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Apostila Bioclimatologia - UFRGS/ 2001: clima, adaptação, regulação corporal, produção e perda de calor, fluxo de calor, conforto térmico, efeitos e estratégias para minimizar.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL 
FACULDADE DE AGRONOMIA 
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BIOCLIMATOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARI LOURDES BERNARDI 
HAROLD OSPINA PATIÑO 
2001 
 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 CIP - CATALOGAÇÃO INTERNACIONAL NA PUBLICAÇÃO 
 
 B523b Bernardi, Mari Lourdes 
 Bioclimatologia / Mari Lourdes Bernardi; Harold Ospina Patiño -- Porto 
 Alegre : M.L.Bernardi; H.Ospina Patiño, 2001. 
 
 p. 
 
. 
 1. Bioclimatologia : Produção animal : Meio-ambiente : Cli- 
 ma : Temperatura : Comportamento animal : Produtividade. I. Ospina 
 Patiño, Harold. II. Título. 
 
 CDD: 591.92 
 CDU: 591.543 
 Catalogação na publicação: 
 Biblioteca Setorial da Faculdade de Agronomia da UFRGS 
 
 2 
 
 
SUMÁRIO 
 PÁGINA 
INTRODUÇÃO 3 
ELEMENTOS DO CLIMA 4 
CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE 6 
ADAPTAÇÃO AO AMBIENTE: TERMINOLOGIA E CONCEITOS 9 
ATRIBUTOS DE ADAPTAÇÃO DOS ANIMAIS AO MEIO AMBIENTE 12 
REGULAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL 20 
PRODUÇÃO E PERDA DE CALOR CORPORAL 26 
FLUXO DE CALOR E MECANISMOS DE TROCAS TÉRMICAS 28 
ZONA DE CONFORTO TÉRMICO 37 
MECANISMOS DE ADAPTAÇÃO A VARIAÇÕES NA TEMPERATURA 43 
EFEITOS DO AMBIENTE NA PRODUÇÃO ANIMAL 45 
ESTRATÉGIAS PARA MINIMIZAR OS EFEITOS DO AMBIENTE SOBRE OS ANIMAIS 56 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 65 
 
 
 3 
INTRODUÇÃO 
Bioclimatologia é a ciência que estuda as influências do meio ambiente (fatores biológicos, 
meteorológicos e suas interações) sobre a função animal ou vegetal. Além do conhecimento dos 
efeitos do meio ambiente sobre a produção animal, um dos principais objetivos da bioclimatologia é 
desenvolver formas de modificar o impacto do meio ambiente sobre o bem-estar e produtividade 
dos animais. 
O conhecimento do balanço energético do animal e do ecossistema onde o mesmo é criado é 
essencial para entender as interações dos organismos vivos com o seu ambiente. Converter a energia 
do alimento em energia para a mantença e a produção, mantendo um razoável equilíbrio térmico é 
um evento difícil de ser alcançado pelos animais de alta produção, sobretudo em climas tropicais. 
O aumento do consumo de alimentos visando aumentar a taxa de crescimento, a produção de 
leite, lã, ovos e a fertilidade se contrapõe ao problema de dissipação do calor metabólico (sobretudo 
nos climas tropicais úmidos), produzido pelo processamento deste alimento. A produtividade e a 
sobrevivência dos animais dependem muito de sua habilidade em manter a temperatura corporal 
dentro de certos limites, tolerar os alimentos disponíveis no local de criação, adaptar-se ao manejo 
imposto e resistir a doenças. 
De todas as forças conhecidas que vêm dirigindo a evolução do homem e as mudanças na 
sua civilização, os efeitos mais persistentes observados advêm dos fatores que constituem o 
ambiente climático. Sem a habilidade de se adaptar, a sobrevivência dos animais depende do 
ambiente. As mudanças que foram sendo produzidas no meio ambiente, ao longo dos anos, 
exerceram profundas modificações no homem, animais e plantas. Quando os animais são repetida e 
continuamente expostos às mudanças do meio ambiente, eles podem desenvolver mudanças 
estruturais e funcionais que resultam em um aumento na sua capacidade de viver neste ambiente, 
sem estresse. Estas mudanças são coletivamente designadas de aclimatização. Certas condições 
ambientais podem resultar em pouco ou nenhum distúrbio para um ser vivo em particular enquanto 
outras podem ser tão severas que a sua sobrevivência estará na dependência da sua habilidade em se 
adaptar às mesmas. 
Os animais criados atualmente são fruto de milhares de anos de seleção natural. Os que 
conseguiram se adaptar ao meio em que viviam sobreviveram e os que não conseguiram morreram 
ou tiveram de migrar para regiões mais favoráveis para a sua sobrevivência. As facilidades 
modernas de transporte aumentaram o movimento de animais e/ou de material genético, via 
transporte dos gametas ou embriões, favorecendo a transferência e o estabelecimento dos animais 
nas mais diversas áreas do planeta. Assim, nos últimos 200 anos, o homem fez progressos 
consideráveis na seleção e produção animal em qualquer clima e, durante as últimas décadas, 
aprendeu a modificar o ambiente em proveito próprio e dos animais por ele criados. 
Os animais, dependendo da espécie e do nível de produtividade, possuem uma zona 
ambiental considerada ótima para o crescimento, a produção e reprodução. Além da eficiência 
fisiológica e econômica, a determinação de condições adequadas de criação está despertando cada 
vez mais o interesse de produtores e de pesquisadores devido à rápida proliferação de leis 
regulamentando as condições de bem-estar dos animais. O progresso em adquirir conhecimento e 
melhor compreensão das relações do clima e das respostas fisiológicas do homem e dos animais, foi 
considerável no século XX. Uma das primeiras aplicações práticas de controle do meio ambiente foi 
a utilização de luz artificial para aumentar o número de horas de luz por dia para poder estimular a 
produção de ovos em galinhas, durante o outono e inverno. 
 
 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ELEMENTOS DO CLIMA 
A palavra clima deriva do termo grego klima que significa inclinação, mostrando a 
importância que os gregos atribuíam aos efeitos da inclinação do sol sobre os seres vivos. Embora o 
homem primitivo já soubesse que o sol e o fogo proporcionavam luz e calor, que o calor corporal 
podia ser conservado com peles de animais e que as árvores e covas serviam de proteção contra o 
sol, o vento, a chuva e a neve, definir o meio ambiente e sua influência sobre a vida animal não é 
fácil, pois depende de uma série de fatores, sobretudo da topografia, distribuição da vegetação 
(especialmente as florestas) e dos grandes leitos de água. 
O clima é uma combinação de elementos que incluem a temperatura, umidade, precipitação 
pluviométrica, movimento do ar, radiação e pressão atmosférica. O clima de uma região resulta do 
comportamento regular da sucessão rítmica e contínua de tempos atmosféricos ou meteorológicos 
que transitam sobre sua superfície por um longo período de tempo. A organização Meteorológica 
Mundial recomenda que, para a classificação de um clima regional, sejam utilizados dados de um 
período de tempo de no mínimo 30 anos. Os componentes meteorológicos atuam direta e 
quotidianamente sobre uma população e determinam as reações e adaptações necessárias para a 
sobrevivência e produção sob estas condições. 
Os climas do nosso planeta são, de um modo geral, classificados como tropical, subtropical, 
temperado e ártico. Dentro destas grandes divisões podem ser encontradas várias outras 
classificações e vários tipos de microclima. Mesmo em regiões aparentemente semelhantes, o clima 
varia com a latitude, altitude, distribuição de terra e água, solos e topografia, além de outros fatores 
variáveis como correntes oceânicas, ventos, chuvas e vegetação. 
 
FATORES 
METEOROLÓGICOS 
 TEMPERATURA 
 UMIDADE 
 VENTO 
 CHUVA 
 RADIAÇÃO 
 PRESSÃO ATMOSFÉRICA 
 FOTOPERÍODO 
FATORES NÃO 
METEOROLÓGICOS 
 ALIMENTOS 
 (quantidade e qualidade) 
 AGENTES CAUSADORES DOENÇAS 
 MANEJO 
 5 
Microclima corresponde ao local específico onde vivem os animais e vegetais. Muitos fatores 
climáticos combinam-se para criar uma zona climática específica ou um microclima. A região pode 
ser de maior ou menor amplitude, podendo uma propriedade somente possuir seu próprio 
microclima. A presença de árvores, lama, orientação do telhado, construção de galpões,introdução 
de lâmpadas de aquecimento, etc podem conduzir à criação de microclimas. 
Aproximadamente 1/3 da superfície da terra situa-se na Zona tropical (23º26’ latitude Norte e 
Sul). As regiões quentes do mundo estão situadas entre as latitudes 30º Norte e 30º Sul, onde vive 
mais de 60% da população mundial. Com freqüência, a temperatura ambiental, dentro desta faixa, 
está acima da zona de conforto para os humanos e animais. Assim, a criação de animais nestas 
regiões representa um problema devido às dificuldades que os mesmos enfrentam para a dissipação 
de calor. 
 
Concentração de animais domésticos dentro das latitudes 30ºN e 30ºS 
Animais Número Percentual 
Camelos 10 milhões 86 
Bubalinos 96 milhões 80 
Caprinos 254 milhões 67 
Bovinos 592 milhões 55 
Equinos 64 milhões 53 
Ovinos 372 milhões 36 
Suínos 201 milhões 34 
Aves 1,3 bilhões 27 
Adaptado de Müller (1989) 
 
Em termos de caracterização climática, é importante conhecer as condições climáticas 
médias, as variações estacionais e a duração das condições extremas. Desta forma pode-se 
determinar as possibilidades de produção animal em uma determinada área, quais serão as técnicas 
mais adequadas para a produção de alimentos, qual será o melhor esquema de manejo dos animais, 
se há necessidade de instalações e qual o tipo de instalação mais adequado. 
A temperatura do ambiente que circunda o animal (ar, solo, vegetação, superfícies) influencia a 
temperatura corporal do animal. Interage com outros fatores (velocidade do vento, altitude, etc) para 
determinar as trocas com o meio ambiente e conseqüente dissipação de calor. Deve-se considerar a 
variação diurna e a estacional. Também deve-se considerar que, a cada variação de 100m na 
altitude, há uma variação de 0,65ºC. 
A umidade relativa do ar refere-se ao contéudo de vapor d´água. Interfere na taxa de liberação 
de calor pelo corpo animal através da pele ou do trato respiratório. 
A energia da radiação absorvida pelo corpo animal é convertida em calor, aumentando a 
temperatura do mesmo. Todo corpo exposto diretamente aos raios solares pode aumentar sua 
temperatura em até 10ºC a mais do que a temperatura do ar. O vento causará um efeito refrescante 
no verão e de resfriamento durante o inverno, já que substitui a camada de ar que rodeia o corpo do 
animal por outra de menor temperatura (1ºC a cada 5km/h de velocidade do vento). 
A chuva interfere diretamente na dissipação de calor através do resfriamento evaporativo. 
Deve-se considerar a quantidade anual, a distribuição estacional e a forma de precipitação. 
A temperatura e umidade do ar, a radiação solar, a movimentação do ar e a precipitação 
pluviométrica possuem também um efeito indireto sobre o animal, pela influência que apresentam 
sobre a produção e armazenamento de alimentos, predisposição a doenças e proliferação de agentes 
causadores de doenças. 
 6 
O fotoperíodo refere-se ao tempo transcorrido entre o nascer e o pôr do sol, variando com a 
latitude e a estação do ano. Interfere na atividade metabólica e atividade reprodutiva de 
determinadas espécies (sobretudo eqüinos, aves, ovinos e caprinos). 
 
 
CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE 
Os animais são um produto do ambiente e das características genéticas herdadas. Um 
determinado padrão genético é, no entanto, um produto do ambiente visto que as taxas de mutação e 
seleção para a sobrevivência são condicionadas pelo ambiente. Diferentes regiões climáticas 
determinaram a adaptação dos animais às condições existentes. Assim, animais que evoluíram em 
regiões frias se adaptaram às mesmas desenvolvendo pêlos ou lã em abundância, além de camada 
de gordura subcutânea, enquanto que os de regiões quentes se adaptaram pela escassez ou 
diminuição desses componentes. 
O componente genético do animal determina sua capacidade de produção enquanto o 
ambiente determina se o animal produzirá até o limite da capacidade que herdou. Estima-se que 
aproximadamente 80% da variabilidade na produção resulta do não controle do ambiente. 
O ambiente ao qual o animal está exposto inclui a combinação de todos os fatores climáticos, 
efeitos nutricionais, efeitos de doenças e todas as interações entre estes fatores. 
Um dos índices bastante usado para caracterizar o ambiente é o Índice de Temperatura e 
Umidade (ITU), o qual pode ser calculado conforme a seguinte fórmula: 
 
ITU = 1,8 Ta + 32 – (0,55 – 0,55 Ur) (1,8 Ta –26) 
 
Onde, Ta = temperatura ambiente e Ur = umidade relativa do ar, neste caso expressa sobre 1 
 
Outros índices também podem ser usados, como é o caso de índices baseados nas medidas 
obtidas no globo negro ou medidas de temperatura do bulbo úmido. 
 
Índice do globo negro = Ta + 0,36 TPo + 41,2 
Indice do bulbo úmido= 0,72 (Tbs + Tbu) + 40,6 
Indice do bulbo úmido = (0,65 x Tbs) + (0,35 x Tbu) para suínos 
Onde, Ta = temperatura ambiente 
Tpo = temperatura do ponto de orvalho 
Tbs = temperatura do bulbo seco; Tbu = temperatura do bulbo úmido 
 
 
 A temperatura medida por um termômetro comum é denominada de temperatura do bulbo seco ou 
simplesmente temperatura do ar. Se o bulbo do termômetro é coberto por um tecido, firmemente ajustado, molhado 
com água destilada e faz-se circular por ele ar a uma velocidade de 4-10 m/seg, a leitura do termômetro cai a um nível 
denominado de temperatura do bulbo úmido, permanecendo neste ponto até que toda a água tenha evaporado. A 
evaporação é inversamente relacionada com a pressão de vapor no ar e dá uma idéia do potencial de resfriamento. Se o 
ar estiver saturado (100 %) não há evaporação e nem queda de temperatura no bulbo úmido. 
 A temperatura do globo negro é medida através da colocação de um termômetro dentro de uma esfera oca 
metálica (normalmente de cobre) ou de vidro de aproximadamente 15 cm de diâmetro, pintada externamente de preto 
fosco. 
 As medidas de temperatura ambiental devem ser efetuadas sempre o mais próximo possível do animal. 
 
 
Em condições de ITU superior a 70 os animais começam a acionar os mecanismos 
fisiológicos para manter o equilíbrio interno, principalmente de temperatura e de balanço hídrico. 
Com ITU maior de 72, vacas leiteiras de alta produção são submetidas a estresse térmico e 
diminuem sua produção, dependendo sobretudo do tempo de exposição acima deste índice. 
 7 
Devido à complexa interação do animal com o meio ambiente, a qual não depende somente 
da temperatura e umidade, os índices de caracterização do ambiente, que se baseiam apenas nestes 
dois componentes, não são totalmente adequados para explicar toda a variação da produtividade 
apresentada pelos animais em diferentes ambientes. Recentemente, o tamanho e a atividade da 
glândula tireóide também têm sido sugeridos como medidas da tolerância ao calor. Quando possível, 
a medida da resposta do animal (alteração da temperatura corporal, da freqüência respiratória, da 
produtividade, etc), ainda é a melhor maneira de sabermos se um determinado ambiente está 
afetando ou não o bem-estar e o desempenho deste animal. 
 
Temperatura ambiental efetiva 
A temperatura do ar ainda é o parâmetro ambiental mais facilmente mensurável e um bom 
indicador quantitativo do ambiente térmico. No entanto, índices de temperatura ambiental efetiva 
seriam melhores por conterem uma informação mais completa dos elementos ambientais. 
Para animais mantidos em instalações fechadas, a temperatura ambiental efetiva é 
influenciada pela velocidade do ar, pela temperatura da parede das instalações e pelo tipo de piso 
(concreto, ripado ou não, com palha ou não, etc). Para espécies como os ruminantes, freqüentemente 
expostos às condições climáticas naturais, a sensação térmica vai ser influenciada, além da 
temperatura ambiental, pela chuva, radiação, vento e umidade. Para bovinos e ovinos foram 
desenvolvidos índices que incorporam o efeito da velocidade do vento na determinação da 
temperatura ambiental efetiva. 
 
Temperaturaambiental efetiva em ovinos em função da temperatura e velocidade do vento 
 TºC ambiental efetiva em diferentes velocidades do ar (m/seg) 
TºC ambiental 0 225 450 675 
20 20 18 14 10 
10 10 8 4 0 
0 0 -2 -6 -10 
-10 -10 -12 -15 -20 
Profundidade do velo era <1 cm Curtis (1983) 
 
 
Temperatura ambiente Velocidade do vento Sensação térmica dos bovinos 
 calmo 4ºC 
4ºC 24 km/hora -4ºC 
 48 km/hora -16ºC 
 Gayo (1997) 
 8 
 
Indice de temperatura e umidade (ITU) para bovinos 
 Umidade Relativa, % 
ºC 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 
22,2 72 72 
22,7 72 72 73 73 
23,3 
 Sem estresse 
 72 72 73 73 74 74 
23,8 72 72 73 73 74 74 75 75 
24,4 72 72 73 73 74 74 75 75 76 76 
25,0 72 72 73 73 74 74 75 75 76 76 77 
25,5 72 73 73 74 74 75 75 76 76 77 77 78 
26,1 72 73 73 74 74 75 76 76 77 77 78 78 79 
26,8 72 72 73 73 74 75 75 76 76 77 78 78 79 79 80 
27,2 72 72 73 73 74 75 75 76 77 77 78 78 79 80 80 81 
27,7 72 73 73 74 75 75 76 77 77 78 79 79 80 81 81 82 
28,3 72 73 73 74 75 75 76 77 78 78 79 80 80 81 82 82 83 
28,8 72 73 73 74 75 75 76 77 78 78 79 80 80 81 82 83 83 84 
29,4 72 72 73 74 75 75 76 77 78 78 79 80 81 81 82 83 84 84 85 
30,0 72 73 74 74 75 76 77 78 78 79 80 81 81 82 83 84 84 85 86 
30,5 73 73 74 75 76 77 77 78 79 80 81 81 82 83 84 85 85 86 87 
31,1 73 74 75 76 76 77 78 79 80 81 81 82 83 84 85 86 86 87 88 
31,6 74 75 75 76 77 78 79 80 80 81 82 83 84 85 86 86 87 88 89 
32,2 74 75 76 77 78 79 79 80 81 82 83 84 85 86 86 87 88 89 90 
32,7 75 76 76 77 79 79 80 81 82 83 84 85 86 86 87 88 89 90 91 
33,3 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 85 86 87 88 89 90 91 92 
33,8 76 77 78 79 80 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 
34,4 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 
35,0 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 
35,5 77 78 79 80 81 82 83 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 
36,1 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 91 92 93 94 95 96 97 
36,6 78 79 80 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 93 94 95 96 97 98 
37,2 79 80 81 82 83 84 85 87 88 89 90 91 92 93 94 96 97 98 99 
37,7 79 80 82 83 84 85 86 87 88 90 91 92 93 94 95 97 98 99 
38,3 80 81 82 83 84 86 87 88 89 90 92 93 94 95 96 97 99 
38,8 80 81 83 84 85 86 87 89 90 91 92 94 95 96 97 98 
39,4 81 82 83 84 86 87 88 89 91 92 93 94 96 97 98 
40,0 81 82 84 85 86 88 89 90 91 93 94 95 96 98 
40,5 82 83 84 86 87 88 89 91 92 93 95 96 97 
41,1 82 84 85 86 88 89 90 91 93 94 95 97 98 
41,6 83 84 85 87 88 89 91 92 94 95 96 98 
42,2 83 85 86 87 89 90 92 93 94 96 97 
42,7 84 85 87 88 89 91 92 94 95 96 98 Morte das vacas 
43,3 84 86 87 89 90 91 93 94 96 97 
43,8 85 86 88 89 91 92 94 95 96 98 
44,4 85 87 88 89 91 93 94 96 97 
45,0 86 87 89 90 92 93 95 96 98 
45,5 86 88 89 91 92 94 96 97 
46,1 87 88 90 91 93 95 96 98 
46,6 87 89 90 92 94 95 97 
47,2 88 89 91 93 94 96 98 
47,4 88 90 92 93 95 97 
48,3 89 90 92 94 96 97 
48,8 89 91 93 94 96 98 
 Estresse brando (72-79); Estresse moderado (80-89); Estresse severo (90-98) 
Pires (1998) 
 
 9 
ADAPTAÇÃO AO AMBIENTE: TERMINOLOGIA E CONCEITOS 
Homeostase: situação de equilíbrio interno, principalmente de temperatura e de balanço 
hídrico; capacidade de manter condições de funcionalidade relativamente constantes (pressão 
sangüínea, temperatura, etc) frente às influências das condições ambientais 
Adaptação: refere-se a qualquer característica funcional, estrutural ou comportamental que 
visa reduzir os distúrbios fisiológicos causados por um componente estressante do ambiente. A 
adaptação visa favorecer a sobrevivência ou a reprodução do animal em um determinado ambiente. 
O funcionamento de processos vitais é usualmente utilizado como critério para avaliar a adaptação, 
sendo que a adaptação tanto pode aumentar como diminuir a velocidade de um processo vital. Esta 
adaptação pode ocorrer durante a vida de um determinado animal (adaptação não-genética) ou 
resultar de um processo de seleção/evolução genética (adaptação genética). 
Adaptação genética: refere-se a uma condição que favorece a adaptação do animal em um 
determinado ambiente e que é fixada geneticamente e transmitida de uma geração para outra. Os 
fatores ambientais desencadeiam mutações que tenham uma utilidade adaptativa e terminam por 
fazer parte do genótipo de uma determinada população animal. Em muitos casos, a seleção efetuada 
pelo homem para características produtivas pode se contrapor ao processo de seleção natural de 
adaptação a um determinado ambiente. 
Adaptação induzida (aclimatação, aclimatização, habituação) 
Aclimatação se refere a alterações compensatórias que o animal apresenta frente a um único 
fator, durante dias ou semanas, geralmente presente em uma situação artificial ou em um 
experimento. Ex. uma galinha poedeira pode se aclimatar à alteração do comprimento do dia. 
Aclimatização refere-se às reações que o animal apresenta, durante dias ou semanas, em 
ambientes nos quais vários fatores variam ao mesmo tempo, em ambientes naturais. Ex. uma ovelha 
se aclimatiza às variações estacionais do fotoperíodo, as quais ocorrem em conjunto com variações 
em outros fatores ambientais. 
Habituação se refere à redução na resposta ou na percepção frente a estímulos repetidos. As 
sensações e respostas do animal tendem a diminuir quando estes estímulos ocorrem repetidamente. 
Ex. um suíno criado nas proximidades de um aeroporto pode ficar habituado com o ruído dos 
aviões. 
 
Avaliação da adaptação dos animais 
 
A adaptação pode ser fisiológica ou produtiva. 
Adaptação fisiológica: tolerância de um animal a um ambiente, mediante modificações no seu 
equilíbrio térmico (associada à sobrevivência); medida por parâmetros fisiológicos como a 
freqüência respiratória (FR), freqüência cardíaca (FC), etc. 
Adaptação produtiva: modificações que ocorrem na produtividade do animal frente a altas 
temperaturas, por exemplo; medida por características como taxa de crescimento, produção de leite, 
etc. 
Para avaliar a adaptabilidade de uma raça ou categoria animal frente a um determinado 
ambiente foram desenvolvidos testes a campo e em câmaras climáticas. Acredita-se que haja uma 
correlação positiva entre as modificações mínimas no equilíbrio térmico e a produtividade dos 
animais, em climas quentes. A medida utilizada mais comumente nestes testes é a temperatura 
corporal e sua estabilidade. No entanto, em um processo de seleção por adaptabilidade, outras 
características devem ser consideradas, tais como a idade e raça dos animais, o nível nutricional, o 
comportamento, a resistência a endo e ectoparasitas, o desempenho produtivo e reprodutivo. 
 
 
 10 
Introdução de animais domésticos em novas áreas 
 Em geral, a manutenção de níveis aceitáveis de produção de leite e ovos, o crescimento e a 
fertilidade estão na dependência da habilidade dos animais em manter o equilíbrio térmico ao ingerir 
uma quantidade adequada de alimento para o desempenho de todas as funções. Um crescimento e 
produção elevados normalmente não são demonstrados pelas espécies bastante adaptadas a 
condições extremas (calor ou frio excessivo). Para determinar se há possibilidade de introduzir uma 
nova espécie ou raça em um determinado local, é importante considerar: 
 Características climáticas das regiões (climógrafo, hiterógrafo) 
Zonas homoclimáticas: regiões com climas semelhantes 
Zonas heteroclimáticas: regiões com climas diferentes 
 Disponibilidade de alimentos 
 Tolerância a doenças predominantes na nova região 
 Reações fisiológicas do animal frente ao clima local e outros fatores do ambiente (estudos de 
tolerância às temperaturas do novo ambiente, por exemplo) 
 Avaliação da fertilidade,do ganho de peso e manutenção de peso em épocas críticas 
 Características da pelagem e outros atributos que possam afetar a adaptação 
 
Climógrafos (Ball, 1910): mostram a relação entre a temperatura ambiente e a umidade relativa do 
ar. Mais utilizados para bovinos. 
Hiterógrafos (Huntingdon, 1915): mostram a relação entre a temperatura ambiente e a precipitação 
pluviométrica. Mais utilizados para ovinos. 
 
 A introdução de raças britânicas bovinas e ovinas no norte dos Estados Unidos e a introdução 
de zebuínos em regiões tropicais ou subtropicais (Brasil, sul dos Estados Unidos) representam 
introduções de animais para zonas homoclimáticas. A introdução de espécies de zonas frias para 
zonas quentes é dificultada sobretudo pela necessidade de adaptação dos animais ao processo de 
dissipação de calor. Além dos animais apresentarem dificuldades para tolerar o ambiente 
heteroclimático, em geral, os alimentos são de menor qualidade. A introdução de animais de zonas 
quentes para zonas frias é menos freqüente, embora os animais tenham menos problemas para 
adaptar-se ao frio. 
 
Leis da adaptação climática 
 Ao se desenvolverem em diferentes ambientes, os animais apresentam características 
adaptativas de modo a estar em harmonia com o meio em que vivem. Algumas características 
físicas, relativas a esta adaptação, são facilmente identificadas, enquanto as particularidades 
neuroendócrinas não são totalmente conhecidas. As normas que tentaram explicar as adaptações ao 
clima receberam o nome de seus investigadores: 
 
 Lei de Gloger (1833): relaciona a coloração da pele e da pelagem com o clima. 
Apesar dos pigmentos escuros serem os que mais absorvem energia solar, a pele pigmentada é 
mais resistente aos raios solares (a melanina protege os nervos e a pele do efeito prejudicial das 
radiações ultra-violeta). As radiações solares podem causar graves queimaduras ou mesmo câncer de 
pele, em peles claras, com falta de pigmento. Por outro lado, a pelagem dos animais criados nos 
trópicos tende a ser clara, refletindo a radiação solar e protegendo-os do superaquecimento. Há 
também um aumento da secreção de sebo com o aumento da temperatura, o que confere aos pêlos 
um aspecto brilhante, refletindo a luz solar e protegendo-os contra a radiação. Considerando que 
uma superfície branca absorve somente 20% da radiação visível (somente cerca de metade da 
 11 
energia do espectro solar está na porção visível), pelagens claras, com textura lisa e brilhante são 
melhores para minimizar os efeitos adversos da radiação solar. 
 
 Lei de Bergmann (1847): relaciona o tamanho corporal ao clima. 
Animais pequenos e leves possuem uma maior superfície corporal por unidade de peso e 
portanto perdem mais calor do que animais maiores e mais pesados, os quais possuem uma 
superfície relativa menor. De um modo geral, raças de maior tamanho são usualmente encontradas 
em regiões mais frias e as de menor tamanho em climas mais quentes. Esta afirmativa é ilustrada 
pelo exemplo da vaca Holandês (de maior porte) ser naturalmente melhor adaptada às regiões frias 
enquanto a raça Jersey (de menor porte) o é para as regiões de clima mais ameno. Um exemplo 
aparentemente contraditório desta lei seria a raça Brahman (grande porte) a qual habita áreas 
quentes e a raça Shorthorn (pequeno porte), a qual habita regiões mais frias. Mas se observamos 
adequadamente veremos que a superfície relativa da raça Brahman é grande e a da raça Shorthorn é 
pequena. Além disto, a raça Brahman aumenta sua área de dissipação de calor por apresentar 
orelhas, barbelas, pele do abdômen e vulva maiores e mais enrugadas. 
 
 Lei de Wilson (1854): relaciona a camada de isolamento corporal ao clima. 
Raças de clima frio apresentam uma pelagem espessa (300 g no Shorthorn) enquanto os de 
clima quente possuem pelagem menos espessa (10 g no Zebu), com pêlos curtos, finos e brilhantes. 
Há provavelmente pouca diferença na espessura da pele entre raças européias e índicas; no entanto, 
a diferença é significativa no que se refere à espessura da camada de gordura subcutânea, a qual é 
mais espessa nas raças européias. 
 
 Lei de Claude Bernard (1876): relaciona as mudanças corporais internas às mudanças 
climáticas. 
As observações deste fisiologista confirmaram que, para regular a temperatura corporal, o 
fluxo sangüíneo para as orelhas de coelhos era elevado, tanto no inverno (para aquecer as orelhas) 
como no verão (para dissipar mais calor). Através deste mecanismo, animais do ártico conseguem se 
locomover na neve sem nenhuma proteção nas patas (urso polar, cachorro dos esquimós), 
contrariamente ao homem, por exemplo, que não possui um mecanismo muito eficiente para a 
termoregulação das extremidades. 
 
 Lei de Allen (1877): estabelece que animais de regiões frias tendem a possuir extremidades 
mais curtas do que os que vivem em regiões mais quentes; isto aplica-se somente às extremidades 
vivas e não à cobertura do corpo (pelagem, penas, etc). Está relacionada à lei de Bergmann e 
também pode ser entendida como “quanto mais o corpo se aproxima de uma esfera perfeita, menor 
será sua área de superfície por unidade de volume”. 
 
 
 12 
ATRIBUTOS DE ADAPTAÇÃO DOS ANIMAIS AO MEIO AMBIENTE 
Superfície corporal, tamanho e conformação 
 Animais de maior tamanho possuem uma superfície corporal pequena em relação ao peso 
corporal, o que os torna mais adequados para viver em ambiente frios. As raças bovinas de origem 
européia ou de regiões mais frias da Ásia possuem, em geral, um corpo maciço, de conformação 
mais compacta. As raças zebuínas que se adaptaram aos trópicos possuem conformação mais 
angulosa e maior superfície corporal relativa para poder dissipar melhor o calor. As raças de ovelhas 
oriundas de regiões frias ou temperadas não são necessariamente grandes, porém possuem um 
aspecto compacto, com pescoço, orelhas e rabos curtos. 
Durante o crescimento dos animais, a área cresce em menor proporção do que o peso. Por 
exemplo, um aumento de 100% no peso corporal de suínos é acompanhado de um aumento de 55-
60% na superfície corporal. Como resultado, a relação área:peso é inversamente relacionada ao peso 
corporal. 
 
A área superficial total pode ser calculada através da Equação de Meeh. 
 
Equações de Meeh para o cálculo da área superficial 
Animal Equação de Meeh 
Vaca de corte A = 0,12 x P0,60 
Vaca Leiteira A = 0,15 x P0,56 
Ovelha A = 0,09 x P0,67 
Porco A = 0,07 x P0,66 
Galinha A = 8,2 x P0,71 
A = área superficial de pele (m2 para mamíferos e cm2 para galinhas) 
P = peso corporal (kg para mamíferos e g para galinhas) 
Curtis (1983) 
 
Área superficial de suínos, calculada pela Equação de Meeh 
Peso (kg) Área da superfície (m2) Área:peso 
20 0,53 0,027 
40 0,83 0,021 
80 1,32 0,017 
Curtis (1983) 
 
Área superfícial de várias espécies, estimada pela equação de Meeh 
Animal Área Área:peso 
Vaca de corte 500 kg = 4,99 m2 0,01 
Vaca Leiteira 500 kg = 4,87 m2 0,01 
Ovelha 50 kg = 1,24 m2 0,025 
Porco 100 kg = 1,46 m2 0,015 
Galinha 1800 g = 1679 cm2 0,93 
 
A noção de que a adaptação ao calor, das raças bovinas zebuínas, depende essencialmente de 
sua maior relação área:peso não mais é sustentada, pois a remoção cirúrgica das porções de pele a 
mais destas raças não alterou a sua adaptabilidade fisiológica aos ambientes quentes. Isto evidencia 
que há outros atributos que também são importantes para a adaptação dos zebuínos ao calor. 
 
 
 
 13 
Área superficial efetiva 
Um dos fatores que determina a área da superfície para a troca de calor é a geometria da 
superfície do animal. A superfície do animal possui uma conformação irregular, sendo que a forma 
pode ser alterada com a mudança de postura do animal. Quando um animal fica de pé, a sua perda 
de calor por condução é praticamente nula, mas quando deita até 1/5 de sua superfície pode entrar 
em contato com o solo ou piso. Mesmo deitado, a postura podeser modificada a fim de aumentar ou 
diminuir a superfície de troca de calor por radiação e convecção. Quando em ambientes frios, os 
animais se agrupam e conseguem reduzir a área efetiva de troca de calor em 1/3 ou mais. 
Ao mudar sua postura e orientação, o animal pode modificar sua necessidade de 
termoregulação pois pode aumentar sua área de contato com o piso frio ou sua área de exposição a 
uma fonte de calor, por exemplo, conforme as condições do ambiente o exigirem. 
 
Efeito da postura sobre a área de contato em suínos de 70 kg 
Postura quando deitado Área de contato com o piso (m2) 
De lado 0,22 
Duas patas sob a barriga 0,17 
Três patas sob a barriga 0,14 
Quatro patas sob a barriga 0,09 
 Curtis (1983) 
 
Características da pelagem ou cobertura cutânea 
As características da pelagem dos animais diferem entre espécies, raças e de acordo com a 
idade, estação do ano e região de criação. A densidade da pelagem se refere ao número de pêlos por 
unidade de área da superfície da pele. Quando há mais de 1.000 pêlos/cm2, a pelagem é considerada 
densa; abaixo disto, a pelagem é considerada esparsa. A profundidade da pelagem refere-se à 
distância entre a pele e o bordo externo da pelagem, da maneira como a mesma se dispõe sobre o 
corpo do animal. Esta característica é o principal fator determinante do isolamento da pelagem pelo 
fato de determinar a espessura da camada de ar que fica aprisionada ao redor do animal. Uma forma 
rápida e eficaz de alterar o isolamento da pelagem é através da alteração de sua profundidade. Os 
mamíferos o fazem por piloereção e as aves eriçando suas penas. Estas mudanças são mediadas por 
músculos da derme: músculos piloeretores (mamíferos) ou plumoeretores (aves). 
 Os pêlos podem ser: compridos e grossos; curtos, lisos e suaves ou suaves e lanudos. 
Conforme o comprimento do pêlo e da sua suavidade, teremos pelagem mais ou menos 
adequada para os trópicos. Pêlos compridos e grossos retêm mais ar próximo ao corpo do animal 
dificultando a perda de calor, sendo melhores para climas frios. Pêlos curtos, lisos e suaves, por 
outro lado, facilitam a perda de calor, sendo melhores para climas quentes. Foi demonstrado que o 
crescimento dos pêlos está mais associado com a luminosidade do que com a temperatura, sendo 
que, nas zonas temperadas, a pelagem comprida e grossa de inverno é substituída por uma curta e 
lisa, de acordo com a variação estacional da duração do dia. Nas regiões em que o número de horas 
luz/dia não varia muito, a mudança de comprimento dos pêlos, conforme a estação do ano, 
normalmente não acontece, apesar da contínua renovação dos mesmos. 
Em climas quentes, a pelagem muito lanuda provavelmente impede o movimento da 
umidade da pele para o ambiente, impedindo assim a perda de calor por evaporação. 
Raças bovinas zebuínas ou raças européias mais adaptadas ao calor (Jersey p.ex.) apresentam 
alto percentual de pêlos medulados, o que favorece seu melhor desempenho em zonas tropicais. 
Em comparação a outros mamíferos, os suínos são relativamente “pelados”. Suínos adultos 
possuem cerca de 10-25 pêlos/cm2 de pele. Leitões recém-nascidos possuem pelagem mais 
 14 
abundante que suínos adultos e leitões selvagens possuem mais pêlos que leitões domésticos. No 
entanto, mesmo a densidade da pelagem de leitões selvagens é a metade da observada em terneiros 
Hereford. 
Embora a penetração da radiação solar seja maior nas pelagens mais claras e menos densas, a 
absorção da energia solar é muito menor, resultando em menor carga calórica nas pelagens claras do 
que nas escuras. 
 
Características da pelagem sobre as costelas de bovinos Hereford, durante o inverno 
Categoria Densidade (pêlos/cm2) Peso (mg/cm2) Comprimento (mm) Diâmetro (m) 
Terneiro 900 40 35 35 
Vaca adulta 700 40 30 45 
Curtis (1983) 
 
Características de reflexão e absorção em função da cor da pelagem de bovinos 
Raça Cor da pelagem A cada 1000 unidades de energia solar 
 Refletem Absorvem 
Aberdeen Angus Preta 9,5 90,5 
Santa Gertrudes Vermelha 28 72 
Jersey Amarela 40 60 
Simental Creme 50 50 
Zebu Branca 54 46 
Adaptado de Falco (1991) 
 
Respostas de bovinos em função da cor e tipo de pelagem 
Raça Tipo pelagem Comprimento 
pêlos (mm) 
Reflexão calor 
(kcal/m2/h) 
TºC 
 pele 
Aumento 
TºC retal 
Aumento 
FR/min 
Brahma branca e lisa 8 240 42 0,2 10 
A. Angus preta e lisa 10 60 51 1,1 80 
Shorthorn vermelha, crespa 22 130 51 1,5 114 
Shorthorn rosilha, áspera e 
grosseira 
40 120 53 1,6 162 
Adaptado de Müller (1989) 
 
As raças de ovelhas do deserto ou dos trópicos estão mais cobertas de pêlos do que de lã, 
sendo que muitas delas não possuem revestimento na região do abdômen. Além disto, ovinos e 
caprinos destas regiões apresentam patas, pescoço, orelhas e cauda compridos de modo a aumentar a 
perda de calor. As raças ovinas que habitam as regiões temperadas possuem velos densos de lã fina, 
e as cabras destas regiões possuem o corpo recoberto de uma camada espessa de pêlos longos. A 
cabra é um animal tolerante ao calor e sensível ao frio; mesmo cabras que possuem uma densa 
cobertura, como é o caso da cabra Angorá, são muito sensíveis ao frio, quando esquiladas. 
 
Características da pelagem em ovinos 
Raça Densidade (fibras/cm2) Fol.secundários/fol. Primários Diâmetro fibras (m) 
Merino 5.000 20 20 
Corriedale 2.500 10 30 
Lincoln 1.400 5 45 
 Curtis (1983) 
 
 
 
 
 15 
Características da pelagem em leitões recém-nascidos 
Tipo Densidade (pêlos/cm2) Peso (mg/cm2) 
 Doméstico 250 0,7 
 Selvagem 425 1,8 
 Curtis (1983) 
 
Em um ambiente com movimento de ar praticamente nulo, há uma fina camada de ar 
remanescente que envolve a superfície do animal. Se o movimento de ar aumenta, há uma redução 
na capacidade de isolamento desta camada. 
 
Efeito da velocidade do ar no isolamento da pelagem na região do flanco 
 Isolamento da pelagem (ºC/m2/h/kcal) 
Espécie Densidade 
(pêlos/cm2) 
Camada de ar 
remanescente 
Vento 
350cm/seg 
Vento 
800cm/seg 
Cavalos 1290 0,15 0,15 0,15 
Suínos 37 0,39 0,19 0,11 
Curtis (1983) 
 
Isolamento térmico da superfície de ovinos em função da velocidade do ar e profundidade do velo 
Velocidade do ar Isolamento (ºC/m2/dia/kcal) conforme profundidade do velo (cm) 
(cm/seg) 0,6 1 2 3 4 5 
25 7 9 14 18 23 27 
190 5 6 9 12 16 19 
430 4 4 6 9 11 13 
Curtis (1983) 
 
O isolamento térmico conferido pela lã das ovelhas é 2-3 vezes maior do que o apresentado 
pela pelagem mais densa dos bovinos. Por outro lado, a evaporação cutânea é dificultada na ovelha. 
A pelagem de bovinos europeus (Bos taurus) normalmente confere maior resistência à 
passagem de calor do que a pelagem de zebuínos (Bos indicus), tanto de dentro para fora (perda de 
calor) como de fora para dentro (ganho de calor) do corpo. Além disto, os taurinos apresentam 
maior resistência dos tecidos para passagem do calor do centro do corpo para a superfície. Como 
resultado, os taurinos necessitam evaporar mais água via suor (cerca de 20% a mais) para manter um 
controle de temperatura similar ao dos zebuínos. 
As aves do ártico, sobretudo as aquáticas, possuem plumagem especial, densa e impermeável 
à água. Os animais maiores da região do ártico possuem grossas camadas de gordura subcutânea que 
servem de isolamento térmico, embora possam também ser utilizadas como fonte de energia em 
épocas de escassez de alimentos. Os animais aquáticos polares, sobretudo a baleia, estão protegidos 
das águas frias por uma abundante quantidade de gordura subcutânea. 
 
Espessura e pigmentação da pele 
A pele despigmentada está mais predisposta a sofrer queimaduras, sendo a pigmentação da 
pele preferida em zonas tropicais e desérticas, pois a mesma atenua a ação nociva das radiações 
ultravioletas. Embora animais com pele pigmentada possam aumentar a temperatura da pele devido 
à absorção das radiações infravermelhas, este aumento dependerá muitodo tipo de pelagem, pois a 
mesma absorve mais radiação do que a pele. 
 Estudos efetuados na Austrália mostraram que a espessura da pele não possui muita 
influência na adaptação das raças bovinas aos diferentes climas, contrariamente à crença de que a 
 16 
mesma era muito importante na capacidade de adaptação. Mesmo assim, a pele mais fina seria mais 
adequada para a região dos trópicos para favorecer a perda de calor. 
 
Raça Espessura da pele (mm) 
Devon 8,15 
Hereford 6,70 
Chianina 6,40 
Holandês 6,08 
Zebuínos (geral) 5,77 
Angus 5,75 
Shorthorn 5,69 
Jersey 5,46 
Gir 5,3 
Guzerá 5,0 
Adaptado de Falco (1991) 
 
 Em zebuínos, pelo fato da camada da epiderme e a porção papilar da derme (onde se 
encontram os folículos pilosos e as glândulas) serem mais finas do que nas raças européias, o 
conjunto do folículo, glândulas sudoríparas e sebáceas, e músculo eretor estão mais próximos da 
superfície da pele. 
 
Glândulas sudoríparas 
Dentre os animais domésticos, o cavalo é o que possui maior capacidade de sudorese. As 
glândulas sudoríparas são estruturalmente similares em bovinos, ovinos e suínos, mas não se 
enquadram em nenhum dos tipos clássicos descritos. Ao invés disto, nestas espécies, as glândulas 
sudoríparas fazem parte da estrutura do folículo piloso (um folículo piloso, primário no caso de 
ovinos, um músculo piloeretor, uma glândula sebácea e uma glândula sudorípara). As glândulas 
sudoríparas possuem 2 camadas de células: células epiteliais secretoras, próximas ao lúmen da 
glândula e células mioepiteliais na parte externa. 
 
Glândulas sudoríparas 
Dependendo da natureza do material que é expelido do lúmen para a superfície da pele, há dois tipos de 
glândulas sudoríparas: holócrinas e merócrinas. Nas holócrinas, o material eliminado é uma combinação 
da secreção da glândula mais as células secretoras necrosadas. Dentro das glândulas merócrinas as 
mesmas podem ser subdivididas em exócrinas e apócrinas. Nas exócrinas (presentes no homem) o 
produto eliminado consiste somente da secreção das glândulas. Nas apócrinas, além do produto de 
secreção das glândulas, os fragmentos de parte das células secretoras que se rompem também são 
eliminados para a superfície da pele. As glândulas sudoríparas dos ungulados são incorretamente 
chamadas de apócrinas. Pelo fato de também não serem dos outros dois tipos, sugere-se que as mesmas 
sejam simplesmente chamadas de glândulas sudoríparas. 
 
Sendo parte do folículo piloso, a população de glândulas reflete aproximadamente a 
população de folículos, com exceção das espécies em que os pêlos se apresentam em forma de tufos, 
com vários folículos pilosos num só local, como é o caso dos búfalos. Considerando que a densidade 
dos folículos diminui à medida que o animal cresce, o mesmo ocorre com as glândulas. A densidade 
das glândulas também é afetada pela espécie e raça. 
 
 
 17 
Densidade média aproximada das glândulas sudoríparas das diversas espécies (nº/cm2) 
 ZEBUÍNOS: 1600 
 TAURINOS: 800 
 OVINOS: 250 
 CAPRINOS: 100-300 
 BUBALINOS: 150 
 SUÍNOS: 25 (não funcionais) 
 
 As aves não apresentam glândulas sudoríparas e nos suínos, apesar de estarem presentes, as 
mesmas não são funcionais, o que faz com que estas espécies dependam mais da evaporação 
respiratória do que da cutânea, quando submetidas a temperaturas elevadas. 
As glândulas sudoríparas dos bovinos variam em tamanho e não são uniformemente 
distribuídas na pele, o que faz com que a taxa de sudorese varie de uma região a outra da pele. Nos 
zebuínos, as regiões do corpo onde ocorre a sudorese mais intensa se situam nos membros 
anteriores, perto do peito e nas axilas, onde as glândulas são também mais volumosas. As glândulas 
sudoríparas são maiores e mais próximas da superfície da pele em raças zebuínas do que raças 
européias (nos cruzamentos destas raças são intermediárias). No processo de tolerância ao calor, 
além do número de glândulas sudoríparas, o volume das mesmas é muito importante na 
determinação da taxa de sudorese, implicando em maior capacidade de adaptação aos climas 
quentes. Ao ser comparada uma raça européia (Jersey) com uma raça zebuína (Sahiwal), ficou 
comprovado que o número de glândulas não diferia entre estas duas raças mas que o volume das 
mesmas era maior para a raça zebuína. 
 
Características das glândulas sudoríparas de bovinos europeus e zebuínos 
Raça Volume das glândulas (3 x 106) Nº de glândulas 
Jersey 7,3 1128 
 
Sahiwal (Zebuíno) 30,5 1197 
Adaptado de Falco (1991) 
 
Ao aplicar um dos testes de tolerância ao calor (teste de Rainsby) em bovinos da raça Jersey 
e bovinos mestiços Guzerá x Jersey, foi observado que o volume das glândulas sudoríparas e a taxa 
de sudorese foi maior nos mestiços. 
Em zebuínos, a taxa de sudorese aumenta exponencialmente em resposta ao aumento de 
temperatura corporal, enquanto em taurinos a sudorese tende a alcançar um platô após o aumento 
inicial. Além disto, a umidade elevada afeta muito menos a taxa de sudorese em zebuínos do que em 
taurinos. 
 
Sudorese de bovinos em resposta ao teste de Rainsby 
 Nº Volume da glândula (3 x 106) 
Raças animais Antes exercício Após exercício 1 h após 2 h após 
Guzerá x Jersey 4 9,8 4,1 5,2 5,4 
 
Jersey 4 4,4 2,4 2,5 2,5 
Os mestiços suaram 400 g/m2/h e os Jersey 270 g/m2/h 
Teste: exercício intenso até TºC atingir 40ºC ou mais, avaliação do retorno da TºC ao normal 
Adaptado de Müller (1989) 
 
 18 
 As glândulas sudoríparas das cabras são semelhantes às das vacas e ovelhas, embora a 
densidade nos caprinos seja menor do que a dos bovinos. A taxa de sudorese das cabras é, em 
média, de 23g/h/m2, embora algumas raças adaptadas ao calor apresentam altas taxas de sudorese. 
 
Taxa de sudorese de caprinos, em comparação com bovinos 
 
Espécie 
Taxa de sudorese 
(g/h/m2) 
Densidade 
(glândulas/cm2) 
Taxa de sudorese 
por glândula (ml/h) 
Vacas 160 1000 16 
Cabras Saanen 23 170 14 
Cabras do deserto (Black Bedouin) 138 215 64 
Devendra (1987) 
 
Nos búfalos, nem todos os folículos pilosos possuem glândulas sudoríparas (possuem pêlos 
distribuídos em forma de tufos, com vários folículos num só local). Embora o volume das mesmas 
seja grande, o número de glândulas é pequeno. O búfalo é menos tolerante ao calor e mais sensível à 
exposição direta aos raios solares do que o bovino. A evaporação via respiração e a salivação são 
importantes para a dissipação do calor nos búfalos. Além disto, os mesmos aumentam muito o 
resfriamento evaporativo pelo hábito de entrar na água (condução) ou lama (evaporação). Apesar de 
um grande percentual de búfalos serem criados em clima tropical úmido, eles também são 
encontrados em regiões temperadas (Itália, Iugoslávia, Hungria, etc) e mesmo em regiões 
montanhosas com neve (norte do Nepal, Paquistão). 
 
Características da pelagem e glândulas sudoríparas de bovinos e bubalinos 
 Densidade pêlos/cm2 Nº glândulas sudoríparas 
Búfalos 160 145 
Bovinos 800-1700 800-1500 
 Loypetjra et al. (1987) 
 
Adaptação à escassez de água e alimento 
 Animais que são submetidos a estas condições durante um período do ano buscam preparar 
reservas durante o período de abundância de alimento. Exemplos: ovinos da Ásia e África (cauda 
adiposa); zebuínos (reserva adiposa no “cupim”); camelos (reserva nas “corcovas”). 
Os ovinos e caprinos possuem grande capacidade para reter líquidos, pois diminuem a 
quantidade de água eliminada via fezes, concentram e diminuem o volume de urina excretado, além 
de reduzirem a secreção salivar. Estas características são importantes em caso de escassez de água e 
altas temperaturas. 
 
Esta visão geral dos diversos tipos animais nos fazem perceber a complexidade dos meios pelos 
quais os animais evoluíram e se adaptaram aos diversos bioclimas mundiais. 
De forma generalizada, espécies que sempre habitaram os trópicos apresentam, em relação às 
espécies de origem temperadae que foram introduzidas nos trópicos, as seguintes diferenças: 
 Taxas metabólicas mais baixas (p.ex., zebuínos apresentam 80-85% da taxa dos taurinos) 
 Menor exigência em água para o metabolismo intermediário (até 21ºC, zebuínos e taurinos 
ingerem a mesma quantidade de água, mas a 39ºC, zebuínos ingerem 60% da água ingerida 
pelos taurinos; estudos mostram que zebuínos conservam mais água no organismo, 
reduzindo a umidade das fezes) 
 Mecanismos de termoregulação mais eficazes 
 19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No processo de aclimatização aos trópicos e subtrópicos, as espécies de regiões temperadas 
reduzem sua taxa metabólica e melhoram sua capacidade termoreguladora, mas a eficácia da 
dissipação de calor nunca é igual à das espécies nativas. A tolerância ao calor baseia-se muito mais 
na eficiência dos mecanismos de dissipação de calor do que na redução da taxa metabólica. No 
entanto, animais com taxa metabólica baixa possuem vantagem, sobretudo em casos de escassez de 
alimentos, devido a uma menor exigência nutricional para mantença. 
 
 
 
34 36 37 38 39 40 41 
 Temperatura corporal ºC 
desidratado 
hidratado 
Camelo 
Ovelha de região temperada 
Ovelha do deserto 
Cabra do deserto 
1/2 mantença 
Água cada 2 d 
Água 
diariamente 
Mantença 
Aclimatizado 
Não-aclimatizado 
Bos 
Indicus 
Bos taurus 
Medidas da variação da temperatura corporal de diversas espécies, em ambiente tropical semi-
árido; bovinos no Kenya; ovelhas e cabras no deserto de Israel; camelo no deserto Australiano; 
bovinos, cabras e ovelhas com alimentação e água à vontade; zebuínos e camelos, vários regimes 
de água e alimentação, característicos da estação seca ou estiagem (Finch, 1986) 
 
 
 20 
Principais características que favorecem a adaptação de raças bovinas zebuínas às regiões de 
clima quente, em relação às raças bovinas européias: 
 Sistema evaporativo mais eficiente (glândulas em maior número e de maior volume, mais 
próximas à superfície da pele; resposta exponencial de aumento da sudorese conforme o 
aumento da temperatura; anastomoses arterio-venosas mais difusas favorecendo o fluxo 
sangüíneo e perda de calor via pele) 
 Menor isolamento dos tecidos (fluxo de calor do núcleo para a superfície é facilitado) 
 Aumento do volume sangüíneo (maior volume de plasma e de sangue, em temperaturas altas) 
 Maior relação superfície:peso corporal (corpo anguloso, pele extra nas orelhas, região do 
pescoço e do ventre) 
 Pelagem mais clara; pêlos mais curtos, finos e brilhantes 
 O folículo piloso possui um núcleo central relativamente duro, o que faz com que o mesmo se 
mantenha em uma posição mais erguida, facilitando a evaporação 
 Menor taxa metabólica 
 Redução do teor de umidade das fezes 
 
REGULAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL 
 
Para sobreviver e produzir com o máximo de eficiência, o animal precisa manter a 
temperatura dentro de limites considerados normais. Cada espécie possui seus próprios mecanismos 
de termoregulação e dissipação do calor, de modo que comparações entre espécies nem sempre são 
possíveis. 
Homeotermia é a condição de manutenção de uma temperatura relativamente constante no 
núcleo central do corpo do animal, onde se encontram os órgãos vitais (cérebro, órgãos do tórax e 
abdômen). Os órgãos centrais possuem taxas metabólicas mais elevadas que a dos músculos 
esqueléticos, exceto durante o exercício, tremores ou exposição a temperaturas excessivamente 
elevadas. Considerando que calor é liberado durante o metabolismo, há um gradiente térmico que se 
estabelece entre o núcleo central até a superfície do corpo, fazendo com que a temperatura do centro 
do corpo esteja geralmente mais elevada do que nas extremidades. Como conseqüência, a 
temperatura da superfície corporal flutua mais do que a do centro, pois ela tende a refletir mais as 
mudanças da temperatura ambiente. Os processos vitais e produtivos requerem uma temperatura 
relativamente constante. Obviamente, a temperatura corporal flutua em pequenas escalas de tempo e 
estas flutuações refletem as mudanças no conteúdo calórico do animal. As variações maiores 
ocorrem na superfície de modo a proteger o centro de grandes mudanças na temperatura. 
 Os animais homeotérmicos tendem a manter a temperatura interna constante, à medida que 
a temperatura externa varia. Para isto, são necessários mecanismos para estabelecer um equilíbrio 
entre o calor gerado no organismo animal e aquele obtido ou cedido para o meio ambiente. Os 
animais homeotérmicos variam sua temperatura corporal de 36ºC (elefante) até 43ºC (pequenas 
espécies de aves). Os animais homeotérmicos apresentam, em geral, maior habilidade para se 
proteger do frio que do calor. Os mecanismos homeotérmicos não são necessários para o 
desenvolvimento dos mamíferos, até o nascimento. Dependendo da temperatura ambiente, a 
temperatura corporal pode ser mantida de forma estabilizada (capacidade plena de homeotermia) a 
partir de uma determinada idade, que varia conforme as espécies: 
Terneiros e cordeiros (ao nascimento) 
Leitões (2-3 dias) 
Aves (3-4 semanas) 
 
 21 
A homeotermia depende do equilíbrio entre a quantidade de calor metabólico (M) produzido 
somada à quantidade de calor que o animal ganha (G) do ambiente e o calor perdido (P) para o 
ambiente, durante um determinado período. 
M + G = P 
Esta equação é de valor limitado, exceto como indicador do balanço térmico em um determinado 
momento, pois a temperatura corporal se altera, embora sempre para tentar manter este equilíbrio. 
Por isto, outra propriedade térmica deve ser considerada. 
Calor específico: número de calorias necessárias para aumentar a temperatura de 1g de uma 
determinada substância em 1ºC. Por exemplo, o calor específico da água é de 1 cal/g/ºC. O calor 
específico da matéria seca do corpo animal é de aproximadamente 0,4 cal/g/ºC. O número de 
calorias necessárias para aumentar a temperatura da massa corporal em 1ºC é denominada 
Capacidade Térmica. Como o corpo animal não é homogêneo, a sua capacidade térmica é igual à 
capacidade térmica do seu conteúdo em água mais a capacidade térmica de sua matéria seca. O 
conteúdo de água no corpo de um animal adulto é cerca de 70% enquanto que em animais jovens é 
maior (cerca de 80% em um leitão de 2 kg, por exemplo). 
 
Para um animal com 100 kg, a capacidade térmica pode ser calculada como segue: 
Capacidade térmica = capacidade térmica da água + capacidade térmica da matéria seca 
 = (70 kg x 1 kcal/kg/ºC) + (30 kg x 0,4 kcal/kg/ºC) 
 = 70 + 12 
 = 82 kcal/ºC 
 Por sua vez, se este animal, que possui uma capacidade térmica de 82 kcal/ºC, diminuir sua 
temperatura em 2ºC, significa que perdeu 164 kcal. 
Um leitão de 2 kg possui um conteúdo de água em torno de 80%, o que faz com que sua 
capacidade térmica seja de 1,8 kcal/ºC. A partir disto podemos calcular que sua temperatura corporal 
cairia em 0,6ºC assim que seu conteúdo calórico diminuísse em 1 kcal. 
Como o calor específico da água é elevado, a capacidade térmica do corpo animal é 
relativamente elevada. Isto significa que deve ganhar ou perder uma grande quantidade de calor 
antes que a sua temperatura mude substancialmente. O alto conteúdo de água do corpo animal 
favorece a homeotermia, servindo como tampão, impedindo grandes variações da temperatura 
corporal frente à variação da temperatura ambiental. 
 
O centro nervoso regulador da temperatura se encontra no hipotálamo, sob forma de dois 
centros, cuja localização se situa no hipotálamo anterior (controla a dissipação de calor) e no 
hipotálamo posterior (controla a conservação de calor). Os centros reguladores da temperaturasão 
influenciados pela temperatura do sangue que passa pelo hipotálamo, pela temperatura da pele e dos 
outros órgãos. 
 
Termoreceptores 
 Estão localizados por todo o corpo. Há os receptores que são estimulados pelo aumento e 
outros pela diminuição da temperatura. Também podem ser classificados pela sua localização no 
corpo: termoreceptores centrais (hipotalâmicos); extra-hipotalâmicos profundos (na medula 
espinhal, nas paredes dos vasos sangüíneos e do trato gastrointestinal, etc) e periféricos (pele). A 
informação de todos estes locais é encaminhada para o centro termoregulador no hipotálamo, via 
nervos aferentes. 
Termoregulação física 
A resistência do fluxo sangüíneo nos vasos periféricos é controlada primariamente por 
nervos simpáticos que se originam no cérebro (medula oblonga). O aumento da freqüência dos 
 22 
pulsos nestes nervos causa a vasoconstrição e a diminuição dos pulsos causa o relaxamento e 
conseqüente vasodilatação. As catecolaminas da medula da adrenal também aumentam o tônus 
vasoconstritor. 
As respostas do animal frente à elevação da temperatura ambiental, como o aumento do 
fluxo sangüíneo periférico, da sudorese ou da taxa respiratória (ofegação), podem ser desencadeadas 
tanto pelo aumento da temperatura a nível periférico como a nível hipotalâmico. O aumento da 
temperatura periférica diminui o gradiente existente entre o núcleo e a superfície corporal, fazendo 
com que haja uma redução na perda de calor não-evaporativa. Para compensar, ocorre um aumento 
do fluxo sangüíneo periférico (pele, língua, nariz, trato respiratório) e um conseqüente aumento da 
perda de calor por evaporação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Limiar da temperatura da pele para inicio da sudorese 
 Taurinos: 32ºC 
 Zebuínos: 35ºC 
 
Limiar de temperatura para inicio da ofegação 
 Taurinos: 36ºC (pele) 
 Ovinos: 36ºC (pele) 
 Suínos: 35ºC (pele) 
 Aves: >42ºC (central) 
 
 
Hipotalâmicos Extra-hipotalâmicos 
 Periféricos (Pele) 
 Profundos 
 Medula 
 Vasos Sangüíneos 
 TGI 
P 
O 
S 
T 
E 
R 
I 
O 
R 
A 
N 
T 
E 
R 
I 
O 
R 
Hipotálamo 
Vasoconstrição 
Piloereção 
 Produção calor 
Conservação calor Vasodilatação 
Sudorese 
 Fr. Respiratória 
 Produção calor 
Dissipação calor 
Receptores 
 23 
Como a temperatura crítica para a ofegação está 1 a 2 graus acima da necessária para o inicio 
da sudorese, em animais com boa capacidade de sudorese, a pele é resfriada pela evaporação do 
suor, havendo um atraso na estimulação da ofegação. Nas espécies com baixa capacidade de 
sudorese, a temperatura corporal sobe mais rapidamente atingindo facilmente o limiar para a 
ofegação. 
 
Termoregulação química 
 A primeira resposta ao frio é a contração involuntária dos músculos esqueléticos, originando 
os tremores musculares. Este meio de produção de calor é relativamente ineficiente pois parte do 
calor é utilizada para produção dos movimentos (tremores) e parte vai para a pele sendo perdida 
para o ambiente. Além disto, os tremores podem “romper” a camada de ar que cerca o animal, 
reduzindo seu isolamento térmico. Este tipo de contração muscular é progressivamente substituída 
por contrações musculares mais eficientes, as quais não causam tremores. Este tipo produção de 
calor é gradualmente substituído por uma produção mais eficaz, através do aumento da taxa 
metabólica. O aumento da produção de calor via tremores musculares é uma resposta a um estresse 
agudo por frio enquanto a reação de aumento da taxa metabólica é mais lenta e responde mais a um 
estresse crônico. 
Vários hormônios – da tireóide, da glândula adrenal, hormônio do crescimento – estão, 
provavelmente, envolvidos na resposta metabólica ao frio. A secreção dos mesmos está 
inversamente relacionada com a temperatura ambiente e, quando injetados no animal, todos 
aumentam a taxa metabólica. No inicio do estresse por altas temperaturas os mesmos se encontram 
elevados (provável resposta inespecífica) mas sua concentração diminui gradativamente. Embora 
não esteja bem esclarecido, acredita-se que esta diminuição ocorre em função da necessidade de 
reduzir a taxa metabólica do animal para poder manter o equilíbrio térmico. Por exemplo, galos 
domésticos secretam duas ou mais vezes tiroxina durante o inverno do que no verão, a mesma 
tendência sendo observada para vacas em lactação. A tiroxina ajuda o animal a ajustar a temperatura 
em função das variações lentas e estacionais enquanto a adrenalina é mais utilizada para enfrentar as 
mudanças rápidas de temperatura. 
A partir da estimulação do centro termoregulador hipotalâmico, há um estímulo do sistema 
simpático (nervos simpáticos pós-ganglionares) e da medula da adrenal para a secreção de 
catecolaminas – norepinefrina e epinefrina. Estes hormônios são importantes para as reações 
termogênicas, em estresse agudo ou crônico por frio. Eles favorecem a mobilização de combustíveis 
metabólicos tais como ácidos graxos e glicose e aumentam a FC para facilitar o transporte de 
substratos bem como dos subprodutos das reações termogênicas. 
 
Isolamento térmico 
Dentre os fatores que influenciam o isolamento térmico do animal, os principais são: a 
integridade da camada de ar adjacente ao corpo do animal, o tipo e profundidade da pelagem, a 
espessura da camada de gordura subcutânea, a condição dos vasos sangüíneos periféricos e a área 
superficial efetiva. 
A maior parte do calor flui dos órgãos viscerais para a pele do tronco e das extremidades 
através do sangue e pouco calor é difundido através de condução. O sangue absorve o calor ao 
passar pelos órgãos de alta taxa metabólica e o carrega para a periferia, mais fria, onde parte deste 
será dissipada para o ambiente. Assim, ao alterar a velocidade de passagem do sangue através das 
diferentes partes do corpo altera-se enormemente a troca de calor efetuada pelo animal. Em outras 
palavras, a magnitude do isolamento tissular do animal é grandemente determinada pela condição 
dos vasos sangüíneos periféricos. 
 24 
 
Anatomia vascular da periferia 
A pele consiste das camadas epiderme, derme e hipoderme. A derme contém vasos 
sangüíneos e linfáticos, folículos pilosos ou folículos das penas, várias glândulas e nervos. A 
epiderme é uma camada de epitélio escamoso estratificado, não-vascular, que cobre a derme. A pele 
possui três plexos vasculares localizados em três níveis, irrigando estruturas localizadas nos mesmos 
e servindo também para a troca de calor. O plexo subdérmico está logo abaixo da derme; o inter-
dérmico em um nível entre glândulas sudoríparas e sebáceas e o subepidérmico, o qual é uma 
trama de capilares espessos, se encontra logo abaixo da epiderme. 
 
Anastomoses arterio-venosas (AAV) 
Consistem da ligação direta entre uma arteríola e uma vênula, sem passar pelos capilares. 
Ocorrem na pele dos membros e extremidades mas não na pele do tronco. Estas estruturas servem 
como vias de baixa resistência para a passagem do sangue em condições de estresse por calor, 
abrindo-se para aumentar o volume de sangue periférico. O fluxo sangüíneo pelas AAV é de 2% em 
condições de termoneutralidade, 9% sob calor moderado e de 11% em caso de estresse térmico. 
Durante a aclimatização ou adaptação a altas temperaturas, o aumento do fluxo sangüíneo 
periférico é obtido em função do aumento da densidade dos capilares e/ou das AAV na pele. 
 
Veias Concomitantes 
Ocorrem na pele de grande parte da superfície corporal. São veias que correm em paralelo 
com as artérias correspondentes. Este arranjo permite a troca de calor através das paredes destes 
vasos por um mecanismo de contra-corrente, de modo que o sangue arterial é aquecido durante seu 
retorno para o centro do corpo do animal. Desta forma, menos calor é carregado para a superfície do 
corpo, ocorrendo então uma diminuição da temperatura da pele e diminuição da perda de calor. Nas 
extremidades,o sangue normalmente deixa o plexo capilar via veias que correm logo abaixo da pele. 
No entanto, sob estresse por frio, uma anastomose arterio-venosa se abre e o sangue, ao invés de 
passar pelos capilares entra diretamente em uma vênula que, por sua vez, se liga a uma veia 
concomitante. Neste caso o sangue é conduzido aos músculos e o calor por ele carregado não vai 
até a pele, mas fica no interior do organismo. 
 
Vasoconstrição e vasodilatação 
A resistência periférica à passagem do fluxo sangüíneo é afetada pela contração ou 
relaxamento das células musculares lisas da parede dos vasos, além do calibre das arteríolas. Quanto 
menor o calibre, maior a resistência e menor o fluxo. Os capilares não possuem células musculares 
lisas, mas o fluxo é controlado por esfíncteres pré-capilares, os quais são músculos circulares que se 
localizam nos pontos onde eles se ramificam nas vias de ligação do plexo capilar. Vênulas e veias 
possuem células musculares lisas mas a venoconstrição possui pouca importância no processo de 
termoregulação. 
Aumentando o fluxo sangüíneo para a pele, diminui a capacidade de isolamento térmico 
tissular e vice-versa. O isolamento tissular é aproximadamente 3 vezes maior quando ocorre 
vasoconstrição, em relação à vasodilatação. 
 
 
 
 
 
 
 
 25 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Isolamento tissular durante vasoconstrição e vasodilatação periférica 
 Isolamento tissular (ºC/m2/h/kcal) 
Animal Vasodilatação Vasoconstrição 
Bovino adulto 0,05 0,16 
Suíno adulto 0,06 0,17 
Ovino adulto 0,03 0,08 
 Curtis (1983) 
 
A condutividade térmica de um animal gordo em vasoconstrição é cerca de 1/3 da 
apresentada por um animal gordo em condição normal (10 vs 35 kcal/m2/h/ºC). Em outras palavras, 
o valor de isolamento da camada de gordura é aumentado cerca de 3 vezes pela vasoconstrição 
periférica. Porém, em ambiente termoneutro ou mais quente, quando a taxa de fluxo sangüíneo para 
a superfície não está restrita ou mesmo aumentada, o isolamento térmico é pouco afetado pela 
gordura subcutânea. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Artéria Arteríola 
Metaarteríola 
Capilar 
Vênula 
Veia 
Anastomose 
arterio-venosa 
Fluxo para o coração 
Fluxo do coração 
 26 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PRODUÇÃO E PERDA DE CALOR CORPORAL 
O animal responde às mudanças de temperatura ambiente alterando sua produção ou sua 
perda de calor. As primeiras mudanças são comportamentais, as quais ocorrem junto com 
mecanismos físicos de dissipação de calor. Em condições mais extremas, o animal lança mão de 
meios químicos para regular a sua temperatura. 
Como foi visto anteriormente, os mecanismos que o organismo utiliza para a produção e 
dissipação de calor são os seguintes: 
 Vasomotor - controla o fluxo de sangue nos tecidos 
 Pilomotor - controla a ereção dos pêlos 
 Glândulas sudoríparas - produção de suor 
 Freqüência respiratória 
 Modificação da taxa metabólica 
Radiação 
Evaporação 
Condução Convecção 
• Área superfície corporal 
• Isolamento tecidos e pelagem 
• Ingestão e excreção água 
• Fluxo sangüíneo 
 (vasoconstrição, vasodilatação) 
• Temperatura 
• Umidade 
• Movimento do ar 
• Radiação e calor do ambiente 
• Energia química alimentos 
• Reservas corporais 
• Processos fisiológicos 
• Incremento calórico 
• Fermentação 
• Produção 
• Atividade 
Produção de calor 
Dissipação de calor 
 27 
Os processos de manutenção das atividades funcionais do organismo, a síntese de produtos e o 
armazenamento de reservas corporais envolvem reações metabólicas com a transferência de energia 
química. Tais reações são processos ineficientes do ponto de vista energético e todos contribuem 
para uma produção extra de calor corporal. A quantidade total de energia transformada em calor 
corporal é denominada “calor metabólico”. A taxa metabólica pode ser expressa em termos de 
kcal/hora/unidade de peso metabólico. Quando medida em condições específicas de jejum e 
descanso, a taxa metabólica corresponde a uma estimativa do metabolismo basal. 
O metabolismo basal e a atividade muscular voluntária são as principais fontes de calor gerado 
pelo corpo animal. A ingestão de alimento também aumenta a taxa metabólica e, em conseqüência, a 
quantidade de calor corporal que deve ser transferida para o meio ambiente. Suínos na fase de 
reprodução, sob estresse térmico, eliminam cerca de 1,7W de calor por kg de peso vivo. Estima-se 
que seria necessária uma ventilação da ordem de 180m3/h para uma renovação efetiva do ar, de 
modo a proporcionar condições de conforto para estes animais pesados. Nos ruminantes, os 
processos fermentativos geram quantidades consideráveis de calor. Todas as funções produtivas 
(gestação, produção de ovos, leite, etc) também desprendem calor. 
 
Variação na produção de calor entre animais 
Os animais recém-nascidos e os muito velhos possuem uma taxa metabólica inferior aos que 
se encontram na fase de crescimento. Os machos normalmente possuem uma taxa metabólica 
superior à das fêmeas e machos castrados. Uma vaca lactante pode produzir 2 ou mais vezes calor 
em comparação a uma vaca não-lactante de mesmo tamanho. 
A produção de calor por unidade de peso em novilhas zebuínas é cerca de 20% inferior à 
produção observada em novilhas Pardo Suiço de mesmo peso e idade. A menor produção de calor 
das raças zebuínas pode contribuir para sua maior tolerância ao calor e menor tolerância ao frio. 
 
Produção de calor em ovinos conforme condições ambientais 
Condição ambiental Produção de calor (kcal/m2/dia) 
Temperatura 7,4ºC, seco, sem vento 1810 
Temperatura 7,4ºC, seco, vento 4,5 m/s 2383 
Temperatura 7,4ºC, chuva, sem vento 2914 
Temperatura 7,4ºC, chuva, vento 4,5 m/s 3363 
 Curtis (1983) 
 
Produção de calor em ovinos, em ambiente frio, conforme a radiação térmica e velocidade do ar 
 Taxa de produção de calor (kcal/dia) 
Velocidade do ar (cm/seg) Sem radiação térmica adicional Radiação térmica adicional 
30 2114 1625 
430 2500 1675 
Profundidade do velo era de 4 cm e a temperatura do ar de 0ºC Curtis (1983) 
 
 
 
 
Efeito da velocidade do ar na produção de calor de ovinos 
Velocidade do ar (cm/seg) Produção de calor (kcal/dia) 
25 3880 
110 4320 
190 4700 
335 5020 
430 5330 
Profundidade do velo era de 2 cm e a temperatura de 3ºC Curtis (1983) 
 
 28 
Produção de calor em cordeiros conforme velocidade do ar e condição do velo 
Velocidade do ar Produção de calor (kcal/h/m2) conforme condição do velo 
(cm/seg) Seco Molhado 
0 85 130 
550 115 170 
Curtis (1983) 
 
FLUXO DE CALOR E MECANISMOS DE TROCAS TÉRMICAS 
 A perda de calor total é o resultado do calor dissipado por ambas as vias: calor sensível e 
calor latente. 
Calor sensível é o calor transferido em função de gradientes de temperatura (radiação, 
convecção ou condução), o qual pode ser medido pelo termômetro e que acaba afetando a 
temperatura das instalações. 
 Calor latente é o calor liberado através da evaporação da umidade, não determinando 
mudança na temperatura ambiental pois a energia é retida pela água evaporada (o calor “esconde-
se”). A evaporação e a condensação ocorrem em função de um gradiente de pressão de vapor e não 
de temperatura. 
É importante considerar o isolamento contra a perda de calor sensível independentemente do 
isolamento contra a perda de calor latente. Sob estresse por frio, os mecanismos de perda de calor 
por evaporação são minimamente ativados, sendo a perda de calor sobretudo do tipo sensível. Por 
outro lado, quando o ambiente se aquece, os modos de transferência de calor sensível tornam-se 
menos efetivos porque os gradientes de temperatura tornam-se menores. Neste caso, o animal 
aumenta progressivamentea perda de calor por evaporação. Portanto, à medida que o estresse 
térmico por alta temperatura aumenta, o isolamento contra a perda de calor sensível torna-se menos 
importante. 
À medida que a temperatura ambiental aumenta, o fluxo de calor latente aumenta 
progressivamente e, ao se aproximar da temperatura do centro do corpo, a perda de calor sensível 
diminui drasticamente. A relação perda de calor sensível:calor latente também é afetada pela pressão 
de vapor do ambiente. Um aumento da pressão de vapor (umidade) conduz a uma diminuição do 
calor que é perdido de forma latente. 
 
Efeito da pressão de vapor do ambiente na repartição da perda de calor 
Espécie TºC ar Pressão de vapor (mb) Perda calor latente (% sobre total) 
Galinhas 24 12 50 
 24 24 28 
 34 18 74 
 34 40 39 
Bovinos 35 18 89 
 35 23 84 
 35 30 83 
 35 35 81 
 35 41 79 
Curtis (1983) 
 
O calor produzido no corpo do animal é dissipado basicamente por 4 formas: condução, 
convecção, radiação e evaporação. Uma pequena quantidade também é dissipada através das fezes 
e urina ou pelo aquecimento do ar inspirado. Quando a temperatura ambiente excede a temperatura 
 29 
corporal, a capacidade do animal em dissipar o calor para o ambiente através dos meios físicos 
(condução, convecção e radiação) é limitada. Nestas condições a evaporação se torna importante. 
Grande parte da transferência de calor entre o animal e o ambiente ocorre através da pele do 
animal. Cada porção da superfície da pele pode estar exposta a quatro diferentes tipos de ambiente: 
outra porção de pele, do próprio animal ou de outro animal; em contato com o piso ou outra 
superfície da instalação de criação; exposta ao ar em um ambiente sombreado ou exposta ao sol. 
 
 
 Calor perdido 
Situação Evaporação Outros meios 
Conforto térmico 25% 75% 
Estresse térmico por altas temperaturas 85% 15% 
 
 
 Radiação: única forma de fluxo de calor que não utiliza um meio material, pois pode passar 
através do vácuo. Consiste da conversão do calor, contido no objeto ou corpo emissor, em ondas 
energéticas eletromagnéticas, passagem destas através do espaço e reconversão das ondas em 
energia térmica no objeto ou corpo que as absorve. Um corpo hipotético que absorve toda a energia 
que recebe é chamado de corpo negro. Animais e superfícies ambientais (solo, grama, concreto, 
etc), independentemente da cor, são praticamente corpos negros para a radiação infravermelha. Da 
mesma forma que o fogo, o sol irradia sua energia em linhas retas como ondas eletromagnéticas de 
vários comprimentos de onda, na velocidade da luz (300.000 km/seg). A energia radiante não 
aquece o ar direta mas indiretamente ao aquecer superfícies sólidas como o solo, água, árvores, 
poeiras, instalações e animais. Desta forma, a energia radiante é transformada em energia térmica, a 
qual por sua vez pode aquecer o ar por condução e por convecção. 
Menos da metade da energia solar radiante que alcança a atmosfera da terra se encontra no 
espectro de luz visível (400-700 nm); aproximadamente a metade está na faixa de radiação 
infravermelha (700-3000 nm) e o restante na faixa de luz ultravioleta (<400 nm). Considerando 
todos os comprimentos de onda, a densidade do fluxo solar que incide normalmente sobre a 
atmosfera terrestre é de 1200 kcal/h/m2 (constante solar). 
As radiações da superfície terrestre ou da superfície de seres vivos e objetos são 
normalmente do tipo ondas longas, sendo conhecidas como radiação térmica ou infravermelha. A 
perda ou ganho de calor transferido por ondas infravermelhas (acima de 700 nm) depende não 
somente da temperatura mas também da cor e da textura de um objeto (escuros e rugosos irradiam 
ao máximo). Os animais recebem radiação térmica infravermelha do ambiente. Todos os objetos 
com uma temperatura acima do zero absoluto (-273ºC) irradiam este tipo de energia. 
Em uma atmosfera com nebulosidade, grande parte da energia solar e energia emitida pelas 
superfícies é absorvida. Assim, para fins práticos, nuvens e neblina são considerados corpos negros. 
 
Destino da radiação solar após alcançar a atmosfera terrestre 
 Condições do céu 
Destino Claro Nublado 
Refletida ou dispersa pela atmosfera 15% 55% 
Absorvida pela atmosfera 16% 10% 
Alcança a superfície da terra 69% 35% 
Curtis (1983) 
 
 30 
A lã das ovelhas proporciona isolamento contra a radiação solar pois somente cerca de 10% da 
radiação solar recebida alcança a pele como calor. A ponta das fibras de lã nas áreas expostas 
diretamente à luz do sol pode alcançar 85ºC ou mais; a pele, em condições extremas, alcança até 
45ºC. Um gradiente de temperatura tem sido observado na parte mais externa do velo (gradiente de 
45ºC nos 4 cm mais externos). A proteção do velo aumenta com o comprimento das fibras até 4 cm, 
após o qual o isolamento contra a radiação solar praticamente não aumenta. 
 
Capacidade de absorção da radiação por superfícies animais e ambientais 
Superfície Radiação solar Radiação infravermelha 
 
Bovinos brancos 0,50 0,95 
Bovinos vermelhos 0,80 0,95 
Bovinos pretos 0,90 0,95 
 
Suínos Brancos 0,50 0,95 
Suínos Pretos 0,90 0,95 
 
Ovinos Tosados 0,60 0,95 
Ovinos Não tosados 0,75 0,95 
 
Solo escuro 0,95 0,95 
Grama 0,70 0,95 
Concreto 0,85 0,95 
 Adaptado de Curtis (1983) 
 
 
Efeito da orientação de ovelhas frente à radiação solar direta 
 Temperatura (ºC) 
Localização Lado exposto Lado não exposto 
Superfície do velo 44,4 31,5 
Meio do velo 54,1 34,7 
Pele 41,5 37,6 
A profundidade do velo era de 5 cm e a temperatura do ar de 31ºC. Curtis (1983) 
 
Diferentemente dos ovinos, os bovinos e suínos se protegem da radiação solar mais através da 
refletividade da pelagem. Quanto mais escura a pelagem, menor é a refletividade e maior é a 
absorção. De modo geral, uma maior refletividade implica em maior tolerância ao calor, mas às 
vezes a relação entre a cor da pelagem e a tolerância ao calor é muito baixa ou o oposto do esperado. 
Da mesma forma, bovinos com pouca diferença na refletividade da pelagem podem apresentar uma 
diferença muito grande em termos de tolerância ao calor. 
 
Condução: baseado no princípio de transferência de calor entre objetos quentes e frios. Ocorre 
geralmente em sólidos e, nos líquidos, somente quando seu movimento é limitado. Uma molécula 
quente possui um grande movimento vibratório e rotatório e quando bate em uma molécula mais fria 
transfere parte de sua energia cinética para esta molécula. As trocas ocorrem em função do contato 
com outros animais, paredes, solo, equipamentos e outras superfícies que rodeiam os animais. Se o 
corpo estiver recoberto por camada espessa de pêlos, lã, plumas, gordura, a perda de calor por 
condução através do ar é pequena. Substâncias feitas de moléculas que estão próximas (sólidos ou 
líquidos) possuem uma maior condutividade térmica que as substâncias cujas moléculas estão 
distantes (gases). O fato do ar seco ser um mau condutor é fisiologicamente importante pois 
contribui para a habilidade do corpo em reter seu calor. Pêlos, lã e roupas reduzem a perda de calor 
porque são maus condutores e, também, porque mantêm ar aprisionado entre suas fibras e mechas. 
 
 31 
Convecção: transporte de calor através de correntes ou camadas de moléculas de um lugar quente 
para um frio. O ar imediatamente adjacente ao corpo do animal é normalmente mais quente do que o 
ar do resto do ambiente. Ao ser aquecido torna-se menos denso, sendo afastado desta superfície. O 
calor é transferido para o ar, o qual sobe carregando o calor com ele. A substituição da camada de ar 
que envolve o animal por ar mais frio auxilia na remoção de calor do animal por convecção. O 
mecanismo de troca de calor por convecção é acelerado pelo vento, o qual pode resfriar ou aquecer 
o animal, dependendo se a temperatura do ar é menor ou maior do que a da superfície do animal. 
 
Perda de calor por condução, em leitões,

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