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UNIÃO EDUCACIONAL DE CASCAVEL - UNIVEL FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DE CASCAVEL CURSO DE DIREITO ANGÉLICA BONFANTI BRENDA KETLIN TEIXEIRA JOHNNY JUSTEN REAMI LARISSA PAULA STACHIO LARISSA VALDUGA UNIÃO ESTÁVEL: PRINCIPAIS ASPECTOS CASCAVEL - PR 2017 ANGÉLICA BONFANTI BRENDA KETLIN TEIXEIRA JOHNNY JUSTEN REAMI LARISSA PAULA STACHIO LARISSA VALDUGA UNIÃO ESTÁVEL: PRINCIPAIS ASPECTOS Trabalho acadêmico apresentado à disciplina de Direito Civil V, do Curso de Direito, da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. Prof.: Lygia Maria Copi 5º ano B - Noturno . CASCAVEL - PR 2017 1 INTRODUÇÃO O Direito de Família é considerado uma instituição basilar. Ele sofre diversas influências da sociedade, tornando-se mutável com o passar do tempo, em que o Direito, muitas vezes, não consegue acompanhar estar mudanças. No Brasil, o Direito de Família passou por três fases, sendo elas: o Direito de Família canônico ou religioso, com aplicação de normas de Portugal (ordenações), tendo a Constituição de 1891 definido o casamento como matéria Estatal; o Direito de Família institucional, com marco fundante o Código Civil de 1916, em que a família decorria apenas do matrimônio; e o Direito de Família constitucional, o qual seu fundamento jurídico é a Constituição Federal de 1988, em que a família não é fundada somente no casamento. Com esta última fase, tem-se que há possibilidade para que novas entidades familiares possam vigorar, sem restrições legais, como é o caso da união estável. Inicialmente, a união estável era reconhecida pela jurisprudência, em meados de 1977, como uma sociedade conjugal, não como uma entidade familiar. Já com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a mesma foi reconhecida como entidade familiar, no artigo 226, § 3º. Além da Constituição, importante diploma legal passou a vigorar no Brasil, sendo este a Lei 9.278, de 10 de maio de 1996. Sendo assim, o presente trabalho visa fazer uma análise da entidade familiar união estável, apontando, entre outros, suas características, direitos e deveres, além da conversão em casamento. 2 UNIÃO ESTÁVEL A união estável, como entidade familiar, deve ser analisada a partir de 1988, com a promulgação da Constituição Federal. Anteriormente, a união estável não era bem vista, sendo comparada ao concubinato, que era considerado imoral e ilícito ante ao casamento, conforme expõe Paulo Lôbo (2015, p. 151). Tartuce (2015, p. 1020) adverte que qualquer estudo da união estável deve ter como ponto de partida a CF/1988, que reconhece a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, prevendo que a lei deve facilitar a sua conversão em casamento. Duas conclusões fundamentais podem ser retiradas do Texto Maior. A primeira é que a união estável não é igual ao casamento, eis que categorias iguais não podem ser convertidas uma na outra. A segunda é que não há hierarquia entre casamento e união estável. São apenas entidades familiares diferentes, que contam com a proteção constitucional. Após a Lei do Divórcio (de 1977), e antes da Constituição de 1988, houve desdobramentos para o conceito de concubinato, até porque vigia a regra de que o casamento era a única forma de constituir família, conforme descreve Lôbo (2015, p. 152), a união livre entre pessoas solteiras, ou entre pessoas separadas de fato, separadas judicialmente e divorciadas, ou entre uma destas e outra solteira, deixou de qualificar-se como concubinato ao converter- se em união estável. A Constituição Federal traz em seu artigo 226, § 3º, sobre a união estável, equiparando-a então a entidade familiar, como pode se ver: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. Cabe ressaltar que, para a Constituição, não há hierarquia entre as entidades familiares, ou seja, o casamento não pode ser superior a união estável ou união homoafetiva, entre outras, ou o inverso. Para isso, vigora o princípio da igualdade, pois há igualdade entre as entidades familiares, estabelecido pela própria Constituição. Além da previsão constitucional, em 1996 entrou em vigor a Lei nº 9.278, que regulamentou a união estável. Logo no artigo 1º, tem-se que “é reconhecida como entidade familiar a convivência duradoura, pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família”. Esta lei também prevê direitos e deveres dos companheiros, além da dissolução da união estável ou sua conversão em casamento. A Lei nº 8.971, de 1994, regulamenta o direito dos companheiros em relação aos alimentos e à sucessão, trazendo regras acerca de quem pode receber os alimentos e quem poderá participar da sucessão. Ainda, em se tratando de previsão legal, o Código Civil de 2002, entre os artigos 1.723 e 1.727, traz um título específico sobre a união estável, estabelecendo que “é reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”. Maria Berenice Dias (2015, p. 243) descreve sobre as questões terminológicas, em que expõe os termos mais usados nos textos legais para identificar os sujeitos de uma união estável são companheiro (L 8.971/94) e convivente (L 9.278/96). O Código Civil prefere o vocábulo companheiro, mas usa também convivente. Sobre a conceituação da união estável, Gonçalves (2012, p. 606) considera que o artigo 1.723 do Código Civil é quem estabelece o conceito. Já para Maria Berenice Dias (2015, p. 241) o Código Civil não traz o conceito de união estável, e que o mesmo não poderia conceituá-lo, até porque o Direito de Família está sempre em transformação, tanto social quanto cultural. Paulo Lôbo (2015, p. 150-154) considera a união estável um ato-fato jurídico, ou ato real, em que basta sua configuração fática para que a relação jurídica se estabeleça, descrevendo que “é a entidade familiar constituída por duas pessoas que convivem em posse do estado de casado, ou com aparência de casamento (more uxorio)”. 2.1 CARACTERÍSTICAS As características da união estável podem ser encontradas no artigo 1.723 do Código Civil, sendo a convivência pública, contínua e duradoura estabelecida com o objetivo de constituição de família. Maria Berenice Dias (2015, p. 244) esclarece que o Código Civil, ao elencar as características ao invés de dar contornos precisos à união estável, “preocupa-se em identificar a relação pela presença de elementos de ordem objetiva, ainda que o essencial seja a existência de vínculo de afetividade, ou seja, o desejo de constituir família”. Paulo Lôbo (2015, p. 153) traz características elencadas também na Constituição Federal, no artigo 226, § 3º, e na decisão do Supremo Tribunal Federal, com a ADI 4.277/2011, como a relação afetiva entre os companheiros e a possibilidade de conversão em casamento, além das características elencadas no parágrafo anterior. Lôbo (2015, p. 154) ainda ressalta que a convivência entre as duas pessoas, como requisito exclusivo, deve se dar em conformidade com o costume de casado, ou como se casadosfossem, com todos os elementos essenciais: impedimentos para constituição, direitos e deveres comuns, regime legal de bens, alimentos, autoridade parental, relações de parentes, filiação. Maria Berenice Dias (2015, p. 246-247) esclarece que a união estável não é definida como um estado civil, e que isto impacta principalmente sobre a questão patrimonial do casal, já que bens adquiridos durante a união estável são presumidos como pertencentes a ambos os conviventes. Ainda, a autora ressalta que é de extrema importância definir a união estável como modificadora de estado civil, para que assim possa-se garantir segurança nas relações jurídicas e evitar prejuízos, tanto para os conviventes quanto para terceiros. Dias (2015, p. 247) também explica que “na união estável qualquer dos companheiros pode adotar o nome do outro”, sendo que a Lei de Registros Públicos (Lei 6.015, de 1973) que regula esta hipótese, em seu artigo 57, § 2º: Art. 57. A alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após audiência do Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela imprensa, ressalvada a hipótese do art. 110 desta Lei. § 2º A mulher solteira, desquitada ou viúva, que viva com homem solteiro, desquitado ou viúvo, excepcionalmente e havendo motivo ponderável, poderá requerer ao juiz competente que, no registro de nascimento, seja averbado o patronímico de seu companheiro, sem prejuízo dos apelidos próprios, de família, desde que haja impedimento legal para o casamento, decorrente do estado civil de qualquer das partes ou de ambas. Por fim, no que concerne ao regime de comunhão de bens na união estável, o artigo 1.795 do Código Civil traz que “na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens”. 2.2 DIREITOS E DEVERES A Lei 9.278, de 1996, que regula o § 3° do art. 226 da Constituição Federal traz em seu artigo 2º direitos e deveres inerentes aos conviventes em união estável, conforme se vê: Art. 2° São direitos e deveres iguais dos conviventes: I - respeito e consideração mútuos; II - assistência moral e material recíproca; III - guarda, sustento e educação dos filhos comuns. O artigo 1.724 do Código Civil traz sobre os deveres na união estável, em que: “As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos”. É necessário estabelecer que os direitos e deveres relativos à união estável não são os mesmos relacionados ao casamento, uma vez que para este os deveres são o de fidelidade recíproca, vida no domicílio conjugal e mútua assistência (previsto no artigo 1.566 do Código Civil. Somente no que diz respeito à guarda, sustento e educação dos filhos é que ambas entidades familiares se assemelham. Paulo Lôbo (2015, p. 160) ressalta que “os deveres de lealdade e respeito configuram obrigações naturais, pois são juridicamente inexigíveis, além de não consistirem em causas de dissolução”. O autor ainda menciona sobre o dever de assistência, em que esta pode ser “moral (direito pessoal) e material (direito patrimonial, notadamente alimentos) ”. Sobre a convivência em comum e o domicílio conjugal, Maria Berenice Dias (2015, p. 251) esclarece que “na união estável, inexiste essa imposição. Nada é dito sobre o domicílio familiar. Assim, a coabitação, ou seja, a vida sob o mesmo teto, não é elemento essencial para sua configuração”. Ainda, como direito inerente àqueles que convivem em união estável, tem-se a Lei 8.971, de 1994, que regula sobre a possibilidade de alimentos e à sucessão, instituindo regras para tais direitos. 2.3 REQUISITOS O artigo 1273 do Código Civil estabelece que “É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”. Tratam-se dos elementos que caracterizam a união estável. Assim, ao exigir a convivência pública, contínua e duradora, o ordenamento jurídico exigiu a demonstração da estabilidade dos companheiros, através de uma ligação permanente do casal para fins essenciais da vida social, configurando a aparência de “casamento” perante terceiros. Além de haver ainda, a finalidade de constituir família (MEDEIROS, 2015). A fidelidade também é outro requisito, esta relacionada ao dever recíproco de dedicação exclusiva e sincera entre os companheiros. Estando a palavra fidelidade substituída por lealdade no CC de 2002, pois é uma expressão mais ampla, já que voltada para toda a área de honestidade e convivência. A fidelidade é exigida ainda, tendo em vista o princípio da monogamia, que é um norteador do nosso sistema jurídico. (MEDEIROS, 2015). 3 O CONTRATO DE UNIÃO ESTÁVEL E A ESCRITURA PÚBLICA DECLARATÓRIA DE UNIÃO ESTÁVEL Inicialmente, convém ressaltar que a oficialização da união estável é uma forma de garantir uma segurança entre os companheiros, tendo em vista que tanto o contrato quanto a declaração são documentos devidamente registrados em cartório comprovando tal situação. A união estável é declarada através de uma Escritura Pública Declaratória de União Estável ou por meio de um Contrato de União Estável, não possuindo um prazo de validade. Além disso, não muda o estado civil, portanto o indivíduo permanecerá com o seu estado civil anterior. Para a constituição da união estável o indivíduo não pode ter impedimentos, conforme dispõe o § 1º do art. 1.723 do Código Civil: “A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente”. Nesse sentido, o art. 1.521 do Código Civil dispõe: Art. 1.521. Não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. Desse modo, para constituir união estável é necessário, além da convivência pública, contínua e duradoura estabelecida com o objetivo de constituição de família, ambos os companheiros não podem estar impedidos, conforme as hipóteses legais supracitadas. 3.1 ESCRITURA PÚBLICA DECLARATÓRIA DE UNIÃO ESTÁVEL A Escritura Pública Declaratória de União Estável tem o objetivo de dar publicidade ao ato perante terceiros. Para a realização de Escritura alguns documentos são necessários e podem variar de cartório para cartório, via de regra é necessário apresentar o documento de identidade original, CPF, comprovante de endereço e Certidão de Estado Civil atualizada. Além disso, a escritura é lavrada no Cartório de Notas por um notário oficial, não necessitando de testemunhas. Após a realização da Escritura Pública de União Estável é emitida uma Certidão de União Estável certificando a fé pública da Escritura, essa certidão poderá ser utilizada pelo casal para comprovar a união estável perante órgãos que assim exigirem. Outro aspecto importante é quanto a realização da união estável por meio de procuração nos casos em que os conviventes não puderem estar presentes nomomento da lavratura da escritura. Tal procuração será válida e vai gerar efeitos, bastando apenas outorgar poderes específicos para um terceiro realizar o ato. Por fim, para a dissolução da união estável realiza-se por meio de uma nova escritura declarando a dissolução da união estável, com a devida averbação na escritura originária. Outrossim, pode ser realizada por um procurador, com poderes específicos para o ato, desde que a dissolução seja consensual ou quando não haja filhos menores/incapazes. 3.2 CONTRATO DE UNIÃO ESTÁVEL Outra forma de oficializar a união estável é através de um Contrato Particular de União Estável, assinado pelas partes, com firma reconhecida e pelo menos 2 testemunhas, maiores e capazes. No caso do contrato é aconselhável a presença de um advogado, pois é possível estipular cláusulas conforme a vontade dos conviventes, tais como o regime de bens e a data em que a união iniciou. Para o registro do Contrato de União Estável será necessária cópia autenticada ou originais da carteira de identidade, CPF e certidão de nascimento, certidão de casamento com averbação de divórcio ou certidão de casamento e certidão de óbito do ex-cônjuge, para comprovação do estado civil. Após a celebração do contrato, será necessário o registro no Cartório de Registro de Títulos e Documentos para gerar publicidade perante terceiros. A partir do registro, assim como na Escritura Pública Declaratória de União Estável, no Contrato de União Estável poderá ser obtida a Certidão de União Estável. 3.3 REGIME DE BENS NA UNIÃO ESTÁVEL Atualmente, nosso ordenamento jurídico reconhece a união estável como entidade familiar, muito embora o estado civil dos conviventes continue a ser aquele preexistente ao estabelecimento da vida em comum. Desta forma, apesar do reconhecimento da união estável como entidade familiar e dos efeitos patrimoniais dela advindos, o atual ordenamento jurídico continua considerando apenas 5 tipos de estados civis: solteiro, casado, separado judicialmente, divorciado e viúvo. Nesse sentido, se nada for pactuado quanto ao regime de bens na união estável, adota-se tacitamente o regime de comunhão parcial de bens, de acordo com o art. 1.725 do Código Civil: Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens. Assim, no regime de comunhão parcial de bens, os bens adquiridos na constância da relação pertencem a ambos os conviventes, como preceitua o Código Civil: Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes. Art. 1.660. Entram na comunhão: I - os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges; II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior; III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges; IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge; V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão. Contudo, apesar de ser a regra, é possível os conviventes estipularem regime de bens diferente da comunhão parcial. Sobre o assunto, Paulo Lôbo doutrina: os companheiros, podem, antes ou após o início da união estável, estipular regime de bens diferentes da comunhão parcial, adotando qualquer um dos previstos para os cônjuges, ou criando um próprio. O art. 1.725 do Código Civil faculta aos companheiros celebrarem contrato escrito para tal fim, mediante instrumento particular ou público. (LOBO,2010.p.177). Ademais, o contrato equivalente para o casamento é o pacto antenupcial, que apenas pode ser realizado antes da habilitação para aquele, somente por escritura pública. Embora não seja exigido o registro do contrato no registro imobiliário, ressalta-se que o regime de bens diferente da comunhão parcial só será válido perante terceiros com o registro, objetivando dar publicidade ao ato. Outrossim, em virtude do princípio da liberdade, é perfeitamente admitido atribuir ao contrato de regime de bens eficácia retroativa. Porém, com relação ao pacto antenupcial aplica-se o art. 1.655 do Código Civil: Art. 1.655. É nula a convenção ou cláusula dela que contravenha disposição absoluta de lei. Logo, a retroação dos efeitos do contrato tem como limite a proteção dos interesses de terceiros de boa-fé. Ainda, quanto ao regime obrigatório de separação de bens, convém ressaltar o art. 1.641 do Código Civil, nos seguintes termos: Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento; II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial. Nesse aspecto, o art. 1.641 do Código Civil não é aplicável à união estável, tendo em vista que tal dispositivo se aplica exclusivamente ao casamento. Portanto, caso uma pessoa com mais de 70 anos estabelecer união estável, se submeterá ao regime legal supletivo da comunhão parcial de bens: Havia uma circunstância que talvez fizesse a união estável mais vantajosa do que o casamento: quando um, ou ambos, têm mais de 70 anos. Para quem casar depois dessa idade, o casamento não gera efeitos patrimoniais. É o que diz a lei (CC 1.641, II), que impõe o regime de separação obrigatória de bens. Como essa limitação não existe na união estável, não cabe interpretação analógica para restringir direitos. (DIAS,2013.p.190). Todavia, merece destaque: Ementa: UNIÃO ESTÁVEL. SEXAGENÁRIO. REGIME DE BENS. SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA (ART. 1.641, II, DO CC/02) . MEAÇÃO. PROVA DO ESFORÇO MATERIAL, QUE NÃO SE PRESUME COM A CONVIVÊNCIA. ALIMENTOS ENTRE EX- CONVIVENTES. TRANSITORIEDADE. Por força do art. 258 , § único , inciso II , do Código Civil de 1916 (equivalente, em parte, ao art. 1.641 , inciso II , do Código Civil de 2002), ao casamento de sexagenário, se homem, ou cinquentenária, se mulher, é imposto o regime de separação obrigatória de bens. Por esse motivo, às uniões estáveis é aplicável a mesma regra, impondo-se seja observado o regime de separação obrigatória, sendo o homem maior de sessenta anos ou mulher maior de cinquenta. (STJ, REsp 646.259-RS, 4ª T., Rel. Min. Luis Felipe Salomão,p.24/08/2010). Nesse ínterim, o Superior Tribunal de Justiça estendeu essa limitação, sendo necessário observar o regime de separação obrigatória na união estável, tal orientação vem sendo acolhida pela jurisprudência. Diante disso, entende-se que na união estável os conviventes têm a faculdade de firmar contrato de convivência, estipulando cláusulas segundo suas vontades e, no caso de silêncio, incide o regime da comunhão parcial de bens, bem como é possível estipular regime diverso da comunhão parcial, conforme explanado acima. 4 CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO Para os defensores da primazia do casamento, o enunciado da Constituição Federal de 1988 em seu artigo 226 § 3º (transcrito abaixo), pôs a união estável em plano inferior ou a considerou como rito de passagem, ou seja, passagem para o casamento. Art. 226 § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. Por mais que a trate como entidade familiar, esta noção não está de acordocom os princípios constitucionais, sendo a igualdade das entidades e a liberdade que as pessoas devem ter ao constituírem suas famílias. Contudo, este parágrafo 3º do artigo 226 da nossa Constituição deve ser entendido, como meio do legislador romper os obstáculos, e não de maneira restritiva e com visão dos conservadores que defendem apenas o matrimônio como sendo algo a ser seguido autoritariamente. Vejamos as brilhantes palavras do doutrinador Paulo Lôbo (2015, p.164) a respeito do assunto: Se os companheiros desejarem manter a união estável até o fim de suas vidas podem fazê-lo, sem impedimento legal.Serão livres para convertê-la em casamento, se quiserem, sem imposição ou indução legal; da mesma forma que as pessoas casadas podem livremente dissolver seu casamento e constituírem união estável, o que tem ocorrido com certa frequência com casais divorciados que se reconciliam, mas não desejam retornar à situação anterior. Na passagem acima Lôbo, traz a expressão “Serão livres para convertê-la em casamento, se quiserem, sem imposição ou indução legal”. E de fato são livres quanto a escolha, contudo a conversão deve observar alguns requisitos expressos em lei. O Código Civil de 2002 em seu artigo 1726 apenas exige para conversão da união estável em casamento, pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil.Sendo então subscrito pelos mesmos, ou por seus procuradores. Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil. Cabe ressaltar, que não devem haver exigências legais a ponto de dificultar esta conversão, pois irá de contraponto ao disposto na Constituição Federal de 1988 e ao Código Civil de 2002. Cumpre observar que a união estável tenha sido constituída sem violação aos impedimentos matrimoniais previstos no artigo 1723 do Código Civil de 2002, pois a ela são igualmente aplicáveis. Vejamos: Art. 1723. § 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente. Art. 1.521. Não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. Dentro do mesmo dispositivo legal mencionado no parágrafo anterior, em seu § 2o, consta que “as causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável. ” Art. 1.523. Não devem casar: I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros; II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal; III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal; IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas. Para o casamento, a incidência de impedimentos leva à nulidade (art. 1.548); para a união estável, à inexistência (art. 1.723, § 1º, que alude a “não se constituirá”). Nesta hipótese, pede‐se judicialmente a declaração da inexistência da relação jurídica de união estável. A prova da união estável se dá com a juntada ao pedido de habilitação da escritura pública ou contrato particular que declarem sua existência e que definam o regime de bens ou de sentença judicial que declare sua constituição. Outro aspecto relevante que deve ser trazido à tona diz respeito a obrigatoriedade da homologação judicial da habilitação para o casamento, prevista no artigo 1.526 do código civil de 2002, e posteriormente suprimida pela Lei 12.133 de 2009. Ou seja, anteriormente era obrigatória a homologação. Porém, ainda vigem em nosso ordenamento, disposições que geram divergências de entendimento, pois segundo a doutrina, a redação do artigo 1.726 do Código Civil de 2002 é no sentido da inconstitucionalidade do procedimento judicial, pois violaria a diretriz constitucional da facilitação da conversão (GAMA, 2008, p.128). Leia-se a redação do artigo “A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz...”. Segundo Paulo Lôbo (2016, p.165), o procedimento facilitador deve considerar as seguintes etapas: Os companheiros sem impedimentos legais para casar (art. 1521 do código civil) poderão, se comum acordo e a qualquer tempo, requerer a conversão da união estável em casamento, mediante requerimento ao Oficial do Registro Civil da circunscrição de seu domicílio, juntando os documentos previstos no art. 1.525 do Código Civil, devendo as testemunhas certificar a existência da união estável, sob as penas da lei; Os companheiros que não desejarem manter o regime legal supletivo de comunhão parcial de bens deverão apresentar pacto antenupcial ou o contrato escrito de igual finalidade, previsto no art. 1.725 do Código Civil; O Oficial do Registro Civil, considerando regular a documentação, deve submeter o requerimento de conversão da união estável em casamento civil à homologação do Juiz corregedor do referido Oficial, procedendo-se o respectivo assento. Lembrando que a conversão da união estável em casamento não produz efeitos retroativos, pois prevalece o princípio da proteção dos interesses de terceiros, incluindo credores, ou seja, o que foi construído (relações pessoais e patrimoniais), durante o período da união estável mantém seus efeitos próprios. Após a conversão em casamento se os cônjuges optarem pelo regime de separação total de bens, mediante pacto antenupcial, os bens adquiridos durante a união estável em regime de comunhão parcial, permanecem em condomínio. Cumpre ressaltar que a conversão não é possível após o falecimento de um dos conviventes, pois é indispensável a manifestação de ambos. Pode-se verificar que a ideia principal da conversão da união estável em casamento é facilitar o procedimento, desburocratizando o mesmo, e elevando ao grau de entidade familiar assim como o casamento tradicional, afinal, a sociedade é cíclica e o direito deve acompanhar as mudanças, proporcionando escolhas as pessoas, que não diminuam seus direitos, mas os elevem. 5 EXTINÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL A união estável pode ser extinta por dissolução inter vivos ou por dissolução causa mortis, onde é aberta a sucessão. A união estável não estabelece um termo inicial, muito menos um termo final, configura-se como um relacionamento íntimo exposto para a sociedade e, quando não há mais interesse por parte de um ou ambos com companheiros ocorrem a dissolução. O término da união estável não depende de qualquer ato jurídico, seja por parte dos companheiros seja por decisão judicial. No caso da união estável não se dissolve ato jurídico, mas sim a convivência more uxorio(convivência como marido e mulher). Esta dissolução de convivência pode ser litigiosa ou amigável. Na amigável, é realizada por instrumento particular, onde as partes definem acerca de partilha de bens, alimentos e guarda de filhos. Não se faz necessária homologação judicial. Por outrolado, se a dissolução for litigiosa, deverá ocorrer mediante pedido judicial. Este pedido será cumulado com pedido de declaração incidental da existência da relação jurídica da união estável se houver negativa por uma das partes, e mesmo se a existência da união não for questionada, pode surgir controvérsia a respeito do termo final, isso vai influenciar em relação aos reflexos jurídicos. Basicamente esta ação declaratória se limitará a declarar a existência ou inexistência da união, a não ser que haja cumulação com outros pedidos relacionados aos demais efeitos por ela emanados, no campo pessoal ou patrimonial, no caso os reflexos mencionados acima. Rafael Calmon Rangel (2011), em seu artigo breves notas sobre a sentença que reconhece a existência de união estável, ressalta que: A sentença que declara a existência ou inexistência da união estável sem deliberar a respeito dos outros efeitos é meramente declaratória, o que torna seu ajuizamento passível de ocorrer a qualquer momento, por não se submeter a prazos prescricionais ou decadenciais. Se considerarmos uma comparação com o casamento, o divórcio dissolve o casamento e tem eficácia desconstitutiva, enquanto a ação de reconhecimento da união estável é exclusivamente declaratória. Limita-se a sentença a reconhecer que a relação existiu, fixando seu termo inicial e final. Segundo Maria Berenice Dias (2015, p. 264): [...] é inadequado nominar a ação de dissolução de união estável, até porque, quando as partes vão a juízo, a união já esta dissolvida. A sentença somente reconhece a existência e identifica o período de convivência em face de eventuais efeitos de ordem patrimonial. Contudo é possível que os companheiros busquem o reconhecimento jurídico da relação de modo consensual, por meio de justificação judicial ou ação declaratória. De modo a esclarecer, a justificação judicial tem basicamente a finalidade básica da constituição de um documento para servir de prova para futuro processo. Vejamos decisão dos tribunais a respeito do assunto: APELAÇÃO CÍVEL. JUSTIFICAÇÃO JUDICIAL DE UNIÃO ESTÁVEL. EXTINÇÃO DO FEITO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. ANULAÇÃO DA SENTENÇA. PEDIDO JURIDICAMENTE POSSÍVEL. ART. 861 DO CPC. RITO ADEQUADO. ENTENDIMENTO DO C. STJ. I - A finalidade da ação para a apelante é a de justificar judicialmente a existência de união estável entre ela e Laudivino Jacinto de Oliveira, já falecido, com a intenção de posteriormente utilizar a justificação homologada como prova em ação para reivindicar direitos patrimoniais. II O pedido é juridicamente possível, já que amparado no art. 861 do CPC. III É possível a utilização de ação de justificação judicial para fazer prova acerca da existência de união estável. Rito adequado para o fim pretendido. Entendimento do c. STJ. IV Apelação Cível conhecida e provida. (TJ-AM - APL: 00006783420148044400 AM 0000678- 34.2014.8.04.4400, Relator: Ari Jorge Moutinho da Costa, Data de Julgamento: 25/05/2015, Segunda Câmara Cível, Data de Publicação: 27/05/2015). Apenas de modo a parear com nosso atual ordenamento, o artigo 861 acima citado na ementa, está retratado no código de processo civil vigente no artigo 381, § 5º, que visa justificar a existência de algum fato ou relação jurídica para simples documento. Este instituto é mais uma ferramenta à disposição desta nova entidade familiar, que de fato não é tão nova, contudo apenas não tinha seu devido reconhecimento no ordenamento jurídico. Se no decorrer do processo não houver acordo entre as partes, o juiz decidirá sobre todas as questões que envolvem o litígio (partilha de bens, filhos, etc.^). Consequentemente a tudo isso, qualquer das partes pode solicitar ao juiz em caráter de medida cautelar ou no curso do processo a separação de corpos, “quando ambos permanecerem habitando a mesma moradiacom insuportabilidade da convivência ou quando houver fundado receio à segurança pessoal”. (LÔBO, 2015, p. 166). Outrora, com o fim da união estável exigia-se da outra parte indenização por serviços prestados, devido que a união estável era estranha ao direito de família, aplicava-se o direito obrigacional. Contudo, com o advento da Constituição Federal de 1988, esta possibilidade não é mais viável, pois a união estável é reconhecida como entidade familiar, não cabendo mais ao companheiro o pedido de indenização. No caso a pretensão correta seria aos alimentos, conforme disposto na redação do artigo 1.694 do Código Civil de 2002. A respeito do assunto cita-se um REsp.do STJ, julgado no ano de 2005: CIVIL. FAMÍLIA. UNIÃO ESTÁVEL. Desfeita a união estável, a mulher não tem direito à indenização por serviços prestados. Recurso especial não conhecido. (STJ - REsp: 264736 RS 2000/0063167-1, Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros, Data de Julgamento: 06/09/2005, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 13/02/2006). Note-se que a dissolução da união estável, não dissolve um ato jurídico como no casamento, mas sim a convivência entre homem e mulher. E que hodiernamente, não é mais possível requerer indenização por serviços prestados, conforme REsp supracitado. Contudo tem a previsão de pagamento de alimentos. Ainda a sentença que declara a existência ou inexistência da união estável sem deliberar a respeito dos outros efeitos não se submete a prazos prescricionais ou decadenciais, podendo ser ajuizada a qualquer tempo. 6 ASPECTOS ATUAIS: CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO PROJETO DE LEI 612/ 2011 A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado (CCJ) aprovou nesta quarta-feira 08 de março de 2017, o projeto de lei que reconhece a união estável entre pessoas do mesmo sexo, projeto de número (PLS 612/2011). De autoria da senadora Marta Suplicy PMDB-SP, altera o Código Civil, reconhecendo como entidade familiar a união “entre duas pessoas”, de forma pública, contínua e com o objetivo de constituir família. A proposta ainda garante que a união gay possa ser convertida em casamento civil a pedido dos companheiros ao oficial do Registro Civil, sem necessidade de celebração. Contudo o projeto ainda precisa passar por um turno suplementar de votação na CCJ, antes de seguir para análise da Câmara dos Deputados. De acordo com redação do projeto, as principais modificações no Código Civil de 2002 se aprovado, serão nos artigos 1.514, 1.535,1.565,1.567, 1.642, 1.664, 1.723 e 1.726, que passam a vigorar com a seguinte redação: Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que duas pessoasmanifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados. (A alteração está nos termos “homem e a mulher”, substituídos por “duas pessoas”). Art. 1.535. Presentes os contraentes, em pessoa ou porprocurador especial, juntamente com as testemunhas e o oficial do registro, o presidente do ato, ouvida aos nubentes a afirmação de que pretendem casar por livre e espontânea vontade,declarará efetuado o casamento, nestes termos: “De acordo coma vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes um ao outro, eu, em nome da lei, vos declaro casados. (A alteração consiste em suprimir os termos “de vos receberdes por marido e mulher” para “de vos receberdes um ao outro”). Art. 1.565. Pelo casamento, as duas pessoas assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros eresponsáveis pelos encargos da família. (Alteração novamente de “homem e mulher”, por “duas pessoas”). Art. 1.567. A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelos cônjuges, sempre no interesse do casal e dos filhos. (Alteração dos termos “pelo marido e pela mulher” passando a vigorar “peloscônjuges”). Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, qualquer dos membros do casal podem livremente: (Alteração de “o marido quanto a mulher” para “qualquer dos membros”). Art. 1.664. Os bens da comunhão respondem pelas obrigações contraídas por qualquer dos membros do casal para atender aos encargos da família, às despesas de administração e às decorrentes de imposição legal. (Contraídas pelo “marido ou pela mulher”, substituído por “qualquer dos membros”). Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre duas pessoas, configurada na convivência pública,contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. (Alteração dos termos “entre homem e mulher”, para “entre duas pessoas”). Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em casamento,mediante requerimento formulado pelos companheiros ao oficial do Registro Civil, no qual declarem que não têm impedimentos para casar e indiquem o regime de bens que passam a adotar, dispensada a celebração. Parágrafo único. Os efeitos da conversão se produzem a partir da data do registro do casamento. (A alteração neste dispositivo, substituiu o termo “mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil”, por mediante “requerimento dos companheiros ao oficial do Registro Civil”. Neste ato deve ainda ser observado a declaração quanto a impedimentos para casar e regime de bens, dispensando a celebração. Além do mais, foi incluído o parágrafo único). Denota-se que a principal alteração observada em todos os artigos supracitadas giram em torno da substituição do termo homem e mulher, por duas pessoas, ou qualquer dos membros, com objetivo de igualar a união estável homoafetiva, com base nos princípios constitucionais. Inclusive importante se faz dentro deste panorama, transcrever parte do parecer da CCJ, a respeito do assunto: No mérito, observa-se que o projeto está em consonância com as transformações pelas quais passa a nossa sociedade, especialmente no que tange à dinâmica das relações sociais quanto ao papel alcançado pelas uniões homoafetivas. Como bem situado pela autora da matéria, o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo encontra amparo no princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, de que trata o art. 1º da Constituição Federal, e nos objetivos essenciais da República Federativa do Brasil, delineados pelo art. 3º do texto constitucional, que menciona a promoção do bem de todos, sem forma alguma de discriminação, e ainda no princípio da igualdade, nos termos do qual todos são iguais perante a lei, sem distinção alguma, a teor do disposto no art. 5º da Carta Magna.(SENADO FEDERAL - Da COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO, JUSTIÇA E CIDADANIA, sobre o processo PROJETO DE LEI DO SENADO n°612, de 2011, RELATOR: Senador Roberto Requião, PARECER (SF) Nº 10, DE 2017, PRESIDENTE: Senador Edison Lobão, 08 de Março de 2017). Observamos que as transformações da sociedade exigem dia a dia um amoldamento de nossos legisladores, juristas, da população como um todo, para suprir as necessidades apresentadas, sempre levando em consideração os princípios basilares da nossa Constituição Federal na máxima do princípio da Dignidade da Pessoa Humana. 7 DIREITOS SUCESSÓRIOS Entende-se por sucessão, a substituição, onde um toma o lugar de outro, havendo assim, a substituição do titular de um direito. A abertura da sucessão ocorrerá com a morte do titular do direito, que transmite imediatamente seus bens aos herdeiros legítimos e testamentários. A sucessão pode decorrer de lei (legítima), está prevista nos artigos 1829 e 1856, sendo aplicada na falta de testamento, ou, pode se dar pela manifestação da última vontade, (testamentária), com previsão nos artigos 1857 e 1990 do CC, podendo ainda, ambas as formas serem aplicadas simultaneamente. Os direitos sucessórios nos casos de União Estável, foram reconhecidos após a CF de 1988, quando a união estável passou a ser considerada como entidade familiar. O único meio de proceder a partilha no caso de morte, era através da Súmula 380 do STF, anos após, foi criada a lei 8.971/94, que passou a regular os direitos sucessórios para os companheiros, na qual previa em seu art. 2º: As pessoas referidas no artigo anterior participarão da sucessão do(a) companheiro(a) nas seguintes condições: I – o(a) companheiro(a) sobrevivente terá direito enquanto não constituir nova união, ao usufruto de quarta parte dos bens do de cujus, se houver filhos deste ou comuns; II – o(a) companheiro(a) sobrevivente terá direito, enquanto não constituir nova união, ao usufruto da metade dos bens do de cujus, se não houver filhos, embora sobrevivam ascendentes; III – na falta de descendentes e de ascendentes, o(a) companheira(a) sobrevivente terá direito à totalidade da herança. O artigoanterior a esse, descrevia as pessoas do “companheiro do homem ou companheiro da mulher”. Assim, para a sucessão, era necessário que ambos fossem solteiros, separados judicialmente, divorciados ou viúvos, ou seja, sem impedimentos. Ainda, o artigo 3º previa o direito a meação, quando os bens deixados da herança, fossem resultados de atividade que houvesse colaboração conjunta dos companheiros. Quanto à meação, era necessário ainda, a comprovação dos esforços de ambos para conquista do patrimônio, bem como a convivência por mais de cinco anos. (MARTINI, 2017). Contudo, surgiu uma segunda lei a tratar da União Estável, Lei nº 9.278/96, que veio disciplinas o artigo nº 226, §3º da CF de 88. A partir de então, desconsidera-se o prazo de duração da União Estável ou existência de prole. Em relação aos bens, caso nada tenha sido disposto, eles presumem-se adquiridos conjuntamente, e caso houver motivos que comprovem o contrário, cabe aos interessados promover ação para derrubar essa presunção. Assim prevê o artigo 5º da lei. (MARTINI, 2017): Art. 5° Os bens móveis e imóveis adquiridos por um ou por ambos os conviventes, na constância da união estável e a título oneroso, são considerados fruto do trabalho e da colaboração comum, passando a pertencer a ambos, em condomínio e em partes iguais, salvo estipulação contrária em contrato escrito. § 1° Cessa a presunçãodo caput deste artigo se a aquisição patrimonial ocorrer com o produto de bens adquiridos anteriormente ao início da união. § 2° A administração do patrimônio comum dos conviventes compete a ambos, salvo estipulação contrária em contrato escrito. Trata-se do direito real de habilitação, previsto no art. 7º da lei, estabelecendo a possibilidade de habilitação do bem imóvel destinado a residência familiar, enquanto não houvesse nova união. Questão importante é saber se esses diplomas foram totalmente revogados pelo Código Civil vigente, por não haver previsão expressa quanto a isso, bem como o Código Civil não se refere ao direito real de habitação do convivente. Assim, se não for o entendimento de que essas leis continuam em vigor, o usufruto e o direito real de habitação ficarão sujeitos ao entendimento do juiz. (MARTINI, 2017). No Código Civil, estabelece o art. 1790: Art. 1.790 - A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho; II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar- lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles; III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança; IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança. Entende-seprimeiramente, que os companheiros teriam direitos apenas em relação aos bens adquiridos onerosamente na constância da união estável, então, se fossem deixados bens particulares, o companheiro sobrevivente não teria direito. Ainda, concorreria não apenas com ascendentes e descendentes da herança, mas também, com os colaterais, recebendo a totalidade da herança, somente se não houver nenhum outro parente do falecido. São defeitos do dispositivo, mas que podem ser corrigidos através do testamento(MARTINI, 2017). 8 ALIMENTOS Antes da Constituição Federal de 1988, a possibilidade da concessão de alimentos para os casos de união estável não era acolhida pela doutrina, já que para isso era necessário parentesco ou vínculo conjugal, sob o fundamento de estar defendendo a família gerada pelo casamento. (SILVA, 2010). Com o crescimento dos casos de união estável, a doutrina, visando causar prejuízos com os desfazimentos das uniões, editou a súmula nº 380 do STF, que segue: “Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço”. Desta forma, para que pudesse a súmula ser aplicada, quanto a possibilidade de divisão de bens, seria necessário a formação de patrimônio decorrente dos esforços dos companheiros. Com o tempo, a jurisprudência passou admitir a contribuição indireta na compilação do patrimônio dos companheiros, a súmula 380 passou a perder a eficácia, sendo utilizado apenas ao concubinato impuro. (SILVA, 2010). A Lei nº 8971/1994, passou a equiparar a união estável à entidade familiar, concedendo assim às concubinas, direitos que já eram concedidos aos cônjuges, como por exemplo, os alimentos. A comprovação da necessidade dos alimentos era de extrema importância para sua concessão, do contrário, não seria possível. Já com o advento da Lei nº9278 de 1996, em seu artigo 2º, ficou descrito os direitos e deveres dos conviventes: respeito e consideração mútuos, assistência moral e material recíproca, a guarda, o sustento e a educação dos filhos comuns. Sendo que, os bens adquiridos a título oneroso durante a união passam a ser presumidamente adquiridos por ambos. Contudo, em caso de culpa recíproca na separação, não existe o dever de alimentar entre os companheiros. (SILVA, 2010). Com o Código Civil de 2002, e a elevação dos companheiros ao mesmo patamar dos cônjuges, passando a estabelecer em seu artigo nº 1.694: Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. §1. Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. §2. Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia. Assim, cumpre acrescentar que os alimentos têm como fundamento o dever de ajuda mútua entre os companheiros, e ainda, nos casos de culpa de quem pleiteia os alimentos, esses serão limitados ao que for estritamente necessário a subsistência, sendo cabíveis somente quando não há um parente que tenha condições de fornecê-las e o companheiro não possa trabalhar, de modo que não é utilizado a necessidade e possibilidade como critério de fixação. (SILVA, 2010) 9 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL Tratando do tema união estável, merece enfoque a jurisprudência do Relator Clayton Camargo, da 12ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná. APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE PARTILHA DE BENS E AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR SERVIÇOS PRESTADOS - CONFIGURAÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL (CONCUBINATO PURO) - COMPROVAÇÃO DE ESFORÇO COMUM NA AQUISIÇÃO DO ÚNICO IMÓVEL AMEALHADO DURANTE A UNIÃO - ACERTADA DETERMINAÇÃO DE METADE DO IMÓVEL PARA CADA CONVIVENTE - COMUNICAÇÃO DOS VALORES SACADOS DO FGTS DO COMPANHEIRO APÓS A SEPARAÇÃO DO CASAL - IMPOSSIBLIDADE - INDENIZAÇÃO POR SERVIÇOS PRESTADOS - AFASTAMENTO ANTE A COMPROVAÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL E DOS DIREITOS DE PARTILHA - DECISÃO MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO - (TJ-PR - AC: 6845836 PR 0684583-6, Relator: Clayton Camargo, Data de Julgamento: 21/07/2010, 12ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 442). No caso relato, foi discutido o reconhecimento de união estável entre o casal, no período de janeiro de 1987 a março de 1996, o qual conviveram no mesmo imóvel, em relação marital, reconhecida por entidade familiar pela Constituição de 1988. A Autora pleiteia seu direito referente à 50% do único imóvel em que habitaram neste período, ao saldo de FGTS de seu ex-companheiro, bem como, se não for reconhecida a união, que sejam indenizados os serviços prestados como funcionária do lar no período em questão. Ainda alega que houve concubinato puro, conforme Artigo 1.727 do Código Civil, pois o réu já era separado quando se iniciou a relação marital. A sentença de primeiro grau reconheceu o direito de partilha do imóvel em 50% para a Autora e o restante para o Réu, uma vez que fora adquirida durante a união estável, com parte do saldo de FGTS. Reconhecida a união estável, foi afastado o pedido de indenização por serviços prestados. Fora negada a partilha do saldo do FGTS, em razão de não ser o montante percebido pelo Réu no período da união, mas logo após esta. O Réu apelou ao Tribunal de Justiça, pleiteando a reforma, o qual manteve a sentença de primeiro grau por unanimidade dos votos. Congruente ao tema, é digna de conhecimento a jurisprudência do Relator Alzir Felippe Schmitz da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSUAL CIVIL. ESCRITURA PÚBLICA DE UNIÃO ESTÁVEL. PRETENSÃO DE RECONHECIMENTO JUDICIAL ACERCA DO RELACIONAMENTO HAVIDO ENTRE OS DECLARANTES. CARÊNCIA DE AÇÃO AFASTADA. CONVERSÃO DE UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO. NÃO CONHECIMENTO. UNIÃO ESTÁVEL E REGIME OBRIGATÓRIO DA SEPARAÇÃO DE BENS, EM RAZÃO DA IDADE DO COMPANHEIRO. FLEXIBILIZAÇÃO. ALTERAÇÃO DE REGISTRO CIVIL DE NASCIMENTO. UNIÃO ESTÁVEL. INCLUSÃO DO PATRONÍMICO DO COMPANHEIRO. POSSIBILIDADE. PRELIMINARES Carência de ação. A existência de escritura pública declaratória de união estável não afasta o interesse dos declarantes de obter pronunciamento judicial acerca da união. Precedentes jurisprudenciais. Preliminar de carência de ação rejeitada. Não conhecimento. O pedido de conversão da união estável em casamento foi feito apenas perante este grau de jurisdição e, por isso, não pode ser conhecido, sob pena de violação ao princípio do duplo grau de jurisdição. Além disso, para o atendimento dessa pretensão, é necessária a observância do procedimento específico previsto na Consolidação Normativa Judicial desta Corte, com a obrigatória participação do Ministério público no primeiro grau. MÉRITO. União estável - Regime obrigatório da separação de bens, em razão da idade do companheiro. A sentença que reconhece a existência de união estável tem natureza preponderantemente declaratória. Logo, a união estável iniciada antes de os companheiros completarem setenta anos de idade, não obriga a adoção do regime... da separação de bens, tal como prevista no CC 1.641, II. As idades consideradas nessa situação devem ser as do início da união estável e não as da data do seu reconhecimento. Precedentes jurisprudenciais. Alteração do nome da companheira. O art. 57, § 2º, da Lei 6.015/73 não se presta para balizar o pedido de adoção de sobrenome do companheiro em razão da uma união estável, devendo se aplicada a interpretação analógica das disposições específicas do Código Civil, relativas à adoção de sobrenome dentro do casamento. REJEITARAMA PRELIMINAR. CONHECERAM EM PARTE DO APELO. DERAM PROVIMENTO NA PARTE CONHECIDA. (Apelação Cível Nº 70058522327, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: AlzirFelippeSchmitz, Julgado em 02/10/2014). (TJ-RS - AC: 70058522327 RS, Relator: AlzirFelippeSchmitz, Data de Julgamento: 02/10/2014, Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 07/10/2014) No caso em tela, o casal convive há 24 anos em regime de união estável, reconhecida por escritura pública. Pleiteia o casal, a homologação da união estável, a adoção do regime de comunhão parcial de bens, bem como a alteração do nome da mulher para a inclusão do patromínico do companheiro. A sentença de primeiro grau julgou parcialmente os pedidos, em que reconhece apenas a união estável entre as partes desde a data 31/05/1989. O Ministério Público manifestou-se pela carência da ação, reconhecendo que a Escritura Pública de União Estável já a declarava, e ainda recomendou a conversão em casamento. Dada a insatisfação das partes em razão do acolhimento parcial dos pedidos, apelaram para o Tribunal, o qual reformou a decisão. O Tribunal posicionou-se contrário ao Ministério Público, aludindo que o simples documento não comprovaria de fato a união estável, a qual deveriam ser analisados os pressupostos de reconhecimento de entidade familiar, previstos na redação do Artigo 1.723 do Código Civil. Não foi reconhecido pelo Tribunal o pedido referente à conversão da união estável em casamento, pois foi postulado somente em segundo grau de jurisdição, ferindo o princípio do duplo grau de jurisdição. Quanto à alteração do regime de bens, merece enfoque que o demandado possui 75 anos na data da propositura da ação, o que restaria o regime obrigatório de separação de bens, conforme Artigo 1.641, II do Código Civil. Aduz o Tribunal que o início da união estável se deu quando o demandado tinha 51 anos, portanto há possibilidade do regime de comunhão parcial de bens. Houve o acolhimento do pedido referente a alteração do nome da demandada para o acréscimo do patronímico, utilizando a redação do Artigo 1.565, § 1º do Código Civil por analogia. Neste panorama, cabe ainda a análise, referente a aplicação da súmula 380 do STF, vejamos: RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE DE FATO. PARTILHA. IMÓVEL. PROVA DO ESFORÇO COMUM. SÚMULA 380/STF. PATRIMÔNIO INDIVIDUAL. I - DISSOLVIDA A SOCIEDADE DE FATO ANTES DA EDIÇÃO DA LEI 9.278/96, APLICA-SE A SÚMULA 380 DO E. STF, QUE EXIGE A COMPROVAÇÃO DO ESFORÇO COMUM NA AQUISIÇÃO DE BENS PARA FINS DE PARTILHA. II - AUSENTE A DEMONSTRAÇÃO DE QUE O RÉU TENHA CONTRIBUÍDO PARA A AQUISIÇÃO DOS DIREITOS INCIDENTES SOBRE O IMÓVEL DESCRITO NOS AUTOS, DEVE SER MANTIDA A R. SENTENÇA, QUE O CONSIDEROU COMO PATRIMÔNIO INDIVIDUAL DA AUTORA. III - APELAÇÃO IMPROVIDA. (TJ-DF - APL: 978016320088070001 DF 0097801-63.2008.807.0001, Relator: VERA ANDRIGHI, Data de Julgamento: 27/02/2012, 6ª Turma Cível, Data de Publicação: 08/03/2012, DJ-e Pág. 167). Verifica-se que, se a sociedade de fato foi dissolvida antes da entrada da Lei 9278/96, tem aplicação direta da súmula 380 do STF, onde exige-se a comprovação do esforço da aquisição dos bens, para se ter direito. Apesar da edição da lei, e a súmula ter perdido em tese sua importância, conforme apontada pelos doutrinadores, o que se verifica é que bem recentemente teve aplicação da mesma, pois inclusive ela continua em vigor. Sua aplicação segundo Maria Berenice Dias (2015, p. 263) nos dias atuais, “é uma postura preconceituosa, pois tenta eliminar a natureza de tais vínculos”. Ainda, “ é negar que a origem é um elo de afetividade”. Com isso, a jurisprudência, tem o propósito, de chamar a atenção, que mesmo a união estável ter ganho um reconhecimento constitucional, ela ainda não tem força perante a sociedade. 10 CONCLUSÃO Com o presente trabalho, verifica-se que a união estável foi evoluindo com o passar do tempo, adquirindo status de entidade familiar com a promulgação da Constituição Federal de 1988. Ainda, verifica-se que há requisitos para que possa configurar uma união estável, e, com isto, passam os conviventes a ter direitos e deveres inerentes a comunhão de vidas, tais como deveres de lealdade, respeito, assistência, dentre outros. Importante destacar que a união estável, não altera o estado civil da pessoa. Contudo, apesar desta regra, a união estável também está condicionada a observância dos requisitos de impedimento aplicado ao casamento, previstos no Código Civil de 2002. O reconhecimento da união estável pode ser requerido via escritura pública que declara a união e dá publicidade. Contudo esta não é a única forma de oficializar a união, pois tem ainda à disposição das partes interessadas o contrato de união estável. Nesta perspectiva, cumpre ressaltar a possibilidade da conversão da união estável em casamento, encontrando previsão expressa na Constituição Federal, que inclusive deixa cristalina que esta conversão deve ser facilitada. O regime de bens adotado para a união estável em regra é a comunhão parcial, ou seja, os bens adquiridos no período de uniãoestarão passíveis para divisão. Salienta-se que os conviventes têm a faculdade de firmar um contrato, estipulando cláusulas, segundo suas vontades, ou seja, as partes podem estipular um regime de bens diverso. Em se tratando de direitos sucessórios, estes foram reconhecidos após a entrada em vigor da Constituição Federal de 1988, e posteriormente de forma expressa no Código Civil de 2002, no artigo 1790. Em consoante ao todo exposto abordou-se ainda o projeto de Lei 612/2011, que tem por objetivo o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, e caso seja, posteriormente aprovado, contará com a supressão de termos como homem e mulher, de alguns dispositivos do código civil, por termos mais genéricos e abrangentes, como duas pessoas, qualquer dos membros, com base constitucional do princípio da dignidade de pessoa humana. Por fim, trazemos à baila, algumas jurisprudências, a fim de tornar mais clara a aplicação dos direitos dentro da união estável. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm > Acesso em: 21 fev. 2017. _______. 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