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90 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 Unidade II Unidade II 5 A interiorizAção dA colonizAção A figura de época dos portugueses na América eram caranguejos, pois eles se mantiveram apenas no litoral ao longo do século XVI e início do XVII. Na prática, dois processos distintos, mas de grande importância, permitiram a ultrapassagem dos limites de Tordesilhas e o avanço para o sertão do território: a pecuária e as expedições dos bandeirantes. As primeiras cabeças de gado chegaram com os portugueses. Além de fantástica fonte de alimentação, o gado era utilizado como força de tração – principalmente a partir da montagem dos engenhos nordestinos. Ao mesmo tempo, servia de transporte, sobretudo para a carga e descarga de grandes cabedais. Outra perspectiva crescente foi o uso de seu couro. Figura 51 – A expansão do gado. Nota‑se que tinha relação direta com o açúcar no Nordeste e era de enorme importância para possibilitar o desenvolvimento do produto‑chave na economia colonial 91 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 História do Brasil Colônia O gado era criado em áreas de pasto natural e de maneira bastante extensiva. Apenas na metade do século XIX é que começou, no Brasil, a perspectiva de se cercarem os animais e promover uma produção mais intensiva. Um dos problemas centrais da produção livre era a qualidade do capim, que nem sempre era bastante nutritivo. Além disso, a ausência de limites, por vezes, acarretou a invasão de plantações canavieiras (apetitosas para os animais). Essa questão gerou reclamações ao rei, que acabou determinando que o gado deveria ser direcionado a 10 léguas (cerca de 66 km) depois da costa. A partir de então essa produção se tornou setentrional e de enorme importância para desbravar o interior. Outra perspectiva, mais adiante, foi a invasão holandesa, que gerou a necessidade de os criadores irem mais para o interior para não caírem nas mãos dos estrangeiros. Há de se ter em vista, contudo, que a criação do gado respeitava certos limites. Precisava de fontes de água, tanto para os animais como para os trabalhadores, além de o gado precisar de fontes de sal próximas. Para essa última necessidade, eram procurados locais no chão (chamados de lambedores). E, uma vez que o sal era um produto caro, havia espaços específicos para sua produção. No Nordeste, particularmente, existiam locais com essas características no Agreste. Uma das primeiras regiões a promover o desenvolvimento do gado e marcha para o interior foi o Vale do Rio São Francisco, também conhecido como Rio dos Currais. Ali eram satisfeitas todas as necessidades dos animais – além disso, havia a vantagem de a localidade estar perto dos centros do açúcar. A mais importante feira para a comercialização do gado, nas primeiras décadas da produção, era Capoame, que depois foi substituída por feira de Santana. A criação de gado era basicamente voltada para carne, embora também fosse utilizado seu couro, com a exceção dos engenhos, onde os animais eram usados como força motriz. Em algumas regiões, eram feitas carnes‑secas – marca registrada do Ceará (onde havia uma famosa feira de comercialização desse produto, chamada de Aracati). Somente em meados do século XVIII é que o charque gaúcho foi ganhando destaque e passou a competir nesse mercado. A atividade era promovida por grandes propriedades, com áreas imensas, mas que nem sempre tinham grande representatividade, devido à falta de água e de sal. Seu desenvolvimento podia se dar ainda a partir das sesmarias ou de arrendamentos por meio do pagamento de uma quantia, chamada de foros (uma espécie de aluguel). Havia ainda áreas individuais, terras que eram exploradas por sitiantes de alimento e que complementavam sua renda com o gado. Eram muito comuns no Nordeste. Áreas malhadas eram públicas, nelas se deixava o gado pousar – geralmente depois de longas viagens. No Sul, essas áreas eram conhecidas como invernadas. Elas eram muito utilizadas nos caminhos das feiras para a comercialização do gado. A produção dos bovinos se concentrou, em termos gerais, em abastecer as mais diversas atividades promovidas na colônia. De início, suas relações estavam imbricadas com o açúcar. Mas daí o Vale do São Francisco ter sido tão importante. Somou‑se a ele parte do Sertão nordestino (a produção chegou a atingir regiões do Maranhão e do Piauí). A caracterização da região era dada pelas áreas bastante extensas e pelo uso da mão de obra livre. 92 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 Unidade II Figura 52 – A expansão da pecuária ao longo dos séculos XVI–XVIII Com a propagação do ouro no centro‑sul, uma ampla dinâmica se estabeleceu. Nesse sentido, aos poucos, o sul de Minas Gerais passou a criar gado com o uso de mão de obra escrava. E assim também foi com os Campos Gerais, entre São Paulo e Paraná. A mão de obra preponderante era livre e estava bastante ligada à figura dos tropeiros paulistas. Por fim, também o Rio Grande do Sul passou a desenvolver o gado com mão de obra livre, desenvolvimento esse que logo se capitalizou e passou a adotar a mão de obra escrava. A historiografia tradicional entendia que não havia mão de obra escrava africana no trabalho da pecuária pela falta de capital. Assim, restava aos indígenas o trabalho nessa atividade, por gostarem da liberdade. Acreditava‑se que, a partir do contato mais setentrional, os nativos eram encontrados e incorporados ao ofício. Nos dias de hoje a historiografia nega que o indígena seja culturalmente afeito à pecuária. Na prática, contudo, grande parte dessa população foi dizimada. Cada área da pecuária adaptou o uso de sua mão de obra. No geral, pode‑se dizer que o trabalho central foi feito pelo escravo africano e administrado por trabalhadores livres, que, eventualmente, podiam contratar alguns peões livres. Os pagamentos pelos serviços eram feitos em cabeças de gado e/ ou em pequenas porcentagens dos bezerros nascidos. 93 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 História do Brasil Colônia O circuito mercantil do gado era grande e se estabelecia em franca expansão ao longo dos séculos XVII–XIX. Havia longas rotas que culminavam nas famosas feiras de gado. Nelas, intermediários, chamados de marchantes, compravam o gado e o revendiam nos grandes centros urbanos. Eram eles que ficavam com a maior parte do lucro. Exemplo de aplicação A pecuária é uma atividade subsidiária que tomou enorme vulto ao longo de nossa história. Muitas regiões atualmente estão diretamente relacionadas à produção do gado. Você consegue relacioná‑la à sua região? Quais são os locais centrais que abastecem sua cidade? Outras ações bastante significativas foram as expedições para o interior. Um dos motivos centrais e constantes foi o sonho do ouro. Em meados do século XVI, os portugueses já tinham notícias das imensas quantidades encontradas na América espanhola e criam que Deus não abandonaria Portugal. Há de se ter em vista que foi descoberto ouro em alguns locais, como em Iguape, mas todos os achados eram muito pequenos – eram muito mais “sinais de ouro”, incapazes de trazer uma alteração substancial, mas que mantinham vivo o sonho. Em geral, as expedições são tradicionalmente divididas em dois grupos: as promovidas pela Coroa e que respeitavam os limites territoriais desenvolvidos pelo Tratado de Tordesilhas eram as entradas; já as bandeiras, por sua vez, eram realizadas por particulares e não respeitavam a linha de Tordesilhas. As entradas foram utilizadas para combater estrangeiros,como os franceses na França Antártica, ou mesmo a expansão territorial orientada pela Metrópole durante a União Ibérica, que tinha como uma das perspectivas centrais ocupar os territórios de maneira a impedir qualquer outra invasão (o que, na prática, como vimos, não deu certo, por causa da invasão holandesa). Uma das atuações mais importantes foi a perspectiva da colonização até o Rio da Prata – isso gerou a fundação da Colônia do Sacramento, em 1680, feita por Manuel Lobo. As relações econômicas no sul se fortaleceram, em grande medida, com a União Ibérica (1580– 1640) e a consequente anulação de Tordesilhas. Tudo promovia as relações com os vecinos, como eram mencionados em Buenos Aires. Como explica Rodrigo Ceballos: A constituição de redes de cumplicidades no porto, permitida em grande medida pelas inserções lusitanas, foi o que financiou o próprio aparelho administrativo e militar da Coroa garantindo sua estabilidade e os direitos dos vecinos. A prática da extralegalidade, a fina cortina composta pelas (in)formalidades do Império, permitiu o fortalecimento da Coroa e da própria elite. Este pacto, constituído pelas ações cotidianas e o aval real, nos possibilita entender a consolidação dos grupos dominantes da região, assim como a permissividade da presença portuguesa. Isto não significou a ausência de conflitos ou de proibições régias, mas a contínua possibilidade de novas formações de redes de poder e exercícios 94 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 Unidade II de autoridade. Foi nesta malha, permitida pela dinâmica do pacto entre “centro” e “periferias”, que os portugueses souberam atuar e negociar para bem conservar (CEBALLOS, 2009, p. 483). Assim, é preciso ter em vista que, entre as determinações reais e as práticas do cotidiano, muitos aspectos eram reestabelecidos. Isso não acabava com a força do poder central, mas trazia, na realidade, as ações das áreas mais distantes e de seus interesses. É nesse sentido que podemos, portanto, perceber uma imbricada relação, na região sulina, entre portugueses e espanhóis, que promoveu consequências e interesses dos mais variados, inclusive a ponto de se relacionar a construção dos Estados nacionais, ou mesmo depois, às disputas de interesses que culminaria no maior conflito da América do Sul: a guerra do Paraguai. Figura 53 – A localização da Colônia do Sacramento demonstra a perspectiva do contato comercial com os espanhóis e a importância estratégica relacionada à bacia do Prata Dentre as entradas mais famosas, podemos destacar: • a de Américo Vespúcio, de 1503–1504, por ter sido a pioneira, na região de Cabo Frio; • a de Martim Afonso de Sousa, em 1531, no Rio de Janeiro; • a entrada de Belchior Dias Moreia, em 1595, no Sertão, alcançando a Chapada Diamantina e o São Francisco. Belchior teria lá permanecido por oito anos, o que gerou lendas de que teria achado minas de prata. 95 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 História do Brasil Colônia As ações mais famosas, de qualquer forma, foram as dos bandeirantes. Em grande medida, esses homens se aproveitavam das trilhas indígenas e do modo de vida dos nativos (como o hábito de dormir em rede e a alimentação na floresta) para sobreviver no interior. Muitas vezes, os bandeirantes deixavam roças pelo caminho para poderem encontrar comida fresca na volta. É claro, contudo, que, para que todo esse aparato fosse possível, vários indígenas e mamelucos participavam das expedições. As atuações dos bandeirantes no interior, nas áreas do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso encontraram a facilidade dos rios Tietê, Paraíba e Ribeira como forma de garantir o caminho e a provisão para as áreas em expansão. Esse tipo de atuação ficou conhecido como monções. Figura 54 – O quadro “A partida da Monção”, criado por Almeida Júnior (1850–1899) Uma das perspectivas centrais dos bandeirantes, no entanto, era a caça ao índio – o que ficou conhecido como preação. O uso da mão de obra indígena foi bastante significativo no planalto paulista. Ao contrário da região do Nordeste açucareiro, faltava capital para a compra do cativo africano. Assim, eram utilizados os chamados “negros da terra”. Há de se ter em vista que, ao contrário do que apontou a historiografia tradicional, essas ações não estavam ligadas a crises de mão de obra escrava africana no açúcar. Constituíam, ao contrário, a base de uma mercantilização do sul, ainda que incipiente. Como explica John Manuel Monteiro: Representando o auge do apresamento de cativos guaranis, o surto bandeirante de 1628–1641 relacionava‑se muito mais ao desenvolvimento da economia do planalto do que – como a maioria dos historiadores paulistas tem colocado – à demanda por escravos no litoral açucareiro. Sem dúvida, alguns – talvez muitos – cativos tomados pelos paulistas chegaram a ser vendidos em outras capitanias. Mas este comércio restrito não explica nem a lógica nem a escala do empreendimento bandeirante. As evidências fazem crer que o abastecimento dos engenhos foi um aspecto conscientemente distorcido pelos jesuítas da época, justamente porque fornecia elementos substantivos para seu pleito contra os paulistas (MONTEIRO, 1994, p. 76–77). 96 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 Unidade II Essa foi umas das questões centrais do bandeirantismo paulista: caçar os nativos, o que muitas vezes fazia com que atacassem os aldeamentos (ou reduções) jesuíticas. A disputa entre esses dois grupos foi constante. Houve três momentos de leis contra a escravidão indígena – 1609, 1680 e 1755. Apenas neste último ano, entretanto, o cativeiro foi definitivamente abolido. Até 1755, havia uma brecha bastante importante na lei: a chamada “guerra justa”. O índio que não era pacífico poderia ser escravizado. A proibição, até então, era da escravidão do “índio amigo”. O rei também poderia declarar a “guerra justa” no caso de o índio: • se recusar à conversão ou ao aldeamento; • agir impedindo a conversão através de propaganda contrária; • impedir a passagem pelo território; • assassinar um jesuíta acidentalmente; • promover atos hostis de qualquer natureza contra um súdito português – o que muitas vezes ocorria como reação à invasão de terras realizada pelos europeus; • quebrar qualquer pacto ou tratado com os portugueses; • não salvar algum europeu que pudesse ser devorado em um ritual antropofágico. Muitas vezes, os colonos procuraram mascarar ou ignorar a lei, ou até mesmo explorar algumas de suas brechas, a fim de garantir seus interesses. Essa foi uma prática bastante comum principalmente em locais onde os recursos eram escassos para a compra do escravo negro. Figura 55 – A representação do aprisionamento dos indígenas no interior No início do século XVII, propagaram‑se os ataques aos aldeamentos jesuítas. Entre 1612 e 1628, o bandeirante paulista chamado Manuel Preto passou a atacar, por diversas vezes, o aldeamento dos jesuítas na região de Guairá. Em 1629, passaram a ser vistas as expedições de Raposo Tavares. Seus ataques foram tão fortes que acabaram fazendo com que as missões se dispersassem para outros locais, 97 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 História do Brasil Colônia como o Rio Grande do Sul e o Mato Grosso – mesmo ali, esses redutos não sobreviveram por muito tempo. Raposo Tavares chegou, até mesmo, a atacar missões em territórios espanhóis, no contexto da União Ibérica, o que foi bem visto pela Coroa, que começava a desconfiar da força dos jesuítascomo um poder paralelo. Um dos elementos que comprova essa desconfiança foi o pedido de ajuda para Assunção, que simplesmente não recebeu uma resposta em ações. Figura 56 – Os ataques empregados pelos bandeirantes às aldeias jesuítas geravam grandes aprisionamentos e décadas de litígios com os religiosos, além de desbravarem, para os brancos, um enorme território Claro que nem todos os grupos indígenas aceitaram a situação dos ataques e se submeteram a esperar pelo pior. Alguns deles compreenderam o contexto de guerra pela sobrevivência que viviam e passaram a lutar pela liberdade. Os dois mais famosos foram os paiaguás e os bacurus. Os primeiros eram temidos por atacarem expedições e chegaram a matar o ouvidor‑mor. Eles eram extremamente famosos por suas ações na água. Já os segundos atacavam, sobretudo, em terra e impediam expedições para o Cuiabá. Saiba mais Um ótimo filme acerca das relações entre os colonos, os nativos, os aldeamentos e os jesuítas é: A missão. Dir. Roland Joffé. Reino Unido: Warner Bros., 1986. 124 minutos. 98 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 Unidade II O fato é que os bandeirantes, entre suas idas e vindas para o sertão, acabaram encontrando o sonhado ouro entre o final do século XVII e o início do século XVIII. De alguma maneira, a notícia chegou aos ouvidos da Coroa e a estrutura colonial passou a superar um importante quadro de crise. Os bandeirantes, na historiografia tradicional paulista, foram celebrados como grandes desbravadores do Brasil, responsáveis pela grandeza de nosso território. Essa imagem altamente idealizada e já bastante ultrapassada na historiografia impedia a compreensão exata desses homens como “filhos do seu tempo”, ou seja, que procuravam seus interesses e perspectivas econômicas (o que em nada tem a ver com a imagem de herói). Um outro foco de expansão territorial muito menos comentado foi a região amazônica. Na prática, não há muitas fontes a respeito do tema. Na historiografia tradicional, a expansão territorial para essa região era vista apenas como uma necessidade de demonstrar a dimensão continental da nação que se pretendia inventar. No entanto, é inegável que a região ganhou significativa importância a partir da expulsão dos franceses no Maranhão. Logo a seguir, foi criado o Estado do Maranhã (criado em 1621, mas instalado só em 1626). A região incluía as Capitanias Reais do Ceará, Maranhão, Grão‑Pará e Gurupá; além das Capitanias hereditárias de Cumá, Caeté, Cametá, Marajó, Cabo Norte e Xingu. Por problemas políticos em torno das disputas de portugueses com espanhóis, o Estado do Maranhão foi extinto em 1651. Mas já em 1654, foi recriado como Estado do Maranhão e Grão‑Pará. Em 1656, a Capitania do Ceará foi transferida para o Estado do Brasil. A região Norte, na prática, trazia o atrativo das drogas do Sertão, o que, inclusive, atraiu expedições de bandeirantes. A mais famosa foi a de Raposo Tavares, que durou de 1648 até 1651 e percorreu Paraguai, Andes, Mamoré, Madeira, Amazonas e Belém. Essa expedição, além da obtenção de produtos diversos, garantiu as fronteiras dos rios e de um importante saber para os portugueses pleitearem o território nas disputas com os espanhóis. Também foi significativa, nesse mesmo sentido, a chegada da Igreja em diversas frentes. Em 1627, chegaram os carmelitas no Maranhão, onde se dirigiram para o Rio Negro, Rio Branco e Solimões. Em 1636, foi a vez dos franciscanos, também no Maranhão, espalhados pelo Cabo Norte, Marajó e pelos afluentes ao norte do Rio Amazonas. Em 1652, os jesuítas passaram a promover missões no Grão‑Pará, em Tocantins, no Xingu, em Tapajós e no Madeira. Todos eles foram utilizados para justificar o domínio português, em torno do projeto da catequização dos milhares de indígenas existentes na região. Por fim, em 1673 os portugueses decidiram que Belém seria a capital desse Estado e uma série de fortes foram construídos visando garantir a defesa contra um suposto projeto espanhol de escoar a prata dos Andes pelo Rio Amazonas para se livrar dos piratas e corsários do Caribe. Contudo, a Espanha, assolada pelos conflitos no continente europeu, preferiu focar seus esforços na região Sul. 5.1 A crise portuguesa do século XVii e as primeiras revoltas na colônia As ações dos holandeses na América portuguesa abalariam profundamente as relações econômicas do açúcar para Portugal. A competição das Antilhas fez com que os recursos, aos poucos, ficassem escassos, já que o monopólio de produção português desapareceu. O capital já 99 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 História do Brasil Colônia não era mais o mesmo. Seus grandes mercados, sobretudo franceses e ingleses, passaram a comprar açúcar das suas próprias colônias do Caribe, que haviam acabado de adquirir o conhecimento do sistema produtivo com os holandeses (claro que esses países passaram a dar proteção e prioridade em seus mercados ao seu açúcar). Mesmo as possessões na África sofreriam danos. Os portugueses não estavam mais sozinhos no tráfico negreiro. A região de São Jorge da Mina nunca mais foi retomada. Apenas Luanda voltou para o domínio dos lusos. Mais do que isso, para piorar, Portugal, com vistas a reaver sua autonomia, nas guerras de restauração contra a Espanha, que só acabaram em 1668, acabou por sair profundamente endividado – para cobrir o apoio de outros países europeus à sua causa. Foi então que, na política de acordos, Portugal entregou os principais portos da Ásia – o reino da pimenta estava acabado. Figura 57 – O quadro celebra a data de 1º de dezembro de 1640, quando D. João, o duque de Bragança, foi aclamado rei de Portugal, se tornando D. João IV Para completar o quadro difícil, a constante preocupação portuguesa em não perder essa autonomia que duramente foi reconquistada fez com que os lusos assumissem uma política de neutralidade. Quando não foi mais possível manter‑se neutro, Portugal aliou‑se à Inglaterra. Para isso, as dívidas aumentaram ainda mais, pois era necessário pagar o dote de Catarina, que se casaria com o herdeiro inglês para confirmar o pacto entre os dois países. Nessa conjuntura geral de crise financeira no século XVII Portugal, na figura do ministro Dom Luís de Meneses, conhecido como Conde de Ericeira, procurou promover o mercantilismo típico, semelhante ao dos franceses com o colbertismo. As reformas promovidas pelo ministro tinham como objetivo substituir as importações na área das manufaturas têxteis – principalmente do algodão e da seda, coibindo a utilização exagerada de artigos de luxo. Assim, foram adotadas medidas alfandegárias protecionistas, além de regulamentos para o uso de roupas, que chegaram até a trazer artesãos ingleses escondidos para fortalecer as técnicas produtivas. Em menor proporção, ações semelhantes também foram tomadas para o azeite, o sal e o vinho – este último foi o que mais deu certo, sobretudo, nas Ilhas Atlânticas de Madeira e Açores. 100 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 Unidade II Saiba mais Para saber mais acerca da economia portuguesa e das perspectivas novas de investimento, veja o interessante artigo: ROSSINI, G. A. A. As pragmáticas portuguesas de fins do século XVII: política fabril e manufatureira reativa. Revista de História, João Pessoa, n. 22, jan./jun. 2010. Na colônia, as ações foram marcadas por um aumento do fiscalismo a partir do Conselho Ultramarino, criado em 1642. Sua função era concentrar toda a administração dos domínios além‑mar. Ele promoveu uma série de aumentos nos impostos, além de criar companhias de comércio para fomentar odesenvolvimento mercantil. Dentre elas, destacaram‑se a Companhia Geral do Comércio do Brasil, criada em 1649, e a Companhia Geral de Comércio do Estado do Maranhão, criada em 1682. Ficava notório que a estrutura da dominação colonial ficava enrijecida e que Portugal acreditava que a colônia seria uma importante forma de se reerguer dos problemas existentes. Conselho ultramarino Governo Geral Donatarias Câmaras Municipais Rei Figura 58 – A estrutura administrativa portuguesa, após a União Ibérica, passou a contar com a centralização do Conselho Ultramarino, diretamente ligado ao poder do monarca Além disso, o governo investia nas expedições para encontrar ouro e prata no interior. Dentre esses esforços, um dos mais emblemáticos foi o de Dom Rodrigo de Castelo Branco. Ele era natural de Castela, mas ofereceu seus serviços ao rei português – ações, através de sua experiência, para encontrar os cobiçados metais para os lusos. Uma das suas autorizações era arrecadar fundos nas Câmaras Municipais, o que faria com que o estrangeiro entrasse em choque com os paulistas. Seu final foi trágico: foi assassinado. Segundo alguns historiadores, houve a suspeita de que havia descoberto ouro que os 101 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 História do Brasil Colônia paulistas já avistavam e sobre o qual não desejavam contar às autoridades – daí ter sido assassinado, talvez, por um dos famosos bandeirantes, descobridor do ouro, Borba Gato. Outra medida foi tentar investir no tabaco. Uma junta foi criada em 1674. O produto podia ser vendido de três formas: moído (forma que tinha mercado crescente), rapé (pó de tabaco, que era uma moda proveniente da Índia) ou fumo de corda (forma para mascar o tabaco, o que era cada vez mais apreciado na corte francesa). A produção foi crescendo no Recôncavo Baiano (o que também era utilizado no tráfico negreiro, como se verá adiante) e amenizava os prejuízos do açúcar no Nordeste. Tentou‑se também transferir a produção de especiarias perdida na Ásia para os territórios do norte da América portuguesa. Contudo, nada deu certo: os investimentos necessários eram consideráveis e os investidores quase que não surgiram. Nota‑se, assim, que o mundo português passou a ser, em grande medida, relacionado ao Atlântico. A região adquiriu, desse modo, diversas dinâmicas bastante importantes que apresentaram ao império português uma nova realidade. Exemplo de aplicação Uma das mentes mais lúcidas do império português no século XVII foi o famoso padre Antônio Vieira. Procure pesquisar sobre sua vida e suas propostas. Você acredita que as suas propostas eram interessantes? A qual grupo, particularmente, suas ideias remetiam nas questões econômicas? O que nos interessa, por ora, são as repercussões das ações promovidas pela Coroa em torno do centralismo posterior à União Ibérica. Há de se destacar que a conjuntura a partir da metade do século XVII gerou um sentimento de rebeldia aos colonos. Não se tratava de discutir a dominação portuguesa, mas sim algum aspecto da dominação. Ou seja, os interesses locais afloravam em busca de melhores condições. Em termos gerais, esses movimentos são conhecidos como nativistas por envolverem alguma causa específica local. O grande lema era “viva o rei, morte ao mau governo”. Os revoltosos eram contra governadores e, em alguns casos, autoridades jurídicas. Os movimentos nativistas ocorreram no Rio de Janeiro, Pernambuco, Maranhão, Minas Gerais e até mesmo em Goa e Angola. Eles estavam relacionados ao contato entre as autoridades locais e a restauração portuguesa, pois o novo vínculo deveria abordar a necessidade de um governo que respeitasse seus súditos baseando‑se na justiça – do contrário, seria necessário alterá‑lo. A própria reação da monarquia foi tênue, já que não se tratava de um rompimento do status quo. Os queixosos, assim, não foram vistos como traidores e geraram a necessidade de a Coroa “aprender” acerca dos domínios coloniais: a repressão nunca poderia ser dura demais. O pragmatismo deveria governar a reação. Na prática, as rebeliões visaram se tornar um mecanismo de negociação entre os colonos e a Coroa. Uma dessas primeiras agitações ocorreu em São Paulo em 1641. Amador Bueno da Ribeira foi aclamado como rei da região, após as notícias do fim da União Ibérica. A questão estava diretamente 102 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 Unidade II relacionada aos interesses de espanhóis com medo de perder o trato mercantil com os paulistas. Percebe‑se a importância dessas relações na região, já que os rebeldes foram capazes de promover um movimento de rebeldia ao novo rei português. Os relatos apresentam, contudo, que Amador Bueno da Ribeira não aceitou a nomeação. Com isso, se tornou um personagem histórico de fidelidade ao poder instituído. Figura 59 – A idealização da representação da aclamação de Amador Bueno. Note quais são os elementos que compõem os diversos grupos que estão em harmonia com a decisão dos paulistas Houve movimentos mais comuns, como as conhecidas Botadas dos Padres para Fora – que ocorreu em São Paulo, mas também no Pará e no Maranhão. Esse conflito colocou em evidência as relações problemáticas dos colonos com os jesuítas em torno da perspectiva da escravidão indígena. Muitas vezes, o cativeiro do nativo era visto como a solução mais fácil e prática para o aumento de mão de obra a baixo custo. Ao mesmo tempo, como vimos, os bandeirantes procuravam lucrar com a empreitada. A própria insurreição pernambucana (1645–1654) também foi um movimento local de forte descontentamento com a cobrança de dívidas promovidas pela WIC. E, sem dúvida, era um exemplo bastante importante da possibilidade de força dos movimentos locais. Assim, não é à toa que outros movimentos, ainda que pequenos e pouco conhecidos, tenham pipocado em outras regiões. Esse foi o caso do movimento no Rio de Janeiro, ocorrido entre 1660 e 1661, após os altos impostos aplicados pelo governador Salvador de Sá. Ou mesmo o de Pernambuco, entre 1664–1665, conhecido como Revolta de Nosso Pai, também por causa do trato com a política promovido pelo governador. Outro movimento relevante ocorrido no Rio de Janeiro entre 1660–1661 foi o que alguns historiadores chamaram de Revolta da Cachaça. O produto estava proibido de ser comercializado desde 1635, mas permanecia existente e era bastante importante para o trato do tráfico negreiro, como se verá mais adiante. Em 1660, o novo governador, Salvador de Sá Correia e Benevides, propôs novos impostos para 103 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 História do Brasil Colônia garantir a defesa da cidade e controlar os principais postos da capitania. Ao mesmo tempo, procurou, a todo custo, impedir o direito de petição dos colonos diretamente para o rei. Com isso, a oposição foi muito forte. Os colonos se aproveitaram de uma ausência do governador para depô‑lo e controlaram a cidade por cinco meses. O governador, contudo, apoiado pelos jesuítas e por tropas de outras regiões (inclusive índios), conseguiu retomar a cidade e desencadeou uma dura repressão. A Revolta de Beckman, de 1684, no Maranhão, se deu em torno do conflito entre os interesses locais, representados pelos irmãos Beckman, e os interesses da Companhia Geral e do Comércio do Estado do Maranhão, criada em 1682, que havia conseguido da Coroa o monopólio do comércio de escravos africanos, além da proibição da escravidão indígena. Os habitantes locais argumentavam que os novos cativos eram da pior qualidade e, ao mesmo tempo, exigiam o retorno da escravidão indígena. Ou seja, é notórioque, mais uma vez, o conflito tinha como base a questão da mão de obra e o desejo local do uso do escravo indígena. Em fevereiro de 1684, o levante foi liderado por Manuel Beckman e Jorge Sampaio, que aboliram o estanco da Companhia, expulsaram os jesuítas e o governador. Contudo, logo a repressão chegou. E os líderes foram mortos. Outro movimento local de grande repercussão foi a chamada Guerra dos Mascates, que já trazia conflitos de décadas e desembocou nos anos de 1710–1712. A disputa colocou em choque os diversos interesses do açúcar quando o produto já não tinha o mercado de outrora, como vimos, por causa da competição com as Antilhas. A rivalidade se estabeleceu entre, de um lado, os interesses dos senhores de engenhos de Olinda (nativos) e, de outro, os comerciantes portugueses de Recife, chamados de mascates. A situação da crise fez com que os senhores de engenho, que se entendiam como a nobreza da terra, após terem sido centrais nas lutas contra os holandeses, ficassem cada vez mais endividados com os mascates de Olinda. Esses últimos eram vistos como traidores, porque não estavam movidos pela causa da libertação de Pernambuco, mas passaram a exigir direitos para a Coroa por terem expulsado os holandeses, pois enriqueciam e queriam representação (ocupar cargos públicos). Na realidade, os senhores de engenho estavam sempre endividados nas mãos de “estrangeiros”, pois podiam obter financiamentos dos mascates, dos conventos, das igrejas e da Santa Casa de Misericórdia para antecipar determinados valores a fim de comprar escravos ou angariar recursos para necessidades específicas de última hora. Os senhores de engenho pediram então que a Coroa nunca aceitasse os mascates nos cargos locais, pois tinham “defeito” (faziam trabalho manual, algo nunca realizado por um senhor de engenho, mas do qual eles tinham grande orgulho). Contudo, o governo local ainda estava preocupado com uma possível nova invasão e por isso se instalou em Recife (cidade forte), já que Olinda não tinha fortalezas. A disputa propriamente dita, apesar do discurso oficial das disputas e interesses relacionados ao trato mercantil do açúcar, teve como base o poder político local. Tudo começou com o fim da União Ibérica. A questão econômica inicial tinha como problema que a alfândega ficava em Olinda e o porto ficava em Recife. Com isso, a alfândega acaba sendo levada para o Recife – que também recebeu tropas. A nova situação gerou diversos protestos em Olinda. Dentro de uma política de neutralidade, as decisões régias tentavam agradar os dois lados. 104 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 Unidade II Os mascates receberam apenas pequenos cargos e uma legislação confusa foi estabelecida. A estratégia não deu certo. Chegou ao governo Sebastião de Castro e Calda – figura autoritária e que não observava os protocolos do poder. Ele aliou‑se aos mascates, pois era contrabandista e recebia, a seu ver, baixos vencimentos. O ouvidor português, por sua vez, uniu‑se à nobreza da terra. Formou‑se então um caso extremamente raro de ruptura entre o governador e o ouvidor. O governador, então, decidiu criar a Vila do Recife, às escuras, durante a madrugada, colocando o pelourinho na região. O conflito colocava em evidência, assim, os interesses locais divergentes, em um contexto em que o açúcar já não tinha a mesma pujança econômica de outrora. Mais do que isso, o ouro das Gerais já estava em plena exploração, atraindo os olhos da Coroa para as novas oportunidades que se apresentavam. Saiba mais Para se aprofundar no assunto da Guerra dos Mascates, vale a pena acessar o artigo: CABRAL, F. J. G. Viva ao rei, morte ao governador! Revista de História, 2 jan. 2012. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/ artigos‑revista/viva‑o‑rei‑morte‑ao‑governador>. Acesso em: 5 ago. 2014. A Guerra dos Emboabas, ocorrida em Minas Gerais, entre 1708 e 1709, foi mais um conflito de caráter local e nativista. Os paulistas, com a ação dos bandeirantes, entendiam que deveriam ser os únicos a obter os benefícios provenientes do ouro – inclusive nos diversos ramos comerciais. Afinal, tinham sido eles os que haviam sacrificado suas vidas em prol desse grande achado. Daí criticarem todos os que não eram paulistas – os emboabas (forasteiros, ou seja, todos aqueles que não eram de São Paulo). Esses, por sua vez, promoveram ataques, com todo o rigor, para dominarem a nova estrutura econômica. E conseguiram. lembrete O interesse da Coroa pela descoberta do ouro estava bastante presente desde os primórdios. A ação dos bandeirantes, contudo, foi de enorme importância para fomentar as descobertas nos sertões e gerou o mito da força dos paulistas – “terra de gigantes”. Outro movimento bastante significativo foi a Revolta de Vila Rica, no ano de 1720. O líder foi Felipe dos Santos. Essa revolta, particularmente, refletia o endurecimento da política da Coroa no início do século XVIII, com a extração do ouro. O problema central da Metrópole era como controlar essa riqueza, “dinheiro vivo”, para evitar ao máximo o contrabando. O açúcar, até então grande produto local, não era capaz de ser trocado facilmente, diferente do ouro. Assim, Portugal passou, aos poucos, a subtrair as autonomias locais, controlar a magistratura régia, aumentar a tributação, transferir as despesas gerais para os colonos, concentrar o poder dos altos postos da administração real, promover a coerção dos comerciantes locais em prol dos negociantes metropolitanos, além de gerar a opressão e vexações da 105 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 História do Brasil Colônia justiça para os locais (que muitas vezes permaneciam pobres). Para completar, a Metrópole ainda criou as Casas de Fundição, que garantiriam a obtenção dos impostos. A reação das tropas reais à Revolta de Vila Rica foi rápida e Felipe dos Santos foi executado. Figura 60 – O quadro representa a execução de Felipe dos Santos. Além de representar a forte repressão da Metrópole, também demonstra o quanto o mundo da mineração estava envolvido com diversos grupos no meio urbano São Luís Olinda Recife Vila Rica Mariana São Paulo Oc ea no A tlâ nt ico Aclamação de Amador Bueno (SP – 1641) Revolta de Beckman (MA – 1684) Guerra dos Emboabas (MG – 1708‑09) Guerra dos Mascates (PE – 1710‑12) Revolta de Felipe dos Santos (MG – 1720) Figura 61 – A localização dos principais movimentos nativistas. Repare que eram de regiões variadas, o que denota a insatisfação com o mau governo como algo do período em questão e de grande importância para os colonos 106 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 Unidade II 5.2 o ouro A perspectiva de os portugueses encontrarem ouro finalmente foi consumada no fim do século XVII e início do século XVIII. Os bandeirantes descobriram metais preciosos e a notícia chegou aos ouvidos da Metrópole. A grave crise financeira rapidamente desapareceu. As principais regiões de exploração de ouro foram Minas Gerais, Mato Grosso e, mais adiante, também Goiás. O ouro encontrado era de aluvião, ou seja, estava presente nas margens ou na foz dos rios, daí sua exploração ser de baixo nível técnico, mas, ao mesmo tempo, esgotar rapidamente as jazidas. Figura 62 – As importantes regiões de exploração do ouro ao longo do século XVIII A Coroa rapidamente tratou de melhorar a administração dos sertões para vigiar de perto a riqueza encontrada. Em 1698, o rei resolveu sujeitar a Capitania de São Vicente ao governo do Rio de Janeiro. Em 1702, foi criado o Regimento das Minas, que garantiria as principais diretrizespara a exploração metalífera – tratava‑se da complementação de regimentos prévios dos anos de 1603 e 1618. Em 1709, a Coroa decidiu, mais uma vez, alterar as relações administrativas: foi extinta a Capitania de São Vicente e criada a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, tendo como sede a Vila de São Paulo, separada do Rio de Janeiro. Apenas em 1720 foi criada a Capitania de Minas Gerais, separada de São Paulo, tendo como capital a Vila Rica. Entre esses anos, a região recebeu milhares e milhares de novos habitantes, o que resultou na criação de diversas vilas. 107 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 História do Brasil Colônia Figura 63 – O sonho do ouro agitava mentes e corações em busca do enriquecimento no Brasil colonial A perspectiva da exploração do ouro, encontrado nas Minas Gerais, fez com que muitos brancos marginalizados pudessem migrar em torno do sonho da ascensão econômica. Isso fez com que muita gente chegasse à região em pouquíssimo tempo. A fome inicial se tornou inevitável, por causa das fortes crises de abastecimento. Houve pessoas que morreram de fome (a população subitamente era gigantesca e o volume de comida baixo) e a inflação se tornava galopante. Aos poucos, contudo, um amplo mercado de abastecimento agropastoril passou a ser desenvolvido, sobretudo com a construção do Caminho Novo, em 1725, ligando as regiões do Sul diretamente com as minas. Além disso, a pecuária dos rios São Francisco e das Velhas complementava as necessidades locais do novo maior polo de desenvolvimento da colônia. O grande órgão controlador e fiscalizador era a Intendência das Minas – formado por um superintendente, que era o chefe geral, e pelo guarda‑mor, responsável pelas repartições e pelo cumprimento das leis. Somente a partir desse órgão era possível participar dos negócios de exploração do ouro. Assim, ele garantia o pagamento dos impostos e também as ações para coibir, ao máximo, o contrabando. A distribuição das áreas de extração do ouro era promovida através da faiscação – garimpo individual, para os de poucos recursos que sonhavam com uma vida melhor por meio da mineração – e a lavra – uma verdadeira empresa exploradora que utilizava a mão de obra escrava e, dependendo dos recursos do proprietário, poderia ter uma técnica mais apurada de exploração. Tudo era dividido, a partir das datas – porções que eram distribuídas, por sorteio, pela Intendência das Minas. Na prática, contudo, nem todos poderiam ter acesso às datas: De início, pelo Regimento de distribuição das lavras, nota‑se o caráter restritivo e eminentemente escravista da mineração: as datas seriam concedidas conforme o número de escravos que cada um possuísse, donde parece ficar descartada a possibilidade, para o homem livre pobre, de possuir lavra sua (SOUZA, 1986, p. 69). 108 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 Unidade II Não é à toa, dessa forma, que os homens aventureiros e desejosos de partilhar da riqueza encontrada tiveram que recorrer à ação individual: A principal resposta do homem livre pobre ante a situação foi, ao que tudo indica, o garimpo e a faiscagem, que mal davam para a subsistência. Os “homens faiscadores” trabalhavam nos rios com uns poucos escravos, e muitos deixavam esse tipo de atividade por não poderem se manter, nem a seus negros. Essa situação continuou difícil para o pequeno minerador durante todo o período. Se a empresa exigia algum serviço mais custoso, o mineiro não tinha condições de arcar com as despesas (SOUZA, 1986, p. 70). Daqui apreende‑se que o ouro, apesar de ter atraído um enorme contingente populacional, não produziu a riqueza fácil para todos. Muito pelo contrário. Muitos enfrentavam uma batalha enorme pela vida, além de choques com o poder real: Na fase de conformação do território das Minas, aventureiros, assassinos e bandidos conviveram com “homens bons”, muitas vezes tornando‑se um deles enquanto estes, por sua vez, se perdiam em desmandos e acabavam perseguidos pela justiça. Não foi outro o caso de Borba Gato, a quem a Coroa fechou os olhos (SOUZA, 1986, p. 101). lembrete Vale relembrar que Borba Gato, importante bandeirante paulista, foi o acusado do assassinato de Dom Rodrigo de Castelo Branco, representante da Coroa na busca de ouro e prata. Em sua fuga, teria descoberto importantes regiões metalíferas – daí ter obtido o perdão real. Claro que o ouro ampliou possibilidades. A fome da população atraída pela febre da obtenção de minérios precisava ser abastecida. E assim se formou uma ampla rede de mantimentos e comércio, sempre amparada pelas diretrizes da Coroa. Vilas foram sendo estabelecidas e o pequeno comércio local era estimulado. Havia a proibição, por exemplo, do uso de escravos de ganho de tabuleiro nas áreas de mineração e era favorecida a venda direta de mantimentos para lavradores. Mas nem tudo se estabelecia com facilidades: O ímpeto urbanizador trouxe como uma de suas consequências um convívio entre populações muito mais íntimo do que em qualquer outro ponto da colônia. Essa intimidade não só favoreceu a emergência dos conflitos como propiciou a aplicação de medidas punitivas. Normalizar a população e cobrar impostos tornaram‑se necessidades prementes, e os acampamentos de faiscadores da véspera foram subitamente assaltados por uma legião de burocratas portugueses. 109 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 História do Brasil Colônia Reduzir os moradores à obediência, ao sossego, à união era indispensável para que os trabalhos auríferos se fizessem com sucesso, possibilitando à Coroa a auferição de lucros maiores (SOUZA, 1986, p. 105). A forma central de a Coroa garantir a cobrança de impostos era o quinto (exigir o recolhimento de 20% de tudo que fosse extraído para a Metrópole). Não demorou para Portugal perceber que esse sistema poderia não atender a todos os seus desejos: o imposto era pago apenas pelo que era extraído, ou seja, não forçava os habitantes da região a terem que trabalhar o máximo possível. Em 1711, foi estabelecido o sistema de bateias (instrumento básico para a mineração de aluvião, tratava‑se da vasilha onde era adicionada água aos sedimentos dos rios para separar o ouro), que previa 10 oitavas por ano (cerca de 36 gramas). Começava‑se a cobrar per capita, ou seja, por cada um dos trabalhadores da região. Em 1735, a Coroa criou a capitação, que previa o pagamento da ação de cada escravo na mineração (cerca de 17 gramas). Claro que essa situação não era nada fácil aos pequenos mineradores: De fato, os mineiros foram massacrados pelos tributos enquanto houve ouro para extrair da terra. Desde a primeira adotada, todas as formas de arrecadação foram injustas; a de bateias onerava as lavras pobres com numerosos escravos e favorecia as ricas onde trabalhava um menor número de cativos: não incidia, portanto, sobre o produto, mas sobre a mão de obra. Mas foi a capitação que mais revoltas provocou. Nesse sistema, os mineiros cujos escravos tivessem sorte na mineração pagavam sobre cada escravo a mesma quantia que pagavam os mineiros cujos escravos pouco ou nada ganhavam, e que constituíam a maioria da população. Os negros, mulatos e mestiços livres que não possuíam escravos deveriam pagar a taxa sobre si mesmos. As lojas de comércio pagavam capitação mais elevada, e do imposto só ficavam isentas as crianças menores de quatorze anos e os escravos que trabalhassem para oficiais, ministros régios e eclesiásticos (SOUZA, 1986, p. 131). Uma forma de evitar o contrabando foi a criação de Casas de Fundição, onde os esforços para as suas implantaçõesjá iniciavam‑se em 1717 e perdurava em 1719. A perspectiva era a de proibir, completamente, a circulação do ouro em pó, facilmente utilizado para o contrabando. Foi nesse contexto que os escravos chegaram até mesmo a produzir os conhecidos “santos de pau oco” para armazenar o ouro em pó. Com a Casa de Fundição, o ouro seria numerado, receberia o selo da Coroa e o quinto já seria devidamente extraído. Como vimos, a implantação dessas casas foi o ápice para a revolta de Vila Rica em 1720. Após a repressão, contudo, entrariam em vigor apenas a partir de 1725. 110 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 Unidade II Figura 64 – O ouro devidamente em barras, já numerado, garantindo o pagamento do quinto para a Coroa Em 1713, a Coroa decidiu que o quinto deveria chegar, ao menos, a 30 arrobas por ano (uma quantia próxima de 450 kg por ano). Logo, contudo, as cotas foram sendo progressivamente aumentadas, paralelamente aos demais esforços metropolitanos já descritos, alcançando, em 1750, o valor de 100 arrobas por ano (uma quantia próxima de 1500 kg por ano) – era chamada finta. Esse foi o momento do auge da exploração. A partir daí, aos poucos, a exploração passou a viver ligeiros declínios até o processo ser bastante visível, na década de 1770. Para garantir a finta, a Coroa poderia utilizar as Câmaras Municipais para cobrar eventuais valores que complementassem o montante. Daí a possibilidade de surgir a derrama – a incidência sobre os bens pessoais dos moradores das Minas do que faltava para o pagamento dos impostos à Coroa. A derrama foi executada duas vezes: a primeira entre 1763 e 1764 e a segunda entre 1771 e 1772. Todo ano, em geral, faltavam algumas arrobas para chegar às 100 exigidas. O acumulado de uma década era um valor bastante considerável. Não é à toa, assim, que os colonos temiam o pagamento da derrama e a entendiam como absolutamente opressora. Por isso o imposto foi o estopim para o primeiro movimento pela independência na nossa história: a Inconfidência Mineira, de 1789. Outro ponto de grande importância de arrecadação para a Coroa foi a demarcação dos territórios com a existência de diamantes. O anúncio oficial surgiu a partir da carta do governador D. Lourenço de Almeida ao rei, em 22 de julho de 1729. Contudo, já se sabia da existência de diamantes no Serro Frio desde 1714, o que já atraía levas populacionais. Não foi à toa, então, que o rei, em carta régia de 1730, censurou o governador pela demora em relatar a notícia. Já em 1729 foram declaradas nulas todas as datas com ocorrência de diamantes. Em 1730, foi lançada uma capitação específica para a região, de 5 mil réis por escravo. Em 1731, a Coroa decidiu‑se pelo arrendamento restrito, com o fechamento das demais lavras. Em 1734, foi criada a Intendência dos Diamantes, que cuidaria da organização do Distrito Diamantino. A área demarcada era a região autorizada para a exploração de diamantes – que seria livre, desde que mantivesse o pagamento do quinto e da capitação específica. Contudo, logo em 1739, a Coroa passou a promover um sistema de contrato para tentar diminuir as possibilidades de contrabando. Esses contratadores, ao todo seis, rapidamente 111 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 História do Brasil Colônia enriqueceram, gerando uma grande confusão. Em 1772, a Coroa passou a adotar a Real Extração de Diamantes, para impedir completamente o contrabando – essa postura vigorou até 1832. Há de se ter em vista que: Disseminado por toda a colônia e especialmente dirigido, no século XVIII, para as Minas, foi entretanto no Distrito Diamantino que o Fisco mostrou sua face mais cruel e violenta. Demarcado e cercado a partir de 1734, o território diamantífero foi o exemplo mais vivo da violência alcançada pela máquina administrativa colonial, da iniquidade da sua justiça, da arbitrariedade de suas medidas (SOUZA, 1986, p. 135). Os abusos, as violências e explorações desenvolvidas no Distrito Diamantino eram muito grandes, já que uma pequena pedra era capaz de gerar fortunas enormes. Assim, não é sem razão que indivíduos de enorme cabedal arremataram os contratos e se enriqueceram com uma velocidade incrível. De qualquer maneira, as consequências da mineração foram de enorme importância para a América portuguesa. O eixo econômico deixou de ser o Nordeste e passou a ser o Centro‑sul. Nesse processo, uma enorme quantidade de pessoas foi para os sertões em busca de melhores perspectivas econômicas. Claro que nem todos, contudo, alcançaram o que o sonhavam: Os danados da terra, os desclassificados que morriam de fome numa terra onde tanta riqueza era gerada, foram o inimigo interno que cumpria enquadrar, normalizar, cercear. Quando a situação econômica piorava, quando os rendimentos do ouro e do diamante caíam, quando os mecanismos do poder se acirravam para tentar extrair mais lucro, as autoridades só enxergavam o lado oneroso de sua existência (SOUZA, 1986, p. 139‑140). Sua existência era real, mas o modo de vida absolutamente desumano: Moralmente mal, comendo pessimamente e vestindo pior ainda, os homens livres pobres viviam costeando a desclassificação, constantemente empurrados para ela pelo sistema econômico e pelas violentas superestruturas de poder. [...] Imbricavam‑se numa formação social cujos parâmetros básicos eram ditados pelo escravismo e mantinham com ela uma relação contraditória de incorporação e exclusão. Tomados frequentemente como elementos avulsos, desarticulados, os desclassificados realmente não deixaram de sê‑lo, tendo‑se em vista uma sociedade fortemente estratificada nos extremos (SOUZA, 1986, p. 147). Apesar dessa situação radicalmente difícil, a concentração de renda na mineração era razoavelmente menor que a do mundo açucareiro. Houve o incremento do mercado interno, muito em virtude da significativa urbanização promovida no interior do território. O povoamento do interior, de fato, já era bastante evidente e contribuiu, em grande medida, para Portugal pleitear as fronteiras muito maiores do que anteriormente proporcionadas pelo Tratado de Tordesilhas. 112 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 Unidade II Para melhorar a organização administrativa (fora os interesses militares envolvidos), a capital deixou de ser Salvador e passou a ser o Rio de Janeiro em 1763. A colônia definitivamente vivenciava um impacto gigantesco em diversas áreas. Isso também foi visto em sua vida cultural e intelectual. O barroco tardio, de uma beleza e riqueza de detalhes impressionantes, foi um dos mais importantes legados do período. No movimento se destacou sobretudo Antônio Francisco de Lisboa, o Aleijadinho. Também houve manifestações importantes na música, ou mesmo na literatura, como o Arcadismo da literatura mineira. Figura 65 – Uma das demonstrações da riqueza de detalhes do Barroco Tardio proporcionado pelo ouro: a obra Anjo Esvoaçante, de Francisco Vieira Servas Figura 66 – A arquitetura barroca mineira foi bastante significativa. Um dos seus melhores exemplos é o conjunto religioso do Santuário de Bom Jesus de Matozinhos. Repare na riqueza de detalhes da obra A economia portuguesa certamente havia saído de uma crise bastante significativa. Contudo, as relações com o ouro não foram completamente enriquecedoras para Portugal. Segundo uma das vertentes de interpretação portuguesa, o Tratado de Methuen, de 1703 – que estabelecia a entrada de manufaturados ingleses de panos de lã e demais lanifícios em Portugal, tendo como contrapartida a entrada de vinho português na Inglaterra com diminuição nos impostos alfandegários– teria 113 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 História do Brasil Colônia acabado com a possibilidade do desenvolvimento da manufatura têxtil em Portugal, que já estava se desenvolvendo principalmente com as medidas protecionistas do conde de Ericeira. Ainda como consequência desse acordo, consolidara‑se em Portugal sua dependência econômica frente aos ingleses também por trocar produtos manufaturados por produtos primários (que tinham um valor mais baixo). Essa dependência com relação aos ingleses teria sido o preço a pagar pela aliança estratégica visando à manutenção da soberania portuguesa. Ao mesmo tempo, teria gerado a drenagem do ouro brasileiro para as mãos dos ingleses, como forma de manter uma balança de comércio constantemente deficitária. Estava inaugurada, assim, a perspectiva da decadência de Portugal, ainda que com significativos lucros do ouro da América. Ao mesmo tempo, as novas condições, aliadas ao novo contexto internacional de propagação dos ideais iluministas e do exemplo revolucionário americano, promoveram, pela primeira vez, os ideais de emancipação a partir da Inconfidência Mineira. Certamente os tempos estavam mudando. Contudo, um último suspiro de medidas coloniais foi visto: o reformismo ilustrado. 6 o mundo Atlântico A importância de entender a formação do Brasil com os seus contatos com África e com o desenvolvimento das relações no Atlântico Sul é absolutamente central para uma visão completa das raízes culturais e sociais do nosso país. Esses contatos eram intensos. As idas e vindas promoveram uma cultura profundamente imbricada com as duas margens do Atlântico – daí a expressão, de Alberto da Costa e Silva (2004): “um rio chamado Atlântico”. Ao mesmo tempo, os estudos acerca dessa rica temática vêm se ampliando em nossa historiografia e, cada vez mais, formando um quadro extremamente interessante das complexas teias que estabeleciam as relações das mais variadas no Atlântico Sul. Essa é uma raiz central da nossa formação. A importância formou até mesmo leis que obrigam o ensino do “estudo da história da África e dos africanos, da luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, da cultura negra e indígena brasileira e do negro e do índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil” (BRASIL, 2008), como a Lei n° 11.645. Como apresenta Alberto da Costa e Silva: Preocupados com nós próprios, com o que fomos e somos, deixamos de confrontar o que tínhamos por herança da África com a África que ficara no outro lado do oceano, tão diversificada na geografia e no tempo. No entanto, a história da África – ou, melhor, das várias Áfricas –, antes e durante o período do tráfico negreiro, faz parte da história do Brasil. Quando esta começa? Com Cabral? Creio que com as migrações ameríndias, com os portugueses a partir de Afonso Henriques, e com os africanos, desde quando trabalhavam o ferro e o barro em Nok e disseminavam continente afora os idiomas a que chamamos bantos. Se, após 1500, não se pode estudar a evolução do Brasil sem considerar as mudanças na política portuguesa 114 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 Unidade II e o que se passava num império de que fazíamos parte e que se alongava de Macau a Lisboa, os quatro séculos de comércio de escravos ligam indissoluvelmente os acontecimentos africanos, sobretudo os da África Atlântica, à vida brasileira. Há toda uma história do Atlântico. Uma história de disputas comerciais e políticas, de desenvolvimento da navegação e de migrações consentidas e forçadas. Mas há também uma longa e importante história que se vai tornando, aos poucos, menos discreta. A dos africanos libertos e seus filhos, a dos mulatos, cafuzos, caboclos e brancos que foram ter ao continente africano, retornaram ao Brasil, voltaram à África ou se gastaram a flutuar entre as duas praias. (COSTA E SILVA, 2011, p. 236–237) A escravidão africana no Novo Mundo foi a maior migração forçada da história. Milhares de homens e mulheres foram separados de seu mundo, de suas relações sociais e econômicas para se tornarem mercadoria e propriedades na América. Explorados ao extremo, sua funcionalidade residia no lucro com o tráfico negreiro para a Metrópole dentro dos moldes do Antigo Sistema Colonial. Durante muito tempo, vários argumentos diferentes foram estabelecidos para a priorização do tráfico negreiro em detrimento do uso de nativos como escravos. Já se sugeriu, como alguns ainda reproduzem como ideia significativa, que os indígenas não estavam habituados ou eram menos capacitados para desempenhar as atividades que os negros já desenvolviam constantemente. Argumentou‑se mesmo que os indígenas fugiam mais facilmente porque conheciam o território. Esses argumentos são, por um lado, racistas. Isso porque acreditam que há raças mais adaptadas a determinadas funções e, ao mesmo tempo, desconsideram o uso do trabalho escravo indígena desenvolvido em São Paulo, como tão bem demonstrou John Manuel Monteiro (1994), onde o uso de cativos “negros da terra” foi bastante disseminado e entrava, constantemente, em choque com os jesuítas. O uso da mão de obra escrava indígena ainda foi capaz de trazer distinções para a formação de uma elite local, que se gabava de ser senhora de homens. Por outro lado, esse tipo de análise ainda desconsidera a capacidade dos negros de resistirem à escravidão. Ainda que em um território completamente novo, eles tenham resistido de diversas formas e estabelecido relações sociais e reproduzido suas perspectivas, sonhos e liberdades. lembrete Não se deve esquecer que os estudos recentes entendem claramente que o lucro com o tráfico negreiro foi o fator central para o uso de escravos negros na América, pois atendia aos interesses metropolitanos, dentro dos moldes do capitalismo mercantil. Há de ser ter em vista, portanto, que o mundo do Atlântico foi um lugar onde, ainda que os interesses econômicos do capitalismo mercantil ditassem as regras centrais, havia espaço para um amplo aspecto 115 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 História do Brasil Colônia de relações que demonstraram, claramente, que todos os povos desempenhavam um papel ativo e significativo, uma das raízes centrais de nossa formação – uma cultura nacional de elementos diversos. Isso não é, em absoluto, desconsiderar os elementos de dominação e de subordinação que, em certa medida, ainda geram problemáticas gigantescas no Brasil contemporâneo, mas sim entender que, no seio dos laços da escravidão, os negros foram capazes de desenvolver um universo de contato e de formação de cultura que até hoje forma o nosso povo. Exemplo de aplicação Você consegue citar exemplos de áreas nas quais, em virtude da presença da escravidão, o negro ainda sofra em nossa sociedade? Após a abolição, procurou‑se apagar a escravidão e os traficantes. Ao mesmo tempo, as ações governamentais buscavam acabar com os elementos culturais e documentais existentes – houve a formação de uma política de perseguição policial às seitas na Bahia e a Lei de 13 de maio de 1891, que queimou os documentos da escravidão. Ainda que estejamos longe de discutir toda a historiografia acerca da importância dos estudos afros no Brasil, há de se destacar o trabalho de Russel‑Wood (2001), que apresentou um objetivo claro: introduzir uma história afro‑americana sob o prisma africano, ou seja, que enfatizasse a aculturação do africano e, assim, também observasse o seu desejo em se manter africano. Enfim, uma história na qual osafricanos fossem vistos de forma singular, na qual se retirassem as generalizações e se observassem os indivíduos, além de serem escravos. Assim, o autor, para defender sua proposta, parte para considerações das regiões que forneceram escravos para o Brasil colonial. Com isso, dividiu o continente em África Ocidental, África Centro‑ocidental e África Oriental, fazendo um apanhado das diferenças étnicas, culturais e religiosas existentes, além de suas economias, relações comerciais, variadas fontes de poder, ou mesmo da diferenciação entre a escravidão corrente na África da praticada na América. Suas conclusões foram que os africanos desenvolviam uma alta criatividade aliada à inventabilidade, além de flexibilidade e capacidade de absorção. Russell‑Wood (2001) explicou ainda que seu apanhado histórico consistia em demonstrar que as pessoas nascidas na África chegaram ao Brasil com princípios culturais e comportamentos africanos. Assim, respaldando‑se na historiografia recente sobre o tema, o autor propôs uma série de linhas de pesquisa que dialogam com sua sugestão de um novo prisma. Esse prisma africano para a história do Brasil colonial aborda a questão de sobre o que os africanos resolveram lutar por manter suas vidas e do que aceitaram se desfazer. Aborda também o fato de que é preciso observar que houve africanos que decidiram simplesmente se manter africanos, ainda que em um território completamente novo. Nesse sentido, a obra de Russell‑Wood é muito importante porque, se pensarmos nas ideias que a historiografia pioneira brasileira trazia da sociabilização dos africanos no Brasil, tem‑se uma clara impressão de que os africanos não “existiam” antes de chegar ao Brasil. Não existiam no sentido de terem seus próprios costumes, hábitos, crenças, valores etc. Obviamente, mesmo se tornando cativos, este conjunto cultural permaneceu presente na vida do africano. E, por isso, foram criadas, 116 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 Unidade II pelos próprios africanos, a partir de instituições já vigentes, formas de manter a socialização entre eles. Deste modo, conservou‑se a cultura africana pois, apesar de alguns valores serem incorporados por alguns, outros resolveram se manter africanos, mesmo sendo obrigados a viver no continente americano. Tanto é que alguns, ao conseguirem sua liberdade e também meios, resolveram então voltar para a África. Portanto, o prisma africano para a história do Brasil colonial proposto por Russel‑Wood foi fundamental no estudo do nosso passado porque se refere a uma grande parcela da população cujos costumes não eram “esquecidos” ou mesmo diluídos com a chegada ao Brasil. Como a historiografia recente tem demonstrado, essas pessoas mantinham sua cultura viva e praticavam seus costumes. Assim, para conhecê‑los, é indispensável o estudo do continente africano. Uma ampla gama de análises poderia ser desenvolvida para demonstrar como o estudo da África é extremamente significativo para compreender as relações que se formaram em nosso país. Vamos a seguir apontar as relações básicas da África centro‑ocidental entre os séculos XV–XVII e, depois, as dinâmicas da escravidão e as formas de resistência. As bases de nosso estudo serão as obras de Alberto da Costa e Silva (2002) e Luiz Felipe de Alencastro (2000). Em termos gerais, os povos originários da África centro‑ocidental são os bantos‑ngangas. Ao longo dos séculos XV, XVI e XVII, havia diversos pequenos Estados na região, cujas sociedades eram fundamentadas em seus laços familiares. Existiam também Estados de grandes proporções, como o Congo, e que serão analisados detalhadamente a partir do século XV, principalmente após a chegada dos portugueses. Essa região foi diretamente afetada em suas diversas relações sociais, políticas, culturais e comerciais pela chega dos europeus. A organização política no reino do Congo perpassava a tensão existente entre chefe político e chefes de família. As sucessões reais eram muito complicadas devido a alguns aristocratas, ao se considerarem legítimos, tentarem dominar o trono. Como assinala Alberto da Costa e Silva (2002, p. 433), havia uma espécie de “regra” em que a estirpe real só se casasse com escravas “a fim de impedir que seus filhos pertencessem por parte materna a outras linhagens e de assegurar que estavam acima das rivalidades entre elas”. Na sua generalidade, essa tensão e a busca por manter essa “regra” (que nem sempre ocorreu) foi a tônica da organização política dos reinos na África Centro‑ocidental. Os portugueses chegaram à costa da região em 1483, com Diogo Cão. A região do Cabo Verde foi a base para ação na Senegâmbia. Já a Ilha de São Tomé, além de ser “laboratório” para a produção de cana, que posteriormente se desenvolveu no nordeste da América portuguesa, foi a grande base da atuação portuguesa na África Central. Inicialmente, os portugueses deixaram alguns dos seus para conhecerem a cultura e, posteriormente, serem os tradutores para as trocas comerciais – eles ficaram conhecidos como “lançados”. Muitos desses homens eram portugueses degredados por serem considerados cristãos‑novos. Todavia, ao longo dos anos, os lançados assumiram uma postura de autonomia, não reconhecendo a autoridade reinol nem nenhuma das locais. Enfim, traçaram objetivos próprios. Com isso, diversas tensões ocorreram, pois muitas vezes foram eles que acabaram fazendo a intermediação do comércio na região, porém sempre na defesa de seus interesses. 117 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 História do Brasil Colônia Os objetivos portugueses eram, como vimos, encontrar o reino de Preste João, desenvolver a função missionária de levar o cristianismo e, sobretudo, o promover o comércio (fundamental para o entendimento das relações entre europeus e africanos). lembrete O reino de Preste João, segundo crença portuguesa antiga, seria um lendário reino cristão que poderia ter sua localização no interior africano. As expedições tinham por estratégia a conversão dos reis. No Congo, o rei aceitou o cristianismo, criando o primeiro reino cristão no interior da África. As explicações do porquê dessa decisão são diversas. Uma delas diz que a conversão se deveria à ideia de que o branco era um enviado do “além”, pois o morto era visto como branco entre os africanos. Os europeus seriam, assim, uma espécie de mensageiros do sobrenatural. Diversas foram as relações entre Portugal e o reino do Congo. Uma das motivações portuguesas para as viagens constantes à região foi o tráfico de escravos. Soma‑se a isso o interesse pela prata. A política inicial utilizada pelos portugueses para relacionar‑se com o reino do Congo foi baseada na aliança, catequese e evangelização. A primeira experiência portuguesa de colonização propriamente dita na África foi a ocupação de Luanda em 1575. Nesse local, os brancos eram vistos como maléficos e, por isso, foram impedidos de adentrar no território (havia muita resistência). Existiram tentativas de implantar pequenos núcleos de colonização que foram chamados de “presídios”. Na região já fora criada, em 1571, a Capitania e Governança de Angola, com base no sistema de capitanias hereditárias, nos moldes da América, tendo como donatário Paulo Dias de Novais. O governador, ajudado pelos jesuítas, que viam a possibilidade de evangelização dos africanos somente depois que eles fossem dominados militarmente, procurava interessar a Coroa na conquista do interior. Talvez o início dos embates tenha se dado após algum dos lançados ou de seus descendentes terem trazido ao angola, rei do Dongo, o projeto português de conquista. Em 1579, iniciou‑se uma longa guerra. Os povos inimigosdo angola uniam‑se aos portugueses quando estes iam bem; quando não iam, contudo, o exército português era abandonado por seus aliados. Na verdade, a conquista era muito complicada: as tentativas de agricultura davam poucos resultados, a catequese só funcionava nos estabelecimentos portugueses, os gastos militares superavam as receitas obtidas. Buscam‑se, por isso, novas fontes: a prata e o sal convenceram D. Sebastião a autorizar a empreitada. O principal motivo para a conquista do interior era, nas palavras de Alberto da Costa e Silva (2002, p. 413), “a miragem da prata”. Segundo o autor, para o tráfico de escravos, não era necessário semelhante empreitada, mas apenas “encostar um barco ou instalar uma feitoria” e os comerciantes locais e os lançados os trariam em bom número. Porém as minas exigiam o controle da região em que se dizia estarem. 118 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 Unidade II Ao longo do período da guerra, o capitão donatário Novais resolveu utilizar‑se do sistema nativo que aprendera no reino do Congo denominado de “amo” (alguém responsável por unir a comunidade com o forasteiro). Aceito pelos nativos, de quem já era conhecido, o capitão tornou‑se, todavia, muito diferente: a exploração era notória. A ânsia portuguesa eram os escravos. Muitos nativos, a fim de pagarem o tributo ao seu “amo”, sequestravam alguém ou criavam intrigas, causando insegurança e enfraquecimento das comunidades. Em 1591, o rei português resolveu acabar com a capitania hereditária colocando Angola sob um governador‑geral. Quando finalmente chegou‑se ao local em que se dizia haver as supostas minas de prata, descobriu‑se que, na verdade, o que havia era chumbo. Enfim, a relação dos portugueses em Angola, desde a segunda metade do século XV até o penúltimo quarto do século XVII, constitui‑se em um processo de tentativa de conquista com avanço e retrocesso tendo como base a guerra. Nos momentos em que havia paz, havia comércio. Os comerciantes iam ao interior nas chamadas feiras, a seguir levavam os produtos para o litoral, onde mercadores de grosso trato, geralmente brasileiros, preparavam os navios e compravam as mercadorias: principalmente escravos (a África central foi a região mais atingida pela escravidão). Figura 67 – Os povos de origem banto foram centrais na escravidão promovida no Novo Mundo. Além destes, havia ainda os sudaneses, provenientes da região da Guiné Além de escravos, o porto de Luanda comercializava também, embora em menor escala, marfim, cobre e cera. Da região provinha o zimbo, moeda de troca mercantil em toda a África Central, monopolizada pelo rei do Congo. A Bahia também possuía zimbo, que era exportado para Angola através de contrabando. Outro produto também utilizado como moeda e comercializado na região era o sal. Panos eram trazidos pelos portugueses do Congo para Luanda, onde também serviam como moeda. A mandioca proveniente da América portuguesa era importante comércio que alimentava os navios para o tráfico e o período pré‑embarque. Ao longo dos anos, passou‑se a cultivar o produto nos arredores de Angola, como demonstrou Alencastro (2000, p. 251–259). 119 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 História do Brasil Colônia Ao angola interessava toda essa rede comercial. Deles recebia tributos e taxas, e ainda consolidava seu poder e prestígio. Porém, criava regras que nem sempre agradavam aos mercadores portugueses, como restrições ao livre trânsito dos produtos e penas aos infratores (que iam desde o confisco da mercadoria até a pena de morte aos mais insubordinados). Em certos momentos, essa situação gerava guerras. Todavia, o trato mercantil e a expansão relativa dos portugueses no interior do território (pequena, porém existente) adentravam na região de influência e suserania do rei do Congo – o que causava desentendimentos. Além disso, havia ainda disputas internas pela ambição pela posição de manicongo (rei do Congo). As províncias cresciam através do comércio com os portugueses e lutavam contra o centro. Na verdade, o cristianismo, ao misturar‑se com a religião tradicional da região, além do crescente tráfico de escravos, trazendo a possibilidade da escravidão, promovia um clima de insegurança no reino do Congo. O poder dos grandes, como assinala Alberto da Costa e Silva (2002, p. 435), “dependia dos caprichos do comércio”. Porém boa parte dele já estava nas mãos dos portugueses, já enraizados no reino congolês. Assim, “o reino do Congo tinha Portugal dentro dele. Como uma espécie de doença” (ibidem, p. 435). Na verdade, o projeto anterior fora mudado: o que interessava então era somente o comércio. O reino do Congo perdia para os portugueses os tributos que lhes eram dados pelo trato mercantil, além disso, reinos que antes lhes eram vassalos haviam deixado de sê‑lo. Isso ocorreu com os reinos dembos (um destes era o Ambuíla) e também com o Matamba. Interessante situação vivia este último reino. O governo estava nas mãos de Jinga, que também era a senhora do poder do Dongo (ou seja, a angola). Jinga tornou‑se socialmente homem para assumir o trono: considerava‑se rei, tinha um harém de homens vestidos de mulheres, e ia à frente nas batalhas como um verdadeiro soldado, legitimando, com isso, seu poder. Diversos foram os embates de Jinga com os portugueses, porém eles não conseguiram dominá‑la, pelo contrário, ela se tornara detentora de um amplo território e também de uma boa parte do tráfico de escravos. Em 1641, quando os portugueses perceberam que não deviam manter um estado de guerra com Jinga, Luanda foi dominada pelos holandeses. A riqueza que Portugal obteve através do comércio na região suscitava a cobiça dos rivais europeus, como os holandeses, franceses e espanhóis (antes e depois da União Ibérica). Os holandeses, em sua guerra de independência contra os Habsburgos, detentores da Coroa espanhola, no período da União Ibérica, consideravam o reino português como um ponto fraco, mas de grande importância, de seus inimigos. Conseguiram, assim, de 1641 até 1649, dominar Luanda. A reconquista deste importante entreposto se deu, fundamentalmente, pelos brasileiros, como demonstrou Luis Felipe de Alencastro (2000, p. 266–271). Isso porque os brasileiros viam a necessidade de terem a região em seu controle para atenderem a demanda de escravos da lavoura canavieira no nordeste da América portuguesa. Por fim, vale destacar a batalha que marcou o fim da penetração portuguesa e o apogeu do reino do Congo: a batalha de Ambuíla, de 1665. A justificativa portuguesa era, segundo sua própria documentação, como demonstrou Luis Felipe de Alencastro (2000), a negação do caráter cristão do rei do Congo, além do desejo do governador de Angola de adquirir escravos e controlar o tráfico conquistando o reino do Congo. Os congoleses eram superiores numericamente, todavia, as tropas do reino português, ao utilizarem armas e técnicas brasílicas, acabaram conseguindo a vitória. 120 Re vi sã o: G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 19 /0 8/ 20 14 Unidade II Há de se destacar, portanto, como foi importante a influência portuguesa na região da África centro‑ocidental. “Projetos” diferentes apareceram: com o reino do Congo se fez aliança para colaboração e comércio, além da justificação em torno da propagação do cristianismo. Com Angola, por outro lado, objetivou‑se a conquista desde o início. Por isso, nos referimos a “projetos”: os portugueses não tinham algo definido como estratégia para obter o máximo de proveito da região. Houve, assim, tentativas e mudanças. Como buscamos demonstrar, à medida que o Congo interferia nos interesses portugueses
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