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FUNDAMENTOS DE ECONOMIA, MERCADO DE CAPITAIS E INVESTIMENTO Autores: André Luiz Kopelke Renato Oliveira Santos Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS 330 K832f Kopelke, André Luiz Fundamentos de economia, mercado de capitais e investimentos / André Luiz Kopelke; Renato Oliveira Santos. Indaial : Uniasselvi, 2012. 186 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-513-0 1. Economia; 2. Mercado de capitais. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Profa. Lucimara Apareceida Terra Revisão Gramatical: Profa. Marli Helena Faust Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (047) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2012 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Renato Oliveira Santos Formado em Administração de Empresas, Ciências Contábeis e Especialista em Administração Financeira e Auditoria. Atua como Professor de Sistema Financeiro Nacional e Mercado de Capitais, nas Faculdades de Ciências Contábeis e Administração Finanças da UNIASSELVI há aproximadamente 9 anos. Têm experiência de Mercado Financeiro há aproximadamente 29 anos. André Luiz Kopelke Economista, graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina, bacharel em Administração pela UDESC-ESAG e Mestre em Administração pela UFSC. Atua como docente em disciplinas presenciais na UNIASSELVI, em Indaial, na área de Economia, Fundamentos das Finanças e Matemática Financeira. Coordenador de Estágios na UNIASSELVI. É professor-autor do Caderno de Estudos de Economia do EAD da UNIASSELVI. Sumário APRESENTAÇÃO ..................................................................... 7 CAPÍTULO 1 Princípios Básicos de Economia e Finanças ....................... 9 CAPÍTULO 2 Noções de Políticas Econômicas ...................................... 35 CAPÍTULO 3 Estrutura do Sistema Financeiro Nacional .................... 57 CAPÍTULO 4 Produtos de Investimentos ................................................ 83 CAPÍTULO 5 Produtos de Créditos ....................................................... 109 CAPÍTULO 6 Mercado de Capitais ........................................................... 145 7 APRESENTAÇÃO O mundo moderno é profundamente dependente do sistema financeiro. Essa dependência não é nova. Historiadores e economistas definem que o Sistema Econômico Capitalista (modelo de organização econômica adotado por nossa sociedade) iniciou sua “fase financeira” nas últimas décadas do século XIX. A fase financeira do capitalismo é caracterizada pelo significativo crescimento da atividade bancária e pela dependência cada vez maior dos capitais industriais do setor financeiro. Hoje é praticamente inconcebível realizar algum tipo de atividade produtiva sem a utilização de algum produto ou serviço financeiro. As empresas utilizam os produtos e serviços financeiros para financiar seus investimentos. Os consumidores utilizam os serviços bancários para pagarem suas contas, guardarem suas economias e financiarem a compra de bens duráveis. Até mesmo os governos se utilizam amplamente dos serviços do sistema financeiro na medida em que, ao venderem títulos públicos, financiam seus gastos excessivos e realizam a rolagem da dívida pública. Essa dependência da economia mundial ao setor financeiro fica evidente em períodos de crise econômica. Quando bancos e entidades financeiras passam por dificuldades sérias e prolongadas, os governos se apressam em ajudá-las, pois sabem que a “quebra” das instituições financeiras sairá mais caro para a sociedade do que o custo do seu socorro. Um banco, quando quebra, provoca um efeito em cascata, quebrando também as empresas e pessoas físicas que possuem investimentos em suas contas. A quebra de um banco pode provocar pessimismo generalizado, saques dos investimentos, restrições de liquidez, o que pode gerar, no final das contas, a paralisação de todo o sistema produtivo. Por isso não é mais possível imaginar a economia moderna funcionando sem a ajuda de um complexo e elaborado sistema financeiro. O presente livro tem por objetivo apresentar esse sistema financeiro, seus produtos e serviços, suas relações com o sistema econômico e as instituições que nele operam. O primeiro capítulo é dedicado a uma introdução à Economia. Veremos o que significa economia, para que ela serve, o que é um sistema econômico, o que é riqueza, o que é moeda, e como esses elementos fluem no sistema econômico. Veremos o papel fundamental do sistema financeiro dentro do sistema econômico capitalista. 8 O segundo capítulo é dedicado ao estudo das Políticas Econômicas e como elas influenciam as instituições do sistema financeiro. Ao longo do século XX e XXI estamos presenciando uma crescente intervenção do Governo no Sistema Econômico por meio de uma série de Políticas Econômicas. E essas ações governamentais têm profundas implicações sobre as instituições financeiras e os produtos e serviços por elas oferecidos. No terceiro capítulo estudaremos a estrutura do Sistema Financeiro Nacional. Veremos que ele é composto por dois grandes subsistemas. Um Subsistema Normativo, responsável pela regulamentação e controle do sistema financeiro e um Subsistema de Intermediação (ou Operativo), composto pelas instituições propriamente ditas que oferecem produtos e serviços financeiros para o público em geral. Veremos a estrutura e as responsabilidades de cada uma dessas instituições. No quarto capítulo falaremos dos Produtos de Investimentos, ou seja, das diferentes alternativas de investimentos de recursos para aqueles que possuem recursos “de sobra”, ou seja, à disposição para investimentos. Serão analisadas as diferentes rentabilidades, graus de liquidez, impostos e taxas administrativas incidentes sobre essas modalidades de investimentos. O quinto capítulo é dedicado aos Fundos de Investimentos, que nada mais são que condomínios constituídos para promover a aplicação coletiva dos recursos dos participantes. Serão analisadas as diferentes modalidades de fundos, bem como os riscos e rentabilidades envolvidos em cada um deles. No sexto capítulo veremos os produtos de crédito, ou seja, o conjunto de produtos e serviços financeiros para quem precisa de dinheiro emprestado. Existe uma série de produtos para pessoas físicas e jurídicas, cada um com suas peculiaridades e custos, e destinados aos mais variados serviços, desde a quitação de dívidas até o financiamento da compra de bens de consumo duráveis. O sétimo capítulo é destinado ao estudo da Bolsa de Valores, suas características, sua importância para o empresário como fonte de recursos para os investimentos produtivos e para o investidor que está procurando uma alternativa de investimento rentável e segura para seus capitais. Serão analisados alguns aspectos do processo de negociação de ações, as suas operações e seus riscos. Serão estudadas ainda as diferentes modalidades de ações, alguns aspectos do processo de abertura de capital pelas empresas e das negociações de ações no mercado primário e secundário. Finalmente, o capítulo termina com uma breve análise do Mercado de Derivativos, Mercado Futuro, Mercado de Opções e Mercado a Termo. CAPÍTULO 1 Princípios Básicos de Economia e Finanças A partir da perspectivado saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Diferenciar os vários entendimentos possíveis da palavra economia. 3 Compreender o processo de evolução da Ciência Econômica. 3 Identificar as contribuições dos principais economistas no desenvolvimento da Ciência Econômica e suas influências no mundo atual. 3 Compreender os objetivos da Ciência Econômica. 3 Diferenciar os conceitos de Moeda e Riqueza. 3 Demonstrar o funcionamento do Fluxo Circular da Renda no Sistema Econômico Capitalista. 3 Compreender o papel das Instituições Financeiras num Sistema Econômico Capitalista. 11 Princípios Básicos de Economia e Finanças Capítulo 1 Contextualização Para muitas pessoas, economia é um tema complexo e desinteressante, pois envolve números e cálculos complicados, siglas estranhas e um emaranhado de relações que parecem não fazer sentido. Algumas pessoas preferem atribuir as causas das crises econômicas a um grupo de empresários, financistas e investidores “desalmados” e “egoístas” que pensam apenas nos seus lucros pessoais e se esquecem do bem-estar coletivo. Muitos consideram que não existe lógica em muitas das ações tomadas pelo poder público. Em um momento os juros baixam, para, logo em seguida, voltarem a subir. Quando um imposto é extinto, outros são criados em seu lugar. O valor do dólar oscila de forma errática, prejudicando os negócios com o setor externo. São muitos os exemplos de ações aparentemente sem sentido no campo econômico. E é natural que as pessoas que não compreendam a lógica por detrás dessas ações percam o interesse pelas questões econômicas. Mas, o fato é que o ambiente econômico e as ações governamentais destinadas a conduzir e orientar as práticas econômicas afetam profundamente os negócios do setor privado, sejam eles ligados ao setor produtivo, ao comércio e principalmente ao setor financeiro. E um profissional do setor financeiro precisa ter algumas noções do funcionamento do sistema econômico, das razões das constantes ações governamentais sobre esse sistema, e as consequências dessas ações sobre o seu ramo de atividade. É esse conhecimento que irá permitir a algumas empresas tomar medidas estratégicas adequadas e sobreviver aos períodos de turbulência econômica que inevitavelmente ocorrem de tempos em tempos. Este capítulo tem por objetivo esclarecer os diversos significados da palavra economia, e quando cada um deles pode ser utilizado. Pretende-se mostrar como essa ciência evoluiu ao longo dos anos e como foram forjadas as principais concepções a respeito da gestão do sistema econômico. Também será feita uma distinção entre os conceitos de Riqueza e Moeda, fundamental para entender muitos dos mecanismos utilizados nas ações de Política Monetária. Finalmente, será apresentado o Fluxo Circular da Renda, uma simplificação dos principais fluxos econômicos no sistema capitalista, e o papel do sistema financeiro nesse contexto. Economia e seus Possíveis Significados A palavra economia tem múltiplos significados. Popularmente, entende-se por economia o ato de fazer bom uso dos recursos financeiros, evitando desperdícios, 12 Fundamentos de Economia, Mercado de Capitais e Investimentos de forma a gerar um excedente a ser guardado, ou poupado. Dessa forma, “fazer economia” significa “gastar pouco” e usar com sabedoria os recursos disponíveis, de forma a gerar um determinado volume de poupança. Mas a economia não se limita a esse sentido popular. A palavra economia costuma ser utilizada como sinônimo de Atividade Econômica, ou seja, o conjunto de ações realizadas pelos seres humanos no sentido de produzir, distribuir e consumir riquezas. Este sentido é muito mais amplo. Ele engloba toda a atividade produtiva dos diversos países do mundo. Nessa perspectiva, toda atividade laboral, todo processo produtivo, do mais primitivo ao mais avançado, todo o processo de distribuição, bem como a atividade logística envolvida, além do consumo e as ações necessárias a fomentá-lo (marketing, publicidade, financiamento ao consumidor), em suma, todas essas ações podem ser classificadas como Atividades Econômicas. Atividade Econômica: o conjunto de ações realizadas pelos seres humanos no sentido de produzir, distribuir e consumir riquezas. E o conjunto de atividades econômicas de uma sociedade compõe a Economia de um país. É esse o significado da palavra “Economia” quando se afirma que a “economia do país ‘X’ cresceu Y%” em determinado ano. Dessa forma, é possível considerar que os seres humanos, no desempenho de suas atividades formais, estão desenvolvendo algum tipo de atividade econômica. É bem verdade que muitas atividades humanas não estão relacionadas ao campo econômico, como as atividades espirituais e afetivas, mas com a evolução da organização social, até mesmo essas atividades acabam por desembocar em algum tipo de atividade econômica. Por exemplo, a troca de presentes entre namorados ou entre pais e filhos em datas religiosas mostra claramente essa tendência da sociedade moderna. Finalmente, existe um terceiro significado para a palavra economia. É o de “Ciência Econômica”. A Economia, entendida pela perspectiva de uma Ciência, busca compreender as diferentes relações sociais destinadas a produzir, distribuir e consumir riquezas, isto é, a Ciência Econômica tem por objetivo compreender a Atividade Econômica e, a partir de métodos científicos, estabelecer Leis Econômicas que possam servir de base para ações de intervenção no próprio sistema econômico, de forma a dinamizá-lo, torná-lo mais produtivo, socialmente mais justo, A Economia, entendida pela perspectiva de uma Ciência, busca compreender as diferentes relações sociais destinadas a produzir, distribuir e consumir riquezas 13 Princípios Básicos de Economia e Finanças Capítulo 1 sustentável a longo prazo e orientado ao crescimento e à melhoria da qualidade de vida da população em geral. Ciência Econômica: é a ciência que procura compreender as diferentes relações sociais destinadas a produzir, distribuir e consumir riquezas. A Ciência Econômica tem por objetivo estudar de forma sistemática e metódica a atividade econômica de forma a estabelecer “Leis Econômicas” que ajudem a dinamizar, potencializar, racionalizar e tornar socialmente mais justo o processo de produção, distribuição e consumo de riquezas. O Desenvolvimento da Ciência Econômica No seu processo de desenvolvimento, esta ciência recebeu a contribuição de vários economistas, dentre os quais três nomes se destacam. Adam Smith (1723-1790), economista e filósofo escocês, é considerado o fundador da Ciência Econômica. Adam Smith: Filho de um fiscal da alfândega, nasceu em 5 de junho de 1723, em Kirkcaldy, Escócia. Aos 14 anos, ingressou na Universidade de Glasgow, onde se graduou em 1740 e conseguiu uma bolsa de estudos para a Universidade de Oxford, onde estudou filosofia. Em 1751 ingressou na Universidade de Glasgow, onde atuou como professor de lógica. Em 1752, passou a lecionar filosofia moral. Em 1758, foi eleito reitor da Universidade. Seu primeiro trabalho, “A Teoria dos Sentimentos Morais”, foi publicado no ano seguinte. Em 1763, Adam Smith renunciou ao seu posto na Universidade de Glasgow e mudou-se para a França. Passou quase um ano na cidade de Toulouse e depois foi para Genebra, onde se encontrou com o filósofo Voltaire. Em Paris, Adam Smith pôde frequentar os salões literários e travou contato com os filósofos iluministas. 14 Fundamentos de Economia, Mercado de Capitais e Investimentos Em 1767, Smith retornou a Kirkcaldy, onde iniciou a elaboração e revisão de sua célebre teoria econômica. Passou mais três anos em Londres, onde seu livrofoi concluído. “Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações” foi publicado em 1776, tornando-se um dos mais influentes livros de teoria moral e econômica do mundo. Depois da publicação do livro, tornou-se comissário da alfândega na Escócia, o que lhe garantiu bons proventos. Smith morreu em 1790, aos 67 anos. A publicação de seu livro “A Riqueza das Nações”, em 1776, é vista como o marco inicial dessa nova Ciência. A partir de suas observações da sociedade inglesa da segunda metade do século XVIII, Smith estabeleceu diversos princípios econômicos, muitos dos quais ainda são considerados válidos nos dias atuais. Ele defendeu, entre outras coisas, a ideia de que o mercado é “autoajustável”. Isso significa que as decisões relativas à produção, distribuição e consumo de riquezas não precisam ser previamente planejadas por um órgão governamental. Segundo suas ideias, se fosse garantida a livre concorrência entre os empresários, a alocação de recursos seria ótima e a sociedade caminharia, de forma automática, para o crescimento econômico e para a melhoria generalizada da qualidade de vida. Portanto, Adam Smith (HUNT, E.K., 1987) é associado, até os dias atuais, ao liberalismo econômico, uma doutrina segundo a qual o Estado não deve intervir na atividade econômica. Na visão de Smith, uma intervenção do Estado na Economia prejudicaria o perfeito funcionamento do mercado, atrasando o crescimento e o desenvolvimento econômico. O segundo nome de destaque é o economista alemão Karl Marx. Marx é considerado um Socialista Científico, e suas ideias surgiram na esteira das consequências da disseminação das ideias liberais de Adam Smith pela Europa. Karl Marx: Karl Marx nasceu em 5 de maio de 1818, em Tréveris, na Alemanha. Ingressou na Universidade de Bonn para estudar Direito, transferindo-se, mais tarde, para a Universidade de Berlin, onde conheceu a obra do filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel. O contato com as ideias de Hegel desenvolveu o interesse de Marx pela filosofia, e ele veio a se doutorar nesta área em 1841. Em 1842, tornou-se redator-chefe da Gazeta-Renana (Rheinische Zeitung). Em função de seu ataque ao governo prussiano, foi expulso 15 Princípios Básicos de Economia e Finanças Capítulo 1 daquele país em 1843, indo parar em Paris, onde assumiu a direção da publicação Anais Franco-Alemães. Marx teve cinco filhos com sua esposa Jenny Von Westphalen, três dos quais morreram em função das péssimas condições materiais da família. Em 1844 conheceu Friedrich Engels, industrial alemão que se tornou parceiro de Marx em várias obras, inclusive numa das mais importantes: O Manifesto do Partido Comunista de 1848. Após um período extremamente tumultuado, sendo expulso de diversos países em função de suas ideias (França, Bélgica e Alemanha pela segunda vez), em 1848 fixou-se definitivamente em Londres, onde permaneceu até sua morte, em 14 de março 1883, e onde escreveu sua principal obra: O Capital, cujo primeiro volume foi publicado pela primeira vez em 1867. HUNT, E. K. História do Pensamento Econômico. Rio de Janeiro: Campus, 1987. O liberalismo de Smith trouxe duas consequências bem distintas. Por um lado, a indústria europeia deu um salto de produtividade, e o poder econômico daí decorrente projetou o continente para a liderança mundial, econômica e militarmente, no século XIX. Mas a outra consequência foi a degradação das condições de vida das classes trabalhadoras. A industrialização levou a um processo de migração da mão de obra dos campos para as cidades, criando uma classe de trabalhadores assalariados. Como não havia intervenção estatal nesse processo, os salários e as jornadas de trabalho eram fixados de acordo com as decisões da classe empresarial. A exploração da mão de obra infantil e feminina, jornadas de trabalho de até 18 horas diárias e salários baixíssimos se tornaram frequentes. Liberalismo, em economia, é considerado como uma característica do sistema econômico Capitalista segundo a qual os agentes econômicos (famílias e empresas) possuem liberdade para tomar suas decisões de cunho econômico (comprar, vender, 16 Fundamentos de Economia, Mercado de Capitais e Investimentos contratar, demitir, investir, elevar, baixar preços, etc.). O liberalismo não é idêntico para todos os países. O grau de liberdade varia muito. Em alguns países existe um elevado grau de liberdade para os agentes econômicos. Em outros, julga-se que a liberdade excessiva é prejudicial ao bem comum. Nesses países, há uma maior interferência do Estado no controle e na condução dos assuntos econômicos. Nesses países, o grau de liberalismo econômico é menor. Dentro desse contexto de precarização das relações de trabalho, muitos economistas começaram a se perguntar se o Sistema Capitalista teria condições de conduzir a sociedade rumo ao crescimento e ao desenvolvimento social. Karl Marx acreditava que a melhoria das condições de vida dos trabalhadores não seria possível dentro da sociedade capitalista. Ele julgava esse modelo de organização social por demais injusto e, por isso, defendia a sua superação, ou seja, sua destruição. Em seu lugar deveria ser instaurado um novo modelo de sociedade, mais justo e humanitário, principalmente com as classes trabalhadoras. A esse novo modelo de Sistema Econômico Marx (MARX, K; ENGELS, F., 2002) chamou de Comunismo. Os fatos históricos evidenciaram que o Comunismo, no século XX, não representou uma melhora nas condições de vida das classes trabalhadoras. Na verdade, em muitos países onde essa forma de organização econômica foi adotada, os trabalhadores foram fortemente reprimidos, e qualquer ideia contrária à dos dirigentes governamentais poderia ser severamente punida. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Martin Claret: 2002. De qualquer forma, as ideias de Marx formam, e ainda são, muito importantes para o entendimento do sistema econômico capitalista, pois pela primeira vez as ideias de crescimento automático e autoajustamento do mercado são fortemente criticadas. Marx mostra ao mundo que o capitalismo tem problemas e que ele não funciona de forma perfeita. E esses problemas do capitalismo se traduzem das mais variadas formas: desemprego, estagnação econômica, desperdício de recursos naturais, degradação ambiental, etc. Marx (MARX, K., 2008) era muito pessimista quanto ao futuro do capitalismo e não procurou estudar alternativas para melhorá-lo. 17 Princípios Básicos de Economia e Finanças Capítulo 1 Apesar dos problemas sociais e da forte crítica de Marx (HUNT, 1987) as ideias liberais predominaram no mundo ocidental ao longo de todo o século XIX e durante as três primeiras décadas do século XX. O cenário somente mudou nos anos 30 do século XX. Pode-se afirmar que o “mundo liberal” entrou em colapso com a Crise da Bolsa de Valores de Nova Iorque de outubro de 1929. A crise trouxe como consequência a Grande Depressão dos anos 30. Ficou evidente, nesse período, que o autoajustamento do mercado não funcionava. A Crise da Bolsa de Valores de Nova Iorque foi um processo de queda significativa do valor das ações das empresas negociadas naquela instituição. O processo foi precedido por uma ampla especulação financeira entre 1927 e 1928. O economista norte- americano John Kenneth Galbraith (GALBRAITH, 2010) identifica que o processo de especulação começou bem antes. No segundo semestre de 1924 já foram verificadas elevações das cotações dos títulos imobiliários. Essas elevações nos valores de títulos e ações perduraram até o início de setembro de 1929. A partir dessa data, os títulos começaram a desvalorizar, no início de forma lenta e com breves recuperações. Mas a partir de outubrode 1929 os preços começaram a despencar vertiginosamente. O dia 24 de outubro de 1929 (quinta-feira negra) é a data que marca a mais significativa queda do valor das ações na história. Mas a queda não se restringe a esse dia. Os títulos e ações negociados na Bolsa de Valores de Nova Iorque continuaram caindo até 1933. As enormes perdas financeiras, tanto dos grandes investidores e industriais quanto dos pequenos investidores e poupadores comuns, levaram os Estados Unidos, Europa e demais países capitalistas a uma longa crise, conhecida como a Grande Depressão dos anos 30, crise esta que somente foi superada durante a II Guerra Mundial. GALBRAITH, John Kenneth. 1929: A Grande Crise. São Paulo: Ed. Larousse do Brasil, 2010. A solução foi apresentada pelo terceiro grande economista a contribuir com 18 Fundamentos de Economia, Mercado de Capitais e Investimentos essa ciência: John Maynard Keynes. Keynes (1992) mostrou, em bases sólidas, que o autoajustamento do mercado não funciona. John Maynard Keynes nasceu em 5 de junho de 1883, mesmo ano da morte de Marx. Sua família era composta por intelectuais. Estudou no Colégio Eton, da aristocracia inglesa, onde obteve medalhas por mérito em matemática. Em 1902 Keynes recebeu uma bolsa de estudos para estudar no King’s College, da Universidade de Cambridge. Nesta instituição, Keynes foi aluno do famoso economista Alfred Marshall. Em 1906 John M. Keynes tornou-se funcionário do Ministério dos Negócios das Índias e passou dois anos na Ásia. Em 1908 passou a ocupar o cargo de professor de economia em Cambridge, onde lecionou até 1915. Keynes ingressou no Tesouro Britânico em 1916, exercendo diversos cargos importantes. Após a Primeira Guerra Mundial, Keynes foi conselheiro da delegação britânica nas negociações de paz, mas em 1919 renunciou ao cargo, por não concordar com as compensações econômicas impostas à Alemanha pelo Tratado de Versalhes. Seu ponto de vista sobre essa questão foi publicado no mesmo ano, no livro “As Consequências Econômicas da Paz”. Sua obra mais importante foi publicada em 1936, a “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”. Durante a Segunda Guerra Mundial, John Keynes se reincorporou ao Tesouro Britânico. Em 1944 chefiou a delegação britânica na Conferência de Bretton Woods, que deu origem ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional. Além de ser um proeminente economista, John M. Keynes teve também uma vida social muito ativa. Pertenceu ao famoso grupo de Bloomsburry, formado por intelectuais e aristocratas. Em 1925 Keynes casou-se com a bailarina russa Lydia Lopokova, mas a união não resultou em filhos. Keynes faleceu em 21 de abril de 1946, em decorrência de seu terceiro ataque cardíaco. Ao contrário de Marx, Keynes acreditava que o capitalismo merecia ser “salvo”. Para tanto, desenvolveu modelos teóricos que subsidiaram as autoridades 19 Princípios Básicos de Economia e Finanças Capítulo 1 governamentais a superar a Grande Depressão. Em linhas gerais, Keynes afirmava que a depressão e o desemprego só poderiam ser superados mediante a intervenção estatal no sistema econômico. Essa intervenção deveria ocorrer por meio do estímulo à Demanda Agregada, ou seja, ao consumo da sociedade. E esse estímulo ocorreria pela realização de gastos públicos que gerariam empregos e renda. Como a implementação dessas ideias implicava a realização de gastos públicos muito acima dos orçamentos governamentais, suas ideias sofreram fortes resistências. Mas, como se mostraram eficientes no combate ao desemprego e à depressão, vêm sendo usadas até os dias atuais. Em linhas gerais, pode-se afirmar que o modelo de Capitalismo adotado pela grande maioria dos países no mundo atual, caracterizado pela forte intervenção Estatal em várias esferas da atividade produtiva, é fruto da implementação das ideias de Keynes, apresentadas na sua principal obra, “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, publicada pela primeira vez em 1936. Vimos, em linhas gerais, os principais aspectos da evolução do pensamento econômico na visão dos três principais economistas. Na próxima seção trataremos dos conceitos e dos objetivos da ciência econômica na atualidade. Atividade de Estudos: 1) Pesquise na Internet uma pequena biografia dos economistas estudados nesse tópico e procure identificar em que contexto eles viveram. Procure verificar como os problemas econômicos enfrentados em cada época específica foram importantes para a formação das ideias desses economistas. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Objetivos da Ciência Econômica A Ciência Econômica, como já foi visto, busca compreender o funcionamento da Atividade Econômica. A partir de um estudo sistemático dos processos 20 Fundamentos de Economia, Mercado de Capitais e Investimentos de produção, distribuição e consumo de riquezas, os economistas buscam estabelecer leis e princípios econômicos que possam vir a ser utilizados para aprimorar, dinamizar e potencializar a própria Atividade Produtiva. Mas a função final do aprimoramento e da dinamização da Atividade Produtiva é a melhoria da qualidade de vida de toda a sociedade. McGuigan; Moyer; Harris (2004) define produção como sendo a geração de um bem que tenha valor para os compradores. Embora os economistas muitas vezes sejam criticados por não considerar as questões sociais em seus cálculos matemáticos, a Economia efetivamente se preocupa com aspectos sociais. Mas a perspectiva da Economia, nesse aspecto, é parcial. Atualmente se considera que a qualidade de vida das pessoas dependa de um conjunto de fatores, entre eles os fatores materiais, religiosos, espirituais, afetivos, de convívio social, além de muitos outros. A preocupação social da Economia resume-se aos fatores materiais, ou seja, uma vez que essa ciência se preocupa com a geração de riquezas, e considerando que o acesso a um conjunto mínimo de riquezas é uma pré-condição para uma vida digna, a Economia se preocupa em como organizar o processo produtivo para, a partir de um conjunto relativamente limitado de recursos produtivos, produzir bens e serviços de forma a satisfazer, pelo menos em termos materiais, da melhor maneira possível, os membros de uma sociedade. Dentro dessa perspectiva, a Ciência Econômica é conhecida como a “Ciência da Escassez”, pois ela parte do pressuposto que os recursos produtivos, necessários para a produção de bens e serviços, são escassos. Economia é, pois, a ciência que estuda as formas do comportamento humano resultantes da relação existente entre as ilimitadas necessidades a satisfazer e os recursos que, embora escassos, se prestam a usos alternativos. (ROBBINS, apud ROSSETTI, 1997, p. 52). O termo escassez precisa ser entendido em termos relativos. Para os economistas, tudo o que não está prontamente disponível para o consumo de um indivíduo é relativamente escasso. Por isso existem bens mais ou menos escassos. Todo objeto passível de compra e venda possui algum grau de escassez. Objetos muito escassos tendem a ter um valor muito elevado. Bens com baixo grau de escassez costumam ter valor mais baixo. Objetos que não têm escassez nenhuma não têm valor, e por isso não podem ser comercializados. O melhor exemplo de Para os economistas, tudo o que não está prontamente disponível para o consumo de um indivíduo é relativamente escasso. Por isso existem bens mais ou menos escassos. Todo objeto passível de compra e venda possui algum graude escassez. Objetos muito escassos tendem a ter um valor muito elevado. Bens com baixo grau de escassez costumam ter valor mais baixo. Objetos que não têm escassez nenhuma não têm valor, e por isso não podem ser comercializados. 21 Princípios Básicos de Economia e Finanças Capítulo 1 bem sem nenhum grau de escassez é o ar atmosférico, que existe em tamanha abundância que cada ser vivo pode retirar da natureza a quantidade suficiente para a manutenção de sua vida. Por isso, o ar não pode ser comprado e vendido. Mas mesmo nesse caso, para algumas necessidades específicas, alguns gases atmosféricos já são comercializados, como o oxigênio, o hélio, o nitrogênio, entre outros. Mas estes gases somente são objeto de compra e venda porque não é possível encontrá-los em estado puro na natureza. Dessa forma, os recursos produtivos são considerados escassos. A mão de obra qualificada é claramente escassa num país como o Brasil. Mas, na perspectiva econômica, até a mão de obra de baixa qualificação possui um relativo grau de escassez. Obviamente que esse grau de escassez é inferior à escassez de trabalhadores qualificados, e é justamente por isso que a mão de obra de baixa qualificação recebe uma remuneração menor. Quanto maior o grau de escassez de um recurso, maior o seu valor. Portanto, a mão de obra de elevada qualificação, por ser mais escassa, tem melhor remuneração. O mesmo princípio é aplicado a todos os recursos produtivos: fontes energéticas, matérias- primas, recursos naturais utilizados nos processos produtivos, máquinas e equipamentos, tecnologias, etc. Por exemplo, o petróleo é um recurso natural não renovável utilizado como fonte energética. À medida que vai ficando mais escasso, ou seja, à medida que a oferta mundial dos produtores de petróleo encontra maiores dificuldades para atender a demanda crescente do mundo industrializado, em franca expansão, seu preço vai se elevando. Paralelamente ao fato de os recursos serem considerados escassos, as necessidades humanas são consideradas ilimitadas. A palavra “ilimitada” também deve ser entendida em termos relativos. Com a evolução da sociedade capitalista e com a melhoria generalizada do padrão de vida dos países industrializados, o conjunto de bens e serviços aos quais uma pessoa precisa ter acesso para ter uma vida considerada digna é muito maior do que era, por exemplo, durante a Idade Média. Atualmente, uma pessoa, para poder viver relativamente bem, e ter condições de participar de forma ativa da sociedade, precisa ter acesso a níveis mínimos de educação, saúde, cultura, transporte, segurança, entre vários outros. Para usufruir desses serviços ela precisa ter um nível mínimo de renda. A produção desses bens e serviços exige a utilização de recursos produtivos escassos. Em sociedades primitivas, estruturalmente mais simples, as necessidades de seus integrantes eram mais modestas. Na complexa sociedade Capitalista dos dias atuais, as necessidades humanas são muito grandes, e à medida que o capitalismo evolui, as necessidades tendem a crescer ainda mais. Além disso, o Capitalismo estimula o consumismo, pois, fundamentalmente, o ciclo econômico no sistema capitalista depende do consumo. É o consumo que irá determinar o volume de produção, a geração de empregos e grande parte da distribuição de renda. 22 Fundamentos de Economia, Mercado de Capitais e Investimentos Além disso, o Capitalismo estimula o consumismo, pois, fundamentalmente, o ciclo econômico no sistema capitalista depende do consumo. É o consumo que irá determinar o volume de produção, a geração de empregos e grande parte da distribuição de renda. Portanto, os países capitalistas mais avançados são também os mais consumistas. Há, neles, uma constante busca por produtos mais sofisticados, tecnologicamente mais avançados, maiores e mais potentes. Os consumidores desses países consideram a aquisição desses produtos uma necessidade fundamental para a elevação de sua qualidade de vida. Sem dúvida, muitas dessas necessidades podem ser consideradas supérfluas, mas representam mais um aspecto de quão relativo deve ser o entendimento da palavra “necessidade” em Economia. Portanto, considerando que as necessidades humanas são ilimitadas, e que os recursos produtivos, necessários para a produção de bens e serviços, são escassos, tem-se um impasse. Não será possível produzir bens e serviços em quantidades suficientes para atender a todas as necessidades de todas as pessoas. Algumas pessoas poderão ter uma parcela bastante significativa de suas necessidades atendidas, mas esse privilégio não poderá ser garantido a todas as pessoas. Cada sociedade irá definir os seus critérios de distribuição da riqueza gerada (bens e serviços), mas isso dependerá da orientação política e dos princípios ideológicos dominantes em cada nação. O pensamento econômico, como vimos no item anterior, pode ser influenciado por princípios ideológicos, adotando, por vezes, posturas mais centralizadoras e estatizantes, e em outros momentos, mais liberais e mercadológicas. Figura 1 – Problemas econômicos fundamentais Fonte: Kopelke (2006, p. 10). 23 Princípios Básicos de Economia e Finanças Capítulo 1 De qualquer maneira, independente de orientação ideológica, a Ciência Econômica buscará compreender os processos por meio dos quais poderá ser realizada a melhor alocação possível dos escassos recursos produtivos existentes, de forma a maximizar a produção de riquezas de um determinado país. Dessa forma ela irá fornecer subsídios aos formuladores de políticas econômicas de forma que as ações governamentais conduzam o país, não apenas no rumo do crescimento econômico, mas no caminho do desenvolvimento econômico, o que implica melhora não apenas nos aspectos quantitativos (de produção, emprego, vendas, etc.), mas também em aspectos qualitativos (melhores serviços educacionais, melhor saúde, segurança pública, acesso à cultura e lazer, etc.). A figura 1 ilustra o dilema enfrentado pela Economia. Diante da incapacidade de atender às necessidades ilimitadas dos seres humanos, frente à escassez de recursos produtivos, cada sociedade deverá definir um conjunto de prioridades. Cada sociedade terá de lidar com os problemas econômicos fundamentais, ou seja, os principais aspectos relacionados ao processo de produção, distribuição e consumo de riquezas: o que e quanto produzir, como produzir e para quem produzir. Cada país, em função de sua orientação político-ideológica e de seus governantes, irá resolver a questão de uma maneira específica. Mas cabe à Ciência Econômica fornecer as informações e o suporte teórico para uma melhor tomada de decisão por parte das autoridades governamentais. Atividade de Estudos: 1) Pesquise na internet informações a respeito dos recursos produtivos estudados nesse tópico. Verifique se esses recursos são realmente escassos. Um bom indicador do grau de escassez desses recursos é o seu preço. Quanto mais caro um recurso, mais caro ele se torna. Por exemplo, o petróleo é um recurso produtivo fundamental para a sociedade moderna. Pesquise o que está acontecendo com o preço desse recurso nos últimos 10 anos. Faça a mesma avaliação com outros recursos produtivos (minério de ferro, água, terras raras, etc.). Após seu estudo, verifique com seus colegas se eles chegaram a conclusões parecidas. ____________________________________________________ ____________________________________________________ De qualquer maneira, independente de orientação ideológica, a Ciência Econômica buscará compreender os processos por meio dos quais poderá ser realizada a melhor alocação possível dos escassos recursosprodutivos existentes, de forma a maximizar a produção de riquezas de um determinado país. 24 Fundamentos de Economia, Mercado de Capitais e Investimentos ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Riqueza e Moeda Já foi demonstrado que a Ciência Econômica está profundamente relacionada com o conceito de riqueza. Também é de conhecimento geral que, quando tratamos de assuntos econômicos, a riqueza costuma ser mensurada em termos monetários, ou seja, a riqueza é medida tendo por parâmetro uma moeda, seja ela o Real, o Dólar, o Euro, a Libra, o Yen, ou qualquer outra moeda do mundo. Os conceitos de riqueza e moeda estão tão intimamente relacionados que boa parte da população considera moeda como sinônimo de riqueza. Segundo o senso comum, uma pessoa que consegue acumular, ao longo da vida, uma grande quantidade de dinheiro (moeda), pode ser considerada uma pessoa rica, ou seja, proprietária de uma quantidade razoável de riquezas. Embora a moeda possua a característica de funcionar como reserva de valor, o que lhe permite ser associada à riqueza em determinadas circunstâncias, a moeda não pode ser considerada a riqueza propriamente dita. Podemos considerar a moeda como um instrumento ou uma tecnologia desenvolvida pelos seres humanos para facilitar os processos de troca de bens, mercadorias e serviços, esses, sim, a verdadeira riqueza de uma nação. Podemos considerar a moeda como um instrumento ou uma tecnologia desenvolvida pelos seres humanos para facilitar os processos de troca de bens, mercadorias e serviços, esses, sim, a verdadeira riqueza de uma nação. 25 Princípios Básicos de Economia e Finanças Capítulo 1 Um bem pode ser considerado uma riqueza na medida em que ele tem condições de satisfazer uma necessidade de uma pessoa. Um alimento, uma casa, um automóvel, um diamante, um filme projetado no cinema, um remédio para uma doença específica, uma peça de roupa da última moda. Todos são exemplos de riquezas, pois todas essas mercadorias ou serviços têm condições de atender a determinadas necessidades. Podemos questionar a qualidade da necessidade. Algumas necessidades são fundamentais, como os alimentos. Outras são supérfluas, como as roupas de moda. Mas independente dessas características, elas atendem a determinadas necessidades e isso as qualifica como riquezas. Por esse motivo a riqueza de um país é medida pelo PIB (Produto Interno Bruto), indicador que mede o valor total da produção de bens e serviços realizados dentro das fronteiras do país ao longo de um ano. Ou seja, é um indicador baseado em dados relativos a volume de produção. Observe que a riqueza do país não é medida pela quantidade de moeda em circulação. Caso moeda fosse um sinônimo para riqueza, seria muito fácil acabar com a pobreza no mundo. Bastaria “produzir” moeda em grandes quantidades e distribuir aos pobres. Porém, todo país que tentou resolver o problema da pobreza dessa maneira criou problemas ainda maiores. O excesso de moeda gerou inflação, o que acentua ainda mais a desigualdade social. Isso ocorre porque a moeda, em si, não tem condições de satisfazer as necessidades humanas. A moeda não alimenta, mesmo que seja feita de ouro. Ninguém que tenha ingerido ouro teve sua fome saciada. A moeda é utilizada, em nossa civilização, como um instrumento de trocas, ou seja, ela é um meio para atingir um fim. A moeda é trocada por uma mercadoria, e é a mercadoria que irá satisfazer a necessidade do indivíduo. Os poucos países que tentaram combater a pobreza pela emissão de moeda criaram uma ilusão para a sua população. As pessoas, com dinheiro para gastar, tiveram, momentaneamente, a sensação de serem ricas. Mas ao tentarem trocar suas moedas por mercadorias, para buscar uma melhora no padrão de vida, perceberam que as demais pessoas do seu país também tinham muito dinheiro para gastar. O problema é que não havia mercadorias para atender a todos (o conhecido problema da escassez de recursos diante de necessidades ilimitadas). Então os poucos vendedores passaram a vender suas mercadorias para quem oferecesse mais pelo produto. A moeda é uma representação da riqueza. Ela é um instrumento utilizado pela sociedade para facilitar as trocas de riquezas e recursos produtivos entre os vários agentes econômicos. E esse instrumento de trocas passou por um longo processo evolutivo até chegar aos dias atuais, passando por fases como o de mercadoria- moeda, metalismo, cunhagem, moeda-papel, até chegar aos modelos atualmente em uso, como o papel- moeda e a moeda escritural. 26 Fundamentos de Economia, Mercado de Capitais e Investimentos E estava criada a inflação. Em pouco tempo, a moeda perdia o seu valor, e não servia mais para ser trocada por mercadorias. Por isso, o combate à pobreza passa necessariamente pela questão da ampliação da produção de bens e serviços, da melhoria qualitativa e quantitativa dos recursos produtivos, bem como da questão da justiça distributiva, ou seja, dos critérios de distribuição da riqueza gerada. Portanto, a moeda é uma representação da riqueza. Ela é um instrumento utilizado pela sociedade para facilitar as trocas de riquezas e recursos produtivos entre os vários agentes econômicos. E esse instrumento de trocas passou por um longo processo evolutivo até chegar aos dias atuais, passando por fases como o de mercadoria-moeda, metalismo, cunhagem, moeda-papel, até chegar aos modelos atualmente em uso, como o papel-moeda e a moeda escritural. De modo geral, quanto mais complexas as relações de produção de uma sociedade, mais abstrata se torna a sua forma de moeda. O que hoje chamamos tecnicamente de moeda escritural, e que na prática representa o dinheiro depositado em contas-correntes, não passa de um impulso eletromagnético no disco rígido de um computador pertencente a uma instituição financeira. Tecnicamente não existe na forma física. Mas o que dá valor a esse impulso eletro- magnético (algo extremamente abstrato para uma pessoa de uma sociedade pré-industrial) é a possibilidade de ele vir a ser trocado por papel (papel-moeda) e a possibilidade de esse papel- moeda vir a ser trocado por mercadorias propriamente ditas. WEATHERFORD, Jack. História do Dinheiro. São Paulo: Negócio Editora: 1999. A moeda funciona também como instrumento de medida da riqueza. O ser humano atribui valor à riqueza. Alguns bens valem mais do que outros. Uma Ferrari vale mais que um Fusca. Alguns serviços valem mais que outros. O trabalho de um cirurgião cardíaco é mais valorizado, em nossa sociedade, que o de um contínuo de escritório. E o valor atribuído a cada bem ou serviço é sempre medido em termos monetários. O próprio PIB, que é uma medida da produção dos mais variados produtos e serviços de um país, é contabilizado em uma moeda. Mas, dentre todas as funções que a moeda pode exercer, a única que ela não pode exercer de forma adequada é a função de reserva de valor. A princípio, uma pessoa pode acumular moedaao longo da vida na expectativa de se tornar rica. Mas a moeda perde valor com o passar dos anos. Ela se desvaloriza com o passar do tempo em virtude dos efeitos da inflação. Essa deficiência das moedas 27 Princípios Básicos de Economia e Finanças Capítulo 1 pode ser em parte corrigida pelas instituições financeiras, como será visto no próximo tópico. O Papel das Instituições Financeiras No processo de produção, distribuição e consumo de riquezas, a partir de recursos escassos, as tarefas são divididas entre vários agentes econômicos. Se considerarmos um país como um sistema fechado, ou seja, se desconsiderarmos as relações com o exterior, é possível identificar três categorias de agentes econômicos: • famílias (trabalhadores/consumidores); • unidades de produção (empresas); • Governo. Caso a análise inclua as relações com o exterior, as Famílias do exterior, assim como as Unidades de Produção de outros países, também devem ser consideradas. As Famílias são compostas por trabalhadores, que fornecem mão de obra (um recurso produtivo) para as Unidades de Produção. As Famílias também atuam como consumidoras dos bens e serviços produzidos pelas Unidades de Produção (empresas). Figura 2 – Interdependência entre os fluxos Fonte: Rossetti (1995, p 188). 28 Fundamentos de Economia, Mercado de Capitais e Investimentos Uma representação esquemática dos fluxos de riquezas entre os agentes econômicos pode ser observada na figura 2. Pelo esquema é possível visualizar que existem dois fluxos funcionando paralelamente. No fluxo externo, que circula em sentido anti-horário, fluem as riquezas materiais e concretas produzidas pela sociedade. Na parte superior do fluxo externo, as Famílias encaminham recursos produtivos (mão de obra, terra, capital, etc.) para as Unidades de Produção. Na parte inferior do mesmo fluxo, as Unidades de Produção encaminham bens e serviços acabados aos consumidores finais (Famílias). O fluxo interno (em sentido horário) é a contrapartida monetária das operações realizadas no fluxo externo. Na parte superior do fluxo interno, as Unidades de Produção remuneram as Famílias pelo uso dos recursos produtivos, por meio do pagamento de salários, juros, aluguéis e lucros. Na parte inferior do fluxo interno, as Famílias pagam às Unidades de Produção pela aquisição de bens e serviços produzidos por estas últimas. As operações de troca (compra e venda) entre os agentes econômicos ocorrem no mercado. A compra e venda de recursos produtivos ocorre no Mercado de Recursos de Produção. A compra e venda de bens e serviços finais acontece no Mercado de Bens e Serviços. Para entendermos o papel das instituições financeiras nesse processo é necessário compreender que a riqueza não é igualmente distribuída entre todos os agentes econômicos. Existem agentes econômicos com um excedente de renda. Ou seja, a renda desses agentes é superior aos seus gastos. Por outro lado existem agentes com falta de recursos. Por exemplo, algumas empresas podem ter projetos de ampliação da estrutura produtiva, mas não dispõem de recursos suficientes para implementar os investimentos necessários. É nesse ponto que surge o papel das Instituições Financeiras. Elas serão responsáveis por captar os recursos excedentes da sociedade e disponibilizá-los aos agentes que estiverem dispostos a investi-los na atividade produtiva. Como as Instituições Financeiras conseguem captar os recursos excedentes na sociedade? Já vimos que a moeda não cumpre de forma adequada a sua função de reserva de valor, pois com o passar do tempo o seu valor vai sendo corroído pela inflação. Por isso não é uma atitude racional, por parte do poupador, manter seus recursos financeiros excedentes guardados em casa. As instituições financeiras convencem os poupadores a aplicarem seus recursos mediante uma remuneração denominada de juro. O juro é um prêmio pago ao poupador pela Instituição Financeira por ter aberto mão do uso desta moeda para o consumo 29 Princípios Básicos de Economia e Finanças Capítulo 1 imediato de um bem ou serviço. O juro é uma compensação financeira paga ao poupador que abriu mão de satisfazer, de forma imediata, uma necessidade por meio do consumo. Ao mesmo tempo, a Instituição Financeira oferece os recursos captados a outros agentes dispostos a utilizar recursos financeiros de terceiros para atingir seus objetivos. O empresário que decidir pela tomada de um empréstimo para a concretização do investimento planejado terá de pagar juros pela utilização de recursos de terceiros. Para o tomador de empréstimos, o juro é uma penalização pelo uso de recursos alheios. Normalmente, quanto maiores as somas tomadas em empréstimo, quanto maiores os prazos de uso dos capitais de terceiros, e quanto maiores os riscos envolvidos na operação, maior será o volume de juros cobrados pelas instituições financeiras. E é da diferença entre os juros cobrados dos tomadores de empréstimos e dos juros pagos aos poupadores, que no mercado é chamado de “spread”, que as Instituições financeiras auferem seu lucro. Pode-se afirmar que a função das instituições financeiras é de primordial importância para o adequado funcionamento do Sistema Econômico Capitalista. O economista Britânico John Maynard Keynes (KEYNES, 1992) identificou que, caso toda a renda gerada na sociedade não seja destinada ao consumo de bens e serviços, a Demanda Agregada (demanda total) da sociedade não será suficiente para absorver toda a produção de bens e serviços, provocando um acúmulo de estoques. Caso essa situação perdure por muito tempo, o volume de estoque fica muito grande e as empresas são obrigadas a reduzir o ritmo de produção, o que implica demissões de funcionários. Caso as demissões ocorram de forma generalizada na sociedade, o volume total de renda disponível para consumo diminui, o que provoca nova queda no consumo, um novo aumento de estoques, e um novo ciclo de demissões, levando o país a entrar num ciclo vicioso que pode culminar numa depressão econômica similar à que aconteceu com o mundo capitalista nos anos 30 do século XX. As Instituições Financeiras, ao captarem os recursos excedentes não destinados ao consumo, e disponibilizá-los a empresários que queiram investir, mantêm os recursos financeiros circulando e gerando demanda. Está aí mais um motivo para o capitalismo estimular o consumismo. O capitalismo precisa de demanda para funcionar, pois, sem demanda, não há consumo, não há vendas, nem produção, nem emprego e nem renda. E este é um motivo pelo qual o consumo também é fonte de preocupação da Ciência Econômica. Sem consumo, sem demanda, o sistema não funciona. As Instituições Financeiras, ao captarem os recursos excedentes não destinados ao consumo, e disponibilizá-los a empresários que queiram investir, mantêm os recursos financeiros circulando e gerando demanda. 30 Fundamentos de Economia, Mercado de Capitais e Investimentos Portanto, as instituições financeiras prestam um serviço fundamental ao funcionamento do sistema capitalista, permitindo a constante utilização dos recursos financeiros, evitando que o Fluxo Circular da Renda deixe de funcionar. Figura 3 – Fluxo circular da renda e do produto Fonte: Adaptado de Froyen (2001, p. 95). A figura 3 é uma ampliação da figura 2. O fluxo externo da figura 2 foi suprimido na figura 3. Paralelamente, o fluxo interno (monetário) foi ampliado de forma a mostrar os vazamentos e as injeções de recursos no fluxo circular da renda. Os vazamentos são representados pelos recursos financeiros adquiridos pelas famílias que não foram prontamente gastos com consumo. As injeções representam osmecanismos utilizados pelo sistema capitalista para redirecionar esses recursos financeiros ao sistema, de forma a manter a demanda por bens e serviços sempre elevada. Na figura 3 é possível observar que a poupança é vista como um vazamento do Fluxo Circular da Renda. Esses recursos financeiros que não foram utilizados para o consumo não geraram demanda, e caso nada seja feito, põem em risco o funcionamento de todo o sistema. A partir do momento em que as Instituições Financeiras captam esses recursos e os disponibilizam, via empréstimos, para a realização de investimentos produtivos, esses recursos voltam a gerar demanda para as Unidades de Produção, afastando o risco de crise por falta de demanda. Portanto, as instituições financeiras prestam um serviço fundamental ao funcionamento do sistema capitalista, permitindo a constante utilização dos recursos financeiros, evitando que o Fluxo Circular da Renda deixe de funcionar. 31 Princípios Básicos de Economia e Finanças Capítulo 1 Obviamente, o mesmo processo que funciona para pessoas jurídicas funciona para pessoas físicas. Um indivíduo que tome um empréstimo (via financiamento, cheque especial, ou outro serviço prestado por uma instituição financeira) para pagar uma dívida, ou para adquirir um produto, também contribui da mesma maneira para colocar em circulação os recursos excedentes de um terceiro, e dessa forma gerar demanda e estimular todo o sistema econômico. Os impostos pagos pelas famílias também são considerados vazamentos, na medida em que o dinheiro gasto com o pagamento de impostos não pode ser utilizado para o consumo. Porém, o governo, ao captar os recursos dos impostos e redirecioná-los, via gastos do governo, a obras e serviços públicos, bem como para o pagamento do funcionalismo público, volta a injetar os recursos captados via impostos e volta a gerar demanda por bens e serviços no sistema econômico. Finalmente, o mesmo raciocínio é válido para o setor externo. Um consumidor nacional, ao adquirir um produto importado, está direcionando parte da renda gerada internamente para fora do país. Portanto, o dinheiro gasto com produtos importados não gera demanda dentro do país. A aquisição de um produto importado ajuda a gerar demanda no país de origem do produto. Mas num mundo globalizado é impossível fechar as fronteiras aos produtos importados. Por isso, esse vazamento decorrente das importações precisa ser corrigido com um volume equivalente de exportações. Um produto nacional exportado injeta recursos no fluxo circular da renda. Quando um produto é exportado, a renda externa gera demanda por um produto nacional, estimulando a atividade econômica. Atividade de Estudos: 1) Nesta seção você viu que as Instituições Financeiras prestam um importante serviço ao funcionamento do Sistema Econômico Capitalista na medida em que captam os recursos excedentes dos poupadores e os disponibilizam aos tomadores de empréstimos, que os utilizarão para a realização de investimentos. Dessa forma, a Demanda Agregada do país é mantida num patamar elevado, o que é muito importante para a manutenção do crescimento econômico. Você viu também que, para captar os recursos excedentes dos poupadores, as instituições financeiras pagam uma determinada taxa de juros. E aos tomadores de empréstimos, as instituições financeiras cobram uma taxa de juros sobre os valores emprestados. A diferença entre a taxa de juros paga aos poupadores e a cobrada dos tomadores de empréstimos é chamada de “spread”. Pesquise na internet informações a 32 Fundamentos de Economia, Mercado de Capitais e Investimentos respeito do spread praticado pelas instituições financeiras no Brasil. Verifique se esse spread é mais elevado ou mais reduzido do que o spread praticado pelas instituições financeiras em outros países. Verifique também quais as justificativas das instituições financeiras para a prática desse spread no Brasil. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Algumas Considerações Neste capítulo você teve uma visão geral do que é economia, tanto em termos de atividade produtiva, quanto como concepção científica. Você viu que a Ciência Econômica passou por um longo processo evolutivo e os principais problemas econômicos de cada período histórico foram atacados com teorias de renomados economistas que contribuíram para a construção dessa ciência. Vimos que, em economia, partimos do pressuposto que os recursos produtivos são escassos. Por esse motivo, não é possível atender as necessidades de todas as pessoas do planeta. Dessa forma, todo país precisa estabelecer prioridades, definindo quais problemas ele irá atacar primeiro, e com que intensidade, sempre levando em consideração que os recursos não são infinitos. Foi feita uma distinção muito importante entre riqueza e moeda. Mostrou-se que a moeda é, em grande parte, uma representação da riqueza. Ela foi criada para facilitar o processo de troca entre os agentes econômicos. Assim, pode-se considerar a moeda como uma “tecnologia” criada pelos homens para facilitar a troca de riquezas entre eles. Concluímos o capítulo estudando o papel das Instituições Financeiras dentro do contexto do Sistema Econômico como um todo. 33 Princípios Básicos de Economia e Finanças Capítulo 1 No próximo capítulo estudaremos alguns dos instrumentos governamentais de intervenção e ajuste do Sistema Econômico. Serão estudadas três das mais importantes ações de políticas econômicas: política fiscal, política monetária e política cambial. As ações tomadas pelo governo nesses campos afetam de forma profunda os produtos e serviços oferecidos pelo setor financeiro. Referências FROYEN Richard T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2001. GALBRAITH, John Kenneth. 1929: A Grande Crise. São Paulo: Ed. Larousse do Brasil, 2010. GALBRAITH, John Kenneth. A Era da Incerteza. São Paulo: Thomson Pioneira, 1998. HUNT, E. K. História do Pensamento Econômico. Rio de Janeiro: Campus, 1987. KEYNES, John Maynard. A Teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Atlas, 1ª edição, 1992. 328 p. MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Civilização Brasileira: 2008. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Martin Claret: 2002. MCGUIGAN, J.R.; MOYER, R.C.; HARRIS, F.H.D. Economia de Empresas. São Paulo: Cengage, 2004. ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. São Paulo: Atlas, 17º Edição, 1997. SMITH, Adam. A riqueza das nações. São Paulo: Nova Cultural, 1988. Coleção Os Economistas. VASCONCELLOS, Marco Antônio; GARCIA, Manuel E. Fundamentos de Economia. São Paulo: Saraiva, 2005. http://www.livrariacultura.com.br/scripts/busca/busca.asp?avancada=1&titem=1&bmodo=&palavratitulo=&modobuscatitulo=pc&palavraautor=&modobuscaautor=pc&palavraeditora=THOMSON%20PIONEIRA&palavracolecao=&palavraISBN=&n1n2n3=&cidioma=&precomax=&ordem=disponibilidade CAPÍTULO 2 Noções de Políticas Econômicas A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintesobjetivos de aprendizagem: 3 Apresentar os principais instrumentos de intervenção governamental sobre o sistema econômico. 3 Discorrer sobre os mecanismos de implementação de uma política fiscal. 3 Compreender o processo de geração de uma dívida pública e os procedimentos para o seu financiamento. 3 Entender a relação entre o processo de financiamento da dívida pública e a oferta de títulos públicos. 3 Identificar os mecanismos de política monetária e compreender o seu funcionamento como instrumento de implementação de uma política econômica. 3 Perceber a relação entre as ações de política monetária e a rentabilidade de alguns produtos financeiros. 3 Compreender os diferentes mecanismos de administração da taxa de câmbio e suas implicações sobre o valor da moeda nacional. 37 Noções de Políticas Econômicas Capítulo 2 Contextualização No capítulo anterior vimos que, a partir da década de 30 do século XX e, principalmente, após o término da II Guerra Mundial, os países capitalistas passaram por uma profunda transformação caracterizada pela crescente participação do Estado na condução dos assuntos econômicos. Nesse processo existem avanços e retrocessos, mas de modo geral ele continua até os dias atuais. Uma das principais formas de intervenção do Estado na economia de um país ocorre pela implementação de políticas econômicas. Por política econômica, entende-se o conjunto de ações adotadas por um governo destinadas a controlar algumas variáveis macroeconômicas de um país com vistas a objetivos pré-estabelecidos. Essas ações de política econômica estão embasadas e respaldadas pela Teoria Econômica. Macroeconomia: é uma das grandes divisões da Ciência Econômica. A Macroeconomia preocupa-se em estudar questões econômicas que dizem respeito à economia de todo o país. Inflação, crescimento econômico, volume global de exportações e importações, nível de emprego/desemprego são exemplos de questões macroeconômicas. As questões macroeconômicas estão mais relacionadas ao setor público, pois é o governo que tem condições de fazer intervenções sobre essas variáveis. Microeconomia: é a outra grande divisão do estudo econômico. A Microeconomia preocupa-se em estudar questões econômicas específicas dos agentes econômicos (empresas / famílias). A Microeconomia irá estudar o comportamento dos consumidores nas suas decisões de consumo e os empresários, nas suas decisões de investimentos produtivos. A Microeconomia também se preocupa em estudar as relações econômicas entre as empresas, a concorrência e a estrutura de mercado. Por isso, as questões microeconômicas estão mais diretamente relacionadas ao setor produtivo (privado) da economia. A política econômica de um governo é implementada por uma série de medidas, mas três categorias de medidas estão profundamente relacionadas ao mercado financeiro. São elas: Política Fiscal, Política Monetária e Política Cambial. 38 Fundamentos de Economia, Mercado de Capitais e Investimentos Política Fiscal A Política Fiscal compreende o conjunto de ações de política econômica relacionadas aos gastos públicos e aos impostos cobrados pelo governo. a) Gastos Públicos Uma das principais formas de intervenção do governo na economia ocorre por meio dos gastos públicos. O governo controla uma parcela significativa da riqueza gerada num país, e as decisões de como ela deve ser gasta podem funcionar no sentido de estimular a atividade econômica em diversos setores da sociedade. Os gastos públicos em obras de infraestrutura (habitação, transportes, telecomunicações, etc.) e na prestação de serviços variados (educação, saúde, segurança pública, etc.) incrementam a demanda agregada na medida em que geram mais empregos e renda. Desde a década de 30 do século XX os economistas conhecem o poder dos gastos públicos no estimulo à atividade econômica. Tanto que Keynes (KEYNES, J.M., 1992) demonstrou ser, o gasto público, um dos principais instrumentos disponíveis para a recuperação de economias enfraquecidas por crises e depressões. Para Keynes, uma das principais causas de crises econômicas é a queda nos investimentos privados. A classe empresarial, quando sente que o crescimento de seus negócios está ameaçado, entra num clima de pessimismo e reduz substancialmente o volume de investimentos. Esse é o comportamento normal dos empresários num sistema capitalista. Nenhum empresário é obrigado a investir num novo negócio se não há perspectiva de lucro. Mas se esse padrão de comportamento se estender a toda a classe empresarial, a queda nos investimentos privados pode ser muito grande, o que compromete a formação de capital (capacidade produtiva) e a geração de empregos. Caso esse comportamento da classe empresarial persista por um período de tempo muito longo, o sistema econômico como um todo entra em crise. O pessimismo quanto ao futuro se espalha pela sociedade, o consumo cai, as vendas diminuem e a produção industrial despenca. Como resultado, as empresas começam a demitir funcionários que, sem seu salário, reduzem ainda mais seu consumo, agravando a crise e criando um ciclo vicioso que aprofunda cada vez mais a depressão e o desemprego. 39 Noções de Políticas Econômicas Capítulo 2 É justamente o governo, por meio dos gastos públicos, que tem o poder de quebrar esse ciclo vicioso da depressão e do desemprego. Ao efetuar gastos públicos, realizando obras e fornecendo serviços à sociedade, o governo contrata funcionários, gerando renda. Esses funcionários, com a renda recém-adquirida, irão destiná-la ao consumo. O próprio governo, ao realizar obras públicas, irá contratar serviços da iniciativa privada. (KEYNES, 1992). Dessa forma, o gasto público tem o poder de estimular o consumo de duas formas. A primeira, diretamente, pelo próprio consumo do governo ao adquirir bens e serviços do setor privado. A segunda, indiretamente, ao gerar renda, contratando funcionários públicos, que gastarão seus salários adquirindo bens e serviços das empresas privadas. O aumento do consumo de bens e serviços oferecidos pelas empresas privadas provocado pelo aumento dos gastos públicos colabora no sentido de reduzir o pessimismo e aumentar o otimismo dos empresários que percebem a elevação nas vendas e o incremento de seus mercados. À medida que isso ocorre, eles voltam a investir e a economia volta a crescer. Este é o grande papel do gasto público no estímulo à atividade econômica. b) Impostos Se os gastos públicos têm o poder de estimular a economia, deve-se perguntar de onde vem o dinheiro para financiá-los. A resposta é dos impostos. Infelizmente não existem milagres em economia. O dinheiro gasto precisa vir de algum lugar, e ele vem principalmente do bolso dos contribuintes. Esse fato faz com que a cobrança de impostos tenha uma profunda influência sobre a demanda agregada, e, portanto, sobre a capacidade de consumo da sociedade. Caso o governo decida elevar a carga tributária, uma parte maior da renda das famílias será destinada ao pagamento de impostos, o que desestimulará as vendas e o consumo. Por este motivo, a elevação de impostos é muitas vezes utilizada como um mecanismo de controle da inflação. Carga Tributária: é o termo utilizado para designar o volume total de impostos pagos por uma sociedade ao governo de seu país. Normalmente é medido em relação ao Produto Interno Bruto – PIB. Por exemplo: quando uma manchete de jornal informa que a carga É justamente o governo, por meio dos gastos públicos, que tem o poder de quebrar esse ciclo vicioso da depressão e do desemprego. Ao efetuar gastos públicos, realizando obras e fornecendo serviços à sociedade, o governo contrata funcionários,gerando renda. Esses funcionários, com a renda recém-adquirida, irão destiná-la ao consumo. O próprio governo, ao realizar obras públicas, irá contratar serviços da iniciativa privada. 40 Fundamentos de Economia, Mercado de Capitais e Investimentos tributária do Brasil está em 38% do PIB, isso significa que o volume total de impostos pagos pelos brasileiros (nas esferas federais, estaduais e municipais) equivale a 38% de toda a riqueza produzida no país ao longo de um ano. Ou seja, de cada R$ 100,00 de riqueza gerada, R$ 38,00 irão parar nos cofres públicos. Porém, quando o governo identifica que o volume de produção das indústrias e o ritmo das vendas estão caindo, colocando em risco um grande número de empregos, ele pode agir em sentido contrário, reduzindo a carga tributária. Com um volume de impostos menor, as famílias têm mais recursos a serem direcionados para o consumo. O aumento do consumo, por sua vez, estimula as vendas e o emprego. Percebe-se, portanto, que existe um tênue limite entre dois problemas fundamentais nas economias modernas: o emprego e a inflação. Caso as medidas de estímulo ao emprego sejam muito fortes, o consumo aumenta muito, além da capacidade produtiva do país, o que gera inflação. E as medidas de combate à inflação são, justamente, medidas que reduzem o volume agregado de renda, promovendo uma diminuição do ritmo das vendas. Então, uma das principais funções dos formuladores de políticas econômicas é administrar a economia de um país de forma que ela “caminhe” sobre essa tênue linha que demarca a inflação e o desemprego. Caso a economia penda para o lado do desemprego, o governo precisa estimular o crescimento econômico. Caso ela venha a pender para o lado da inflação, a ação correta será desestimular o consumo excessivo. Tanto o desemprego quanto a inflação trazem instabilidade econômica e são nocivos ao crescimento econômico sustentável a longo prazo. Um volume de desemprego muito grande traz pessimismo aos consumidores e à classe empresarial. Os consumidores reduzem ainda mais suas compras, tentando poupar para os tempos difíceis que estão por vir. Os empresários, preocupados com a redução das vendas, reduzem seus investimentos, fecham unidades produtivas e demitem funcionários. De modo semelhante, uma inflação muito elevada é prejudicial ao sistema econômico por uma série de fatores. Uma das principais é que a inflação tem a capacidade de corroer o poder de compra dos assalariados, acentuando Então, uma das principais funções dos formuladores de políticas econômicas é administrar a economia de um país de forma que ela “caminhe” sobre essa tênue linha que demarca a inflação e o desemprego. Caso a economia penda para o lado do desemprego, o governo precisa estimular o crescimento econômico. Caso ela venha a pender para o lado da inflação, a ação correta será desestimular o consumo excessivo. 41 Noções de Políticas Econômicas Capítulo 2 as disparidades sociais e aumentando a diferença entre ricos e pobres. Mas um dos principais fatores negativos da inflação é que, quando ela atinge valores muito elevados, o poder de previsão dos empresários quanto à rentabilidade futura de novos empreendimentos fica seriamente prejudicado. Ao mesmo tempo, o sistema financeiro passa a oferecer uma série de produtos financeiros lastreados com títulos corrigidos pelos índices de inflação. Isso faz com que, na visão do empresário, o investimento produtivo seja considerado muito arriscado, e o investimento financeiro, perfeitamente seguro, uma vez que este último fica protegido dos efeitos da inflação. Por consequência, uma inflação muito elevada estimula o que a mídia brasileira convencionou chamar de “ciranda financeira”, que nada mais é do que o investimento de vultosos recursos em produtos financeiros que não têm o poder de estimular a produção e a renda. Apenas o investimento produtivo tem a capacidade de estimular, de forma significativa, a produção, o emprego, a geração de renda e a ampliação da capacidade produtiva do país. No mundo capitalista moderno, não é possível abrir mão do sistema financeiro, bem como dos produtos e serviços oferecidos por esse importante segmento do sistema econômico. Mas é preciso ter em mente que emprego, renda e ampliação da capacidade produtiva (que é importante para a ampliação do PIB) somente são obtidos com a priorização dos investimentos produtivos. Por isso é fundamental, para a boa gestão do sistema econômico, para a manutenção da estabilidade econômica e para a manutenção de expectativas otimistas entre empresários e consumidores, que o governo de um país mantenha sua economia sobre essa linha imaginária que demarca a inflação (excesso de consumo) de um lado e o desemprego (falta de consumo) de outro. Esses “monstros” precisam ser evitados para que o país tenha perspectivas de crescimento a longo prazo. c) Dívida Pública e o seu financiamento Até meados dos anos trinta do século XX imperava, entre os economistas, a noção de que o Estado deveria gastar um volume de recursos equivalente ao montante arrecadado de impostos. Essa visão era respaldada pelas ideias dos economistas neoclássicos que defendiam uma reduzida intervenção do Estado na Economia. Essa visão permitia, sem dúvida, uma boa administração das contas públicas, mas reduzia a capacidade administrativa do Estado, pois limitava sensivelmente sua capacidade de intervenção e condução das questões econômicas. 42 Fundamentos de Economia, Mercado de Capitais e Investimentos Mas com a Grande Depressão Econômica dos anos 30, as economias capitalistas (Estados Unidos e Europa) sentiram a necessidade de uma intervenção mais consistente do Estado. Houve então a necessidade do aparelhamento do Estado, com a criação de diversas empresas públicas, que resultaram no crescimento significativo de seus gastos. A própria intervenção com a realização de obras públicas provocava um crescimento acentuado dos gastos do governo. E, em período de depressão econômica, esse aumento dos gastos do governo não pode ser compensado com um aumento nos impostos, pois a depressão ocorre pela queda significativa no consumo, nas vendas e na produção. Aumentar impostos nesse contexto seria reduzir ainda mais a capacidade de consumo da sociedade, agravando ainda mais a crise. A solução encontrada foi o aumento dos gastos públicos financiados com o endividamento do Estado. Esse procedimento, estimulado pelas ideias do economista britânico J. M. Keynes, encontrou, no início, muita resistência por parte dos governantes de modo geral, pois gastar além da arrecadação justamente em época de crise econômica parecia um contrassenso. Mas as políticas de estímulo à reconstrução da Europa após a II Guerra Mundial mostraram que essas políticas eram eficientes para combater o desemprego. Essas políticas funcionaram muito bem a partir dos anos 50 e foram responsáveis por quase três décadas de crescimento contínuo do capitalismo em todo o mundo. O endividamento público também crescia na mesma proporção, mas era administrável. As primeiras crises só voltaram a ocorrer a partir dos anos 70, com os sucessivos choques do petróleo. Atualmente, todo país capitalista possui uma dívida pública, fruto de seus gastos excessivos decorrentes da intervenção no sistema econômico. Ao final da primeira década do século XXI, esses países começam a enfrentar outro problema. O endividamento excessivo vem comprometendo parcelas crescentes dos recursos arrecadados de impostos com o pagamento de juros. Quanto maior o grau de endividamento de um país, maiores serão seus custos com a manutenção dessa dívida, pois maiores serão
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