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Apostila Estresse, Medidas de Bem estar e Considerações

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1. Estresse e Bem-estar Animal 
 
De um modo geral, o termo estresse caracteriza uma tensão física ou mental. 
Fisiologicamente, significa a soma dos mecanismos de defesa do animal em um estímulo 
provocado por um agente estressor (FRASER et al., 1975; BACCARI JÚNIOR, 1987; 
SILVA, 2000; HÖLZEL e MACHADO FILHO, 2004). É a força exercida sobre o organismo, 
a qual provoca uma resposta proporcional a sua intensidade (BACCARI JÚNIOR, 1980; 
DANTZER e MORMÉDE, 1983; MOBERG, 1985; ENCARNAÇÃO, 1989 e 1991; 
MANSER, 1992; SOUTO, 2005; FURTADO, 2007) É o estado do organismo, o qual, após a 
atuação de agente de qualquer natureza, responde com uma série de reações não específicas 
de adaptação, entre as quais está em primeiro plano uma hipertrofia do córtex adrenal com 
conseqüente aumento da secreção de seus hormônios (SELYE, 1936, 1950, 1974 e 1976; 
ENCARNAÇÃO, 1980, 1981, 1983a, b e c, 1989; MOBERG, 1985; RIVERA, 2002; 
PIZZUTTO et al., 2009). 
A todo fator exógeno que provoca um estresse é denominado estressor (calor, frio, 
umidade, fome, sede, infecções, esforços corporais, infestações parasitárias, dor, poluição 
sonora, elevada densidade populacional, isolamento, medo, ansiedade, etc.). A interação entre 
estímulo (estressor) e resposta ao estímulo (somatório das reações não específicas ao 
estressor), manifesta-se na forma de uma síndrome (SÍNDROME DE ADAPTAÇÃO 
GERAL), com o qual o organismo tenta evitar ou reduzir os efeitos do estressor (SELYE, 
1936, 1950, 1974 e 1976; FRASER et al., 1975; ENCARNAÇÃO, 1989; RIVERA, 2002). 
Existem vários estudos sobre o fenômeno estresse (SELYE, 1936, 1950, 1974 e 1976; 
EWBANK, 1973; FRASER et al., 1975; MOBERG, 1985; BROOM, 1986 e 1988; BEYNEN 
et al., 1987; ENCARNAÇÃO, 1989; FRASER e BROOM, 1990; MANSER, 1992; 
GATTERMANN, 1993; BROOM e JOHNSON, 1993 e 2000; CARLSON, 1994; 
FERREIRA, 1999; RIVERA, 2002; PARANHOS da COSTA et al. 2002; PARANHOS da 
COSTA, 2004 e 2005; DUNCAN, 2004 e 2007; HÖTZEL e MACHADO PINHEIRO, 2004; 
SOUTO, 2005; MOLENTO, 2005; RÖLL et al., 2006; DUNCAN, 2007; PIZZUTO et al., 
2009; HÖTZEL e MARTENDAL, 2010; ZANELLA, 2010). Porém, todos concordam em que 
“o estresse ocorre quando condições adversas produzem respostas fisiológicas no indivíduo”. 
Essa resposta é uma tentativa do animal em manter a sua homeostase. 
 Para Selye (1974), estresse é uma resposta biocomportamental do organismo a 
qualquer desafio (estressor) que perturbe a homeostase, a ponto de comprometer a regulação 
das respostas, sendo inerente a todos os animais. Sendo a homeostase entendida como uma 
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tendência à estabilidade do meio interno do organismo e/ou uma propriedade auto-reguladora 
de um sistema ou organismo que permite manter o estado de equilíbrio de suas variáveis 
essenciais ou de seu meio ambiente (FERREIRA, 1999). 
A resposta dos animais a um evento estressante compreende três componentes 
principais: o reconhecimento da ameaça à homeostase e/ou ao bem-estar, a resposta e as 
conseqüências do estresse. Uma série de fatores, como experiência anterior, genética, idade, 
sexo ou condições fisiológicas modela a natureza da resposta biológica de um animal a um 
agente estressor (MOBERG, 1987). 
A intensidade e duração do agente estressor atuando sobre o animal irão desencadear 
alterações fisiológicas, imunológicas e comportamentais à agressão do organismo em sua 
totalidade. O êxito das respostas de adaptação permite que a função normal continue. 
Entretanto, quando certos limites são ultrapassados, a função é prejudicada, afetando a 
sanidade e o desempenho produtivo e reprodutivo (HAHN, 1993; BOERE, 2002; MÖSTL e 
PALME, 2002; PIZZUTTO et al., 2009). 
O estresse é muito frequentemente acompanhado de numerosas alterações estruturais e 
funcionais do organismo como parte de um mecanismo de defesa. Representa uma 
modificação progressiva dos mecanismos fisiológicos, para permitir que o indivíduo responda 
ao agente estressor, com alteração mínima da homeostasia. Portanto, o estresse serve para 
proteger o estado homeostático do indivíduo (SILVA et al., 2003). 
 Selye (1936, 1950, 1974 e 1976) caracterizou a Síndrome de Adaptação Geral em três 
fases, a seguir: fase de reação de alarme, resistência e exaustão. 
 Na fase de alarme o organismo mostra as alterações características da primeira 
exposição a um estressor, ao mesmo tempo, sua resistência diminui e, se o estressor é intenso 
a morte pode ocorrer. 
 A fase de resistência se estabelece em seguida se uma exposição contínua ao estressor 
é compatível com a adaptação. Os sinais de alarme desaparecem e a resistência aumenta 
acima do normal. 
 Durante a fase de exaustão, após uma longa e contínua exposição ao estressor ao qual 
o organismo havia se ajustado, a energia de adaptação pode se esgotar. Os sinais de alarme 
reaparecem, porém agora são irreversíveis e o indivíduo morre. 
Embora ocorram mudanças em quase todo sistema endócrino a supra-renal 
desempenha as mais importantes funções do mecanismo de adaptação. A supra-renal 
compreende duas partes. Na porção medular são produzidos a epinefrina e a noraepinefrina, 
chamadas catecolaminas, hormônios que rapidamente são secretados em casos críticos e 
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proporcionam aos organismos uma reação imediata. O córtex adrenal é responsável pela 
produção dos corticosteróides e de alguns hormônios sexuais. Os corticosteróides podem ser 
diferenciados em mineralocorticosteróides e em glicocorticosteróides, cuja principal função 
está na regulação do metabolismo dos carboidratos, proteínas e lipídios, induzindo a formação 
de glicose, pela mobilização e degradação de proteínas e gorduras, tendo como resultado o 
aumento da concentração de açúcar no sangue. Esses esteróides possuem ainda um efeito 
catabólico sobre o tecido conjuntivo e ósseo e, principalmente, sobre os órgãos linfáticos. A 
gliconeogênese estimulada pelos glicocorticosteróides desempenha um importante papel na 
adaptação do organismo aos estressores, onde mais glicose é colocada à disposição do 
metabolismo celular (SELYE, 1950 e 1974 ENCARNAÇÃO, 1980 e 1989; BACCARI 
JÚNIOR, 1987; MATTERI et al., 2000; BOERE, 2002; MÖSTL e PALME, 2002; 
PIZZUTTO et al., 2009). 
Sob condições de intenso e prolongado estresse, os estressores estimulam diretamente 
uma maior secreção de um neuro-hormônio denominado hormônio liberador do corticotrofina 
(CRH). Com a ativação do eixo hipotálamo – adeno-hipófise – córtex-adrenal ocorre 
mudanças em quase todo sistema endócrimo. Por exemplo, num organismo estressado a 
hipófise secreta menos hormônio somatotrófico (STH) ou de crescimento (GH), além de 
menos hormônio tireotrófico (TSH) e gonadotrófico (GTH), conduzindo, os dois últimos, a 
uma reduzida atividade da tireóide e gônadas. Dado o efeito catabólico e a gliconeogênese 
estimulados pelos glicocorticosteróides, pode ocorrer constante degradação de tecidos 
musculares e gordurosos, assim como a inibição da síntese desses tecidos, resultando com 
isso a perda de peso e reduzido crescimento. Além do efeito dos glicocorticosteróides 
causando a atrofia do sistema timolinfático, resultando com isso uma imuno-supressão. Caso 
o estado de estresse perdure demasiado, a própria adrenal não consegue sintetizar esteróides 
em quantidades suficiente, dada a grande demanda de matéria prima e energia para a 
produção de seus hormônios, levando o organismo ao esgotamento (ENCARNAÇÃO, 1989). 
Em outras palavras, animais em condições de estresse elevam a produção de 
glicocorticóides, produzidos pelo córtex adrenal, que regula o metabolismo dos carboidratos, 
proteínas e lipídios, para obtenção de glicose, a partir de aminoácidos, por meio da 
mobilização e degradação de proteínas, bem como, inibem a síntese
de ácidos graxos no 
fígado, reduzindo a utilização de glicose nos tecidos, além de efeito catabólico sobre os 
tecidos conjuntivo, ósseo e órgãos linfáticos, ocorrendo como conseqüência, balanço negativo 
de nitrogênio animal. Esse processo bioquímico provoca a perda de peso nos animais, tendo 
em vista que não ocorre a formação e deposição de músculos ou tecidos, devido a síntese de 
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proteínas e lipídios dar lugar a degradação até transformá-los em moléculas simples, como a 
glicose, para obtenção de energia, prejudicando dessa forma o crescimento e produção animal 
(ENCARNAÇÃO, 1997). 
Segundo Manser (1992) ao se diagnosticar o estresse deve-se primeiramente estudar 
um dos três meios que o animal possui para responder a uma situação estressante, a seguir: 
comportamental, ativação do sistema nervoso autônomo e ativação do sistema 
neuroendócrino, conforme a Figura 2 (MOBERG, 1985). 
 
 ESTÍMULO 
 
 
1º Reconhecimento do perigo à homeostase SNC 
 Percepção do estresse 
 Organização da defesa biológica 
 
 
2º Resposta ao estresse Resposta biológica 
 (Comportamental, autonômica, neuroendócrina) 
 
 
3º Conseqüências do estresse Alterações na função biológica 
 Estado pré-patológico 
 Desenvolvimento da patologia 
 
Fonte: Moberg (1985). 
 
Figura 2. Modelo para a resposta biológica dos animais durante o estresse. 
 
 Certamente que alterações comportamentais são sugestivas de que está ocorrendo 
estresse, mas isso não significa que esse estresse seja prejudicial, com exceção de casos 
extremos, como o de automutilação. Quando a resposta comportamental não alivia o estresse, 
o animal necessita alterar seu estado biológico, evocando os dois sistemas que respondem ao 
estresse, sistema nervoso autônomo e sistema neuroendócrino (FRASER et al., 1975; 
MORTON e GRIFFITHS, 1985; BEYNEN, 1987; MANSER, 1992; RIVERA, 2002). 
O sistema nervoso autônomo possui respostas rápidas e específicas a muito estressores 
como o aumento do batimento cardíaco, freqüência respiratória, além da secreção das 
catecolaminas. Muitos estressores alteram a secreção dos hormônios da pituitária, que 
regulam diretamente a reprodução, resistência a doenças, desenvolvimento normal e 
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crescimento, todos indicadores de bem-estar (SELYE, 1950 e 1976; FRASER et al., 1975; 
ENCARNAÇÃO, 1989; RIVERA, 2002). 
De todas as partes do sistema neuroendócrino, o sistema corticoadrenal tem sido 
favorito para monitorar o estresse, pois os glicocorticosteróides são secretados em resposta a 
uma grande variedade de estressores físicos e emocionais (MOBERG, 1985; BEYNEN, 1987; 
ENCARNAÇÃO, 1989; MANSER, 1992; RIVERA, 2002; SOUTO, 2005). 
Um estressor não é um risco para o bem-estar só porque evoca um comportamento ou 
porque o sistema adrenocortical responde. É o terceiro componente que conta para efeitos 
adversos do estresse do animal, e é este o verdadeiro perigo para seu bem-estar. É a mudança 
na função biológica que ocorre durante o estresse que determina o custo biológico para o 
animal. Um estressor somente causa perigo ao bem-estar quando retira recursos biológicos do 
animal que o colocam em perigo de desenvolvimento de patologias (SELYE, 1950 e 1976; 
FRASER et al., 1975; MOBERG, 1985; MORTON e GRIFFITHS, 1985; BEYNEN, 1987; 
MANSER, 1992; RIVERA, 2002). Todavia, Moberg (1985) e Rivera (2002) salientam que a 
doença não é o único estado patológico viável. O animal estará em condições patológicas se 
perder sua habilidade de manter suas funções normais. 
Autores, tais como Ewbank (1973), Fraser et al. (1975), Morton e Griffiths (1985), 
Moberg (1985), Beynen (1987), Broom (1988), Manser (1992) e Rivera (2002) reportam que 
ao se medir o estresse, é melhor usar sempre mais do que um tipo de medida. São elas: a) 
alterações comportamentais (higiene pessoal, apetite – consumo de água e de alimento, 
atividade, agressividade, expressão facial, vocalização, aparência, postura, resposta ao 
manejo, etc.); b) sinais/parâmetros fisiológicos (temperatura corporal, pulso, respiração, 
perda de peso – bom indicador de estresse crônico, estrutura de células sanguíneas, ritmo 
cardíaco, pressão arterial e fluxo sanguíneo – estes dois últimos são muito úteis, podem ser 
persistentes e se apresentarem elevadas em situações de estresse crônico, etc.); c) indicadores 
bioquímicos (corticosteróides, adrenalina, noradrenalina, tiroxina, prolactina, endorfina, 
glucagon e glicose, insulina, vasopresina, hormônio do crescimento, fator de crescimento 
neural, sistema imunológico, etc.); d) lesões/achados patológicos – são ótimos indicadores de 
estresse, geralmente essas alterações ocorrem como conseqüência de persistentes níveis 
elevados de hormônios de estresse, como catecolaminas e glicocorticosteróides. Há outros 
parâmetros que também podem ser medidos no post mortem: peso das glândulas adrenais, 
timo e baço, alterações neuroquímicas no cérebro, etc. Alguns achados em virtude do estresse 
(úlcera gástrica, hipertrofia, hemorragia das adrenais, etc.); e) sinais clínicos (atividade 
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exploratória, postura corporal, aparência do pêlo, aparência dos olhos, secreção de olhos e 
nariz, aparência do orifício anal, da cauda, orelhas e patas, etc.). 
O cortisol não pode ser visto apenas como um efeito negativo. Cortisol é essencial à 
vida e é responsável por vários processos, como também, funciona amplificando o efeito de 
outros hormônios no organismo. A liberação mínima de cortisol tem como objetivo manter a 
homeostase, conservando o equilíbrio interno do organismo, no entanto, essa secreção mínima 
varia de indivíduo para indivíduo (SALLES, 2010). 
No meio científico, o conceito de estresse não encontra consenso entre pesquisadores, 
justamente por ser um mecanismo de adaptação (BREZNITZ e GOLDBERGER, 1986). 
Contudo, Boere (2002) o define como sendo um mecanismo de defesa do organismo para os 
desafios cotidianos ou extraordinários envolvendo primariamente vias neuroendócrinas que 
sustentam o comportamento adaptativo. 
Para os vertebrados, normalmente, os habitats não são estáticos, e os animais têm que 
se adaptar a situações previsíveis por meio de modificações fisiológicas e comportamentais. 
Os componentes não previsíveis promovem o chamado “estágio de emergência”, que resulta 
em mudanças nos parâmetros endócrinos e metabólicos de um organismo (MÖSTL e 
PALME, 2002). 
Um grande número de hormônios (ACTH, glicocorticoides, catecolaminas, prolactina, 
etc.) está envolvido nas respostas ao estresse (MATTERI et al., 2000; PIZZUTTO et al., 
2009). As glândulas adrenais têm um papel-chave nas respostas hormonais ao estresse, 
agindo, por exemplo, no eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal, que é altamente sensível a 
estressores psicológicos resultantes da percepção de perigo ou ameaça, novidade ou incerteza 
do ambiente (CARLSTEAD e BROWN, 2005). 
O mecanismo fisiológico do estresse por si só não é considerado totalmente 
indesejável ao organismo. Os glicocorticóides liberados em resposta a situações que 
rotineiramente são consideradas estressantes são desejáveis, e a normalidade nos níveis 
depende da concentração e da duração do aumento. Entre outros, o cortejo sexual, a cópula, a 
caça e o parto geralmente estão associados à liberação de glicocorticóides (BROOM e 
JOHNSON, 1993 e 2000). 
O estresse não pode e nem deve ser evitado, pois permite aos indivíduos se prepararem 
para situações em que possa haver a necessidade de enorme gasto energético e recuperação 
(PIZZUTTO et al., 2009). Por isso, o estresse tem um significado altamente adaptativo para a 
sobrevivência dos indivíduos (BOERE, 2002). A sensação desagradável que acompanha
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certas situações de estresse, ou o efeito dessas, é um sinal de alerta conspícuo de que danos 
poderão acontecer ou estão ocorrendo, permitindo que os sistemas se preparem para período 
de intenso desafio físico ou psíquico (NESSE, 1999). 
O estresse é inevitável. É difícil pensar em um ambiente sem estressor (o estresse é 
inerente à própria atividade de viver). O estresse não representa algo anormal no cotidiano de 
um indivíduo, sendo ele, pois, uma parte essencial da vida. Os sistemas biológicos 
sofisticados sofreram evolução para ajudar a conviver com ele (SELYE, 1936, 1950, 1974 e 
1976; MOBERG, 1985; ENCARNAÇÃO, 1989; MANSER, 1992; RIVERA, 2002; BOERE, 
2002; SOUTO, 2005; PIZZUTTO et al., 2009). 
Neste contexto, durante um curto período de estresse, os glicocorticóides podem 
facilitar a mobilização energética e alterar o comportamento. Contudo, o estresse crônico 
(períodos prolongados de altas concentrações de cortisol) ou o estresse intermitente podem 
cobrar altos custos biológicos, como diminuição da aptidão individual por imunossupressão e 
atrofia de tecidos; alterações comportamentais, também conhecidas como estereotipias e 
diminuição da capacidade reprodutiva e por consequinte produtiva (PIZZUTTO et al., 2009). 
 
1.1 Definição e medidas de bem-estar animal 
Bem-estar dos animais é a perspectiva de que os animais, especialmente aqueles sob 
cuidados humanos, não devam sofrer desnecessariamente, inclusive quando os animais são 
utilizados para alimentação, trabalho, companhia e pesquisa. Esta definição apóia-se na 
moralidade da ação humana (ou omissão) opondo-se a uma forte política ou filosofia de 
reclamações sobre a condição dos animais, que buscam conseguir os direitos dos animais. Por 
esta razão organizações utilizam à palavra humana em seus títulos ou posições relacionadas 
ao bem-estar animal (TFD, 2011). 
Requisitos para a definição de bem-estar animal é um termo utilizado para animais, 
incluindo-se o ser humano. É considerado de importância especial por muitas pessoas; porém, 
requer uma definição estrita se a intenção é a sua utilização de modo efetivo e consistente. 
Um conceito claramente definido de bem-estar é necessário para utilização em medições 
científicas precisas, em documentos legais e em declarações e discussões públicas. Para que o 
bem-estar possa ser comparado em situações diversas ou avaliado em uma situação específica, 
deve ser medido de forma objetiva (BROOM e JOHNSON, 1993 e 2000; BROOM e 
MOLENTO, 2004, DUNCAN, 2004 e 2007). 
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A avaliação do bem-estar deve ser realizada de forma completamente separada de 
considerações éticas. Uma vez terminada a avaliação, esta provê as informações necessárias 
para que decisões éticas possam ser tomadas sobre uma dada situação (DUNCAN, 2007). 
Um critério essencial para a definição de bem-estar animal útil é que a mesma deve 
referir-se a característica do animal individual, e não a algo proporcionado ao animal pelo 
homem. O bem-estar do animal pode melhorar como resultado de algo que lhe seja fornecido, 
mas o que se lhe oferece não é, em si, bem-estar. O termo bem-estar pode ser utilizado às 
pessoas, aos animais silvestres ou a animais cativos em fazendas produtivas a zoológicos, a 
animais de experimentação ou a animais nos lares. Os efeitos sobre o bem-estar incluem 
aqueles provenientes de doença, traumatismos, fome, estimulação benéfica, interações sociais, 
condições de alojamento, tratamento inadequado, manejo, transporte, procedimentos 
laboratoriais, mutilações variadas, tratamento veterinário ou alterações genéticas através de 
seleção genética convencional ou por engenharia genética. Bem-estar deve ser definido de 
forma que permita pronta relação com outros conceitos, tais como: necessidades, liberdades, 
felicidade, adaptação, controle, capacidade de previsão, sentimentos, sofrimento, dor, 
ansiedade, medo, tédio, estresse e saúde (BROOM e MOLENTO, 2004, DUNCAN, 2004 e 
2007; MOLENTO, 2005; DAWKINS, 2008; HÖTZEL e MARTENDAL, 2010). 
A palavra estresse deve ser utilizada para descrever aquela porção do bem-estar pobre 
que se refere à falência nas tentativas de enfrentar as dificuldades. Se os sistemas de controle 
que regulam a homeostasia corporal e as respostas aos perigos não conseguem prevenir uma 
alteração de estado além dos níveis toleráveis, atinge-se uma situação de importância 
biológica diferente. A utilização do termo estresse deve ser restrita o seu uso comum para se 
referir os efeitos deletérios sobre um indivíduo (BROOM e JOHNSON, 1993; BROOM e 
MOLENTO, 2004; DUNCAN, 2004 e 2007). Uma definição de estresse simplesmente como 
um estímulo ou evento que provoque atividade do córtex da adrenal não tem valor científico 
nem prático. Um critério precisa para o que é adverso a um animal é difícil de ser 
estabelecido, mas um indicador é existência, real ou potencial, de um efeito na adaptação 
biológica. O estresse pode ser definido como um estímulo ambiental sobre um indivíduo que 
sobrecarrega seus sistemas de controle e reduz sua adaptação, ou parece ter potencial para 
tanto (FRASER e BROOM, 1990; BROOM e JOHNSON, 1993; BROOM, 1993; BROOM e 
MOLENTO, 2004). Segundo Broom e Molento (2004) ao se utilizar esta definição, a relação 
entre estresse e bem-estar fica muito clara. Em primeiro lugar, considerando-se que bem-estar 
se refere a uma gama de estados de um animal, desde muito bom até muito ruim, sempre que 
existe estresse o bem-estar tornar-se pobre. Em segundo lugar, estresse refere-se somente a 
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situações nas quais existe falência de adaptação, porém bem-estar pobre se refere ao estado de 
um animal, seja em condições onde existe falência de adaptação ou quando o indivíduo está 
encontrando dificuldades em se adaptar. É importante que este último tipo de bem-estar pobre 
seja incluído na definição de bem-estar, assim como as ocasiões nas quais haja estresse. Por 
exemplo, se um animal porta uma doença debilitante, mas existe recuperação completa sem 
efeitos em longo prazo sobre a saúde e adaptação, ainda assim seria apropriado afirmar que o 
bem-estar dos indivíduos estava pobre durante a depressão ou a doença (BROOM, 2002). 
O bem-estar de um indivíduo é seu estado em relação às suas tentativas de adaptar-se 
ao seu ambiente (BROOM, 1986, 1988). Esta definição refere se a uma característica do 
indivíduo em um dado momento. A base do conceito é quão bem o indivíduo está passando 
por uma determinada fase de sua vida (BROOM e JOHNSON, 1993 e 2000). O conceito 
refere se ao estado de um indivíduo em uma escala variando de muito bom a muito ruim. 
Trata-se de um estado mensurável e qualquer avaliação deve ser independente de 
considerações éticas. Ao se considerar como avaliar o bem-estar de um indivíduo, é 
necessário haver de início um bom conhecimento da biologia do animal. O estado pode ser 
bom ou ruim; entretanto, em ambos os casos, além das mensurações diretas do estado do 
animal, devem ser feitos tentativas de se medir os sentimentos inerentes ao estado do 
indivíduo (BROOM e MOLENTO, 2004; MOLENTO, 2005; ROLL et al., 2006). 
Existem muitos indicadores do bem-estar, que variam de acordo com a espécie 
estudada. O ambiente que proporcione bem-estar para os animais, segundo Appleby e Hughes 
(1997), é aquele que permite ao animal satisfazer suas necessidades incluindo recursos 
próprios e ações cuja função é atingir um objetivo. Em um dado momento da sua vida, o 
animal terá uma série de necessidades, algumas mais urgentes que outras, mas cada uma delas 
terá uma conseqüência no seu estado geral, caso não atendido, com prejuízo ao bem-estar 
(SOUZA, 2008). Segundo este autor, muitas vezes, os padrões de comportamento são reflexos 
das tentativas do animal de se libertar
ou escapar de agentes/estímulos estressantes. Essas 
reações podem ser usadas para identificar e avaliar o estresse e por oposição, o bem-estar. 
A maioria dos indicadores auxilia a localização do estado do animal dentro da escala 
de muito bom a muito ruim. Algumas medidas são mais relevantes aos problemas de curto-
prazo, tais como aquelas associadas a manejo ou a um período breve de condições físicas 
adversas, enquanto outras são mais apropriadas a problemas de longo-prazo e proporcionam 
discussões detalhadas sobre medidas de bem-estar animal. Alguns sinais de bem-estar 
precário são evidenciados por mensurações fisiológicas. Por exemplo, aumento de freqüência 
cardíaca, atividade adrenal, atividade adrenal após desafio com hormônio adrenocorticotrófico 
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(ACTH) ou resposta imunológica reduzida após um desafio podem indicar que o bem-estar 
está mais reduzido que em indivíduos que não mostrem tais alterações. Resultados das 
mensurações fisiológicas devem ser interpretados com cuidado, assim como aqueles de outras 
medidas (BROOM e MOLENTO, 2004; MOLENTO, 2005, DUNCAN, 2004 e 2007). 
Mensurações do comportamento têm igualmente grande valor na avaliação do bem-
estar. O fato de um animal evitar ou esquivar-se fortemente de um objeto ou evento fornece 
informações sobre seus sentimentos e, em conseqüência, sobre seu bem-estar. Quanto mais 
forte a reação de esquiva, mais pobre será o bem-estar durante a presença do objeto ou do 
fato. Um indivíduo que se encontra impossibilitado de adotar uma postura preferida de 
repouso, apesar de repetidas tentativas, será considerado como tendo um bem-estar mais 
pobre que outro cuja situação permite a adoção da postura preferida. Comportamentos 
anormais, tais como estereotipias, automutilação, canibalismo, comportamento 
excessivamente agressivo indicam que o indivíduo em questão encontra-se em condições de 
baixo grau de bem-estar (BROOM e MOLENTO, 2004; HÖTZEL e MACHADO FILHO, 
2004; ROLL et al., 2006, DAWKINS, 2008; ZANELLA, 2010). 
Em algumas das avaliações fisiológicas e comportamentais citadas pode tornar-se 
óbvio que o indivíduo esteja tentando enfrentar situações adversas, e a extensão destas 
tentativas pode ser mensurada. Em outros casos, entretanto, algumas respostas são 
simplesmente patológicas e o indivíduo não consegue sucesso ao enfrentar a situação. Em 
ambos os casos, o parâmetro indica bem-estar pobre. Doença, ferimento, dificuldades de 
movimento e anormalidades de crescimento são todo indicativos de baixo grau de bem-estar 
(BROOM e MOLENTO, 2004, MOLENTO, 2005 e DUNCAN, 2007). Se dois sistemas de 
criação forem comparados em um experimento e a incidência de qualquer um dos itens 
mencionados for significativamente maior em um deles, o bem-estar dos animais será pior 
neste sistema. O bem-estar de um animal doente é sempre mais pobre que o bem-estar de um 
animal que não está doente; porém, muito ainda há de ser estudado sobre a magnitude dos 
efeitos de doença sobre o bem-estar. Pouco se sabe sobre o grau de sofrimento associado a 
muitas doenças (BROOM e MOLENTO, 2004; DUNCAN, 2007; DAWKINS, 2008). 
Em qualquer avaliação de bem-estar, é necessário levar em conta as variações 
individuais ao se enfrentar adversidades e nos efeitos que as adversidades exercem sobre os 
animais. 
Se o bem-estar fosse visto como um estado absoluto, entendido como existente ou não, 
então o conceito de bem-estar seria praticamente inútil ao se discutir os efeitos de várias 
condições de vida e de procedimentos e o bem-estar de um indivíduo pode melhorar nesta 
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escala, também deve ser possível ao bem-estar movimentar-se no sentido oposto, descendo na 
escala. Há muitos cientistas trabalhando na avaliação do bem-estar animal e que aceitam uma 
melhoria ou piora do bem-estar. Desta forma, não é lógico utilizar o conceito de bem-estar 
como um estado absoluto ou limitar o termo à porção boa da escala. O bem-estar tanto pode 
ser adequado ou bom assim como pobre ou ruim (BROOM e MOLENTO, 2004; MOLENTO, 
2005; DUNCAN, 2004 e 2007). 
A perspectiva de bem-estar como um termo que se refira somente a algo bom ou 
gerador de uma vida melhor ou mais preferível não é pertinente se a intenção é a utilização 
científica e prática do conceito. A literatura, referindo-se ao bem estar como o estado do 
animal, advoga a avaliação do bem-estar em termos do nível de funções biológicas tais como 
ferimentos, desnutrição, grau de sofrimento e quantidade de experiências positivas ou 
negativas. Entretanto, apesar de utilizar o termo bem-estar para se referir a uma escala de 
quão boa à condição do animal é, algumas de suas afirmações explicando bem-estar implicam 
somente em um estado bom do animal, uma limitação que não é lógica nem desejável. 
Entretanto, ao traçar um paralelo com o termo “saúde”, que na verdade é abrangido dentro do 
termo bem-estar (BROOM e JOHNSON, 1993; MOLENTO, 2005; DAWKINS, 2008). 
Assim como bem-estar, saúde pode referir-se a uma gama de estados e que pode ser 
qualificada como “boa” ou “pobre.” Saúde também pode implicar em ausência de ferimentos 
ou doenças. Bem-estar tem a mesma conotação de uso coloquial; porém, ao se utilizar o termo 
de forma precisa, deve significar toda a amplitude de estados possíveis e deve ser possível 
fazer alusão a bem-estar pobre e bem-estar adequado (FRASER e BROOM, 1990 e 2002; 
BROOM e MOLENTO, 2004; MOLENTO, 2005; DUNCAN, 2004 e 2007). 
A definição do estado de bem-estar animal geralmente é realizada levando-se em conta 
uma das seguintes abordagens: (1) Estado psicológico do animal – quando o bem-estar é 
definido em função dos sentimentos e emoções (prazer ou sofrimento) dos animais, sendo que 
animais com medo, frustração e ansiedade, enfrentariam problemas de bem-estar. (2) 
Funcionamento biológico do animal – os animais deverão manter suas funções orgânicas em 
equilíbrio (crescer, reproduzir livres de doenças, injúrias, respostas fisiológicas e 
comportamentais normais). (3) Vida natural – os animais deveriam ser mantidos em 
ambientes semelhantes ao seu habitat natural, tendo liberdade para desenvolver suas 
características e capacidades naturais. (BROOM, 1986; FRASER e BROOM, 1990 e 2002; 
BROOM e JOHNSON, 1993 e 2000; WEARY e TASZKUN, 2000; PARANHOS da 
COSTA, 2000 e 2004; PARANHOS da COSTA e PINTO 2003; WEARY et al., 2006). 
13 
 
O bem-estar não se trata de um termo que expresse um conceito científico. Contudo, 
como o método científico é empregado para identificar, interpretar e aplicar as soluções para 
as preocupações da sociedade em relação às questões da qualidade de vida dos animais, bem-
estar animal estabeleceu-se como uma área científica (DUNCAN e DAWKINS, 1983; 
FRASER et al., 1997; FRASER, 1999; DUNCAN, 2004 e 2007). 
Segundo Broom e Johnson (1993 e 2000) os critérios de avaliação de bem-estar 
animal seriam medidos por testes de esquiva e preferência, e demonstrariam o grau em que os 
animais têm de conviver com situações ou estímulos dos quais preferem esquivar-se e a 
disponibilidade para conviver com aquilo que é preferido. Colocam, ainda, que ao considerar 
como avaliar o bem-estar de um indivíduo, é necessário haver um bom conhecimento da 
biologia do animal para chegar ao conhecimento mais acertado do grau de bem-estar. 
Autores, tais como Webster et al. (1985), Fraser e Broom (1990 e 2002), Broom e 
Johnson (1993 e 2000), Weary e Taszkum (2000), Rivera (2002), Duncan (2004 e 2007), 
Souto (2005), Paranhos da Costa (2005), Webster (2005), Roll et al. (2006), Weary et al. 
(2006) e Zanella (2010) parecem concordar que o bem-estar de um animal depende de sua 
habilidade de manter sua condição corporal a mais estável possível e evitar sofrimento. O 
tema bem-estar animal, bastante
presente quando se discute a criação de animais zootécnicos, 
pode ser tratado de diversas formas. Fora do meio acadêmico ele é geralmente tratado do 
ponto de vista ético, com grupos que atuam em defesa dos animais pressionando para 
definição de normas legais que limitam a ação do homem no trato com os animais 
(PARANHOS da COSTA, 2004). 
Todavia, o entendimento do bem-estar animal não é simples, exige amplo 
conhecimento sobre a espécie em questão e de suas relações com o meio. Isto demanda uma 
abordagem multidisciplinar, com integração de conceitos de diversas áreas do conhecimento e 
exige uma definição clara e inequívoca do que é bem-estar animal (FRASER e BROOM, 
2002; PARANHOS da COSTA, 2000 e 2004; RIVERA, 2002; PARANHOS da COSTA e 
PINTO, 2003; DUNCAN, 2004 e 2007; SOUTO, 2005). 
Como já foi citado, Broom (1986, 1988), caracterizou o bem-estar como o estado de 
um dado organismo durante as suas tentativas de se ajustar ao seu ambiente. Segundo Broom 
e Johnson (1993) esta definição tem várias implicações, das quais, Paranhos da Costa (2004) 
destacou três, são elas: (1) bem-estar é uma característica de um animal, não é algo que pode 
ser fornecido a ele. A ação humana pode melhorar o bem-estar animal, porém, não se refere 
como bem-estar proporcionar um recurso ou uma ação. (2) bem-estar pode variar entre muito 
14 
 
ruim e muito bom. Não se pode simplesmente pensar em preservar e garantir o bem-estar, 
mas sim em melhorá-lo ou assegurar que ele é bom. (3) bem-estar pode ser medido 
cientificamente, independentemente de condições morais. Assim, medida e interpretação do 
bem-estar devem ser objetivas. Segundo Paranhos da Costa (2004) embora, estas três 
abordagens apresentem formulações diferentes para justificar a preocupação com o bem-estar 
animal, pode-se dizer que o objetivo é único e que, por isso, deveriam ter um caráter 
complementar e não exclusivo. 
Para melhor compreender o conceito de bem-estar animal, é necessário entender os 
conceitos de homeostase e necessidade (PARANHOS da COSTA, 2002). 
 A homeostase ou manutenção do meio interno do organismo em equilíbrio se dá 
através de uma série de sistemas funcionais de controle, envolvendo mecanismos fisiológicos 
e reações comportamentais (CANNON, 1929), mantendo estável, por exemplo, a temperatura 
corporal, o balanço hídrico, as interações sociais, etc. O bem-estar é prejudicado quando o 
animal não consegue manter a homeostase ou quando ele consegue mantê-la à custa de muito 
esforço. 
Intimamente relacionado ao conceito de homeostase está o da necessidade: animais 
têm sistema de controle, que atuam na manutenção do equilíbrio do organismo. Assim, a 
constante estimulação dos animais aciona esses sistemas, levando-os a buscar os recursos e/ou 
os estímulos necessários para manutenção do equilíbrio orgânico (PARANHOS da COSTA, 
2004). Essa situação define uma necessidade, que só pode ser remediada quando um dado 
animal obtém um recurso particular ou apresenta uma resposta a um determinado estímulo do 
ambiente ou do próprio organismo (FRASER e BROOM, 1990 e 2002; BROOM e 
JOHNSON, 1993; PARANHOS da COSTA et al., 2002). Num dado momento da vida de um 
animal, ele terá uma variedade de necessidades, algumas mais urgentes do que outras; cada 
uma delas tendo uma conseqüência no estado geral do animal. Se um dado animal não pode 
satisfazer uma necessidade, a conseqüência, mesmo que rápida e eventual será um prejuízo no 
bem-estar (FRASER e BROOM, 1990 e 2002; PARANHOS da COSTA, 2004 e 2005). 
Na prática, os estados físicos e mentais têm efeitos recíprocos, sendo que problemas 
físicos invariavelmente levam a deterioração do estado psicológico e vice-versa. Em certos 
casos uma análise simplificada pode ser útil. Por exemplo, a detecção de problemas de saúde, 
ferimentos e de necessidades nutricionais não atendidos, são indicativos seguros de que o 
estado de bem-estar de um dado animal não é bom. Por outro lado, em outras situações, 
envolvendo certos estados psicológicos dos animais, como medo, frustração e ansiedade, é 
15 
 
mais difícil avaliar e quantificar seu bem-estar (FRASER e BROOM, 1990 e 2002; 
PARANHOS da COSTA e CROMBERG, 1997; PARANHOS da COSTA, 2000 e 2004; 
PARANHOS da COSTA et al., 2002, 2004; e 2005; PARANHOS da COSTA e PINTO, 
2003). 
Segundo Webster et al. (1985), Fraser e Broom (1990 e 2002), Rushen e de Passillé 
(1992), Lawrence e Appleby (1996) e Webster (2005) cinco itens procuram oferecer uma 
abordagem para a compreensão do bem-estar como é percebido pelo próprio animal (e não 
como definido por seu criador ou mesmo pelo consumidor) e servem como um ponto de 
partida para avaliar os aspectos bons e ruins de um sistema de criação, quais sejam: 1) os 
animais devem estar livres de sede, fome e desnutrição, 2) ter abrigos apropriados, 3) 
prevenção e tratamento rápido para doenças, 4) liberdade para expressar seus padrões normais 
de comportamento e 5) livre de condições de medo. 
No estudo do comportamento, o bem-estar é avaliado por meio de características 
fisiológicas e comportamentais. As medidas fisiológicas são associadas ao estresse e baseadas 
no fato de que, se o estresse aumenta, o bem-estar diminui. Já os indicadores 
comportamentais estão relacionados especialmente à ocorrência de reações e comportamentos 
anormais, ou que se afastem dos que ocorrem no ambiente natural (PARANHOS da COSTA, 
2002 e 2004; RIVERA, 2002; PARANHOS da COSTA e PINTO, 2003). 
O comportamento anormal pode ser entendido como sinais de perigo, que na sua 
grande maioria, são pistas visuais, a seguir: maneira de se deitar, levantar ou andar, ansiedade 
e agitação por ocasião da ingestão de alimentos, tempo de ruminação, agressividade no cocho, 
discrepância entre o tempo e permanência em pé e deitado, pouco tempo de socialização etc., 
os quais são geralmente indicativos de ambientes desfavoráveis (PIRES et al., 2002). 
Segundo Paranhos da Costa (2005) os comportamentos anormais (definidos como 
comportamentos que diferem na forma, na freqüência ou no contexto daqueles mostrados pela 
maioria dos membros de uma espécie), têm sido agrupados em categorias que caracterizam 
indicadores de problemas bem-estar. Dentre elas destacam-se: 1) estereotipias - 
caracterizadas pela repetição de movimentos que aparentemente não têm qualquer função ou 
valor adaptativo. Evidenciando falta de estimulação adequada no ambiente em que se 
encontram os animais que estão sofrendo destas anomalias (LAWRENCE e RUSHEN, 1993; 
PARANHOS da COSTA, 2000, 2002 e 2004); 2) comportamentos auto-destrutivos; 3) 
agressividade exagerada dirigida a outros animais do próprio grupo, tendo como expressões 
16 
 
extremas o infanticídio e canibalismo; 4) falhas em funções comportamentais – 
caracterizada por desorientação durante a cópula, rejeição do neonato, canibalismo maternal, 
dificuldades para deitar, levantar e para se locomover; 5) reatividade anormal - a) apatia, 
inatividade prolongada, hiperatividade, histeria e 6) comportamentos no vácuo - construção 
de ninhos/camas com materiais impróprios, atividade sexual dirigida a estímulos inadequados, 
etc. 
Muitas das medidas de bem-estar comumente usadas não são válidas ou sua validade 
ainda não foi demonstrada efetivamente. Em geral, a falta de entendimento das bases 
biológicas destas medidas, se torna o maior impedimento para se julgar sua validade 
(PARANHOS da COSTA, 2000 e 2004; FRASER e BROOM, 2002; RIVERA, 2002; 
PARANHOS da COSTA e PINTO, 2003; SOUTO, 2005; ROLL et al., 2006; DUNCAN, 
2007) A verdade é que a maioria das medidas reflete condições específicas de estresse 
(BACCARI JÚNIOR, 1987; ENCARNAÇÃO, 1989; RIVERA, 2002). Níveis elevados de 
cortisol em ruminantes podem indicar
estresse agudo, mas não uma dor crônica (LADEWIG e 
SMIDT, 1989; LEY et al., 1991; HÖTZEL e MACHADO FILHO, 2004; SOUSA, 2005). 
Segundo Duncan (2007) surgiram duas escolas de pensamentos diferentes. Um grupo 
sugeriu que bem-estar tem a ver principalmente com saúde e bem estar físico do animal. O 
outro grupo propôs que bem-estar tem a ver principalmente com saúde psicológica e como o 
animal se sente. Estes dois grupos ficaram conhecidos como a escola do “funcionamento 
biológico” e a escola dos “sentimentos” (DUNCAN, 2004 e 2007). 
A escola do funcionamento biológico acredita que o bem-estar está intimamente 
conectado à ausência de uma resposta fisiológica ao estresse ou, pelo menos, à ausência de 
uma ampla resposta ao estresse (BROOM, 1986; WIEPKEMA, 1987; BARNETT e 
HEMSWORTH, 1990; BROOM e JOHNSON, 1993). Esta escola acredita que, para um alto 
grau de bem-estar, o animal deve ser capaz de satisfazer suas necessidades biológicas e se 
adaptar com sucesso ao seu meio ambiente (BAREHAM, 1972; BRYANT, 1972; 
SZECHTMAN et al., 1974; WOOD-GUSH et al., 1975; FREEMAN, 1978; HURNIK e 
LEHMAN, 1988; FRASER e BROOM, 1990; TERLOUW et al., 1991; COLBORN et al., 
1991; CURTIS, 1993; BROOM e JOHNSON, 1993; DAMASIO, 1999, DUNCAN, 2000). 
Contudo, a esperança inicial de ser capaz de avaliar bem-estar simplesmente tomando 
algumas mensurações da resposta fisiológica a estresse não se sustentou (RUSHEN, 1991; 
DUNCAN, 2002, 2004 e 2007). 
17 
 
O conceito de “se adaptar com sucesso” é também turvo. O problema com este termo é 
que seu uso sugere que as palavras explicam algo, enquanto que, de fato, não explicam 
(DUNCAN, 2007). Dizer que um animal não está se adaptando certamente significa que seu 
bem-estar está comprometido e, se nada for feito, o animal morrerá (LAZARUS e 
FOLKMAN, 1984; RUSHEN, 1991). Entretanto, o oposto não é verdade. Não se pode tirar 
nenhuma conclusão acerca do bem-estar de um animal que esteja se “adaptando”, ou que 
esteja se adaptando com “dificuldade” (DUNCAN, 2002 e 2007). 
A escola dos sentimentos acredita que bem-estar tem a ver com o que o animal sente, 
com a ausência de estados emocionais negativos, subjetivos e fortes que são agrupados como 
“sofrimento”, e que incluem estados tais como dor, medo, frustração, privação e, em algumas 
espécies, tédio (DAWKINS, 1980; DUNCAN e DAWKINS, 1981 e 1983; DUNCAN e 
PETHERICK, 1991; RUSHEN, 1991; DUNCAN, 1993, 1996 e 2004; DUNCAN et al., 1993; 
MASON e MENDL, 1993; WEMELSFELDER, 1993). Bem-estar também pode ser 
associado à presença de estados emocionais positivos que são comumente denominados 
“prazer” (MENCH, 1998; DUNCAN, 2002, 2004 e 2007). 
Há muito se reconhece que os sentimentos evoluíram como uma forma de proteger as 
necessidades primárias dos animais de uma maneira mais flexível que seria possível através 
de reações reflexas (ROMANES, 1984; DUNCAN, 2002). Assim, os vertebrados e 
invertebrados mais complexos desenvolveram o sentimento de medo como uma maneira mais 
flexível de evitar perigo. 
 Existe atualmente um reconhecimento crescente entre os cientistas da área de bem-
estar animal, mesmo aqueles da escola do funcionamento biológico, da importância dos 
sentimentos para se determinar bem-estar (BROOM, 1998; DUNCAN, 2004; MOLENTO, 
2005). 
 Segundo Duncan (2004 e 2007) a maior vantagem de se assumir que bem-estar é 
determinado pelo bom funcionamento biológico e pela satisfação de necessidades primárias é 
que as variáveis envolvidas são muitas e de mensuração bastante fácil. Os sentimentos, por 
outro lado, são de difícil definição, impossíveis de medir diretamente e difíceis de medir 
indiretamente. A ciência deve ser objetiva ao avaliar bem-estar, a medição do funcionamento 
biológico assegura objetividade. O problema associado à mensuração do sentimento é que se 
trata de um estado subjetivo e, desta forma, somente disponível ao animal que o vivencia 
(DAWKINS, 1980; DUNCAN e DAWKINS, 1983; DUNCAN, 2002 e 2007). 
O ponto inicial para uma investigação sobre sentimentos geralmente é algum tipo de 
teste de preferência. Permite-se ao animal escolher entre certos aspectos de seu ambiente, com 
18 
 
a lógica de que o animal escolherá de acordo com seus sentimentos, ou seja, no melhor 
interesse de seu bem-estar. Esta técnica foi desenvolvida por Hughes e Black (1973), Hughes 
(1975 e 1977) e Dawkins, (1976, 1977 e 1978). Todavia, os testes de preferência não são 
simples de ser avaliados (DUNCAN, 1978, 1992, e 2002; DAWKINS, 1983; FRASER e 
MATTHEWS, 1997). 
 Entretanto, quando uma avaliação real é realizada, apesar de que o objetivo primário 
deva ser avaliar sentimentos, todas as outras evidências disponíveis devem ser utilizadas 
como auxílio. Isto inclui evidências do funcionamento biológico do animal e, em particular, 
seu estado de saúde e seu estado de estresse (DUNCAN, 2007). Apesar de haver muitas 
críticas à utilização da resposta de estresse como um indicador primário de bem-estar 
reduzido (MOBERG, 1985; DUNCAN et al., 1986; RUSHEN, 1991; MELLOR et al., 1991; 
RUSHEN e PASSILLÉ, 1992; MOBERG e MENCH, 2000; DANTZER, 2001; DUNCAN, 
2002, 2004 e 2007). 
Segundo Zanella (2010) as estratégicas para avaliação do bem-estar animal podem ser 
resumidas em três escolas de pensamento: a) escola que propõe o estudo da função biológica 
para determinação do bem-estar animal. Utilizando indicadores biológicos que podem ser 
representados pela ocorrência de doenças, níveis de hormônios de estresse, ganho de peso, 
produção de leite, conversão alimentar, presença de formas anormais de comportamento entre 
outros; b) escola que propõe a medida de estado mental (emoções) em animais. Esta defende a 
hipótese de que o fator mais importante para avaliação do bem-estar animal é identificar como 
eles se sentem. Indicadores para monitorar preferência ou aversão a certos ambientes têm 
recebido muita atenção e; c) a terceira escola advoga que o critério de monitoramento de bem-
estar animal deve ser obtido em relação à proximidade e ou distanciamento das condições de 
vida do animal e sua biologia evolutiva. 
É uma suposição razoável que problemas de bem-estar sérios serão claros à medida 
que se verifica produtividade reduzida, altas taxas de morbidez e mortalidade e, talvez, 
longevidade reduzida. Dano e doença são sinais claros de bem-estar reduzido. Quedas em 
produtividade ou aumentos em morbidez e mortalidade podem prover informação sobre bem-
estar animal. Porém, as medidas deveriam estar baseadas no desempenho de animais 
individuais em lugar de rentabilidade do empreendimento como um todo (DUNCAN et al., 
1993; LAWRENCE e APPLEBY, 1996; PARANHOS da COSTA, 2000 e 2004; MOLENTO, 
2005) e, variações em desempenho podem ser devidas a muitos fatores, por exemplo, de 
fundo genético, nível de nutrição, uso de antibióticos e promotores de crescimento. As causas 
exatas das variações em desempenho produtivo e reprodutivo precisam ser descobertas antes 
19 
 
que possa ser assumido que estejam indicando um problema de bem-estar (DUNCAN et al., 
1993; LAWRENCE e APPLEBY, 1996; PARANHOS da COSTA, 2000; HÖTZEL e 
MACHADO FILHO, 2004; MOLENTO, 2005). 
Como já foram citados, vários autores salientam que as medidas fisiológicas de 
estresse (medição do nível de glicocorticosteróides) podem ser usadas para avaliar o bem-
estar dos animais. Aumentos nas concentrações de corticosteróides pode ser uma causa para 
preocupação, pois, quando muito acentuados, podem interferir no sistema imune (SELYE, 
1936 e 1950; ENCARNAÇÃO, 1989; MOBERG, 1985; BACCARI JÚNIOR, 1987; 
BREAZILE, 1988; MANSER, 1992; PARANHOS da COSTA, 2000; DUNCAN, 2002, 2004 
e 2007; RIVERA, 2002; BROOM e MOLENTO; 2004; HÖTZEL e MACHADO FILHO, 
2004; SOUSA, 2005;
SOUTO, 2005; ZANELLA, 2010), além de poder funcionar como 
inibidor de crescimento (MOBERG, 1985; SHARPE et al., 1986; BACCARI JÚNIOR, 1987; 
ENCARNAÇÃO, 1989; LAWRENCE e APPLEBY, 1996; RIVERA, 2002; PIRES, 2002; 
SOUSA, 2005), Muitos estressores alteram a secreção dos hormônios da pituitária, que 
regulam diretamente a reprodução, resistência a doenças, desenvolvimento normal e 
crescimento, todos indicadores de bem-estar (SELYE, 1950 e 1976; FRASER et al., 1975; 
ENCARNAÇÃO, 1989; RIVERA, 2002). 
Entretanto, segundo alguns autores há problemas com a palavra estresse sendo usada 
no atual contexto. Selye (1936, 1950 e 1976) usou a palavra para descrever a própria reação 
fisiológica, e teve cuidado para mostrar que não era necessariamente indesejável 
(BREAZILE, 1988; DUNCAN et al., 1993). Porém na linguagem usual, a palavra estresse 
tem muitos significados, e ao contrário de definição de Selye, a palavra adquiriu conotações 
negativas. Em ciência animal, é evocada frequentemente para explicar quedas inexplicáveis 
em produção ou surtos de doenças sem referência com as medidas de cortisol (BREAZILE, 
1988; ENCARNAÇÃO, 1989; MANSER, 1992; DUNCAN et al., 1993; RIVERA, 2002). 
Respostas fisiológicas para estressores não indicam sofrimento. Tratamentos dolorosos 
como choque elétrico pode conduzir a aumento da secreção de cortisol, porém a magnitude 
deste aumento, frequentemente, não é proporcional à magnitude da dor (RUSHEN, 1986, 
1991 e 1993; RUSHEN e de PASSILLÉ, 1992; BROOM, 2002; RIVERA, 2002; SOUSA, 
2005). Concentrações de corticosteróides elevam-se em um ritmo diurno ou de acordo com 
eventos de comportamento como o sexual e de alimentação, eventos que, não envolvem 
sofrimento (RUSHEN, 1986, 1991 e 1993; RUSHEN e de PASSILLÉ, 1992). Dor prolongada 
pode resultar em concentrações de corticosteróides reduzidas (LEY et al., 1991). Diferenças 
20 
 
individuais e mudanças em concentrações de corticosteróides podem refletir a atividade 
secretora do córtex adrenal, em lugar de ser devida a qualquer percepção sensorial do animal 
ao estresse. Outro ponto a ser considerado, que a medida de corticosteróides é frequentemente 
uma predição de problemas imune. Contudo, níveis moderados a altos de corticosteróides 
podem melhorar a função imune (GROSS, 1992). 
Muitas tentativas que foram feitas para medir o efeito dos métodos de instalações para 
os animais zootécnicos através de medidas de cortisol no plasma sanguíneo (avaliação do eixo 
pituitário-adrenal), produziram resultados amplamente contraditórios (RUSHEN, 1991 e 
1993; LEY et al., 1991; RUSHEN e de PASSILLÉ, 1992; DUNCAN et al., 1993; BROOM e 
MOLENTO, 2004). Segundo Rushen (1993) isto pode refletir a falta de compreensão dos 
mecanismos de controle pituitário-adrenal e sua sensibilidade para eventos ambientais não 
controlados experimentalmente. Como exemplo os métodos de testes invasivos a que são 
acometidos os animais em situações, como experimentação. Entretanto, esses métodos estão 
sendo superados por procedimentos muito menos invasivos. Por exemplo, a radiotelemetria 
oferece a possibilidade de se gravar variáveis fisiológicas, tais como freqüência cardíaca e 
pressão arterial, à distância com interferência mínima para o animal (AMLANER e 
McDONALD, 1980; DUNCAN, 2004). Adicionalmente, atualmente é possível realizar 
mensuração de glicocorticóides a partir de amostras de saliva, urina e fezes (WHITTEN et al., 
1998; DUNCAN, 2004 e 2007). 
Vários estudos têm mostrado a relação entre estresse e bem-estar animal, contudo não 
parece ser fácil e simples o entendimento deste fenômeno de maneira geral (FOX, 1984; 
MOBERG, 1985; LADEWIG e SMIDT, 1989; RUSHEN, 1991, 1986 e 1993; MASON, 
1991; LEY et al., 1991; GROSS, 1992; RUSHEN e de PASSILLÉ, 1992; LIFORDS, 1993; 
REDBO, 1993; DUNCAN et al., 1993; CARLSON, 1994; SACHSER, 1994; de PASSILLÉ 
et al., 1996; SACHSER e KAISER, 1996 e 1997; BLACKSHAW, 1996; WINGFIELD et al, 
1997; LEWIS e HURNIK, 1998; JAGO et al., 1999; BREUER et al., 2000; RIVERA, 2002; 
DUNCAN, 2004 e 2007; SOUSA, 2005; SOUTO, 2005, ZANELLA, 2010). 
Os sistemas intensivos de criação impedem frequentemente, que os animais exibam 
certos tipos de comportamento observados regularmente em ambientes restritos. Muitas baias 
para bezerros, cabritos e cordeiros não são grandes (adequadas) o bastante de modo a permitir 
o comportamento normal e certas posturas de descanso. Grupos preocupados com bem-estar 
animal vêem tal privação de comportamento como um dos principais problemas com relação 
ao manejo intensivo de animais, sendo sugerido por pesquisadores que a privação do 
21 
 
comportamento normal é um indicador claro do comprometimento do bem-estar animal. 
 Entretanto, a privação de comportamento pode indicar a falta de estímulos externos 
que o estimulem. Sendo assim, são necessárias evidências independentes de que privação do 
comportamento significa a redução do bem-estar (IMMELMANN, 1982; LAMPRECHT, 
1982; RUSHEN, 1986, 1991 e 1993; McFARLAND, 1989; DAWKINS, 1989; FRASER e 
BROOM, 1990 e 2002; RUSHEN e de PASSILLÉ, 1992; GROSS, 1992; GLAUBRECHT, 
1992; LUNDBERG, 1993; REDBO, 1993; DUNCAN et al., 1993; CHRISTNER, 1994; 
SACHSER, 1994; SACHSER e KAISER, 1996 e 1997; LAWRENCE e APPLEBY, 1996; 
FRANCK, 1997; WINGFIELD et al., 1997; LEWIS e HURNIK, 1998; RIVERA, 2002; 
SOUSA, 2005). 
Uma evidência vem da observação das fontes internas da motivação para o 
comportamento. Se um bezerro ou um caprino preso em baias não correm porque não são 
motivados, isto não significa que o bem-estar será comprometido. Porém, se um bezerro ou 
caprino são motivados a correr e saltar, mas está impossibilitado porque a baia/instalação é 
muito pequena, podemos dizer que estes animais estão frustrados e que o bem-estar destes 
está comprometido (BROOM e JOHNSON, 1993 e 2000; PARANHOS da COSTA, 2000 e 
2004; MOLENTO, 2005). Desta forma, antes de deduzir qualquer coisa sobre bem-estar por 
meio de observações do comportamento animal, é necessário entender a motivação que está 
por trás de tal comportamento (RUSHEN, 1986, 1991 e 1993; DAWKINS, 1989; de 
PASSILLÉ et al., 1996; BROOM e MOLENTO, 2004; SOUTO, 2005; ZANELLA, 2010). 
Uma indicação comumente usada de “frustração” é a ocorrência de um 
comportamento em uma forma alterada ou em contexto incomum. Por exemplo, separados 
das mães ao nascimento e alimentados com sucedâneos de leite em balde, passam a mamarem 
em companheiros de baias, em partes das gaiolas ou baias e passam a exibir comportamentos 
estereotipados (LAWRENCE e RUSHEN, 1993; MOLENTO, 2005; PARANHOS da 
COSTA, 2005). Lorenz (1981) considerou que tal “comportamento de sucção” era evidência 
clara de fontes internas de motivação para um comportamento, embora, os animais não 
pudessem executar o comportamento de fato. Porém, há problemas com esta interpretação. 
Segundo de Passillé et al. (1996) a sucção de objetos por bezerros resulta de excitação de 
curto prazo que segue o consumo de leite, além de fontes internas de motivação. Enrolar a 
língua é um exemplo de um estereótipo oral, comportamento que é citado frequentemente, 
como sendo particularmente evidente entre bezerros alojados em gaiolas ou baias (FOX, 
1984; DAWKINS, 1989; LAWRENCE e RUSHEN, 1993; BROOM e MOLENTO, 2004; 
22 
 
MOLENTO, 2005; PARANHOS da COSTA, 2005). Certamente em vacas, uma freqüência 
alta de enrolamento de língua não é associada com níveis altos de cortisol (REDBO, 1993), 
enquanto em bezerros, este comportamento não demonstrou conexão com problemas de saúde 
(LIDFORS, 1993). 
Autores, tais como Fox (1984), Sharpe et al. (1986), Breazile (1988), Hurnik (1988), 
Dawkins (1989), Ladewig e Smidt (1989), Fraser e Broom (1990 e 2002), Ley et al. (1991),
Mason (1991), Rushen e de Passillé (1992), Gross (1992), Duncan et al. (1993), Lidfors 
(1993), Redbo (1993), Broom e Johnson (1993 e 2000), Sachser (1994), de Passillé et al. 
(1996), Lawrence e Appleby (1996), Wingfield et al. (1997), Lewis e Hurnik (1998), Duncan 
(2002 e 2004), Rivera (2002), Souto (2005) e Sousa (2005) expressam certo ceticismo sobre a 
relação de comportamentos estereotipados com o bem-estar dos animais, pelo menos de uma 
maneira simples. 
O principal aspecto relacionado com a formação de atitudes humanas em relação ao 
bem-estar dos animais é a crença na existência de estados mentais (KNIGHT et al., 2004), o 
que respaldado no conhecimento científico contemporâneo a respeito do comportamento, da 
anatomia, da fisiologia e da genética de humanos e animais (KENDRICK, 2007). Contudo, 
além da capacidade de sofrer e experimentar experiências positivas, a possibilidade de 
expressar um repertório comportamental natural e o estado biológico, especialmente a saúde, 
desses animais são aspectos essenciais do conceito e da avaliação do bem-estar animal 
(RUSHEN, 1993; DUNCAN, 1993, 2002, 2004 e 2007; ROLLIN, 1995; FRASER et al., 
1997; HÖTZEL e MACHADO FILHO, 2004; BROOM e MOLENTO, 2004; MOLENTO, 
2005; DAWKINS, 2008; HÖTZEL e MARTENDAL, 2010). 
A análise multidisciplinar do bem-estar, com a aplicação simultânea de indicadores 
biológicos e metodologias que procuram saber o que os animais preferem obter/evitar, tem 
sido oferecido os resultados mais sólidos em relação ao status de bem-estar dos animais 
zootécnicos até hoje (DUNCAN e DAWKINS, 1981 e 1983; DAWKINS, 1989, RUSHEN, 
1993; MENDL, 2001; DUNCAN, 2002, 2004 e 2007; HÖTZEL e MACHADO FILHO, 
2004; BROOM e MOLENTO, 2004; MOLENTO, 2005; ROLL et al., 2006; DAWKINS, 
2008; HÖTZEL e MARTENDAL, 2010). 
Em condições de cativeiro, animais podem estar em condições biológicas, geralmente 
demonstradas por meio de variáveis fisiológicas, índices de crescimento e reprodução, 
entretanto impedidos de expressar comportamentos naturais – por exemplo, por estarem 
23 
 
alojados em espaços que não permitem expressar comportamentos que os animais têm grande 
motivação Todavia, para julgar as condições do animal, é importante conhecer quão 
importantes são para os animais os vários elementos do ambiente. Segundo Hötzel e 
Martendal (2010) o animal reorganiza o seu comportamento para obter recompensas ou evitar 
distress, de acordo com o seu estado interno (p.ex. fome, calor) e as condições ambientais 
externas a que é submetido. Então, o bem-estar dos animais pode ser avaliado procurando 
identificar o que os animais querem (obter ou evitar), A forma mais simples de considerar o 
que os animais querem/evitam do seu ambiente são os testes de preferência. Levando em 
conta algumas contradições, dificuldades de interpretações e a necessidade de alcançar uma 
definição de bem-estar que satisfaça a comunidade envolvida na área, e que permita a 
avaliação a campo das condições dos animais utilizados para produção de alimentos. Dawkins 
(2008) complementa que a avaliação do bem-estar animal deve considerar a saúde e o que 
eles querem. 
Alguns estudos cognitivos têm feito uso de processos de aprendizagem para se fazer 
avaliações sobre os estados emocionais e de saúde mental de animais. Entretanto, um dos 
problemas e3nfrentados por pesquisadores é que os animais não são capazes de expressar suas 
emoções por linguagem falada, sendo assim impossível fazer avaliações diretas sobre o seu 
estado mental (HÖTZEL e MARTENDAL, 2010). Segundo este autor, nos últimos anos, o 
desempenho de animais em testes de viés cognitivo, juntamente com observações 
comportamentais e fisiológicas, tem sido utilizado como ferramenta para avaliação do estado 
emocional de animai. Ainda que estudos cognitivos sejam, por vezes, utilizados para se 
avaliar estados emocionais e afetivos em humanos e animais, os termos cognição, 
aprendizagem e emoção possuem significados diferentes entre si, mas que podem ser 
utilizados com um sentido mais amplo ou mais específico, dependendo do caso. Alguns 
autores salientam as diferenças entre esses termos, a seguir: A) Aprendizagem – é uma das 
mais importantes funções mentais de humanos e animais. É ainda o processo de aquisição de 
novos tipos de conhecimento, além de estarem relacionados ao desenvolvimento de novas 
capacidades, habilidades, valores, entendimento e preferências. É um processo fundamental, 
que auxilia na adaptação de humanos e animais ao ambiente em que vivem, além de estar 
acontecendo a todo tempo (SOUTO, 2005; HÖTZEL e MARTENDAL, 2010). As “leis” da 
aprendizagem estão sempre em ação (BOUTON, 2006). Animais podem aprender 
informações do meio ambiente mediante processos não associativos (habituação e 
sensibilização), aprendizagem associativa (condicionamento clássico e operante), observação, 
24 
 
brincadeiras e imprinting (DAWKINS, 1989 e 2008; SOUTO, 2005; HÖTZEL e 
MARTENDAL, 2010). Segundo Souto (2005) mesmo as situações envolvendo o medo ou a 
ansiedade também dependeriam, até certo ponto, da percepção individual (a qual, por sua, 
estaria ligada às experiências anteriores e/ ou à socialização). A aprendizagem pode, assim, 
ser uma maneira eficaz de se reduzir o estresse, como no caso da habituação positiva no que 
diz respeito a um determinado local. O grau de estresse pode estar diretamente ligado à 
capacidade em se controlar a realidade circundante: quanto mais diretamente a fonte 
estressora pode ser avaliada, melhores são as chances de o estresse diminuir, pois existiria a 
possibilidade de um controle (parcial ou total) sobre ela (CARLSON, 1994; SACHSER e 
KAISER, 1996 e 1997; WINGFIELD et al, 1997), B) Cognição – Em termos gerais, a 
literatura trata “cognição” como sendo o processo do pensamento pelo qual o indivíduo 
adquire, organiza, armazena e age diante dos estímulos e informações do ambiente 
(SHETTLEWORTH, 1998; HÖTZEL e MARTENDAL, 2010) e C) Emoção – É um 
processo que parece ter evoluído a partir de mecanismos básicos de evitação de 
perigo/punição, que visa à adaptação comportamental, fisiológica e neural. As emoções 
negativas ou sofrimento podem ser causados pela presença de estímulos reforçadores 
negativos (como predadores) ou pela ausência de estímulos reforçadores positivos, num 
estado que poderia ser chamado de privação (SOUTO, 2005; DUNCAN, 2007; DAWKINS, 
2008; HÖTZEL e MARTENDAL, 2010; ZANELLA, 2010). 
Mendl e Paul (2004) sugerem que o entendimento das capacidades cognitivas dos 
animais é fundamental no processo de compreensão de seu bem-estar, e estado emocional. 
Sendo um ponto crítico para ciência do bem-estar animal. Estudos recentes mostram que o 
estresse crônico causado por condições pobres do ambiente pode resultar num estado de 
depressão em humanos e em outros animais, assim como causar uma mudança no estado 
cognitivo deles, quando eles não são capazes de mudar ou se adaptar ao ambiente ou meio em 
que vivem (HARDING et al., 2004; MENDL e PAUL, 2004; PAUL et al., 2005; CRYAN e 
HOLMES, 2005; BATESON e MATHESON, 2007; DUNCAN, 2007; DAWKINS, 2008; 
HÖTZEL e MARTENDAL, 2010). Animais com estados de depressão e ansiedade têm maior 
probabilidade de mostrar respostas pessimistas quando confrontado com uma situação nova 
(BATESON e MATHESON, 2007). Mesmo que até o momento, nenhum estudo é encontrado 
na literatura sobre a utilização de tarefas de viés cognitivo e observação comportamental na 
avaliação mental dos animais zootécnicos, esta metodologia ou ferramenta etológica pode ser 
útil na avaliação destes animais afetados por estresse, causado pelas práticas de manejo, 
25 
 
condições de cativeiro ou alimentação, aspectos sanitários, desconforto térmico, interação 
social,
tamanho do grupo, entre ouros (CRONEY e NEWBERRY, 2007; DUNCAN, 2007; 
HÖTZEL e MARTENDAL, 2010). 
Segundo Hötzel e Martendal (2010) outra ferramenta que começou a ser utilizada 
bastante recentemente para avaliação do bem-estar de animais é o estudo dos comportamentos 
antecipatórios. Ou seja, o repertório comportamental apresentado pelo animal em antecipação 
a uma recompensa ou punição iminente. O estado de antecipação pode ser mantido por alguns 
minutos ou mais. Dado o nível de atenção e a ativação de redes que ligam as experiências 
passadas ao que está por acontecer, este é o momento perfeito em que alguma forma de 
consciência poderia emergir (SPRUIJT et al., 2001). O argumento principal para o uso desse 
tipo de metodologia é que o bem estar dos animais é um equilíbrio entre experiência ou 
estados afetivos positivos e negativos, e que a observação comportamental durante a 
antecipação de uma recompensa num paradigma de condicionamento paviloviano é uma 
maneira simples e fácil para se avaliar o estado (sensibilidade-recompensa) desse sistema de 
equilíbrio (HÖTZEL e MARTENDAL, 2010). Essa ferramenta etológica de avaliação dos 
comportamentos antecipatórios para a avaliação do bem-estar deve ser adaptada e utilizada 
também para os animais zootécnicos como forma de avaliação dos sistemas de criação para 
produção e do estado geral de saúde mental e bem-estar desses animais. 
Independentemente das estratégicas/metodologias ou ferramentas para a avaliação do 
bem-estar animal é fundamental à compreensão dos parâmetros, estímulos, percepção e 
motivação (LAMPRECHT, 1982; DAWKINS, 1989; McFARLAND, 1989; FRASER e 
BROOM, 1990 e 2002; GLAUBRECHT, 1992; LUNDBERG, 1993; BROOM e JOHNSON, 
1993 e 2000; CHRISTNER, 1994; SACHSER e KAISER 1996 e 1997; FRANCK, 1997; 
WINGFIELD et al, 1997; MENCH, 1998; PARANHOS da COSTA et al., 2002; BROOM e 
MOLENTO, 2004; SOUTO, 2005; ROLL et al., 2006; DUNCAN, 2007; ZANELLA, 2010). 
Estímulo é qualquer tipo de fenômeno perceptível e que pode provocar algum tipo de 
alteração na conduta de um organismo. A percepção é o ato de captar os diferentes tipos de 
estímulos do ambiente, com auxílio de órgãos sensitivos. A percepção não é igual em todos os 
organismos. Existem grandes diferenças, nesse aspecto, entre as diversas espécies animais, 
entre sexo e até mesmo nas fases de desenvolvimento de um mesmo indivíduo ou nos 
diferentes estados motivacionais de um ser (SACHSER e KAISER 1996 e 1997; FRANCK, 
1997; WINGFIELD et al, 1997; MENCH, 1998; SOUTO, 2005, DUNCAN, 2004 e 2007). 
26 
 
Mesmo existindo um estímulo relativamente forte, é preciso que o animal esteja 
minimamente motivado para apresentar uma resposta mais esperada. A motivação é o estado 
em que um animal se encontra e que é diretamente responsável pelo controle do seu 
comportamento (McFARLAND, 1989; SOUTO, 2005; DUNCAN 2004 e 2007). É um estado 
central que reorganiza a percepção e ação no indivíduo (HÖTZEL e MARTENDAL, 2010). 
O grau motivacional de um indivíduo depende de vários fatores fisiológicos (fome, sede, 
hormônios, etc.) e da aprendizagem (traumas, ansiedade, etc.), (McFARLAND, 1989; 
GLAUBRECHT, 1992, FRANCK, 1997; SOUTO, 2005; DAWKINS, 2008). 
Os animais não podem perceber tudo que está ao redor deles. É provável que a 
incapacidade em se perceber todos os estímulos esteja relacionada com a utilidade de tal 
característica. Se do ponto de vista evolutivo, um animal vive com as melhores condições de 
sobrevivência, através do aparelho sensitivo que possui. O organismo, portanto, não percebe 
tudo o que se encontra à sua volta e tal seleção envolve duas formas de filtragem: uma 
periférica e outra do sistema nervoso. A primeira está relacionada com a seleção feita ao nível 
dos órgãos sensoriais, como os olhos ou os ouvidos, por exemplo. E cabe a ele selecionar 
(filtração do sistema nervoso), de acordo com as necessidades do organismo, o que é 
importante ou não de ser respondido (LUNDBERG, 1993; CHRISTNER, 1994; FRANCK, 
1997; SOUTO, 2005; DUNCAN, 2000, 2002, 2004 e 2007). 
Baseando-se no estudo de revisão bibliográfica de Medeiros e Vieira (2009) concluí-
se, a seguir: a) em cada oportunidade, o animal utiliza uma pluralidade de estímulos que seu 
organismo assimila de acordo com as circunstâncias e de maneira variada; b) o entendimento 
dos “sinais de perigo” como indicadores de bem-estar reduzido, não parece ser muito simples, 
são necessárias evidências de que cada um dos “sinais de perigo” significa a redução do bem-
estar animal; c) a privação de comportamento pode indicar a ausência de estímulos que o 
provoquem; d) os animais podem mudar de estratégia comportamental, em razão das 
circunstâncias isto é, chegar a um novo objetivo através de meios diferentes; e) antes de 
deduzir algo sobre bem-estar por meio de observação do comportamento do animal, é 
necessário entender a motivação que está por trás de tal comportamento. 
 
1.2 Considerações zootécnicas 
 
O comportamento animal compreende a expressão motora das motivações internas e 
das interações do animal com o ambiente no qual se encontra. As variáveis do ambiente físico 
27 
 
e a disponibilidade de interações com outros indivíduos da mesma espécie e de espécie 
diferentes geram os diferentes padrões de comportamento (KREBS e DAVIES, 1996; 
FURTADO, 2007). 
O interesse pela área de bem-estar vem apresentando um acentuado crescimento nos 
últimos anos, onde cientistas e instituições se dedicam em busca da melhoria da qualidade de 
vida animal. A preocupação em torno dos efeitos entre a interação do meio ambiente e os 
organismos, há décadas, prende a atenção de pesquisadores do mundo inteiro. A questão de 
como definir e quantificar o bem-estar animal ainda está em constante debate (PIZZUTTO et 
al., 2009). 
Na prática da Etologia, o bem-estar é avaliado por meio de características fisiológicas 
e comportamentais. As medidas fisiológicas são associadas ao estresse e baseadas no fato de 
que, se o estresse aumenta, o bem-estar diminui. Já os indicadores comportamentais são 
relacionados especialmente a ocorrência de reações e comportamentos anormais ou que se 
afastem dos que ocorrem no ambiente natural (GLASER, 2003). 
O bem-estar e a produtividade animal podem ser colocados em situação de risco 
devido à ação dos fatores ambientais que influenciam o comportamento animal. Cada animal 
possui uma gama de comportamentos que são usados como ferramentas de adaptação ao meio 
ambiente (PIRES et al., 2002). Em algumas situações, as alterações comportamentais 
representam á única indicação de que o conforto e o bem-estar dos animais estão diminuídos. 
Bem-estar é um termo de uso corrente em várias situações e seu significado 
geralmente não é preciso. Entretanto, definição objetiva de bem-estar faz-se necessária para a 
utilização científica e profissional do conceito. Bem-estar deve ser definido de forma que 
permita pronta relação com outros conceitos, tais como: necessidades, liberdades, felicidade, 
adaptação, controle, capacidade de previsão, sentimentos, sofrimento, dor, ansiedade, medo, 
tédio, estresse e saúde. (BROOM e MOLENTO, 2004). 
À luz dos recentes conhecimentos científicos, acerca das necessidades dos animais, 
muitos estudos apontam a importância do conhecimento sobre o repertório comportamental 
de raças de animais de produção (dentro das espécies zootécnicas) para obtenção do retorno 
econômico dentro de um manejo ajustado as suas necessidades biológicas (BROOM e 
JOHSON, 1993 e 2000; PARANHOS da COSTA, 2001; HÖTZEL e MACHADO FILHO, 
2004; BROOM e MOLENTO, 2004; DUNCAN, 2004 e 2007; MOLENTO, 2005; ROLL et 
al., 2006, FURTADO, 2007; DAWKINS, 2008; HÖTZEL e MARTENDAL, 2010; 
ZANELLA, 2010). 
28 
 
As preocupações
com vistas ao suprimento de alimentos e produtos de origem animal 
em quantidade e qualidade, suficientes para atender a demanda da população humana, sempre 
em crescimento, tem provocado os diversos setores no sentido de aumentar a produtividade 
animal. Seja através da seleção de raças mais produtivas, cruzamento de raças adaptadas a um 
ambiente específico com raças de maior potencial genético de climas heteroclimáticos, 
sistemas de produção que permitam uma maior produção por área, melhoria nutricional, 
conforto térmico e dos aspectos sanitários, visando exclusivamente o aumento da 
produtividade, muitas vezes sem a preocupação com o bem-estar dos animais (SHELTON e 
FIGUEIREDO, 1990; MEDEIROS e VIEIRA, 1997; MOLENTO, 2005; SOUZA, 2007). 
 Determinadas práticas utilizadas no sentido de aumentar a produtividade animal, mas 
que não correspondem à manutenção do bem-estar para os animais vêm sendo combatidas, 
principalmente nos países europeus. São necessários que sejam atendidas as exigências 
previstas nos direitos dos animais, como a liberdade psicológica (de não estar exposto a medo, 
ansiedade ou estresse), liberdade comportamental (de expressar seu comportamento normal), 
liberdade fisiológica (de não sentir fome ou sede), liberdade sanitária (de não estar exposto a 
doenças, injúrias ou dor) e liberdade ambiental (de viver em ambientes adequados, com 
conforto), (WEBSTER et al., 1985; FRASER e BROOM 1990 e 2002; RUSHEN e de 
PASSILÉ 1992; LAWRENCE e APPLEBY 1996; NÄÄS, 2004; MOLENTO, 2005; 
WEBSTER 2005; ROLL et al., 2006; SOUZA, 2007; HÖTZEL e MARTENDAL, 2010). 
Nos últimos anos vários estudos vêm mostrando uma maior preocupação em relação 
ao bem-estar animal, devido melhor conhecimento da influência do ambiente sobre a 
produtividade. Portanto, antes que novos tipos raciais sejam introduzidos em uma região, é 
necessário conhecer às condições climáticas do local, a fim de se obter vitória na aclimação 
do animal. Evitando que suas características fisiológicas sejam alteradas. Para que, não haja 
diminuição da produtividade ou da falência da raça (BONSMA, 1966; HAFEZ, 1968; 
DOMINGUES, 1968 e 1981; NASCIMENTO et al., 1974; McDOWELL, 1975 e 1989; 
FARIA, 1979; ENCARNAÇÃO, 1989; DAWKINS, 1989; MÜLLER, 1989; VILLARES, 
1990; DE LA SOTA et al., 1996; MEDEIROS e VIEIRA, 1997 e 2009; SILVA, 2000; 
STARLING, 2000; PARANHOS da COSTA, 2000, 2002 e 2005; HÖTZER e MACHADO 
FILHO, 2004; MOLENTO, 2005; ROLL et al., 2006; DUNCAN, 2007; ZANELLA, 2010). 
 Nos seres vivos, os diversos constituintes do meio ambiente (isolados ou em 
combinações entre si) são fatores de estresse e a tensão que causam depende das 
características e propriedades dos organismos considerados. Assim, o estresse é a força 
exercida pelos componentes do ambiente térmico sobre o organismo, causando nele uma 
29 
 
reação fisiológica proporcional à intensidade da força aplicada e à capacidade do organismo 
em compensar os desvios causados pela força (SCHMIDT-NIELSEN, 1996; SILVA, 2000). 
Quando um animal é colocado em um determinado ambiente, as trocas térmicas que 
realiza com ele dependem da situação em que ambos se encontram. Se o ambiente apresenta 
temperatura mais elevadas do que aquelas no qual o organismo opera melhor, então há uma 
condição de estresse térmico. Caso as características do animal permitam que seu organismo 
compense a ação desse estresse, por exemplo, eliminando mais calor corporal, então não 
haverá tensão, a menos que o processo de compensação cause alterações sensíveis em outras 
funções orgânicas (SILVA, 2000). 
Alguns sinais de estresse calórico são visíveis, em animais em lactação, especialmente 
a redução da produção de leite e o comportamento letárgico dos animais. O aumento da 
temperatura retal, aumento da evapotranspiração via pulmonar (freqüência respiratória), 
principalmente em animais de climas temperados puros ou “de alta cruza” (europeu x 
tropical), redução da produção (produção de leite e ganho de peso), diminuição do consumo 
de alimento e da efeciência reprodutiva é conseqüência da sensibilidade à temperatura 
ambiente elevada associada as umidade relativa alta, principalmente. Esta é um termômetro 
que não deve ser desconsiderada (MEDEIROS e MEDEIROS, 1997, SILVA, 2000; PIRES, 
2006). A evapotranspiração diminui conforme a umidade relativa do ar aumenta e o ar fica 
mais saturado com vapor d’água (KOLB, 1976 e 1987; CUNNINGHAM, 1992 e 1999, 
MEDEIROS e VIEIRA, 1997; SILVA, 2000, OLIVEIRA, 2004; PEREIRA, 2005). 
Segundo autores, tais como Baccari Júnior (1980, 1986, 1987, 1990, 1998 e 2001) 
Medeiros e Vieira (1997 e 2009), Paranhos da Costa (2000 e 2002) e Pires (2002 e 2006) 
recomenda-se prestar atenção nos rebanhos para identificar os seguintes sinais: a) procurar 
por sombra (não abandona a sombra para se alimentar ou beber água); b) aumento de ingestão 
de água; c) redução no consumo de alimento; d) permanece em pé ao invés de deitar; em 
algumas situações, quando não há sombras os animais deitam em lugares encharcados ou 
úmidos para aumentar a perda de calor; e) aumento da freqüência respiratória; f) aumento da 
temperatura retal; g) aumento da produção de suor; h) salivação excessiva; j) alterações nas 
atividades merícicas e nos movimentos ruminal. Segundo esses autores, atenção especial deve 
ser dispensada a estes animais para evitar redução acentuada da produção e da fertilidade. 
O zoneamento climatológico por meio de monitoramento das condições climáticas 
permite a previsão de áreas com probabilidade de ocorrência do estresse calórico, podendo ser 
comprovado medindo uma série de parâmetros: temperatura retal, freqüência respiratória, 
freqüência cardíaca, ingestão de água, produção de carne e leite, eficiência reprodutiva, 
30 
 
comportamento merícico, postural, etc. (SILVA, 2000; STARLING, 2000; PIRES et al., 
2003; PIRES, 2006; HÖTZER e MACHADO FILHO, 2004). Por conseguinte, esse 
monitoramento, via de conseqüência auxilia na avaliação direta ou indireta o bem-estar dos 
animais (PARANHOS da COSTA, 2000 e 2002; PIRES, 2002 e 2006; MEDEIROS et al., 
2005b e 2007c). 
Paranhos da Costa (2000, 2002 e 2005) comenta que, no dia-a-dia das propriedades os 
animais enfrentam invariavelmente situações que causam desconforto; Temperatura, radiação 
solar, insetos, etc. Tais condições podem, em conjunto ou isoladamente, levar os animais ao 
estresse. Durante grande parte de suas vidas os animais fazem escolhas baseadas na avaliação 
do ambiente e em suas próprias necessidades; dentro da limitação proveniente dos genes, os 
animais adaptam suas reações fisiológicas e comportamentais e seu metabolismo para 
apresentar respostas adequadas às diversas características e condições do ambiente, na busca 
da condição/opção que o beneficie da melhor maneira. Segundo Broom e Johnson (1993 e 
2000), para que isso ocorra, o ambiente precisa oferecer os recursos necessários para a 
ocorrência dessas respostas, sob pena de ocorrer estresse (a princípio com diminuição do 
bem-estar), decorrente da falha na adaptação do animal ao meio ambiente. 
Quando um animal passa por um problema em seu ambiente natural, ele dificilmente 
será submetido a sofrimento prolongado oferecido por um desafio para o qual o mesmo não 
seja capaz de ultrapassar. Por outro lado, as situações artificiais oferecidas pela produção 
intensiva expõem os animais a dificuldades para as quais eles não conseguem encontrar 
solução. Quanto mais distantes forem as características dos ambientes de produção pecuária 
em relação ao ambiente de origem evolutiva dos animais, maiores serão as chances dos 
mesmos apresentarem falência adaptativa. O fracasso nas tentativas de adaptação ao meio 
caracteriza pobre bem-estar animal (MOLENTO e NORDI,

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