecanismo de produção da fratura - A substância óssea, embora possua certo grau de plasticidade, pode não resistir a forças tensionais de angulação, torção, tração ou compressão. São estes os mecanismos físicos das fraturas e podem determinar o tipo de fratura quanto à sua configuração geométrica. a) Traumatismo indireto – como já falado agente contundente produz indiretamente a fratura. O trauma se localiza em um ponto e a lesão ocorre em outro local. O traumatismo indireto pode ocorrer por: • Compressão - Ocorre principalmente nos ossos esponjosos, a exemplo da coluna e calcâneo, nas quedas de altura (desnível). Forças compressivas provocam fraturas de impactadas. É um tipo de fratura provocada por uma força axial o que faz com que haja penetração de um fragmento ósseo no outro. Geralmente ocorre nas transições metafisioepifisárias, como no colo cirúrgico do úmero ou colo do fêmur e no corpo vertebral. Ao contrário das demais fraturas, o aspecto radiográfico do traço é de uma faixa de radiodensidade, provocada pelo imbricamento dos fragmentos. Jéssica Yara Ferreira Silva 6 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 • Flexão - Ocorre nos ossos longos quando estes são forçados no sentido da flexão. Causadas por forças de angulação, que produzem fraturas transversas ou fraturas oblíquas. • Torção - Quando o mecanismo indireto é a torção, em ossos longos, produzindo as fraturas com traço helicoidal. Forças de torção causam as fraturas espirais. Durante a deambulação, na fase monopodálica, a torção interna ou externa do corpo, estando o pé fixo ao solo, é o exemplo mais típico deste tipo de fratura. • Tração - por intermédio da tração de um tendão inserido no osso, podem ocasionar fraturas por avulsão (principais exemplos: patela, maléolos, epicôndilo medial do úmero). b) Traumatismo direto - o agente contundente choca-se diretamente com o segmento corporal, determinando a fratura. 3. Traço de fratura a) Completa (separação total do fragmento) ou incompleta (separação parcial): As fraturas completas podem ser desviadas (quando há desalinhamento dos fragmentos) ou não desviadas (quando os fragmentos mantem o alinhamento) será melhor descrito adiante no item 5. No caso das incompletas, o traço de fratura não secciona completamente o osso. Mais comum em crianças, a exemplo das fraturas subperiósticas ou em “galho verde”. Jéssica Yara Ferreira Silva 7 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 b) Simples, cominutiva ou complexa: O traço é simples quando é único e a fratura é cominutiva quando há vários fragmentos ósseos (3 ou mais). As fraturas cominutivas (ou cominuídas) resultam de traumatismos diretos de grandeintensidade em que uma alta energia lesiva é transferida ao osso, e apresentam pelo menos um terceiro fragmento (fragmento em cunha), porém com contato entre os dois fragmentos principais, e a fratura complexa é a fratura em que não há contato entre os dois fragmentos principais. É importante diferenciar do conceito de fratura cominutiva que, por definição, é a fratura multifragmentada: a fratura segmentar é um exemplo de fratura complexa não há contato entre os dois fragmentos principais, mas não é cominutiva há um fragmento ósseo único (segmento ósseo) interposto entre os dois fragmentos principais. Nas fraturas segmentares (ou esquilosa) há duas linhas de fratura separando um segmento intermediário do segmento proximal e distal. c) Transversal, oblíqua ou helicoidal: Geralmente as fraturas oblíquas longas ou espiraladas resultam de traumatismos indiretos, com componentes torcionais. Subperiosteal (tórus, ou toro) Típica fratura que ocorre na criança em que, devido à extrema elasticidade do osso, ele "amassa" ao invés de quebrar. Galho verde Típica fratura que ocorre na criança em que, devido à extrema elasticidade do osso, um dos córtices quebra e o outro fico "amassado" uma força angulatória produz uma falha no lado convexo da curva e apenas uma angulação no lado côncavo da fratura, tal como ocorre quando rompemos um galho verde de uma árvore jovem. Jéssica Yara Ferreira Silva 8 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 4. Localização no sentido longitudinal do osso a) Epifisária: A fratura ocorre ao nível da epífise e frequentemente atinge a articulação. É de prognóstico reservado, tende a evoluir com rigidez, necessitando de maiores cuidados, entre estes, da fisioterapia. As fraturas epifisárias podem, ainda, ser intra-articulares ou extra articulares, afetando ou não a cartilagem de crescimento Fisária: A fratura atinge a cartilagem de crescimento e pode estar associada à fratura da epífise ou metáfise, como também a sequelas pela lesão do fise. As fraturas intra-articulares acometem a cartilagem articular epifisária e necessitam de redução anatômica perfeita, pois consolidam mal (dependem do reparo da cartilagem articular, que não é vascularizada) e tem como consequência futura a osteoartrose ou a perda da função articular quase sempre necessitam de abordagem cirúrgica com redução aberta e fixação interna. b) Metafisária: Atinge a região metafisária do osso. c) Diafisária: Localiza-se na diáfise. A diáfise pode ser dividida em três partes iguais estando a fratura localizada no terço médio (ou mediodiafisário), terço proximal ou distal. 5. Desvio da fratura Após a ocorrência da fratura completa, os fragmentos ósseos podem deslocar-se em decorrência da ação da própria força lesiva inicial, pela ação muscular ou força da gravidade. Os desvios são espaciais, mas para classificá-los usa-se decompô-los nos planos frontal, sagital e transversal, por meio de incidências radiológicas, AP, P e Axial, respectivamente. Esta última pode ser difícil ou impossível de ser obtida e frequentemente não é realizada. a) Desvios no plano frontal: Desvio medial - o fragmento distal da fratura está transladado medialmente em relação ao fragmento proximal e ambos mantêm, mais ou menos, o paralelismo. Desvio lateral - o fragmento distal da fratura está transladado lateralmente em relação ao fragmento proximal. Desvio em valgo - os fragmentos formam uma angulação em que o vértice do ângulo aponta em direção da linha mediana. Jéssica Yara Ferreira Silva 9 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 Desvio em varo - os fragmentos formam uma angulação em que o vértice do ângulo aponta em direção lateral. b) Desvios no plano sagital: Desvio anterior - o fragmento distal da fratura encontra-se transladado anteriormente em relação ao fragmento proximal e ambos mantêm, mais ou menos, o paralelismo. Desvio posterior - o fragmento distal da fratura encontra-se transladado posteriormente em relação ao fragmento proximal e ambos mantêm, aproximadamente, o paralelismo. Desvio angular anterior/posterior - os fragmentos formam uma angulação de vértice anterior/posterior. O desvio posterior, em algumas regiões é também chamado recurvado (ou recurvato). c) Desvios no plano transversal: Estes desvios, quando possível, são avaliados clinicamente em desvio em rotação externa / interna. São também avaliados dados do fragmento distal em relação ao fragmento proximal. Como podem ser observados, os desvios em diferentes planos podem ser combinados. Assim, uma fratura pode apresentar-se em varo no AP, posteriormente no P, e rotação externa no axial. As extremidades dos fragmentos podem estar afastadas - diástase, ou sobrepostas – cavalgamento. Fratura de Smith Fratura de Colles Jéssica Yara Ferreira Silva 10 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 Jéssica Yara Ferreira Silva 11 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 6. Presença de fator predisponente para a fratura: a) Patológica: ocorre em decorrência do enfraquecimento da estrutura óssea, por uma doença preexistente, tal como tumor, infecção, etc. Cumpre notar que o diagnóstico de fratura patológica é radiográfico, mas pode ser suspeitado clinicamente, pois, geralmente, o traumatismo causador da fratura é muito pequeno. b) Traumática: Produzida por agente contundente que atua por trauma direto ou indireto. c) Fratura por estresse: ou fratura por fadiga, é aquela que ocorre, não por um trauma agudo, mas por pequenos traumas repetidos. Um osso “descondicionado”, quando submetido a tensões não costumeiras, pode "ceder", determinando geralmente fraturas incompletas (fissuras), embora dolorosas. São mais comuns em pacientes jovens que, despreparados, participam de intensas atividades esportivas, como longas marchas, corridas etc. Os exemplos mais clássicos são a fratura dos metatarsos (segundo, terceiro ou quarto), chamada "fratura do marchador"', e a fratura da tíbia e fíbula (em corredores). A fratura pode ocorrer nas primeiras 3-4 semanas de intensa atividade física. O que caracteriza a fratura por fadiga, além de dor atípica de caráter progressivo, é que o processo de reparação do osso vai se instalando simultaneamente. Assim, quando são diagnosticas já há calo ósseo presente e o diagnóstico diferencial mais importante é com tumor ósseo e osteomielite crônica. Fratura de Colles - fratura muito frequente que, geralmente, ocorre mais na pessoa que já tem um certo grau de enfraquecimento ósseo pela osteoporose. É causada por queda em que o indivíduo apara o corpo com a mão espalmada, causando uma fratura da metáfise distal do rádio, com desvio dorsal (posterior). O aspecto clínico do punho do indivíduo é típico e se denomina “deformidade em dorso de garfo”. Jéssica Yara Ferreira Silva 12 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 SEMIOLOGIA DA FRATURA Uma fratura, geralmente, tem toda a sintomatologia iniciada com a aplicação do trauma. A exceção consiste na fratura por fadiga que não tem um trauma precipitante e se desenvolve lentamente, ocasionando dor crônica. As principais manifestações clínicas da fratura são: Dor A dor da fratura, quando o membro está em repouso ou imobilizado, é uma dor basal, de intensidade não muito forte e tolerável para a maioria das pessoas. Entretanto, esta dor exacerba-se em picos e torna-se muito forte, se o segmento for mobilizado ou palpado. A dor é referida como mais intensa na região da fratura e, à palpação, localiza-se um ponto de dor óssea máxima. Isto é especialmente válido para as fraturas mais simples como as incompletas. "Após um traumatismo, dor óssea localizada é fratura, até que se prove o contrário".Aumento de volume Surge nas adjacências da fratura e tem dois componentes. O primeiro, de aparecimento rápido, é devido ao hematoma e o segundo, que se instala lentamente e se estabiliza em torno de seis horas, é devido ao processo inflamatório póstraumático. Crepitação É a sensação táctil correspondendo ao atrito de um fragmento ósseo contra o outro. Apesar de a crepitação óssea ser patognomônica de fratura ela poucas vezes é encontrada na prática, pois só crepitam fraturas que são completas, que tem mobilidade e contato dos fragmentos por meio da superfície fraturada. Como é acompanhada de muita dor, a crepitação não é pesquisada objetivamente, sendo, geralmente, mais um encontro casual de exame. Há outros tipos de crepitação no esqueleto, de diferentes origens, por exemplo, aquelas que ocorrem nas tenossinovites ou nas articulações com artrose. Cada uma tem características próprias que as diferenciam. Deformidade É a manifestação clínica do desvio dos fragmentos e, evidentemente, não ocorre nas fraturas sem desvio. Mobilidade anormal É o movimento de um fragmento em relação ao outro. Tenha em mente que muitas manobras para a pesquisa da fratura como palpação intempestiva, crepitação, etc., são muito dolorosas e devem ser dispensadas quando há sinais evidentes de fratura como mobilidade anormal, deformidade, etc. Ao se examinar um osso com suspeita de fratura a palpação deve ser realizada da periferia para o centro da lesão, pois, assim haverá melhor possibilidade de avaliar a reação do paciente e dosar a força de pressão, principalmente ao se palpar o ponto mais doloroso. Em crianças é recomendável o exame pelo membro contralateral normal como técnica de abordagem e, assim, obter melhor cooperação. FRATURAS EXPOSTAS Fratura com ruptura à força da pele e tecidos subjacentes. Como já dito, não é necessariamente exposição para o exterior mas, também, para cavidades contaminadas como a boca, tubo digestivo, vias aéreas, vagina e ânus. Assim, uma fratura da pélvis que sofre exposição através da parede vaginal é considerada fratura exposta e tem especial gravidade pela riqueza da flora bacteriana local. O diagnóstico de uma fratura exposta pode ser muitas vezes difícil, pois uma ferida pode estar a uma distância considerável do local da fratura e haver comunicação com o foco fraturário. “Quando um ferimento ocorre no mesmo segmento do membro da fratura, esta fratura deve ser considerada aberta até que se prove em contrário” Atualmente o tratamento das fraturas abertas e das feridas utilizam os princípios das duas escolas 1. Princípio Hipocrático- o cuidado com as feridas (não manipulação excessiva, a limpeza e o desbridamento da ferida, a proteção com curativo). 2. Princípio Galênico – o uso do antibiótico apropriado no momento adequado. Essas feridas provavelmente possuem a melhor perspectiva de curar-se tranquilamente, qualquer que seja o seu tratamento subsequente. 21,3% de fraturas expostas são de ossos longos O osso mais afetado foi a tíbia, com 21,6%, seguida do fêmur, com 21,1% das fraturas expostas. Jéssica Yara Ferreira Silva 13 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 Ao se analisar a fratura, ser apreciados: a energia cinética real dos objetos em movimento - seja o objeto atingindo o corpo, ou o próprio corpo atingindo o objeto, o tamanho da área de impacto, e a capacidade do tecido que sofre o impacto de absorver e dispersar energia. Muito embora a grande variedade de condições de lesões, podemos agrupá-las em três categorias: 1. O corpo está estacionário e é atingido por um objeto em movimento. 2. O corpo está em movimento e atinge um objeto estacionário. 3. O corpo está em movimento e atinge outro objeto ou corpo também em movimento. Os traumatismos violentos do sistema musculoesquelético resultam tipicamente em rupturas extensas dos tecidos moles e duros. Eles podem introduzir materiais estranhos e bactérias, criar segmentos de tecidos moles isquêmicos, necrose tecidual e espaços mortos. O hematoma, contaminado pelo material estranho, disseca os planos teciduais descolados pelo trauma, enche os espaços vazios e atua como meio de cultura ideal para bactérias. Dentro das primeiras horas neutrófilos e macrófagos entram na ferida, sendo os monócitos encontrados mais tardiamente. Simultaneamente, os sistemas complemento e de coagulação são ativados. As substancias vaso ativas - serotonina, prostaglandinas, cininas, histamina, juntamente com o sistema de coagulação, aumentam a permeabilidade vascular. Segue-se a exsudação maciça de proteínas plasmáticas e leucócitos. Quanto a resposta inflamatória e a reparação tecidual podem ocorrer as seguintes condições: Quando a lesão for pequena, o desbridamento completo com remoção dos agentes bacterianos e tecidos desvitalizados (necróticos). Neste caso a resposta inflamatória é controlada e a ferida cicatriza. Quando as lesões forem maciças, contaminação grave ou intervenção tímida, observa-se um resultado diferente. Os macrófagos não são capazes de lidar com carga bacteriana; morrem e liberam enzimas lisossômicas ou proteolíticas, causando necrose aos tecidos circunvizinhos. A necrose associada ao aumento da pressão tecidual, forma um círculo vicioso com inflamação progressiva, isquemia do músculo, síndromes de compartimento, perda tecidual e infecção alastrante. A resposta inflamatória progressiva é vista mais frequentemente após contaminação de uma fratura exposta, mas também pode ocorrer em fraturas fechadas e luxações ou após esmagamentos simples de compartimentos musculares. Para que possamos compreender como tratar as diversas lesões provocadas pelas fraturas expostas é necessário que saibamos classificá-las: "Sistema de classificação de feridas" de Gustillo e Anderson A classificação de Gustillo para as fraturas expostas descreve as lesões dos tecidos moles, mas não descreve a cominução das fraturas. Grau I Ferimento com extensão menor do que 1cm, pequena contaminação (grama, terra, sujeira) e associado a traumatismo de pequena energia. É uma fratura causada por uma lesão de baixa energia em que uma espícula óssea perfura a pele de dentro para fora, provocando uma ferida puntiforme. Geralmente nestes casos a contaminação bacteriana é muito pequena a não ser que a lesão ocorra em um ambiente altamente contaminado. Nas fraturas grau I, o dano muscular é mínimo ou ausente. Naturalmente que uma fratura grau I não deve ser julgada pelo tamanho de Jéssica Yara Ferreira Silva 14 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 sua ferida unicamente, porque feridas pequenas podem estar perigosamente contaminadas dependendo do ambiente onde ocorreram (por exemplo, queda em um estábulo). Grau II Fratura com moderada cominução, ferida maior que 1 cm, com moderada lesão de partes moles e a ferida apresenta moderada contaminação. Estas lesões são geralmente provocadas de fora para dentro e aqui ocorre um dano muscular moderado. Existem poucos detritos no foco fraturário. Grau III Trata-se de uma fratura usualmente cominutiva e desviada, com exposição do foco fraturário, com: • Ferida maior que 10 cm, • Grande cominução, • Provocada por um trauma de alta energia • Graves lesões de partes moles • Perda de segmento diafisário ósseo • Fratura associada a lesão vascular, necessitando reparo • Esmagamento de músculos, tendões, vasos e/ ou nervos. Essa fratura ocorre devido a uma lesão de alta energia, de fora para dentro com grande número de detritos no foco fraturário e extensa desvitalização muscular. Existe extensa perda do revestimento cutâneo. O grau III geralmente acontece em casos de: • Fraturas segmentares • Traumatismos rurais • Fraturas em ambientes muito contaminados • Fraturas por armas de caça • Fraturas por armas de fogo de alta energia cinéticaIII a Ferimento com 10cm de extensão, ou mais, determinado por acidente de grande energia, contendo vasta contaminação e apresentando quantidade suficiente de tecidos moles para cobertura do osso exposto. III b Ferimento com 10cm, ou mais, determinado por acidente de grande energia, contendo grande contaminação e não havendo tecidos moles para cobertura óssea. III c Ferimento com 10cm, ou mais, determinado por acidente de grande energia, apresentando grande contaminação e associado à lesão arterial. Jéssica Yara Ferreira Silva 15 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 Gustilo e Anderson dão muita ênfase ao tamanho do ferimento a crítica é que não informa sobre: o grau de traumatismo de partes moles; o grau de contaminação faz referência apenas sobre o tamanho do ferimento, o que é um guia fraco. Fatores que modificam a classificação: Contaminação Exposição à terra, exposição à água, às fezes, à flora oral, grande contaminação Atraso no atendimento superior a 12 horas. Sinais de trauma de alta energia Fraturas segmentares, perda óssea, síndrome compartimento, esmagamento, desenluvamento extenso, necessidade de cobertura Jéssica Yara Ferreira Silva 16 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 Qual a importância dos tecidos moles? A avaliação e o tratamento destas fraturas dependem mais da extensão e do grau de gravidade das lesões dos tecidos das partes moles que do tipo da fratura. Dependendo da extensão de tecidos moles lesados, três consequências específicas podem resultar: 1. A contaminação da ferida por bactérias do ambiente externo. 2. Contusão de tecidos moles; esmagando, arrancando e desvascularizando estes tecidos, tornando-os mais suscetíveis as infecções bacterianas. 3. O arrancamento músculo/osso ou perda de tecidos moles que normalmente constituem uma bainha para o osso podem afetar os métodos pelos quais a fratura pode ser efetivamente imobilizada, e podem também privar o local de fratura da contribuição usual dos tecidos moles sobrejacentes para o processo de consolidação óssea (geração de células progenitoras para união e consolidação), bem como pode haver perda direta de função devido a músculos, tendões, nervos, vasos e pele destruídos. Consequentemente provoca: • A desestabilização da fratura. • Dificulta a consolidação por privar a circulação nutrícia do osso. • Perda da função (pela lesão de pele, músculos, tendões, nervos e vasos). Como a consequência número 1 é praticamente universal, as duas restantes variam com "a extensão dos danos aos tecidos moles". Isto quer dizer o seguinte: Que um paciente com pequena lesão de partes moles apropriadamente tratada não origina grande preocupação; tem uma evolução bem distinta de outro com grande lesão de partes moles que pode exigir amputação imediata. Que o prognóstico das fraturas expostas depende principalmente da quantidade de tecidos moles desvitalizados pela lesão. Quer dizer que os fatores anteriormente citados, combinados, são mais importantes que a própria fratura e deles dependem o resultado propriamente dito. PRINCÍPIOS DO TRATAMENTO DAS FRATURAS É importante saber: Estabilidade capacidade da fratura de sofrer redução por si só Redução retorno a posição anatômica total daquele osso Uma fratura é instável quando, mesmo após redução manual pelo ortopedista, a fratura ainda se desloca da posição anatômica normal apresentando maiores riscos de lesão de partes moles devemos adotar medidas que tornem a fratura mais estável de forma cruenta (cirúrgico) ou incruenta (conservador). A fratura deve ser considerada uma urgência médica, e por isso deve ser tratada num tempo não superior a 24h. TRATAMENTO EMERGENCIAL DA FRATURA EXPOSTA é sempre cirúrgico O tratamento de lesões esqueléticas com grande destruição de tecidos moles é composto por três fases: a fase aguda inclui (1) ressuscitação e estabilização iniciais no local da lesão, (2) avaliação completa das lesões do paciente incluindo a fratura exposta com atenção principal a lesões que ameaçam a vida, (3) terapia antimicrobiana apropriada, (4) desbridamento extenso da ferida seguido pela cobertura da ferida, (5) estabilização da fratura, (6) enxerto ósseo autógeno e outras medidas que facilitam a união óssea e (7) movimentação articular e mobilização precoces. A fase reconstrutiva ataca as sequelas diretas da lesão, tais como faltas de união, infecções e faltas de alinhamento. A fase reabilitativa focaliza a reabilitação psicossocial e vocacional do paciente. As três fases de tratamento são superpostas. Os objetivos mais importantes no final do tratamento das fraturas exposta são: Ressuscitação e estabilização da lesão Jéssica Yara Ferreira Silva 17 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 Restaurar a função através da reabilitação muscular e articular o mais precoce possível. Prevenir a infecção - é muito importante pois a partir dela podem ocorrer: não consolidação da fratura e pseudartrose, consolidação viciosa da fratura, perda da função, etc. Restaurar ou desbridar tecidos moles Consolidar o osso evitando a consolidação viciosa O tempo livre de Friederich é o tempo de duração do ciclo do germe, que é de aproximadamente 10 horas, após o que a ferida é considerada infectada, por haver a multiplicação bacteriana (caso for atendida após 10 horas do acidente). Portanto, até 10 horas do acidente uma ferida é considerada contaminada - após 10 horas sem tratamento, podemos considerá-la como sendo infectada. Até 10 h após o ferimento é o tempo máximo dentro do qual pode-se fechar, em princípio, um ferimento aberto. É importante lembrar, no entanto, que a percentagem de infecções é 10 a 20 vezes superior à de outras fraturas fechadas5. As infecções são uma complicação das fraturas expostas, e os germes causadores mais comuns destas infecções ósseas são Streptococos e Stafilococos Pré-hospitalar • Cobertura da fratura com curativo estéril • Imobilização provisória Hospitalar No setor de emergência: • ATLS no paciente politraumatizado ABCDE do trauma A. Airway and cervical spine control: assegurar que o paciente possua boa permeabilidade das vias aéreas com controle da coluna cervical. Na coluna cervical do paciente politraumatizado dever-se colocar um colar cervical até ser feito o exame radiológico. Verificar evidências de fraturas e luxações na coluna e pelve. B. Breathing: avaliação da respiração (função pulmonar) e suporte de ventilação adequadas. C. Circulation and haemorrhage control: Tratamento do choque: Em presença de choque iniciar a ressuscitação com hidratação imediata ou com sangue caso o choque for severo. Tratamento da hemorragia: Procurar imediatamente fontes ocultas de hemorragia a nível de abdome ou tórax, pois elas são uma ameaça a vida do paciente. Procurar hemorragias de extremidades. Aplicar curativos estéreis. Imobilizar com Talas de imobilização priovisória D. Dysfunction of the central nervous system: GLASGOW E. Exposure and environmental control: retirada das roupas e controle da hipotermia • Exame físico completo – avaliação neurológica e vascular detalhada • Avaliação da ferida Não está indicada exploração da ferida na sala de emergência Examinar a pele, se está queimada ou contaminada; avaliação vascular e neurológica do membro; verificar tamanho e forma da ferida; examinar tecidos circunjacentes se estão escoriados, contundidos ou esfolados; pode-se realizar irrigação delicada com SF0,9% se houver demora na intervenção cirúrgica; remover com pinça e luva estéril corpos estranhos, mas não efetuar exploração digital nem remover fragmentos ósseos. Na palestra do módulo foi orientado: não irrigar, não debridar ou explorar a ferida. • Curativo estérilcom SF 0,9% e compressivo • Promover analgesia, mas evitar a sedação • Estabilização adequada da fratura – redução provisória e imobilização • Avaliar a história do paciente: deve ser sucinta, porém contendo informações imprescindíveis como uso prolongado de medicamentos esteroidais, diabetes mellitus, HIV, uso crônico de medicamentos anticoagulantes. • Avaliação radiográfica: deve ser feita em duas incidências (PA/AP e perfil) além de radiografias das articulações proximal e distal da fratura. Jéssica Yara Ferreira Silva 18 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 • Antibioticoterapia – via parenteral A rotina atual é a de usar antibióticos intravenosos em todas as fraturas expostas durante os primeiros 3 a 5 dias. A duração da antibioticoterapia é assunto controverso. Estudos mais recentes recomendam que ela não ultrapasse 24 a 48 horas, para evitar a seleção de germes resistentes. A maioria dos ortopedistas inicia a profilaxia com antibióticos de amplo espectro que cubra tanto germes gram-positivos como negativos: em geral a cefalosporina de primeira geração. Em casos selecionados de contaminação intensa, o acréscimo de um aminoglicosídeo visando os gram-negativos é recomendado. A escolha do antibiótico adequado depende da gravidade da lesão dos tecidos moles, do agente contaminante, e da flora nosocomial local. No presente, uma cefalosporina de primeira geração é preferida para fraturas abertas tipo I e II e em fraturas fechadas com lesões de tecidos moles. Estes antibióticos são eficazes contra a maioria das bactérias gran-positivas e muitas gram-negativas exceto Pseudomonas. Exemplo: a cefazolina, em um adulto médio, em dose de 1 a 2 g, seguida por 1 a 2 g a cada 8 hora (endovenosa) por 3-5 dias. A Cefazolina é o antibiótico de escolha pela sua melhor penetração óssea e uma concentração sanguínea prolongada. Em fraturas expostas tipo III um aminoglicosídeo (gentamicina ou tobramicina) é acrescentado. A posologia usual é de 3 a 5 mg/kg a cada 24 horas; a maioria dos adultos recebem 80 mg a cada 8 h. Todos os pacientes recebendo aminoglicosídios devem ser monitorados quanto a toxicidade auditiva vestibular e renal. Segundo o artigo “Fratura exposta” (2011), para fraturas associadas com comprometimento vascular ou esmagamento de tecidos moles, 4 a 5 milhões U de penicilina são administradas a cada 4 a 6 horas. A profilaxia do tétano (soro ou vacina) associada à penicilina não deve ser esquecida em casos de feridas sujeitas a infecção por clostrídeos. • Profilaxia ara tétano - é obrigatória a profilaxia do tétano nas fraturas expostas conforme histórico de vacinação do paciente: Incompleta (menos de 3 doses) ou desconhecida – realizar vacina DT + imunoglobulina antitetânica (TIG) – imunização ativa com toxóide tetânico + imunização passiva com 250 a 500 unidades de imunoglobulina tetânica humana IM (4 unidades/kg do peso) Completa com > 10 anos da última dose - realizar vacina DT + imunoglobulina antitetânica (TIG) Completa com < 10 anos da última dose – profilaxia com vacina DT - imunização ativa de 0,5ml de toxóide tetânico IM. • Cultura pré-operatória não tem efeito – é feita cultura intra-operatória Artigo fraturas expostas 2011 - Os curativos serão removidos somente no bloco cirúrgico e em condições de assepsia. Caso exista sangramento abundante, usa-se um garrote durante curto tempo para evitar uma perda sanguínea desnecessária. TRATAMENTO CIRURGICO O cirurgião deve: • Prevenir a infecção • Restaurar partes moles • Alcançar união óssea • Evitar união viciosa Jéssica Yara Ferreira Silva 19 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 • Instituir movimento articular e reabilitação muscular precoce Tratamento cirúrgico da fratura está contra-indicado quando há suspeita de perturbações no mecanismo da coagulação do paciente (por exemplo CIVD). As cirurgias das lesões que constituem ameaça a vida, como a ruptura de baço associadas a uma coagulopatia, tem prioridade sobre o tratamento operatório da fratura. Escovar e lavar a ferida com soro fisiológico, em ambiente cirúrgico Escovar e lavar abundantemente a ferida com soro fisiológico, inclusive o foco fraturário, com o objetivo de limpar a lesão, retirando-se os detritos localizados na pele, partes moles e tecido ósseo, evitando-se assim o surgimento da infecção. Com relação a solução a ser empregada, os trabalhos mostram que a melhor é a de Ringer. No entanto, soluções menos dispendiosas, como a salina fisiológica, podem ser empregados. A irrigação é realizada com um volume 10 litros de SF 0,9% ou Ringer Lactato. Não usar soro glicosado É meio de cultura Artigo fraturas expostas 2011 – Em virtude do alto volume de solução usado, geralmente não se inclui antibióticos tópicos em toda a solução de irrigação. Sabe-se que antibióticos tópicos são úteis nos últimos 2 a 4 litros de solução de irrigação. Usualmente adiciona-se 50.000 unidades de bacitracina por bolsa de 2 litros; no entanto, o antibiótico tópico deve ser selecionado caso a caso. Culturas de tecidos devem ser colhidas antes de se usarem antibióticos tópicos. Vantagens da rirrigação: remoção de coágulos e debris melhorando a inspeção; ajuda a identificar necrose; restaura a cor normal facilitando o diagnóstico de viabilidade; remove tecidos debris contaminados de espaços difíceis de serem vistos; Idealmente deve ser usado a lavagem de baixa pressão de fluxo intermitente A irrigação sob pressão empurra debris para o interior do ferimento e promove dano ósseo Artigo fraturas expostas 2011 – Hoje existem boas evidências clínicas sobre os benéficos da irrigação da ferida contaminada com soluções contendo antibióticos em vez de soro fisiológico. Muitos cirurgiões embebem as feridas em soro fisiológico, em soluções que contem iodo com um largo espectro bactericida e esporicida ou em antibióticos tópicos tais como a neomicina, bacitracina e a polimixina, porém há poucas evidências sobre os benefícios dessas técnicas. Torniquete? Sempre se deve ter um torniquete presente, porque pode ser necessário controlar uma hemorragia grave encontrada quando um coágulo sanguíneo é removido de uma inesperada grande lesão arterial. Contudo, o torniquete não deve ser insuflado a não ser que necessário para controlar sangramento, seja para visualização seja para limitar a perda sanguínea, porque a anoxia produzida pelo torniquete interfere com a avaliação da viabilidade do músculo. Uma grande vantagem do torniquete é que a insuflação durante 10 minutos mais ou menos, seguida pela liberação, resulta em rubor capilar da pele distal ao torniquete, o que dá uma boa indicação da viabilidade da pele. Assim, o uso apropriado do torniquete inclui insuflação intermitente durante a irrigação e desbridamento, conforme indicado, mas não a insuflação constante durante todo o procedimento. Antibiótico no trans-operatório: Na maioria dos casos, os pacientes devem receber 1 a 2 gramas EV de Cefazolina 30 minutos antes da incisão e deve ser mantida por somente três dias. Em fraturas expostas grau I ou II ocorridas em ambientes razoavelmente limpo a maioria dos cirurgiões utilizam a cefazolina ou oxacilina. Ocorrendo em ambientes altamente contaminados, a maioria acrescenta penicilina para prevenir a infecção clostridial. Em fraturas expostas grau III: usa-se os aminoglicosídios, além das cefalosporinas de 1ª G. Associar penicilina (4 a 5 milhões de unidades de 4/4 hs) nas lesões em que existe a evidencia de terra no foco fraturário. Jéssica Yara Ferreira Silva 20 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 CONSOLIDAÇÃO DA FRATURA O osso é um tecido com enorme potencial de reparo. Após um período de 4-8 meses o osso fraturado se reconstitui sem deixar cicatriz, contanto que fatores essenciaisestejam presentes, tais como uma boa vascularização dos fragmentos e a manutenção da estabilidade da fratura (evitar o movimento acentuado entre os fragmentos). O osso é um dos poucos tecidos que podem cicatrizar sem que haja a formação de uma cicatriz fibrosa. Assim, o processo de desenvolvimento e reorganização da fratura pode ser considerado uma forma de regeneração óssea. No entanto, apesar da capacidade regenerativa do tecido ósseo, esse processo às vezes falha e as fraturas podem cicatrizar em posições anatômicas desfavoráveis, ter um atraso no tempo de cicatrização, ou até mesmo desenvolver uma pseudoartrose ou não união óssea. Jéssica Yara Ferreira Silva 21 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 A consolidação das fraturas pode ser primária ou secundária, e envolve tanto o processo de ossificação endocondral quanto intramembranoso. A formação óssea endocondral ocorre geralmente na parte externa ao periósteo, em regiões que são imediatamente adjacentes ao local da fratura e, mecanicamente menos estáveis. Já a ossificação intramembranosa ocorre na parte interna ao periósteo nas bordas proximal e distal do calo, onde formam um calo duro. Essa transição de calo rígido ao redor do foco de fratura é que fornece uma estabilização inicial e recuperação da função biomecânica. A consolidação do tipo primária (direta) ocorre quando existe perfeita aposição entre os fragmentos fraturários e estabilidade absoluta por osteossintese por placa e parafuso (cirurgia estabilizadora de fratura). Neste tipo, o tecido ósseo “novo” é formado diretamente a partir do próprio osso fraturado e do endósteo. Na consolidação secundária (mais comum) antes de formar osso há formação de tecido fibrocartilaginoso intermediário - isso ocorre quando a estabilidade é relativa (conseguida através de tratamentos como gesso, haste intermedular, fios ou fixador externo). Jéssica Yara Ferreira Silva 22 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 Consolidação secundária: indireta - tem três fases 1. Fase precoce (hematoma fraturário): No momento em que ocorre a lesão, pequeninos vasos do osso fraturado e de seu envoltório (periósteo) rompem e sangram, provocando a formação de um hematoma entre e ao redor das bordas dos fragmentos fraturários. Este hematoma coagula e serve de estímulo para iniciar o processo de consolidação, sendo invadido por pequenos vasos (angiogênese), trazendo consigo células mesenquimais pluripotentes do tecido conjuntivo, originárias do periósteo ou dos tecidos moles circunjacentes. 2. Fase inflamatória – Caracteriza-se pela presença de exsudato serofibroso. Ocorre a infiltração de leucócitos, monócitos, macrófagos e mastócitos; com objetivo de remoção do coágulo e dos restos celulares. Ao mesmo tempo os osteoclastos iniciam a absorção do osso necrótico. 3. Fase do Calo fraturário mole: Dentro das primeiras 2 semanas, começa a se formar um tecido que se interpõe aos fragmentos e circunda suas bordas, dando a forma de um abaulamento no ponto de fratura do osso (calo). Este calo é viscoso e funciona como uma verdadeira "cola" para o osso. Nesta fase, o calo é composto por tecido fibrocartilaginoso, trazendo alguma resistência e estabilidade à fratura, mas ainda não aparecendo na radiografia, pois não é tecido ósseo. 3.1. Fase de formação do tecido de granulação (alguns autores não consideram esta fase) – Ocorre proliferação e estimulação das células mesenquimais multipotenciais, essas células dão origem a inúmeras células responsáveis pela organização dos tecidos e das estruturas, como revascularização e neoformação das fibras conjuntivas e cartilagem da região. Jéssica Yara Ferreira Silva 23 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1 4. Fase do Calo fraturário duro (Calo ósseo): Após as duas primeiras semanas, as células mesenquimais começam a gerar osteoblastos que então começam a produzir tecido ósseo em alta velocidade. Este tecido começa a ser formado num local um pouco distante do traço de fratura, aparecendo na radiografia como uma reação periosteal. Em seguida, começa a preencher todo o foco de trauma, neste momento aparecendo no RX como um verdadeiro calo ósseo, bem visualizado ao se completar 6 semanas, mas ainda podemos perceber um tênue traço de fratura. Neste momento, a fratura já está clinicamente estável (consolidação clínica), quando o ortopedista cuidadosamente provoca forças tensionais sem resultar em movimento entre os fragmentos fraturários e nem dor por parte do paciente. Ao longo das próximas semanas ou meses, o calo ósseo vai se tornando cada vez mais consistente, à medida que o tecido ósseo primitivo (osso imaturo) inicialmente depositado é convertido em tecido ósseo maduro (osso lamelar). Este processo se completa após 4-8 meses, sendo mais rápido nas crianças: no RX não se observa mais traço de fratura (consolidação radiológica). Ao longo dos próximos meses, o calo ósseo vai se remodelando, com reabsorção do excesso, até que o osso volte ao normal. 5. Fase de remodelagem – Substituição do tecido ósseo imaturo por tecido ósseo maduro. Neste estágio, ocorre regularidade na distribuição das fibras da matriz, seguindo as orientações das linhas de força. Caracteriza-se pela intensa atividade osteoblástica e osteoclástica. Esta fase respeita a lei de Wolff que diz que o osso de remodela depositando osso onde for necessário e reabsorvendo-o onde desnecessário. Jéssica Yara Ferreira Silva 24 ORTOPEDIA – PROBLEMA 1
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