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C A P Í T U L O 3
Contradireitos, objeto litigioso 
do processo e improcedência 
no CPC-20151
Fredie Didier Jr.2
SUMÁRIO: 1. NOTA INTRODUTÓRIA; 2. GENERALIDADES SOBRE A DECISÃO DE IMPROCEDÊNCIA; 3. CON-
TRADIREITO: CONCEITO E REGIME JURÍDICO PROCESSUAL; 4. CONTRADIREITO E OBJETO LITIGIOSO DO 
PROCESSO; 5. A IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO DO AUTOR QUE RESULTA DO ACOLHIMENTO DO CONTRADI-
REITO EXERCIDO PELO RÉU; 6. A DECISÃO QUE ACOLHE CONTRADIREITO DILATÓRIO; 7. A DECISÃO QUE NÃO 
ACOLHE A AFIRMAÇÃO DE CONTRADIREITO COMO UMA DECISÃO DE MÉRITO.
1. NOTA INTRODUTÓRIA
O objetivo deste ensaio é examinar um problema pouco enfrentado pela 
dogmática processual, embora, paradoxalmente, muito frequente na prática 
forense: qual a natureza da decisão que, ao acolher um contradireito exercido 
pelo demandado, julga improcedente o pedido do autor. 
Para tanto, será preciso definir o que se entende por improcedência e por 
contradireito e, ainda, apresentar qual a concepção que se adota do objeto 
litigioso do processo civil brasileiro.
2. GENERALIDADES SOBRE A DECISÃO DE IMPROCEDÊNCIA
A improcedência é o juízo de não acolhimento do pedido formulado pelo 
demandante – seja ele autor, reconvinte, opoente etc.
1. Este ensaio é a versão atualizada, em conformidade com o CPC-2015, do seguinte ensaio DIDIER Jr., Fredie. 
Contradireitos, objeto litigioso do processo e improcedência. Revista de Processo. São Paulo: RT, 2013, v. 223, 
p. 87-100.
2. Professor-associado da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (graduação, mestrado e 
doutorado). Professor-coordenador do curso de graduação da Faculdade Baiana de Direito. Membro da 
Associação Internacional de Direito Processual (IAPL), do Instituto Iberoamericano de Direito Processual e 
do Instituto Brasileiro de Direito Processual. Presidente da Associação Norte e Nordeste de Professores 
de Processo. Mestre (UFBA), Doutor (PUC/SP), Livre-docente (USP) e Pós-doutorado (Universidade de Lis-
boa). Advogado e consultor jurídico. www.frediedidier.com.br
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A improcedência pode lastrear-se em diversos fundamentos, tais como: 
a) não ocorrência do fato gerador do direito afirmado pela parte; b) embora 
o fato afirmado pelo demandante tenha ocorrido, ele não tem aptidão para 
produzir o direito cujo reconhecimento se buscava; c) reconhecimento de fato 
impeditivo da formação do direito afirmado pelo demandante; d) o direito afir-
mado existia, mas fato superveniente à propositura da demanda o extinguiu ou 
retirou sua eficácia; e) reconhecimento de um contradireito, exercido pelo réu, 
que extingue o direito afirmado pelo autor, ou neutraliza os seus efeitos; f) a 
ausência de prova dos fatos constitutivos do direito afirmado pelo autor.
A variedade de espécies torna o estudo da improcedência mais complexo 
do que se imagina em um primeiro momento.
A correta análise do problema deve partir de um pressuposto: toda de-
manda permite ao menos duas soluções para o seu mérito, o acolhimento ou 
a rejeição, sem que isso viole a regra da congruência (arts. 141 e 492, CPC). 
Pode-se afirmar, inclusive, que toda a demanda é, essencialmente, “dúplice por 
contraditoriedade”.3 Não há, portanto, necessidade de o réu pedir a simples 
improcedência da demanda. Exatamente por isso, pode o juiz julgar improce-
dente o pedido: a) liminarmente, sem ouvir o réu (art. 332, CPC); b) mesmo no 
caso de revelia.
Disso se pode extrair a conclusão de que a improcedência não é resultado 
de uma ação contrária proposta pelo réu contra o autor. Se não fosse assim, 
ao julgar improcedente a demanda sem a postulação do réu, nos dois casos 
acima indicados, estaria o juiz, rigorosamente, agindo como legitimado extraor-
dinário, exercendo, em nome próprio, situação jurídica do réu contra o autor. 
Esta premissa também autoriza que se repila uma construção dogmática 
engenhosa e sedutora, para livrar o revel do efeito material da revelia (a pre-
sunção de veracidade das afirmações de fato feitas contra ele): o revel pro-
poria ação autônoma declaratória de inexistência do direito do autor, que, em 
razão de uma suposta conexão com a ação principal, implicaria a reunião das 
causas, para processamento e julgamento simultâneos. Com esta demanda, 
os fatos estariam controvertidos e, assim, a presunção de veracidade deixaria 
de existir. Esta alternativa estaria lastreada no princípio da inafastabilidade da 
jurisdição, do qual decorre o direito fundamental de ação.4
3. Na expressão de Roberto Gouveia Filho, apresentada em encontro realizado em Recife, 27.09.2012. Em 
sentido análogo, cf. OLIVEIRA, Bruno Silveira de. Conexidade e efetividade processual. São Paulo: RT, 2007, 
p. 99. Sobre o tema, ainda, SICA, Heitor. O direito de defesa no processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas, 
2011, p. 211-218.
4. O argumento vem exposto com desenvoltura e profundidade OLIVEIRA, Bruno Silveira de. Conexidade e 
efetividade processual, cit., p. 351 e segs. 
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Esta solução não parece ser dogmaticamente aceitável.
A “ação contrária” proposta pelo réu é, na verdade, a mesma ação ante-
riormente proposta pelo autor. Entre elas não há conexão, como se supunha; 
há, na verdade, litispendência. Está-se diante da mesma demanda, proposta 
por partes diferentes, com vetores contrários. A improcedência do pedido do 
autor, em razão da inexistência do seu direito, é uma das consequências possí-
veis da instauração daquele processo, como já visto. Pedi-la por meio de ação 
autônoma é apresentar ao Poder Judiciário a mesma situação jurídica já a ele 
anteriormente submetida. Tanto que a “improcedência” desta ação autônoma 
proposta pelo réu consiste, exatamente, na procedência – reconhecimento da 
existência do direito – da ação proposta pelo autor. Estas ações possuem idên-
tica res in iudicium deducta; são idênticas, não conexas.
Não se deve estranhar a afirmação de “litispendência”, pelo fato de as 
partes das ações serem diversas. A litispendência entre ações propostas por 
partes diferentes é fenômeno conhecido e frequente, nos casos de legitimidade 
concorrente5. Ora, todo pedido de reconhecimento de um direito traz embutida 
a possibilidade de este direito não ser reconhecido. Este fenômeno chama-se 
duplicidade, exatamente porque qualquer dos sujeitos da relação jurídica dis-
cutida tem legitimidade para levá-la à apreciação jurisdicional, nada obstante o 
fato de que seus interesses são contrapostos.
3. CONTRADIREITO: CONCEITO E REGIME JURÍDICO PROCESSUAL
O contradireito é uma situação jurídica ativa6 – situação de vantagem – 
exercida como reação ao exercício de um direito. É um direito contra exercício 
de outro direito, assim como o antídoto é um veneno contra um veneno. É um 
direito que não é exercido por ação. A afirmação do contradireito é feita na 
defesa, e não na ação7. Quando reconvém ou formula pedido contraposto – 
espécies de ação do réu contra o autor –, o réu afirma ter direito (e não um 
contradireito) contra o autor; aciona, não se defende. 
Os contradireitos servem para neutralizar a situação jurídica afirmada pelo 
autor, como no caso da prescrição ou da exceção de contrato não cumprido, 
5. Se dois legitimados extraordinários formulam ao mesmo pedido, baseado na mesma causa de pedir, 
teremos a mesma demanda, proposta por autores diversos.
6. MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do Fato Jurídico: plano da eficácia. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 
185-86; CORDEIRO, António Menezes. Tratado de direito civil português: parte geral. 3ª ed. Coimbra: Almedi-
na, 2007, t. 1, p. 350-353; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Aspectos processuais da exceção de contrato não 
cumprido.Salvador: Jus Podivm, 2012, p. 43.
7. Também nesse sentido, OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Aspectos processuais da exceção de contrato não 
cumprido. Salvador: Jus Podivm, 2012, p. 36 e 38. 
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ou extingui-la, como no caso da compensação e dos direitos previstos no §4º do 
art. 1.228 e no parágrafo único do art. 1.255 do Código Civil8. Há quem designe 
os primeiros de exceções substanciais9, enquanto os outros seriam direitos po-
testativos exercitados na defesa10. Talvez fosse preferível designar tudo como 
exceção substancial, que se dividiria em duas espécies, conforme a respectiva 
eficácia – essa é a opção terminológica deste ensaio.
Os contradireitos que neutralizam a situação jurídica afirmada pela outra 
parte podem dividir-se em contradireitos peremptórios, se essa neutralização 
for permanente (como a prescrição), ou dilatórios, se a neutralização for tem-
porária (como no caso da exceção de contrato não cumprido, do direito de 
retenção e do benefício de ordem)11.
Ao exercitar um contradireito, o réu, em vez de negar o direito afirmado 
pelo demandante, o supõe; exatamente por isso, o contradireito o tem em mira, 
para neutralizá-lo ou extingui-lo. 
O réu, ao exercer um contradireito, afirma a causa deste contradireito e 
pede a consequência jurídica dele decorrente. A defesa, neste caso, não con-
siste em mera alegação de fato modificativo ou extintivo do direito afirmado 
pelo autor, tampouco é uma defesa direta (nega os fatos afirmados pelo de-
mandante ou questiona as consequências jurídicas pretendidas): trata-se de 
uma defesa pela qual o réu exerce um direito, uma situação jurídica ativa, cuja 
peculiaridade é exatamente ser exercida contra a afirmação de um direito feita 
por outra pessoa.
De um modo geral, o contradireito, para ser conhecido pelo juiz, preci-
sa ser exercido pelo réu: como se trata de um direito, é preciso que aquele 
que afirma ser seu titular – ou algum legitimado extraordinário – o exerça. 
Não pode, salvo expressa previsão legal, o magistrado conhecer ex officio dos 
8. § 4o do art. 1228 do Código Civil: “O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivin-
dicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de consi-
derável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e 
serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante”.
 Parágrafo único do art. 1.255 do Código Civil: “Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente 
o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, median-
te pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo”.
9. Nesse sentido, Rafael Alexandria de Oliveira, que entende por exceção substancial apenas o contradireito 
neutralizante; não, porém, o extintivo (OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Aspectos processuais da exceção 
de contrato não cumprido, cit., p. 43.). O autor segue a linha de Pontes de Miranda: MIRANDA, Francisco 
Cavalcanti Pontes de. Tratado de direito privado: parte geral. 4ª ed. São Paulo: RT, 1983, t. 6, p. 6.
10. Pontes de Miranda, por exemplo, afirma que as exceções são “inconfundíveis com os direitos formativos 
extintivos, como o direito à compensação, e com as pretensões à decretação de nulidade ou de anula-
ção. Não destroem, não extinguem; encobrem eficácia” (MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado 
de direito privado: parte geral. 4 ed. São Paulo: RT, 1983, t. 6, p. 4). 
11. OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Aspectos processuais da exceção de contrato não cumprido, cit., p. 54.
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contradireitos (que, nesse sentido, são exceções, defesas que o juiz não pode 
conhecer de ofício). A prescrição tem regime jurídico peculiar: embora contra-
direito, pode ser conhecida de ofício pelo juiz (art. 487, II, CPC). 
Não exercido o contradireito no momento da contestação, ocorre a preclu-
são do direito de exercitá-lo, salvo se a lei expressamente permitir o exercício 
a qualquer tempo, o que é raro (ex.: prescrição, art. 193 do Código Civil12).
Observe que essas duas últimas características não são essenciais aos 
contradireitos: compõem apenas o seu regime jurídico-processual, cabendo ao 
direito positivo discipliná-lo; são características contingenciais, portanto. Não 
há desnaturação do contradireito se, por exemplo, o legislador autorizar o seu 
reconhecimento de ofício pelo juiz ou se permitir o seu exercício a qualquer 
tempo, durante o processo.
Finalmente, o art. 190 do Código Civil13, ao enunciar que a exceção prescre-
ve no mesmo prazo da pretensão, refere-se ao difícil tema da prescritibilidade 
dos contradireitos14.
4. CONTRADIREITO E OBJETO LITIGIOSO DO PROCESSO
O objeto do processo é conjunto do qual o objeto litigioso do processo é 
elemento: esse é uma parcela daquele. Enquanto o objeto do processo abrange 
a totalidade das questões postas sob apreciação judicial, o objeto litigioso do 
processo cinge-se a um único tipo de questão, a questão principal, o mérito da 
causa. Enquanto o primeiro faz parte apenas do objeto da cognição do magis-
trado, o segundo é o objeto da decisão15.
A demanda costuma ser considerada como o ato que fixa o objeto litigioso 
e, portanto, define o objeto do ato final do procedimento. A demanda pode ser 
inicial (manejada com a petição inicial) ou ulterior (como é o caso das deman-
das incidentais, reconvencionais, deduzidas através de pedido contraposto, 
oposição, reconvenção, denunciação da lide etc.).
12. Art. 193 do Código Civil: “A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a 
quem aproveita”.
13. Art. 190 do Código Civil: “A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão”.
14. Sobre a prescritibilidade das exceções substanciais, MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de 
direito privado. 4ª ed. São Paulo: RT, 1984, t. 6, p. 25-24; OLIVEIRA, Rafael. Aspectos processuais da exceção de 
contrato não cumprido. Salvador: Editora Jus Podivm, 2012, p. 224-229. 
15. “Por aí se vê que o objeto do processo não é apenas o pedido do autor, ou sua pretensão processual, 
mas tudo aquilo que nele (processo) deva ser decidido pelo juiz. Não só o objeto do ‘judicium’ mas 
também da simples ‘cognitio’. Enfim, todas as questões de fato, ou de direito, relacionados ou não, com 
o mérito, com o início, o desenvolvimento e o fim do processo”. (SANCHES, Sydney. “Objeto do processo 
e objeto litigioso do processo”. Revista de Processo. São Paulo: RT, 1979, n. 13, p. 44 e 45.)
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Discute-se muito sobre em que consiste o objeto litigioso: se ele é apenas 
o pedido ou se nele se inclui também a causa de pedir. O tema é tormentoso.16 
Alguns doutrinadores não chegaram a qualquer conclusão, outros anunciam po-
sição sem maior aprofundamento, mas, segundo a maior parte da doutrina17, o 
objeto litigioso do processo é o pedido.
Há quem defenda que o objeto litigioso do processo é o pedido identi-
ficado com a causa de pedir.18 Há uma tendência doutrinária de seguir esse 
entendimento19, até mesmo em razão do regramento da coisa julgada no direito 
brasileiro, que exige a identidade de pedido e de causa de pedir para a sua 
configuração.
Note que, de acordo com esta concepção, também comporá o objeto liti-
gioso do processo a demanda proposta pelo réu, por reconvenção ou pedido 
contraposto. Nestes casos, o réu é demandante – autor, portanto, embora de 
demanda incidental.
Sucede que esta concepção é insuficiente para explicar a complexidade das 
situações em que,em um processo, alguém afirma ter um direito.
É que a participação do réu na formação do objeto litigioso não se restringe 
ao caso em que ele apresenta uma demanda contra o autor. Quando, em sua 
defesa, exerce um contradireito, como nos casos da compensação, exceção de 
contrato não cumprido e direito de retenção, o réu acrescenta ao processo a 
afirmação de um direito que comporá o objeto litigioso da decisão20. O juiz de-
cidirá sobre a existência deste contradireito como uma questão principal.
16. Sobre o tema, SCHWAB, Karl Heinz. El objeto litigioso en el proceso civil. Buenos Aires: EJEA, 1968, especial-
mente as páginas 241-262. Ver, ainda, Araken de Assis, que elabora belo panorama das doutrinas alemã 
e brasileira sobre o tema: Cumulação de ações. 4ª ed. São Paulo: RT, 2002, p. 103-121.
17. ALVIM, José Manoel de Arruda. “Dogmática jurídica e o Novo Código de Processo Civil”. Revista de Processo 
São Paulo: RT, 1976, n. 01, p. 111; MOREIRA, José Carlos Barbosa. O novo Processo Civil brasileiro. 22 ed. Rio 
de Janeiro: Forense, 2002, p. 10.
18. “O objeto litigioso do processo, portanto, identifica-se com a circunstância jurídica concreta deduzida em 
juízo in status assertionis, que aflora individualizada pela situação de fato contrária ao modelo traçado 
pelo direito material”. (CRUZ E TUCCI, José Rogério. A causa petendi no processo civil. 2ª ed. São Paulo: RT, 
2001, p. 131). Araken de Assis afirma que a definição de mérito, no direito brasileiro, não prescinde da 
causa de pedir. (Cumulação de ações, cit., p. 116, nota 58.)
19. Por exemplo, LEONEL, Ricardo de Barros. “Objeto litigioso e duplo grau de jurisdição”. Causa de pedir e 
pedido no processo civil (questões polêmicas). José Rogério Cruz e Tucci e José Roberto dos Santos Bedaque 
(coord.), São Paulo: RT, 2002, p. 367.
20. Ludovico Mortara chamava os contradireitos de “exceções reconvencionais”, que, na sua visão, distin-
guiam-se das “exceções simples” porque, enquanto estas eram consideradas como simples negativas 
do direito afirmado pelo autor, aquelas constituíam pretensão do réu que tinha por objetivo neutralizar 
a eficácia do direito afirmado pelo autor (MORTARA, Lodovico. Commentario del Codice e delle Leggi di 
Procedura Civile: della competenza; principii generali della procedura. 2 ed. Milão: Casa Editrice Dottor 
Francesco Vallardi, [s.d.], v. II, p. 105). Amaral Santos explica a sua tese: “Em suma, segundo Mortara, as 
exceções reconvencionais seriam aquelas defesas do réu que, consistentes num direito seu, alargariam 
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O objeto litigioso, nesse caso, passa a ser o conjunto das afirmações de 
existência de um direito feitas pelo autor e pelo réu. Resumidamente, no caso 
em que o réu exerce um contradireito, o mérito do processo é a soma de dois 
binômios, que pode expressar-se da seguinte maneira: afirmação do direito 
feita pelo demandante (pedido + causa de pedir) + afirmação do contradireito 
feita pelo demandando (pedido relativo à exceção substancial + causa dessa 
exceção substancial).
A observação tem importante repercussão prática.
A decisão do juiz sobre a afirmação do contradireito, por se tratar de 
decisão sobre o mérito da causa, torna-se indiscutível pela coisa julgada mate-
rial21-22. A não inclusão do contradireito exercido pelo réu no conceito de objeto 
litigioso gera uma situação esdrúxula: haverá um gênero de direitos, aqueles 
que somente são exercidos como reação ao exercício do direito por outra pes-
soa, cuja apreciação jurisdicional não poderia tornar-se indiscutível pela coisa 
julgada material – circunstância que, claramente, não condiz com os princípios 
da segurança jurídica (decisões judiciais sobre um gênero de direitos jamais 
ficariam acobertadas pela coisa julgada, conteúdo da segurança jurídica), da 
inafastabilidade da apreciação jurisdicional (na medida em que uma gama de 
direitos estaria excluída da definitividade da jurisdição, em qualquer caso) e 
da igualdade (direitos de autor e réu teriam regime jurídico processual diverso, 
sem qualquer justificativa nesse sentido).
Todo procedimento possui um objeto litigioso, que é o tema a ser resolvido 
pelo ato final, do qual todos os demais atos que o compõem são preparatórios. 
o tema decidendo originário, forçando o juiz a apreciá-lo e decidi-lo conjuntamente com a pretensão do 
autor. Mas as contra-pretensões do réu, compreendidas nas exceções, não tenderiam senão a paralizar 
[sic], no todo ou em parte, a ação do autor. E nisso se distinguiriam da ação reconvencional, que tem 
também por objeto um direito do réu, do qual se serve, não para paralizar [sic] o direito do autor, mas, 
aproveitando da oportunidade que a ação lhe enseja, pedir alguma coisa em seu favor” (SANTOS, Moacyr 
Amaral. Da reconvenção no direito brasileiro. São Paulo: Max Limonad, 1958, p. 128).
21. Reviu-se, assim, a concepção defendida até a 13ª edição do v. 1 do Curso de Direito Processual Civil, pu-
blicado pela Editora Jus Podivm, em que seguíamos a concepção de que o objeto litigioso do processo 
seria composto apenas pelo pedido e pela causa de pedir contidos na petição inicial.
22. No sentido do texto, MORTARA, Lodovico. Commentario del Codice e delle Leggi di Procedura Civile, v. II, op. 
cit., p. 104 e seguintes; DENTI, Vitorio. L’eccezione nel processo civile. Rivista Trimestrale di Diritto e Proce-
dura Civile. Milão: Giuffrè, ano XV, p. 36 e seguintes, 1961; MESQUITA, Luís Miguel de Andrade. Reconvenção 
e excepção no processo civil, o dilema da escolha entre a reconvenção e a excepção e o problema da falta 
de exercício do direito de reconvir. Coimbra: Almedina, 2009, p. 254. Recomendável, ainda, a consulta à 
obra de Heitor Sica, que defende uma visão ainda mais ampla da participação do réu na formação do 
objeto da coisa julgada – para o autor, a contestação do réu, em qualquer caso, é uma ação declaratória 
por ele proposta, que deve ser examinada pelo juiz como questão principal (SICA, Heitor. O direito de 
defesa no processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas, 2011, p. 245). Em sentido diverso, entendendo que a 
afirmação da exceção substancial não compõe o objeto litigioso, ORIANI, Renato. Eccezione. Digesto delle 
Discipline Privatistiche: sezione civile. Turim: UTET, 1991, v. VII, p. 281); COLESANTI, Vittorio. Eccezione (dir. 
proc. civ.). Enciclopedia del diritto. Padova: CEDAM, 1965, v. XIV, item 14. 
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O objeto litigioso de cada procedimento é definido pelo seu ato inaugural, nor-
malmente uma demanda formulada por uma das partes – com a possibilidade 
de ampliação em razão da postulação do réu (com a afirmação de direitos, na 
reconvenção ou pedido contraposto, ou contradireitos, na defesa) 23. 
5. A IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO DO AUTOR QUE RESULTA DO ACOLHI-
MENTO DO CONTRADIREITO EXERCIDO PELO RÉU
O inciso I do art. 487 do CPC cuida da principal hipótese de extinção do 
processo com resolução do mérito: trata-se do julgamento do objeto litigioso 
do processo. Chama-se de procedência o julgamento em que o magistrado 
acolhe o pedido; improcedência, por conseguinte, é a conclusão a que se chega 
quando o pedido não pôde ser acolhido.
O objeto litigioso do processo é, como visto, formado pelo pedido formu-
lado pelo demandante e, se for o caso, pela afirmação do contradireito feita 
pelo demandado em sua defesa. 
A improcedência do pedido do autor pode lastrear-se no reconhecimento 
de um contradireito, exercido pelo réu, que extingue o direito afirmado pelo 
autor, ou neutraliza os seus efeitos.
No caso de decisão que acolhe contradireito que neutraliza os efeitos do 
direito afirmado pelo demandante, é preciso registrar que somente haveráimprocedência quando se tratar de neutralização permanente – contradireito 
peremptório. Acolhida a prescrição, por exemplo, julga-se improcedente o pe-
dido do autor; o mesmo ocorre se acolhida a exceção de que a dívida cobrada 
é oriunda de jogo (art. 814 do Código Civil); acolhida a compensação, idem – no 
limite, poderia haver uma procedência parcial, se a compensação fosse parcial. 
Note que, neste caso, haverá um juízo de procedência da afirmação do contra-
direito feita pelo réu e de improcedência do pedido do autor. Decisão judicial 
com dois capítulos, portanto24.
Se se tratar de neutralização temporária, o juiz não deve julgar improce-
dente o pedido do autor. Neste caso, deve o juiz acolher o pedido do autor, 
mas retirar-lhe temporariamente a eficácia. Haveria uma situação curiosa de 
dupla procedência (da ação e da defesa): autor e réu possuem os direitos 
23. Durante o processo, o objeto litigioso pode ser ampliado, com a propositura de demandas incidentais, 
tais como a denunciação da lide e o incidente de falsidade documental.
24. Ao menos nestes casos, não se pode dizer que a improcedência do pedido do autor não significa tutela 
de direito do réu, como afirma Marinoni, genericamente (Teoria Geral do Processo. São Paulo: RT, 2006, 
p. 261-26). A improcedência do pedido do autor, que decorre do acolhimento de exceção substancial 
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que afirmam ter. Sucede que o direito do réu consiste apenas na paralisação 
da eficácia do direito do autor. O tema exige reflexão mais demorada – a ele 
dedica-se o próximo item.
6. A DECISÃO QUE ACOLHE CONTRADIREITO DILATÓRIO25
O contradireito dilatório – ou exceção substancial dilatória, de acordo com a 
terminologia empregada nesse ensaio – é o contradireito que pode ser exercido 
pelo demandado, contra o demandante, com o objetivo de impedir, tempora-
riamente, que este, demandante, exerça o seu direito ou pretensão. Nesses 
casos, a exceção consiste num direito que o demandado tem de recusar a 
prestação que o demandante quer ver certificada em seu favor até que esse 
demandante adote, ele próprio, alguma conduta.
Qual é a questão: acolhida a exceção substancial dilatória, qual deve ser a 
decisão sobre o pedido do autor?
Há três correntes doutrinárias sobre o assunto.
Há quem afirme que o pedido do autor deve ser julgado improcedente. 
Assim, teríamos uma decisão com dois capítulos: improcedência do pedido do 
autor e procedência da afirmação do contradireito pelo demandado26. É o posi-
cionamento de Miguel Mesquita, cuidando especificamente da exceção de con-
trato não cumprido27. O autor defende que o caso é de “mera improcedência 
temporária da acção e a consequente paralisação do direito subjectivo, sem 
ficar afastada a possibilidade do seu exercício futuro”28. O art. 466-C do CPC-1973 
parecia seguir essa orientação: segundo o qual, quando um contrato tiver por 
objeto a transferência de coisa determinada, ou de qualquer outro direito, o 
pedido de cumprimento de tais obrigações não será acolhido “se a parte que 
25. Este item baseia-se no livro de Rafael Alexandria de Oliveira, tantas vezes citado neste ensaio; o pano-
rama do problema, por ele apresentado, é excepcional (OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Aspectos proces-
suais da exceção de contrato não cumprido, cit., p. 313-319).
26. Assim, por exemplo, decidiu o STJ: “CIVIL E PROCESSO CIVIL. EXCEPTIO NON ADIMPLETI CONTRACTUS. EFEITO PRO-
CESSUAL. A exceção de contrato não cumprido constitui defesa indireta de mérito (exceção substancial); 
quando acolhida, implica a improcedência do pedido, porque é uma das espécies de fato impeditivo 
do direito do autor, oponível como preliminar de mérito na contestação (CPC, art. 326). Recurso especial 
conhecido e provido”. (REsp 673.773/RN, rel. Min. Nancy Andrighi, rel. para acórdão Min. Ari Pargendler, 
Terceira Turma, julgado em 15.03.2007, publicado no DJ de 23.04.2007, p. 256). 
27. MESQUITA, Luís Miguel de Andrade. Reconvenção e excepção no processo civil: o dilema da escolha entre a 
reconvenção e a excepção e o problema da falta de exercício do direito de reconvir. Coimbra: Almedina, 
2009, p. 95.
28. MESQUITA, Luís Miguel de Andrade. Reconvenção e excepção no processo civil: o dilema da escolha entre a 
reconvenção e a excepção e o problema da falta de exercício do direito de reconvir. Coimbra: Almedina, 
2009, p. 93.
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a intentou não cumprir a sua prestação, nem a oferecer, nos casos e formas 
legais, salvo se ainda não exigível”.
A segunda corrente caminha em sentido oposto. Entende-se que o pedido 
do autor deve ser julgado procedente, condenando-se o demandado a uma 
prestação, assim que receber a sua contraprestação29. O pensamento baseia-se 
em enunciado do Código Civil alemão30.
RENÉ CASSIN, por sua vez, entende que o acolhimento da exceção não impor-
ta nem mesmo a rejeição temporária da demanda do autor. Seu efeito será 
simplesmente, em princípio, o de impedir uma condenação pura e simples do 
excipiens, e de fazer adicionar a esta condenação uma condição31, que seria a 
condição do adimplemento, por parte do demandante/excepto, da sua própria 
prestação. Também nesse sentido é a opinião de PONTES DE MIRANDA32, para quem, 
acolhida a exceção, deve-se julgar procedente a demanda, mas a satisfação 
do crédito do autor dependerá de que ele cumpra a própria obrigação. Essa 
opinião foi apresentada no caso de acolhimento de exceção de contrato não 
cumprido, mas pode, tranquilamente, ser estendida a qualquer caso de acolhi-
mento de exceção substancial dilatória.
Como afirma RAFAEL ALEXANDRIA DE OLIVEIRA33, esta é a melhor solução, porque 
mais econômica, na medida em que evita futura demanda, após cumprida a 
contraprestação pelo autor34, pleiteando direito que jamais lhe foi negado – o 
contradireito não nega o direito, conforme dissemos.
Enfim, ao acolher a exceção substancial dilatória, o órgão jurisdicional 
deve julgar procedente a demanda, com a consequente certificação do direito 
afirmado pelo autor e a imposição ao réu do cumprimento desse direito, sob 
29. ENNECCERUS, Ludwig. Derecho de obligaciones. Revisão de Henrich Lehmann. Tradução e adaptação da 35 
ed. alemã feita por Blas Pérez González e José Alguer. Barcelona: Bosch, 1950, v. I, p. 169.
30. Eis a redação do §322 do BGB: “(Condena a la prestación simultânea) (1) Si una parte interpone acción 
al cumplimiento de la prestación debida de un contrato bilateral, el ejercicio del derecho que le cor-
responde a denegar la prestación hasta la ejecución de la contraprestación sólo tiene la eficacia que la 
otra parte debe ser condenada al cumplimiento simultâneo. […]” (MARQUÈS, Albert Lamarca. Código Civil 
Alemán y Lei de Introducción al Código Civil. Madrid: Marcial Pons, 2008, p. 103).
31. No original: “n’emporte même pas le rejet temporaire de l’action du demandeur. Son effet sera simple-
ment en principe d’empêcher une condamnation pure et simple de l’excipiens, et de faire adjoindre à 
cette condamnation […] une condition” (CASSIN, René. De l’exception tirée de l’inexécution dans les rapports 
synallagmatiques: exception non adimpleti contractus et de ses relations avec le droit de rétention, la 
compensation et la resolution. Paris: Recueil Sirey, 1914, p. 617).
32. MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de direito privado. 3 ed. São Paulo: RT, 1984, t. XXVI, p. 
103. Pontes de Miranda, em outro tomo do seu Tratado, afirma que “o réu, na ação, pode ser condenado 
a prestar, satisfeita a exigência do excipiente” (Idem. Tratado de direito privado, t. VI, op. cit., p. 22).
33. OLIVEIRA, RafaelAlexandria de. Aspectos processuais da exceção de contrato não cumprido, cit., p. 316-
317.
34. ASSIS, Araken de. Cumprimento de sentença. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 63-64.
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a condição de o demandante, para exigir-lhe a satisfação do direito certificado, 
adotar a conduta que lhe cabe35 – p. ex., cumprir ou assegurar a prestação que 
deve, no caso da exceção de contrato não cumprido; indenizar as benfeitorias 
indenizáveis, no caso da exceção de retenção por benfeitorias; excutir primei-
ramente os bens do patrimônio do devedor principal, no caso de exceção de 
benefício de ordem.
A decisão é, então, duplamente procedente: reconhece a existência do di-
reito do autor (cuja exigibilidade fica, contudo, suspensa) e reconhece também 
a existência do contradireito do réu. As afirmações de direito feitas pelas par-
tes, que compõem o objeto litigioso do processo, são procedentes.
7. A DECISÃO QUE NÃO ACOLHE A AFIRMAÇÃO DE CONTRADIREITO COMO 
UMA DECISÃO DE MÉRITO
O reconhecimento de um contradireito afirmado pelo réu pode levar à 
improcedência do pedido do autor, conforme visto acima. Mas o que acontece 
quando a afirmação do contradireito feita pelo réu é rejeitada pelo juiz?
O problema gira em torno da natureza dessa decisão. 
Tomemos o exemplo da prescrição, que é um contradireito.
O art. 487, II, CPC, dispõe que a decisão é de mérito quando decide sobre 
a prescrição. Decidir sobre a prescrição é acolhê-la ou rejeitá-la. 
Há, neste ponto, sutil diferença em relação ao correspondente do CPC-1973 
(art. 269, IV), que mencionava apenas a decisão que pronunciava a prescrição; 
ou seja, que acolhia a exceção substancial – sem mencionar a hipótese de de-
cisão que rejeita a prescrição, fato que levou parcela da doutrina a considerar 
como de mérito apenas a decisão que a acolhe36. A nova redação impede que 
se chegue a essa conclusão. A mudança do verbo não foi por acaso.
35. Essa é também a opinião de Chiovenda, para quem o acolhimento das exceções substanciais impede 
“la condena pura y simple” e tende a “permitir únicamente a todo lo más una sentencia de condena 
condicionada a la contraprestación” (CHIOVENDA, Giuseppe. Principios de derecho procesal civil. Traducción 
española de la tercera edición italiana y prólogo del Profesor Jose Casais y Santaló. Madrid: REUS, 2000, 
t. I, p. 345). Assim, também, especificamente sobre a exceção de contrato não cumprido, THEODORO JR., 
Humberto. O contrato e seus princípios. 3 ed. Rio de Janeiro: AIDE, 2001, p. 136.
36. Defendiam, à luz do direito anterior, que apenas a decisão que reconhece a prescrição é de mérito: 
LIEBMAN, Enrico Tullio. Estudos sobre o processo civil brasileiro, com notas da Dra. Ada Pelegrini Grinover. 
2ª Ed. São Paulo: Bushatsky, 1976, p. 198-199; NERY JUNIOR, Nelson e ANDRADE NERY, Rosa Maria de. Código 
de processo civil comentado e legislação extravagante. 12ª Ed. São Paulo: RT, 2012, comentários ao artigo 
269; CARVALHO, Fabiano. Ação rescisória: decisões rescindíveis. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 91-93; ALMEIDA 
SANTOS, José Carlos Van Cleef. A decisão interlocutória de mérito no processo civil brasileiro: uma visão da 
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Conforme visto, quando exerce um contradireito, em defesa, o réu amplia 
o mérito (o objeto litigioso do processo). A afirmação do contradireito comporá 
o mérito da causa, ao lado da afirmação do direito feita pelo autor.
A prescrição é exemplo de contradireito. A decisão que não acolhe a pres-
crição resolve parte do mérito da causa – a parcela relacionada à afirmação do 
contradireito.
Se não fosse assim, teríamos uma situação esdrúxula. Um direito (o con-
tradireito) é afirmado em juízo, discutido em contraditório e decidido; se a 
afirmação for considerada procedente, há decisão de mérito e coisa julgada; se 
a afirmação for considerada improcedente, não há decisão de mérito e, pois, 
também não há coisa julgada. Teríamos uma coisa julgada secundum eventum 
litis – coisa julgada que surge de acordo com o resultado do processo –, em 
grave ofensa ao princípio da igualdade. Ou seja: decisão que não acolhe esse 
tipo de direito (o contradireito) jamais se submeteria à coisa julgada. Caso raro, 
possivelmente único, de direito que, mesmo não reconhecido judicialmente, 
poderia ser exercitado novamente, já que não haveria o óbice da coisa julgada.
Essa é mais uma razão para entender que a afirmação de contradireito 
pelo réu compõe o objeto litigioso do processo. É muito importante perceber 
isso, frise-se novamente.
A decisão que não acolhe a afirmação de contradireito é decisão de im-
procedência desta afirmação. Como tal, se subsome ao inciso I do art. 487 (ou 
ao inciso II, que cuida da prescrição, mas que pode ser aplicado por analogia à 
rejeição dos demais contradireitos). É decisão de mérito, apta à coisa julgada37.
perspectiva do procedimento de conhecimento do processo contencioso em primeiro grau de jurisdição. Dis-
sertação de Mestrado. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2012, p. 412-414.
37. Nesse sentido, enunciado n. 161 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “É de mérito a decisão 
que rejeita a alegação de prescrição ou de decadência”.
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