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História do Brasil Colônia Unid II

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Unidade II
Unidade II
5 A interiorizAção dA colonizAção
A figura de época dos portugueses na América eram caranguejos, pois eles se mantiveram apenas 
no litoral ao longo do século XVI e início do XVII. Na prática, dois processos distintos, mas de grande 
importância, permitiram a ultrapassagem dos limites de Tordesilhas e o avanço para o sertão do território: 
a pecuária e as expedições dos bandeirantes.
As primeiras cabeças de gado chegaram com os portugueses. Além de fantástica fonte de 
alimentação, o gado era utilizado como força de tração – principalmente a partir da montagem dos 
engenhos nordestinos. Ao mesmo tempo, servia de transporte, sobretudo para a carga e descarga de 
grandes cabedais. Outra perspectiva crescente foi o uso de seu couro.
Figura 51 – A expansão do gado. Nota‑se que tinha relação direta com o 
açúcar no Nordeste e era de enorme importância para possibilitar o 
desenvolvimento do produto‑chave na economia colonial
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História do Brasil Colônia
O gado era criado em áreas de pasto natural e de maneira bastante extensiva. Apenas na metade 
do século XIX é que começou, no Brasil, a perspectiva de se cercarem os animais e promover uma 
produção mais intensiva. Um dos problemas centrais da produção livre era a qualidade do capim, que 
nem sempre era bastante nutritivo. Além disso, a ausência de limites, por vezes, acarretou a invasão de 
plantações canavieiras (apetitosas para os animais). Essa questão gerou reclamações ao rei, que acabou 
determinando que o gado deveria ser direcionado a 10 léguas (cerca de 66 km) depois da costa. A partir 
de então essa produção se tornou setentrional e de enorme importância para desbravar o interior. Outra 
perspectiva, mais adiante, foi a invasão holandesa, que gerou a necessidade de os criadores irem mais 
para o interior para não caírem nas mãos dos estrangeiros.
Há de se ter em vista, contudo, que a criação do gado respeitava certos limites. Precisava de fontes 
de água, tanto para os animais como para os trabalhadores, além de o gado precisar de fontes de sal 
próximas. Para essa última necessidade, eram procurados locais no chão (chamados de lambedores). 
E, uma vez que o sal era um produto caro, havia espaços específicos para sua produção. No Nordeste, 
particularmente, existiam locais com essas características no Agreste.
Uma das primeiras regiões a promover o desenvolvimento do gado e marcha para o interior foi 
o Vale do Rio São Francisco, também conhecido como Rio dos Currais. Ali eram satisfeitas todas as 
necessidades dos animais – além disso, havia a vantagem de a localidade estar perto dos centros do 
açúcar. A mais importante feira para a comercialização do gado, nas primeiras décadas da produção, era 
Capoame, que depois foi substituída por feira de Santana.
A criação de gado era basicamente voltada para carne, embora também fosse utilizado seu couro, 
com a exceção dos engenhos, onde os animais eram usados como força motriz. Em algumas regiões, 
eram feitas carnes‑secas – marca registrada do Ceará (onde havia uma famosa feira de comercialização 
desse produto, chamada de Aracati). Somente em meados do século XVIII é que o charque gaúcho foi 
ganhando destaque e passou a competir nesse mercado.
A atividade era promovida por grandes propriedades, com áreas imensas, mas que nem sempre 
tinham grande representatividade, devido à falta de água e de sal. Seu desenvolvimento podia se dar 
ainda a partir das sesmarias ou de arrendamentos por meio do pagamento de uma quantia, chamada de 
foros (uma espécie de aluguel). Havia ainda áreas individuais, terras que eram exploradas por sitiantes 
de alimento e que complementavam sua renda com o gado. Eram muito comuns no Nordeste.
Áreas malhadas eram públicas, nelas se deixava o gado pousar – geralmente depois de longas 
viagens. No Sul, essas áreas eram conhecidas como invernadas. Elas eram muito utilizadas nos caminhos 
das feiras para a comercialização do gado.
A produção dos bovinos se concentrou, em termos gerais, em abastecer as mais diversas atividades 
promovidas na colônia. De início, suas relações estavam imbricadas com o açúcar. Mas daí o Vale do 
São Francisco ter sido tão importante. Somou‑se a ele parte do Sertão nordestino (a produção chegou 
a atingir regiões do Maranhão e do Piauí). A caracterização da região era dada pelas áreas bastante 
extensas e pelo uso da mão de obra livre.
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Figura 52 – A expansão da pecuária ao longo dos séculos XVI–XVIII
Com a propagação do ouro no centro‑sul, uma ampla dinâmica se estabeleceu. Nesse sentido, 
aos poucos, o sul de Minas Gerais passou a criar gado com o uso de mão de obra escrava. E assim 
também foi com os Campos Gerais, entre São Paulo e Paraná. A mão de obra preponderante era livre 
e estava bastante ligada à figura dos tropeiros paulistas. Por fim, também o Rio Grande do Sul passou 
a desenvolver o gado com mão de obra livre, desenvolvimento esse que logo se capitalizou e passou a 
adotar a mão de obra escrava.
A historiografia tradicional entendia que não havia mão de obra escrava africana no trabalho da 
pecuária pela falta de capital. Assim, restava aos indígenas o trabalho nessa atividade, por gostarem 
da liberdade. Acreditava‑se que, a partir do contato mais setentrional, os nativos eram encontrados e 
incorporados ao ofício. Nos dias de hoje a historiografia nega que o indígena seja culturalmente afeito 
à pecuária. Na prática, contudo, grande parte dessa população foi dizimada.
Cada área da pecuária adaptou o uso de sua mão de obra. No geral, pode‑se dizer que o trabalho 
central foi feito pelo escravo africano e administrado por trabalhadores livres, que, eventualmente, 
podiam contratar alguns peões livres. Os pagamentos pelos serviços eram feitos em cabeças de gado e/
ou em pequenas porcentagens dos bezerros nascidos.
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O circuito mercantil do gado era grande e se estabelecia em franca expansão ao longo dos séculos 
XVII–XIX. Havia longas rotas que culminavam nas famosas feiras de gado. Nelas, intermediários, 
chamados de marchantes, compravam o gado e o revendiam nos grandes centros urbanos. Eram eles 
que ficavam com a maior parte do lucro.
Exemplo de aplicação
A pecuária é uma atividade subsidiária que tomou enorme vulto ao longo de nossa história. Muitas 
regiões atualmente estão diretamente relacionadas à produção do gado. Você consegue relacioná‑la à 
sua região? Quais são os locais centrais que abastecem sua cidade?
Outras ações bastante significativas foram as expedições para o interior. Um dos motivos centrais e 
constantes foi o sonho do ouro. Em meados do século XVI, os portugueses já tinham notícias das imensas 
quantidades encontradas na América espanhola e criam que Deus não abandonaria Portugal. Há de se 
ter em vista que foi descoberto ouro em alguns locais, como em Iguape, mas todos os achados eram 
muito pequenos – eram muito mais “sinais de ouro”, incapazes de trazer uma alteração substancial, mas 
que mantinham vivo o sonho.
Em geral, as expedições são tradicionalmente divididas em dois grupos: as promovidas pela Coroa e 
que respeitavam os limites territoriais desenvolvidos pelo Tratado de Tordesilhas eram as entradas; já as 
bandeiras, por sua vez, eram realizadas por particulares e não respeitavam a linha de Tordesilhas.
As entradas foram utilizadas para combater estrangeiros,como os franceses na França Antártica, 
ou mesmo a expansão territorial orientada pela Metrópole durante a União Ibérica, que tinha como 
uma das perspectivas centrais ocupar os territórios de maneira a impedir qualquer outra invasão (o 
que, na prática, como vimos, não deu certo, por causa da invasão holandesa). Uma das atuações mais 
importantes foi a perspectiva da colonização até o Rio da Prata – isso gerou a fundação da Colônia do 
Sacramento, em 1680, feita por Manuel Lobo.
As relações econômicas no sul se fortaleceram, em grande medida, com a União Ibérica (1580–
1640) e a consequente anulação de Tordesilhas. Tudo promovia as relações com os vecinos, como eram 
mencionados em Buenos Aires. Como explica Rodrigo Ceballos:
A constituição de redes de cumplicidades no porto, permitida em grande 
medida pelas inserções lusitanas, foi o que financiou o próprio aparelho 
administrativo e militar da Coroa garantindo sua estabilidade e os direitos 
dos vecinos. A prática da extralegalidade, a fina cortina composta pelas 
(in)formalidades do Império, permitiu o fortalecimento da Coroa e da 
própria elite. Este pacto, constituído pelas ações cotidianas e o aval 
real, nos possibilita entender a consolidação dos grupos dominantes 
da região, assim como a permissividade da presença portuguesa. Isto 
não significou a ausência de conflitos ou de proibições régias, mas a 
contínua possibilidade de novas formações de redes de poder e exercícios 
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de autoridade. Foi nesta malha, permitida pela dinâmica do pacto entre 
“centro” e “periferias”, que os portugueses souberam atuar e negociar 
para bem conservar (CEBALLOS, 2009, p. 483).
Assim, é preciso ter em vista que, entre as determinações reais e as práticas do cotidiano, muitos aspectos 
eram reestabelecidos. Isso não acabava com a força do poder central, mas trazia, na realidade, as ações das 
áreas mais distantes e de seus interesses. É nesse sentido que podemos, portanto, perceber uma imbricada 
relação, na região sulina, entre portugueses e espanhóis, que promoveu consequências e interesses dos mais 
variados, inclusive a ponto de se relacionar a construção dos Estados nacionais, ou mesmo depois, às disputas 
de interesses que culminaria no maior conflito da América do Sul: a guerra do Paraguai.
Figura 53 – A localização da Colônia do Sacramento demonstra a perspectiva 
do contato comercial com os espanhóis e a importância estratégica relacionada à bacia do Prata
Dentre as entradas mais famosas, podemos destacar:
•	 a	de	Américo	Vespúcio,	de	1503–1504,	por	ter	sido	a	pioneira,	na	região	de	Cabo	Frio;
•	 a	de	Martim	Afonso	de	Sousa,	em	1531,	no	Rio	de	Janeiro;
•	 a	entrada	de	Belchior	Dias	Moreia,	em	1595,	no	Sertão,	alcançando	a	Chapada	Diamantina	e	o	São	
Francisco. Belchior teria lá permanecido por oito anos, o que gerou lendas de que teria achado 
minas de prata.
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As ações mais famosas, de qualquer forma, foram as dos bandeirantes. Em grande medida, 
esses homens se aproveitavam das trilhas indígenas e do modo de vida dos nativos (como o 
hábito de dormir em rede e a alimentação na floresta) para sobreviver no interior. Muitas vezes, 
os bandeirantes deixavam roças pelo caminho para poderem encontrar comida fresca na volta. 
É claro, contudo, que, para que todo esse aparato fosse possível, vários indígenas e mamelucos 
participavam das expedições.
As atuações dos bandeirantes no interior, nas áreas do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás e Mato 
Grosso encontraram a facilidade dos rios Tietê, Paraíba e Ribeira como forma de garantir o caminho e a 
provisão para as áreas em expansão. Esse tipo de atuação ficou conhecido como monções.
Figura 54	–	O	quadro	“A	partida	da	Monção”,	criado	por	Almeida	Júnior	(1850–1899)
Uma das perspectivas centrais dos bandeirantes, no entanto, era a caça ao índio – o que ficou 
conhecido como preação. O uso da mão de obra indígena foi bastante significativo no planalto paulista. 
Ao contrário da região do Nordeste açucareiro, faltava capital para a compra do cativo africano. Assim, 
eram utilizados os chamados “negros da terra”.
Há de se ter em vista que, ao contrário do que apontou a historiografia tradicional, essas ações não 
estavam ligadas a crises de mão de obra escrava africana no açúcar. Constituíam, ao contrário, a base de 
uma	mercantilização	do	sul,	ainda	que	incipiente.	Como	explica	John	Manuel	Monteiro:
Representando o auge do apresamento de cativos guaranis, o surto 
bandeirante de 1628–1641 relacionava‑se muito mais ao desenvolvimento 
da economia do planalto do que – como a maioria dos historiadores paulistas 
tem colocado – à demanda por escravos no litoral açucareiro. Sem dúvida, 
alguns – talvez muitos – cativos tomados pelos paulistas chegaram a ser 
vendidos em outras capitanias. Mas este comércio restrito não explica nem 
a lógica nem a escala do empreendimento bandeirante. As evidências fazem 
crer que o abastecimento dos engenhos foi um aspecto conscientemente 
distorcido pelos jesuítas da época, justamente porque fornecia elementos 
substantivos para seu pleito contra os paulistas (MONTEIRO, 1994, p. 76–77).
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Essa foi umas das questões centrais do bandeirantismo paulista: caçar os nativos, o que muitas vezes fazia 
com que atacassem os aldeamentos (ou reduções) jesuíticas. A disputa entre esses dois grupos foi constante. 
Houve três momentos de leis contra a escravidão indígena – 1609, 1680 e 1755. Apenas neste último ano, 
entretanto, o cativeiro foi definitivamente abolido. Até 1755, havia uma brecha bastante importante na lei: 
a chamada “guerra justa”. O índio que não era pacífico poderia ser escravizado. A proibição, até então, era da 
escravidão do “índio amigo”. O rei também poderia declarar a “guerra justa” no caso de o índio:
•	 se	recusar	à	conversão	ou	ao	aldeamento;
•	 agir	impedindo	a	conversão	através	de	propaganda	contrária;
•	 impedir	a	passagem	pelo	território;
•	 assassinar	um	jesuíta	acidentalmente;
•	 promover	atos	hostis	de	qualquer	natureza	contra	um	súdito	português	–	o	que	muitas	vezes	
ocorria como reação à invasão de terras realizada pelos europeus;
•	 quebrar	qualquer	pacto	ou	tratado	com	os	portugueses;
•	 não	salvar	algum	europeu	que	pudesse	ser	devorado	em	um	ritual	antropofágico.
Muitas vezes, os colonos procuraram mascarar ou ignorar a lei, ou até mesmo explorar algumas de 
suas brechas, a fim de garantir seus interesses. Essa foi uma prática bastante comum principalmente em 
locais onde os recursos eram escassos para a compra do escravo negro.
Figura 55 – A representação do aprisionamento dos indígenas no interior
No início do século XVII, propagaram‑se os ataques aos aldeamentos jesuítas. Entre 1612 e 1628, 
o bandeirante paulista chamado Manuel Preto passou a atacar, por diversas vezes, o aldeamento dos 
jesuítas na região de Guairá. Em 1629, passaram a ser vistas as expedições de Raposo Tavares. Seus 
ataques foram tão fortes que acabaram fazendo com que as missões se dispersassem para outros locais, 
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como o Rio Grande do Sul e o Mato Grosso – mesmo ali, esses redutos não sobreviveram por muito 
tempo. Raposo Tavares chegou, até mesmo, a atacar missões em territórios espanhóis, no contexto da 
União Ibérica, o que foi bem visto pela Coroa, que começava a desconfiar da força dos jesuítascomo 
um poder paralelo. Um dos elementos que comprova essa desconfiança foi o pedido de ajuda para 
Assunção, que simplesmente não recebeu uma resposta em ações.
Figura 56 – Os ataques empregados pelos bandeirantes às aldeias jesuítas geravam 
grandes aprisionamentos e décadas de litígios com os religiosos, além de desbravarem, 
para os brancos, um enorme território
Claro que nem todos os grupos indígenas aceitaram a situação dos ataques e se submeteram a esperar 
pelo pior. Alguns deles compreenderam o contexto de guerra pela sobrevivência que viviam e passaram a 
lutar pela liberdade. Os dois mais famosos foram os paiaguás e os bacurus. Os primeiros eram temidos por 
atacarem expedições e chegaram a matar o ouvidor‑mor. Eles eram extremamente famosos por suas ações 
na	água.	Já	os	segundos	atacavam,	sobretudo,	em	terra	e	impediam	expedições	para	o	Cuiabá.
 Saiba mais
Um ótimo filme acerca das relações entre os colonos, os nativos, os 
aldeamentos e os jesuítas é:
A	missão.	Dir.	Roland	Joffé.	Reino	Unido:	Warner	Bros.,	1986.	124	minutos.
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O fato é que os bandeirantes, entre suas idas e vindas para o sertão, acabaram encontrando o 
sonhado ouro entre o final do século XVII e o início do século XVIII. De alguma maneira, a notícia chegou 
aos ouvidos da Coroa e a estrutura colonial passou a superar um importante quadro de crise.
Os bandeirantes, na historiografia tradicional paulista, foram celebrados como grandes desbravadores 
do Brasil, responsáveis pela grandeza de nosso território. Essa imagem altamente idealizada e já bastante 
ultrapassada na historiografia impedia a compreensão exata desses homens como “filhos do seu tempo”, 
ou seja, que procuravam seus interesses e perspectivas econômicas (o que em nada tem a ver com a 
imagem de herói).
Um outro foco de expansão territorial muito menos comentado foi a região amazônica. Na prática, 
não há muitas fontes a respeito do tema. Na historiografia tradicional, a expansão territorial para essa 
região era vista apenas como uma necessidade de demonstrar a dimensão continental da nação que 
se pretendia inventar. No entanto, é inegável que a região ganhou significativa importância a partir 
da expulsão dos franceses no Maranhão. Logo a seguir, foi criado o Estado do Maranhã (criado em 
1621, mas instalado só em 1626). A região incluía as Capitanias Reais do Ceará, Maranhão, Grão‑Pará e 
Gurupá; além das Capitanias hereditárias de Cumá, Caeté, Cametá, Marajó, Cabo Norte e Xingu.
Por problemas políticos em torno das disputas de portugueses com espanhóis, o Estado do Maranhão 
foi extinto em 1651. Mas já em 1654, foi recriado como Estado do Maranhão e Grão‑Pará. Em 1656, a 
Capitania do Ceará foi transferida para o Estado do Brasil.
A região Norte, na prática, trazia o atrativo das drogas do Sertão, o que, inclusive, atraiu expedições 
de bandeirantes. A mais famosa foi a de Raposo Tavares, que durou de 1648 até 1651 e percorreu 
Paraguai, Andes, Mamoré, Madeira, Amazonas e Belém. Essa expedição, além da obtenção de produtos 
diversos, garantiu as fronteiras dos rios e de um importante saber para os portugueses pleitearem o 
território nas disputas com os espanhóis.
Também foi significativa, nesse mesmo sentido, a chegada da Igreja em diversas frentes. Em 1627, 
chegaram os carmelitas no Maranhão, onde se dirigiram para o Rio Negro, Rio Branco e Solimões. Em 
1636, foi a vez dos franciscanos, também no Maranhão, espalhados pelo Cabo Norte, Marajó e pelos 
afluentes ao norte do Rio Amazonas. Em 1652, os jesuítas passaram a promover missões no Grão‑Pará, 
em Tocantins, no Xingu, em Tapajós e no Madeira. Todos eles foram utilizados para justificar o domínio 
português, em torno do projeto da catequização dos milhares de indígenas existentes na região. Por fim, 
em 1673 os portugueses decidiram que Belém seria a capital desse Estado e uma série de fortes foram 
construídos visando garantir a defesa contra um suposto projeto espanhol de escoar a prata dos Andes 
pelo Rio Amazonas para se livrar dos piratas e corsários do Caribe. Contudo, a Espanha, assolada pelos 
conflitos no continente europeu, preferiu focar seus esforços na região Sul.
5.1 A crise portuguesa do século XVii e as primeiras revoltas na colônia
As ações dos holandeses na América portuguesa abalariam profundamente as relações 
econômicas do açúcar para Portugal. A competição das Antilhas fez com que os recursos, aos 
poucos, ficassem escassos, já que o monopólio de produção português desapareceu. O capital já 
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não era mais o mesmo. Seus grandes mercados, sobretudo franceses e ingleses, passaram a comprar 
açúcar das suas próprias colônias do Caribe, que haviam acabado de adquirir o conhecimento do 
sistema produtivo com os holandeses (claro que esses países passaram a dar proteção e prioridade 
em seus mercados ao seu açúcar).
Mesmo as possessões na África sofreriam danos. Os portugueses não estavam mais sozinhos no 
tráfico	negreiro.	A	região	de	São	Jorge	da	Mina	nunca	mais	foi	retomada.	Apenas	Luanda	voltou	para	o	
domínio dos lusos.
Mais do que isso, para piorar, Portugal, com vistas a reaver sua autonomia, nas guerras de restauração 
contra a Espanha, que só acabaram em 1668, acabou por sair profundamente endividado – para cobrir 
o apoio de outros países europeus à sua causa. Foi então que, na política de acordos, Portugal entregou 
os principais portos da Ásia – o reino da pimenta estava acabado.
Figura 57 – O quadro celebra a data de 1º de dezembro de 1640, quando 
D.	João,	o	duque	de	Bragança,	foi	aclamado	rei	de	Portugal,	se	tornando	D.	João	IV
Para completar o quadro difícil, a constante preocupação portuguesa em não perder essa autonomia 
que duramente foi reconquistada fez com que os lusos assumissem uma política de neutralidade. Quando 
não foi mais possível manter‑se neutro, Portugal aliou‑se à Inglaterra. Para isso, as dívidas aumentaram 
ainda mais, pois era necessário pagar o dote de Catarina, que se casaria com o herdeiro inglês para 
confirmar o pacto entre os dois países.
Nessa conjuntura geral de crise financeira no século XVII Portugal, na figura do ministro Dom Luís de 
Meneses, conhecido como Conde de Ericeira, procurou promover o mercantilismo típico, semelhante ao 
dos franceses com o colbertismo. As reformas promovidas pelo ministro tinham como objetivo substituir 
as importações na área das manufaturas têxteis – principalmente do algodão e da seda, coibindo a 
utilização exagerada de artigos de luxo. Assim, foram adotadas medidas alfandegárias protecionistas, 
além de regulamentos para o uso de roupas, que chegaram até a trazer artesãos ingleses escondidos 
para fortalecer as técnicas produtivas. Em menor proporção, ações semelhantes também foram tomadas 
para o azeite, o sal e o vinho – este último foi o que mais deu certo, sobretudo, nas Ilhas Atlânticas de 
Madeira e Açores.
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 Saiba mais
Para saber mais acerca da economia portuguesa e das perspectivas 
novas de investimento, veja o interessante artigo:
ROSSINI, G. A. A. As pragmáticas portuguesas de fins do século XVII: 
política fabril e manufatureira reativa. Revista de História,	João	Pessoa,	n.	
22, jan./jun. 2010.
Na colônia, as ações foram marcadas por um aumento do fiscalismo a partir do Conselho 
Ultramarino, criado em 1642. Sua função era concentrar toda a administração dos domínios além‑mar. 
Ele promoveu uma série de aumentos nos impostos, além de criar companhias de comércio para 
fomentar odesenvolvimento mercantil. Dentre elas, destacaram‑se a Companhia Geral do Comércio 
do Brasil, criada em 1649, e a Companhia Geral de Comércio do Estado do Maranhão, criada em 1682. 
Ficava notório que a estrutura da dominação colonial ficava enrijecida e que Portugal acreditava que a 
colônia seria uma importante forma de se reerguer dos problemas existentes.
Conselho 
ultramarino
Governo Geral
Donatarias Câmaras Municipais
Rei
Figura 58 – A estrutura administrativa portuguesa, após a União Ibérica, passou a 
 contar com a centralização do Conselho Ultramarino, diretamente ligado ao poder do monarca
Além disso, o governo investia nas expedições para encontrar ouro e prata no interior. Dentre esses 
esforços, um dos mais emblemáticos foi o de Dom Rodrigo de Castelo Branco. Ele era natural de Castela, 
mas ofereceu seus serviços ao rei português – ações, através de sua experiência, para encontrar os 
cobiçados metais para os lusos. Uma das suas autorizações era arrecadar fundos nas Câmaras Municipais, 
o que faria com que o estrangeiro entrasse em choque com os paulistas. Seu final foi trágico: foi 
assassinado. Segundo alguns historiadores, houve a suspeita de que havia descoberto ouro que os 
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paulistas já avistavam e sobre o qual não desejavam contar às autoridades – daí ter sido assassinado, 
talvez, por um dos famosos bandeirantes, descobridor do ouro, Borba Gato.
Outra medida foi tentar investir no tabaco. Uma junta foi criada em 1674. O produto podia ser 
vendido de três formas: moído (forma que tinha mercado crescente), rapé (pó de tabaco, que era uma 
moda proveniente da Índia) ou fumo de corda (forma para mascar o tabaco, o que era cada vez mais 
apreciado na corte francesa). A produção foi crescendo no Recôncavo Baiano (o que também era 
utilizado no tráfico negreiro, como se verá adiante) e amenizava os prejuízos do açúcar no Nordeste.
Tentou‑se também transferir a produção de especiarias perdida na Ásia para os territórios do norte 
da América portuguesa. Contudo, nada deu certo: os investimentos necessários eram consideráveis e os 
investidores quase que não surgiram.
Nota‑se, assim, que o mundo português passou a ser, em grande medida, relacionado ao Atlântico. 
A região adquiriu, desse modo, diversas dinâmicas bastante importantes que apresentaram ao império 
português uma nova realidade.
Exemplo de aplicação
Uma das mentes mais lúcidas do império português no século XVII foi o famoso padre Antônio 
Vieira. Procure pesquisar sobre sua vida e suas propostas. Você acredita que as suas propostas eram 
interessantes? A qual grupo, particularmente, suas ideias remetiam nas questões econômicas?
O que nos interessa, por ora, são as repercussões das ações promovidas pela Coroa em torno do 
centralismo posterior à União Ibérica. Há de se destacar que a conjuntura a partir da metade do século XVII 
gerou um sentimento de rebeldia aos colonos. Não se tratava de discutir a dominação portuguesa, mas 
sim algum aspecto da dominação. Ou seja, os interesses locais afloravam em busca de melhores condições.
Em termos gerais, esses movimentos são conhecidos como nativistas por envolverem alguma causa 
específica local. O grande lema era “viva o rei, morte ao mau governo”. Os revoltosos eram contra 
governadores e, em alguns casos, autoridades jurídicas.
Os	movimentos	nativistas	ocorreram	no	Rio	de	Janeiro,	Pernambuco,	Maranhão,	Minas	Gerais	e	até	
mesmo em Goa e Angola. Eles estavam relacionados ao contato entre as autoridades locais e a restauração 
portuguesa, pois o novo vínculo deveria abordar a necessidade de um governo que respeitasse seus 
súditos baseando‑se na justiça – do contrário, seria necessário alterá‑lo. A própria reação da monarquia 
foi tênue, já que não se tratava de um rompimento do status quo. Os queixosos, assim, não foram 
vistos como traidores e geraram a necessidade de a Coroa “aprender” acerca dos domínios coloniais: 
a repressão nunca poderia ser dura demais. O pragmatismo deveria governar a reação. Na prática, as 
rebeliões visaram se tornar um mecanismo de negociação entre os colonos e a Coroa.
Uma dessas primeiras agitações ocorreu em São Paulo em 1641. Amador Bueno da Ribeira foi 
aclamado como rei da região, após as notícias do fim da União Ibérica. A questão estava diretamente 
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relacionada aos interesses de espanhóis com medo de perder o trato mercantil com os paulistas. 
Percebe‑se a importância dessas relações na região, já que os rebeldes foram capazes de promover um 
movimento de rebeldia ao novo rei português. Os relatos apresentam, contudo, que Amador Bueno da 
Ribeira não aceitou a nomeação. Com isso, se tornou um personagem histórico de fidelidade ao poder 
instituído.
Figura 59 – A idealização da representação da aclamação 
de Amador Bueno. Note quais são os elementos que compõem os 
diversos grupos que estão em harmonia com a decisão dos paulistas
Houve movimentos mais comuns, como as conhecidas Botadas dos Padres para Fora – que ocorreu 
em São Paulo, mas também no Pará e no Maranhão. Esse conflito colocou em evidência as relações 
problemáticas dos colonos com os jesuítas em torno da perspectiva da escravidão indígena. Muitas 
vezes, o cativeiro do nativo era visto como a solução mais fácil e prática para o aumento de mão de obra 
a baixo custo. Ao mesmo tempo, como vimos, os bandeirantes procuravam lucrar com a empreitada.
A própria insurreição pernambucana (1645–1654) também foi um movimento local de forte 
descontentamento	com	a	cobrança	de	dívidas	promovidas	pela	WIC.	E,	sem	dúvida,	era	um	exemplo	
bastante importante da possibilidade de força dos movimentos locais. Assim, não é à toa que outros 
movimentos, ainda que pequenos e pouco conhecidos, tenham pipocado em outras regiões. Esse foi o 
caso	do	movimento	no	Rio	de	Janeiro,	ocorrido	entre	1660	e	1661,	após	os	altos	impostos	aplicados	pelo	
governador Salvador de Sá. Ou mesmo o de Pernambuco, entre 1664–1665, conhecido como Revolta de 
Nosso Pai, também por causa do trato com a política promovido pelo governador.
Outro	movimento	relevante	ocorrido	no	Rio	de	Janeiro	entre	1660–1661	foi	o	que	alguns	historiadores	
chamaram de Revolta da Cachaça. O produto estava proibido de ser comercializado desde 1635, mas 
permanecia existente e era bastante importante para o trato do tráfico negreiro, como se verá mais 
adiante. Em 1660, o novo governador, Salvador de Sá Correia e Benevides, propôs novos impostos para 
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garantir a defesa da cidade e controlar os principais postos da capitania. Ao mesmo tempo, procurou, 
a todo custo, impedir o direito de petição dos colonos diretamente para o rei. Com isso, a oposição foi 
muito forte. Os colonos se aproveitaram de uma ausência do governador para depô‑lo e controlaram 
a cidade por cinco meses. O governador, contudo, apoiado pelos jesuítas e por tropas de outras regiões 
(inclusive índios), conseguiu retomar a cidade e desencadeou uma dura repressão.
A Revolta de Beckman, de 1684, no Maranhão, se deu em torno do conflito entre os interesses locais, 
representados pelos irmãos Beckman, e os interesses da Companhia Geral e do Comércio do Estado 
do Maranhão, criada em 1682, que havia conseguido da Coroa o monopólio do comércio de escravos 
africanos, além da proibição da escravidão indígena. Os habitantes locais argumentavam que os novos 
cativos eram da pior qualidade e, ao mesmo tempo, exigiam o retorno da escravidão indígena. Ou seja, 
é notórioque, mais uma vez, o conflito tinha como base a questão da mão de obra e o desejo local 
do	uso	do	escravo	indígena.	Em	fevereiro	de	1684,	o	levante	foi	liderado	por	Manuel	Beckman	e	Jorge	
Sampaio, que aboliram o estanco da Companhia, expulsaram os jesuítas e o governador. Contudo, logo 
a repressão chegou. E os líderes foram mortos.
Outro movimento local de grande repercussão foi a chamada Guerra dos Mascates, que já 
trazia conflitos de décadas e desembocou nos anos de 1710–1712. A disputa colocou em choque 
os diversos interesses do açúcar quando o produto já não tinha o mercado de outrora, como 
vimos, por causa da competição com as Antilhas. A rivalidade se estabeleceu entre, de um lado, os 
interesses dos senhores de engenhos de Olinda (nativos) e, de outro, os comerciantes portugueses 
de Recife, chamados de mascates.
A situação da crise fez com que os senhores de engenho, que se entendiam como a nobreza da 
terra, após terem sido centrais nas lutas contra os holandeses, ficassem cada vez mais endividados com 
os mascates de Olinda. Esses últimos eram vistos como traidores, porque não estavam movidos pela 
causa da libertação de Pernambuco, mas passaram a exigir direitos para a Coroa por terem expulsado 
os holandeses, pois enriqueciam e queriam representação (ocupar cargos públicos). Na realidade, os 
senhores de engenho estavam sempre endividados nas mãos de “estrangeiros”, pois podiam obter 
financiamentos dos mascates, dos conventos, das igrejas e da Santa Casa de Misericórdia para antecipar 
determinados valores a fim de comprar escravos ou angariar recursos para necessidades específicas de 
última hora.
Os senhores de engenho pediram então que a Coroa nunca aceitasse os mascates nos cargos locais, 
pois tinham “defeito” (faziam trabalho manual, algo nunca realizado por um senhor de engenho, mas do 
qual eles tinham grande orgulho). Contudo, o governo local ainda estava preocupado com uma possível 
nova invasão e por isso se instalou em Recife (cidade forte), já que Olinda não tinha fortalezas.
A disputa propriamente dita, apesar do discurso oficial das disputas e interesses relacionados ao 
trato mercantil do açúcar, teve como base o poder político local. Tudo começou com o fim da União 
Ibérica. A questão econômica inicial tinha como problema que a alfândega ficava em Olinda e o porto 
ficava em Recife. Com isso, a alfândega acaba sendo levada para o Recife – que também recebeu tropas. 
A nova situação gerou diversos protestos em Olinda. Dentro de uma política de neutralidade, as decisões 
régias tentavam agradar os dois lados.
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Os mascates receberam apenas pequenos cargos e uma legislação confusa foi estabelecida. A 
estratégia não deu certo. Chegou ao governo Sebastião de Castro e Calda – figura autoritária e que não 
observava os protocolos do poder. Ele aliou‑se aos mascates, pois era contrabandista e recebia, a seu ver, 
baixos vencimentos. O ouvidor português, por sua vez, uniu‑se à nobreza da terra. Formou‑se então um 
caso extremamente raro de ruptura entre o governador e o ouvidor. O governador, então, decidiu criar 
a Vila do Recife, às escuras, durante a madrugada, colocando o pelourinho na região.
O conflito colocava em evidência, assim, os interesses locais divergentes, em um contexto em que o 
açúcar já não tinha a mesma pujança econômica de outrora. Mais do que isso, o ouro das Gerais já estava 
em plena exploração, atraindo os olhos da Coroa para as novas oportunidades que se apresentavam.
 Saiba mais
Para se aprofundar no assunto da Guerra dos Mascates, vale a pena 
acessar o artigo:
CABRAL,	F.	J.	G.	Viva	ao	rei,	morte	ao	governador!	Revista de História, 
2 jan. 2012. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/
artigos‑revista/viva‑o‑rei‑morte‑ao‑governador>. Acesso em: 5 ago. 2014.
A Guerra dos Emboabas, ocorrida em Minas Gerais, entre 1708 e 1709, foi mais um conflito de caráter 
local e nativista. Os paulistas, com a ação dos bandeirantes, entendiam que deveriam ser os únicos a obter 
os benefícios provenientes do ouro – inclusive nos diversos ramos comerciais. Afinal, tinham sido eles os 
que haviam sacrificado suas vidas em prol desse grande achado. Daí criticarem todos os que não eram 
paulistas – os emboabas (forasteiros, ou seja, todos aqueles que não eram de São Paulo). Esses, por sua 
vez, promoveram ataques, com todo o rigor, para dominarem a nova estrutura econômica. E conseguiram.
 lembrete
O interesse da Coroa pela descoberta do ouro estava bastante presente 
desde os primórdios. A ação dos bandeirantes, contudo, foi de enorme 
importância para fomentar as descobertas nos sertões e gerou o mito da 
força dos paulistas – “terra de gigantes”.
Outro movimento bastante significativo foi a Revolta de Vila Rica, no ano de 1720. O líder foi Felipe 
dos Santos. Essa revolta, particularmente, refletia o endurecimento da política da Coroa no início do 
século XVIII, com a extração do ouro. O problema central da Metrópole era como controlar essa riqueza, 
“dinheiro vivo”, para evitar ao máximo o contrabando. O açúcar, até então grande produto local, não 
era capaz de ser trocado facilmente, diferente do ouro. Assim, Portugal passou, aos poucos, a subtrair as 
autonomias locais, controlar a magistratura régia, aumentar a tributação, transferir as despesas gerais 
para os colonos, concentrar o poder dos altos postos da administração real, promover a coerção dos 
comerciantes locais em prol dos negociantes metropolitanos, além de gerar a opressão e vexações da 
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justiça para os locais (que muitas vezes permaneciam pobres). Para completar, a Metrópole ainda criou 
as Casas de Fundição, que garantiriam a obtenção dos impostos. A reação das tropas reais à Revolta de 
Vila Rica foi rápida e Felipe dos Santos foi executado.
Figura 60 – O quadro representa a execução de Felipe dos Santos. Além de representar a forte repressão da 
Metrópole, também demonstra o quanto o mundo da mineração estava envolvido com diversos grupos no meio urbano
São Luís
Olinda
Recife
Vila Rica
Mariana
São Paulo
Oc
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no
 A
tlâ
nt
ico
Aclamação de Amador Bueno (SP – 1641)
Revolta de Beckman (MA – 1684)
Guerra dos Emboabas (MG – 1708‑09)
Guerra dos Mascates (PE – 1710‑12)
Revolta de Felipe dos Santos (MG – 1720)
Figura 61 – A localização dos principais movimentos nativistas. Repare que eram de regiões variadas, 
o que denota a insatisfação com o mau governo como algo do período em questão e de grande importância para os colonos
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5.2 o ouro
A perspectiva de os portugueses encontrarem ouro finalmente foi consumada no fim do século XVII 
e início do século XVIII. Os bandeirantes descobriram metais preciosos e a notícia chegou aos ouvidos 
da Metrópole. A grave crise financeira rapidamente desapareceu. As principais regiões de exploração de 
ouro foram Minas Gerais, Mato Grosso e, mais adiante, também Goiás.
O ouro encontrado era de aluvião, ou seja, estava presente nas margens ou na foz dos rios, daí sua 
exploração ser de baixo nível técnico, mas, ao mesmo tempo, esgotar rapidamente as jazidas.
Figura 62 – As importantes regiões de exploração do ouro ao longo do século XVIII
A Coroa rapidamente tratou de melhorar a administração dos sertões para vigiar de perto a riqueza 
encontrada.	Em	1698,	o	rei	resolveu	sujeitar	a	Capitania	de	São	Vicente	ao	governo	do	Rio	de	Janeiro.	
Em 1702, foi criado o Regimento das Minas, que garantiria as principais diretrizespara a exploração 
metalífera – tratava‑se da complementação de regimentos prévios dos anos de 1603 e 1618. Em 1709, 
a Coroa decidiu, mais uma vez, alterar as relações administrativas: foi extinta a Capitania de São Vicente 
e criada a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, tendo como sede a Vila de São Paulo, separada do 
Rio	de	Janeiro.	Apenas	em	1720	foi	criada	a	Capitania	de	Minas	Gerais,	separada	de	São	Paulo,	tendo	
como capital a Vila Rica. Entre esses anos, a região recebeu milhares e milhares de novos habitantes, o 
que resultou na criação de diversas vilas.
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Figura 63 – O sonho do ouro agitava mentes e corações 
em busca do enriquecimento no Brasil colonial
A perspectiva da exploração do ouro, encontrado nas Minas Gerais, fez com que muitos brancos 
marginalizados pudessem migrar em torno do sonho da ascensão econômica. Isso fez com que muita 
gente chegasse à região em pouquíssimo tempo. A fome inicial se tornou inevitável, por causa das 
fortes crises de abastecimento. Houve pessoas que morreram de fome (a população subitamente era 
gigantesca e o volume de comida baixo) e a inflação se tornava galopante. Aos poucos, contudo, um 
amplo mercado de abastecimento agropastoril passou a ser desenvolvido, sobretudo com a construção 
do Caminho Novo, em 1725, ligando as regiões do Sul diretamente com as minas. Além disso, a pecuária 
dos rios São Francisco e das Velhas complementava as necessidades locais do novo maior polo de 
desenvolvimento da colônia.
O grande órgão controlador e fiscalizador era a Intendência das Minas – formado por um 
superintendente, que era o chefe geral, e pelo guarda‑mor, responsável pelas repartições e pelo 
cumprimento das leis. Somente a partir desse órgão era possível participar dos negócios de exploração 
do ouro. Assim, ele garantia o pagamento dos impostos e também as ações para coibir, ao máximo, 
o contrabando.
A distribuição das áreas de extração do ouro era promovida através da faiscação – garimpo individual, 
para os de poucos recursos que sonhavam com uma vida melhor por meio da mineração – e a lavra – 
uma verdadeira empresa exploradora que utilizava a mão de obra escrava e, dependendo dos recursos 
do proprietário, poderia ter uma técnica mais apurada de exploração. Tudo era dividido, a partir das 
datas – porções que eram distribuídas, por sorteio, pela Intendência das Minas.
Na prática, contudo, nem todos poderiam ter acesso às datas:
De início, pelo Regimento de distribuição das lavras, nota‑se o caráter 
restritivo e eminentemente escravista da mineração: as datas seriam 
concedidas conforme o número de escravos que cada um possuísse, donde 
parece ficar descartada a possibilidade, para o homem livre pobre, de possuir 
lavra sua (SOUZA, 1986, p. 69).
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Não é à toa, dessa forma, que os homens aventureiros e desejosos de partilhar da riqueza encontrada 
tiveram que recorrer à ação individual:
A principal resposta do homem livre pobre ante a situação foi, ao que 
tudo indica, o garimpo e a faiscagem, que mal davam para a subsistência. 
Os “homens faiscadores” trabalhavam nos rios com uns poucos escravos, 
e muitos deixavam esse tipo de atividade por não poderem se manter, 
nem a seus negros. Essa situação continuou difícil para o pequeno 
minerador durante todo o período. Se a empresa exigia algum serviço 
mais custoso, o mineiro não tinha condições de arcar com as despesas 
(SOUZA, 1986, p. 70).
Daqui apreende‑se que o ouro, apesar de ter atraído um enorme contingente populacional, não 
produziu a riqueza fácil para todos. Muito pelo contrário. Muitos enfrentavam uma batalha enorme pela 
vida, além de choques com o poder real:
Na fase de conformação do território das Minas, aventureiros, assassinos e 
bandidos conviveram com “homens bons”, muitas vezes tornando‑se um 
deles enquanto estes, por sua vez, se perdiam em desmandos e acabavam 
perseguidos pela justiça. Não foi outro o caso de Borba Gato, a quem a 
Coroa fechou os olhos (SOUZA, 1986, p. 101).
 lembrete
Vale relembrar que Borba Gato, importante bandeirante paulista, foi o 
acusado do assassinato de Dom Rodrigo de Castelo Branco, representante da 
Coroa na busca de ouro e prata. Em sua fuga, teria descoberto importantes 
regiões metalíferas – daí ter obtido o perdão real.
Claro que o ouro ampliou possibilidades. A fome da população atraída pela febre da obtenção de 
minérios precisava ser abastecida. E assim se formou uma ampla rede de mantimentos e comércio, 
sempre amparada pelas diretrizes da Coroa. Vilas foram sendo estabelecidas e o pequeno comércio local 
era estimulado. Havia a proibição, por exemplo, do uso de escravos de ganho de tabuleiro nas áreas de 
mineração e era favorecida a venda direta de mantimentos para lavradores. Mas nem tudo se estabelecia 
com facilidades:
O ímpeto urbanizador trouxe como uma de suas consequências um convívio 
entre populações muito mais íntimo do que em qualquer outro ponto da 
colônia. Essa intimidade não só favoreceu a emergência dos conflitos como 
propiciou a aplicação de medidas punitivas. Normalizar a população e 
cobrar impostos tornaram‑se necessidades prementes, e os acampamentos 
de faiscadores da véspera foram subitamente assaltados por uma legião de 
burocratas portugueses.
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Reduzir os moradores à obediência, ao sossego, à união era indispensável 
para que os trabalhos auríferos se fizessem com sucesso, possibilitando à 
Coroa a auferição de lucros maiores (SOUZA, 1986, p. 105).
A forma central de a Coroa garantir a cobrança de impostos era o quinto (exigir o recolhimento 
de 20% de tudo que fosse extraído para a Metrópole). Não demorou para Portugal perceber 
que esse sistema poderia não atender a todos os seus desejos: o imposto era pago apenas pelo 
que era extraído, ou seja, não forçava os habitantes da região a terem que trabalhar o máximo 
possível.
Em 1711, foi estabelecido o sistema de bateias (instrumento básico para a mineração de aluvião, 
tratava‑se da vasilha onde era adicionada água aos sedimentos dos rios para separar o ouro), que previa 
10 oitavas por ano (cerca de 36 gramas). Começava‑se a cobrar per capita, ou seja, por cada um dos 
trabalhadores da região. Em 1735, a Coroa criou a capitação, que previa o pagamento da ação de cada 
escravo na mineração (cerca de 17 gramas).
Claro que essa situação não era nada fácil aos pequenos mineradores:
De fato, os mineiros foram massacrados pelos tributos enquanto houve 
ouro para extrair da terra. Desde a primeira adotada, todas as formas de 
arrecadação foram injustas; a de bateias onerava as lavras pobres com 
numerosos escravos e favorecia as ricas onde trabalhava um menor número 
de cativos: não incidia, portanto, sobre o produto, mas sobre a mão de 
obra. Mas foi a capitação que mais revoltas provocou. Nesse sistema, os 
mineiros cujos escravos tivessem sorte na mineração pagavam sobre cada 
escravo a mesma quantia que pagavam os mineiros cujos escravos pouco 
ou nada ganhavam, e que constituíam a maioria da população. Os negros, 
mulatos e mestiços livres que não possuíam escravos deveriam pagar a taxa 
sobre si mesmos. As lojas de comércio pagavam capitação mais elevada, 
e do imposto só ficavam isentas as crianças menores de quatorze anos e 
os escravos que trabalhassem para oficiais, ministros régios e eclesiásticos 
(SOUZA, 1986, p. 131).
Uma forma de evitar o contrabando foi a criação de Casas de Fundição, onde os esforços 
para as suas implantaçõesjá iniciavam‑se em 1717 e perdurava em 1719. A perspectiva era a de 
proibir, completamente, a circulação do ouro em pó, facilmente utilizado para o contrabando. Foi 
nesse contexto que os escravos chegaram até mesmo a produzir os conhecidos “santos de pau 
oco” para armazenar o ouro em pó. Com a Casa de Fundição, o ouro seria numerado, receberia o 
selo da Coroa e o quinto já seria devidamente extraído. Como vimos, a implantação dessas casas 
foi o ápice para a revolta de Vila Rica em 1720. Após a repressão, contudo, entrariam em vigor 
apenas a partir de 1725.
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Figura 64 – O ouro devidamente em barras, já numerado, 
garantindo o pagamento do quinto para a Coroa
Em 1713, a Coroa decidiu que o quinto deveria chegar, ao menos, a 30 arrobas por ano (uma quantia 
próxima de 450 kg por ano). Logo, contudo, as cotas foram sendo progressivamente aumentadas, 
paralelamente aos demais esforços metropolitanos já descritos, alcançando, em 1750, o valor de 100 
arrobas por ano (uma quantia próxima de 1500 kg por ano) – era chamada finta. Esse foi o momento do 
auge da exploração. A partir daí, aos poucos, a exploração passou a viver ligeiros declínios até o processo 
ser bastante visível, na década de 1770.
Para garantir a finta, a Coroa poderia utilizar as Câmaras Municipais para cobrar eventuais valores 
que complementassem o montante. Daí a possibilidade de surgir a derrama – a incidência sobre os bens 
pessoais dos moradores das Minas do que faltava para o pagamento dos impostos à Coroa. A derrama 
foi executada duas vezes: a primeira entre 1763 e 1764 e a segunda entre 1771 e 1772. Todo ano, em 
geral, faltavam algumas arrobas para chegar às 100 exigidas. O acumulado de uma década era um 
valor bastante considerável. Não é à toa, assim, que os colonos temiam o pagamento da derrama e a 
entendiam como absolutamente opressora. Por isso o imposto foi o estopim para o primeiro movimento 
pela independência na nossa história: a Inconfidência Mineira, de 1789.
Outro ponto de grande importância de arrecadação para a Coroa foi a demarcação dos territórios 
com a existência de diamantes. O anúncio oficial surgiu a partir da carta do governador D. Lourenço de 
Almeida ao rei, em 22 de julho de 1729. Contudo, já se sabia da existência de diamantes no Serro Frio 
desde 1714, o que já atraía levas populacionais. Não foi à toa, então, que o rei, em carta régia de 1730, 
censurou o governador pela demora em relatar a notícia.
Já	 em	1729	 foram	declaradas	 nulas	 todas	 as	 datas	 com	ocorrência	 de	 diamantes.	 Em	1730,	 foi	
lançada uma capitação específica para a região, de 5 mil réis por escravo. Em 1731, a Coroa decidiu‑se 
pelo arrendamento restrito, com o fechamento das demais lavras. Em 1734, foi criada a Intendência 
dos Diamantes, que cuidaria da organização do Distrito Diamantino. A área demarcada era a região 
autorizada para a exploração de diamantes – que seria livre, desde que mantivesse o pagamento do 
quinto e da capitação específica.
Contudo, logo em 1739, a Coroa passou a promover um sistema de contrato para tentar 
diminuir as possibilidades de contrabando. Esses contratadores, ao todo seis, rapidamente 
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História do Brasil Colônia
enriqueceram, gerando uma grande confusão. Em 1772, a Coroa passou a adotar a Real Extração 
de Diamantes, para impedir completamente o contrabando – essa postura vigorou até 1832. Há 
de se ter em vista que:
Disseminado por toda a colônia e especialmente dirigido, no século XVIII, 
para as Minas, foi entretanto no Distrito Diamantino que o Fisco mostrou sua 
face mais cruel e violenta. Demarcado e cercado a partir de 1734, o território 
diamantífero foi o exemplo mais vivo da violência alcançada pela máquina 
administrativa colonial, da iniquidade da sua justiça, da arbitrariedade de 
suas medidas (SOUZA, 1986, p. 135).
Os abusos, as violências e explorações desenvolvidas no Distrito Diamantino eram muito grandes, já 
que uma pequena pedra era capaz de gerar fortunas enormes. Assim, não é sem razão que indivíduos de 
enorme cabedal arremataram os contratos e se enriqueceram com uma velocidade incrível.
De qualquer maneira, as consequências da mineração foram de enorme importância para a América 
portuguesa. O eixo econômico deixou de ser o Nordeste e passou a ser o Centro‑sul. Nesse processo, 
uma enorme quantidade de pessoas foi para os sertões em busca de melhores perspectivas econômicas. 
Claro que nem todos, contudo, alcançaram o que o sonhavam:
Os danados da terra, os desclassificados que morriam de fome numa terra onde 
tanta riqueza era gerada, foram o inimigo interno que cumpria enquadrar, 
normalizar, cercear. Quando a situação econômica piorava, quando os 
rendimentos do ouro e do diamante caíam, quando os mecanismos do poder 
se acirravam para tentar extrair mais lucro, as autoridades só enxergavam o 
lado oneroso de sua existência (SOUZA, 1986, p. 139‑140).
Sua existência era real, mas o modo de vida absolutamente desumano:
Moralmente mal, comendo pessimamente e vestindo pior ainda, os homens 
livres pobres viviam costeando a desclassificação, constantemente empurrados 
para ela pelo sistema econômico e pelas violentas superestruturas de poder. 
[...] Imbricavam‑se numa formação social cujos parâmetros básicos eram 
ditados pelo escravismo e mantinham com ela uma relação contraditória 
de incorporação e exclusão. Tomados frequentemente como elementos 
avulsos, desarticulados, os desclassificados realmente não deixaram de sê‑lo, 
tendo‑se em vista uma sociedade fortemente estratificada nos extremos 
(SOUZA, 1986, p. 147).
Apesar dessa situação radicalmente difícil, a concentração de renda na mineração era razoavelmente 
menor que a do mundo açucareiro. Houve o incremento do mercado interno, muito em virtude da 
significativa urbanização promovida no interior do território. O povoamento do interior, de fato, já era 
bastante evidente e contribuiu, em grande medida, para Portugal pleitear as fronteiras muito maiores 
do que anteriormente proporcionadas pelo Tratado de Tordesilhas.
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Para melhorar a organização administrativa (fora os interesses militares envolvidos), a capital deixou 
de	 ser	Salvador	 e	passou	a	 ser	o	Rio	de	 Janeiro	 em	1763.	A	 colônia	definitivamente	vivenciava	um	
impacto gigantesco em diversas áreas. Isso também foi visto em sua vida cultural e intelectual. O barroco 
tardio, de uma beleza e riqueza de detalhes impressionantes, foi um dos mais importantes legados do 
período. No movimento se destacou sobretudo Antônio Francisco de Lisboa, o Aleijadinho. Também 
houve manifestações importantes na música, ou mesmo na literatura, como o Arcadismo da literatura 
mineira.
Figura 65 – Uma das demonstrações da riqueza de detalhes do Barroco 
Tardio proporcionado pelo ouro: a obra Anjo Esvoaçante, de Francisco Vieira Servas
Figura 66 – A arquitetura barroca mineira foi bastante significativa. 
Um dos seus melhores exemplos é o conjunto religioso do 
Santuário	de	Bom	Jesus	de	Matozinhos.	Repare	na	riqueza	de	detalhes	da	obra
A economia portuguesa certamente havia saído de uma crise bastante significativa. Contudo, 
as relações com o ouro não foram completamente enriquecedoras para Portugal. Segundo uma das 
vertentes de interpretação portuguesa, o Tratado de Methuen, de 1703 – que estabelecia a entrada 
de manufaturados ingleses de panos de lã e demais lanifícios em Portugal, tendo como contrapartida 
a entrada de vinho português na Inglaterra com diminuição nos impostos alfandegários– teria 
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acabado com a possibilidade do desenvolvimento da manufatura têxtil em Portugal, que já estava se 
desenvolvendo principalmente com as medidas protecionistas do conde de Ericeira.
Ainda como consequência desse acordo, consolidara‑se em Portugal sua dependência econômica 
frente aos ingleses também por trocar produtos manufaturados por produtos primários (que tinham 
um valor mais baixo). Essa dependência com relação aos ingleses teria sido o preço a pagar pela 
aliança estratégica visando à manutenção da soberania portuguesa. Ao mesmo tempo, teria gerado a 
drenagem do ouro brasileiro para as mãos dos ingleses, como forma de manter uma balança de comércio 
constantemente deficitária. Estava inaugurada, assim, a perspectiva da decadência de Portugal, ainda 
que com significativos lucros do ouro da América.
Ao mesmo tempo, as novas condições, aliadas ao novo contexto internacional de propagação dos 
ideais iluministas e do exemplo revolucionário americano, promoveram, pela primeira vez, os ideais de 
emancipação a partir da Inconfidência Mineira. Certamente os tempos estavam mudando. Contudo, um 
último suspiro de medidas coloniais foi visto: o reformismo ilustrado.
6 o mundo Atlântico
A importância de entender a formação do Brasil com os seus contatos com África e com o 
desenvolvimento das relações no Atlântico Sul é absolutamente central para uma visão completa das 
raízes culturais e sociais do nosso país. Esses contatos eram intensos. As idas e vindas promoveram uma 
cultura profundamente imbricada com as duas margens do Atlântico – daí a expressão, de Alberto da 
Costa e Silva (2004): “um rio chamado Atlântico”.
Ao mesmo tempo, os estudos acerca dessa rica temática vêm se ampliando em nossa historiografia e, 
cada vez mais, formando um quadro extremamente interessante das complexas teias que estabeleciam 
as relações das mais variadas no Atlântico Sul. Essa é uma raiz central da nossa formação. A importância 
formou até mesmo leis que obrigam o ensino do “estudo da história da África e dos africanos, da luta 
dos negros e dos povos indígenas no Brasil, da cultura negra e indígena brasileira e do negro e do índio 
na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e 
política, pertinentes à história do Brasil” (BRASIL, 2008), como a Lei n° 11.645.
Como apresenta Alberto da Costa e Silva:
Preocupados com nós próprios, com o que fomos e somos, deixamos de 
confrontar o que tínhamos por herança da África com a África que ficara 
no outro lado do oceano, tão diversificada na geografia e no tempo. No 
entanto, a história da África – ou, melhor, das várias Áfricas –, antes e 
durante o período do tráfico negreiro, faz parte da história do Brasil. Quando 
esta começa? Com Cabral? Creio que com as migrações ameríndias, com os 
portugueses a partir de Afonso Henriques, e com os africanos, desde quando 
trabalhavam o ferro e o barro em Nok e disseminavam continente afora 
os idiomas a que chamamos bantos. Se, após 1500, não se pode estudar 
a evolução do Brasil sem considerar as mudanças na política portuguesa 
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e o que se passava num império de que fazíamos parte e que se alongava 
de Macau a Lisboa, os quatro séculos de comércio de escravos ligam 
indissoluvelmente os acontecimentos africanos, sobretudo os da África 
Atlântica, à vida brasileira.
Há toda uma história do Atlântico. Uma história de disputas comerciais e 
políticas, de desenvolvimento da navegação e de migrações consentidas 
e forçadas. Mas há também uma longa e importante história que se vai 
tornando, aos poucos, menos discreta. A dos africanos libertos e seus filhos, 
a dos mulatos, cafuzos, caboclos e brancos que foram ter ao continente 
africano, retornaram ao Brasil, voltaram à África ou se gastaram a flutuar 
entre as duas praias. (COSTA E SILVA, 2011, p. 236–237)
A escravidão africana no Novo Mundo foi a maior migração forçada da história. Milhares de homens 
e mulheres foram separados de seu mundo, de suas relações sociais e econômicas para se tornarem 
mercadoria e propriedades na América. Explorados ao extremo, sua funcionalidade residia no lucro com 
o tráfico negreiro para a Metrópole dentro dos moldes do Antigo Sistema Colonial.
Durante muito tempo, vários argumentos diferentes foram estabelecidos para a priorização do tráfico 
negreiro	em	detrimento	do	uso	de	nativos	como	escravos.	Já	se	sugeriu,	como	alguns	ainda	reproduzem	
como ideia significativa, que os indígenas não estavam habituados ou eram menos capacitados para 
desempenhar as atividades que os negros já desenvolviam constantemente. Argumentou‑se mesmo que 
os indígenas fugiam mais facilmente porque conheciam o território.
Esses argumentos são, por um lado, racistas. Isso porque acreditam que há raças mais adaptadas 
a determinadas funções e, ao mesmo tempo, desconsideram o uso do trabalho escravo indígena 
desenvolvido	em	São	Paulo,	como	tão	bem	demonstrou	John	Manuel	Monteiro	(1994),	onde	o	uso	de	
cativos “negros da terra” foi bastante disseminado e entrava, constantemente, em choque com os jesuítas. 
O uso da mão de obra escrava indígena ainda foi capaz de trazer distinções para a formação de uma elite 
local, que se gabava de ser senhora de homens. Por outro lado, esse tipo de análise ainda desconsidera 
a capacidade dos negros de resistirem à escravidão. Ainda que em um território completamente novo, 
eles tenham resistido de diversas formas e estabelecido relações sociais e reproduzido suas perspectivas, 
sonhos e liberdades.
 lembrete
Não se deve esquecer que os estudos recentes entendem claramente 
que o lucro com o tráfico negreiro foi o fator central para o uso de escravos 
negros na América, pois atendia aos interesses metropolitanos, dentro dos 
moldes do capitalismo mercantil.
Há de ser ter em vista, portanto, que o mundo do Atlântico foi um lugar onde, ainda que os interesses 
econômicos do capitalismo mercantil ditassem as regras centrais, havia espaço para um amplo aspecto 
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de relações que demonstraram, claramente, que todos os povos desempenhavam um papel ativo e 
significativo, uma das raízes centrais de nossa formação – uma cultura nacional de elementos diversos. 
Isso não é, em absoluto, desconsiderar os elementos de dominação e de subordinação que, em certa 
medida, ainda geram problemáticas gigantescas no Brasil contemporâneo, mas sim entender que, no 
seio dos laços da escravidão, os negros foram capazes de desenvolver um universo de contato e de 
formação de cultura que até hoje forma o nosso povo.
Exemplo de aplicação
Você consegue citar exemplos de áreas nas quais, em virtude da presença da escravidão, o negro 
ainda sofra em nossa sociedade?
Após a abolição, procurou‑se apagar a escravidão e os traficantes. Ao mesmo tempo, as ações 
governamentais buscavam acabar com os elementos culturais e documentais existentes – houve a 
formação de uma política de perseguição policial às seitas na Bahia e a Lei de 13 de maio de 1891, que 
queimou os documentos da escravidão.
Ainda que estejamos longe de discutir toda a historiografia acerca da importância dos estudos 
afros	no	Brasil,	há	de	se	destacar	o	trabalho	de	Russel‑Wood	(2001),	que	apresentou	um	objetivo	claro:	
introduzir uma história afro‑americana sob o prisma africano, ou seja, que enfatizasse a aculturação do 
africano e, assim, também observasse o seu desejo em se manter africano. Enfim, uma história na qual 
osafricanos fossem vistos de forma singular, na qual se retirassem as generalizações e se observassem 
os indivíduos, além de serem escravos.
Assim, o autor, para defender sua proposta, parte para considerações das regiões que forneceram 
escravos para o Brasil colonial. Com isso, dividiu o continente em África Ocidental, África Centro‑ocidental 
e África Oriental, fazendo um apanhado das diferenças étnicas, culturais e religiosas existentes, além 
de suas economias, relações comerciais, variadas fontes de poder, ou mesmo da diferenciação entre 
a escravidão corrente na África da praticada na América. Suas conclusões foram que os africanos 
desenvolviam uma alta criatividade aliada à inventabilidade, além de flexibilidade e capacidade de 
absorção.	Russell‑Wood	(2001)	explicou	ainda	que	seu	apanhado	histórico	consistia	em	demonstrar	que	
as pessoas nascidas na África chegaram ao Brasil com princípios culturais e comportamentos africanos. 
Assim, respaldando‑se na historiografia recente sobre o tema, o autor propôs uma série de linhas de 
pesquisa que dialogam com sua sugestão de um novo prisma. Esse prisma africano para a história do 
Brasil colonial aborda a questão de sobre o que os africanos resolveram lutar por manter suas vidas e 
do que aceitaram se desfazer. Aborda também o fato de que é preciso observar que houve africanos que 
decidiram simplesmente se manter africanos, ainda que em um território completamente novo.
Nesse	sentido,	a	obra	de	Russell‑Wood	é	muito	importante	porque,	se	pensarmos	nas	ideias	que	
a historiografia pioneira brasileira trazia da sociabilização dos africanos no Brasil, tem‑se uma clara 
impressão de que os africanos não “existiam” antes de chegar ao Brasil. Não existiam no sentido 
de terem seus próprios costumes, hábitos, crenças, valores etc. Obviamente, mesmo se tornando 
cativos, este conjunto cultural permaneceu presente na vida do africano. E, por isso, foram criadas, 
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pelos próprios africanos, a partir de instituições já vigentes, formas de manter a socialização entre 
eles. Deste modo, conservou‑se a cultura africana pois, apesar de alguns valores serem incorporados 
por alguns, outros resolveram se manter africanos, mesmo sendo obrigados a viver no continente 
americano. Tanto é que alguns, ao conseguirem sua liberdade e também meios, resolveram então 
voltar para a África.
Portanto,	 o	 prisma	 africano	 para	 a	 história	 do	 Brasil	 colonial	 proposto	 por	 Russel‑Wood	 foi	
fundamental no estudo do nosso passado porque se refere a uma grande parcela da população cujos 
costumes não eram “esquecidos” ou mesmo diluídos com a chegada ao Brasil. Como a historiografia 
recente tem demonstrado, essas pessoas mantinham sua cultura viva e praticavam seus costumes. 
Assim, para conhecê‑los, é indispensável o estudo do continente africano.
Uma ampla gama de análises poderia ser desenvolvida para demonstrar como o estudo da África 
é extremamente significativo para compreender as relações que se formaram em nosso país. Vamos 
a seguir apontar as relações básicas da África centro‑ocidental entre os séculos XV–XVII e, depois, as 
dinâmicas da escravidão e as formas de resistência. As bases de nosso estudo serão as obras de Alberto 
da Costa e Silva (2002) e Luiz Felipe de Alencastro (2000).
Em termos gerais, os povos originários da África centro‑ocidental são os bantos‑ngangas. Ao 
longo dos séculos XV, XVI e XVII, havia diversos pequenos Estados na região, cujas sociedades eram 
fundamentadas em seus laços familiares. Existiam também Estados de grandes proporções, como o 
Congo, e que serão analisados detalhadamente a partir do século XV, principalmente após a chegada dos 
portugueses. Essa região foi diretamente afetada em suas diversas relações sociais, políticas, culturais e 
comerciais pela chega dos europeus.
A organização política no reino do Congo perpassava a tensão existente entre chefe político e chefes 
de família. As sucessões reais eram muito complicadas devido a alguns aristocratas, ao se considerarem 
legítimos, tentarem dominar o trono. Como assinala Alberto da Costa e Silva (2002, p. 433), havia uma 
espécie de “regra” em que a estirpe real só se casasse com escravas “a fim de impedir que seus filhos 
pertencessem por parte materna a outras linhagens e de assegurar que estavam acima das rivalidades 
entre elas”. Na sua generalidade, essa tensão e a busca por manter essa “regra” (que nem sempre ocorreu) 
foi a tônica da organização política dos reinos na África Centro‑ocidental.
Os portugueses chegaram à costa da região em 1483, com Diogo Cão. A região do Cabo Verde foi a 
base	para	ação	na	Senegâmbia.	Já	a	Ilha	de	São	Tomé,	além	de	ser	“laboratório”	para	a	produção	de	cana,	
que posteriormente se desenvolveu no nordeste da América portuguesa, foi a grande base da atuação 
portuguesa na África Central. Inicialmente, os portugueses deixaram alguns dos seus para conhecerem a 
cultura e, posteriormente, serem os tradutores para as trocas comerciais – eles ficaram conhecidos como 
“lançados”. Muitos desses homens eram portugueses degredados por serem considerados cristãos‑novos. 
Todavia, ao longo dos anos, os lançados assumiram uma postura de autonomia, não reconhecendo 
a autoridade reinol nem nenhuma das locais. Enfim, traçaram objetivos próprios. Com isso, diversas 
tensões ocorreram, pois muitas vezes foram eles que acabaram fazendo a intermediação do comércio 
na região, porém sempre na defesa de seus interesses.
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Os	 objetivos	 portugueses	 eram,	 como	 vimos,	 encontrar	 o	 reino	 de	 Preste	 João,	 desenvolver	 a	
função missionária de levar o cristianismo e, sobretudo, o promover o comércio (fundamental para o 
entendimento das relações entre europeus e africanos).
 lembrete
O	 reino	de	Preste	 João,	 segundo	crença	portuguesa	antiga,	 seria	um	
lendário reino cristão que poderia ter sua localização no interior africano.
As expedições tinham por estratégia a conversão dos reis. No Congo, o rei aceitou o cristianismo, 
criando o primeiro reino cristão no interior da África. As explicações do porquê dessa decisão são 
diversas. Uma delas diz que a conversão se deveria à ideia de que o branco era um enviado do “além”, 
pois o morto era visto como branco entre os africanos. Os europeus seriam, assim, uma espécie de 
mensageiros do sobrenatural.
Diversas foram as relações entre Portugal e o reino do Congo. Uma das motivações portuguesas para 
as viagens constantes à região foi o tráfico de escravos. Soma‑se a isso o interesse pela prata. A política 
inicial utilizada pelos portugueses para relacionar‑se com o reino do Congo foi baseada na aliança, 
catequese e evangelização.
A primeira experiência portuguesa de colonização propriamente dita na África foi a ocupação de 
Luanda em 1575. Nesse local, os brancos eram vistos como maléficos e, por isso, foram impedidos de 
adentrar no território (havia muita resistência). Existiram tentativas de implantar pequenos núcleos 
de colonização que foram chamados de “presídios”. Na região já fora criada, em 1571, a Capitania e 
Governança de Angola, com base no sistema de capitanias hereditárias, nos moldes da América, tendo 
como donatário Paulo Dias de Novais. O governador, ajudado pelos jesuítas, que viam a possibilidade 
de evangelização dos africanos somente depois que eles fossem dominados militarmente, procurava 
interessar a Coroa na conquista do interior.
Talvez o início dos embates tenha se dado após algum dos lançados ou de seus descendentes terem 
trazido ao angola, rei do Dongo, o projeto português de conquista. Em 1579, iniciou‑se uma longa 
guerra. Os povos inimigosdo angola uniam‑se aos portugueses quando estes iam bem; quando não 
iam, contudo, o exército português era abandonado por seus aliados. Na verdade, a conquista era muito 
complicada: as tentativas de agricultura davam poucos resultados, a catequese só funcionava nos 
estabelecimentos portugueses, os gastos militares superavam as receitas obtidas. Buscam‑se, por isso, 
novas fontes: a prata e o sal convenceram D. Sebastião a autorizar a empreitada.
O principal motivo para a conquista do interior era, nas palavras de Alberto da Costa e Silva 
(2002, p. 413), “a miragem da prata”. Segundo o autor, para o tráfico de escravos, não era necessário 
semelhante empreitada, mas apenas “encostar um barco ou instalar uma feitoria” e os comerciantes 
locais e os lançados os trariam em bom número. Porém as minas exigiam o controle da região em 
que se dizia estarem.
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Ao longo do período da guerra, o capitão donatário Novais resolveu utilizar‑se do sistema nativo 
que aprendera no reino do Congo denominado de “amo” (alguém responsável por unir a comunidade 
com o forasteiro). Aceito pelos nativos, de quem já era conhecido, o capitão tornou‑se, todavia, muito 
diferente: a exploração era notória. A ânsia portuguesa eram os escravos. Muitos nativos, a fim de 
pagarem o tributo ao seu “amo”, sequestravam alguém ou criavam intrigas, causando insegurança e 
enfraquecimento das comunidades.
Em 1591, o rei português resolveu acabar com a capitania hereditária colocando Angola sob um 
governador‑geral. Quando finalmente chegou‑se ao local em que se dizia haver as supostas minas de 
prata, descobriu‑se que, na verdade, o que havia era chumbo. Enfim, a relação dos portugueses em 
Angola, desde a segunda metade do século XV até o penúltimo quarto do século XVII, constitui‑se 
em um processo de tentativa de conquista com avanço e retrocesso tendo como base a guerra. Nos 
momentos em que havia paz, havia comércio. Os comerciantes iam ao interior nas chamadas feiras, 
a seguir levavam os produtos para o litoral, onde mercadores de grosso trato, geralmente brasileiros, 
preparavam os navios e compravam as mercadorias: principalmente escravos (a África central foi a 
região mais atingida pela escravidão).
Figura 67 – Os povos de origem banto foram centrais na escravidão promovida no Novo Mundo. 
Além destes, havia ainda os sudaneses, provenientes da região da Guiné
Além de escravos, o porto de Luanda comercializava também, embora em menor escala, marfim, 
cobre e cera. Da região provinha o zimbo, moeda de troca mercantil em toda a África Central, 
monopolizada pelo rei do Congo. A Bahia também possuía zimbo, que era exportado para Angola através 
de contrabando. Outro produto também utilizado como moeda e comercializado na região era o sal. 
Panos eram trazidos pelos portugueses do Congo para Luanda, onde também serviam como moeda. A 
mandioca proveniente da América portuguesa era importante comércio que alimentava os navios para 
o tráfico e o período pré‑embarque. Ao longo dos anos, passou‑se a cultivar o produto nos arredores de 
Angola, como demonstrou Alencastro (2000, p. 251–259).
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Ao angola interessava toda essa rede comercial. Deles recebia tributos e taxas, e ainda consolidava seu 
poder e prestígio. Porém, criava regras que nem sempre agradavam aos mercadores portugueses, como 
restrições ao livre trânsito dos produtos e penas aos infratores (que iam desde o confisco da mercadoria até 
a pena de morte aos mais insubordinados). Em certos momentos, essa situação gerava guerras.
Todavia, o trato mercantil e a expansão relativa dos portugueses no interior do território (pequena, 
porém existente) adentravam na região de influência e suserania do rei do Congo – o que causava 
desentendimentos. Além disso, havia ainda disputas internas pela ambição pela posição de manicongo 
(rei do Congo). As províncias cresciam através do comércio com os portugueses e lutavam contra o 
centro. Na verdade, o cristianismo, ao misturar‑se com a religião tradicional da região, além do crescente 
tráfico de escravos, trazendo a possibilidade da escravidão, promovia um clima de insegurança no reino 
do Congo. O poder dos grandes, como assinala Alberto da Costa e Silva (2002, p. 435), “dependia dos 
caprichos do comércio”. Porém boa parte dele já estava nas mãos dos portugueses, já enraizados no reino 
congolês. Assim, “o reino do Congo tinha Portugal dentro dele. Como uma espécie de doença” (ibidem, 
p. 435). Na verdade, o projeto anterior fora mudado: o que interessava então era somente o comércio.
O reino do Congo perdia para os portugueses os tributos que lhes eram dados pelo trato mercantil, 
além disso, reinos que antes lhes eram vassalos haviam deixado de sê‑lo. Isso ocorreu com os reinos 
dembos (um destes era o Ambuíla) e também com o Matamba. Interessante situação vivia este último 
reino.	O	governo	estava	nas	mãos	de	Jinga,	que	também	era	a	senhora	do	poder	do	Dongo	(ou	seja,	a	
angola).	Jinga	tornou‑se	socialmente	homem	para	assumir	o	trono:	considerava‑se	rei,	tinha	um	harém	
de homens vestidos de mulheres, e ia à frente nas batalhas como um verdadeiro soldado, legitimando, 
com	isso,	seu	poder.	Diversos	foram	os	embates	de	Jinga	com	os	portugueses,	porém	eles	não	conseguiram	
dominá‑la, pelo contrário, ela se tornara detentora de um amplo território e também de uma boa parte 
do tráfico de escravos. Em 1641, quando os portugueses perceberam que não deviam manter um estado 
de	guerra	com	Jinga,	Luanda	foi	dominada	pelos	holandeses.
A riqueza que Portugal obteve através do comércio na região suscitava a cobiça dos rivais europeus, 
como os holandeses, franceses e espanhóis (antes e depois da União Ibérica). Os holandeses, em sua 
guerra de independência contra os Habsburgos, detentores da Coroa espanhola, no período da União 
Ibérica, consideravam o reino português como um ponto fraco, mas de grande importância, de seus 
inimigos. Conseguiram, assim, de 1641 até 1649, dominar Luanda.
A reconquista deste importante entreposto se deu, fundamentalmente, pelos brasileiros, como 
demonstrou Luis Felipe de Alencastro (2000, p. 266–271). Isso porque os brasileiros viam a necessidade 
de terem a região em seu controle para atenderem a demanda de escravos da lavoura canavieira no 
nordeste da América portuguesa.
Por fim, vale destacar a batalha que marcou o fim da penetração portuguesa e o apogeu do reino do 
Congo: a batalha de Ambuíla, de 1665. A justificativa portuguesa era, segundo sua própria documentação, 
como demonstrou Luis Felipe de Alencastro (2000), a negação do caráter cristão do rei do Congo, além 
do desejo do governador de Angola de adquirir escravos e controlar o tráfico conquistando o reino 
do Congo. Os congoleses eram superiores numericamente, todavia, as tropas do reino português, ao 
utilizarem armas e técnicas brasílicas, acabaram conseguindo a vitória.
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Há de se destacar, portanto, como foi importante a influência portuguesa na região da África 
centro‑ocidental. “Projetos” diferentes apareceram: com o reino do Congo se fez aliança para 
colaboração e comércio, além da justificação em torno da propagação do cristianismo. Com Angola, 
por outro lado, objetivou‑se a conquista desde o início. Por isso, nos referimos a “projetos”: os 
portugueses não tinham algo definido como estratégia para obter o máximo de proveito da região. 
Houve, assim, tentativas e mudanças.
Como buscamos demonstrar, à medida que o Congo interferia nos interesses portugueses

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