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MICROBIOLOGIA CBI-713 FISIOLOGIA MICROBIANA / METABOLISMO MICROBIANO Maria Célia da Silva Lanna – DECBI-ICEB/UFOP O capítulo FISIOLOGIA MICROBIANA da Microbiologia Geral propõe estudar o funcionamento da célula microbiana, ou seja, o estudo de suas rotas bioquímicas para o entendimento do seu metabolismo. Os microrganismos relacionados à saúde humana apresentam metabolismo heterotrófico produzindo energia através da Fermentação e/ ou da Respiração. Energia esta necessária para as Reações de biossíntese, Reprodução, Motilidade, etc. NECESSIDADES ENERGÉTICAS E NUTRICIONAIS Uma forma de definir a vida é considerar as fontes de energia necessárias à síntese dos compostos essenciais por um organismo vivo. Portanto o metabolismo de um organismo deve ser interpretado sob dois aspectos distintos, mas inter-relacionados - necessidades energéticas e nutricionais. Os microrganismos, mais que todas as outras formas de vida, são intensamente afetados por tais circunstâncias. Sua capacidade de lidar com alterações no ambiente depende de respostas fisiológicas imediatas, porque não possuem as células especializadas presentes em formas superiores de vida que preservam a homeostasia. As capacidades fisiológicas imediatas são expressas pela grande variedade de fontes energéticas que os microrganismos podem usar, e por seu potencial biossintético, um atributo não necessariamente expresso, quando um organismo é cultivado em um caldo quimicamente indefinido no laboratório de rotina. As necessidades energéticas microbianas podem ser classificadas em três categorias principais: quimiotrofia, fototrofia e paratrofia. Quimiotrofia é a derivação de energia biológica de reações que ocorrem sem luz. Nas bactérias prevalecem dois tipos de quimiotrofia: quimioorganotrofia e quimiolitotrofia. Quimioorganotrofia, compartilhada com todas as formas animais, indica que a energia é derivada da oxidação ou fermentação de compostos orgânicos exógenos. Além disso, algumas bactérias podem usar energia liberada pela oxidação de compostos inorgânicos exógenos (quimiolitotrofia), um processo em que as bactérias podem produzir todos os seus constituintes através da redução do dióxido de carbono com a energia liberada durante a oxidação inorgânica. Na fototrofia, a energia é fornecida por reações fotoquímicas. O processo fotoorganotrófico, limitados a certos grupos de procariotas anaeróbicos, envolve doadores de hidrogênio orgânico exógeno. Os organismos fotolitotróficos dependem de doadores de hidrogênio inorgânico, e incluem a fotólise da água. Na paratrofia, a energia deve ser fornecida pela célula hospedeira, seja animal, vegetal ou microrganismo. Os vários vírus pertencem a essa categoria. A capacidade de um organismo sintetizar metabólitos essenciais ou, inversamente, a necessidade de um organismo ser suprido por moléculas já sintetizadas de que necessita, mas não pode sintetizar, também pode ser dividida em quatro grupos principais: heterotrofia, autotrofia, mesotrofia e hipotrofia . Heterotrofia é a necessidade de qualquer organismo para um suprimento exógeno de um ou mais metabólitos essenciais a sua sobrevivência; exemplos de metabólitos são vitaminas e fatores de crescimento. Autotrofia significa que o organismo pode sintetizar todos os seus metabólicos essenciais. Nos organismos obrigatoriamente autotróficos, todas as necessidades metabólicas são atendidas pela capacidade de o organismo reduzir os nutrientes inorgânicos oxidados; organismos mesotróficos, por outro lado, requerem um ou mais nutrientes inorgânicos reduzidos. Finalmente, a hipotrofia descreve a necessidade de parasitismo intracelular para que os processos metabólicos do hospedeiro preencham suas necessidades nutricionais. Os microrganismos mais comuns que podem tolerar a bioesfera humana íntima são heterotrófos quimioorganotróficos. Entretanto a variedade de capacidades metabólicas apresentadas por todos os microrganismos colonizantes e potencialmente envolvidos com patologias é considerável. Portanto a prevenção ou o tratamento da doença infecciosa requerem uma compreensão dos fatores que controlam a proliferação microbiana. CRESCIMENTO BACTERIANO O crescimento (i.e., o aumento no tamanho e divisão de qualquer microrganismo ou célula) tem sido a principal indicação da viabilidade microbiana. Na verdade, não sabemos se um organismo está vivo, a não ser que este se multiplique em um meio laboratorial que fornece todo o material essencial à produção de estruturas celulares. Várias bactérias, mas não todas, foram praticamente os únicos microrganismos estudados intensamente em relação ao crescimento devido às dificuldades peculiares dos outros tipos de organismos: Os vírus requerem sistemas adequados de células do hospedeiro. Isto impõe restrições relacionadas ao tipo laboratorial de células de cultura de tecidos, ovos embrionados, ou modelo animal infectado pelo vírus específico. A complexidade do crescimento fúngico em diferenciação impediu a formulação de conclusões universais. A maioria dos protozoários, sobretudo aqueles significativos em doença humana, não foram adaptados à cultura laboratorial, e não possuímos informações sobre vários aspectos do seu ciclo de crescimento. As bactérias multiplicam-se por divisão binária, a divisão de uma única bactéria em duas bactérias-filhas, em um meio adequado. O tempo necessário para realizar esta divisão, ou duplicação, é o tempo de geração. O crescimento de várias bactérias é estimulado por um meio de cultura rico em nutrientes para obter um tempo de geração mais curto possível e, portanto, rapidamente obter informações pertinentes para o diagnóstico e tratamento dos pacientes. PROCESSOS HETEROTROFICOS PARA PRODUÇÃO DE ENERGIA: FERMENTAÇÃO E RESPIRAÇÃO FERMENTAÇÃO A fermentação é sempre um processo anaeróbio, sendo realizado pela maioria dos fungos leveduriformes, que são facultativos, mas não pelos fungos filamentosos que são aeróbios estritos. Quanto às bactérias, a maioria fermenta, exceto aquelas aeróbias estritas, como por exemplo, a M. tuberculosis. As bactérias fermentadoras produzem produtos finais ácidos como também produtos neutros, acompanhados de gás ou não, dependendo da espécie. São características genéticas estáveis sendo utilizadas como parâmetros para sua classificação taxonômica. Uma variedade de fermentações microbianas, originando produtos bastante diferentes, está na via glicolítica até piruvato e a partir deste, os microorganismos apresentam produtos diversos. A glicose é o carboidrato mais facilmente fermentado pelos microorganismos, assim, investigando os diferentes produtos característicos das várias espécies podemos identificá-las a partir desse monossacarídeo. Por outro lado, existem alguns microorganismos capazes de fermentar dissacarídeos, como por exemplo, algumas espécies de bactérias da família Enterobacteriaceae, como a E. coli, capaz de produzir enzima betagalactosidase dentre outras possibilitando a fermentação da lactose, sendo esta um característica que a distingue de outras da família como aquelas do gênero Shigella que não fermentam a lactose. A betagalactosidase desdobra a lactose liberando glicose degradada em seguida até piruvato e deste levando às vias fermentativas mencionadas. A determinação laboratorial das bactérias fermentadoras ou não de lactose é feita pela pesquisa dos produtos dessas vias, como por exemplo, ácido acético e o ácido fórmico da via fermentativa ácida-mista , cuja reação depende da incubação da cultura em caldo lactosado no mínimo em tornode 24 horas. Entretanto estas, e principalmente as fermentadoras lentas que levam mais de 48 horas, podem ser determinadas pelo teste ONPG, técnica rápida com duração de minutos, que pesquisa a atividade da enzima betagalactosidase diretamente na cultura pura, adicionando a esta o ONPG (ortonitrophenilgalactopiranoside), que atua como substrato dessa enzima. As principais vias fermentativas realizadas pelos microorganismos relacionados à saúde humana são as seguintes: Fermentação ácida mista (fórmica) é característica da maioria da Família Enterobacteriaceae. Estes microrganismos consomem parte do seu substrato numa fermentação láctica, porém a maior parte sofre uma fermentação caracterizada pela cisão do piruvato, sem lucro de oxidação ou redução, resultando um grupo acetil e formiato. Formação de gás: o formiato produzido pode permanecer como tal se o pH se mantiver alcalino. Na maioria das fermentações, entretanto, ele se torna ácido; num pH menor ou igual a 6 , os “formadores de gás”( p. ex. , E. coli) produzem uma enzima, a hidrogenliase fórmica, que converte o ácido fórmico (HCOOH) a CO2 e H2. Algumas Enterobactérias (p. ex Shigella) não produzem essa enzima; nos testes para diagnóstico são encontradas como produtoras de ácido, sem gás, a semelhança dos fermentadores homolácticos. O CO2, formado em muitas fermentações, é facilmente observado através de testes simples para evidenciar a formação de gás. Entretanto, é altamente solúvel em água e por isso absorvido na circulação com facilidade. O acúmulo de gás intestinal é provocado por vários fatores. Peristaltismo ou secreção pancreática ou biliar defeituosa impede a absorção intestinal e provocam a formação de gás; a fermentação nas partes terminais do intestino onde a absorção é baixa, é provocada pela ingestão de alimentos que se hidrolisam lentamente ou alimentos que dão origem a produtos pouco absorvíveis porém, rapidamente fermentáveis. Os ruminantes formam um gás pouco solúvel, metano (CH4) no intestino, através de uma fermentação (fermentação mecânica) que oxida ácidos graxos à custa da redução do CO2 a CH4. Porém, esta fermentação não é proeminente no homem. Fermentação Láctica é a fermentação mais simples; uma única reação, catalizada por uma desidrogenase láctica ligada ao DPN (na realidade uma redutase pirúvica), reduz o piruvato a lactato; não se forma gás. Como 2 ATPs são consumidos na formação da hexose difosfato a partir da glicose, e como subseqüentemente forma-se 4 ATPs, o lucro líquido é de 2 ATPs. Por hexose. Esta fermentação é idêntica a glicólise das células dos mamíferos. Fermentação homoláctica produz apenas lactato, é característica de muitas das bactérias lácticas (p. ex., bacilos como o Lactobacillus casei, cocos como o Streptococcus cremoris). Outros membros deste grupo executam uma fermentação diferente, heteroláctica (vias do fosfogluconato que converte apenas metade de cada molécula de glicose em lactato). Ambas as fermentações lácticas são responsáveis pelo azedamento do leite e de alguns outros alimentos; tal acidificação, obtida a custa da energia de algum carboidrato, preserva o alimento da decomposição ulterior, enquanto for conservado em anaerobiose. As correspondentes alterações no sabor contribuem para a importância econômica de tais fermentações. Exemplos incluem queijos, chucrute e ensilagem. A fermentação homoláctica ocorre em alguns germes patogênicos (estreptococos e pneumococos) que são incluídos, pelos taxonomistas, entre as bactérias lácticas. Fermentação Butileno-Glicólica (Acetoína). Este esquema, observado em Aerobacter, algumas outras Enterobactérias e certas espécies de Bacillus, também libera formiato. Entretanto, o “acetaldeído ativo” remanescente não é oxidado e se condensa com uma segunda molécula de piruvato. O produto é convertido a butilenoglicol (butanodiol) nas reações seguintes, nas quais o total de 4 [H] absorvidos equilibra aqueles gerados na formação de 2 piruvatos. Esta fermentação, da mesma maneira que a alcoólica, origina produtos neutros além de 2 moléculas de ATP por glicose. É freqüentemente chamada de fermentação acetoínica, porque a exposição ao ar oxida parte do butilenoglicol a acetoína, que é facilmente reconhecida por um teste colorimétrico específico (Voges- Proskauer). Em Engenharia Sanitária este teste é de considerável valor para diagnóstico para E. coli, que alcança os mananciais de água primariamente a partir do intestino dos mamíferos, e Aerobacter, primariamente encontrado nos vegetais. A formação de produtos neutros em vez de ácidos permite a fermentação de maiores quantidades de carboidratos, sem auto-inibição e, consequentemente, a produção de mais gás; daí o nome de Aerobacter aerogenes. Fermentação Alcoólica, o piruvato (ativado pelo TPP) é convertido em CO2 (conservado em algumas bebidas) mais acetaldeído, que é, então, reduzido a etanol numa reação ligada ao DPN. Esta fermentação é característica de leveduras; como via principal, é rara em bactérias. Seu valor econômico e social na levedação do pão e na fabricação de bebidas é reconhecido há milênios. Fermentação butírico-butílica, esta via de redução do piruvato é encontrada em certos anaeróbicos estritos que podem ativar H2 molecular pelo emprego da ferredoxina. A cisão inicial produz H2, CO2 e fragmentos de 3 carbonos com o nível de oxidação do acetato. Dois destes fragmentos se condensam, não frente a frente como na acetoína e sim frente-cauda, como na síntese de ácidos graxos. O acetoacetil CoA resultante é descarboxilado e/ou reduzido, dando acetona, isopropanol, ácido butírico e n-butanol, em proporções variáveis. RESPIRAÇÃO METABOLISMO AERÓBIO E ANAERÓBIO As bactérias classificam-se em vários grupos, de acordo com o efeito do oxigênio sobre seu crescimento e metabolismo: Aeróbios obrigatórios (p.ex., o bacilo da tuberculose). Exigem oxigênio e não tem a capacidade para executar uma fermentação digna de nota; Anaeróbios obrigatórios (p. ex., Clostrídios, Propionobacter) podem crescer somente na ausência de oxigênio. Um subgrupo, chamado de microaerófilos, pode tolerar ou mesmo preferir O2 em baixa tensão, mas nunca aquela do ar. Microrganismos facultativos (p. ex., família Enterobacteriaceae e muitos fungos leveduras) podem crescer com ou sem ar e desviam, na presença deste, para um metabolismo respiratório. Anaeróbios aerotolerantes (p.ex., a maioria das bactérias do ácido láctico) assemelham-se aos microrganismos facultativos crescendo com ou sem oxigênio, porém, seu metabolismo permanece fermentativo. OBSERVAÇÃO NÚMERO 1: Enquanto não pudermos explicar por que a adição de oxigênio impede anaeróbios obrigatórios de continuar a fermentar e crescer, o mecanismo provável é a manutenção de certas enzimas num estado de oxidação que os impeça de conduzir uma reação essencial de redução. Por exemplo, o succinato, necessário para fins biossintéticos em E. coli, é formado por uma via oxidativa em condições de aerobiose e por redução, em anaerobiose. O O2 impede o funcionamento de flavoproteínas redutoras, pois um mutante que tenha perdido a via oxidativa cresce normalmente sem ar, tendo seu crescimento interrompido assim que o O2 esteja presente, a não ser que seja fornecido succinato. Alguns anaeróbios obrigatórios (especialmente os Clostrídios) não só são inibidos, mas mortos na presença de oxigênio. Durante muito tempo pensou-se que o acúmulo de peróxido de hidrogênio, produzido pelas flavoproteínas na presença de ar, fosse a causa do envenenamento, pois a catalase que destrói o peróxido de hidrogênio está presente apenas em aeróbios. Porém, microrganismosaerotolerantes também não possuem catalase e, no entanto, não são envenenados. As descobertas mais recentes sugerem que o veneno possa ser um radical livre do O2 altamente reativo, o superóxido (O2-), formado pelas flavoenzimas: a superóxido dismutase destrói este produto (na reação 2 O2- + 2H+ →H2O2 + O2) e esta enzima está presente em microrganismos aeróbios e aerotolerantes, mas não em anaeróbios estritos. RESPIRAÇÀO ANAERÓBIA Este termo paradoxal refere-se a um processo que é uma respiração no sentido sofisticado de que há um transporte eletrônico, embora o último aceptor de elétrons seja outro que não o O2. Assim um sistema de transporte de elétrons de muitos microrganismos, inclusive E. coli, pode reduzir nitrato a nitrito em condições anaeróbias, obtendo-se somente metade da energia livre como aquela obtida na redução de O2: o esquema metabólico é, no restante, o mesmo que em anaerobiose. Microrganismos mais especializados podem reduzir nitrato a N2 (desnitrificantes), ou podem utilizar sulfato com aceptor de elétrons (produzindo o H2S característico de algumas águas poluídas), ou ainda, podem usar o H2 para reduzir o CO2 a CH4 (gás dos pântanos). UTILIZAÇAO DA ENERGIA PRODUZIDA: REAÇÕES DE BIOSSÍNTESE PARA O CRESCIMENTO BACTERIANO FATORES ORGÂNICOS DO CRESCIMENTO Desde o inicio, os microbiologistas aprenderam que podiam cultivar uma grande variedade de bactérias em “caldos”, obtidos pela cocção de tecidos animais ou vegetais. Em 1923, Mueller, tentando definir esta vaga necessidade, em termos de compostos específicos, descobriu o até então desconhecido aminoácido, metionina. A nutrição bacteriana tornou-se um campo dinâmico durante os anos subseqüentes; porém com o reconhecimento da unidade da bioquímica os vários esquemas nutritivos diferentes revelaram ser simplesmente pequenas variações de um tema central e o estudo da nutrição microbiana perdeu muito do seu interesse teórico. Apesar disso, este campo retém sua importância prática e ainda apresenta desafios, por exemplo, o bacilo da lepra, o treponema da sífilis, e riquetsia não podem ser cultivados em meios artificiais. Uma conseqüência importante do estudo dos fatores de crescimento foi o desenvolvimento de ensaios quantitativos microbiológicos para aminoácidos e vitaminas, como descrito no capítulo anterior para mutantes auxotróficos. A simplicidade destes ensaios, comparados com aqueles realizados em animais, facilitou grandemente o isolamento de novos fatores; por isso, numerosas vitaminas foram inicialmente identificadas desta maneira e, só mais tarde descobriu-se serem essenciais para os mamíferos. As investigações das necessidades nutritivas de animais e bactérias às vezes convergem surpreendentemente para o mesmo composto. Assim é que a vitamina B12 foi isolada independentemente através de dois programas; um baseado em trabalhosos ensaios da resposta hematopoiética de pacientes com anemia perniciosa e outro baseado na purificação de um fator de crescimento exigido pelo Lactobacillus leichmanii. As bactérias que estão adaptadas ao crescimento em tecidos animais, superfícies, mucosas ou leite, freqüentemente exigem vários grupos de aminoácidos e bases de ácidos nucléicos, assim como de vitaminas. Leveduras e bolores em contraste geralmente proliferam nos vegetais superiores, e ,muitas estirpes exigem apenas vitaminas. Outros compostos exigidos por numerosos micróbios são o inositol e colina (como componentes dos fosfolipídios ou da parede). Vitamina K, hemina (ou ocasionalmente porfirinas). Ácidos graxos insaturados, ácido mevalônico (um precursor de compostos Isoprenóides), poliaminas e compostos quelantes de ferro (p. ex micobactin,excretado por algumas micobatérias e necessário para o M. paratuberculosis). NECESSIDADFS INORGÂNICAS Oxigênio: As necessidades de oxigênio no metabolismo aeróbio, anaerobiose fermentativo já foram discutidas. 0 oxigênio tem pouca solubilidade em água; uma solução em contacto com o ar a 34 Cºcontém cerca de 5 micrograma/ml, que seria consumido em < 10segundos por uma cultura de um aeróbio plenamente desenvolvida. A difusão do 02 através da interface ar-água, portanto, limita a densidade alcançada por uma cultura aerada e bem nutrida; por exemplo, aerando por rotação em frascos, o crescimento freqüentemente não ultrapassa de 1 a 2 mg de peso seco por ml. Além do mais, durante a última fase de tal crescimento a cultura torna-se anaeróbica (alterando freqüentemente a composição dos microrganismos). Anaerobiose: A obtenção de uma atmosfera anaeróbica estrita para a cultura de anaeróbios obrigatórios em meio sólido é difícil, uma vez que tensões mínimas de oxigênio podem ser inibitórias. Entretanto, a suplementação do meio com um composto sulfidrílico como o tioglicolato de sódio (HSCH2COONa) permite que até o anaeróbio mais estrito, como o Clostridium tetani, cresça em tubos expostos ao ar. É útil adicionar uma camada de óleo ou de parafina para diminuir a difusão do oxigênio, em ágar semi-sólido (0,2 a 0,3%) para impedir correntes de convecção. Na natureza, a regra é encontrar culturas mistas e os anaeróbios estritos podem depender da presença de microrganismos facultativos, vizinhos, que consomem o oxigênio presente. Gás Carbônico: O papel do CO2 como nutriente universal essencial (Fixação heterotrófica do CO2 Alguns microrganismos (p. ex., meningococos e gonococos), especialmente, quando isolados pela primeira vez, iniciam melhor seu crescimento numa pressão de CO2 superior à encontrada no ar (cerca de 0,03 % do ar atmosférico) .Presume-se que eles tenham alguma enzima com pouca afinidade pelo CO2.Uma pressão elevada de CO2 é convenientemente obtida colocando-se uma vela em um recipiente. Trata-se de um vaso fechado contendo uma vela que fica acesa até extinguir-se por si só. O abaixamento correspondente da pO2, entretanto, não leva a uma anaerobiose estrita. Os íons inorgânicos necessários em quantidades substanciais são PO-34, K + e Mg ++ , NH3, e SO - - 2 quatro (ou um produto reduzido) também são necessários na ausência de fontes orgânicas de N e S. Ao contrário das células de mamíferos, a maioria das bactérias pode crescer numa ampla faixa de concentração dos íons requeridos. Esta flexibilidade durante muito tempo impediu o reconhecimento da necessidade de um "melei interne" constante, assim como necessidades nutritivas simples escondem seu complexo metabolismo. NESSIDADES FÍSICAS E IÔNICAS As bactérias patogênicas proliferam, naturalmente, em condições semelhantes às do corpo dos mamíferos e suportam uma gama mais ampla de temperatura, pressão osmótica e pH. Entretanto, preenchendo todos os nichos ecológicos possíveis, o mundo bacteriano tem desenvolvido membros que podem crescer em condições extremas para qualquer outro grupo de microrganismos: temperaturas acima de 90ºC, pH abaixo de 1,0 ou salinidade acima de 30% de NaCI. Estes microorganismos são de considerável interesse como modelos naturais que auxiliam a correlacionar estruturas e funções de macromoléculas. A temperatura externa determina, certamente, aquela dentro da célula; a pressão osmótica intracelular não pode ser menor do que a externa (embora a composição específica seja diferente). Em conseqüência, nas células que resistem aos extremos destes parâmetros, as enzimas e os ribossomos também devem ser resistentes, Um baixo pH externo ao contrário, não corresponde necessariamente ao pH intemo; na ausência,de um método de medida precisa do pH intracelular, só podemos estar certos de que a parede celular e a membrana estão expostas a estas condições externas. A existência de termófilos mostra que anatureza pode desenvolver proteínas, necessárias para todas as funções celulares essenciais com estabilidade muito além daquela dos limites usuais. Por outro lado, muitos mutantes sensíveis à temperatura, isolados no laboratório, formam enzimas específicas alteradas que se desnaturam em temperaturas comuns. Temperatura: A maior parte das bactérias pode crescer em tomo de uma temperatura de 30°C ou mais, mas tem uma faixa relativamente estreita para o crescimento ótimo. Abaixo desta faixa, a velocidade de crescimento cai (típico de reações enzimáticas), mas em seguida cai mais rapidamente, determinando uma temperatura mínima de crescimento, bem definida. Acima dela, a velocidade de crescimento cai rapidamente, e o aumento da temperatura determina também uma temperatura máxima de crescimento, bem definida. A Faixa de temperatura de crescimento de um microrganismo é uma característica estável, de considerável valor taxonômico. É costume dividir as bactérias em mesófilas, psicrófilas (ou criófilas) e termófilas. A maior parte das bactérias é mesófila. Aquelas encontradas no corpo dos mamíferos têm um ótimo de temperatura entre 37 e 44°C, mas muitas outras encontradas na natureza (p. ex., Bacillus megalerium) crescem melhor a 30°C. As psicrófilas (predominantemente as pseudomonas) toleram, mais do que preferem temperaturas muito baixas ;raramente seu ótimo e inferior a 2 ºC, mas multiplicam-se numa temperatura razoável,mesmo a OºC. Estes microrganismos são importantes na decomposição de alimentos refri- gerados e além disso são encon1raaos nas águas naturalmente frias e no solo. As termófilas (predo- minantemente bacilos) ao contrário, podem ter um ótimo de temperatura tão alto quanto 50 a 55ºC, com uma tolerância até 9ºC. São encontradas especialmente em fontes termais e esterqueiras. Choque ao Frio: Embora seja possível conservar bem as bactérias num refrigerador, o resfriamento brusco de células em crescimento exponencial de algumas espécies (E. coli, Pseudomonas) tem, como conseqüência, uma mortalidade apreciável (superior a 90 %). Este fenômeno curioso não é observado com um resfriamento progressivo ou com células em fase estacionária; deve estar relacionado a alterações da composição dos lipídeos da membrana celular com a temperatura e a fase do crescimento . pH: A faixa de pH tolerada pela maioria dos microrganismos tem a extensão de 3 a 4unidades, mas um crescimento rápido pode estar limitado a unidade ou menos. E. coli não tolera um pH muito superior a 8 ou inferior a 4,5, enquanto que germes patogênicos, adaptados a tecidos (Pnemococcus, Neisseria, Brucella) têm um limite menor. O Acetobacter, formador de vinagre e bactérias que oxidam enxofre conseguem tolerar o ácido que produzem até IN (pH ~ O para o ácido sulfúrico). Em contraste algumas poucas espécies bacterianas (desdobradoras de uréia, o Alcaligenes faecalis, o vibrião colérico) proliferam num pH 9,0 ou mais. A maior parte das leveduras e bolores são extremamente tolerantes a ácido, sendo esta característica utilizada na preparação de meios seletivos para sua cultura. Halófilos:Como já foi mencionado, o Na e o CI- não são muito exigidos pelas bactérias, embora elas tolerem concentrações moderadas. A maioria das bactérias isoladas do oceano, todavia são ligeira- mente halólilas exigindo NaCl em concentrações próximas das encontradas em seu habilal natural (3,5%). Além disso, halólilos moderados e extremos que exigem até 20% de NaCI e cujo valor ótimo está próximo da saturação (um pouco acima de 30%), são encontrados em salinas e lagos onde há evaporação da água salgada, e também, em conservas (pickles). Embora os halófilos contenham uma concentração elevada de Na + , a maior parte do seu alto conteúdo salino é de K+. Além disso, muitas de suas enzimas e seus ribossomos presentes em extratos 510 mais estimulados pelo K+ do que pelo Na+ . Assim, é provável que uma função primordial do sal externo seja puramente osmótica, permitindo o acúmulo de uma concentração intracelular alta de K + , à qual as enzimas das células estão adaptadas. Além disso, os halófilos tem uma parede celular pouco comum, cuja integridade requer uma alta concentração de Na+. Água: Ao contrário dos organismos superiores, cujo tegumento especializado permite a retenção de água, o crescimento e metabolismo dos micróbios dependem, de maneira imediata, da presença de água no ambiente. Assim. em regiões muito úmidas, tecidos colaboram rapidamente lembrando-nos que quando o homem retira esses materiais orgânicos temporariamente do ciclo geoquímico deve preservá-Ios da umidade e conseqüentemente, do ataque microbiano. Na realidade, exércitos que trazem equipamento completo para os trópicos têm necessidade de utilizar fungicidas até mesmo para proteger lentes de vidro contra o ataque dos fungos. CICLO DE CRESCIMENTO O crescimento em meio líquido é útil para enriquecimento de culturas, obtenção de metabólitos, contagem de células bacterianas e para determinação do ciclo de cescimento que mostra a cinética do crescimento expressa por uma curva que tem o mesmo perfil para todas as espécies, mas variando e extensão de suas fases do crescimento. O crescimento de bactérias em meio adequado é caracteristicamente exponencial .Entretanto, uma cultura crescendo de maneira exponencial eventualmente diminui e cessa o crescimento porque um nutriente necessário (freqüentemente O2) toma-se limitante ou devido ao acúmulo de produtos metabólicos inibidores (freqüentemente ácidos orgânicos ou álcool). Nesta transição da fase log á- fase estacionária), as células tomam-se menores, como resultado de uma divisão mais rápida do que o seu crescimento; além do mais, desenvolvem-se grandes alterações na composição macromolecular- . e pode cessar a manutenção de seu alto conteúdo intracelular de K+. Quando as células da fase estacionária são transferidas para um meio novo, exibem uma fase lag que varia em extensão com o microrganismo e o meio de cultura; é muito mais pronunciada em meio mínimo do que em meio Rico. Comparando-se os lags através da medida do número de células e da massa celular, observa-se que são maiores no primeiro, pois as células nesta fase inicialmente aumentam de tamanho para então começar a se dividir. Quando se transferem células que estão crescendo exponencialmente num meio rico para outro meio novo idêntico não há demora alguma no reinicio do crescimento. Em transferência de meio mínimo para um novo meio mínimo pode ou não haver um lag; é mais provável que ocorra com pequenos inóculos (p.ex., sem turvação visível). Um dos fatores que promove este lag é a inibição do crescimento por traços de contaminantes presentes no meio (p.ex.. sabão ou íons de metais pesados). Outro, é a necessidade de acumular CO2, essencial para a biossíntese. As células na fase estacionária desenvolvem alterações químicas adaptativas que aumentam sua estabilidade. Entretanto, após incubação prolongada as células morrem e as lesões resultantes na membrana provocam a ativação de enzimas autolíticas. Os produtos liberados fornecem substratos para um crescimento críptico das células sobreviventes: em conseqüência, pode haver um acumulo de mutantes mais resistentes, embora não haja um aumento do crescimento. CINÉTICA EXPONENCIAL Na fase exponencial de crescimento, a velocidade da síntese do protoplasma bacteriano-, em qualquer período de tempo, é proporcional á quantidade de protoplasma presente naquele momento: d8/dt =αB onde B é a massa bacteriana, I é o tempo e cr: é a constante de velocidade instantânea de crescimento para aquela cultura (i.e., o aumento relativo porunidade de tempo). Assim sendo, projetando-se o logaritmo de B contra o tempo obtém-se uma linha reta. Esta projeção semilogaritmica é geralmente empregada para as curvas de crescimento bacteriano. A fase exponencial também é freqüentemente chamada de "fase log" porque o logaritmo da massa aumenta linearmente com o tempo. Bibliografia Trabulsi & Alterthum - Microbiologia 5 a ed. Livraria Atheneu editora, 2006
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