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Livro de filosofia

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Adriana Piva
Naiane Loureiro dos Santos
Filosofia
Adriana Piva
Naiane Loureiro dos Santos
FILOSOFIA
Belo Horizonte
Novembro de 2015
COPYRIGHT © 2015
GRUPO ĂNIMA EDUCAÇÃO
Todos os direitos reservados ao:
Grupo Ănima Educação
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610/98. Nenhuma parte deste livro, sem prévia autorização 
por escrito da detentora dos direitos, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios 
empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros.
Edição
Grupo Ănima Educação
Vice Presidência
Arthur Sperandeo de Macedo
Coordenação de Produção
Gislene Garcia Nora de Oliveira
Ilustração e Capa
Alexandre de Souza Paz Monsserrate
Leonardo Antonio Aguiar
Equipe EaD
Conheça 
a Autora
Adriana Piva. Sou formada em Filosofia pela 
Universidade de São Paulo (USP) e Mestre em 
Educação pela UFMG. Sempre me interessei 
pela área de educação e cultura. Desenvolvi 
vários trabalhos nessa área, especialmente 
voltados para formação de professores e 
produção de materiais pedagógicos. Ainda 
durante a graduação, desenvolvi também uma 
pesquisa de iniciação científica, cujo tema era 
“Museus e escola - uma parceria promissora”, 
no Museu de Arte Contemporânea da USP. Já 
em Belo Horizonte, trabalhei como assessora 
de Ação Educativa da Superintendência 
de Museus do Estado de Minas Gerais, 
onde, dentre outras atividades, coordenei 
a elaboração de um material de educação 
patrimonial, que foi distribuído para todos 
os municípios do estado. Participei ainda 
da elaboração e desenvolvimento de duas 
pesquisas sobre a cultura local em um distrito 
próximo a Diamantina: “As curas tradicionais 
populares de Milho Verde” e “Cantos 
Sagrados da região de Milho Verde”. Ambas 
as pesquisas geraram também a produção 
de materiais gráficos. E, finalmente, após ter 
realizado outros trabalhos ligados à educação 
e cultura, tive a oportunidade de atuar como 
professora no Centro Universitário UNA, onde 
venho lecionando as disciplinas Filosofia e 
Antropologia Cultural. E-mail: adriana.piva@
prof.una.br
Conheça 
a Autora
Naiane Loureiro dos Santos. Doutoranda e 
Mestre em Ciências Sociais; graduada em 
Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica 
de Minas Gerais (PUC Minas) e especialista 
em Temas Filosóficos pela Universidade 
Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora 
do Centro Universitário UNA nos cursos de 
Pedagogia e Psicologia. Integrante da Rede 
Nacional Observatório das Metrópoles da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 
desde 2000. Coordena a extensão na UNA 
em Betim. Atua como analista na Comissão 
Permanente de Avaliação da PUC Minas. 
E-mail: naiane.santos@prof.una.br.
A disciplina de Filosofia busca estimular e subsidiar os estudantes na 
prática reflexiva e problematizadora do fazer filosófico, de modo a 
ressaltar a importância do pensamento crítico na formação humana e 
na construção da sociedade. Para isso, são apresentados importantes 
temas da história da Filosofia e as diversas maneiras como foram 
abordados. 
Com isso, espera-se que os educandos desenvolvam competências, 
tais como ler, analisar e contextualizar textos e discursos, filosóficos ou 
não, de forma crítica e fundamentada. Assim como também possam 
aprender a construir seus pensamentos e argumentos de forma 
estruturada e consistente, qualificando sua formação em qualquer área 
do saber.
Para isso, discutiremos os seguintes temas: as principais correntes 
filosóficas na antiguidade, Idade Moderna e Contemporânea; 
filosofia e práxis, trabalho, cultura e ciência; fundamentos filosóficos 
contemporâneos articulados à ciência, ética, política e estética; filosofia 
como instrumento para ensinar a pensar; educação e pós-modernidade; 
a filosofia na escola; fundamentos ontológicos do ser social; a dimensão 
da sociabilidade, trabalho e alienação.
O objetivo geral da disciplina se configura, portanto, em oportunizar a 
compreensão e a prática do exercício do filosofar, estimulando a reflexão 
sobre grandes temas da História da Filosofia (ética, estética, ciência, 
trabalho, emancipação, educação, identidade), de modo a explicitar 
a importância da filosofia na formação do pensamento ocidental e no 
enfrentamento de questões contemporâneas cruciais.
Apresentação 
da disciplina
UNIDADE 1 003
Filosofia como instrumento para ensinar a pensar 004
Percepção de mundo 007
Senso comum, ciência e conhecimento filosófico 011
Atitudes filosóficas 015
A filosofia na educação 017
Revisão 024
UNIDADE 2 026
Principais correntes filosóficas 027
O surgimento da filosofia 029
A filosofia antiga 030
A filosofia clássica 032
A filosofia pós-socrática 035
A filosofia medieval 037
A filosofia moderna 039
A filosofia contemporânea 044
Revisão 049
UNIDADE 3 052
Fundamentos filosóficos contemporâneos 053
Linguagem, comunicação e pensamento 055
Estética, cultura e sociedade 063
Caminhos e descaminhos do conhecimento científico 070
Tecnologia e sociedade 077
Revisão 084
UNIDADE 4 086
Experiência moral e os fundamentos da ética 087
Dilemas morais da vida cotidiana 089
Liberdade e dever moral 094
Ceticismo e relativismo ético na contemporaneidade 098
Revisão 105
UNIDADE 5 107
Filosofia e educação 108
Iniciando a conversa 110
A educação em Platão e Aristóteles 111
A educação em Santo Agostinho e São Tomás de Aquino 117
Rosseau e a educação em Emílio 121
Educação na pós-modernidade 126
Educação: um ato político 130
Revisão 133
UNIDADE 6 135
Filosofia social e os fundamentos onto-antropológicos do ser social 136
Em que consiste a filosofia social? 137
A construção histórica da identidade humana 137
Trabalho: o fazer humano 140
Sociabilidade, trabalho e alienação 144
Revisão 155
UNIDADE 7 157
Filosofia política 158
A política e o homem 159
A política e as formas de poder 161
A democracia: promessa de emancipação política e liberdade humana 186
Revisão 192
UNIDADE 8 194
Discussões filosóficas contemporâneas na era da globalização 195
A filosofia no século XXI 197
Os efeitos da globalização nas sociedades e no mundo 199
Tecnologias da informação: otimismo, pessimismo e moderação 203
A condução das relações humanas entre povos 
e nações nas áreas política, econômica e social 208
Revisão 216
REFERÊNCIAS 218
Filosofia como 
instrumento 
para ensinar a 
pensar
• Percepção de 
mundo
• Senso comum, 
ciência e 
conhecimento 
filosófico
• Atitudes 
filosóficas
• A filosofia na 
educação
• Revisão
Introdução
Grande maioria dos estudantes, quando se depara com o desafio 
de cursar a disciplina de Filosofia, imediatamente indaga: mas por 
quê? Para que estudar Filosofia se optei por um curso voltado para 
outra área profissional?
Por outro lado, alguns profissionais da educação chegam a afirmar 
que os estudantes, de modo geral, não estão preparados para 
adentrar no universo da filosofia, pois a formação escolar e cultural 
deles é muito precária, impedindo-os de acessar, em sua plenitude, 
os conteúdos e métodos desenvolvidos ao longo da história. Isso 
exige alta capacidade de abstração, raciocínio e ordenação do 
pensamento – perfil não condizente com o público mediano das 
escolas de ensino médio e dos cursos universitários.
Mas será tal afirmação verdadeira? Será que a Filosofia é 
conhecimento que deve se restringir a alguns poucos, possuidores 
de uma mente privilegiada, capazes de compreender e operar 
dentro de um alto grau de abstração?
Falabretti e Oliveira (2012) abordam essa questão de uma maneira 
diferente. Para eles, 
em seu agir demais, o homem esqueceu de perguntar 
sobre o que é pensare equivocou-se nos descaminhos 
das parafernálias técnicas e nas maquinarias 
computacionais que, ilusoriamente, pensam no lugar 
do homem. O ser humano de hoje está cansado de 
pensar. Tornou-se preguiçoso, prefere ser tutelado 
pela máquina, pelos governos e pelos tecnocratas (...) 
(FALABRETTI e OLIVEIRA, 2012, p. 18)
Nesse sentido, o pensar dependeria muito menos do 
desenvolvimento de maiores capacidades de raciocínio do que de 
uma atitude de abertura a esse pensar, de uma atitude de aceitação 
desse desafio tão desestabilizador que é a reflexão. Afinal, quando 
nos propomos a pensar livremente sobre a vida, sobre aquilo 
que sempre tomamos como verdadeiro, sobre nossas condutas 
e valores, corremos o grande risco de desestabilizar aquilo que 
sempre esteve tão acomodado em nós. Corremos o risco de ter que 
rever determinadas posturas para a manutenção de uma coerência 
entre nossas ideias e nossas ações; o risco, enfim, de termos que 
realizar nossas escolhas por nós mesmos, com autonomia. É a 
esses riscos que o pensar pode nos conduzir. 
E a Filosofia, por sua vez, “(...) tem um papel preponderante, por seu 
método e seu conteúdo, para organizar os sentidos do mundo e 
provocar o ser humano ao gesto revolucionário do pensar como 
condição para a realização de si mesmo enquanto ser humano.” 
(FALABRETTI e OLIVEIRA, 2012, p. 18).
Então, é com essa perspectiva em vista que convidamos você a 
acompanhar esse desafio do pensar.
Comecemos, pois, com algumas perguntas: você já pensou sobre 
o sentido da sua vida, sobre seu lugar no mundo? Já se inquietou 
com a forma como a sociedade aborda certas dimensões da vida? 
Já se perguntou por que pensamos de determinada forma e não de 
outra? Quais são suas inquietações?
Pare um momento e reflita sobre seus pensamentos, sobre aquilo 
que o desinquieta – como diria o matuto, sobre aquilo que provoca 
sua reflexão. E tenha coragem! O filosofar, em alguma medida, já 
faz parte da sua vida, basta você se apropriar e potencializar esse 
processo, conhecer as origens de muitas de nossas ideias e se 
apossar, com autonomia, de seu próprio pensamento. Aceita o 
desafio?
FILOSOFIA
unidade 1
7
A Filosofia nasceu de uma inquietação. Uma inquietação diante 
da forma como o mundo era percebido e explicado, há cerca de 
2500 anos atrás, na Grécia antiga. Antes do pensamento filosófico, 
vigorava, entre os gregos, o pensamento mítico, configurando e 
sendo configurado pela própria percepção de mundo dos indivíduos 
da época. Segundo Danilo Marcondes (2007), essa visão de mundo 
oferecida pelos mitos representava a maneira pela qual os gregos 
percebiam sua realidade, não precisando, portanto, de justificativas 
ou argumentos fundamentados para se legitimar.
As lendas e narrativas míticas não são produto 
de um autor ou autores, mas parte da tradição 
cultural e folclórica de um povo. (...) Nesse sentido, o 
pensamento mítico pressupõe a adesão, a aceitação 
dos indivíduos, na medida em que constitui as formas 
de sua experiência do real. O mito não se justifica, 
não se fundamenta, portanto, nem se presta ao 
questionamento, à crítica ou à correção. (MARCONDES, 
2007, p. 20)
Além disso, o mito explica a realidade recorrendo ao sobrenatural, 
ao mistério, a uma realidade exterior ao mundo humano e natural, 
e a qual só os sacerdotes e iniciados poderiam interpretar 
(MARCONDES, 2007, p. 20). Esses eram os mestres da época, e sua 
palavra tinha autoridade. O que eles diziam ser a verdade tornava-se 
verdadeiro, sem receber objeção de ninguém.
Esse cenário, que pressupunha uma aceitação incondicional 
ao mito, foi gerando insatisfação. Começaram a sentir falta de 
fundamentos e justificativas para a explicação do mundo, o que 
foi dando espaço para o surgimento daquilo que viria se chamar 
pensamento filosófico.
Percepção 
de mundo
A Filosofia 
nasceu de uma 
inquietação.
FILOSOFIA
unidade 1
8
Os primeiros filósofos buscarão uma explicação do mundo 
natural, não mais baseada nos mistérios de forças sobrenaturais, 
mas fundada em causas naturais, passíveis, portanto, de serem 
conhecidas. A explicação mágica do mundo começa a perder espaço 
para explicações racionais, ancoradas no espírito investigativo do 
homem. Como nos diz Marcondes (2007), “o mundo se abre, assim, 
ao conhecimento” (MARCONDES, 2007, p. 21). 
Os primeiros filósofos lançaram mão, então, de algumas noções 
que, “apesar das profundas transformações ocorridas, permanecem 
parte de nossa maneira de compreender a realidade ainda hoje 
(...) raízes de conceitos constitutivos de nossa tradição filosófico-
científica” (MARCONDES, 2007, p. 24). Dentre essas noções, 
podemos citar as de:
• causalidade: busca de explicação para os fenômenos 
naturais a partir de suas causas, que, nessa nova percepção 
de mundo, também estavam presentes na própria natureza;
• cosmos: percepção do mundo natural enquanto ordenação 
racional (existência de princípios e leis), capaz, portanto, 
de ser conhecido pela racionalidade humana, ao qual 
corresponde;
• logos: discurso racional, argumentativo, capacidade de 
explicar a natureza a partir da razão;
• caráter crítico: as teorias não eram apresentadas de 
forma dogmática, como verdades absolutas, mas como 
argumentos que necessitam se justificar e são passíveis de 
crítica.
Mas você deve estar se perguntando como uma transformação 
tão radical pode ter acontecido. Evidentemente isso não ocorreu de 
um dia para outro, nem tampouco da cabeça de uma mente genial, 
mas sim de um processo histórico, que incluiu o contato dos gregos 
com outras populações provenientes de colônias gregas, das quais 
FILOSOFIA
unidade 1
9
se destacaram Éfeso e Mileto, e do Oriente. Essas cidades foram 
importantes portos e entrepostos comerciais, tornando-se ponto 
de encontro e convívio de povos de diferentes culturas, línguas, 
tradições, cultos e mitos. Esse contato com a alteridade, com o 
outro, com o diferente, naturalmente levou a uma relativização da 
percepção de mundo até então existente entre os gregos. 
Paralelamente a isso, esse espírito novo, que se propagava a 
partir das colônias, volta ao centro da civilização grega, gerando 
uma desestabilização das formas de organização sócio-políticas, 
e inspirando o surgimento da democracia ateniense. Nessa 
nova forma de organização política, a palavra, a capacidade 
argumentativa passa a dominar a cidade. Na democracia, todos os 
cidadãos têm direito a falar, e todas as falas têm o mesmo peso, 
não havendo, portanto, uma autoridade superior à capacidade de 
defender um ponto de vista a partir de argumentos racionalmente 
enunciados. Trata-se do princípio de isegoria. Da mesma forma, 
todos têm o mesmo direito de julgar os argumentos propostos e 
decidir qual considera mais verdadeiro ou apropriado (princípio da 
isocrítica).
A essa nova forma de organização política, em que não há a figura 
de um soberano, de alguém que possua uma autoridade sobre os 
demais, correspondeu uma nova forma de abordar o conhecimento. 
Este não é mais proveniente de uma revelação dada a uma mente 
extraordinária, capaz de exercer um papel de autoridade sobre 
qualquer outro conhecimento, de tornar verdadeiro aquilo que 
enuncia. 
Da mesma forma que na democracia, também o conhecimento 
passa a ser direito de todos aqueles que se dispuserem a aprender 
e a conhecer, basta seguir o princípio racional da coerência entre 
os enunciados propostos. Não há mais um lugar de autoridade 
que seja detentor exclusivo do conhecimento, nem uma palavra 
que tenha, por princípio, mais autoridade que outra. E de outro 
lado, nenhuma fala deve ser aceita incontestavelmente,mas todas 
Nessa nova forma 
de organização 
política, a palavra, 
a capacidade 
argumentativa 
passa a dominar a 
cidade.
FILOSOFIA
unidade 1
10
devem ser passíveis de crítica, de análise e julgamento por parte do 
interlocutor (isocrítica).
(...) a razão se resume em dois traços relacionados um 
ao outro, um negativo, o outro positivo. Negativamente, 
é a rejeição de toda autoridade, em particular de 
toda autoridade exterior ao julgamento de cada um 
(preconceitos, tradições, crenças a priori, discurso 
do mestre, texto sagrado etc.). Positivamente, é uma 
capacidade de universalização: uma conduta, uma 
crença, um discurso são geralmente qualificados de 
racionais se são universalizáveis, isto é, se dependem, 
cada um deles, apenas de sua faculdade discursiva, ou 
seja, de um discurso por direito enunciável e aprovável 
por todos. Ora, esses dois traços se encontram de uma 
ponta à outra da nova ordem do saber da segunda 
metade do século V (WOLFF, 1996, p. 68).
Essas duas dimensões da razão, a negativa e a positiva, vão ser 
assumidas, cada uma delas, por figuras distintas. A dimensão 
negativa da crítica à tradição, ao mito, à autoridade será encarnada 
especialmente pelos sofistas, espécie de professores que 
ensinavam a falar bem, a argumentar, a convencer nos tribunais ou 
assembleias.
Em um tal contexto, certamente a filosofia 
desempenharia um importante papel no exercício 
da cidadania. Se o logos era a palavra, era também o 
exercício da razão, do pensamento. Na democracia 
grega, era importante saber fazer uso da palavra nas 
assembleias, orientar-se corretamente no pensamento, 
ser capaz de argumentar e contra-argumentar. Para 
preparar os jovens para um bom desempenho como 
cidadãos, os sofistas ensinavam filosofia e retórica 
(GALLO e ASPIS, 2010, p. 91).
De outro lado, encarnando particularmente a dimensão positiva da 
razão, aparecem os filósofos, físicos e historiadores, que buscam 
construir, sobre os escombros do pensamento mítico, um discurso 
universalizável sobre a realidade, possível de ser aceito por qualquer 
um.
FILOSOFIA
unidade 1
11
Mas eis que, nesse ínterim, surge a figura de Sócrates, criticando 
tanto o pensamento vindo da tradição, quanto o procedimento 
e os objetivos dos sofistas. Para ele, não bastava convencer o 
interlocutor, mas interessava-lhe efetivamente fazer avançar o 
conhecimento sobre as questões debatidas. O filósofo criou, então, 
uma nova forma de pensar, que busca a definição dos termos, antes 
de aderir ou não a eles. Sócrates inventa aquilo que hoje chamamos 
de conceito. 
Por meio do diálogo, Sócrates desconstrói o saber vindo da 
tradição, ou mesmo do senso comum, e procura alcançar com seu 
interlocutor aquilo que é essencial ao tema debatido, ou seja, aquela 
definição mínima a partir da qual se poderia alcançar um novo 
conhecimento ou um consenso em torno da questão debatida. 
Conceito é essa definição dada para determinada ideia.
Para responder a uma pergunta, é preciso saber o 
que essa pergunta contém, perceber a ideia que nela 
se encontra, elaborar-lhe a representação. Em termos 
modernos: construir o seu conceito (CHATELET, 1994, 
p. 21).
É em torno dessa atividade de produção de conceitos que a 
filosofia vai se firmar na condição de forma de pensamento própria, 
diferenciada do mito, do senso comum e da própria ciência, como 
veremos a seguir.
Senso comum, ciência e 
conhecimento filosófico
Segundo François Châtelet (1994), em uma célebre entrevista à 
Émile Noël, o conhecimento filosófico parte de perguntas simples, 
empíricas, próprias da vida cotidiana. A partir disso, procura-se 
“(...) construir uma argumentação que permita responder, não no 
plano da simples opinião, mas no plano do conceito” (CHÂTELET 
FILOSOFIA
unidade 1
12
(1994, p. 23), à pergunta inicial. Nesse sentido, o conceito não é 
pura abstração, pois, ainda que seja uma construção racional, parte 
sempre de problemas experimentados, expressando coerentemente 
uma visão daquilo que é efetivamente vivido. 
A percepção de mundo proveniente do senso comum também parte 
dos desafios apresentados pela vida cotidiana. Porém esse saber 
não se constrói de forma sistematizada, não procura verificação 
– pelo contrário, é fragmentado (não se preocupa em estabelecer 
relações entre um fenômeno e outro), tornando-se muitas vezes 
incoerente diante de outros conhecimentos. Ele não se presta 
à generalização, constituindo-se, portanto, de forma bastante 
diferente da forma como os conhecimentos filosófico e científico se 
estruturam.
Para os gregos, a “doxa”, ou seja, a opinião é produto das paixões, 
dos interesses, dos desejos, dos preconceitos e das circunstâncias 
dos indivíduos, não podendo se configurar, portanto, como um 
conhecimento estável, sistemático e universal. 
No entanto, não se pode dizer que o saber de senso comum seja, 
por princípio, incorreto ou inútil, pois que ele cumpre uma função 
prática, como um “(...) ‘saber de direção’, ou seja, um saber não-
sistematizado, obtido sem qualquer planejamento rigoroso, no 
entanto, capaz de guiá-lo [o homem] na busca de elementos 
indispensáveis para sua sobrevivência” (SOUZA ,1995, p. 58).
O pensamento conceitual diferencia-se também do pensamento 
mítico ou da opinião, uma vez que pode ser criticado, ou seja, para 
ser validado, deve passar pelo crivo da crítica radical, da crítica às 
suas raízes. É nessa abertura à crítica que o pensamento conceitual 
se constitui também como pensamento dialógico, pois não pretende 
construir verdades absolutas e inquestionáveis, como ocorria no 
pensamento mítico, mas produzir conceitos e argumentos passíveis 
de contestação e revisão. 
A percepção de 
mundo proveniente 
do senso comum 
também parte 
dos desafios 
apresentados pela 
vida cotidiana.
FILOSOFIA
unidade 1
13
Do mesmo modo, a ciência moderna, que foi criada no século XVII, 
ou seja, há mais de 2 mil anos depois da invenção da filosofia, busca 
se distanciar do pensamento mítico e do saber de senso comum – 
embora diversos conhecimentos produzidos pela ciência tenham 
sido construídos a partir da sabedoria popular. Um exemplo disso é 
o uso popular de plantas medicinais, que foi o ponto de partida para 
grande parte do conhecimento farmacológico existente hoje.
No entanto, embora tanto a ciência quanto a filosofia configurem-
se como conhecimentos sistemáticos, organizados, que buscam 
verificação e comprovação de suas hipóteses, há uma grande 
distinção entre essas duas formas de conhecimento. Vale lembrar 
que a ciência moderna surgiu com um objetivo bem definido: 
conhecer a causa dos fenômenos naturais para poder prever e 
interferir no curso deles, dominando e controlando a natureza a 
partir da racionalidade humana.
O conhecimento científico tem início também a partir de situações-
problemas para as quais o cientista lança algumas hipóteses 
iniciais de sua causa. A partir dessas hipóteses, ele passa a 
observar o fenômeno e coletar dados. À medida que suas hipóteses 
vão se mostrando consistentes, o cientista parte para a etapa de 
teste e confirmação de suas ideias. Isso é feito a partir de uma 
investigação controlada, normalmente realizada em laboratório 
(método experimental), onde o cientista procurará observar 
repetidamente o comportamento do fenômeno que estuda e 
verificar se sua hipótese é recorrente, se pode ser generalizada, 
ou seja, se é um fator relevante na determinação desse fenômeno. 
Uma vez confirmada, ele poderá tomar sua ideia inicial como uma 
lei explicativa da causa de um fenômeno. 
As leis científicas podem ser entendidas, portanto, como relaçõesde causa e efeito observadas recorrentemente entre dois ou 
mais acontecimentos. Essas relações tornam-se leis quando são 
generalizadas e tomadas como universais e necessárias, ou seja, 
sempre que ocorrer um determinado fenômeno será possível 
A partir dessas 
hipóteses, ele 
passa a observar 
o fenômeno e 
coletar dados.
FILOSOFIA
unidade 1
14
observar um mesmo efeito. Essas leis são, portanto, passíveis 
de gerar previsão para acontecimentos futuros, possibilitando a 
intervenção humana no controle da natureza.
Já a filosofia não tem essa aplicação prática tão direta, o que leva 
muitos a se perguntarem o motivo da existência dela. Até o século 
XVII, era a base de todo o conhecimento ocidental. Mas, com o 
advento da ciência moderna, parte das preocupações da filosofia 
se desmembrou dessa matriz e passou a ser objeto de estudo do 
conhecimento científico. À filosofia restou as questões metafísicas, 
ou seja, aquelas que estão para além da física, do mundo material, 
tais como o que é a existência e quais são as possibilidades do 
conhecimento e da experiência humana. A metafísica
É aquela que tem como objeto a investigação 
dos conceitos usados pelas ciências – espaço, 
tempo, quantidade, qualidade, causalidade 
substancialidade, universalidade, necessidade, 
etc (...). Estuda as maneiras pelas quais 
o sujeito do conhecimento, ou a razão teórica, 
põe a realidade, isto é, estabelece os objetos do 
conhecimento humano e da experiência humana 
(CHAUÍ, 1999, p. 234).
Nesse sentido, a filosofia trabalha junto à ciência, problematizando 
os pressupostos do conhecimento e da prática científica, definindo 
os conceitos utilizados, investigando as finalidades e as prioridades 
às quais a ciência se propõe e as consequências das técnicas por 
ela utilizadas.
Outro âmbito do conhecimento filosófico ou metafísico, que se 
manteve após o advento das ciências modernas, é constituído 
por questões acerca da ação humana, ou seja, sobre a ação 
moral, sobre como os homens orientam sua ação, não segundo 
determinações causais, como ocorre no âmbito da natureza, mas 
segundo finalidades ou deveres éticos.
Neste sentido, podemos dizer que a filosofia busca:
Já a filosofia 
não tem essa 
aplicação prática 
tão direta, o que 
leva muitos a 
se perguntarem 
o motivo da 
existência dela.
FILOSOFIA
unidade 1
15
(...) um sentido para as diversas experiências humanas, 
procurando dar um significado inteligível ao real que 
cerca todo e qualquer ser no mundo, a filosofia se 
caracteriza por um constante indagar, questionar, 
perguntar, cujas respostas se tornam objeto de novas 
indagações e questionamentos (SOUZA, 1995, p. 64).
Você já imaginou como é viver uma vida na qual você não vê sentido? 
O que é viver sem se questionar sobre o porquê de determinadas 
experiências, sobre que caminhos seguir? Você se contenta em 
viver tal qual as gerações anteriores sempre viveram, conforme lhes 
disseram que era o jeito certo de viver? Aceita a ordem – ou talvez 
deveríamos dizer desordem – do mundo tal como se apresenta? 
Não? Então, talvez o pensar filosófico tenha alguma importância 
para você. Pois é justamente uma atitude crítica e problematizadora 
diante da vida que a filosofia nos ensina ter. Vejamos.
Atitudes 
filosóficas
Você já ouviu falar em dogmatismo? E em pensamento dogmático?
Pois bem, o pensamento crítico-filosófico se ergue contra toda forma de 
dogmatismo, ou seja, toda vez que uma ideia, teoria ou pensamento é 
apresentado como absolutamente verdadeiro, acima de toda e qualquer 
crítica e como sendo válido para todos, podemos dizer que essa ideia, 
teoria ou pensamento está se configurando como dogmática. 
Segundo Marilena Chauí, em seu livro Convite à Filosofia (1999), 
Dogmatismo vem da palavra grega dogma, que 
significa: uma opinião estabelecida por decreto e 
ensinada como uma doutrina, sem contestação. Por ser 
uma opinião decretada ou uma doutrina inquestionada, 
um dogma é tomado como uma verdade que não pode 
ser contestada nem criticada, como acontece, por 
FILOSOFIA
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exemplo, na nossa vida cotidiana, quando, diante de 
uma pergunta ou de uma dúvida que apresentamos, 
nos respondem: “É assim porque é assim e porque 
tem que ser assim”. O dogmatismo é uma atitude 
autoritária e submissa. Autoritária, porque não admite 
dúvida, contestação e crítica. Submissa, porque se 
curva às opiniões estabelecidas. (CHAUÍ, 1999, p. 88)
Há, portanto, dogmatismo no pensamento mítico, no senso 
comum, em algumas opiniões, no pensamento religioso e, às vezes, 
até mesmo em algumas visões da ciência, quando a tomam como 
único conhecimento válido e necessário, ao qual qualquer outra 
forma de percepção deve se submeter.
A filosofia rompe com essa passividade do pensamento e assume 
aquela atitude típica da criança que está chegando ao mundo e 
se admirando com tudo o que vê, se permitindo perguntar o que 
é, por que é assim e como funciona qualquer coisa diante da qual 
se depara. Isso ocorre porque a criança ainda não está totalmente 
socializada e envolvida no sistema de valores e conceitos de sua 
sociedade. Ainda há entre ela e o mundo um certo distanciamento, 
uma admiração, um espanto diante de toda a novidade que o 
mundo lhe apresenta.
Pois está aí, nessa atitude que para a criança é natural, espontânea 
e parte do seu processo de apropriação do mundo, o primeiro 
fundamento da filosofia.
Quando Sócrates afirma “sei que nada sei”, ele nos indica que, 
para que ocorra o pensamento filosófico, temos que abordar o 
mundo radicalmente, ou seja, desde suas origens, como se nada 
soubéssemos sobre ele, temos que limpar o pensamento de 
qualquer verdade preestabelecida e deixar o pensamento livre para 
indagar o que quiser.
A própria palavra “filosofia” vai indicar a busca pelo conhecimento, 
e não a posse dele. Etimologicamente, a palavra é formada por dois 
FILOSOFIA
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termos gregos, filos, amor, amizade; e sofia, que significa sabedoria. 
Assim, filosofia significa justamente “amor à sabedoria”. Segundo a 
tradição historiográfica, o termo “filósofo” parece ter sido utilizado, 
pela primeira vez, por Pitágoras, no século VI a.C., quando o príncipe 
Leonte lhe perguntou qual era a natureza da sabedoria com que 
agia. Pitágoras respondeu: sou apenas um filósofo. Ou seja, ele 
não se pensava como detentor de um conhecimento já pronto, 
mas como alguém que procura, que está em busca do saber, da 
sabedoria, da verdade.
Essa atitude inicial a que os filósofos chamam de “espanto” 
e “admiração” configura-se justamente como a liberdade e a 
disposição de pensar sobre qualquer coisa sem pré-conceitos ou 
sem pré-noções. Mas se esses pensamentos estiverem errados 
ou forem limitados, seremos levados a reproduzir e perpetuar 
seus erros e/ou limitações, conduzindo o conhecimento a um 
círculo vicioso e repetitivo. E, ao mesmo tempo, sem a pretensão 
dogmática de ter alcançado um conhecimento pronto e definitivo, 
que não devesse mais ser questionado e aprofundado.
Nesse sentido, podemos questionar a afirmação, presente no senso 
comum, de que, sem a filosofia, o mundo continuaria tal como 
era e dizer que, pelo contrário, a ausência do pensamento crítico-
filosófico é que permitiria que o mundo fosse condenado a uma 
eterna repetição (SOUZA, 1995, p.64). Que tal pensar sobre isso!
A filosofia 
na educação
Quando abordamos a questão da Filosofia na educação brasileira, 
é justamente sua ausência que ressalta aos olhos. Já no período 
jesuítico, de 1553 a 1758, era destinada apenas aos colonos 
brancos e, desde então, a disciplina passa por um constante entra 
Quando 
abordamos 
aquestão 
da Filosofia 
na educação 
brasileira, é 
justamente sua 
ausência que 
ressalta aos 
olhos. 
FILOSOFIA
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e sai dos currículos educacionais, como podemos ver no texto de 
Correia (2009):
Em 1891, por exemplo, Benjamim Constant não a 
privilegiou em sua reforma educacional. Já em 1901 
a Reforma Epitácio Pessoa introduziu a disciplina 
de lógica no último ano do ensino secundário. A 
Reforma Rivadávia, de 1911, nem se referiu à Filosofia. 
Realizada em 1915, a Reforma de Maxiamiliano, 
previu cursos facultativos de lógica e história da 
filosofia, os quais nunca chegaram a se concretizar. 
Com a Reforma Rocha Vaz, em 1925, ocorrida sob o 
clima das ideias liberais, a Filosofia reapareceu como 
disciplina obrigatória no quinto e no sexto anos do 
ensino secundário. Em 1932 a Reforma Francisco 
Campos dividiu o ensino secundário em ciclos: o 
fundamental e o complementar, com cinco e dois anos 
respectivamente, sendo a Filosofia introduzida apenas 
no currículo do segundo ciclo. No período de 1942 a 
1958 a Filosofia teve seus programas constantemente 
alterados. Em 1961, ano em que teve início a vigência 
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 
número 4.024, por não atender a objetivos burocrático-
tecnicistas da nova concepção de educação então 
em voga, a Filosofia foi excluída da educação básica. 
(CORREIA, 2009, p. 1)
Durante o período de ditadura militar (1964 –1984), a disciplina de 
Filosofia, não por acaso, foi substituída por disciplinas como Educação 
Moral e Cívica. Ainda hoje, mesmo após a reabertura política do país, a 
implementação efetiva da Filosofia na educação formal ainda se coloca 
como desafio, e não como realidade. Mas, por que isso?
Se retomarmos as últimas palavras do tópico anterior, talvez 
tenhamos alguma pista: o pensamento crítico nos estimula à 
mudança, a não aceitar aquilo que não está de acordo com nossos 
valores, necessidades e objetivos.
No entanto, por razões óbvias, essa exclusão do pensamento crítico 
não pode ser assumida declaradamente, mas é justificada de várias 
formas. Uma delas é a afirmação de que os estudantes brasileiros 
da educação básica não estão preparados para enfrentar o desafio 
FILOSOFIA
unidade 1
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do pensar filosófico, restringindo seu ensino apenas a uma parcela 
diminuta da população, com acesso a colégios particulares voltados 
para uma faixa social de alto poder aquisitivo.
Está aí uma expressão clara da já tão debatida divisão social 
do trabalho, na qual algumas classes sociais são educadas 
para assumir funções intelectuais ou de comando e outras são 
capacitadas para exercer atividades subordinadas, técnicas ou 
braçais, que não exigiriam o desenvolvimento de capacidades 
críticas mais apuradas.
Ao determinar o tipo de informação e conhecimento que será 
destinado a determinado segmento social, estão sendo postos em 
prática o que Gallo e Aspis (2010) chamam de mecanismos sociais 
de controle.
Nas sociedades de controle, que cada vez mais 
parecem materializar-se diante de nossos olhos, a 
tônica dominante é, portanto, o controle permanente 
sobre os fluxos de informação, sobre os padrões de 
comportamento dos indivíduos, gerando relações 
de poder mais difusas e descentradas, mas, mesmo 
por isso, mais abrangentes e mais eficientes nos 
processos de regulação social (GALLO e ASPIS, 2010, 
p. 101).
Então, muitas vezes, quando ouvimos dizer, ou dizemos, que nem 
todos estão aptos, ou “não nasceram” para estudar Filosofia, talvez 
esteja sendo reproduzido aí essa forma de controle não declarada 
de nossas mentes e de nossos comportamentos. Talvez estejamos 
expressando esse condicionamento social que incute em nós a 
sensação de que não gostamos ou não temos habilidade para 
pensar, ou que a reflexão é algo secundário, supérfluo, próprio 
daqueles que já estão “com a vida ganha”.
Deixar-nos levar por essa visão significa abrirmos mão de qualquer 
possibilidade de emancipação, assumirmos uma atitude de 
resignação e adaptação ao mundo tal como ele está. Ao fazermos 
FILOSOFIA
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isso, atrofiamos nossa capacidade crítica e, com isso, anulamo-nos 
enquanto sujeitos, capazes de intervir no rumo de nossa história, 
livres para recusar uma adaptação incondicional a uma realidade 
que consideramos injusta e desigual.
Pelo contrário, compreender que o presente não é imutável, mas sim 
fruto da ação humana empreendida no passado (e que, portanto, 
poderia ter se configurado de forma diferente, assim como pode 
o futuro ser construído a partir de nossa ação no presente) é uma 
atitude – não mais de negação, mas de formação do sujeito como 
ser histórico. Essa apropriação crítica do presente, segundo Franklin 
Leopoldo e Silva (2001), faz parte do processo de formação e,
(...) se a formação tem algo a ver com a educação, 
essa relação só pode se dar com uma educação crítica, 
uma educação que subverta os padrões adaptativos 
impostos pela desagregação histórica da experiência 
(SILVA, 2001, p. 34).
Nesse sentido, problematizar o presente e pensar alternativas a ele 
é uma atitude que aponta para a emancipação humana. E, como 
afirmam Gallo e Aspis (2010, p. 102), “em épocas como esta, a 
tarefa crítica da filosofia é mais que necessária” 
Imaginamos ser possível um ensino de filosofia 
para jovens que seja uma arma de produção de sub-
versões. Um ensino que se desenvolva de maneira 
tal que leve ao desenvolvimento de uma disciplina 
filosófica no pensamento. Além da forma de pensar da 
ciência, para a qual treinamos tão bem os jovens, além 
da lógica do mercado, de suas seduções, do marketing; 
para além das tradições e do senso comum, apresentar 
aos jovens e dar oportunidades de ensaiarem uma 
outra forma de pensar: a filosófica. (...) que tentem, 
eles também, criar composições filosóficas, usando 
conceitos filosóficos em resposta a seus problemas; o 
que vale dizer: ensaiar a criação filosófica. Criação de 
sub-versões. (...) que os faça sentir que cada um deles 
pode ser uma máquina de criação de versões, que a 
submissão não é a única saída (GALLO e ASPIS, 2010, 
p. 103).
Assim, o ensino de Filosofia não seria um percurso frio e pouco 
significativo, devido à sua história, mas um exercício de apreensão 
Nesse sentido, 
problematizar o 
presente e pensar 
alternativas a ele 
é uma atitude 
que aponta para 
a emancipação 
humana.
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do pensar filosófico, materializado em suas várias escolas. Retomar 
a história da Filosofia ganha sentido, desse modo, ao possibilitar 
que o estudante entre em contato com o rigor conceitual, próprio 
da prática filosófica, mobilizado ao longo da história ocidental para 
pensar a existência humana. 
Segundo essa perspectiva, o ensino de Filosofia possibilita ao 
estudante a reelaboração de sua visão do mundo e de si mesmo a 
partir do pensamento crítico e problematizador. Contribui, portanto, 
para um verdadeiro processo de formação, de humanização, ou 
seja, um processo que leve o estudante a melhor compreender o 
mundo e a se situar nele, instrumentalizando-o para organizar seu 
projeto de vida e a definir com mais consistência e criticidade seus 
passos.
Temos, assim, uma tríplice tarefa para a Filosofia em 
seu compromisso formativo: uma tarefa antropológica, 
uma tarefa epistemológica e uma tarefa axiológica, 
ou seja, cabe-lhe explicitar as reais coordenadas do 
existir humano, elucidar os processos de conhecimento 
e elaborar conceitos significadores e explicitar 
valores para o agir, assegurando que ele seja um agir 
humanizador (SEVERINO, 2010, p. 65).
Nesse sentido é que a presença da Filosofia na educação pode 
contribuir para um processo de fortalecimentoda cidadania. Pois, 
se a educação pode servir para a reprodução de processos de 
acomodação e adaptação a uma estrutura social desigual e injusta, 
pode também contribuir para uma apreensão crítica da realidade, 
fornecendo instrumentos para um pensar livre e problematizador, 
que relacione a experiência cultural própria do estudante ao 
contexto mais amplo de formação do seu país, inserido, por sua 
vez, na história do Ocidente.
E para aprender a pensar é preciso aprender a ler. Ler um texto, 
ler uma situação, ler o mundo. Mas, para bem ler, é preciso 
abandonar o ritmo apressado e desatento do nosso tempo e se 
deixar conduzir pelo objeto de leitura, como um artesão diante de 
FILOSOFIA
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sua matéria-prima. Para o filósofo Nietzsche, ler é ruminar, ou seja, 
extrair lentamente do texto todos os seus nutrientes, perceber suas 
nuances, tudo aquilo que ele pode nos ensinar, aquilo no que ele 
pode nos alimentar (FALABRETTI; OLIVEIRA, 2012, p. 20-21).
Assim, ao ensino de Filosofia, que se compromete com o propósito 
de ensinar a pensar, está posto esse duplo desafio: ensinar a ler 
(textos, nossos pensamentos, o mundo...) para ensinar a pensar. E 
essa tarefa, às vezes, dói, pois,
Ensinar é antes de tudo perturbar. Causar inquietação, 
insatisfação. Provocar. Muitas vezes chocar, causar 
indignação. (FALABRETTI; OLIVEIRA, 2012, p. 20-21)
Diante do que discutimos anteriormente, que tal refletirmos sobre alguns 
pensamentos que povoam o nosso senso comum? Os provérbios ou os 
ditos populares, por exemplo. Você já pensou que, em cada um deles, 
podemos encontrar inúmeros pressupostos, ou seja, inúmeros conceitos 
sobre os quais não pensamos, mas estão subentendidos, dando base, 
subsídio para as afirmações contidas nesses pensamentos do senso 
comum, que muitas vezes nos guiam em nosso cotidiano? 
Pois bem, examinemos o dito popular: “a cavalo dado não se olha os 
dentes”. Que pressupostos estão subentendidos aí?
Primeiramente, podemos assinalar o conhecimento muito difundido no 
meio rural sobre o quanto os dentes de um cavalo podem revelar sobre 
sua condição de saúde e idade. De outro lado, revela-se, nesse dito popular, 
uma atitude de passividade bastante própria da formação rural do Brasil, 
que passa pelo coronelismo ou pelo clientelismo, no qual aquele que se 
encontra em situação de subalternidade deve ser grato e se curvar ao 
patrão ou ao coronel diante de algo que lhe seja ofertado, ainda que essa 
oferta seja ultrajante ou inútil. 
O que mais poderíamos extrair desse dito popular? Que outros ditos ou 
provérbios você conhece e emprega no seu dia a dia?
FILOSOFIA
unidade 1
23
• De pensar morreu um burro.
• Cada um por si e Deus por todos.
• Amigos, amigos, negócios a parte.
• Tempo é dinheiro.
• Faça o que eu digo, não faça o que eu faço.
• As aparências enganam.
• Bandido bom é bandido morto.
• Preto quando não suja na entrada, suja na saída.
• Mulher sem marido, barco sem leme.
• Eles que são brancos que se entendam.
• Onde há galo, não canta galinha.
Numa primeira olhada por esses ditos tão comuns em nosso cotidiano, 
não é difícil perceber inúmeros valores presentes em nossa formação 
social, cultural, econômica, ética, política etc. Valores sobre os quais, 
muitas vezes, nunca pensamos, nunca avaliamos se estamos de acordo 
ou não, se queremos continuar reproduzindo.
Uma boa dose de atitude crítica e de reflexão pode nos fazer rever 
esses padrões e nos permitir escolher conscientemente aquilo em que 
acreditamos, que realizamos, que somos.
FILOSOFIA
unidade 1
24
Revisão
Discutimos, ao longo desta unidade, aquilo que historicamente 
vem sendo chamado de Filosofia, desde o seu surgimento na 
Grécia antiga, por volta do século V a.C. Apresentamos algumas 
das condições históricas e culturais que tornaram possível esse 
advento, tal como o contato dos gregos com outros povos, com 
valores e crenças muito diferentes ou o próprio surgimento da 
democracia ateniense.
Vimos também quais eram as principais características dessa 
forma de perceber o mundo e produzir conhecimento, que nasceu 
naquele momento e se tornou a base do pensamento ocidental, 
em contraposição ao pensamento mítico e ao senso comum, até o 
advento da ciência moderna, no século XVII.
Pontuamos algumas das principais diferenças entre mito, senso 
comum, filosofia e ciência, esclarecendo que, embora todos 
ofereçam respostas sobre nossas perguntas acerca do mundo em 
que vivemos e o nosso lugar nisso tudo, cada uma dessas formas 
de percepção promove uma abordagem diferenciada.
A Filosofia funda-se sobre as atitudes de espanto e admiração, 
permitindo-se questionar tudo de forma radical, coerente e rigorosa. 
Trata-se de uma forma crítica e problematizadora de perceber o 
mundo.
Por fim, abordamos como essa atitude de reflexão e criticidade, 
ainda hoje, sofre muitos entraves para se inserir de forma 
consistente nos processos educativos formais, uma vez que pode 
gerar uma perturbação na estabilidade do status quo. E é justamente 
nesse poder questionador e, portanto, renovador da Filosofia, que 
está a sua grande beleza.
FILOSOFIA
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25
Filme: Sociedade dos poetas mortos. É um filme convencional, mas traz 
uma dimensão que pode nos interessar em nossa discussão presente, 
pois mostra a dificuldade encontrada por um professor questionador, que 
busca romper padrões de pensamento e conduta.
Vídeo: Conhecimento, episteme, espanto. Em entrevista à UNIVESP TV, 
Franklin Leopoldo e Silva, filósofo e professor da USP, faz uma agradável 
e rigorosa introdução ao pensamento filosófico. Disponível em <http://
projetophronesis.com/category/videos-e-documentarios/page/8/>.
Livro: Exercícios filosóficos, de Madeleine Arondel-Rohaut (trad. Paulo 
Neves). São Paulo: Martins Fontes, 2000. O livro apresenta vários temas 
presentes em nossas crenças de senso comum e procura abordá-los 
filosoficamente, mostrando ao leigo como é possível realizar o exercício do 
filosofar em nossa vida cotidiana.
Blog: <https://projetophronesis.wordpress.com/>. Com o objetivo de 
divulgar e popularizar com rigor o conhecimento filosófico, o Projeto 
Phronesis reúne textos, livros, vídeos e informações referentes a várias 
áreas do conhecimento filosófico, além de disponibilizar materiais inéditos 
produzidos pelos próprios idealizadores do blog.
Principais correntes 
filosóficas
• O surgimento 
da filosofia
• A filosofia 
antiga
• A filosofia 
clássica
• A filosofia pós-
socrática
• A filosofia 
medieval
• A filosofia 
moderna
• A filosofia 
contemporânea
• Revisão
Introdução
Esta unidade tem como objetivo apresentar as principais matrizes 
filosóficas pertinentes a cada período histórico da filosofia; bem 
como refletir acerca dos diversos modos de percepção do homem 
e do mundo. Por fim, espera-se compreender a evolução do 
pensamento ocidental ao longo da história. Nesse sentido, o texto 
que se segue contemplará uma rápida explanação de cada período 
da história da filosofia – antiga/clássica, medieval, moderna e 
contemporânea.
Compreender cada um desses períodos auxiliará no entendimento 
dos vários momentos e contextos históricos a que foi submetido 
o pensamento filosófico, além de fornecer subsídios que nos 
possibilitem realizar uma leitura mais coesa da atualidade. O 
esforço de um resgate histórico nos proverá uma noção acerca das 
características das sociedades, das concepções e principais ideias 
que vigoraram ao longo dos séculos no pensamento da humanidade, 
por isso, permite compreender melhor as consequências que nos 
trouxeram ao século XXI. 
Vale ressaltar que esseesforço remete, em especial, à filosofia 
ocidental a partir de seu nascimento, na Grécia antiga. Não será 
tratado nessa disciplina aspectos históricos relativos à história 
da filosofia oriental. Esta não assume papel menos importante, 
contudo, trata-se de um tema que merece um estudo mais 
aprofundado, não sendo objeto de contemplação da ementa dessa 
disciplina, do curso em questão. 
A história da filosofia abraça a história oficial da humanidade que 
pretende, mediante a uma proposta investigativa, estudar o que 
os homens fizeram, pensaram e sentiram enquanto seres sociais 
e humanos. Nesse sentido, o conhecimento histórico ajuda na 
compreensão da história da filosofia, pois baseia-se também na 
história do homem enquanto ser que constrói seu tempo e que se 
desenvolve na cultura, tornando-se sujeito capaz de partilhar da 
experiência acumulada e transmitida pelos seus semelhantes. 
Outro ponto relevante visa perceber o próprio processo da filosofia, 
considerando suas trajetórias ocasionadas pelas mudanças 
históricas e suas diversas interpretações da realidade, que 
conduziram correntes e teorias filosóficas distintas ao longo da 
história.
Por fim, espera-se com essa unidade desenvolver a leitura 
contextualizada de textos e discursos filosóficos. Ao mesmo 
tempo estimular a capacidade de análise e interpretação de fatos 
históricos, instigando o pensamento crítico, inclusive do próprio 
contexto vivencial ou histórico-social que estamos vivenciando.
Boa viagem!
unidade 2
29
FILOSOFIA
Convidamos você agora a realizar uma viagem no tempo. Para esta 
unidade da disciplina, sugerimos recordar as aulas de História geral 
da Humanidade. Até mesmo aquele livro que usamos no ensino 
médio durante as aulas de história ou as enciclopédias que ficavam, 
normalmente, guardadas nas estantes na casa de parentes mais 
velhos. Esses livros podem nos ajudar a nos situarmos melhor no 
tempo e no espaço.
A história da filosofia inicia-se na Antiguidade, na Grécia antiga, por 
volta dos séculos V e VI antes de Cristo, no considerado período 
Homérico (devido a Homero, poeta que narra o surgimento da 
Grécia a partir da guerra de Troia). Tal momento histórico grego 
foi marcado por uma ascensão social, cultural e política que 
contribuíram enormemente com o avanço da filosofia.
Naquela época a Grécia demonstrava uma admirável capacidade 
intelectual, geradora de um extraordinário progresso nas diversas 
áreas do conhecimento, das artes, da literatura, da música e da 
política. As navegações e o comércio com outros povos, a produção 
e capacidade artística, a linguagem, juntamente com a moeda 
e a tecnologia (de arquitetura e militar), e o nascimento da polis 
(cidade-estado), e de novas formas políticas trouxeram aos gregos 
muita vontade de conhecimento. Isso ocasionou num espaço 
profícuo para o desenvolvimento da filosofia, que pretendia levantar 
questionamentos acerca da existência humana e de pensar o 
mundo. 
Como é de notar, não foi por acaso que a filosofia surgiu na Grécia 
antiga, muitos fatores convergiram para esse lugar, abrindo espaço 
para o debate e o “pensar” filosófico.
O surgimento 
da filosofia
Para esta 
unidade da 
disciplina, 
sugerimos 
recordar 
as aulas de 
História geral da 
Humanidade.
unidade 2
30
FILOSOFIA
A filosofia 
antiga
A filosofia antiga pode ser dividida em três fases: 
• Período pré-socrático,
• Período clássico, que remete aos sofistas e a Sócrates, 
e seus seguidores, conhecido também como período 
socrático, 
• Pós-socrático ou helenístico. 
O período pré-socrático considera os filósofos anteriores a Sócrates, 
que viveram na Grécia por volta do século VI a.C., por exemplo, 
Tales de Mileto, Heráclito, Anaximandro, Xenófanes e Parmênides, 
considerados os precursores da filosofia ocidental. Você já ouviu 
falar de algum desses nomes?
Nesse período, a filosofia era utilizada para explicar a origem do 
universo e das coisas ao redor. Os pré-socráticos buscavam um 
princípio que deveria estar presente em todos os momentos de 
tudo que existia. Essa fase caracteriza-se pela preocupação com 
a natureza e o cosmo, ao mesmo tempo em que inaugura uma 
mentalidade com base na razão e não mais na tradição mítica. 
As escolas jônica, eleática, atomista e pitagórica são as principais 
desse período.
Os filósofos da Jônia, como Tales de Mileto, Anaximandro, 
Anaxímenes e Heráclito, buscavam explicar o mundo pelo 
desenvolvimento de uma natureza comum a todas as coisas e em 
eterno movimento. Já os pensadores de Eléa, como Parmênides e 
Anaxágoras, ao contrário dos filósofos de Jônia, dizem que o ser 
é unidade e imobilidade e que a mutação não passa de aparência. 
Para Parmênides, o ser é ainda completo, eterno e perfeito. Os 
atomistas, como Leucipo e Demócrito, sustentam que o universo 
As escolas 
jônica, eleática, 
atomista e 
pitagórica são 
as principais 
desse período.
unidade 2
31
FILOSOFIA
é constituído de átomos eternos, indivisíveis e infinitos, reunidos 
aleatoriamente.
O chamado pitagorismo, que remete ao filósofo Pitágoras, 
representa a primeira tentativa de apreender o conteúdo inteligível 
das coisas, preocupando-se com sua essência. Pitágoras afirma 
que a verdadeira substância original é a alma imortal, que preexiste 
ao corpo e no qual se encarna como em uma prisão, como castigo 
pelas culpas da existência anterior. 
É interessante percebermos que esses filósofos também eram 
físicos, químicos, matemáticos etc. Ou seja, nesse momento da 
história, a filosofia e o conhecimento científico andavam lado a lado. 
Seguem alguns pensamentos filosóficos suscitados nessa época 
pelos filósofos supracitados:
“A coisa de maior extensão no mundo é o universo, a mais rápida 
é o pensamento, a mais sábia é o tempo e mais cara e agradável é 
realizar a vontade de Deus. ” Tales de Mileto (MAGGE, 1999, p.13)
“Nada é permanente, exceto a mudança. ” Heráclito (MAGGE, 1999, 
p.14)
“Não poderias entrar duas vezes no mesmo rio. ” Heráclito (MAGGE, 
1999, p.15)
“Princípio dos seres é o ilimitado. Pois donde a geração é para 
todos os seres, é para onde também a corrupção se gera segundo 
o necessário; pois concedem eles mesmos justiça e deferência 
uns aos outros pela injustiça, segundo a ordenação do tempo. ” 
Anaximandro de Mileto (MAGGE, 1999, p.13)
“A Evolução é a Lei da Vida, o Número é a Lei do Universo, a Unidade 
é a Lei de Deus. ” Pitágoras (MAGGE, 1999, p.15)
unidade 2
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FILOSOFIA
“O ser é o não ser; o não ser é o nada; o nada, é tudo. ” Parmênides 
(MAGGE, 1999, p.17)
A filosofia 
clássica
A filosofia clássica destaca-se pela preocupação metafísica ou 
pela procura do ser, e pelo interesse político em criar a cidade 
harmoniosa e justa, que tornasse possível a formação do homem 
e da vida de acordo com a sabedoria. Ela remete principalmente 
aos sofistas, Sócrates, Platão e Aristóteles. Vale ressaltar que esse 
período corresponde ao apogeu da democracia na polis grega e é 
marcado pela hegemonia política de Atenas.
Os filósofos chamados de sofistas, como Protágoras de Abdera 
e Górgias de Leontinos, são educadores pagos pelos alunos para 
fornecerem ensinamentos sobre filosofia, cuja preocupação era 
formar o cidadão da nova democracia ateniense. Com eles, a arte 
da oratória e da retórica - falar bem e de maneira convincente a 
respeito de qualquer assunto - alcança grande desenvolvimento, 
contribuindo ainda mais para o desenvolvimento da política.
Conhecido pelo testemunho de Platão, Sócrates não deixou nenhum 
documento escrito e dedicou-se à procura metódica da verdade 
identificada com o bem moral. Com ele,o conhecimento filosófico 
desloca-se da natureza para o homem. Seu método divide-se em 
duas partes. A ironia, do grego eironéia - perguntar, uma forma de 
forçar seu interlocutor a reconhecer que ignora o que pensava saber; 
e a descoberta da ignorância, na tentativa de extrair do interlocutor 
a verdade contida em sua consciência, método denominado por ele 
como maiêutica
Você sabia que Sócrates foi comparado a Jesus Cristo, devido às 
semelhanças de suas vidas? Os dois não deixaram nada escrito, 
Vale ressaltar 
que esse período 
corresponde 
ao apogeu da 
democracia na 
polis grega e é 
marcado pela 
hegemonia 
política de Atenas.
unidade 2
33
FILOSOFIA
foram condenados à morte e acusados de serem uma ameaça 
à sociedade devido ao poder de persuasão sobre as pessoas. E 
também ambos eram considerados homens sábios.
Platão, discípulo de Sócrates, afirmava que as ideias são o próprio 
objeto do conhecimento intelectual, a realidade é metafísica. Para 
melhor expor sua teoria, utiliza-se de uma alegoria, o mito da 
caverna, no qual a caverna simboliza o mundo sensível, a prisão, os 
juízos de valor em que só se percebem as sombras das coisas. O 
exterior é o mundo das ideias, do conhecimento racional. Feito de 
corpo e alma, o homem pertenceria simultaneamente a esses dois 
mundos. A tarefa da filosofia seria libertar o homem da caverna, do 
mundo das aparências para o mundo real, das essências.
Platão gostava de escrever suas teorias em forma de diálogo. O nome 
Platão, na verdade, era o apelido dado a esse filósofo que chamava-se 
Aristócles. Outra curiosidade diz respeito à expressão “amor platônico”, 
cuja a interpretação é equivocada no que se refere ao conceito de amor, na 
filosofia de Platão. O amor para Platão é falta, ou seja, o amante busca no 
amado a ideia - verdade essencial - que não possui. Nisso, supre a falta e 
torna-se pleno, de modo dialético, recíproco.
Já o filósofo Aristóteles buscou aperfeiçoar e sistematizar as 
descobertas de Platão e Sócrates desenvolvendo a chamada lógica 
dedutiva clássica, que postula o encadeamento das proposições 
e das ligações dos conceitos mais gerais para os menos gerais. 
Para Aristóteles, a lógica consiste num instrumento para atingir 
o conhecimento. Ao contrário de Platão, ele afirma que a ideia 
não possui uma existência metafísica, só existindo no ser real e 
concreto.
Os escritos de Aristóteles perfazem grande número de volumes 
(constam 150, aproximadamente) e abordam assuntos diversos, 
desde ciência, política e ética até crítica literária. Desses trabalhos, 
O exterior é o 
mundo das ideias, 
do conhecimento 
racional.
unidade 2
34
FILOSOFIA
cerca de dois terços desapareceram. Muitos ficaram sob posse da 
Igreja Católica. Muitos ficaram perdidos por séculos, por vezes em 
mais de uma ocasião, e muitos foram traduzidos para o árabe.
As frases que se seguem são de autoria de filósofos que viveram no 
período da filosofia socrática:
“Todo o argumento permite sempre a discussão de duas teses 
contrárias, inclusive este de que a tese favorável e contrária são 
igualmente defensáveis.” Protágoras (MAGGE, 1999, p. 18)
“A arte da persuasão ultrapassa todas as outras, e é de muito a 
melhor, pois ela faz de todas as coisas suas escravas por submissão 
espontânea e não por violência.” Górgias (REALE, 1990, p. 78)
“Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.” 
Sócrates (MAGGE, 1999, p. 20)
“Três coisas devem ser feitas por um juiz: ouvir atentamente, 
considerar sobriamente e decidir imparcialmente.” Sócrates 
(MAGGE, 1999, p. 22)
“Conheça a ti mesmo”. Sócrates (MAGGE, 1999, p. 20)
“O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que 
não se vê.” Platão (MAGGE, 1999, p. 24)
“O homem retrata-se inteiramente na alma; para saber o que é e o 
que deve fazer, deve olhar-se na inteligência, nessa parte da alma na 
qual fulge um raio da sabedoria divina.” Platão (MAGGE, 1999, p. 26)
“O homem, por natureza, é um animal político.” Aristóteles (MAGGE, 
1999, p. 32)
“A politica não deveria ser a arte de dominar, mas sim a arte de fazer 
justiça.” Aristóteles (MAGGE, 1999, p. 38)
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35
FILOSOFIA
A filosofia 
pós-socrática
Este período da história da filosofia ocorre até o início da Era Cristã 
e abarca as correntes filosóficas chamadas: ceticismo, epicurismo 
e estoicismo. Elas refletem a decadência política e militar da Grécia 
naquele momento histórico que antecedia a Idade Média.
A corrente filosófica ceticista afirma que as limitações do espírito 
humano não permitem conhecer nada seguramente. Assim, 
acredita na suspensão do julgamento e da permanência da dúvida. 
Ao recusar toda afirmação dogmática, prega que o ideal do sábio é 
o total despojamento, o perfeito equilíbrio da alma, que nada pode 
perturbar.
Já os epicuristas destacam o prazer obtido pela prática da virtude, 
o bem. O prazer consiste no “não-sofrimento” do corpo e na “não-
perturbação” da alma. Epicuro acreditava que a filosofia é o melhor 
caminho para alcançar a felicidade, que para ele significava libertar-
se dos desejos. Assim, a filosofia com Epicuro passa a ter uma 
intenção prática e não somente a finalidade de investigação dos 
fundamentos últimos do mundo e do homem.
De acordo com os estóicos, como Sêneca e Marco Aurélio, o 
homem deve permanecer indiferente às conjunturas exteriores, 
como dor, prazer e emoção, submetendo sua conduta focada na 
razão, mesmo que isso lhe traga dor e sofrimento, e não prazer.
Por fim, já no século III da Era Cristã, Plotino pensa o neoplatonismo 
na perspectiva histórica do Império Romano. As doutrinas 
neoplatônicas têm grande influência sobre os pensadores cristãos 
em vários momentos da chamada Idade Média.
O prazer consiste 
no “não-
sofrimento” do 
corpo e na “não-
perturbação” da 
alma. 
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36
FILOSOFIA
Seguem abaixo alguns pensamentos e frases famosas de filósofos 
pós-socráticos:
“A primeira tarefa do filósofo é derramar a vaidade, pois é impossível 
ao homem aprender quando julga saber tudo.” Epiteto (Estóico) 
(MAGGE, 1999, p. 47)
“O homem que sofre antes de ser necessário, sofre mais que o 
necessário.” Sêneca (Estóico) (MAGGE, 1999, p. 46)
“Só há um caminho para a felicidade. Não nos preocuparmos 
com coisas que ultrapassam o poder da nossa vontade. ” Epicuro 
(Epicurista) (MAGGE, 1999, p. 44)
“A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe 
a morte, e quando existe a morte, não existimos mais. ” Epicuro 
(MAGGE, 1999, p.45)
“Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, 
nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais 
é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do 
espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não 
chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não 
chegou ou que já passou a hora de ser feliz. Desse modo, a filosofia 
é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo 
sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que 
já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das 
coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas 
que trazem a felicidade, já que, estando esta presente, tudo temos, 
e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la...” (EPICURO, 1999, p. 21)
“Se um homem busca tirar da vida boa algo que está além dela, 
não é a vida boa que ele está buscando. ” Plotino (Neoplatonista) 
(MAGGE, 1999, p. 30)
unidade 2
37
FILOSOFIA
A filosofia 
medieval
Este período histórico é marcado por uma forte influência do 
cristianismo e, com isso, da forma de pensar centrada nos dizeresda Igreja Católica Apostólica Romana. Historiadores afirmam que o 
conhecimento da humanidade nesse período da história parou de 
evoluir, voltando a se desenvolver apenas após o Renascimento. A 
preocupação da época centrava-se apenas em converter “pagãos” 
ao cristianismo e unir a fé à razão.
Nesse período destaca-se a filosofia de Santo Agostinho, que 
retoma o platonismo, identificando o mundo das ideias de Platão 
com o mundo das ideias divinas. Para ele, o homem recebe de Deus 
o conhecimento das verdades eternas. Essa corrente filosófica ficou 
denominada como Patrística, por ser elaborada pelos padres da 
Igreja Católica. 
A posteriori, já entre os séculos V e XIII, predomina-se a corrente 
denominada Escolástica, que abarca o conjunto das doutrinas 
oficiais da Igreja, influenciadas pelos pensamentos de Platão e 
Aristóteles. Os representantes dessa corrente filosófica estão 
preocupados em conciliar razão e fé, e desenvolver a discussão, a 
argumentação e o pensamento discursivo. O filósofo que mais se 
destacou nessa época foi Santo Tomás de Aquino. 
A decadência da Igreja Católica, no final da Idade Média, foi marcada 
pelas obras da chamada “Santa Inquisição”, composta por um 
tribunal eclesiástico destinado a defender a fé católica. Sua função 
era vigiar, perseguir e condenar aqueles que fossem suspeitos 
de praticar outras religiões e de ousarem ir contra os dizeres e 
pregações da Igreja. Além disso, censurava toda a produção cultural, 
bem como resistia fortemente a todas as inovações científicas. O 
fato era que a Igreja temia que as ideias inovadoras conduzissem 
os crentes à dúvida religiosa e à contestação da autoridade Papal.
A preocupação 
da época 
centrava-se 
apenas em 
converter 
“pagãos” ao 
cristianismo e 
unir a fé à razão.
unidade 2
38
FILOSOFIA
A seguir encontram-se alguns pensamentos desses dois filósofos 
da Idade média:
“Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei!
Eis que habitáveis dentro de mim, e eu, lá fora, a procurar-Vos!
Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes.
Estáveis comigo e eu não estava Convosco!
Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria, se não existisse 
em Vós.
Porém, chamastes-me, com uma voz tão forte, que rompestes a 
minha Surdez!
Brilhastes, cintilastes, e logo afugentastes a minha cegueira! 
Exalastes Perfume: respirei-o, a plenos pulmões, suspirando por 
Vós.
Saboreei-Vos e, agora, tenho fome e sede de Vós.
Tocastes-me e ardi, no desejo da Vossa Paz. ”
(SANTO AGOSTINHO, 2002, p. 27 - Conf. X)
“...Dê-me, Senhor, agudeza para entender, capacidade para reter, 
método e faculdade para aprender, sutileza para interpretar, graça 
e abundância para falar, acerto ao começar, direção ao progredir e 
perfeição ao concluir...” São Tomás de Aquino (REALE, 1990, p. 570) 
“A alma é conhecida pelos seus atos.” São Tomás de Aquino 
(MAGGE, 1999, p. 59)
unidade 2
39
FILOSOFIA
A filosofia 
moderna
O período de transição entre a Idade Média e Moderna foi assinalado 
pelo Renascimento, que objetivava a retomada de valores da cultura 
greco-romana clássica. 
O pensamento renascentista defendia a ideia de que a razão era 
uma manifestação do espírito humano que colocava o indivíduo 
mais próximo de Deus. Assim, exercer a capacidade de questionar 
consistia em fazer uso do dom que foi dado por Deus, dando razão 
a ele.
Tal movimento cultural, artístico e científico atingiu as camadas 
urbanas da Europa Ocidental entre os séculos XIV e XVI, 
principalmente na Itália. Foi essencial para o abandono de ideias 
medievais que ainda estavam presentes, porém não deve ser visto 
como uma ruptura radical entre a Idade Média e a Idade Moderna. 
Além disso, a decadência do feudalismo, as grandes descobertas 
da ciência e a ascensão da burguesia assinalam a emergência de 
um novo momento da história. A Idade Média ficou marcada por 
uma filosofia dogmática e submissa à Igreja, já a proposta da 
filosofia moderna é profana e crítica. Os filósofos dessa época eram 
leigos que procuraram pensar de acordo com as leis da razão e do 
conhecimento científico, caracterizando o antropocentrismo - que 
considera o homem o centro do universo – e, consequentemente, o 
humanismo, em detrimento ao teocentrismo medieval.
Na Idade Moderna a razão era a única forma aceita de se chegar 
ao conhecimento. Filósofos como René Descartes, conhecido 
pela frase famosa “Penso, logo existo” e criador do cartesianismo, 
inaugura a corrente filosófica conhecida como racionalismo, que 
privilegia a razão como o fundamento de todo o conhecimento 
exercer a 
capacidade 
de questionar 
consistia em 
fazer uso 
do dom que 
foi dado por 
Deus, dando 
razão a ele.
unidade 2
40
FILOSOFIA
possível. Uma especificidade desse pensador é que, ao contrário 
dos antigos pensadores que partiam da certeza, Descartes parte da 
dúvida metódica, que põe em questão todas as supostas certezas. 
Descartes desenvolveu, no âmbito da matemática, a Geometria 
Analítica. Nesse sentido, pela primeira vez na história da matemática, 
conseguia-se integrar totalmente a Álgebra à Geometria, abrindo um 
novo campo de explorações que alcançaria vários desdobramentos 
nos séculos seguintes.
Além do racionalismo, o empirismo e o idealismo também são 
correntes da filosofia moderna. Tais doutrinas remetem diretamente 
à ascensão da burguesia e à Revolução Industrial. Outros filósofos 
de destaque dessa época são: o inglês Francis Bacon, que esboça o 
empirismo, corrente filosófica que considera o conhecimento como 
resultado da experiência sensível; e Thomas Hobbes, John Locke e 
David Hume, que seguem essa mesma linha de pensamento. 
Thomas Hobbes e John Locke contribuíram muito, também, no 
âmbito do desenvolvimento da política. Suas concepções sobre 
o papel do Estado ajudaram a desvinculá-lo da religião. Na Idade 
Média, o poder político do clero encontrava-se equiparado ao poder 
da nobreza, ou, em alguns lugares, até maior.
Tanto o racionalismo cartesiano como o empirismo inglês preparou 
o terreno para o movimento que se tornou conhecido como 
Iluminismo no século XVIII. O filósofo Immanuel Kant almejou uma 
síntese dessas duas correntes filosóficas a partir de uma análise 
crítica da razão. Para ele, o conhecimento só existe a partir dos 
conceitos de matéria e forma, ou seja, a matéria vem da experiência 
sensível e a forma é dada pelo sujeito que pensa.
Dizem que, ao ver fisicamente Kant, muitos tinham impressão de 
fragilidade. O filósofo era magro, tinha um pequeno porte, peito e ombros 
Suas 
concepções 
sobre o papel 
do Estado 
ajudaram a 
desvinculá-lo 
da religião.
unidade 2
41
FILOSOFIA
delicados e estreitos. Para assistir a uma audiência pública ou particular 
desse filósofo, era necessário estar uma hora de antecedência no local 
das aulas, pois sempre lotava. Os cursos que Kant ministrava eram 
apresentados por ele com graça e humor.
Já a corrente chamada de Idealismo, muito forte na região da 
Alemanha, incidia na interpretação da realidade exterior e material 
a partir do mundo interior, subjetivo e espiritual. Para os filósofos 
dessa corrente, como o alemão Hegel, somente o sujeito pode 
conhecer o objeto, ou seja, o que se conhece sobre o homem 
e o mundo é produto das ideias, representações e conceitos 
elaborados por cada um de nós. Objetivando explicar a realidade em 
constante processo, Hegel estabelece uma nova lógica, intitulada 
como dialética. Ele defende a ideia de que todas as coisas e ideias 
morrem, e essa força destruidora é também a força motriz do 
processo histórico.
No final da Idade Moderna, mais especificamenteinício do século 
XIX, vigora a corrente positivista do filósofo francês Auguste Comte, 
a qual considera o fato positivo (aquele que pode ser medido e 
controlado pela experiência) como o mais adequado para estudo. 
Tal teoria é retomada no século XX, como o “neopositivismo” do 
austríaco Ludwig Wittgenstein.
Ainda no século XIX, influenciado pelos ideais de Hegel, o alemão 
Karl Marx utiliza o método dialético e cria o chamado materialismo 
histórico, que considera o modo de produção da vida material como 
condicionante da história. A tradição marxista propõe formular os 
princípios de uma prática política voltada para a revolução. Marx 
desenvolve o socialismo científico como uma alternativa ao sistema 
capitalista moderno.
Marx foi um grande pensador e é estudado em várias áreas do 
conhecimento, como ciências exatas, humanas e sociais. Foi 
considerado um determinista da história, que conseguiu prever as 
consequências devastadoras do capitalismo para humanidade.
A tradição 
marxista propõe 
formular os 
princípios de 
uma prática 
política voltada 
para a revolução.
unidade 2
42
FILOSOFIA
Algumas curiosidades sobre a vida de Marx: recusava-se a trabalhar em 
algo que não tivesse relação com o que acreditava. Possuía uma caligrafia 
muito ruim. Ele, em sua juventude, era romântico, pouco cuidadoso com 
os gastos, apreciador das noites. Somente três dos seus seis filhos 
sobreviveram.
Já na transição da Idade Moderna para a Contemporânea surge 
Friedrich Nietzsche, filósofo alemão que elaborou uma crítica aos 
valores tradicionais da cultura ocidental, como o cristianismo, 
considerando-o decadente e contrário à criatividade e à 
espontaneidade humana. Para ele, a tarefa da filosofia seria de 
libertar o homem desse tradicionalismo. 
Muitas pessoas conhecem Nietzsche pela sua frase “Deus está 
morto”. Vale ressaltar que não se trata do Deus vivo que é imortal, 
mas do Deus da metafísica, das representações religiosas e 
culturais, feitas apenas para acalmar as pessoas e impedir que 
se confrontem com os desafios da condição humana. Para esse 
filósofo, esse Deus é somente uma representação e uma imagem 
da sociedade moderna, por isso ele diz que é bom que morra para 
liberar o Deus vivo. Assim, não devemos confundir imagem de Deus 
com Deus como realidade essencial. 
Enfim, o fim do século XIX foi marcado por uma filosofia pragmática 
a qual defendia o empirismo como teoria do conhecimento e o 
utilitarismo como a busca da obtenção da maior felicidade possível 
para o maior número de pessoas no campo da moral. Também foi 
marcado por um século de muitos problemas sociais devido ao 
avanço do capitalismo industrial e pelo crescimento desordenado 
das cidades. Tais problemas fizeram emergir as ciências humanas 
e sociais, como a sociologia, a antropologia a ciência política, a 
psicologia etc.
Assim, não 
devemos 
confundir 
imagem de 
Deus com Deus 
como realidade 
essencial.
unidade 2
43
FILOSOFIA
As frases abaixo são de autoria de filósofos modernos:
“Penso, logo existo.” Descartes (Racionalista) (MAGGE, 1999, p. 86)
“Nossas ações são as melhores interpretações de nossos 
pensamentos. ” John Locke (Empirista) (MAGGE, 1999, p. 105)
“A beleza das coisas existe no espírito de quem as contempla. ” 
David Hume (Empirista) (MAGGE, 1999, p. 112)
“O homem é o lobo do homem. ” Thomas Hobbes (Empirista) 
(MAGGE, 1999, p. 80)
“Não se aprende bem a não ser pela experiência. ” Francis Bacon 
(Empirista) (MAGGE, 1999, p. 75)
“Ciência é conhecimento organizado. Sabedoria é vida organizada. ” 
Kant (Idealista) (MAGGE, 1999, p. 132)
“A filosofia nos dá o conhecimento do universo como uma totalidade 
orgânica, totalidade que se desenvolve a partir do conceito e que, 
nada perdendo do que faz dela um conjunto, um todo cujas partes 
estão unidas pela necessidade, a si mesma regressa e no regresso 
a si mesma forma um mundo de verdade. ” Hegel (Idealismo) 
(MAGGE, 1999, p. 163)
“Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas 
maneiras; o que importa é modificá-lo. ” Marx (MAGGE, 1999, p. 
167)
“A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de 
classes. ” Marx (MAGGE, 1999, p. 170)
“A religião é o ópio do povo. ” Marx (MAGGE, 1999, p. 169)
unidade 2
44
FILOSOFIA
“Deus está morto: mas, considerando o estado em que se encontra 
a espécie humana, talvez ainda por um milénio existirão grutas em 
que se mostrará a sua sombra. ” Nietzsche (MAGGE, 1999, p. 172)
A filosofia 
contemporânea
A filosofia no início do século XX foi marcada por uma forte tradição 
marxista. Muitos pensadores, como o húngaro Gyorgy Lukács, 
o italiano Antonio Gramsci, os franceses Henri Lefebvre, Louis 
Althusser e Michel Foucault, e os filósofos ligados à Escola de 
Frankfurt buscaram reinterpretar o marxismo. 
Outra corrente dessa época foi a conhecida como fenomenologia, 
que teve início com o filósofo tcheco Edmund Husserl. O mesmo 
buscou aproximar o racionalismo do empirismo, objetivando 
desenvolver um estudo descritivo dos fenômenos. Para tanto, ele 
observou que as coisas percebidas pela consciência são diferentes 
das coisas em si mesmas. Seus seguidores são Martin Heidegger, 
Maurice Merleau-Ponty e os filósofos do existencialismo, como 
Jean-Paul Sartre, que consideram a existência humana o primeiro 
objeto da reflexão filosófica.
Devido ao avanço da ciência e da tecnologia, demonstrando maior 
domínio do homem sobre a natureza, a corrente filosófica conhecida 
como epistemologia ganha destaque quando propõe um estudo 
crítico de princípios, hipóteses e resultados das ciências. 
Outra corrente filosófica contemporânea diz respeito ao 
estruturalismo. Tal corrente surge a partir de duas ciências 
humanas: a linguística, com o suíço Ferdinand de Saussure e a 
antropologia, com Claude Lévi-Strauss. O estruturalismo parte do 
pressuposto de que existem estruturas comuns a várias culturas 
unidade 2
45
FILOSOFIA
que necessitam ser pesquisadas, independentemente dos fatores 
históricos.
Os pensamentos que se seguem são atribuídos aos pensadores da 
filosofia contemporânea:
“O Estado é a organização económico-política da classe burguesa. 
O Estado é a classe burguesa na sua concreta força atual. ” Gramsci 
(REALE, 1990, p. 832)
“Existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode 
pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente 
do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir. ” 
Foucault (REALE, 1990, p. 951)
“Morrer não é um acontecimento; é um fenômeno a ser 
compreendido existencialmente. ” Heidegger (MAGGE, 1999, p. 212)
“O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós 
mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós. ” Sartre (MAGGE, 
1999, p. 216)
“Nasci para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de mim 
mesmo. ” Sartre (REALE, 1990, p. 605)
Chegamos ao fim dessa unidade, mas a história da filosofia não 
se finda nunca, pois o homem sempre irá buscar o conhecimento 
na tentativa de dar explicações para os acontecimentos, de 
compreender o comportamento humano e de compreender a 
finalidade da existência humana. 
Para tanto, a filosofia é disciplina comum a todas as áreas do 
conhecimento, sendo ensinada em todos os cursos de nível superior 
e também no ensino médio. Na verdade, como disse o filósofo 
alemão Imannuel Kant, “não se ensina filosofia, mas a filosofar”. O 
exercício filosófico requer uma postura critica, reflexiva e analítica 
Na verdade, 
como disse o 
filósofo alemão 
Imannuel Kant, 
“não se ensina 
filosofia, mas a 
filosofar”. 
unidade 2
46
FILOSOFIA
perante o mundo.

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