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Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 1 Notas de Aula de – Introdução à Economia II Macroeconomia QUE O ESTUDO DESTE SEMESTRE POSSA NOS ACRESCENTAR UMA SÓLIDA FORMAÇÃO EM ECONOMIA, E MAIS ESPECIFICAMENTE EM MACROECONOMIA. MAS QUE TAMBÉM POSSAMOS COMPREENDER QUE, SEM DEIXAR DE RESPEITAR AS DIFERENÇAS, SOMOS TODOS LEGATÁRIOS DE UMA MESMA HISTÓRIA E FORMAÇÃO ECONÔMICA E QUE E POSSUÍMOS A RESPONSABILIDADE DE CONSTRUIRMOS UM BRASIL MELHOR, MAIS PRÓSPERO E MAIS JUSTO PARA AS PRÓXIMAS GERAÇÕES DO NOSSO POVO. Que Deus ilumine nosso caminho! Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 2 Recado ao aluno(a) O objetivo deste trabalho é apenas substituir a rotina de “ditar a matéria” em sala de aula. Além de cansativo, perdemos muito tempo com todo o trabalho de ditar, copiar e ditar de novo... Também não queria deixar os alunos sem um material de fácil acesso e conteúdo mais simples e sintético. Assim, aproveitei que alguns alunos digitavam a matéria de sala e, com algumas correções e acrescentando alguns detalhes, estas notas de aula nasceram. Agradeço muito a todos aqueles que me forneceram suas “anotações digitais” para compor este trabalho. Veja: não se trata de uma apostila, livro texto ou coisa do gênero. O que você tem em mãos é apenas um conjunto de anotações, por isso “notas de aula”. Não substitui a leitura da bibliografia indicada no curso. Apenas economiza trabalho manual e nos poupa tempo! Assim, leve sempre estas notas para a aula. Você poderá acompanhar melhor o curso e, se quiser, fazer mais anotações e complementar o seu material de estudo. Bom estudo e bom semestre! Data PP PF Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 3 Sumário 1) Escolas de Pensamento Econômico ......................................................................................... 7 1.1. Escola Liberal Clássica ....................................................................................................... 7 1.2. Crítica ao liberalismo .......................................................................................................... 8 1.3. Crítica Keynesiana .............................................................................................................. 9 a) Contexto histórico: Crise de 1929...................................................................................... 9 b) Intervenção do Estado ..................................................................................................... 10 1.4. Neoliberalismo.................................................................................................................. 12 Monetarismo ........................................................................................................................ 14 2) Introdução à macroeconomia e Estudos dos agregados macroeconômicos ........................... 17 2.0. Curto e Longo Prazo em Economia .................................................................................. 17 2.1. Noções de Contabilidade Nacional; ................................................................................. 17 Balanço de Pagamentos ....................................................................................................... 18 Produto Interno Bruto (PIB) ................................................................................................ 19 2.2. Riqueza, Renda e distribuição. ........................................................................................ 22 Distribuição da Riqueza ....................................................................................................... 23 Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ........................................................................ 31 Índice de Progresso Social (IPS). ......................................................................................... 32 2.3. Taxa de Câmbio ................................................................................................................ 34 1.3) Taxa de Câmbio, Balança Comercial e Aplicações Financeiras. ..................................... 35 Taxa de Câmbio e o resultado da Balança Comercial.......................................................... 35 Taxa de Cambio e Resultado de aplicações Financeiras ...................................................... 38 2.4. O Investimento e a Taxa de Juros. ................................................................................... 39 Expectativas e incertezas ..................................................................................................... 41 2.5. Inflação ............................................................................................................................. 43 Moeda .................................................................................................................................. 43 Funções da Moeda ............................................................................................................... 45 Inflação e índice de Inflação ................................................................................................ 45 Tipos de inflação. ................................................................................................................. 46 A Curva de Phillips .............................................................................................................. 47 Efeitos da inflação sobre a economia. .................................................................................. 48 Conflito redistributivo .......................................................................................................... 49 Regime de Metas para Inflação ............................................................................................ 51 1.6. O Nível de Emprego. ....................................................................................................... 53 Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 4 A Lei de Okun ...................................................................................................................... 55 3) Estado, Orçamento e Déficit Público. .................................................................................... 57 3.1. Orçamento ........................................................................................................................ 59 3.2. Receita e Despesas Públicas e o Déficit Público .............................................................. 62 Receita Pública..................................................................................................................... 62 Despesa Pública ................................................................................................................... 64 3.3. Déficit Público .................................................................................................................. 68 4) Sistema Financeiro Nacional – SFN ...................................................................................... 69 4.1. Subsistema Normativo ...................................................................................................... 69 Entidades Normativas .............................................................................................................. 70 I) Conselho Monetário Nacional - CMN ............................................................................. 70 II) Banco Central do Brasil - BCB ....................................................................................... 70 Instrumentosde política monetária ...................................................................................... 71 III) Comissão de Valores Mobiliários - CVM ..................................................................... 72 IV) Superintendência de Seguros Privados - SUSEP .......................................................... 74 V) Superintendência Nacional de Previdência Complementar - PREVIC .......................... 74 4.2. Subsistema de Intermediação ........................................................................................... 75 Entidades Operadoras - Órgãos Oficiais .................................................................................. 75 A) Banco do Brasil - BB ...................................................................................................... 75 B) Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES ............................ 75 C) Caixa Econômica Federal - CEF ..................................................................................... 76 Instituições financeiras: ........................................................................................................... 76 Os Bancos Comerciais (BC) ................................................................................................ 76 Os Bancos de Desenvolvimento: ......................................................................................... 78 As Cooperativas de Crédito: ................................................................................................ 78 Os Bancos de Investimentos: ............................................................................................... 78 Sociedade de Crédito, Financiamento e Investimentos: ...................................................... 79 Sociedade Corretoras: .......................................................................................................... 79 Sociedades Distribuidoras: ................................................................................................... 79 Sociedade de Arrendamento Mercantil: ............................................................................... 79 Associações de Poupança e Empréstimo: ............................................................................ 79 Sociedades de Crédito Imobiliário: ...................................................................................... 80 Investidores Institucionais: .................................................................................................. 80 Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 5 Entidades Fechadas de Previdência Privada: ....................................................................... 80 Companhias Hipotecárias: ................................................................................................... 80 Agências de Fomento: .......................................................................................................... 80 Bancos Múltiplos: ................................................................................................................ 81 Bancos Cooperativos: .......................................................................................................... 81 Outros Intermediários Financeiros ....................................................................................... 81 Instituições Auxiliares ......................................................................................................... 81 5) Multiplicador Keynesiano ...................................................................................................... 82 6) A Destruição Criadora em Schumpeter .................................................................................. 85 7) REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: ...................................................................................... 88 Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 6 Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 7 1) Escolas de Pensamento Econômico 1.1. Escola Liberal Clássica O liberalismo surge com a crise do Antigo Regime e o questionamento dos poderes absolutos do Estado. A intervenção sistemática do governo na economia e a dificuldade de ação política levam a burguesia a uma série de movimentos para a tomada do poder. Isto pode ser visto nos ideais da revolução francesa, ou seja, liberdade e igualdade. Não deve haver privilégio e é a competência demonstrada no mercado que dirá quem deve e quem não deve permanecer. Além disso, todos devem ter o direito de votar e serem votados e novamente a competição irá privilegiar os melhores. O liberalismo clássico é uma ideologia ou corrente do pensamento político que defende a maximização da liberdade individual mediante o exercício dos direitos e da lei. O liberalismo defende uma sociedade caracterizada pela livre iniciativa integrada num contexto definido. Tal contexto geralmente inclui um sistema de governo democrático, o primado da lei, a liberdade de expressão e a livre concorrência econômica. As teses do liberalismo econômico foram criadas no século XVIII com clara intenção de combater o mercantilismo, cujas práticas já não atendiam às novas necessidades do capitalismo. O pressuposto básico da teoria liberal é a emancipação da economia de qualquer dogma externo a ela mesma. O criador da teoria mais aceita na economia moderna, nesse sentido, foi sem dúvida Adam Smith, economista Escocês, que desenvolveu a teoria do liberalismo, apontando como as nações iriam prosperar. Nela ele confrontou as ideias de Quesnay e Gournay, afirmando que a desejada prosperidade econômica e a acumulação de riquezas não são concebidas pela atividade rural e nem comercial. Para Smith o elemento de geração de riqueza está no potencial de trabalho, trabalho livre sem ter, logicamente, o estado como regulador e interventor. O mercado regularia tudo através da “Mão Invisível”. Esse foi o termo introduzido por Adam Smith em "A Riqueza das nações" para descrever como numa economia de capitalista livre, (inexistência de uma entidade coordenadora, ou seja, um Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 8 estado que intervenha na economia), a interação dos indivíduos parece resultar numa ordem, que maximiza a riqueza individual e social. Aqueles que são mais competentes são premiados e os aqueles que não conseguem se adaptar as exigências (preço, qualidade etc.) são retirados do mercado. Além disso, como o mercado tende a ampliar sempre a competição, a sociedade estará sempre avançando, progredindo para um estágio melhor. Tudo isso ocorre como se houvesse uma "mão invisível" que nos orientasse, não havendo necessidade de intervenção do Estado. Outro ponto fundamental é o fato de que todos os agentes econômicos são movidos por um impulso de crescimento e desenvolvimento econômico, que poderia ser entendido como uma ambição ou ganância individual. No cômpito geral, isso traria benefícios para toda a sociedade, uma vez que a soma desses interesses particulares promoveria a evolução generalizada, um equilíbrio perfeito. São princípios do liberalismo: a) Propriedade privada; b) Livre iniciativa; c) Livre concorrência; d) O Estado não deve interferir na economia, pois esta deve ser deixada para a regulação de mercado; e) Cabe ao Estado a manutenção dos contratos dentro do princípio do Pacta sunt servanda 1 . 1.2. Crítica ao liberalismo Durante o séc. XIX, e principalmente nas últimas décadas deste, o liberalismo passou a ser questionado. A sociedade se encontrava divididaem dois 1 PACTA SUNT SERVANDA é o Princípio segundo o qual o contrato obriga as partes nos limites da lei. É uma regra que versa sobre a vinculação das partes ao contrato, como se norma legal fosse, tangenciando a imutabilidade. A expressão significa, em tradução livre, “os pactos devem ser cumpridos”. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 9 grupos: uma enorme massa de pessoas pobres e, de outro lado, um pequeno grupo de ricos. As expressões liberdade e igualdade foram usadas em muitos discursos, mas nunca se materializaram no mundo real, pois a exploração do mais fraco ultrapassou os limites do aceitável. A criação de classes sociais tão diferentes obrigava os mais pobres a todo tipo de sofrimento e humilhação. Ao negar a uma gigantesca massa de pessoas um mínimo de dignidade, a igualdade é ferida de morte. Sem o mínimo existencial o ser humano passa a ser tratado como uma coisa. A liberdade também fenece diante da fome e da miséria. . E é isso que a pobreza extrema faz: retira do homem sua condição de ser humano, denegrindo-o da forma mais vil e cruel. O pior de tudo: o individuo violentado em seus direitos fundamentais não tem a quem recorrer, pois o Estado apenas se guia pelo ideal do "laissez faire - laissez passer", sem intervir... Veremos dois tipos diferentes de questionamentos com relação ao liberalismo. A primeira crítica é a MARXISTA. Nela busca-se a derrocada do capitalismo e a construção de um novo sistema (Revolução). A segunda crítica é a KEYNESIANA, que visa mudar o capitalismo para que este continue existindo (Reforma). Isso ocorrerá através de uma intervenção do Estado, corrigindo as possíveis falhas do mercado. 1.3. Crítica Keynesiana a) Contexto histórico: Crise de 1929. No início do século XX, os Estados Unidos viviam um período de prosperidade e de pleno desenvolvimento, até que a partir de 1925, apesar de toda a euforia, a economia norte-americana começou a passa por sérias dificuldades. Os valores das ações estavam em níveis elevadíssimos, fora da realidade. Em 24 de outubro, 70 milhões de títulos foram jogados no mercado - mas não encontraram quem os comprasse. Sem demanda pelos papéis, os preços das Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 10 ações e dos títulos despencaram, gerando uma onda de desconfiança irracional. O dia passou à história como "Quinta-Feira Negra". Mas se engana que acredita que a crise de 29 nasceu do mercado de ações. Este foi apenas o estopim da crise. Podemos identificar dois motivos que acarretaram a crise: O aumento da produção não acompanhou o aumento dos salários. Além de a mecanização ter gerado muito desemprego. A crise de 1929 foi, portanto, uma crise de superprodução que com grande intensidade se alastrou por toda a economia norte-americana com reflexos em todo o mundo ocidental capitalista. A recuperação dos países europeus, logo após a 1ª Guerra Mundial. Esses eram potenciais compradores dos Estados Unidos, porém reduziram isso drasticamente devido à recuperação de suas econômicas. Diante da contínua produção, gerada pela euforia norte-americana, e a falta de consumidores, houve uma crise de superprodução. Os agricultores, para armazenar os cereais, pegavam empréstimos, e logo após, perdiam suas terras. As indústrias foram forçadas a diminuir a sua produção e demitir funcionários, agravando mais ainda a crise. A crise naturalmente chegou ao mercado de ações. Os preços dos papéis na Bolsa de Nova York, o maior dos centros capitalistas da época, despencaram, ocasionando a quebra da bolsa. A partir daí a crise virou uma bola de neve: milhares de bancos, indústrias e empresas rurais foram à falência e pelo menos 12 milhões de norte- americanos perderam o emprego em questão de meses. b) Intervenção do Estado Com esta forte crise, a política liberal que era a tônica da ação do governo passou a ser questionada. A ideia de que o Estado não deve interferir foi colocada em xeque. Para solucionar a crise, o eleito presidente Franklin Roosevelt, Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 11 propôs mudar a política de intervenção americana. Surge, em 1932, o New Deal (novo acordo) 2 , que foi implementado a partir de 1933. O antigo acordo era o liberalismo, porém com o novo acordo o Estado passa a intervir na economia principalmente, no caso Norte Americano, através de obras públicas. O objetivo era gerar empregos e ativar a economia. Oferecendo uma saída para a crise vivenciada, John Maynard Keynes postulou uma teoria que rompia totalmente com a ideia liberalista do “deixai fazer”, afirmando que o Estado deveria sim, interferir na sociedade, na economia e em quais áreas achasse necessário. Essa foi a base do New Deal. Desta forma, se antes, o Estado não interferia na economia, deixando tudo agir conforme o mercado, agora passaria a intervir fortemente. O resultado disso foi a criação de grandes obras de infraestrutura, salário-desemprego e assistência aos trabalhadores, concessão de empréstimos, etc. Com isso, os Estados Unidos conseguiram retomar seu crescimento econômico, de forma gradual, tentando esquecer a crise que abalou o mundo. As obras públicas tinham como objetivo a geração de emprego. A ação do Estado deveria ser orientada para fortalecer a economia e ampliar o seu desenvolvimento. Keynes disse que o principal objetivo era a busca do PLENO EMPREGO, ou seja, os trabalhadores deveriam estar empregados. A partir da segunda guerra mundial, o Estado passa a atuar como agente do desenvolvimento, não apenas para gerar empregos, mas também para romper barreiras e superar dificuldades que geravam entraves para o crescimento da economia. Assim, durante o séc. XX vamos ver crescer a ação do Estado e sua interferência na vida privada. O modelo do Estado intervencionista (Welfare State) foi adotado por muitos países, principalmente na Europa, após o fim da Segunda Guerra Mundial, já 2 Cerca de 3 anos mais tarde, em 1936, essas políticas econômicas foram teorizadas e racionalizadas por Keynes em sua obra clássica Teoria geral do emprego, do juro e da moeda. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 12 que a interferência estatal parecia essencial para a recuperação do mundo no pós-guerra. Além disso, vários países, incluindo o Brasil, tiveram no Estado um indutor de crescimento econômico. Devido a longa era de prosperidade - quase 30 anos de crescimento - que impulsionou o mundo ocidental depois da segunda guerra, graças as diversas adoções das políticas keynesianas e sociais-democratas, os liberais recolheram-se para a sombra. Mas a partir da crise do petróleo de 1973, seguida pela onda inflacionaria que surpreendeu os estados de bem-estar social, o liberalismo gradativamente voltou à cena. Porém não era mais movimento do século XIX, era algo que queria se mostrar como novo: o neoliberalismo. 1.4. Neoliberalismo Neoliberalismo, em sentido amplo, é a retomada dos valores e ideais do liberalismo político e econômico que nasceu do pensamento iluminista e dos avanços da economia decorrentes da revolução industrial do final do século XVIII, com a adequação necessária à realidade política, social e econômica de cada nação em que se manifesta. Em sentido mais estrito designa, nas democracias capitalistas no final do século XX e início do XXI, as posições pragmáticas e ideologicamente poucodefinidas dos defensores da política do "estado mínimo". Este deve interferir o menos possível na liberdade individual e nas atividades econômicas da iniciativa privada e, ao mesmo tempo, questionava o estado de bem-estar social. O movimento se inicia a partir dos anos 60 3 , e principalmente no final dos anos 70, com a crise dos países centrais, o keynesianismo também foi passou a ser questionado, pois problemas como inflação e instabilidade econômica tornaram-se reais. 3 Apesar do fato de que o grande inspirador do neoliberalismo foi Friedrich August von Hayek. No livro O Caminho da Servidão (de 1944), o autor afirma que o intervencionismo estatal leva "a civilização ao colapso". Hayek expôs os princípios básicos de sua teoria, segundo a qual o crescente controle do estado é o caminho que leva à completa perda da liberdade e a sérios problemas econômicos. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 13 Foi assim que nasceu um novo modelo de liberalismo: o neoliberalismo 4 , o qual estabelecia certo limite ao Estado e afirmava que as garantias da liberdade econômica e política estavam ameaçadas pelo excesso de intervencionismo. Assim, o Neoliberalismo é a resposta à crise do capitalismo decorrente, segundo os neoliberais, da expansão da intervenção do Estado do mercado e na vida privada. Outra faceta específica da política neoliberal também atinge diretamente a relação de gastos que o Estado mantém com as necessidades essenciais da sociedade civil. A síntese deste período é o chamado Consenso de Washington, que é um conjunto de medidas - que se compõe de algumas medidas/regras básicas - formulado em novembro de 1989 por economistas de instituições financeiras situadas em Washington D.C., como o FMI, o Banco Mundial e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. Tal consenso foi desenvolvido a partir de um texto do economista John Williamson, do International Institute for Economy, e que se tornou a política oficial do Fundo Monetário Internacional em 1990, quando passou a ser "receitado" para promover o "ajustamento macroeconômico" dos países em desenvolvimento que passavam por dificuldades. Vamos assistir no final do séc. XX uma série de privatizações, reformas de cunho liberal da constituição, desregulamentação da economia, etc. O pacta sunt servanda voltou ao discurso e a intervenção do Estado nos contratos passou a ser questionada. Dessa forma, as recomendações apresentadas giraram em torno de três ideias principais: abertura econômica e comercial, aplicação da economia de mercado e controle fiscal macroeconômico. Resumidamente, podemos citar como medidas principais deste período neoliberal: 4 Entre as décadas de 1970 e 1980 observamos que os primeiros governos neoliberais ganharam espaço no cenário político internacional. Ronald Reagan, nos Estados Unidos; Margaret Thatcher, no Reino Unido; e Helmut Kohl, na Alemanha são considerados os primeiros grandes precursores desse modelo de desenvolvimento. Logo em seguida, outras nações menos desenvolvidas, como Brasil e Argentina, tomaram medidas em favor desse novo molde. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 14 Abertura comercial, abertura ao investimento estrangeiro direto, com eliminação de restrições e barreiras à circulação de capital; Privatização das estatais. O plano de privatizações foi a principal marca do período, inspirado fortemente as ações da dupla Ronald Reagan (presidente dos EUA entre 1984 e 1988) e Margareth Tatcher (primeira-ministra da Inglaterra entre 1979 e 1990).; Aumento do numero de concessões e permissões, repassando serviços e bens públicos para a administração da iniciativa privada; Desregulamentação da economia (revogação e mudança das leis que atuam na economia); Processo de desmonte do Estado pelo fechamento de órgãos públicos ou pelo processo de piora e precarização dos serviços prestados pelo Estado. Em linhas gerais, não foi preconizada nenhuma medida “inédita” durante o Consenso de Washington. As ideias desse “receituário”, já eram proclamadas pelos governos dos países desenvolvidos, principalmente EUA e Reino Unido, desde as décadas de 1970 e 1980, quando o Neoliberalismo começou a avançar pelo mundo. Além disso, instituições como o FMI e o Banco Mundial já colocavam a cartilha neoliberal como pré-requisito necessário para a concessão de novos empréstimos e cooperação econômica. Além disso, outras duas ideias eram defendidas. A primeira era a disciplina fiscal, em que o Estado deveria cortar gastos e eliminar ou diminuir as suas dívidas, reduzindo custos e funcionários. A segunda era uma reforma fiscal e tributária, em que o governo deveria reformular seus sistemas de arrecadação de impostos a fim de que as empresas pagassem menos tributos. Monetarismo O principal nome do monetarismo é Milton Friedman (1912-2006), líder de um grupo de defensores do livre mercado na Universidade de Chicago. Podemos resumir o monetarismo em duas proposições básicas: (a) a instabilidade da oferta de moeda e (b) a estabilidade da demanda de moeda. Dessas premissas surge o diagnóstico; Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 15 as flutuações cíclicas das economias podem ser atribuídas à instabilidade da oferta de moeda. Sendo assim, a terapia correta é que os bancos centrais devem atuar sempre no sentido de garantir uma taxa fixa de crescimento monetário (conhecida como a x-rule ). Eis algumas das conclusões dos monetaristas: 1. Existe uma relação consistente, embora não precisa, entre crescimento na oferta monetária e crescimento na renda nominal. 2. Leva algum tempo até que o crescimento na oferta de moeda afete a renda. 3. Uma alteração na taxa de crescimento da oferta de moeda leva de 6 a 9 meses para afetar a taxa de crescimento da renda nominal. 4. Mudanças naquela taxa de crescimento afetam primeiro o produto real e só depois é que se refletem exclusivamente sobre o nível de preços. 5. Apenas transitoriamente é possível manter a economia acima de sua capacidade normal ou natural mediante políticas keynesianas de "sintonia fina'' do lado da demanda. A insistência do governo em fazê-lo apenas fará com que a inflação se acelere. 6. "A inflação é sempre e em qualquer lugar um fenômeno monetário". 7. O déficit público pode ou não ser inflacionário: o será se for financiado por expansão monetária, isto é, por aumentos no papel moeda e nos depósitos bancários. 8. A expansão monetária inicialmente reduz as taxas de juros, mas, na medida em que os gastos e os preços aumentam, a demanda de empréstimos crescerá, o que elevará no futuro as taxas de juros. Isto explica porque os monetaristas sempre insistiram na afirmativa de que a política monetária não deve ser guiada pelas taxas de juros. 9. Além disso, as variações de preços provocadas pela instabilidade da oferta de moeda acabam introduzindo discrepâncias entre as taxas de juros reais e as nominais, que terminam gerando distúrbios nos setores reais (produção) da economia. Friedman e os monetaristas trabalhavam com a hipótese de que as expectativas são adaptativas, ou seja, de que, com o passar do tempo, os agentes econômicos percebiam os erros cometidos em suas avaliações e os corrigiam, até que, no "longo prazo", eles fossem totalmente eliminados. A política monetária não deveria ser usada para objetivos de pleno emprego, mas apenas para proporcionar aestabilidade de preços necessária para o Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 16 crescimento sustentado da economia, que é considerado como uma questão essencialmente de oferta (e não de demanda, como no keynesianismo), de expansão da capacidade produtiva ao longo do tempo. ----- XXXXX ------- Muitos argumentam que com a crise iniciada em 2007 e que se agrava em 2008, nos EUA, o neoliberalismo, novamente, começa a sair de cena. A presença do Estado e a intervenção na economia já é uma realidade. E a cada momento fica mais forte: colocado como meio para salvaguardar os empregos e diminuir seus efeitos na sociedade ou ajudar as empresas (principalmente instituições financeiras) a sobreviverem a essa violenta turbulência. Um dos exemplos disso foi o que aconteceu com a General Motors (GM), um dos grandes ícones do desenvolvimento econômico norte-americano, que foi a bancarrota. A solução para evitar um eventual "desastre" na economia interna dos EUA foi a "estatização" pelo governo. Com a avalanche que atingiu o centro do império, abalando os principais pilares do modelo neoliberal, o caso da GM é simbólico e para muitos significa o fim da hegemonia do neoliberalismo. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 17 2) Introdução à macroeconomia e Estudos dos agregados macroeconômicos 2.0. Curto e Longo Prazo em Economia A questão do prazo é definida em termos de existência ou não de fatores fixos de produção, que são aqueles que permanecem inalterados, quando a procura varia, enquanto que os fatores de produção variáveis se alteram, com a variação da quantidade produzida. Exemplos de fatores fixos: capital físico, instalações da empresa. Exemplos de fatores variáveis: mão de obra e matérias-primas utilizadas. Define-se curto prazo como o período no qual existe pelo menos um fator de produção fixo; já a longo prazo, todos os fatores variam. 2.1. Noções de Contabilidade Nacional; A Contabilidade Nacional é um instrumento estatístico, mas de natureza contábil, que procura fornecer uma representação sintética da realidade econômica de um país, o que se torna indispensável a todos os responsáveis das decisões econômicas, tanto os poderes políticos como as empresas. Hoje, praticamente, não existe nenhum país que não tenha a sua Contabilidade Social, através da qual se pode ter uma visão relativamente exata do estado econômico do país e do seu ritmo de crescimento. Os objetivos da contabilidade nacional são: Medir a atividade econômica - normalmente durante um ano e em cada país, e pode fornecer valores para calcular indicadores como consumo, produção, rendimento, investimento, etc. Fazer previsões de caráter econômico - todos os governos, em tomada de decisões para evitar ou minimizar crises econômicas. Tomar decisões econômicas mais fundamentadas - tem a haver com as medidas de recursos implementadas pelo Estado para suprir eventuais causas (ex. aumento dos impostos, diretos ou indiretos). Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 18 Efetuar comparações no tempo e no espaço - permite analisar os diferentes agentes macroeconômicos: produto, rendimento e despesa. A análise destes faz-se entre países a nível mundial ao longo dos anos. Controlar os fluxos financeiros – evitando assim, a lavagem de dinheiro e a evasão de divisas; Conhecer melhor o desempenho da economia nacional. Balanço de Pagamentos É a demonstração contábil das relações econômicas e financeiras em residentes e não residentes de um país. Podemos subdividir o balanço de pagamento sem duas partes. A primeira chama-se transações correntes ou conta-corrente e a segunda, conta de capital. 1) transações correntes ou conta corrente (a+b+c): a) Balança comercial: é o saldo da exportação de bens e da importação. Se a exportação é maior do que a importação, o saldo líquido será positivo (favorável) e há superávit. Se importarmos mais que exportamos, o saldo líquido será negativo (desfavorável). Logo, haverá déficit. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 19 b) Balança de serviços: na balança de serviços, será registrado o pagamento e o recebimento por serviços prestados. São exemplos de itens desta balança: b.1) Serviços não- fator (fretes, seguros, turismo etc.) b.2) Serviços de capital (recebimento de juros 5 , remessas de lucros) b.3) Serviços de mão-de-obra (remessa de trabalhadores do exterior) c) Transferências unilaterais: são doações, envio de dinheiro por parentes, etc. O saldo da conta-corrente será a+b+c 2) Conta de capital: na conta de capital serão registrados os seguintes itens: Empréstimos; Investimentos de curto, médio e longo prazo6; Amortização de dívida7; Resultado do BALANÇO DE PAGAMENTOS (BP = 1 + 2) = alterações nas reservas internacionais líquidas. Produto Interno Bruto (PIB) O produto interno bruto (PIB) representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer sejam países, estados ou cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano, etc). O PIB é um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia com o objetivo de mensurar a atividade econômica de uma região. No Brasil, a responsabilidade pelo cálculo já esteve a cargo da Faculdade Getúlio Vargas até 1990. Em seguida, o IBGE passou a fazer a medição. 5 Por causa deste item juros, a balança de serviços do Brasil possui forte tendência de ser sempre deficitária. 6 Correspondem a investimentos que o Brasil recebe ou que as em empresas brasileiras fazem em outros países. 7 É quando pagamos dívida em si, o corpo da dívida, e não mais apenas os juros, que correspondem aos serviços da dívida. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 20 Desta forma, o PIB é um índice para saber como vai a atividade econômica de uma determinada região, medindo a produção econômica e o nível de geração de riqueza de determinado local. Quanto maior a produção, maiores o consumo, o investimento e a venda, logo, maior será o PIB. Para o cálculo do PIB, são considerados o que as empresas dos setores primário (agropecuária e extrativismo vegetal), secundário (indústrias, construção civil e extrativismo mineral) e terciário (comércio e serviços) estão produzindo e gerando em termos de riqueza; e o que as famílias, as instituições e o governo estão consumindo. O dado também analisa os investimentos realizados em determinados setores e os resultados das importações e exportações de mercadorias. Mas observe que na contagem do PIB, considera-se apenas bens e serviços finais, excluindo da conta todos os bens de consumo de intermediário. Isso é feito com o intuito de evitar o problema da dupla contagem, quando valores gerados na cadeia de produção aparecem contados duas vezes na soma do PIB. A duplicidade dos pagamentos pode ocorrer, por exemplo, quando é produzido o vidro de um carro e o computo na conta final, assim como também lanço o valor total do carro que foi revendido para um terceiro. Sendo assim, para evitar a duplicidade do pagamento, computo apenas o carro que foi entregue a um consumidor final. Se a empresa que produz o vidro vende diretamente para o consumidor final (imagine que o vidro do carro quebrou), neste caso haverá a contabilidade deste item no PIB. A diferença entre o Produto Interno Bruto (PIB) e o ProdutoInterno Líquido (PIL) traduz-se no valor das depreciações 8 . Ao contrário do PIB, o PIL tem em conta o valor da depreciação do capital. PIL = PIB - depreciações 8 Depreciação significa "desgaste” (e consequente desvalorização) de um bem intrisecamente relacionado com as atividades da entidade, de modo que tal desgaste, conforme diz o próprio nome, é proveniente de transcorrer de sua vida útil pois longo do tempo, com a obsolescência natural ou desgaste com uso na produção, os ativos vão perdendo valor, essa perda de valor é apropriada pela contabilidade periodicamente até que esse ativo tenha valor reduzido a zero. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 21 O PIB difere do PRODUTO NACIONAL BRUTO (PNB) basicamente pela renda líquida enviada/recebida do exterior. O PNB é gerado a partir da soma do PIB mais entradas e saídas de capital. Esta renda representa a diferença entre recursos enviados ao exterior (pagamento de fatores de produção internacionais alocados no país) e os recursos recebidos do exterior. O conceito de PIB, como o próprio nome sugere, é a soma de tudo o que foi produzido dentro de um país. Se pensarmos em uma economia isolada do mundo, saberemos que toda a riqueza produzida por ela, será utilizada nesta mesma nação, pelos seus habitantes. O PIB, porém não identifica o que acontece com uma parte da produção em uma economia onde os fatores – trabalhadores ou capital – possam ter vindo de outro país. Por exemplo, um brasileiro que vá ao Japão para trabalhar, receberá um salário, e provavelmente enviará parte deste salário para a família que deixou no Brasil, ou mesmo economizará no Japão e levará a poupança acumulada para o Brasil quando retornar. A questão é que a parte da sua produção equivalente ao que ele envia para o Brasil, não pertence à nação japonesa, mas sim a nação brasileira. Para mensurar a parte da produção de um país, que realmente pertence a este é necessário utilizar o conceito de PNB, que nada mais é do que o PIB acrescido da produção internacional de fatores domésticos (produção japonesa de um trabalhador brasileiro) menos a produção nacional de fatores estrangeiros (ex.: produção nacional da Volkswagen que é revertida para aquele país como remessa(fator : Capital)). A diferença entre a renda enviada ao exterior e a renda recebida do exterior chamamos de Renda líquida Enviada ao Exterior ou RLEE. Alguns livros textos utilizam o contrário, e trabalham com a Renda Líquida Recebida do Exterior ou RERE. RLEE = Renda Enviada de Fatores Internacionais empregados domesticamente - Renda recebida de fatores domésticos no exterior. RLRE = Renda recebida de fatores domésticos no exterior – Renda Enviada de Fatores Internacionais empregados domesticamente. Portanto: PNB = PIB + RLRE (ou) PNB = PIB – RLEE Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 22 A renda per capita ou rendimento per capita é um indicador que ajuda a saber o grau de desenvolvimento de um país ou região e consiste na divisão da renda nacional (produto nacional bruto ou, algumas vezes, o produto interno bruto é usado), se a distribuição fosse igualitária, se todos tivessem acesso a partes iguais do todo. Embora seja um índice muito útil, por se tratar de uma média esconde várias disparidades na distribuição de renda. Por exemplo, um país pode ter uma boa renda per capita, mas um alto índice de concentração de renda e grande desigualdade social (como o caso do Brasil). Assim, como fica a questão: PIB e renda per capita versus qualidade de vida? 2.2. Riqueza, Renda e distribuição. A desigualdade social, de forma genérica, refere-se a processos relacionais na sociedade que têm o efeito de limitar ou prejudicar o status de um determinado grupo, classe ou círculo social. As áreas de desigualdade social incluem, além das questões econômicas, o acesso aos direitos de voto, a liberdade de expressão e de reunião, de acesso à educação, saúde, habitação de qualidade, viajar, ter transporte, férias e outros bens e serviços sociais. Além de que também pode ser pensada a igualdade/desigualdade quando olhamos para a qualidade da vida familiar e local, possibilidade de ter uma ocupação, satisfação no trabalho, acesso ao crédito etc. Se estas divisões econômicas endurecem, elas podem levar a desigualdade social. Logo, muitas das vezes que falamos em desigualdade social estamos pensando em renda e riqueza. É importante diferenciarmos a renda da riqueza. Renda é a remuneração que o proprietário do fator de produção recebe pela sua utilização no processo produtivo. O conceito de distribuição de renda faz referência à forma como a receita obtida por um país ou região é distribuída entre sua população local. Assim, o empresário recebe renda em forma de lucro, devido ao investimento do capital necessário á produção. O trabalhador recebe salário, que é a renda auferida pelo trabalho que realizou. Desta forma, renda é fluxo. Algo que Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 23 recebemos (por mês, por semana etc.) para fazer frente as nossas despesas e, quem sabe, para pouparmos um pouco para o futuro. Por outro lado, riqueza é o valor total dos bens que constituem o patrimônio. Ou seja, riqueza é estoque. A palavra riqueza é muitas vezes confundida com renda. Estes dois termos descrevem elementos diferentes, porém relacionados. Riqueza consiste nos itens de valor econômico que um indivíduo possui (patrimônio), enquanto a renda é um fluxo de entrada periódica de itens de valor econômico (salário, por exemplo). Um país pode ser “muito rico” e seus habitantes muito pobres. Ou pode não ser tão rico e seus habitantes desfrutarem de um padrão de vida superior ao de um país que tenha uma renda per capita maior. O que determina essa diferença é o perfil da distribuição de renda, ou seja, como o PIB que é produzido no país se distribui entre os habitantes. Assim, o grande problema é que a renda per capta é uma média e, devido à concentração de renda, não reflete a realidade da maioria da população, pois uma média pode conter distorções. Da mesma forma, um aumento do PIB 9 , dada a concentração de renda, não significa que a população em geral melhorou a qualidade de vida. Desta forma, PIB e Renda per capta, sozinhos não podem dizer com segurança o que aconteceu com a qualidade de vida. Distribuição da Riqueza No Brasil a concentração de renda é um dos mais graves problemas sociais. Vivemos num país de contrastes absurdos. Nossa História ajudou a construir este abismo entre ricos e pobres. Quais seriam os principais fatores que levaram o Brasil a ser um dos campeões mundiais da desigualdade? Em largas pinceladas podemos afirmar que: 9 Importante salientar que o crescimento econômico é requisito básico para a melhora da distribuição funcional da renda a favor dos trabalhadores. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 24 A escravidão que durou séculos10 concentrou toda a renda na mão de poucos, alijando uma massa gigantes pessoas de qualquer riqueza material; O modelo econômico baseado no latifúndio agroexportador não privilegiava a formação de um mercado interno. Este modelo favorecia o surgimento de uma agricultura marginal de subsidência que corroborava com uma crescente concentração de renda; Durante o século XX tivemos dois grandes períodos de ditaduras (Ditadura Vargas11 e a Ditadura Militar 12 ). Historicamente regimes ditatoriais concentram a renda de forma brutal e não foi diferente no Brasil; Ocorreu um processo inflacionário13 que durou mais de três décadas (entre o final dos anos 50 e meados dos anos 90 do século XX). Para analisar estas questões de distribuição de renda na economia foram criados diversos índices estatísticos. Dentre os mais conhecidos encontra-se o P90/P10 (10% mais ricos a 10% mais pobres), que mede quanto o grupo formado pelos 10% 10 No Brasil, a escravidão teve início com a produção de açúcar na primeira metade do século XVI. No Brasil, sua abolição se deu em 13 de maio de 1888. Se a lei deu a liberdade jurídica aos escravos, a realidade foi cruel com muitos deles. Sem moradia, condições econômicas e assistência do Estado, muitos negros passaram por dificuldades após a liberdade. Muitos não conseguiam empregos e sofriam preconceito e discriminação racial. A grande maioria passou a viver em habitações de péssimas condições e a sobreviver de trabalhos informais e temporários 11 Estado Novo é o nome do regime político brasileiro fundado por Getúlio Vargas em 10 de novembro de 1937, após ter dado um golpe que rompeu a ordem democrática e instaurou um regime de exceção que durou até 29 de outubro de 1945. A ditadura Vargas foi marcada pela centralização do poder, nacionalismo e por seu autoritarismo. Foi imposta a Constituição de 1937, inspirada no fascismo italiano, a "polaca", foi elaborada para ser uma Carta "livre das peias da democracia liberal" nas palavras do responsável por sua elaboração, o Ministro da Justiça Francisco Campos. 12 O Regime ditatorial civil/militar foi o período da política brasileira em que presidentes militares conduziram o país. Essa época ficou marcada na história do Brasil através da prática de vários Atos Institucionais que colocavam em prática a censura, a perseguição política, a supressão de direitos civis mais básicos, a falta total de democracia, a centralização de poder e a repressão brutal àqueles que eram contrários ao regime ditatorial. A Ditadura civil militar no Brasil teve seu início com o golpe militar de 31 de março de 1964, resultando no afastamento do Presidente da República, João Goulart, e tomando o poder o Marechal Castelo Branco. Este golpe de estado instituiu um regime de exceção que durou até 15 de janeiro de 1985. 13 Os efeitos da inflação serão estudados no item 1.5. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 25 mais ricos da população recebe em comparação ao grupo dos 10% mais pobres. Outro índice muito conhecido é o Coeficiente de Gini 14 . Quanto menor o Gini (mais próximo de zero), menos desigual está o país, ou seja, menor a diferença de renda dos indivíduos mais ricos e mais pobres do ponto de vista das remunerações que recebem. O coeficiente de Gini do Brasil em 2001 era de 0,5946 , melhor apenas que a Guatemala, Suazilândia, República Centro-Africana, Serra Leoa, Botsuana, Lesoto e Namíbia (hoje somos o décimo sexto pior). A concentração de renda permaneceu praticamente inalterada durante as últimas quatro décadas do século XX, com seus índices oscilando dentre as 10 últimas posições do mundo, dando os primeiros sinais reais de melhora somente a partir de 2003. Nos últimos anos, o país tem conseguido aliar o crescimento econômico com a redução da desigualdade. Como se vê no gráfico (índice de Gini no Brasil), em 1960 a posição do Brasil no índice era de 0,5367. Durante a ditadura militar a desigualdade foi aumentando e mesmo após a redemocratização o país continuou promovendo 14 Desenvolvido pelo matemático italiano Corrado Gini, o Coeficiente de GINI é um parâmetro internacional usado para medir a desigualdade de distribuição de renda entre os países. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 26 concentração de renda chegando ao ponto máximo em 1990, cinco anos após o fim daquela ditadura. A partir de 1990, a desigualdade começou a cair, ainda que de forma suave. A partir de 2003, começou a cair em ritmo três vezes maior do que foi visto nos anos 90 do século XX, chegando, em 2013, a 0,519 – inferior ao que vigia em 1960. Segundo comunicado do IPEA intitulado "A Década Inclusiva" a renda do trabalho foi essencial para a forte - e inédita - redução de desigualdade no Brasil nos últimos dez anos, responsável por cerca de dois terços da queda de pouco mais de 10% do coeficiente de Gini no período. Ao mesmo tempo, ressalta o instituto, sem as políticas de redistribuição de renda patrocinadas pelo Estado brasileiro desde o início dos anos 2000, a desigualdade teria caído 36% a menos na década passada. A Previdência Social também é responsável por quase 20% do resultado da melhora da distribuição de renda do Brasil neste período. De forma resumida, a chamada “década da inclusão” ocorreu, principalmente devido há alguns fatores. Destes destacamos: A redemocratização em 1985 abriu as portas para que as pessoas pudessem reivindicar os mais básicos direitos, inclusive uma melhora nas condições de trabalho e incrementos na renda; A queda da inflação pós Plano Real15 (1994); Elevação dos níveis salariais; Geração de emprego; Elevação da formalização do emprego; Ocorreu um aumento dos chamados gastos sociais do Governo; 15 Plano Real foi um programa brasileiro de controle da inflação adotado no Governo do Presidente Itamar Franco e que teve como princípios as ideias dos economistas da PUC-Rio André Lara Resende e Pérsio Arida. Tinha como objetivo a estabilização monetária. Em 27 de fevereiro de 1994 foi instituído a Unidade Real de Valor (URV), estabeleceu regras de conversão e uso de valores monetários, iniciou a desindexação da economia, e determinou o lançamento de uma nova moeda, o Real. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 27 Tais fatores conjugados com um crescimento da economia nacional fizeram com que o Brasil se tornasse menos desigual. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 28 Todavia, ainda estamos numa situação muito ruim e aquém das nossas reais possibilidades. Nossa história carrega a marca triste de séculos de escravidão, ditaduras e inflação crônica entre os anos 60 e 90 do século passado. Entre outros fatores, isso fez com que a concentração de renda na nossa sociedade beire o absurdo para um país tão rico. Apesar dos avanços da última década, hoje somos o décimo sexto pior do mundo e apenas em 2010 conseguimos voltar ao patamar de 1960 (desfazendo o estrago provocado nas décadas de 60, 70 e 80 do século passado). Mas mesmo com as melhoras recentes, não se iludam, pois muito ainda deve ser feito para construirmos um país minimamente justo para todos os brasileiros. Apenas como exemplo, uma das facetas da realidade que deve ser mudada é o modelo de tributação no Brasil que é altamente concentrador de renda. Isso porque o Estado cobra impostos de todos, inclusive - e principalmente - dos muito pobres ("tributação indireta regressiva", que incide sobre os bens de consumo popular e da classe média, que são fortemente tributados). Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 29 O décimo mais pobre sofre uma carga total equivalente a 32,8% da sua renda, enquanto o décimo mais rico, apenas 22,7%. Issoprovoca a perpetuação do efeito 'concentrador de renda', inaceitável num país com acentuada desigualdade de renda como o Brasil. Índice de Gini no Mundo (dados da CIA World Factbook) Com relação à distribuição da riqueza, o quadro é radical e assustadoramente pior. Imagine pensar que o patrimônio de apenas 85 das famílias mais ricas do mundo equivale às posses de metade da população mundial mais pobre. E se você soubesse que apenas 0,7% da população mundial controlam 41% da riqueza do mundo, acharia um absurdo? Pois, essas informações são verdadeiras e foram reveladas em uma nova pesquisa realizada pela Oxfam Internacional. Os 50% mais pobres da população respondem por apenas 1% da riqueza do planeta, aponta a ONU. Quase 90% da riqueza do mundo está sob o controle de moradores da América do Norte, Europa e dos países de renda elevada na região Ásia- Pacífico, como o Japão e a Austrália. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 30 A renda pessoal está distribuída de maneira tão desigual no mundo que os 2% mais ricos da população adulta detêm mais de 50% dos ativos mundiais, enquanto os 50% de pessoas mais pobres detêm apenas 1% da riqueza do planeta. Tal quadro leva a uma realidade trágica, ou seja, há uma massa gigantesca de pobres e miseráveis no mundo, em contraste com uma parcela pequena de pessoas muito, muito ricas. Segundo os dados do Credit Suisse 2013 Wealth Report, para uma população de 07 bilhões de pessoas no mundo, observe como a situação atual é tão absurda, que poderia ser considerada surreal: 1. Qualquer pessoa que possua bens em valor total superior a dez mil dólares (um carro usado) possui mais riqueza do que 04 bilhões e 809 milhões de pessoas no mundo inteiro (68,7% da população mundial). Está, portanto, na metade superior da posse de riquezas; 2. Quem possui bens em valor superior a 100 mil dólares (uma casa simples em Petrópolis/RJ ou um carro de luxo) possui mais riqueza do que 06 bilhões e 412 milhões de pessoas. Pertence aos 8,4% mais ricos do mundo; 3. Quem tem bens que na sua totalidade iguala ou supera o valor de um milhão de dólares (por exemplo: uma ótima casa em Petrópolis e dois bons automóveis, mais uma boa casa alugada e uma casa de praia), possui mais riqueza do que 06 bilhões e 951 milhões de pessoas. Faz parte da fatia correspondente a 0,7% da população mundial (49 milhões de pessoas), mais rica do que os 99,3% restantes. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 31 Se você está fazendo um curso superior, possui uma boa casa em Petrópolis/RJ, um carro e está lendo estas notas de aula, a estatística diz que, muito provavelmente, você está entre os 02% ou 04% mais ricos do mundo. Assustador como está concentrada a riqueza no mundo, não acha? Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) Alguns índices têm sua origem na sociologia e ajudam a compreender como os habitantes de um país se beneficiam (ou não) com a riqueza ali produzida. O principal deles é o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, que será visto no neste item. Para afirmar que a qualidade de vida aumenta, deve-se observar o acesso à educação, à saúde, ao saneamento básico etc. É possível estudar a evolução da qualidade de vida ao examinar algumas outras variáveis, como, por exemplo, ocorre com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU ou o Índice de Progresso Social (IPS). Desenvolvido pelo economista paquistanês Mahbud Ul Ha q, 16 o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é utilizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento desde o ano de 1993; este índice utiliza certos critérios de avaliação (renda, longevidade e educação) para medir o desenvolvimento humano em 177 países, podendo ser utilizado também, observando-se as modificações para adequá- lo a núcleos sociais menores. O índice varia de zero (nenhum desenvolvimento humano) até 1 (desenvolvimento humano total), sendo os países classificados deste modo: Quando o IDH de um país está entre 0 e 0,499, é considerado baixo. Quando o IDH de um país está entre 0,500 e 0,799, é considerado médio. Quando o IDH de um país está entre 0,800 e 1, é considerado alto. 16 O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi desenvolvido pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq em 1990, com a colaboração do economista indiano Amartya Sen (ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1988). Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 32 No critério educação, considera-se a taxa de alfabetização e a taxa de matrícula; no critério longevidade considera-se a expectativa de vida ao nascer; e no critério renda considera-se o PIB per capita (PIB total dividido pelo número de habitantes do país) medido em dólares. Mapa indicando o Índice de Desenvolvimento Humano de 2011 Índice de Progresso Social (IPS). O Índice de Progresso Social (IPS) combina uma série de indicadores sociais e ambientais, provenientes de bases de dados internacionais, além de pesquisas de percepção, com objetivo de identificar o cenário, os desafios e as oportunidades de progresso social dos países. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 33 Desenvolvido pelo especialista mundial em competitividade Michael Porter e por economistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT), o índice é respaldado por empresas privadas e instituições sem fins lucrativos, como Deloitte, Skoll Foundation, Fundación Avina, Cisco e Banco Compartanos. O Índice, construído pela instituição global sem fins lucrativos Social Progress Imperative 17 , revela uma série de tendências, confirmando que crescimento econômico nem sempre resulta em progresso social. O Índice foi, criado por uma equipe comandada pelo professor Michael Porter, da Harvard Business School, é considerado complementar ao PIB (Produto Interno Bruto) e a outros indicadores econômicos no estabelecimento de uma compreensão mais holística do desempenho geral dos países. Edição 2014 do Índice de Progresso Social “Até hoje, sempre se supôs que há uma relação direta entre crescimento econômico e bem-estar. No entanto, o Índice de Progresso Social mostra que nem todo crescimento econômico é igual. Embora um alto PIB per capita seja relacionado a 17 www.socialprogressimperative.org,. Sítio de internet em inglês. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 34 progresso social, essa conexão está longe de ser automática. Com níveis similares de PIB, vemos que alguns países alcançam níveis de progresso social muito mais elevados que outros”, afirma Michael Porter (grifo nosso). 2.3. Taxa de Câmbio A taxa de câmbio nominal é a proporção em que se troca duas moedas diferentes, por exemplo, o dólar e o real. Quando a taxa de câmbio sobe, a moeda nacional está se desvalorizando ou se depreciando. Obviamente, neste caso, a moeda estrangeira se valorizou. Por outro lado, quando a taxa de câmbio cai, vamos dizer que a moeda nacional está valorizada (apreciada) e a moeda estrangeira se desvalorizou. A taxa de câmbio é um dos preços mais importantes de uma economia, pois intermedeia as relações comerciais e financeiras de um país com o resto do mundo. Para os exportadores interessa uma taxa de câmbio o mais alta possível, pois assim aumentam as receitas em reais das exportações em dólares. Para os importadores, por outro lado, é interessante que o preçodo dólar seja o menor possível, pois assim suas despesas ficam menores. A escolha de uma determinada política cambial é de extrema importância. A taxa de câmbio é essencial para dar proteção contra produtos importados e também permitir que o consumidor tenha poder de compra. O sistema de câmbio fixo apresenta uma relação constante entre a troca de duas moedas. É estabelecido através de uma decisão governamental e a manutenção da taxa de câmbio é responsabilidade da autoridade monetária. Esta passa a atuar sempre que o mercado pressiona o mercado de câmbio. O governo deve atuar comprando ou vendendo moeda estrangeira para manter a taxa de câmbio fixa. Já o regime de flutuação cambial (ou câmbio perfeitamente flexível) apresenta uma relação livremente determinada pelo confronto entre oferta e demanda de divisas no mercado cambial. Na prática, significaria uma ausência de política cambial, onde a própria movimentação de capitais vai determinar a taxa de câmbio. Assim, por exemplo, se muitos dólares entram no Brasil a tendência da taxa de câmbio é cair. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 35 Também é possível o regime de bandas cambiais. Nele a taxa de câmbio pode variar dentro de um limite pré-estabelecido pela autoridade monetária. É determinado uma taxa de câmbio que determina o ponto médio ou central da banda e uma amplitude, que é a variação acima ou abaixo do ponto central pela qual o Banco Central 18 (Bacen) não irá intervir no mercado. Assim, por exemplo: O Bacen determina que a taxa média será de R$ 1,95/Dólar e que a variação pode ser de R$ 0,05 para mais ou para menos. Quando a taxa de câmbio se aproximar de R$ 1,90/Dólar o Bacen vai comprar dólares e aumentar a taxa de câmbio. Por outro lado, se a taxa subir para próximo de R$ 2,00, o Bacen vai ter que vender dólares para pressionar o câmbio para baixo. 1.3) Taxa de Câmbio, Balança Comercial e Aplicações Financeiras. Taxa de Câmbio e o resultado da Balança Comercial A mudança na taxa de câmbio pode baratear um produto importado ou tornar o produto nacional mais competitivo. Para entendermos esta relação vamos estudar dois exemplos. Inicialmente, vamos ver como a variação da taxa de câmbio influencia a exportação. Imaginemos um produtor nacional que exporta um produto qualquer. Ele produz mil unidades de um produto que é vendido no exterior por dez dólares. Primeiro exemplo: EXPORTADOR 1º MOMENTO - R$2,00 US$1,00 Quantidade (Q) =1000 produtos Preço no mercado externo (Pext)= US$ 10,00 Receita em dólares (RUS$)= US$ 10.000,00 18 Banco Central do Brasil - BACEN - é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Fazenda, criada para ser o agente da sociedadae brasileira na promoção da estabilidade do poder de compra da moeda brasileira. Objetivos: zelar pela adequada liquidez da economia; manter as reservas internacionais do País em nível adequado; estimular a formação de poupança em níveis adequados; zelar pela estabilidade e promover o permanente aperfeiçoamento do Sistema Financeiro Nacional. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 36 Receita em reais (RR$)= R$ 20.000,00 Custo Total de Produção (CT)= R$ 15.000,00 Sendo assim, o lucro do exportador será correspondente à receita em reais subtraída do valor do custo (RR$ – CT). Logo, tendo a receita R$ 20.000,00 e o custo R$ 15.000,00, o lucro será de R$ 5.000,00. Veremos agora duas possíveis variações: 2º MOMENTO - R$ 1,00 US$ 1,00: Q=1000 produtos Pext= US$ 10,00 RUS$= US$ 10.000,00 RR$= R$ 10.000,00 CT= R$ 15.000,00 LUCRO (prejuízo): RR$ – CT = - 5.000,00 Conclui-se ainda que, tendo uma queda na taxa de câmbio e por tanto a valorização da moeda nacional ocorreu um prejuízo para o exportador. Assim, com a taxa de câmbio mais baixa fica mais difícil a exportação. Isso impacta negativamente a Balança Comercial. 3º MOMENTO - R$ 3,00 US$ 1,00 Q= 1000 produtos Pext= US$ 10,00 RUS$= US$ 10.000,00 RR$= R$ 30.000,00 CT= R$ 15.000,00 LUCRO: RR$ – CT = 15.000,00 Sendo assim, aumentando a taxa de câmbio, o lucro do exportador aumentará. Isso criará um incentivo à exportação que vai elevar os resultados da Balança Comercial do Brasil. Podemos concluir que, quando há uma alta na taxa de Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 37 câmbio, há também um incentivo às exportações e vice-versa. Vejamos agora o que acontece com o importador, dadas as mesmas taxa de câmbio. ------xxxxxx------ Segundo exemplo: IMPORTADOR Agora, vamos verificar o que acontece com um importador no caso de uma variação cambial. Supomos que um vendedor brasileiro importa laptops para vender no Brasil. Cada um deles custa (preço + imposto + frete), US$ 500,00 (Peua). O preço de venda no Brasil é de R$ 1.600,00 (PBR). 1º MOMENTO - R$2,00 US$1,00 Peua= US$ 500,00 Custo em Reais (CR$)= R$1.000,00 PBR=R$ 1.400,00 LUCRO: R$ 400,00 (por unidade vendida) Veremos agora duas possíveis variações: 2º MOMENTO - R$ 1,00 US$ 1,00: Peua = US$ 500,00 CR$ = R$ 500,00 PBR = R$1.400,00 LUCRO: R$ 900,00 (por unidade vendida) Neste caso, com a queda da taxa de câmbio o vendedor de produtos importados teve um aumento no lucro. Isso pode provocar um crescimento da importação e pressionar negativamente a Balança Comercial. 3º MOMENTO - R$ 1,00 US$ 3,00: Peua = US$ 500,00 CR$ = R$ 1.500,00 PBR = R$ 1.400,00 Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 38 LUCRO (prejuízo): - R$100,00 (por unidade vendida) Sendo assim, tendo a alta na taxa de câmbio e a consequente valorização do dólar e a desvalorização do real, verifica-se que não há lucro e a tendência é que se tenha prejuízo. Para o importador, um aumento de câmbio é muito ruim. Assim, a desvalorização do real tende a diminuir a importação. Isso pode ter um resultado benéfico para a Balança Comercial. OBS 01: Quanto mais desvalorizada a moeda nacional (taxa de câmbio alta), maior será a tendência de superávit. O contrário também se verifica. OBS 02: Sempre que houver uma rápida alta na taxa de câmbio, haverá uma tendência de inflação, independente do fato do produto ser totalmente nacional ou não. OBS 03: Quando a taxa de câmbio cai e as importações aumentam, a indústria nacional se vê prejudicada e há uma tendência de aumentar o desemprego. Por isso dizemos que “quando a importação aumenta, estamos exportando os empregos”. Se eu compro os produtos, obviamente, eu não produzo no Brasil, não necessitando mão-de-obra. Sendo assim, estimulo a geração de empregos no exterior. Taxa de Cambio e Resultado de aplicações Financeiras Agora vamos imaginar que um agente externo vai fazer uma aplicação financeira no Brasil, ou seja, vai colocar seu rico dinheirinho em uma aplicação qualquer que tenha uma taxa de juros fixa por mês. Apenas para facilitar nossas contas, imaginemos uma taxa de 10,0% ao mês (sei que a taxa é muito alta, mas o número serve para facilitar o nosso exemplo). O estrangeiro aplicou US$ 100,00 no Brasil. Para isso ele deve trocar seus Dólares por Reais. No dia em que le fez a aplicação vamos imaginar que a taxa de cambio é R$ 2,00 para cada US$ 1,00. Como a taxa de cambio vai impactar o resultado da aplicação? A) Se durante o mês da aplicação a taxa de cambio ficar estável, teremos: Capital inicial (CI) em Dólares: US$ 100,00 Notas de aula– Introdução à Economia II - Macroeconomia 39 Capital inicial em Reais: R$ 200,00 Taxa de juros fixa: 10,0%/mês. Resultados em Reais: R$ 220,00 Resultado em Dólares: US$ 110,00 Ganho real: 10,0% B) Se durante o mês da aplicação a taxa de cambio cair para R$ 1,00 para US$ 1,00. Capital inicial (CI) em Dólares: US$ 100,00 Capital inicial em Reais: R$ 200,00 Taxa de juros fixa: 10,0%/mês. Resultados em Reais: R$ 220,00 Resultado em Dólares: US$ 220,00 (R$ 1,00 para US$ 1,00) Ganho real: 120,0% C) Se durante o mês da aplicação a taxa de cambio sobe para R$ 3,00 para US$ 1,00. Capital inicial (CI) em Dólares: US$ 100,00 Capital inicial em Reais: R$ 200,00 Taxa de juros fixa: 10,0%/mês. Resultados em Reais: R$ 220,00 Resultado em Dólares: US$ 73,33 (R$ 3,00 para US$ 1,00) Ganho real: -26,67% Logo podemos afirmar que se há uma tendência de alta na taxa de cambio (depreciação da moeda nacional), teremos uma forte chance de ocorrer uma fuga/afastamento de capitais do país para evitar maiores prejuízos. Isso pode determinar uma deterioração da Conta de Capital do Balanço de Pagamentos. 2.4. O Investimento e a Taxa de Juros. O termo investimento refere-se ao uso de recursos para ampliar a produção, modernizá-la, ou buscar melhorias e eficiência na atividade econômica. Investir é comprar máquinas ou equipamentos, contratar mão-de-obra, ampliar a planta construída, seja com um galpão novo, ampliando o prédio etc. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 40 Erroneamente as aplicações financeiras são chamadas de investimento, quando na verdade são formas de poupança. Não é tecnicamente correto usar a expressão: investir em poupança. São conceitos divergentes, poupar é guardar dinheiro, sob qualquer forma. O aumento do investimento agregado vai gerar uma série de efeitos, dentre eles: a) aumento do PIB e da renda per capita; b) geração de empregos, excetuando os casos de investimento em tecnologia poupadora de mão-de-obra; c) melhora das expectativas sobre a economia; d) aumento das oportunidades para os jovens que ingressam no mercado de trabalho; e) modernização e recuperação do capital depreciado Ex: pintura das paredes. f) no que diz respeito a investimento público, um aumento pode gerar melhoria nos serviços e na infra-estrutura. O investimento depende sempre da expectativa de lucro que o empresário possui. A expectativa é tão importante porque o investimento é feito no presente e o empresário precisa acredita que o lucro virá no futuro. É o retorno, ou a possibilidade de lucro, que vai mover o empresário a investir. Alguns itens podem favorecer o aumento do investimento agregado. Eles vão atuar criando expectativas favoráveis à condução dos negócios e à obtenção dos lucros. Estabilidade política e institucional, ou seja, manutenção da democracia, das instituições. Se isso não ocorrer, o Estado passa insegurança à sociedade e está perde o horizonte de planejamento. Estabilidade no ordenamento jurídico, com claros marcos regulatórios. Não é recomendado mudar constantemente as leis, alterando as regras do jogo, sem aviso ou necessidade. O empresário tem um gasto enorme de tempo e de dinheiro para tentar acompanhar todas as mudanças. Isso ocorre principalmente com relação às leis trabalhistas, tributárias, de direito econômico, etc; Política monetária (taxa de juro e nível de oferta de crédito) e Política Fiscal (tributos) que desonere o empresário e incentive o investimento, a geração de Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 41 emprego e de renda. Quanto maior a taxa de juros e os tributos, menor será o nível de investimento levado a cabo pelos empresários. Além disso, os consumidores vão evitar os financiamento nas compras a crédito, como veículos, por exemplo. Melhorias na educação; Melhoria na infraestrutura de transportes, distribuição de energia elétrica, telecomunicações, etc. Se não tiver água, conexão na internet contínua, luz sem quedas e etc. para que uma empresa possa funcionar sem problemas, a região não vai atrair investimentos. É necessário que haja um clima de otimismo e que reflita a possibilidade de crescimento econômico (estamos abertos para negócios) 19 ; Credibilidade internacional e política de apoio e incentivo a exportação; Fortalecimento do mercado interno com bons níveis de emprego e renda. Criação de mercado interno através da geração de emprego. Empregos geram renda, assim como renda gera consumo. O empresário precisa vender, logo, precisa de um forte mercado interno. Baixa inflação; Expectativas e incertezas Na nossa vida ninguém tem antevisão perfeita do futuro 20 . Isso pode ser visto quando no primeiro dia de aula você se depara com um professor que explica, aparentemente, bem a matéria (que parece ser interessante) e é simpático com os alunos. Isso vai gerar uma expectativa de que o curso será bom e que o semestre será agradável e proveitoso. Porém isso é só uma expectativa, pois o futuro é sempre incerto. Em economia o mesmo pode ocorrer. Um determinado ambiente econômico pode se mostrar mais favorável e gerar expectativas de que a economia vai 19 Ex: 11 de setembro de 2001. Os investidores poderiam ficar com medo de que seus investimentos fossem destruídos por ataques terroristas. O prefeito de NY Rudolph Juliani, foi ao famoso e tradicional programa Saturday Night Live e após as homenagens e discursos emocionados, fez questão de dizer a frase “We are open to business”. A intenção era evitar um clima de pessimismo e mostrar que a economia girava normalmente sua engrenagem. 20 Mesmo que alguns charlatões tentem vender previsões para aquelas pessoas menos informadas. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 42 crescer e que os negócios serão lucrativos. Neste caso temos expectativas positivas sobre o futuro. Outra situação pode gerar um quadro de insegurança com aumento das incertezas sobre o futuro, dificultando o planejamento ou apontando um futuro difícil devido a problemas que são esperados graças as nossas expectativas. Num quadro de boas expectativas o empresário vai investir para tentar aproveitar o bom momento que (supostamente) ira ocorrer. Isso vai gerar empregos, aumentar a produção etc. Também o consumidor vai gastar mais e a economia vai crescer. Porém num quadro de expectativas negativas os agentes econômicos vão tomar uma posição conservadora e não arriscar investir/gastar, pois não há grandes possibilidades de retorno. É o que chamamos de preferência pela liquidez, pois as pessoas e empresas vão optar por ativos líquidos e fugir de opções que demorem em dar retorno e que apresentem dificuldade de resgate. É melhor esperar a crise passar e o futuro ficar previsível e apresentar melhores perspectivas. Podemos resumir os fatores que elevam o nível de incerteza, gerando expectativas negativas: Alteração sistemática das leis que atuam diretamente sobre a economia (Leis Trabalhista, tributárias etc. ); Elevada inflação; Deterioração das contas públicas; Condições adversas das contas nacionais; Insegurança no mercado internacional; São consequências: Diminuição do investimento; Aumento do desemprego; Recessão; Preferência por ativos líquidos, normalmente encontrados no mercado financeiro. Notas de aula – Introdução à Economia II - Macroeconomia 43 2.5. Inflação
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