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Características Morfofuncionais de Adaptação dos Animais em Ambiente Tropical Profa. Janaina Januário da Silva ADAPTAÇÃO E CARACTERÍSTICAS CUTÂNEAS A superfície cutânea: epiderme e seus anexos (pêlos, lã, glândulas sudoríparas e glândulas sebáceas nos mamíferos, penas e penugem nas aves, estruturas córneas nos répteis e escamas nos peixes). Linha mais extensa de contato entre o organismo e o ambiente. Essa condição de fronteira determina as características da superfície externa do corpo, em função daquelas do ambiente e da natureza do organismo do qual faz parte. ****A epiderme e seus anexos NÃO são um conjunto de estruturas fixas e estáticas, mas sim, reguláveis e dinâmicas, capazes de se ajustarem às variações ambientais (SILVA, 2000). CONSTITUIÇÃO A superfície cutânea dos animais é constituída por uma série de camadas, de fora para dentro: 1) capa externa (pêlos, penas, escamas, etc.) 2) epiderme (vários extratos) 3) derme (onde se inserem folículos pilosos e glândulas sudoríparas e sebáceas, vasos sanguíneos, fibras nervosas e fibras musculares lisas) 4) hipoderme (células adiposas e fibras musculares estriadas) COBERTURA DOIS GRUPOS FUNCIONAIS: 1) Proteção mecânica: espinhos, cerdas, crina; 2) Proteção térmica: lã, lanugem, penugem, penas e pêlos. *** A capa externa do corpo dos animais terrestres, constituída pelo pelame (conjunto de pêlos) ou velo (capa de lã) nos mamíferos e pena e penugens nas aves, tem importância fundamental para as trocas térmicas entre o organismo e o ambiente. Funções da capa externa o isolamento térmico, fundamental em climas frios (regiões temperadas e circumpolares) proteção mecânica da epiderme, mimetismo e proteção contra radiação solar Pelame: Capa pilosa cobre a superfície cutânea e protege a epiderme de lesões mecânicas, além de, agir como uma cobertura “sombreadora”, limitando o acesso direto de grande parte da radiação solar sobre a epiderme. *** Este último efeito depende da estrutura dos pêlos, coloração, dimensões e posicionamento Um pelame espesso, com pêlos finos e compridos, oferece uma excelente proteção, independente da sua cor. Mas apresenta propriedades termoisolantes acentuadas, impedindo a passagem de calor da superfície da epiderme para o exterior. Pelame: Pelame constituído por pêlos curtos e eretos, é uma barreira menos eficiente a radiação solar, especialmente se for de coloração clara; Oferecerá maior facilidade à passagem da energia térmica procedente do interior do corpo, particularmente se os pêlos forem bem assentados sobre a epiderme (zebuínos); Uma vantagem dos pêlos mais assentados é que proporcionam uma superfície externa mais reflectante à radiação solar (diminuindo a quantidade de radiação que atinge a epiderme) e a evaporação do suor é muito facilitada. Nelore Charolês Pigmentação da epiderme e do pelame: Melanina: pigmento negro presente na epiderme e seus anexos. Formada pela oxidação de um composto do aminoácido tirosina, proveniente da digestão de proteínas, resultando em um polímero insolúvel de elevado peso molecular, cuja única função conhecida é a proteção contra a radiação ultravioleta, sendo essa função fundamental para os animais que vivem em regiões tropicais. MELANÓCITO ***Nos indivíduos cuja epiderme é permanentemente escura, existe um mecanismo genético que mantém o nível de melanogênese, independentemente das variações na exposição à radiação ultravioleta. ... SOBRE A MELANINA ABERDEEN ANGUS Radiação solar e características da pele e pêlos Nas regiões tropicais, a radiação solar atinge perpendicularmente a superfície da Terra, atravessando uma camada de atmosfera menos espessa do que os raios que atingem diagonalmente as regiões de altas latitudes. Por esse motivo a radiação ultravioleta (UV) é mais intensa nas regiões tropicais Uma das consequências é a ativação intratissular do ergosterol e do 7-dehidrocolesterol, para a formação das vitaminas D2 e D3, respectivamente. Estas vitaminas estão associadas à absorção de Ca e mineralização óssea, de modo que a falta de exposição aos raios UV pode levar ao raquitismo em animais novos. Solário independente do aprisco com piso de cimento rústico (LAPOC UFPR) Radiação solar e características da pele e pêlos As Vitaminas D2 e D3 estão associadas à absorção de Ca e mineralização óssea, de modo que a falta de exposição aos raios UV pode levar ao raquitismo em animais novos. Radiação solar e características da pele e pêlos Por outro lado, o excesso de radiação, principalmente o de ondas mais curtas (<0,3 μm), pode levar a destruição direta dos tecidos e causar processos cancerígenos a radiação ultravioleta causa dano direto ao DNA celular e causa mutações, levando a formação de diversos tipos de carcinomas; O fator predisponente à estes tipos de carcinomas é sempre a ausência de melanina; Por tais motivos desenvolveu-se pela seleção natural, uma pigmentação cutânea escura nos animais e nas raças humanas originárias de climas tropicais. HEREFORD LANDRACE LARGE WHITE Cor do pelame: Sob radiação solar direta, a quantidade de calor (raios infravermelhos) transferida ao animal depende diretamente da cor da pelagem; A capacidade de uma superfície de absorver radiação chama-se absorvidade. Esta varia de 0 a 1, onde o valor 0 significa nenhuma absorção, 0,5 indica que 50 % da radiação é absorvida e 1 indica absorção total; Exemplo: o solo nu tem uma absorvidade de 0,75 a 0,90, a areia de 0,70 a 0,82 e a rocha de 0,85 a 0,88. Coloração dos pêlos Raça Cor do pelame Absorção Reflexão Nelore Branco 46,0 54 Simental Creme 50 50 Santa Gertrudes Vermelho 72 28 Aberdeen angus Preto 90,5 9,5 Simental Santa Gertrudes Aberdeen Angus 20 A COLORAÇÃO PRETA É SEMPRE RUIM ???? Cor do pelame: Em geral, considera-se que uma capa de pigmentação escura apresenta maior absorvidade para a radiação solar de ondas curtas e, portanto, armazena maior quantidade de energia térmica (calor), resultando em maior estresse para os animais do que uma capa de coloração clara (maior refletividade). A transmissão da energia absorvida pela capa para a epiderme é maior nas capas de coloração clara que nas escuras Cor do pelame: Embora a cor negra absorva maior quantidade de radiação térmica, a proteção contra a radiação UV é mais importante do que o superaquecimento corporal, que pode ser compensado de outras formas; Contudo, nos pelames de cor branca a radiação solar, especialmente a faixa do UV, penetra mais profundamente, atingindo as camadas cutâneas; Os animais brancos, com pele muito pigmentada e bem providas de glândulas sebáceas, podem evitar o risco de afecções da pele devidas à radiação solar, pois além da proteção promovida pela pigmentação, o sebo atua como um filtro contra os raios UV. Cor do pelame e clima tropical No clima tropical é mais favorável um pelame de cor branca ou bem clara, com pêlos grossos, curtos e bem assentados sobre uma superfície epidérmica bem pigmentada; A função desse pelame é refletir ao máximo a radiação infravermelha e pelo menos uma fração da faixa UV de ondas mais longas e ao mesmo tempopermitir a perda de calor corporal; A função da epiderme escura é constituir um filtro para a radiação UV de ondas curtas, a qual ultrapassa um pelame com as características descritas acima; ***Em qualquer hipótese, é preferível um indivíduo com pelame negro e com epiderme pigmentada, do que um coberto com pêlos brancos e com epiderme despigmentada. Espessura da pele Devon = 8,15 mm Holandês = 6,08 mm Nelore = 5,75 mm AVES A pele das aves é fina, delgada e elástica na maior parte do corpo; A superfície é seca e escamosa, que resulta da descamação das células epiteliais, pouco vascularizada, há ausência das glândulas sudoríparas ou sebáceas; A única exceção é na glândula uropígea, que está situada na última vértebra, sendo esta secreção usada para impermeabilizar as penas. Efeitos do Ambiente Tropical Sobre o Crescimento Animal No início das civilizações, o homem considerava o animal um ser bruto que não poderia ser atingido pelo estresse. Foi aceito que os animais também sofrem devido a carga de estresse, desenvolvendo patologias similares aos humanos, podendo sucumbir à doenças, sofrer atraso no crescimento ou apresentar baixo desempenho reprodutivo. ... HISTÓRICO Hans Selye em 1936, definiu o estresse como sendo o estado do organismo, o qual, após a atuação de agentes de quaisquer natureza, responde com uma série de reações não específicas de adaptação. 1) Estresse faz parte da vida dos seres vivos, e serve de alerta para algo que não está em harmonia, seja do ponto de vista emocional, seja do ponto de vista físico ou químico; 2) Em condições de estresse o organismo reage para se proteger, e uma série de reações biológicas desencadeadas pelo organismo têm início, liberando substâncias como neurotransmissores (adrenalina), glicocorticóides (cortisol) e opióides endógenos (ß-endorfinas) na corrente sanguínea; ... É FATO SOBRE ESTRESSE 3) Estresse constante sérios danos à saúde, prejudicando o desempenho normal das funções reprodutivas, metabólicas e do sistema imunológico, entre outras animais doentes e menos produtivos. ... FISIOLOGIA DO ESTRESSE Hipófise Hipotálamo H o rm ô n io A d re n o c o rt ic o tr ó fi c o O ambiente é composto de estressores que interagem entre si, incluindo todas as combinações de condições nas quais o organismo vive (ambiente externo e ambiente interno). Podem ser: • Mecânicos (traumatismos); • Físicos ou metabólicos (calor, frio, umidade, hipoglicemia); • Químicos (drogas); • Biológicos (agentes infecciosos, dor, esforços corporais); • Psíquicos ou emocionais (medo, ansiedade, isolamento). ... ESTRESSORES Fatores climáticos (temperatura, umidade, vento e radiação) podem causar estresse calórico nos animais, diminuindo o ritmo de crescimento fetal e antes e após a desmama. O ganho de peso nos animais em crescimento é muito mais afetado do que nos animais adultos em condições de estresse térmico aumentam a ingestão de água e diminuem a ingestão de alimentos. ***Mudanças na utilização de energia para dissipação de calor que implicam em desvio da energia que poderia ser utilizada para o crescimento CRESCIMENTO X AMBIENTE TROPICAL 1. Crescimento pré-natal (crescimento fetal) A temperatura ambiente é, sem dúvida, o fator climático mais importante que afeta o crescimento fetal; A diminuição do crescimento pré-natal, se deve à diminuição da utilização de substratos (albumina do ovo, por embriões de aves) e à diminuição da circulação sanguínea no útero, da disponibilidade de substrato e da massa placentária no final da gestação, ocasionando atrofia fetal nos mamíferos. CUIDADOS COM A FASE INICIAL DAS CRIAÇÕES (ANIMAIS RECÉM NASCIDOS) A amplitude térmica externa reflete diretamente na amplitude térmica interna dos galpões criação; Os maiores índices de mortalidade ocorrem em dias de amplitudes maiores; O manejo adequado, bem como as instalações bem planejadas podem solucionar parcialmente o problema de calor ou frio excessivos; Entretanto, em dias de amplitudes críticas e temperaturas mínimas muito abaixo da Zona de Termoneutralidade nas primeiras semanas, a única solução fica sendo o aquecimento artificial adequado. LEITÕES SOB FONTE DE AQUECIMENTO NOS PRIMEIROS DIAS DE VIDA CUIDADOS COM A FASE INICIAL DAS CRIAÇÕES (ANIMAIS RECÉM NASCIDOS) Mesmo em ambientes nos quais a temperatura varia entre 22 a 30oC, não é aconselhável a retirada do aquecimento na fase inicial dos frangos de corte (por exemplo) para reduzir os custos de produção, pois a resposta comportamental de agrupamento, não é suficiente para compensar a demanda energética sem custo adicional extra, refletindo na piora da conversão alimentar desvio da energia para manutenção da temperatura corporal. Os recém-nascidos tem pouca reserva de energia e a sua capacidade para regular a temperatura corporal é limitada, sendo importante que logo após o nascimento o animal mame para adquirir energia e sobreviver (colostro). 38 Por que as crias têm que mamar o colostro logo nas primeiras horas após o parto ???? CUIDADOS COM A FASE INICIAL DAS CRIAÇÕES (ANIMAIS RECÉM NASCIDOS) A maior ocorrência de mortes de recém nascidos se verifica quando o tempo é frio e úmido, acompanhado de vento (Exemplo: Região Sul); Para evitar a morte dos recém-nascidos em situações de frio, deve-se secar os pêlos o mais rápido possível após o nascimento, esfregando vigorosamente o corpo do animal com um pano seco (estimular a atividade muscular) e protegê-lo do vento; Pode-se utilizar aquecedores elétricos e lâmpadas infravermelha em casos mais críticos. COBERTURAS PARTOS 2. Crescimento pós-natal: O crescimento pós-natal durante a lactação depende do meio ambiente imposto ao recém nascido e dos fatores ambientais impostos à mãe e, consequentemente, à sua produção de leite; A estação do ano em que ocorre o nascimento afeta ambos; As altas temperaturas podem reduzir o crescimento de animais após o desmame, em graus diferentes, segundo a raça, a idade, a gordura corporal, o plano de nutrição e a umidade relativa do ar. TEORIA TERMOSTÁTICA DO CONTROLE DO CONSUMO DE ALIMENTO Todos os animais homeotérmicos apresentam um consumo de alimento inversamente proporcional à temperatura do meio ambiente (NRC, 1981); A alteração do consumo de alimento, em função da temperatura ambiente, é um dos mecanismos que possibilitam ao animal regular sua temperatura corporal; Assim, o animal diminui o consumo de alimento, quando a temperatura ambiental é alta, e aumenta, quando é baixa. Esse comportamento alimentar está associado aos mecanismos de produção e perda de calor. Efeitos psicológicos O efeito do estresse no crescimento de animais não está relacionado unicamente à estressores de natureza física, mas também a pressões psicológicas. Semelhantes estados de estresse, que podem resultar em menores ganhos de peso em bovinos, foram observados em várias situações: grupos confinados com maior densidade populacional, animais de menor categoria social e em animais isolados (ENCARNAÇÃO, 1989). Em suínos, coelhos e equinos também é notório o efeito social no desempenho produtivo. MUDANÇAS NA COMPOSIÇÃO DO CORPO EM ANIMAIS EM CRESCIMENTOAlém da influência sobre o crescimento, os fatores ambientais influenciam a composição do corpo (características de carcaça e qualidade da carne); Em todas as espécies animais, o crescimento pára em temperaturas limites (baixas ou altas) e é máximo nas zonas de conforto do animal (zona de termoneutralidade); Vacas Holandesas de regiões mais quentes apresentam comprimento do corpo e altura de cernelha menores que suas meio-irmãs paternas criadas em regiões frias (Mcdowell, 1972). MUDANÇAS NA COMPOSIÇÃO DO CORPO EM ANIMAIS EM CRESCIMENTO Em condições experimentais: suínos criados a 35oC por 8 semanas apresentam extremidades mais longas e menos pêlos do que as testemunhas, mantidas a 25oC; Nas fêmeas em lactação, as reservas de gordura se esgotam mais rapidamente com o aumento da temperatura ambiente; Há um efeito do ambiente sobre o teor de gordura intramuscular, cor e maciez da carne, durante a engorda de suínos e ovinos. Regulação neuro-hormonal O crescimento animal está sujeito à regulação hormonal. Em caso de estresse há um desequilíbrio do sistema endócrino; A hipófise secreta menos hormônio tireotrófico, reduzindo a atividade da tireóide. Esta glândula por intermédio de seus hormônios (T3, T4 e outros), desempenha importante papel estimulando os metabolismos de proteínas, gorduras, carboidratos, água, minerais e energia, além de sua imprescindível função no crescimento; O estresse prolongado também inibe a secreção do hormônio do crescimento (GH). O GH é um dos principais hormônios responsável pela estimulação do desenvolvimento corporal, atuando em todos os tecidos, particularmente nos ossos, músculos, rins, fígado e tecido adiposo. Resistência orgânica Embora menos sensíveis às quedas de temperatura, estas também podem provocar perdas de peso e queda de resistência em ruminantes. Não é raro o aparecimento de pneumonia e diarreia em bezerros expostos ao frio, podendo levar à morte; Doenças como bronquite e coriza comprometem o sistema respiratório e é através da respiração que ocorre uma das principais trocas de calor em ambientes com alta temperatura; Os animais tendo os pulmões e/ou os sacos aéreos (aves) comprometidos tem uma redução na capacidade de troca calórica com meio e que resulta em uma maior probabilidade de morrerem em condições de calor. Efeitos do Ambiente Tropical Sobre a Reprodução Animal Produção e eficiência reprodutiva são variáveis deprimidas durante os meses de verão, principalmente quando altas temperaturas são associadas a alta umidade relativa do ar; A eficiência da reprodução animal é requisito fundamental para a continuidade da espécie, bem como, para o aproveitamento industrial, seja para fins de abate como para produção de leite, ovos, lã, etc.; Além dos efeitos indiretos sobre a quantidade e qualidade das forragens, fatores climáticos como a temperatura e umidade do ar, radiação solar, ventos, influenciam diretamente o sistema neuroendócrino e a função reprodutiva dos animais. ...CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES MECANISMO PELO QUAL O ESTRESSE INFLUENCIA NA FUNÇÃO REPRODUTIVA DOS ANIMAIS Os mecanismos pelos quais o estresse térmico deprime a atividade reprodutiva em machos e fêmeas envolvem os efeitos diretos da temperatura alterando a regulação do sistema nervoso, o balanço hídrico, os níveis hormonais, o balanço nutricional e o equilíbrio bioquímico do animal. Em animais submetidos ao estresse prolongado, há uma inativação do eixo hipotálamo - hipófise – gônadas e esta ação é exercida pelas glândulas adrenais e seus glicocorticóides (cortisol); O efeito “feedback” negativo sobre as adrenais inibe a secreção de hormônios sexuais importantes para a função reprodutiva tanto em machos quanto fêmeas; MECANISMO PELO QUAL O ESTRESSE INFLUENCIA NA FUNÇÃO REPRODUTIVA DOS ANIMAIS Devemos considerar que existe uma complexa interação entre os hormônios, tornando quase impossível a observação de efeitos isolados dessas substâncias; Vale lembrar e não menos importante é a baixa resistência orgânica contra infecções, em situações de estresse crônico (glicocorticóides causam atrofia do sistema timolinfático acarretando baixa resistência); Problemas metabólicos para manutenção da homeotermia em animais não adaptados ao clima (raças exóticas) também influenciam negativamente a eficiência reprodutiva. Efeito do Ambiente Tropical sobre a Reprodução dos Peixes Os peixes são considerados ótimos modelos para estudos fisiológicos por estarem, na sua maioria, restritos à água e sujeitos às mais diversas alterações que este meio pode oferecer. Além disso, dentre todos os processos fisiológicos, a reprodução, por ser considerada um processo altamente custoso energeticamente e ocorrer somente quando os animais estão situados na zona de conforto, tanto ambiental quanto metabólica. Revelam-se como um importante modelo de estudo para a compreensão da influência dos fatores ambientais sobre os sistemas biológicos. ...CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES Os processos fisiológicos envolvidos na reprodução de peixes incluem a diferenciação das gônadas, gametogênese, liberação de gametas, fertilização e eclosão dos ovos; Todos estes eventos da cascata reprodutiva são controlados por inúmeros fatores endócrinos ao longo do eixo Hipotálamo- Hipófise-Gônadas. Esses eventos também interagem com outras importantes funções fisiológicas, como nutrição, crescimento, osmorregulação e respostas a fatores de estresse; Os fatores abióticos podem agir (ou agem) como desencadeadores da reprodução; É possível afirmar que certas mudanças ambientais podem delimitar o período e o sucesso reprodutivo na maioria dos peixes. ...CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES FOTOPERÍODO Nas espécies de regiões temperadas que desovam na primavera ou início do verão, o crescimento gonadal é estimulado por um fotoperíodo longo, geralmente em combinação com altas temperaturas. Ex: carpas. Nas espécies que desovam no outono ou início do inverno, o crescimento gonadal é estimulado por uma diminuição do fotoperíodo. Ex: salmonídeos. Desde a década de 80 temperatura e fotoperíodo afetam a secreção e a capacidade de resposta de órgãos-alvo aos hormônios gonadotrópicos (hormônio luteinizante - LH e hormônio folículo-estimulante - FSH), tanto em peixes de clima temperado quanto tropical. Além disso, a determinação sexual em peixes tem a TEMPERATURA, além da determinação cromossômica, como principal fator desencadeador, sendo que para algumas espécies consideradas como mais sensíveis a razão entre machos e fêmeas diminui com a diminuição da temperatura como consequência da diferenciação ovariana por baixas temperaturas. Para algumas espécies variações do fotoperíodo não alteram o início da primeira maturação sexual e desova, como demonstrado em tilápias. (Aparentemente) para esta espécie, o fator mais importante para que este processo ocorra é a manutenção de temperaturas entre 28 e 31°C (Baldisserotto, 2002). Na espécie Paralichtys olivaceus foram encontradas populações de machos monossexos em temperaturas extremas, enquanto que nas temperaturas intermediárias (ideais para a espécie) observou-se uma razão 1:1 entre machos e fêmeas. A explicação para este processo seria a alta sensibilidade das enzimas do complexo citocromo P450 que convertem andrógenos (testosterona)em estrógenos (estradiol) na via dos hormônios sexuais, hormônios estes de grande importância no desenvolvimento gonadal (Baroiller e D´Cotta, 2001). Temperatura pode modular a ação de hormônios em todos os níveis de controle reprodutivo, especialmente na ovulação e desova; Algumas espécies de peixes de clima temperado e com alto valor econômico foram, desde a década de 70, testadas nas mais diversas condições de temperatura com o intuito de se estabelecer locais apropriados para a manutenção dos reprodutores adultos; Manutenção dos animais e verificações quantitativas e qualitativas do sucesso da gametogênese (taxa de crescimento ovariano e perfil hormonal) e ovulação (número de ovos, taxa de fertilização), processos intimamente relacionados ao sucesso reprodutivo de uma espécie; Salmão, truta e a tenca mostraram diferentes estratégias reprodutivas quando os animais foram expostos a temperaturas consideradas fora da zona de conforto térmico. ESPÉCIE ESTRÉGIA REPRODUTIVA Salmão apresentou queda de cerca de 41% na taxa de ovulação em temperaturas acima de 13°C em comparação com animais aclimatados a 7°C e uma diminuição significativa dos níveis de vitelogenina em temperaturas abaixo do normal para a espécie. Para truta os pesquisadores evidenciaram uma queda significativa na ovulação dos animais em temperaturas abaixo dos 15°C. Para tenca houve um retardado e ausência de crescimento ovariano quando a média da temperatura diária foi inferior a 10 °C. AQUECIMENTO GLOBAL A temperatura da superfície terrestre aumentou aproximadamente 0,6°C no último século e as duas décadas passadas foram as mais quentes desde 1891 (Houghton et al., 2001); O aquecimento da superfície é acelerado pela atividade humana e pode ter consequências drásticas nos processos fisiológicos, afetando o crescimento e a reprodução dos peixes; Zieba et al., (2010) descreveram a desova precoce e maior taxa de sobrevivência da prole em Lepomis gibbosus (perca-sol) mantidos em temperaturas altas, o que poderia levar ocasionalmente a um processo de explosão demográfica e consequente desequilíbrio ecológico no ambiente natural. OUTROS FATORES OU ASSOCIAÇÃO DE FATORES Tuvira uma combinação de simulação de chuva, aumento do nível da água e diminuição da condutividade induzem a uma completa gametogênese e desova, fato que não ocorre caso os parâmetros sejam testados individualmente. Pacú e outras espécies tropicais a chuva parece ter papel decisivo na maturação final e desova (Baldisserotto, 2002). Peixes tropicais tendem a desovar continuamente ao longo do ano ou apresentam picos associados à estação chuvosa. OUTROS FATORES OU ASSOCIAÇÃO DE FATORES Para a ictiofauna marinha a temperatura e a salinidade são dois fatores que agem juntos e têm papel fundamental no período de incubação e eclosão de ovos de muitas espécies; O efeito é mais pronunciado nas espécies que vivem em locais rasos e propensos a mudanças ambientais constantes, já que as mudanças na temperatura podem ampliar ou reduzir a faixa de salinidade de um determinado local (Nissling et al., 2006). OUTROS FATORES OU ASSOCIAÇÃO DE FATORES Outra consequência importante decorrente do aumento da temperatura atmosférica é a mudança de solubilidade dos gases na água, principalmente o oxigênio, que apresenta naturalmente uma redução na sua capacidade de solubilização com a elevação da temperatura (Schmidt-Nielsen, 2002). Exemplo: A exposição à hipóxia pode ser considerada um disruptor endócrino à reprodução em peixes por diminuir a concentração de testosterona, estradiol e hormônio estimulador da tireóide (TSH) em carpas, com consequente redução de liberação de gametas, taxa de fertilização e sobrevivência larval (Wu et al., 2003). Efeito do Ambiente Tropical sobre Machos e Fêmeas (Mamíferos e Aves) EFEITO DA ALTA TEMPERATURA SOBRE OS MACHOS (CONSIDERAÇÕES GERAIS) As alterações na espermatogênese no clima tropical é decorrência do aquecimento dos testículos e/ou dos efeitos sobre o sistema endócrino e metabolismo do animal; Saco escrotal (fora da cavidade abdominal) naturalmente mantém os testículos 4 a 5ºC a menos que a temperatura corporal, porém, sob estresse térmico prolongado essa diferença não se mantém; Diminuição do peso dos testículos Túbulos seminíferos entram em degeneração Diminuição do volume total do sêmen Diminuição da concentração do sêmen Aumento de anomalias nos espermatozoides Diminuição da atividade metabólica do sêmen EFEITO DA ALTA TEMPERATURA SOBRE AS FÊMEAS (CONSIDERAÇÕES GERAIS) A estação do ano em que a fêmea nasce afeta a idade e o peso à puberdade; Fêmeas submetidas às altas temperaturas podem apresentar: Retardo na puberdade Anestro Diminuição do índice de concepção Aborto Aumento da mortalidade perinatal EFEITOS SOBRE A INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL PREMISSA sêmen de melhor qualidade é coletado no inverno. Pesquisadores coletaram sêmen durante o ano todo, em diferentes locais, com diferentes temperaturas; Após a inseminação, em diferentes locais, com diferentes temperaturas verificaram que houve uma depressão estacional significativa na eficiência reprodutiva das raças com o aumento da temperatura ambiental que foi mais evidente em vacas inseminadas em regiões quentes, o que permitiu concluir que a fêmea tem maior contribuição na diminuição da fertilidade nas inseminações durante o verão; A diminuição no período de cio e a maior incidência de cios silenciosos prejudicam a observação do momento da ovulação e reduzem o sucesso da inseminação artificial.
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