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1 ABORDAGEM MORFOFUNCIONAL DA CABEÇA E PESCOÇO Djanira Aparecida da Luz Veronez1 INTRODUÇÃO A cabeça e o pescoço são regiões de grande complexidade anatômica. A cabeça abriga e protege o encéfalo e todos os componentes associados aos sentidos especiais como audição, olfação, visão e gustação. A cabeça e o pescoço contêm a parte superior do sistema respiratório (nariz, cavidade nasal, faringe e laringe) e do sistema digestório (boca, cavidade bucal, faringe e porção cervical do esôfago). Na face anterior da cabeça estão localizados importantes músculos da expressão facial; responsáveis pela mímica, ajustam -se aos contornos da face para retransmitir sinais não verbais. A cabeça e o pescoço estão envolvidos na comunicação. Os sons produzidos pela laringe são modificados na faringe e na cavidade oral, contribuindo com a produção da fala. COMPARTIMENTOS DA CABEÇA 1 Biomédica. Doutora em Ciências Médicas área de concentração Neurociências pela Universidade Estadual de Campinas. Professora do departamento de anatomia da Universidade Federal do Paraná. 2 A cabeça é composta por uma série de compartimentos, os quais são formados por partes rígidas (ossos e cartilagens) e partes moles (mucosa, músculos, vísceras entre outras estruturas). Os principais compartimentos são uma cavidade (fossa) do crânio; duas orelhas; as duas órbitas; as duas cavidades nasais e uma cavidade oral. A cavidade do crânio é o maior compartimento (Figura 1). Apresenta como conteúdo o encéfalo, constituído pelo cérebro, cerebelo, tronco encefálico, e pelas membranas associadas denominadas de meninges. Figura 1. Crânio (vista interna) As duas orelhas são componentes acessórios do sistema auditivo, são encontradas bilateralmente e externamente aos ossos temporais. São pregas cutâneas na face lateral da cabeça estruturada por cartilagem elástica (Figura 2). Apresenta, internamente, o meato acústico externo onde as ondas sonoras, capturadas pelas orelhas, seguem em direção à membrana timpânica (Figura 3). 3 Figura 2. Orelha externa 4 Figura 3. Tímpano. As órbitas são recessos piramidais do esqueleto cefálico que alojam os olhos, pequenos músculos, vasos e nervos. 5 Figura 4. Crânio (vista anterior) As cavidades nasais participam das partes superiores do trato respiratório sendo encontradas medialmente às órbitas (Figura 4). Tem paredes, assoalhos e tetos, compostos predominantemente por ossos e cartilagens. As aberturas anteriores das cavidades nasais são as narinas, sendo as aberturas posteriores as coanas (aberturas nasais posteriores). A cavidade oral se apresenta como uma ampla câmara de tamanho variável localizada inferiormente às cavidades nasais, sendo separadas pelos palatos, duro e mole. A abertura anterior da cavidade oral é formada pela rima bucal e a abertura posterior pelo istmo das fauces (Figura 5). 6 Figura 5. Hemicabeça (vista medial) ABORDAGEM OSSEOARTICULAR DO ESQUELETO CEFÁLICO A cabeça apresenta um conjunto de 22 ossos (Figuras 6, 7 e 8), excluindo-se os ossículos do ouvido. São eles: osso frontal (01), ossos parietais (02), ossos temporais (02), osso occipital (01), ossos lacrimais (02), ossos nasais (02), osso etmoide (01), osso esfenoide (01), ossos maxilares (02), ossos palatinos (02), ossos zigomáticos (02), ossos conchas nasais inferiores (02), osso vômer (01) e a mandíbula (01). 7 Figura 6. Crânio (vista anterior) 8 Figura 7. Crânio (vista lateral) 9 Figura 8. Crânio (vista inferior) O crânio corresponde ao esqueleto da cabeça (ou esqueleto cefálico). Exceto a mandíbula, os demais ossos do crânio são articulados entre si por meio de 10 articulações do tipo suturas (Figuras 9 e 10), formadas pela presença de tecido conjuntivo fibroso entre os ossos e sincondrose esfeno-occipital, constituída por tecido cartilaginoso entre os ossos do indivíduo jovem. O crânio é subdividido em duas importantes regiões, uma parte superior, que envolve a cavidade do crânio contendo o encéfalo (neurocrânio); e uma parte inferior, o esqueleto da face (viscerocrânio). Os ossos que formam o neurocrânio são osso frontal (01); ossos parietais (02); ossos temporais (02); osso esfenoide (01); osso etmoide (01); osso occipital (01). O neurocrânio apresenta um teto constituído por uma cúpula, a calvária ou calota craniana, e um soalho ou base do crânio. Os ossos que formam a calota craniana são principalmente ossos planos (osso frontal, ossos parietais e o osso occipital), formados por ossificação intramembranosa mesenquimal da crista neural. Os ossos que constituem a base do crânio são principalmente ossos irregulares (osso esfenoide e ossos temporais) formados por ossificação endocondral da cartilagem. O osso etmoide é um osso irregular que apresenta uma contribuição relativamente menor na formação do neurocrânio, sendo essencialmente parte do viscerocrânio. Os ossos da calota craniana se articulam por meio de suturas fibrosas, porém, durante a infância, alguns ossos como o esfenoide e occipital se apresentam unidos por cartilagem hialina. 11 Figura 9. Calvária (vista posterior) 12 Figura 10. Crânio (vista posterior) e ossos desarticulados (vista posterior) No neurocrânio se encontram o encéfalo (formado pelo cérebro, cerebelo e tronco encefálico) e suas coberturas membranosas encefálicas, as meninges cranianas dura-máter, aracnoide e pia-máter. Contém também partes proximais dos nervos cranianos e os vasos sanguíneos encefálicos. A medula espinhal apresenta-se contínua com o tronco do encéfalo através do forame magno, uma grande abertura na base do crânio presente no osso occipital (Figura 11). 13 Figura 11. Osso occipital. Os ossos que formam o esqueleto da face, viscerocrânio, são ossos nasais (02); ossos palatinos (02); ossos lacrimais (02); ossos zigomáticos (02); ossos conchas nasais inferiores (02); ossos maxilares (02); osso etmoide (01); osso vômer (02); mandíbula (01). O viscerocrânio abriga principalmente as vísceras envolvidas com a visão, formação do esqueleto do nariz e sua cavidade nasal e limites da cavidade bucal. 14 As órbitas são cavidades que alojam os olhos, pequenos músculos, vasos e nervos. A parede superior (teto) da órbita é constituída pela parte orbital do osso frontal. A parede medial é formada pelo processo maxilar do osso frontal, pelos ossos lacrimais, lâmina orbital do osso etmoide. A parede lateral da órbita é constituída pelo osso zigomático e por parte da asa maior do osso esfenoide. A parede inferior (soalho) da órbita é formada pelo osso maxilar e osso esfenoide. As cavidades nasais participam das partes superiores do trato respiratório sendo encontradas medialmente as órbitas. Tem paredes, assoalhos e tetos, compostos predominantemente por ossos e cartilagens. As aberturas anteriores das cavidades nasais são as narinas,sendo as aberturas posteriores as coanas (aberturas nasais posteriores). Continuamente com as cavidades nasais há extensões preenchidas por ar que se projetam lateralmente, superiormente e posteriormente aos ossos ao seu redor denominados de seios paranasais. Os seios paranasais são cavidades existentes no osso frontal, osso etmoide, osso esfenoide e ossos maxilares. 15 Figura 12. Fossas cerebrais e seio frontal. Os seios paranasais, seio frontal (Figura 12), seios maxilares, seio esfenoidal e células etmoidais têm como função dar leveza à face, atuar como câmaras de ressonância de som e contribuir com o aquecimento do ar inspirado. O volume total dos espaços aéreos nos seios paranasais aumenta com a idade. 16 A cavidade oral apresenta como limites ósseos os processos palatinos dos ossos maxilares e lâmina transversal dos ossos palatinos como limite ósseo superior, e a mandíbula como limite ósseo inferior. Tanto nos ossos maxilares, como na mandíbula se encontram os alvéolos dentários com o objetivo de fornecer a base e os ossos de sustentação dos dentes das arcadas dentárias superiores e inferiores (Figura 13). Figura 13. Dentes e alvéolos dentários. DESCRIÇÃO DA FACE ANTERIOR DO CRÂNIO A fronte, ou região frontal, consiste do território do osso frontal, que também forma a parte superior da margem de cada órbita, a margem supraorbital (Figura 14). 17 Imediatamente superior á órbita, a cada lado, se encontra os salientes arcos superciliares. Estes são mais pronunciados nos homens que nas mulheres. Entre estes arcos, há uma pequena depressão, a glabela. Na parte medial da margem supraorbital se encontra o forame supra-orbital ou a incisura supraorbital. Figura 14. Crânio (face anterior) 18 O osso frontal projeta-se medialmente e inferiormente, formando uma parte da margem medial de cada órbita. Lateralmente, o processo zigomático do osso frontal projeta-se inferiormente formando a margem lateral superior de cada órbita. O osso frontal também se articula com o lacrimal, etmoidal e esfenóides; uma porção horizontal do osso auxilia na formação do teto das órbitas e parte do assoalho da parte anterior da cavidade craniana. Os ossos zigomáticos são ossos classificados como planos. Apresentam forma quadrangular, apresentando duas faces, quatro bordas e quatro ângulos. Forma parte da parede lateral de cada órbita. Um pequeno forame zigomaticofacial perfura a face lateral de cada osso zigomático. Os ossos zigomáticos se articulam com o osso frontal, esfenoide e temporal e as maxilas. Está situado superiormente e lateralmente na face. Forma a proeminência da bochecha, parte da parede lateral e assoalho da órbita, e partes das fossas temporais e infratemporal. Localizada inferiormente aos ossos nasais, à abertura piriforme, corresponde à abertura nasal anterior no crânio. Na vista interna da abertura piriforme se encontra o septo nasal ósseo, dividindo a cavidade nasal em duas fossas nasais, direita e esquerda. Na parede lateral de cada fossa nasal se encontram projeções curvas das placas ósseas, as chamadas conchas nasais superiores, médias e inferiores. A parte do viscerocrânio na face entre a órbita e os dentes da arcada dentária superior é formada pelo par de ossos maxilares. Superiormente, cada osso maxilar contribui para a formação das margens inferior e medial das órbitas. Lateralmente, o processo zigomático de cada osso maxilar se articula com o osso zigomático e, medialmente, o processo frontal de cada osso maxilar se articula com o osso frontal. Na superfície anterior do corpo da maxila, imediatamente abaixo da margem infraorbital, localiza-se o forame infraorbital. Inferiormente, cada osso maxilar termina como processos alveolares e alvéolos dentários que contêm os dentes da arcada dentária superior. As maxilas estão unidas pela sutura intermaxilar no plano mediano. As maxilas contornam a maior parte da abertura piriforme e formam a margem infraorbital 19 média. Eles têm uma conexão ampla com os ossos zigomáticos lateralmente e um forame infraorbital inferior para a passagem do nervo infraorbital e vasos sanguíneos. Na vista anterior do crânio, a mandíbula é a estrutura óssea com forma de ferradura mais inferior. Consiste em corpo da mandíbula anteriormente e ramo da mandíbula, posteriormente. Estes se unem posteriormente, no ângulo da mandíbula. O corpo da mandíbula é dividido em duas partes: a parte inferior, base da mandíbula; e a parte superior, parte alveolar da mandíbula. A parte alveolar da mandíbula contém os dentes da arcada dentária inferior. A base da mandíbula tem uma protuberância, a protuberância mental em sua superfície anterior, onde os dois lados da mandíbula se unem (Figura 15). Imediatamente lateral à protuberância mental, a cada lado, identificam-se protuberâncias mais pronunciadas, os tubérculos mentais. Lateralmente aos tubérculos mentais, se encontram os forames mentais, entre a margem superior da parte alveolar da mandíbula e a margem inferior da base da mandíbula. 20 Figura 15. Mandíbula. DESCRIÇÃO DA VISTA LATERAL DO CRÂNIO Na vista lateral do crânio identificam-se as partes laterais do neurocrânio e do viscerocrânio como: 1) os ossos que formam a parte lateral da calvária (o osso frontal, os ossos parietais, o osso occipital, o osso esfenóide e o osso temporal); 2) os ossos que formam a parte visível do esqueleto da face (os ossos nasais, os ossos maxilares e os ossos zigomáticos); 3) a mandíbula. 1) Parte lateral da calvária: A parte lateral da calvária (calota craniana) se inicia anteriormente com o osso frontal. Nas regiões superiores, o osso frontal se articula com o osso parietal na sutura coronal. O osso parietal se articula com o osso occipital por meio da sutura lambdoide (Figura 16). 21 Figura 16. Calvária (vista lateral). Nas regiões inferiores da parte lateral da calota craniana, a asa maior do osso esfenóide se articula com o osso parietal por meio da sutura esfenoparietal e com margem anterior do osso temporal pela sutura esfenoescamosa. 22 Figura 17. Crânio (vista lateral) A região onde o osso frontal, parietal, esfenoide e temporal (Figura 17) estão em estreita proximidade é o ptério (um dos pontos craniométricos). A conseqüência clinica de uma fratura do crânio nesta aérea podem ser muito grave. O osso nesta área é particularmente delgado e fica sobre a divisão anterior da artéria meníngea média, que pode ser lacerada por uma fratura do crânio nesta área, resultando em um hematoma extradural. A articulação na região inferior da parte lateral da calvária ocorre entre o osso temporal e o osso occipital na sutura occipitomastóidea. Uma grande contribuição para a formação da parte inferior da parede lateral do crânio é feita pelo osso temporal. O processo zigomático é uma projeção óssea anterior do osso temporal encontrada lateralmente, que se curva anteriormente para se articular com o processo temporal do osso zigomático, formando o arco zigomático. Inferiormente, na parte timpânica do osso temporal se encontra o poro acústico externo. 23 Figura 18. Poro acústico externo. A abertura do poro acústico (Figura 18) é a entrada para o meato acústico externo, o que leva à membrana timpânica (tímpano). A parte mastóidea é a parte mais posterior do osso temporal, sendo a única região da parte petromastóidea do osso temporal vistalateralmente no crânio. É continua com a parte escamosa do osso temporal anteriormente e articula-se com o osso parietal superiormente na sutura paretomastóidea e com o osso occipital posteriormente, na sutura occipitomastóidea. Estas duas suturas são continuas entre sim, sendo a sutura parietomastóidea continua com a sutura escamosa. Inferiormente, uma grande proeminência óssea, o processo mastoide, projeta-se da margem inferior da parte mastóidea do osso temporal. Este é um ponto de fixação 24 muscular. O processo mastóide do osso temporal é posterior à abertura acústico externo (Figura 19). Anteromedial ao processo mastoide encontra-se o processo estiloide do osso temporal. Figura 19. Face lateral do crânio. O processo estiloide projeta-se da margem inferior do osso temporal para ligar-se ao osso hioide por meio do ligamento estilo-hioídeo. Outra importante estrutura do neurocrânio na vista lateral é a fossa temporal. Limitada superiormente e posteriormente pelas linhas superiores e inferiores do osso temporal, anteriormente pelos ossos frontal e zigomático, e inferiormente pelo arco zigomático. 2) Vista lateral do viscerocrânio: 25 Os ossos da face observados em uma vista lateral do crânio incluem os ossos nasais, os ossos maxilares e os ossos zigomáticos. Os ossos nasais se apresentam como pequenos ossos classificados como laminares (planos), encontrados dispostos superiormente à abertura piriforme. Os ossos maxilares apresentam inferiormente os processos alveolares e alvéolos dentários que contêm os dentes. Superiormente, contribui para a formação das margens inferior e medial das órbitas. Medialmente, os processos frontais dos ossos maxilares se articulam com o osso frontal. Lateralmente, os processos zigomáticos dos ossos maxilares se articulam com o osso zigomático (Figura 20). Figura 20. Face lateral do crânio. Os ossos zigomáticos apresentam forma irregular contendo a superfície lateral arredondada para formar a proeminência da face. Medialmente, auxilia na formação da margem inferior das órbitas por meio de sua articulação com o processo zigomático do osso maxilar. Superiormente, os processos frontais dos ossos 26 zigomáticos se articulam com os processos zigomáticos dos ossos frontais, auxiliando na formação da margem lateral da órbita. Lateralmente, os processos temporais dos ossos zigomáticos projetam-se posteriormente para se articular com o processo zigomático do osso temporal e, assim, formar o arco zigomático. O arco zigomático é formado pela união do processo temporal do osso zigomático e o processo zigomático do osso temporal. Outra importante estrutura do viscerocrânio é a fossa infratemporal. A fossa infratemporal apresenta-se como um espaço irregular e profundo inferior ao arco zigomático e à mandíbula e posterior à maxila. 3) Mandíbula: A estrutura óssea inferior e final na vista lateral do crânio é a mandíbula. Inferiormente, identificam-se o corpo da mandíbula (anterior), um ramo da mandíbula (posterior) e o ângulo da mandíbula, onde a margem inferior do corpo da mandíbula se encontra com a margem posterior do ramo da mandíbula (Figura 21). 27 Figura 21. Mandíbula. Os dentes da arcada dentária inferior se encontram na parede alveolar do corpo da mandíbula. O forame mental encontra-se na superfície lateral do corpo na mandíbula e, na parte superior do ramo, os processos condilar e coronoide estendem-se superiormente (Figura 22). O processo condilar apresenta-se envolvido na articulação formada entre a mandíbula e o osso temporal. Figura 22. Mandíbula (vista posterior). DESCRIÇÃO DA VISTA POSTERIOR DO CRÃNIO Na vista posterior do crânio identificam-se superoinferiormente parte dos ossos parietais, o osso occipital e o processo mastoide do osso temporal. 28 Entre os ossos parietais e o osso occipital localiza-se a lambda, ponto craniométrico localizado na junção das suturas sagital e lambdoide. No osso occipital (Figura 23) observa-se um acidente anatômico denominado de protuberância occipital externa. Apresenta-se mais proeminente no sexo masculino do que sexo feminino. Sobre a protuberância occipital externa localiza-se o ponto craniométrico ínio. Figura 23. Crânio (vista póstero inferior). O processo mastoide do osso temporal apresenta-se como uma projeção cônica que pode variar de tamanho e forma. Localiza-se na parte posterior do osso temporal (porção mastóidea). Em sua face externa estão fixados o músculo esternocleidomastóideo, músculo esplênio da cabeça e músculo dorsal longo da cabeça. 29 DESCRIÇÃO DA VISTA SUPERIOR DO CRÂNIO Na vista superior o crânio apresenta geralmente forma levemente ovalada na maioria das pessoas ou forma discretamente quadrangular em alguns indivíduos. A sutura coronal articula o osso frontal com os ossos parietais (Figura 24). A sutura sagital ou sutura interparietal articula os dois ossos parietais. A sutura lambdoide articula os ossos parietais, ossos temporais e o osso occipital. O bregma é o ponto craniométrico localizado na intersecção das suturas sagital e coronal. 30 Figura 24. Calvária (vista superior) (sutura frontal persistente). O vértice corresponde ao ponto craniométrico mais superior da calota craniana, se localiza próximo do ponto médio da sutura sagital. DESCRIÇÃO DA VISTA EXTERNA DA BASE DO CRÂNIO 31 Denomina-se base do crânio a porção inferior do esqueleto cefálico formado pelo soalho da cavidade craniana do neurocrânio e pela parte inferior do viscerocrânio, exceto a mandíbula (Figura 25). Na vista externa e inferior da base do crânio identificam-se os ossos maxilares, ossos palatinos, o osso vômer, parte do osso esfenoide, osso temporal e o osso occipital. 32 Figura 25. Vista inferior do crânio. Na margem anterolateral do teto da cavidade oral localizam-se os processos alveolares e alvéolos dentários que abrigam a arcada dentária superior. 33 O teto da cavidade oral, constituído pelo palato ósseo (palato duro) é formado pelos processos palatinos dos ossos maxilares, localizados anteriormente as placas horizontais dos ossos palatinos, posteriormente. No término do palato duro, posteriormente, identificam-se duas aberturas denominadas de coanas ou abertura nasal posterior. Na face inferior do crânio, o osso temporal apresenta os tubérculos articulares e as fossas mandibulares, onde os côndilos mandibulares se juntam para constituir a articulação temporomandibular. Na face inferior do crânio o osso occipital apresenta um grande orifício denominado de forame magno. O forame magno serve como passagem para a medula espinhal, radículas nervosas dos nervos espinhais e meninges. Lateralmente ao forame magno do osso occipital encontram-se duas protuberâncias ósseas, chamadas de côndilos occipitais que se articulam com a primeira vértebra cervical, atlas. DESCRIÇÃO DA VISTA INTERNA DA BASE DO CRÂNIO Na vista interna a base do crânio (Figura 26) é dividida em três fossas, anterior, média e posterior. O limite da fossa anterior é feito pela pequena asa do esfenoide (porção medial) e, lateralmente, pelo osso frontal. O limite entre as fossas média e posterior é dado pela borda saliente do rochedo, uma parte do osso temporal. Nesta borda se insere a tenda do cerebelo. 34 Figura 26. Vista superior da base docrânio. O assoalho da fossa craniana anterior tem contribuições dos ossos frontal (porção orbitária), etmoide (apófise crista galli e lâmina crivosa ou cribriforme), e esfenoide (parte do corpo do esfenóide ou plano esfenoidal, na porção medial, e as duas pequenas asas, que terminam posterior e medialmente nas apófises clinoides anteriores). A superfície orbitária do osso frontal tem relevo irregular, que se adapta 35 aos sulcos e giros do lobo frontal (respectivamente, eminências mamilares e impressões digitais). Os orifícios da lâmina crivosa ou cribriforme do etmoide transmitem os pequenos ramos do nervo olfatório no seu trajeto entre a mucosa nasal e o bulbo olfatório. A fossa craniana média possui um formato semelhante a um morcego, a parte central composta da sela túrcica localizada no corpo de esfenóide e grandes depressões nas partes laterais. A sela túrcica é a formação óssea na superfície superior do corpo do esfenoide cercada por processos clinoides, anterior e posterior, onde fica alojada a glândula hipófise (Figura 27). Figura 27. Fossa hipofisária e forame magno. O clivo é a superfície lisa e inclinada da porção central da base do crânio, entre a sela túrcica e o forame magno. É formado pela fusão de dois ossos, o esfenóide e o occipital. A base do esfenoide e a base do occipital são separadas na vida fetal e 36 forma uma articulação de duas cartilagens, a sincondrose esfeno-occipital, através da qual se dá o crescimento da base do crânio até a idade adulta jovem. Figura 28. Fossas cranianas. A fossa posterior do crânio (Figura 28) é a maior e mais profunda das fossas cranianas, aloja o cerebelo, ponte e medula oblonga ou bulbo. A fossa posterior do 37 crânio é formada principalmente pelo osso occipital, mas a dorso da sela túrcica e parte do osso esfenóide formam o limite central anterior e a parte petrosa e mastóide do osso temporal contribuem com os limites anterolaterais. ORIFÍCIOS DA BASE DO CRÂNIO Orifícios Localização óssea Conteúdo nervoso Conteúdo vascular Forame cego Porção anterior- entre o osso frontal e etmóide ----------------------------- (V.) Veia Emissária Lâmina cribriforme do osso etmóide Porção anterior – osso etmoide N. Olfatório (Ipar) ------------------------- Canal óptico Porção média- entre o corpo e a asa menor do esfenoide N. Óptico (IIpar) (A.) Artéria Oftálmica Fissura orbital superior Porção média- entre as duas asas do esfenoide N. Oculomotor (IIIpar) N. Troclear (IV par) N. Oftálmico–V1 (V par) N. Abducente (VIpar) V. Oftálmica Forame redondo Porção média da asa maior do esfenoide N. Maxilar V2 (Vpar) -------------------------- Forame oval Porção média- asa maior do esfenoide N. Mandibular-V3 (Vpar) Artéria Meníngea Acessória 38 Ramo Motor do Vpar Forame espinhoso Porção média- asa maior do esfenoide Ramo Meníngeo do N. Mandibular V3 (Vpar) Vasos Meníngeos Médios Forame lacerado Porção média- entre o esfenoide e o rochedo temporal Plexo Simpático Artéria Carótida Interna Canal carotídeo Porção média- porção petrosa do temporal Plexo Simpático Artéria Carótida Interna Meato acústico interno Porção posterior- porção petrosa do temporal N. Facial (VIIpar) N. Vestíbulo-coclear (VIIIpar) * O N. Facial exterioriza-se do crânio através do forame estilo- mastoideo Artéria do Labirinto Forame jugular Porção posterior- entre o osso temporal e occipital N. Glossofaríngeo (IXpar) N. Vago (X par) N. Espinhal (XI par) Seio Sigmóideo Canal condilar Porção posterior - côndilo occipital N. Hipoglosso (XII par) --------------------------- Forame magno Porção posterior- entre as porções condilares do occipital Ramos Medulares do N. Espinhal (XI par) Medula Espinhal Artéria Vertebral Artéria Espinhal Anterior Artéria Espinhal 39 Posterior Plexo Venoso Vertebral Interno ARTICULAÇÕES DO ESQUELETO CEFÁLICO Os principais ossos da cabeça formam coletivamente o crânio. A maioria dos ossos é interconectada por suturas, que são articulações fibrosas imóveis. No feto e no recém-nascido, grandes espaços membranosos e não ossificados (fontículos) entre os ossos do crânio (Figura 29), particularmente entre os grandes ossos planos que cobrem o todo da cavidade do crânio e permitem que a cabeça se deforme durante sua passagem pelo canal do parto; o crescimento pós-natal. 40 Figura 29. Crânio de neo-nato (vista superior). A maioria dos fontículos se fecha durante o primeiro ano de vida. A ossificação completa dos finos ligamentos de tecido conjuntivo que separam os ossos nas linhas de sutura começa no final da terceira década e normalmente se completa na quinta década de vida. Há apenas três articulações sinoviais na cabeça. A maior é a articulação temporomandibular entre a mandíbula e o osso temporal. As outras duas articulações sinoviais localizam-se entre os três ossículos da orelha média – o martelo, a bigorna e o estribo (Figura 30). 41 Figura 30. Ossículos da orelha média. A articulação temporomandibular (ATM) é uma articulação que se encontra entre a parte escamosa do osso temporal e o processo condilar da mandíbula. Esta compreende dois tipos de articulação sinoviais classificadas como dobradiça e deslizamento. É formada pelo disco articular, processo condilar da mandíbula, ligamentos e a parte escamosa do osso temporal (Figura 31). Na parte escamosa do temporal, há uma superfície avascular composta de tecido conectivo fibroso em vez de cartilagem hialina. As principais áreas de suporte de carga localizam-se na vista lateral da parte escamosa, a cabeça da mandíbula e o disco articular. O denso tecido conectivo fibroso é mais espesso nas áreas de suporte de carga. Anteriormente a parte escamosa do temporal se relaciona com a eminência articular tornando-se o tubérculo articular, numa parte intermediária com a fossa mandibular e posteriormente a parte timpânica que se afila na direção do tubérculo articular. 42 A eminência articular é uma proeminência óssea na base do processo zigomático. O tubérculo articular está localizado na parte lateral da eminência articular, e fornece fixação para a cápsula articular e para o ligamento lateral. A fossa mandibular é uma depressão na qual se localiza o processo condilar da mandíbula. Superiormente a esta fina lâmina de osso encontra-se a fossa média do crânio. Parte timpânica é uma lâmina vertical localizada anteriormente ao meato acústico externo. O tubérculo articular posterior é uma extensão inferior da parte escamosa do temporal, forma a face posterior da fossa mandibular e fornece fixação para a cápsula articular. 43 Figura 31. Articulação temporomandibular. O disco articular apresenta-se vascularizado e inervado nas áreas periféricas, sendo na parte central é avascular e aneural. Ele está dividido em três porções, anterior - espessa porção se localiza anteriormente ao processo condilar da mandíbula com a boca fechada; intermediaria está localizada ao longo do tubérculo articular com a boca fechada; posterior, localizada superiormente ao processo condilar da mandíbula com a boca fechada. 44O disco articular divide a ATM (Figura 32) em compartimentos superior e inferior. A superfície interna dos dois compartimentos forma um revestimento sinovial que produz um líquido sinovial, tornando a ATM uma articulação sinovial. Figura 32. ATM O líquido sinovial atua como um lubrificante e também fornece as necessidades metabólicas para as superfícies articulares da articulação temporomandibular. A cápsula articular circunda completamente superfície articular do osso temporal e do processo condilar da mandíbula. Composta por tecido conjuntivo fibroso e reforçada ao longo das faces medial e lateral por ligamentos. Revestida por uma membrana sinovial altamente vascularizada. 45 Os ligamentos colaterais são o ligamento colateral medial e ligamento colateral lateral. O ligamento colateral medial conecta a face medial do disco articular ao polo medial do processo condilar da mandíbula. O Ligamento colateral lateral conecta a face lateral do disco articular ao polo lateral do processo condilar. Os dois são compostos por tecido conectivo colagenoso. O ligamento lateral apresenta-se espesso na face lateral da cápsula articular e impede o deslocamento lateral e posterior do processo condilar da mandíbula. É composto por duas porções separadas, a parte oblíqua externa e a parte horizontal interna. A parte oblíqua externa é a maior porção, presa ao tubérculo articular, cursa posteroinferiormente para se fixar em uma região imediatamente inferior ao processo condilar da mandíbula, isto limita a abertura da mandíbula. A parte horizontal interna é a menor porção, está presa ao tubérculo articular cursando horizontalmente para se fixar à parte lateral do processo condilar da mandíbula e disco articular, isto limita o movimento posterior do disco articular e do processo condilar. O ligamento estilomandibular é composto por um espessamento da fáscia cervical profunda. Estende-se do processo estiloide para a margem posterior do ângulo e ramo da mandíbula. Auxilia a limitar a protusão anterior da mandíbula. O ligamento esfenomandibular estende-se da espinha do osso esfenoide até a língua da mandíbula. A zona bilaminar localiza-se posteriormente ao disco articular. É composta pela lâmina posterior que contém fibras elásticas e ancora a face superior da porção posterior do disco articular à cápsula articular e ao osso temporal no tubérculo articular posterior e parte timpânica. O coxim retrodiscal corresponde à porção altamente vascularizada e inervada da ATM, formado por colágeno, fibras elásticas, tecido adiposo, nervos e vasos sanguíneos. DESCRIÇÃO DOS GRUPAMENTOS MUSCULARES DA CABEÇA E PESCOÇO 46 Os músculos da cabeça e do pescoço podem ser agrupados com base na função, inervação e derivação embriológica. Na cabeça: Os grupos musculares na cabeça incluem: Os músculos extraoculares (movimentam a órbita e abrem a pálpebra superior); • Músculos da orelha média, ajustam o movimento dos ossos da orelha média; • Músculos da face, determinam a expressão facial (Figura 33); 47 Figura 33. Músculos da face. • Músculos da mastigação, movimentam a mandíbula – relacionam-se com a articulação temporomandibular; • Músculos do palato mole, elevam e deprimem o palato (Figura 34); Figura 34. Palato. • Músculos da língua, movimentam e alteram a forma da língua (Figura 35).’ 48 Figura 35. Língua. No pescoço: No pescoço (Figura 36), os principais grupos musculares incluem: • Músculos da faringe, fazem a constrição e elevam a faringe; • Músculos da laringe, ajustam as dimensões da passagem de ar; • Músculos infra-hióideos, posicionam a laringe e o osso hioide no pescoço; 49 Figura 36. Pescoço (vista anterior). • Músculos contidos pela fáscia de revestimento (movimentam a cabeça e a extremidade superior); • Músculos posturais no compartimento muscular do pescoço (posicionam o pescoço e a cabeça). GLÂNDULAS SALIVARES As glândulas salivares são divididas em glândulas maiores e menores. Sua função é a produção e secreção de saliva para a cavidade bucal, auxiliando na digestão. O corpo humano possui seis glândulas maiores, três de cada lado da face e pescoço. São elas: glândula parótida, glândula submandibular e glândula sublingual. 50 As glândulas menores, normalmente entre 600 e 1000, são distribuídas aleatoriamente dentro da cavidade oral. Glândula parótida É a maior glândula salivar (Figura 37). Localiza-se anteriormente à orelha e atrás do ramo da mandíbula, pesa 14 g a 28 g, sendo intimamente associada aos ramos periféricos do nervo facial (VII). Seu ducto dirige-se anteriormente sobre o músculo masseter e atravessa a bochecha, podendo ser facilmente palpado com o dedo no interior da boca, quando ela está entreaberta. O ducto internaliza-se e se abre na cavidade oral na papila parotídea, próximo ao segundo molar superior.’ 51 Figura 37. Glândula parótida. Glândula submandibular É a segunda glândula em tamanho (Figura 38). Situada na porção posterior do assoalho da boca, dobra-se contra a face medial da mandíbula e pesa, em média, entre 10 g e 15 g, apresentando um ducto excretor que se abra na boca, abaixo da língua, através de um pequeno orifício lateral ao frênulo lingual. Contém tanto células serosas, como células mucosas. Figura 38. Glândula submandibular. Glândula sublingual 52 A glândula sublingual, em forma de amêndoa é a menor dos três pares de glândulas salivares maiores, pesando cerca de 2 g e estando situada no assoalho da boca, entre a porção lateral da língua e os dentes. Sua secreção é eliminada para o meio bucal por meio de um número variável de pequenos ductos que se abrem numa elevação da prega sublingual. Frequentemente, porções das glândulas sublinguais e submandibulares humanas misturam-se para formar um complexo sublingual-submandibular. Glândula salivar menor São numerosas glândulas salivares menores; existem como pequenas massas discretas que ocupam a submucosa na maior parte da cavidade oral. Os únicos locais onde elas não se encontram são a gengiva aderida, face dorsal do terço anterior da língua e a porção do terço anterior do palato duro. PESCOÇO O pescoço estende-se da cabeça aos ombros e ao tórax. Seu limite superior é ao longo das margens inferiores da mandíbula e das partes ósseas na face posterior do crânio. A parte posterior do pescoço é mais alta do que da anterior e liga as vísceras cervicais às aberturas posteriores das cavidades nasal e oral. O limite do pescoço estende-se da parte superior do esterno, ao longo da clavícula, indo ao acrômio adjacente que corresponde à projeção óssea da escápula. Posteriormente o limite inferior do pescoço é pouco definido, mas pode-se ter uma idéia aproximada traçando-se uma linha entre o acrômio e o processo espinhoso da vértebra C7 (7ª vértebra cervical). O pescoço apresenta quatro compartimentos principais mantidos por meio de um colar musculofascial externo: O compartimento vertebral contendo as vértebras cervicais e os músculos posturais associados. 53 Figura 39. Pescoço (vista posterior) O compartimento visceral contendo as glândulas tireoide, paratireoides e timo junto com partes dos tratos respiratório e digestório que passam entre a cabeça e o tórax. 54 Figura 40. Pescoço (vista anterior). 55 Figura 41. Laringe eglândula tireóide. Os dois compartimentos vasculares contendo os grandes vasos e o nervo vago. Esqueleto ósseo do pescoço As sete vértebras cervicais formam a estrutura óssea do pescoço. 56 As vértebras cervicais são caracterizadas por apresentarem corpos vertebrais pequenos; processos espinhosos curtos bífidos e processos transversos que contém um forame transverso (Figura 42). Figura 42. Vertebra cervical (vista superior). Em conjunto, os forames transversos formam uma passagem longitudinal de cada lado da coluna cervical para as artérias vertebrais que passam entre a base do pescoço e cavidade do crânio. O típico processo transverso de uma vértebra cervical apresenta tubérculos anterior e posterior para fixação de músculos. Os tubérculos anteriores são derivados dos mesmos elementos embriológicos que dão origem às costelas na região torácica. Ocasionalmente, desenvolvem-se costelas cervicais a partir destes elementos, particularmente em associação às vértebras cervicais inferiores. As duas vértebras cervicais superiores (C1 e C2) são modificadas para movimentar a cabeça (Figuras 43 e 44). 57 Figura 43. Atlas (vista superior) 58 Figura 44. Áxis. A sétima vértebra cervical, a vértebra proeminente, é encontrada em um ponto de transição entre região cervical e região torácica. Neste sentido, apresenta o processo espinhoso longo, característico das vértebras torácicas. Osso hioide O osso hioide é um pequeno osso “em forma de U” orientado no plano horizontal imediatamente superior à laringe, onde pode ser palpado e movimentado de lado a lado. O corpo do osso hioide é anterior e forma a base do U. Os dois braços do U (cornos maiores) projetam-se posteriormente, a partir das extremidades laterais do corpo. 59 O osso hioide é o único osso que não se articula diretamente com nenhum outro osso. Encontra-se suspenso no pescoço por ligamentos estilo-hióideos (que se inserem nos processos estiloides do crânio) e mantidos por meio dos músculos supra-hioídeos e músculos infra-hioídeos. O osso hioide atua como uma âncora óssea altamente móvel e resistente para diversos músculos e estruturas de partes moles na cabeça e no pescoço. Significativamente, está na interface entre três compartimentos dinâmicos, fixando- se superiormente, ao assoalho da cavidade oral; inferiormente, à laringe e posteriormente, à faringe. O pescoço contém estruturas especializadas (faringe e laringe) que conectam as partes dos tratos digestório e respiratório (cavidade nasal e oral), na cabeça, com o esôfago e a traqueia, que começam em posição relativamente baixa no pescoço e dirigem-se ao tórax. A faringe apresenta-se com a forma cilíndrica constituída por músculos e fáscias. Fixada acima, à base do crânio e, abaixo, às margens do esôfago. A cada lado, as paredes do meio cilindro são fixadas às margens laterais das cavidades nasais, à cavidade oral e a laringe. 60 Figura 45. Faringe. A laringe é a parte superior das vias aéreas baixas e fixa-se abaixo à parte superior da traqueia e acima, por uma membrana flexível, ao osso hioide, que por sua vez, está fixado ao assoalho da cavidade oral (Figura 45). Muitas cartilagens formam uma estrutura de sustentação para a laringe, que tem um canal central oco. As dimensões deste canal central podem ser ajustadas por estruturas de partes moles 61 associadas à parede laringe. As mais importantes destas são as duas pregas vocais laterais, que se projetam entre si dos lados adjacentes da cavidade laríngea (Figura 46). Figura 46. Pregas vocais. 62 No pescoço, os dois importantes níveis vertebrais se encontram entre C3 e C4, aproximadamente na margem superior da cartilagem tireóidea da laringe (que pode ser palpada) e onde a principal artéria em cada lado do pescoço (a artéria carótida comum) se bifurca em artérias carótida interna e externa; e entre C5 e C4, que marca o limite inferior da faringe e da laringe e o limite superior da traqueia e do esôfago. A identificação entre cartilagem cricóidea da laringe e o primeiro anel traqueal pode ser palpada.’ 63 Figura 47. Laringe. Figura 48. Língua, laringe e esôfago (vista posterior). Nervos cervicais São oito os nervos cervicais (C1 a C8): • C1 a C7 emergem do canal vertebral acima de suas respectivas vértebras; 64 • C8 emerge entre as vértebras C 7 e T1. Os ramos anteriores de C1 a C4 formam o plexo cervical. Os principais ramos deste plexo inervam os músculos infra-hioideos, o diafragma (nervo frênico) a pele nas partes anterior e lateral do pescoço, a pele sobre a parede torácica anterior e a pele nas partes inferiores da cabeça. Os ramos anteriores de C5 a C8, juntamente com um grande componente do ramo anterior de T1, formam o plexo braquial, responsável pela inervação dos membros superiores e porção superior do tórax. Trígonos do pescoço O pescoço quando analisado lateralmente apresenta um perfil praticamente quadrilátero contendo os seguintes limites: • Superior: borda inferior da mandíbula por meio de uma linha imaginária traçada entre o ângulo da mandíbula ao processo mastoide do osso temporal; • Inferior: na face superior da clavícula; • Posterior: na borda anterior do músculo trapézio; Os dois músculos (trapézio e esternocleideomastóideo) que são envolvidos pela fáscia de revestimento (constituindo parte do colar cervical externo) dividem o pescoço nos trígonos anterior e lateral. Trígono cervical anterior Os limites do trígono cervical anterior são: • Superior – borda inferior da mandíbula e uma linha imaginária traçada do ângulo da mandíbula ao processo mastoide do osso temporal; • Anterior – na linha mediana anterior do pescoço; • Posterior – na borda anterior do músculo esternocleidomastoide. 65 O trígono cervical anterior se apresenta cruzado pelo músculo digástrico, músculo estilo-hióideo e músculo omo-hióideo. A partir da disposição anatômica destes músculos o trígono cervical anterior é dividido em quatro subtrígonos: trígono carotídeo; trígono visceral; trígono submandibular; trígono submentoniano. Limites do trígono carotídeo: - borda anterior do músculo esternocleidomastóideo; - músculo digástrico (pelo ventre posterior); - músculo omo-hióideo; Limites do trígono visceral: - Músculo esterno-hióideo; - Músculo esterno-tireóideo; - Cartilagem tireóidea; - Cartilagem cricóidea. Trígono submentual - Linfonodos submentuais; - Pequenas veias que se unem para formar a veia jugular anterior. Trígono submandibular - Glândula submandibular; - Linfonodos submandibulares; - Nervo hipoglosso, nervos glossofaríngeo e vago; - Partes da artéria e veia faciais e artéria submentual. Trígono cervical lateral O trigono cervical lateral (ou posterior) possui: um limite anterior, formado pela margem posterior do músculo esternocleidomastóideo; um limite posterior, formado 66 pela margem anterior do músculo trapézio; e um limite inferior (base), formado pelo terço médio da clavícula entre os músculos trapézio e esternocleidomastóideo. O trígono cervical lateral é dividido pelo músculo omo-hióideo formando dois sub- trígonos: trígono supraclavicular ou omoclavicular e trígono occipital. Limites do trígono supraclavicular ou omoclavicular: - Ventre inferior do músculo omo-hióideo; - Borda posterior do músculo esternocleidomastoide;- 1/3 intermédio da clavícula. O trígono supraclavicular também se apresenta como trígono subclávio devido à presença de uma porção da artéria subclávia. Os conteúdos mais importantes do trígono supraclavicular são: parte da artéria subclávia; parte da veia subclávia; artéria supraescapular e linfonodos supraclaviculares. Limites do trígono occipital: - Borda posterior do músculo esternocleidomastóide; - Borda anterior do músculo trapézio; - Ventre inferior do músculo omo-hióideo. Os conteúdos mais importantes do trígono occipital são: parte da veia jugular externa; ramos posteriores do plexo nervoso cervical; nervo acessório; troncos do plexo braquial; artéria cervical transversa e os linfonodos cervicais. O assoalho do trígono occipital é formado pelas seguintes estruturas: músculo esplênio da cabeça; músculo escaleno posterior; músculo escaleno médio; músculo escaleno anterior; nervo acessório e nervo cutâneo braquial. Espaços do pescoço 67 A divisão do pescoço em triângulos, definidos pelos músculos esternocleidomastóideo, músculo digástrico e músculo omo-hioídeo, é útil para o cirurgião, havendo menor importância na imaginologia. O pescoço é dividido funcionalmente em compartimento supra-hioídeo e compartimento infra-hioídeo, por meio das inserções de aponeuroses, músculos e fáscias no osso hioide. Particularmente, a fáscia cervical profunda e os seus três folhetos, o folheto superficial, o folheto médio e o folheto profundo definem os espaços do pescoço. Esses espaços são denominados de espaço mucoso faríngeo; espaço parafaríngeo; espaço mastigador; espaço parotídeo; espaço carotídeo; espaço retrofaríngeo; espaço pré-vertebral e espaço perivertebral. O folheto superficial da fáscia cervical profunda contorna o pescoço envolvendo o músculo trapézio, o músculo esternocleidomastóideo, a glândula parótida, a mandíbula e os músculos da mastigação. Inserem-se nos processo mastóideo e na protuberância occipital externa. O folheto médio da fáscia cervical profunda tem três fáscias sendo a fáscia profunda, denominada fáscia bucofaríngea ou visceral, comumente é considerada como folheto médio da fáscia cervical profunda. Encontra-se aderida à face externa da fáscia faringobasilar e aos músculos da faringe envolvendo a mucosa faríngea, separando-a dos espaços parafaríngeo lateralmente e retrofaríngeo posteriormente. Insere-se anteriormente ao processo estiloide do osso temporal. A segunda fáscia insere-se no processo estiloide. Estende-se para frente e internamente ao longo do músculo tensor do véu palatino dividindo o espaço parafaríngeo em anterolateral e póstero-interno. A terceira fáscia atua como um septo sagital que une a fáscia bucofaríngea à fáscia pré-vertebral separando o espaço retrofaríngeo do compartimento retroestiloide do espaço parafaríngeo. O folheto profundo da fáscia cervical profunda envolve a coluna vertebral, os músculos paravertebrais e músculos pré-vertebrais, inserindo-se nos processos espinhosos e transversos das vértebras cervicais. 68 REFERÊNCIAS: 1. DÂNGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Atheneu, 2005. 2. ELIS, H., LOGAN, B., DIXON, A. Anatomia Seccional Humana. São Paulo, Editora Santos, 2001. 3. FLECKENSTEIN, P.; TRANUM-JENSEN, J. Anatomia em Diagnóstico por Imagens. 2ª ed. São Paulo: Manole, 2004. 4. GUYTON AC, Hall JE. Tratado de Fisiologia Médica. 11ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006. 5. Gray, Tratado de Anatomia Humana. 36ª Edição, Guanabara Koogan, 2000. 6. MOORE, K.L., DALLEY, A.F. Anatomia orientada para a clínica. 5ª. Edição. Editora Guanabara Koogan 2007. 7. NETTER, F. Atlas de Anatomia Humana. Editora Artmed. 2004. 8. SOBOTTA. Atlas de Anatomia Humana. Rio de Janeiro: Guanabara- Koogan, 2006. 9. SPENCE, A. P. Anatomia Humana Básica. 2ª ed. São Paulo: Manole, 1991. 10. ROHEN, J. W. Y., YOKOCHI, C. Atlas Fotográfico de Anatomía Humana. Editora Manole.2004. 11. Van de Graaff KM. Anatomia Humana. 6ª ed. São Paulo: Manole, 2003. 69 12. WEIR, J.; ABRAHAMS, P.H. Atlas de Anatomia Humana em Imagens. 2ª ed. São Paulo: Manole, 2000. 13. WOLF-HEIDEGGER, G. Atlas de Anatomia Humana. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
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