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LITERATURA PORTUGUESA I AP2 2015.1 Gabarito

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Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Universidade Federal Fluminense
Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ
Disciplina: Literatura Portuguesa I
Coordenador: Maria Lúcia Wiltshire de Oliveira
AP 2 – 2015. 1 - GABARITO
QUESTÃO 1 (4 pontos)
“O compromisso ético com o mundo à sua volta é um ponto de contato entre as obras de Manuel Alegre e Jorge de Sena. O enfrentamento ao regime autoritário levou os dois poetas a experimentarem o exílio – que deixaria marcas evidentes em seus textos.” (ERTHAL) 
A partir desta afirmativa, analise os textos a seguir.
Jorge de Sena (2 pontos)
Eu sou eu mesmo a minha pátria. A pátria 
de que escrevo é a língua em que por acaso de gerações
nasci. E a do que faço e de que vivo é esta
raiva que tenho de pouca humanidade neste mundo
quando não acredito em outro, e só outro quereria que
este mesmo fosse. (…)
(SENA, Em Creta, com o Minotauro, 1989, p. 74)
Manuel Alegre (2 pontos)
Eu sou o solitário o estrangeirado
o que tem uma pátria que já foi
e a que não é. Eu sou o exilado
de um país que não há e que me dói. (…)
(ALEGRE, O primeiro soneto do Português errante, 2000, p. 378)
Resposta comentada
As obras dos dois poetas revelam bastante comprometimento com a realidade político-social da época salazarista. O posicionamento ético de ambos desagradou o governo, levando-os a uma experiência de exílio, com sentimentos diferenciados. A partir dos fragmentos apresentados é preciso marcar a semelhança entre ambos, a saber, a relação tensa com a pátria e a diferente forma de reagir de cada um. No texto mais raivoso (“esta raiva”) de Sena, a pátria se tornará o próprio poeta e a língua que herdou por acaso (“Eu sou eu mesmo a minha pátria” e “A pátria de que escrevo é a língua”), além de revela uma preocupação para além do território específico da pátria diante da “pouca humanidade neste mundo”. No fragmento de Manuel Alegre o sentimento é mais nostálgico e menos enraivecido, diante de “uma pátria que já foi /e a que não é”, fazendo remissão implícita a um passado glorioso confrontado ao presente. Apesar de estar fora, seu exílio é sentido como se tivesse dentro do próprio país, cuja realidade nacional parece apagada e o magoa: “Eu sou o exilado /de um país que não há e que me dói”. 
QUESTÃO 2 (4 pontos)
 “As poéticas de Ruy Belo, Fiama e Llansol apontam para a falência do ideal de uma unidade nacional, seja ela política ou cultural. Aos espaços geopolíticos de dominação, propõe um espaço cultural não hierarquizado, agregador de diferenças e singularidades, indefinível, sempre sujeito à transformação ativa.” (Souza Filho)
Discuta a afirmação sem deixar de comentar os textos a seguir: 
2.1. Fiamma Hasse Paes Brandão (2 pontos)
Tão pouco pude esquecer para sempre que o conceito de nacionalidade 
não é o de uma herança ou de estratos do passado 
mas a mais original e mais inovadora obra 
de um indivíduo, não o histórico das sucessivas gerações, 
mas o puro singular campo de visão que se escreve. 
(BRANDÃO, 2006, p. 190)
2.2. Maria Gabriela Llansol (2 pontos)
Sinto-me como alguém que viaja em país estrangeiro, por não me sentir, de modo algum, ligada a uma nação. Na Bélgica, sinto-me menos em terra alheia talvez porque está explícito que nenhum laço de origem política me liga a este país. Sem país em parte alguma, salvo no vazio em que me dei a uma comum idade. Comum idade real por imaginária, e imaginária por verdadeira. 
(LLANSOL, 2006, p. 72)
Resposta comentada
Como na pergunta anterior, o aluno deve mostrar que entendeu o enunciado, comentando a afirmação inicial. As escritas de duas poetas (além da de Ruy belo) são marcadas por uma subversão radical ao problematizarem o conceito tradicional de nação ou pátria criticada como uma construção mental que impõe hierarquias e uniformidade a todos os indivíduos. Além disso, contestam a escrita mimética dos neorrealistas, apostando na potência e na singularidade da obra literária como criadora de mundos. Fiamma repudia a nacionalidade baseada na “herança” ou em “estratos do passado” em favor da “mais original e mais inovadora obra de um indivíduo”: aquilo “que se escreve”. Por sua vez, Llansol não se sente “ligada a uma nação” mesmo estando fora da pátria, como “alguém que viaja em país estrangeiro”. Como Fiamma, encontra seu país “no vazio” de um outro tipo de comunidade que ela associa paradoxalmente à realidade da literatura compartilhada com leitores, por ser imaginária e verdadeira: “Comum idade real por imaginária, e imaginária por verdadeira”. 
QUESTÃO 3 (2 pontos)
Em primeiro lugar, a cultura portuguesa não se esgota na cultura dos portugueses e, vice-versa, a cultura dos portugueses não se esgota na cultura portuguesa. Em segundo lugar, as aberturas específicas da cultura portuguesa são, por um lado, a Europa e, por outro, o Brasil e até certo ponto, a África. Em terceiro lugar, a cultura portuguesa é a cultura de um país que ocupa uma posição semiperiférica no sistema mundial. (SANTOS, 1995, p. 148)
O romance A jangada de pedra insere-se em discussão maior proposta pelo autor acerca do lugar de Portugal no concerto das nações: para Saramago, Portugal foge ao contexto europeu, devendo alinhar-se, juntamente com a Espanha, entre a América do Sul e a África. Como podemos discutir essa questão à luz dos problemas apontados por Boaventura de Sousa Santos?
Resposta comentada
A resposta deve mostrar que o aluno entendeu a argumentação sobre a cultura portuguesa na visão de Boaventura de Sousa Santos: a cultura portuguesa ultrapassa a dimensão nacional; Portugal se abre para Europa mas também para os países de língua portuguesa, outrora as suas colônias; enfim, Portugal é um país semiperiférico, que não é central (como os países europeus), nem periférico (como o Brasil e os países africanos), mas no limite entre as duas categorias. O aluno deve ainda mostrar como o romance A jangada de pedra, de José Saramago, problematiza esta situação de Portugal por ocasião da entrada do país no Mercado Comum Europeu, ao criar a alegoria de uma península ibérica navegante que, juntamente com os povos da Espanha, se separa do resto da Europa e se dirige para o Atlântico Sul em busca de novos parceiros culturais junto ao Brasil e à África. Para Saramago, insatisfeito com a menoridade política e econômica de Portugal no concerto das nações, esta alegoria é um protesto e um aceno à possibilidade de recuperação do país no contexto mundial através da aliança com as antigas colônias, tecendo uma curiosa intertextualidade com as gloriosas naus d´Os Lusíadas de Camões.

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