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Monografia (WORD)

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SUMÁRIO
1	Introdução	1
2	Dolo	2
2.1	Teorias do Dolo	3
2.2	Elementos do Dolo	5
2.3	Espécies de Dolo	5
2.3.1	Dolo Direto	6
2.3.2	Dolo Direto de Segundo Grau	7
2.3.3	Dolo Indireto ou Eventual	7
2.3.4	Dolo Alternativo	8
2.4	O Dolo no Código Penal Brasileiro	9
3	Culpa 	10
3.1	Elementos do Crime Culposo	10
3.2	Modalidades de Culpa	11
3.3	Espécies de Culpa	12
3.3.1	Culpa Consciente	12
3.3.2	Culpa Inconsciente	13
3.4	Diferença entre Culpa Consciente e Culpa Inconsciente	14
4	Crime Preterdoloso	15
5	Distinção entre Dolo Eventual e Culpa Consciente e seus efeitos Jurídicos nos acidentes causados por embriaguez ao volante	16
5.1 Generalidades e distinções entre Dolo Eventual e Culpa Consciente..................	16
5.2	Embriaguez	18
6	Abordagem Jurisprudencial	20
6.1	Julgado favorável a Culpa Consciente em crime de trânsito causado por condutor embriagado	20
6.2	Julgado favorável ao Dolo Eventual em crime de trânsito causado por condutor embriagado	21
7	Conclusão	23
8	Referências Bibliográficas	25
Introdução
A grande quantidade de acidentes provocados por condutores embriagados, combinado com a exigência da mídia para que esses motoristas tenham penas mais severas, causam uma grande reprovabilidade por parte da sociedade.
Diante desta realidade, a sociedade clama por alterações nas leis, para maior responsabilização dos infratores, pois, muitos consideram que a atual legislação não está sendo rígida a ponto de conseguir reduzir esse problema social.
O presente trabalho tem a finalidade de analisar a possibilidade de aplicação do dolo eventual e da culpa consciente no crime de trânsito em que o condutor encontrava-se alcoolizado, sendo de suma importância a definição e o entendimento acerca dos referidos temas.
Assim sendo, trataremos de diferenciar os institutos, falando primeiramente sobre o dolo, suas teorias e elementos, assim como suas espécies e, como o Código Penal Brasileiro trata do assunto.
Após, abordaremos a culpa, também explicando os seus elementos, modalidades e espécies, diferenciando a culpa consciente da culpa inconsciente.
Conceituaremos o crime preterdoloso e, distinguiremos e abordaremos as generalidades do dolo eventual e da culpa consciente sob seus aspectos jurídicos nos acidentes de trânsito.
Passaremos ao tema da embriaguez, apontando seus efeitos na corrente sanguínea e os seus limites para o condutor de veículo.
1
Por derradeiro, farse-á uma abordagem jurisprudencial, expondo um julgado favorável a aplicação da culpa consciente e, de outra forma, um julgado favorável a aplicação do dolo eventual e os entendimentos dos magistrados das referidas açõe.
	
	
Dolo
O dolo não é descrito pelo Código Penal de maneira objetiva, contudo, o artigo 18, I, explica quem comete um crime doloso:
Art. 18. Diz-se o crime:
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.[1: BRASIL. DECRETO-LEI N°. 2.848, de 7.12.40. Código Penal. DOU de 31.12.40. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> Acesso em 17 set. 2016]
Doutrinariamente verifica-se que o dolo é o desejo, a consciência que o agente tem de atingir o tipo penal, como define Cezar Roberto Bitencourt, "Dolo é a consciência e a vontade de realização da conduta descrita em um tipo penal."[2: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 266.]
Damásio de Jesus expõe que "Dolo é a vontade de concretizar as características objetivas do tipo."[3: JESUS. Damásio de. Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 34 ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 327.]
No mesmo sentido, o doutrinador Júlio Fabbrini Mirabete, em seu Manual de Direito Penal, define:
A vontade é querer alguma coisa e o dolo é a vontade dirigida à realização do tipo penal. Assim, pode-se definir o dolo como a consciência e a vontade na realização da conduta típica, ou a vontade da ação orientada para a realização do tipo.[4: MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 30 ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 127.]
 Como se observa, ainda que existam várias definições sobre o tema, há consenso ao tratar-se de uma vontade consciente de agir.
2.1 Teorias do Dolo
Damásio de Jesus, Julio Fabbrini Mirabete e Cezar Roberto Bitencourt consideram existir três teorias, são elas:
a) Teoria da vontade
Na teoria da vontade é necessário a consciência e a voluntariedade da conduta para que haja o dolo,assim como a consciência do resultado.
É o que ensina Cezar Roberto Bitencourt, em seu livro Tratado de Direito Penal:
Para essa teoria, tida como clássica, dolo é a vontade dirigida ao resultado. [...] A essência do dolo deve estar na vontade, não de violar a lei, mas de realizar a ação e obter o resultado. Essa teoria não nega a existência da representação (consciência) do fato, que é indispensável, mas destaca sobre tudo, a importância da vontade de causar o resultado.[5: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 267.]
Já para Júlio Fabbrini Mirabete, "age dolosamente quem pratica a ação consciente e voluntariamente. É necessário para sua existência, portanto, a consciência da conduta e do resultado e que o agente a pratique voluntariamente."[6: MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 30 ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 126.]
Conclui-se que há dolo direto quando há vontade consciente de querer praticar a ação, ou seja, pela teoria da vontade o dolo é a vontade dirigida ao resultado, ainda que não de violar a lei, o autor deve sempre estar disposto a produzir o resultado.
b) Teoria da representação
Já nesta teoria o agente prevê o resultado como possível mas opta por dar prosseguimento a sua conduta, entendendo o dolo como a previsão do resultado. 
Rogério Greco ensina que:
Para a teoria da representação, podemos falar em dolo toda vez que o agente tiver tão somente a previsão do resultado como possível e, ainda assim decidir pela continuidade de sua conduta. [...] Para a teoria da representação, não há distinção entre dolo eventual e culpa consciente, pois a antevisão do resultado leva à responsabilização do agente a título de dolo.[7: GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 13 ed. Niterói: Impetus, 2011. p. 186.]
Deste modo, o dolo se configura com a previsão do resultado. Existe a consciência de que a conduta provocará o resultado, no entanto, o agente não a deseja, essa teoria abrange tanto o dolo eventual como a culpa consciente.
c) Teoria do assentimento
Pela teoria do assentimento ou do consentimento, também é dolo a vontade que, ainda que não seja dirigida diretamente ao resultado previsto como possível, assume o risco de produzi-lo, consentindo para sua realização.
Sobre essa teoria Damásio de Jesus expõe: “Requer a previsão ou a representação do resultado como certo, provável ou possível, não exigindo que o sujeito queira produzi-lo. É suficiente seu assentimento.”[8: JESUS, Damásio. Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 34 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 328.]
É preciso que o agente, embora não desejando o resultado diretamente, expresse verdadeira indiferença na sua produção, não basta prever o resultado.
Ney Moura Teles nos da um exemplo dessa teoria:
João numa calçada, avistando um animal e próximo dele um homem, desejando atingir a caça, prevê que, se errar o tiro, poderá atingir o homem a quem não deseja matar. Fazendo a previsão, João, apesar disso, pensa: "não quero atingir o homem, mas se atingir, tudo bem, não posso fazer nada". Em seguida, atira e atinge o homem, em vez da caça.[9: TELES, Ney Moura. Direito Penal: Parte Geral. Volume I. São Paulo: Atlas, 2004. p. 181.]
Ainda que não fosse sua intenção, o autor previu que poderia alcançar o resultado, continuou sua ação o aceitando, enquadrando-se na segunda parte do artigo 18, inciso I,do Código Penal:
Art. 18. Diz-se o crime:
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.[10: BRASIL. DECRETO-LEI N°. 2.848, de 7.12.40. Código Penal. DOU de 31.12.40. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> Acesso em 21 set. 2016]
2.2 Elementos do dolo
O dolo é composto por dois elementos, um cognitivo e um volitivo. 
Para Cezar Roberto Bitencourt, "cognitivo é o conhecimento do fato constitutivo da ação típica, e o volitivo é a vontade de realiza-la."[11: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral. Volume I. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 267.]
Os elementos do dolo para Fernando Capez são: "consciência (conhecimento do fato que constitui a ação típica) e vontade (elemento volitivo de realizar esse fato)."[12: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Volume I. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 193.]
A consciência do agente 	precisa ir até as circunstâncias previstas no tipo penal, não é preciso que tenha consciência dos fatos não mencionados no tipo, ou seja, se houver alguma expressão no tipo penal como “funcionário público” por exemplo, o agente não precisa saber seu sentido técnico jurídico, bastando compreender o termo em seu sentido vulgar.
Já quanto à vontade do agente, ensina Rogério Greco:
A vontade é outro elemento sem o qual se desestrutura o crime doloso. Aquele que é coagido fisicamente a acabar com a vida de outra pessoa não atua com vontade de matá-la. Assim, se Antonio, pressionado por João, é forçado a colocar o dedo no gatilho de uma arma, que é disparada contra Pedro, que vem a falecer, não atua com vontade. Não houve, portanto, conduta, pois mesmo sabendo que atirando poderia causar a morte de Pedro, não atuou com vontade, devido à coação física a que fora submetido. Na realidade, o agente, no exemplo fornecido, não passa de mero instrumento nas mãos do coator.[13: GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 13 ed. Niterói: Impetus, 2011. p. 184.]
2.3 Espécies de dolo
O conceito de dolo é igual para todos os crimes, mas de acordo com o tipo penal sua forma de expressão sofre mudanças. 
Dentre as várias espécies o dolo pode ser classificado como direto e indireto.
O dolo direto se subdivide em dolo direto de primeiro grau e dolo direto de segundo grau, já o dolo indireto se subdivide em dolo eventual e dolo alternativo.
Para Mirabete não há dolo direto de primeiro grau e segundo grau, faz a separação somente em dolo direto ou indeterminado e dolo indireto ou indeterminado.
Distingue-se na doutrina o dolo direto ou determinado do dolo indireto ou indeterminado. No primeiro, o agente quer determinado resultado, como a morte da vítima, por exemplo, no homicídio. No segundo, o conteúdo do dolo não é preciso, definido. Neste caso, poderá existir o dolo alternativo, em que o agente quer, entre dois ou mais resultados (matar ou ferir, por exemplo), qualquer deles ou o dolo eventual.[14: MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 30 ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 130.]
2.3.1 Dolo direto
Tem-se dolo direto quando o agente prevê um resultado, dirigindo sua conduta na busca de realizá-lo, cometendo um fato descrito no tipo penal.
Sobre o dolo direto, afirma Cezar Roberto Bitencourt:
No dolo direto o agente quer o resultado como fim de sua ação. A vontade do agente é dirigida à realização do fato típico. O objeto do dolo direto é o fim proposto, os meios escolhidos e os efeitos colaterais representados como necessários à realização do fim pretendido. Assim o dolo direto compõe-se de três aspectos: 1) a representação do resultado, dos meios necessários e das consequências secundárias; 2) o querer o resultado, bem como os meios escolhidos para a sua consecução; 3) o anuir na realização das consequências previstas como certas, necessárias ou possíveis, decorrentes do uso dos meios escolhidos para atingir o fim proposto ou da forma de utilização desses meios.[15: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral. Volume I. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 270.]
Já Rogério Greco, afirma que tem-se o dolo direto quando o agente quer praticar a conduta descrita no tipo, preenchendo os elemento subjetivos. O autor considera ser o dolo por excelência, sendo o primeiro que se pensa quando se faz referência ao dolo, como transcrito abaixo:
Diz-se direto o dolo quando o agente quer, efetivamente, cometer a conduta descrita no tipo, conforme preceitua a primeira parte do art. 18, I, do Código Penal. O agente, nesta espécie de dolo, pratica sua conduta dirigindo-a finalisticamente à produção do resultado por ele pretendido inicialmente. Assim, João, almejando causar a morte de Paulo, seu desafeto, saca seu revolver e o dispara contra este último, vindo a matá-lo. A conduta de João como se percebe, foi direta e finalisticamente dirigida a causar a morte de Paulo.[16: GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 13 ed. Niterói: Impetus, 2011. p. 187.]
Conclui-se que é mais fácil identificar o dolo direto, pois o autor manifestamente tem a intenção de produzir o resultado.
2.3.2 Dolo direto de segundo grau
O dolo direto de segundo grau ocorre quando o resultado é a consequência necessária do meio escolhido, "há uma vontade com relação a um crime e uma aceitação do efeito colateral em relação ao resultado."[17: ISHIDA, Valter Kenji. Curso de Direito Penal: Parte Geral e Parte Especial. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 101.]
O dolo aqui compreende os efeitos secundários tidos como certos ou necessários pelo autor para a produção da conduta desejada primariamente.
Como exemplo podemos citar a pessoa que deseja matar um piloto de avião que é seu desafeto, causando a queda da aeronave. A morte dos passageiros e tripulantes constituem efeitos colaterais típicos ocasionados pelo meio escolhido (derrubar o avião).
Percebe-se que , partindo da conduta observada, qual seja, a queda provocada da aeronave, o dolo direto de primeiro grau se manifesta pela prática a morte do piloto, Restando, para o dolo direto de segundo grau, as mortes dos tripulantes e passageiros (efeitos colaterais da conduta).
2.3.3 Dolo indireto ou Eventual
O dolo eventual é tratado na segunda parte do artigo 18, I, do Código Penal: "o agente assume o risco de produzir o resultado". Isto acontece porque para o agente, a prática da ação é mais importante do que o resultado que sua atitude poderá causar, ou seja, o agente continua a produzir a ação mesmo percebendo que sua conduta poderá causar um resultado danoso.
Sobre o assunto Rogério Greco se posiciona:
Fala-se em dolo eventual quando o agente, embora não querendo diretamente praticar a infração penal, não se abstém de agir e, com isso, assume o risco de produzir o resultado que por ele já havia sido previsto e aceito.[18: GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 13 ed. Niterói: Impetus, 2011. p. 190.]
Diferentemente do dolo direto, no dolo indireto ou eventual, o agente não tem a finalidade direta de produzir um fato típico. Assim, o agente com sua ação, antecipa como possível a produção de um resultado típico e, mesmo não acreditando diretamente na sua produção, admite a possibilidade da sua ocorrência.
Fernando Capez entende que:
No dolo eventual, o sujeito prevê o resultado e, embora não queira propriamente atingí-lo, pouco se importa com a sua ocorrência('eu não quero, mas se acontecer, para mim tudo bem, não é por causa deste risco que vou parar de praticar minha conduta - não quero, mas também não me importo com a sua ocorrência'). É o caso do motorista que se conduz em velocidade incompatível com o local e realizando manobras arriscadas. Mesmo prevendo que pode perder o controle do veículo, atropelar e matar alguém, não se importa, pois é melhor correr este risco, do que interromper o prazer de dirigir (não quero, mas se acontecer, tanto faz).[19: CAPEZ, Fernando.Curso de Direito Penal: Parte Geral. Volume I. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 196.]
Não é necessário que a previsão da causalidade ou da forma em que se produza o resultado seja detalhada, é necessário somente que o resultado seja possível ou provável. O agente não deseja o resultado, se assim fosse, não seria dolo eventual, e sim dolo direto.
Assim, para se enquadrar em dolo eventual o agente deve prever a produção do resultado, entretanto, sem se importar com seu acontecimento.
2.3.4 Dolo alternativo
Tem-se o dolo alternativo quando o agente quer um resultado específico, mas, se o resultado alcançado for diverso do esperado, ele também ficará satisfeito, ou ainda quando ele quer um outro resultado.
Pode existir uma alternatividade objetiva,quando o agente realiza com seu ato um outro tipo penal (ferir ou matar), ou ainda alternatividade subjetiva, quando o agente atinge um alvo distinto do que pretendia (pretendia matar A, ou pelo menos B que estava junto).
2.4 Dolo no Código Penal Brasileiro
Como já citado, assim trata o Código Penal Brasileiro:
Art. 18 Diz-se o crime:
Crime doloso
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.[20: BRASIL. DECRETO-LEI N°. 2.848, de 7.12.40. Código Penal. DOU de 31.12.40. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> Acesso em 01 out. 2016]
Sobre o assunto, discorre o doutrinador Julio Fabbrini Mirabete:
Na primeira parte do dispositivo a lei refere-se ao agente que quer o resultado. É o que se denomina dolo direto; o agente realiza a conduta com o fim de obter o resultado. Assim, quer matar (art. 121), quer causar lesão corporal (art. 129), quer subtrair (art.155) etc. 
Na segunda parte do inciso em estudo, a lei trata do dolo eventual. Nesta hipótese, a vontade do agente não está dirigida para a obtenção do resultado; o que ele quer é algo diverso, mas, prevendo que o evento possa ocorrer, assume assim mesmo o risco de causá-lo. Há dolo eventual, portanto, quando o autor tem seriamente como possível a realização do tipo legal se praticar a conduta e se conforma com isso.[21: MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 30 ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 128.]
No entendimento do autor em epígrafe, nosso ordenamento jurídico adotou a teoria da vontade para o dolo direto e a teoria do assentimento no que se refere ao dolo indireto ou dolo eventual, agindo dolosamente tanto aquele que quer diretamente a produção do resultado, como aquele que de forma indireta assume o risco de produzi-lo, mesmo que não deseje o resultado.
3 Culpa
O Código Penal, em seu artigo 18, II, não define culpa, mas, sim, o crime culposo. Porém, podemos entender a culpa pelos modos que a revelam, quais sejam, a imprudência, negligência ou imperícia, que são modalidades de culpa estudadas adiantes.
Cezar Roberto Bitencourt diz que "Culpa é a inobservância do dever objetivo de cuidado manifestada numa conduta produtora de um resultado não querido, objetivamente previsível."[22: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral. Volume I. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 278.]
Cada um deve ter a devida cautela ao praticar os atos da vida, para que suas ações não causem danos aos bens jurídicos de outrem.
Como conceito podemos dizer que a culpa é uma conduta voluntária por parte do agente, produzindo um resultado antijurídico não pretendido, mas previsível e excepcionalmente previsto, que poderia ser evitado com a devida atenção, precaução ou técnica das suas atividades.
3.1 Elementos do crime culposo
Como explicado em sua obra, Julio Fabbrini Mirabete expõe os elementos:
São assim elementos do crime culposo:
a) a conduta;
b) a inobservância do dever de cuidado objetivo;
c) a previsibilidade; e
d) a tipicidade.[23: MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 30 ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 132.]
A conduta no tipo culposo é levada em consideração não pelo seu fim, mas pelas consequências antissociais que irá produzir, o que importa é o modo inadequado que o agente irá atuar na conduta.
O dever de cuidado objetivo quando não observado, pode causar danos a terceiros, ocasionando a responsabilização do agente. Muitas atividades podem provocar perigo aos outros (como dirigir um carro), por isso a lei estabelece alguns deveres e cuidados que devem ser tomados para que se evitem os danos.
Quando não há resultado, não se responsabiliza o agente pelo crime culposo, ainda que não tenha tomado os devidos cuidados, só a negligência, imperícia ou imprudência do agente não são suficientes para a formação do crime culposo, o simples fato de dirigir embriagado não é suficiente para atribuir a alguém a pratica de homicídio culposo se ninguém tiver morrido em decorrência de um acidente ocasionado pelo motorista bêbado.
Por último, exigi-se que o agente, nas circunstâncias em que se encontrava, pudesse prever o resultado dos seus atos.
3.2 Modalidades de culpa
Culpa é o comportamento voluntário e desatencioso, que causa um resultado ilícito, ainda que o objetivo seja de um resultado lícito, que poderia ser evitado com os devidos cuidados, pois eram previsíveis.
O Código Penal não define o que é culpa, apenas estabelece quem comete o crime culposo, sendo aquele que da causa a um resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
No que se refere a imprudência, assim se posiciona Julio Fabbrini Mirabete:
A imprudência é uma atitude em que o agente atua com precipitação, inconsideração, com afoiteza, sem cautelas, não usando de seus poderes inibidores. Exemplos: manejar ou limpar arma carregada próximo a outras pessoas; caçar em local de excursões; dirigir sem óculos quando há defeito na visão, fatigado, com sono, em velocidade incompatível com o local e as condições atmosféricas etc.[24: MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 30 ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 137.]
Conclui-se que a imprudência é uma conduta positiva do agente, que não observa o dever de cuidado, causando um resultado lesivo que poderia ser evitado.
Diferentemente da imprudência, a negligência é uma conduta negativa. O agente age indiferentemente diante de uma diligência que deveria ter sido adotada.
Assim define Cezar Roberto Bitencourt:
Negligência é a displicência no agir, a falta de precaução, a indiferença do agente, que, podendo adotar as cautelas necessárias, não o faz. É a imprevisão passiva, o desleixo, a inação. É não fazer o que deveria ser feito, Negligente será, por exemplo, o motorista de ônibus que trafegar com as portas do coletivo abertas, causando a queda e morte de um passageiro.[25: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral. Volume I. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 285.]
Imperícia é uma inaptidão, falta de técnica ou habilidade para o exercício de uma atividade profissional, como definido por Fernando Capez:
Imperícia é a demonstração de inaptidão técnica em profissão ou atividade. Consiste na incapacidade, na falta de conhecimento ou habilidade para o exercício de determinado mister. Exemplos: médico vai curar uma ferida e amputa a perna, atirador de elite que mata a vítima, em vez de acertar o criminoso etc. Se a imperícia advier de pessoa que não exerce arte ou profissão, haverá imprudência.[26: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Volume I. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 202.]
Abordaremos a seguir as espécies de culpa.
3.3 Espécies de culpa
Duas são as espécies de culpa, consciente e inconsciente.
Trataremos da culpa inconsciente para fazermos distinção do instituto da culpa consciente, pois nela o autor nem sequer prevê o resultado. Já na culpa consciente o autor sabe do risco, mas por imprudência, negligência ou imperícia, acha que não produzirá o resultado.
3.3.1 Culpa consciente
Culpa consciente ocorre quando o agente prevê o resultado,mas espera que ele não irá acontecer Damásio nos explica:
Na culpa consciente o resultado é previsto pelo sujeito, que espera levianamente que não ocorra ou que possa evitá-lo. É também chamada culpa com previsão. Vimos que a previsão é elemento do dolo, mas que, excepcionalmente, pode integrar a culpa. A exceção está na culpa consciente. Ex.: numa caçada, o sujeito percebe que um animal se encontra nas proximidades de seu companheiro. Percebe que, atirando na caça, poderá acertar o companheiro. Confia, porém, em sua pontaria, acreditando que não virá a matá-lo. Atira e mata o companheiro. Não responde por homicídio doloso, mas sim por homicídio culposo (CP, art. 121, § 3°). Note-se que o agente previu o resultado, mas levianamente acreditou que não ocorresse.[27: JESUS, Damásio. Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 34 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 343.]
O exemplo mostra que o agente prevê que o resultado pode acontecer, mas acredita que sua habilidade será suficiente para evitar o dano ao seu companheiro. Sempre acreditando que conseguirá impedir o resultado lesivo.
Para que se configure a culpa consciente é necessário ao menos três requisitos que são: a vontade de produzir um resultado que não guarda relação cm o evento danoso (no exemplo dado seria a vontade de acertar o animal e não o seu companheiro), a crença sincera que o resultado lesivo não irá ocorrer por conta de sua habilidade (o atirador acredita que não irá errar o tiro, pois confia em sua pontaria) e o erro na execução (o atirador mirou no animal, porém, errou e acertou o seu companheiro).
3.3.2 Culpa inconsciente
Esta espécie de culpa se manifesta quando o autor da ação não prevê o resultado que seria previsível. O agente não tem o real conhecimento do risco que sua conduta provocará para o bem jurídico alheio.
René Ariel Dotti explica que "a culpa inconsciente é a forma típica do delito culposo. O resultado, embora previsível, não é previsto pelo agente em face da violação do dever de cuidado e atenção a que estava obrigado."[28: DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 4 ed. Revista dos Tribunais, 2012. p. 405.]
Bitencourt considera que:
 [...]apesar da presença da previsibilidade, não há a previsão por descuido, desatenção ou simples desinteresse. A culpa inconsciente caracteriza-se pela ausência de nexo psicológico entre o autor e o resultado de sua ação.
Culpa inconsciente, portanto, é a verdadeira culpa, pois o agente não tem consciência do dever de cuidado mesmo este sendo conhecível.[29: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral. Volume I. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 287.]
3.4 Diferença entre culpa consciente e culpa inconsciente
A diferença entre os dois institutos é a previsão do resultado, vejamos como Rogério Greco diferencia as espécies de culpa:
A culpa inconsciente distingue-se da culpa consciente justamente no que diz respeito à previsão do resultado; naquela, o resultado, embora previsível, não foi previsto pelo agente; nesta, o resultado é previsto, mas o agente, confiando em si mesmo, nas suas habilidades pessoais, acredita sinceramente que este não venha a ocorrer. A culpa inconsciente é a culpa sem previsão e a culpa consciente é a culpa com previsão.[30: GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 13 ed. Niterói: Impetus, 2011. p. 205.]
Como visto, na culpa consciente o agente tem condições de prever o resultado, mesmo não desejando; já na culpa inconsciente, o agente não prevê o resultado que seria previsível.
4 Crime Preterdoloso
Esta modalidade de crime ocorre quando o resultado do crime vai além da vontade do agente. Sua conduta é dolosa, mas o resultado não é alcançado pelo seu dolo.
Damásio assim define o instituto:
Crime preterdoloso (ou preterintencional) é aquele em que a conduta produz um resultado mais grave que o pretendido pelo sujeito. O agente quer um minus e seu comportamento causa um majus, de maneira que se conjugam o dolo na conduta antecedente e a culpa no resultado (consequente). Daí falar-se que o crime preterdoloso é um misto de dolo e culpa: dolo no antecedente e culpa no consequente, derivada da inobservância do cuidado objetivo.[31: JESUS, Damásio. Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 34 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 348.]
O autor tem intenção de alcançar um resultado menor, e por negligência, imprudência ou imperícia, causa um resultado mais grave.Para exemplificar, o artigo 129, caput, descreve a lesão corporal, porém, no parágrafo 3°, acrescenta um resultado agravador, a morte da vítima, daí a lesão corporal seguida de morte. Por não haver a intenção de matar por parte do agente mas sim de ferir, a morte da vítima não está inserida no artigo 121, pois não houve a intenção de matar. O crime pretendido é a lesão corporal e o resultado é a morte. 
Vejamos a definição de Julio Fabbrini Mirabete sobre o tema:
O crime preterdoloso é um crime misto, em que há uma conduta que é dolosa, por dirigir-se a um fim típico, e que é culposa pela causação de outro resultado que não era objeto do crime fundamental pela inobservância do cuidado objetivo. Não há aqui um terceiro elemento subjetivo, ou forma nova de dolo ou mesmo de culpa. É somente a combinação de dois elementos -dolo e culpa- que se apresentam sucessivamente no decurso do fato delituoso: a conduta inicial é dolosa, enquanto o resultado final dela advindo é culposo. Há, como se tem afirmado, dolo no antecedente e culpa no consequente.[32: MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 30 ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 141.]
Assim, para que se configure o crime preterdoloso, é necessário que o agente inicie a sua conduta dolosa, provocando um resultado mais grave que o desejado, havendo um nexo causal entre as duas condutas.
5 Distinção entre dolo eventual e culpa consciente e seus efeitos jurídicos nos acidentes causados por embriaguez ao volante
Trataremos agora a distinção do dolo eventual da culpa consciente efeitos penais e processuais penais. Faremos uma análise sobre as generalidades e distinções entre os referidos institutos. Após, abordaremos a embriaguez, seus efeitos e consequências do álcool no sangue do condutor, para entendermos as consequências de dirigir sob efeito de bebidas alcoólicas.
5.1 Generalidades e distinções entre dolo eventual e culpa consciente
Diferenciar os dois institutos é sem dúvida uma grande complexidade para o Direito Penal, o que gera dificuldades doutrinárias e jurisprudenciais para aplicação ao caso concreto, isso porque tanto no dolo eventual como na culpa consciente a pessoa que pratica o delito tem conhecimento que o resultado da conduta poderá ser lesivo. Ocorre que na culpa consciente o agente não acredita que o resultado irá acontecer, já no dolo eventual o agente admite que é possível que se concretize o resultado, mas age com indiferença ao fato.
Nesta linha, explica Bitencourt:
Há entre ambos um traço comum: a previsão do resultado proibido. Mas, enquanto no dolo eventual o agente anui ao advento desse resultado, assumindo o risco de produzi-lo, em vez de renunciar à ação, na culpa consciente, ao contrário, repele a hipótese de superveniência do resultado, na esperança convicta de que este não ocorrerá.[33: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral. Volume I. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 288.]
Damásio entende que:
A culpa consciente se diferencia do dolo eventual. Neste, o agente tolera a produção do resultado, o evento lhe é indiferente, tanto faz que ocorra ou não. Ele assume o risco de produzi-lo. Na culpa consciente ao contrário, o agente não quer o resultado, não assume o risco nem ele lhe é tolerável ou indiferente. O evento lhe é representado (previsto), mas confia em sua não produção.[34: JESUS, Damásio. Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 34 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 343.]
Para melhor entender a diferença entre os dois institutos, traremosum exemplo dado por Ney Moura Teles: 
A diferença entre condutas com culpa consciente e com dolo eventual é muito tênue, situando-se exclusivamente no interior da psique humana, na aceitação, ou não do resultado, uma atitude puramente interna. Exemplo: Everaldo, saindo do estacionamento da Faculdade em seu veículo, tendo Arlindo, seu colega, a seu lado, e vendo, a frente, a colega de ambos, Claudia, prestes a atravessar a rua, resolve assusta-la, passando com o carro bem próximo dela. Avistando-a, fala Arlindo: "Vou dar um susto na Claudia, tirando um fininho." Arlindo, preocupado, faz a previsão de um resultado lesivo, e diz: "Cuidado, você pode atropelá-la!" Diante de um resultado lesivo previsível, o agente, Everaldo, após realizar a previsão, com o auxilio de Arlindo, pode ter três atitudes: a primeira delas é, observando o dever de cuidado objetivo, evitar a conduta perigosa para o bem jurídico de Claudia. Se o fizer, ótimo, sem lesão ao bem jurídico, sem fato típico culposo, o fato não interessará para o estudioso do Direito Penal. Se, todavia, não quiser atentar para o que o Direito lhe recomenda e determina, seu comportamento, objetivo e subjetivo, poderá ser um desses dois: 1° mesmo prevendo um resultado lesivo, resolve prosseguir na conduta perigosa, na certeza de que, com sua habilidade, com sua destreza na condução do veículo, irá apenas e tão somente assustar sua colega, convicto de que não haverá qualquer lesão, que ele, sinceramente acredita que não acontecerá e, por isso, não admite, não a aceita, nela não consente; ou então: 2° prevendo o atropelamento, a possibilidade de causar lesão a colega, mesmo não desejando que isso ocorra, pode ele, todavia, continuar na conduta com o pensamento de que, se eventualmente, vier a atingir Claudia, ferindo-a ou, mesmo matando-a, essa hipótese será aceita: "se pegar, pegou/ se matar, matou, se ferir, feriu", "que se dane ela - não to nem aí". Na primeira hipótese, o agente, mesmo prevendo o resultado, não o quis nem o aceitou, não o admitiu. Terá agido com culpa consciente. Trata-se de fato típico culposo, com culpa consciente. Na segunda, mesmo não desejando o resultado lesivo, aceitou-o; por isso, agiu com dolo eventual.[35: TELES, Ney Moura. Direito Penal: Parte Geral. São Paulo: Atlas, 2004. p. 192/193.]
Assim, o que diferencia os dois institutos é o fato de que no dolo eventual o agente prevê o resultado e, mesmo não sendo a razão de seu agir, aceita o resultado e continua a conduta, assumindo o risco de produzir o resultado lesivo. Já na culpa consciente, como dito, o sujeito ativo, mesmo prevendo o resultado, acredita que não irá acontecer, que poderá evitá-lo.
5.2 Embriaguez
Com relação a embriaguez ao volante, há maior vulnerabilidade para ocorrência de acidentes de trânsito por parte do condutor de veículo que consumiu bebida alcoólica do que aquele que não consumiu.
Segundo estudos, em taxas de 0,1 a 0,3 gramas de álcool por litro de sangue, não há qualquer alteração psicológica no agente, o que não ocorre quando a concentração chega a 0,5 gramas por litro, no qual a sensibilidade visual é diminuída, os gestos passam a sofrer certas perturbações e, também, a noção entre distâncias e velocidade diminui. De 0,5 a 0,8 gramas por litro, o tempo de reação do condutor de veículos aumenta. Quando a taxa é de 1,2 a 2,0 gramas de álcool por litro de sangue, as emoções passam a ser exageradas, tal como a excitação e a instabilidade emocional; além do mais, o indivíduo passa a sentir tonturas e perde o equilíbrio.
Nas taxas de 2,0 a 3,0 gramas por litro de sangue, o álcool exerce o efeito de comprometer as funções motoras, de modo que o indivíduo sente dificuldades para caminhar e se equilibrar. Aqui, a condução do automóvel se torna impossível. A partir da concentração de 4,0 gramas de álcool por litro de sangue, torna-se possível a ocorrência de coma no condutor embriagado.
Como consequência do álcool no sangue, o condutor começa a ter perda da sua autocrítica. Um dos efeitos dessa consequência é a de encorajar o motorista, de modo que este não pense nos riscos de suas ações, mesmo que possam causar acidentes. 
A embriaguez também contribui para infrações das normas de trânsito, como excesso de velocidade, circulação com o veículo em direção contrária, baixo respeito às sinalizações e ultrapassagens inadequadas.
Outra consequência, é a produção de um cansaço fora do normal no condutor que ingeriu bebida alcoólica, causando também maior fadiga muscular. O nível sensorial é outro fator que se altera, pois a bebida prejudica a rapidez dos movimentos, o julgamento, a tomada de decisões e as noções de distância, de tal forma que o agente perca parte da capacidade de saber a posição que ocupa entre os outros veículos, obstáculos e pedestres.
A embriaguez ao volante foi responsável pela morte de 479 pessoas nas rodovias federais no ano passado. O número é praticamente o mesmo de 2012 – ano em que as penas para quem dirige depois de ingerir bebidas alcoólicas se tornaram mais rígidas – quando 485 pessoas morreram em acidentes nas estradas fiscalizadas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) por influência do álcool. No mesmo período, o número de acidentes ocorridos por causa da ingestão de bebidas caiu de 7.594 para 6.738, uma redução de 11%.[36: EBC Agencia Brasil. Disponível em: < http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-04/apos-4-anos-de-tolerancia-zero-lei-seca-motoristas-ainda-resistem-a-mudar-habitos>. Acesso em: 14 out. 2016.]
Assim, podemos concluir que o álcool, altera a capacidade psicomotora do condutor, interferindo em seu sistema nervoso e, consequentemente no desempenho de tarefas e comportamento, levando-o a praticar acidentes previsíveis por ele, mas que poderiam ter sido evitados quando da não ingestão da bebida alcoólica, o que aumenta de forma considerável os seus riscos no ambiente de trânsito.
6 Abordagem Jurisprudencial
Há quem defenda a ideia de que homicídios praticados na direção de veículo automotor sempre serão culposos, por constar no artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro o enunciado: "praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor". Entendendo que, ao decidir de forma dolosa, o juiz se sobrepõe ao Poder Legislativo, passando a legislar". Por entenderem que o enunciado do artigo supracitado não deixa brechas para entendimento diverso, que seria a aplicação do dolo eventual.
6.1 Julgado Favorável a Culpa Consciente em crime de trânsito por condutor embriagado
Passaremos a exposição de julgado favorável a aplicação da culpa consciente no crime de trânsito causado por embriaguez ao volante: 
APELAÇÕES CRIMINAIS. HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. SENTENÇA CONDENANDO O RÉU APENAS PELO CRIME DE HOMICÍDIO CULPOSO. RECURSO DA DEFESA POSTULANDO A ABSOLVIÇÃO. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE PREVISIBILIDADE. INOBSERVÂNCIA DO DEVER DE CUIDADO OBJETIVO. VELOCIDADE SUPERIOR À PERMITIVA PARA A VIA. DIREÇÃO SOB INFLUÊNCIA DE ÁLCOOL. IMPRUDÊNCIA CARACTERIZADA. RECURSO DO MINISTÉRIO RECURSO POSTULANDO A CONDENAÇÃO PELO CRIME DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. CRIME DE PERIGO ABSORVIDO PELO CRIME DE DANO. RECURSOS CONHECIDOS E NÃO PROVIDOS. 1. A prova dos autos não deixa dúvidas de que o recorrente, de forma culposa, deu causa à morte da vítima, haja vista que, deixando de observar dever de cuidado objetivo, conduzia veículo automotor mesmo estando alcoolizado e imprimia velocidade acima da permitida para o local, estando presentes todos os elementos integrantes do tipo culposo de homicídio na direção de veículo automotor, inclusive a previsibilidade. 2. O fato de o réu estar dirigindo embriagado e em excesso de velocidade integra a imprudência do réu, caracterizando a não observância do dever objetivo de cuidado. Assim, considerando que a embriaguez ao volante é crime de perigo e que o homicídio culposo na direção de veículo automotor é delito de dano, o primeiro é absorvido pelo segundo, respondendo o réu por delitoúnico, sendo caso de aplicação do princípio da consunção. 3. Recursos conhecidos e não providos, mantendo a sentença que condenou o réu nas penas do artigo 302, caput, da Lei 9.503/1997 (homicídio culposo na direção de veículo automotor), aplicando-lhe as penas de 02 (dois) anos de detenção, em regime aberto, e de suspensão do direito de dirigir veículo automotor pelo prazo de 02 (dois) meses, substituindo a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, e o absolveu do delito tipificado no artigo 306 da Lei 9.503/1997 (embriaguez ao volante).[37: Jusbrasil. Disponível em: <http://tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21442578/apr-apr-260502720108070007-df-0026050-2720108070007-tjdf>. Acesso em 15 out. 2016.]
Neste caso o agente , sob influência de bebida alcoólica, conduzia o seu veículo de maneira imprudente e negligente, atropelando e causando a morte da vítima.
Em sua decisão, o juiz fundamentou entendendo tratar-se de homicídio culposo ante a inobservância do dever de cuidado objetivo, devido o agente não ter seguido as regras de cautela e atenção exigidas no convívio social, caracterizando em sua conduta a negligência, imprudência ou imperícia. 
Estava presente também os outros elementos que caracterizam a culpa, quais foram, a previsibilidade, a conduta voluntária, o resultado danoso involuntário, a tipicidade e o nexo causal.
6.2 Julgado Favorável ao Dolo Eventual em crime de trânsito por condutor embriagado
Agora, diferentemente do caso supracitado, passaremos a um julgado ao qual o réu foi condenado por dolo eventual:
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. TRIBUNAL DO JÚRI. HOMICÍDIO NO TRÂNSITO conexo com lesão corporal grave. PRELIMINAR DE NULIDADE. ART. 212 DO CPP. INEXISTÊNCIA. DOLO EVENTUAL. EMBRIAGUEZ. PRONÚNCIA. DESCLASSIFICAÇÂO. IMPOSSIBILIDADE.
1. A atual redação do art. 212 do CPP não exclui a possibilidade de o magistrado formular perguntas e iniciar a inquirição. Ainda que assim fosse, a parte que se sentir prejudicada deveria alegar o prejuízo oportunamente. 
2. Existindo elementos que apontem para a possível ocorrência delito doloso contra vida na condução de veículo automotor, impõe-se a pronúncia para julgamento pelo Tribunal do Júri, órgão competente para analisar os elementos probatórios e proferir o veredicto.
3. A desclassificação do delito, na atual fase processual, só pode ser operada quando evidente a ausência animus necandi na forma eventual, o que não se apresenta na hipótese. 
REJEITADA A PRELIMINAR, NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO, por maioria. (TJ - RS - RECSENSES: 70049261480 RS, Relator: Júlio César Finger, Data de Julgamento: 25/07/2012, Primeira Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 02/08/2012)[38: Jusbrasil. Disponível em: <http://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/22018203/recurso-em-sentido-estrito-recsenses-70049261480-rs-tjrs/inteiro-teor-22018204>. Acesso em: 16 out. 2016.]
O Ministério Público denunciou o réu, de acordo com o entendimento do Promotor de Justiça, por homicídio doloso. O indivíduo dirigia embriagado, causando o atropelamento da vítima e matando-a consequentemente.
O juiz reconheceu que havia indícios suficientes para manter a pronúncia do acusado. O réu requereu a desclassificação do crime para culposo, porém, o magistrado enfatizou que, em razão do conjunto probatório, não havia como afastar o animus necandi (vontade de matar), uma vez que o sujeito assumiu o risco de produzir o resultado lesivo ao dirigir embriagado, caracterizando assim o dolo eventual.
O julgador, apesar de conhecer a corrente que aplica a todos os crimes praticados na direção de veículo automotor o artigo 302 do Código de Trânsito, qual seja, homicídio culposo, foi por uma resposta penal proporcional que optou por se filiar à corrente doutrinária e jurisprudencial dos aplicadores do dolo eventual. Assim, entendeu o magistrado que, ao assumir o risco de produzir o resultado por dirigir embriagado, o agente deve responder por homicídio doloso, uma vez que anuiu com o resultado lesivo, assim o caso foi submetido a julgamento do Tribunal do Júri.
7 Conclusão
O presente trabalho tratou de importante tema no ordenamento jurídico, mostrando a possibilidade de aplicação da culpa consciente ou do dolo eventual em acidentes de trânsito provocados por condutores que tenham ingerido bebdas alcoólicas.
A distinção entre os institutos reside na possibilidade de previsibilidade do resultado, ou seja, se o agente anuia ou era indiferente a produção lesiva de sua conduta.
A princípio, o condutor que consome álcool sabendo que irá dirigir, pode prever que sua conduta pode resultar em um acidente lesivo a outras pessoas. Porém, deve-se levar em conta a vontade do agente, sempre analisando o caso concreto e suas peculiaridaes.
Na culpa consciente, ainda que o agente tenha condições de prever a produção do dano, ele confia que não irá acontecer e que, poderá impedí-lo. No dolo eventual o agente também tem a previsibilidade do resultado danoso e náo o deseja, mas aceita como possível a sua produção e insiste na realização da conduta. A grande dificuldade é demonstrar elementos que provem que o agente agiu com indiferença em relação ao resultado lesivo, para justificar a aplicação de uma pena mais gravosa.
Começamos estudando o dolo, suas teorias, elementos e espécies, entendendo como o Código Penal Brasileiro trata do assunto, após, passamos a analisar a culpa, também seus elementos, modalidades e espécies, diferenciando a culpa consciente da culpa inconsciente
Tratamos do crime preterdoloso, que pode englobar tanto o instituto da culpa como do dolo na mesma conduta delituosa.
Depois, distinguimos o dolo eventual da culpa culpa consciente, atentando-nos para seus efeitos jurídicos e suas generalidades.
Foi explicado os efeitos do álcool no sangue, o quanto é prejudicial a sua ingestão antes de conduzir veículos autmotores, pois, quanto mais se ingere, mais prejudicada fica a capacidade psicomotora do condutor.
Por derradeiro, foi exposto uma abordagem jurisprudencial sobre os institutos, apresentando um julgado favorável a aplicação da culpa consciente e um julgado favorável a aplicação do dolo eventual em acidente provocado por condutor alcoolizado. 
 
 
8 Referências Bibliográficas
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral. Volume I. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. 
BRASIL. DECRETO-LEI N°. 2.848, de 7.12.40. Código Penal. DOU de 31.12.40. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> Acesso em 17 set. 2016.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Volume I. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 4 ed. Revista dos Tribunais, 2012.
EBC Agencia Brasil. Disponível em: < http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-04/apos-4-anos-de-tolerancia-zero-lei-seca-motoristas-ainda-resistem-a-mudar-habitos>. Acesso em: 14 out. 2016.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 13 ed. Niterói: Impetus, 2011.
ISHIDA, Valter Kenji. Curso de Direito Penal: Parte Geral e Parte Especial. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2010.
JESUS, Damásio. Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 34 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
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MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: Parte Geral. Volume I, 30 ed. São Paulo: Atlas, 2014.
TELES, Ney Moura. Direito Penal: Parte Geral. São Paulo: Atlas, 2004.

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