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FACULDADE ÚNICA DE IPATINGA HISTÓRIA DO BRASIL COLÔNIA Caroline Garcia Mendes 2 Menu de Ícones Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo apli- cado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São sugestões de links para vídeos, documentos cientí- fico (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblio- teca Pearson) relacionados com o conteúdo abor- dado. Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações im- portantes nas quais você deve ter um maior grau de atenção! São exercícios de fixação do conteúdo abordado em cada unidade do livro. São para o esclarecimento do significado de determi- nados termos/palavras mostradas ao longo do livro. Este espaço é destinado para a reflexão sobre ques- tões citadas em cada unidade, associando-o a suas ações, seja no ambiente profissional ou em seu cotidi- ano. 3 SUMÁRIO DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES E IMAGINÁRIO CULTURAL ................. 6 1.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 6 1.2 CONTEXTO PORTUGUÊS ....................................................................................... 6 1.3 O REINO PORTUGUÊS: UMA UNIFICAÇÃO PRECOCE ........................................ 6 1.4 AS GRANDES NAVEGAÇÕES .............................................................................. 8 1.5 O PIONEIRISMO PORTUGUÊS ............................................................................... 8 1.6 A CHEGADA ÀS ÍNDIAS E À AMÉRICA ............................................................. 10 1.7 IMAGINÁRIO CULTURAL .................................................................................... 11 1.8 OS INDÍGENAS DO NOVO MUNDO .................................................................. 13 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 15 A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA E ECONÔMICA DO TERRITÓRIO .............. 17 2.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 17 2.2 CAPITANIAS HEREDITÁRIAS: A PRIMEIRA DIVISÃO DO NOVO TERRITÓRIO ... 18 2.3 O GOVERNO-GERAL E A “CIDADE DA BAHIA” ............................................... 19 2.4 A PRODUÇÃO DE AÇÚCAR ............................................................................... 22 2.5 INVASÕES HOLANDESAS NA BAHIA E EM PERNAMBUCO .............................. 24 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 27 O CONTINENTE AFRICANO E A ESCRAVIDÃO NO BRASIL .................... 30 3.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 30 3.2 A ÁFRICA E O COMÉRCIO NEGREIRO .............................................................. 30 3.3 OS INDÍGENAS: ESCRAVIDÃO, POVOAMENTO E DEFESA DO TERRITÓRIO .... 33 3.4 VIVÊNCIA E RESISTÊNCIA AFRO-BRASILEIRA NO PERÍODO COLONIAL ......... 37 3.5 QUILOMBO DE PALMARES ................................................................................. 38 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................... 41 A DESCOBERTA DE OURO NAS MINAS ................................................... 44 4.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 44 4.2 OURO: DESCOBERTA, EXPLORAÇÃO E CONTROLE ......................................... 44 4.3 UMA SOCIEDADE IMPROVISADA ...................................................................... 48 4.4 A DESCOBERTA DE DIAMANTES E O GOVERNADOR DOM LOURENÇO ......... 51 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 55 SOCIEDADE E REVOLTAS COLONIAIS .................................................... 58 5.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 58 5.2 COTIDIANO NA COLÔNIA ................................................................................ 58 5.3 O PÚBLICO E O PRIVADO: O DOMICÍLIO E A FAMÍLIA .................................... 59 5.4 LÍNGUA E ENSINO NA COLÔNIA ...................................................................... 61 5.5 A RELIGIÃO NO BRASIL ...................................................................................... 62 5.6 REVOLTAS COLONIAIS ....................................................................................... 64 5.7 REVOLTAS NATIVISTAS ....................................................................................... 65 5.8 REVOLTA DE BECKMAN (1684-5 MARANHÃO) ................................................ 65 5.9 GUERRA DOS MASCATES (1710, PERNAMBUCO) ............................................ 66 5.10 REVOLTA DE FILIPE DOS SANTOS (MINAS GERAIS, 1720) ................................ 67 5.11 REVOLTAS SEPARATISTAS ................................................................................... 68 5.12 INCONFIDÊNCIA MINEIRA (MINAS GERAIS, 1789) .......................................... 69 5.13 CONJURAÇÃO DOS ALFAIATES (BAHIA, 1798) ............................................... 70 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 73 UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 04 UNIDADE 05 4 A VINDA DA FAMÍLIA REAL E O PROCESSO E INDEPENDÊNCIA ........... 76 6.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 76 6.2 CONJUNTURA MUNDIAL .................................................................................... 76 6.3 A FAMÍLIA REAL NO BRASIL ............................................................................... 78 6.4 REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA (1817) ............................................................ 80 6.5 DOM JOÃO: A ACLAMAÇÃO E O RETORNO A PORTUGAL ............................ 81 6.6 A PROCLAMAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA ......................................................... 82 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 85 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ........................................... 88 REFERÊNCIAS ...................................................................................... 89 UNIDADE 06 5 CONFIRA NO LIVRO Nesta unidade iremos analisar como se deu a unificação do reino português e as principais características que levaram ao seu pionei- rismo nas Grandes Navegações, como por exemplo o incentivo da Coroa, da burguesia mercantil, a vantagem geográfica e os avan- ços tecnológicos. Além disso, abordaremos ainda como o imaginá- rio cultural europeu interpretou o Novo Mundo, seus habitantes, a fauna e a flora a partir do pensamento medieval em vigor no perí- odo. Na segunda unidade iremos discorrer sobre as maneiras encontra- das pela Coroa portuguesa de estabelecer seus domínios no Novo Mundo. No início, optou-se pelas capitanias hereditárias, e logo de- pois foi instaurado o governo-geral para centralizar a administração da colônia. Tomé de Sousa foi o fundador da “cidade da Bahia” e primeiro governador. O Recôncavo Baiano e a Capitania de Per- nambuco seriam as grandes responsáveis pela produção açuca- reira no Brasil. Nessa unidade iremos aprender sobre comofuncionou o tráfico ne- greiro que trouxe milhões de africanos escravizados para o Brasil, além de discutir ainda a utilização da mão de obra indígena para o trabalho na colônia. Por fim, discorreremos sobre as vivências do africano e depois do afro-brasileiro e as maneiras de resistência en- contradas por eles para lidar com o trabalho compulsório, finali- zando com uma discussão sobre o Quilombo de Palmares Na unidade 4 abordaremos a descoberta do ouro na região centro- sul da colônia e o deslocamento de toda a economia para essa região, em detrimento da produção açucareira do Nordeste. Além disso, aprenderemos um pouco sobre o cotidiano naquela região e veremos também como os diamantes também movimentaram aquela economia, dando origem a personagens interessantes como a famosa Chica da Silva. Nessa unidade iremos conhecer um pouco mais como era o cotidi- ano das pessoas que viviam na colônia: como se organizavam as famílias, os domicílios e a importância da religião para essas pessoas. Além disso, iremos discorrer um pouco mais sobre as revoltas coloni- ais que ocorreram nos séculos XVII e XVIII em todo o território, desde movimentos que buscavam resolver problemas pontuais como sedi- ções visando à independência da América portuguesa. Na sexta unidade de nosso livro você poderá aprender sobre os úl- timos anos do Brasil enquanto colônia de Portugal: verá como a conjuntura mundial afetou diretamente nosso país e significou a vinda da família real portuguesa 6 DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES E IMAGINÁRIO CULTURAL 1.1 INTRODUÇÃO Seja bem-vindo à primeira unidade de nosso livro sobre História do Brasil Colô- nia . Nela começaremos nossa caminhada no conhecimento acerca do período Co- lonial que é muito importante para a história do nosso país. Esse trajeto se inicia ainda em Portugal, onde iremos conhecer um pouco mais sobre como esse pequeno país se transformou em centro de um dos grandes impérios dos séculos XVII e XVIII. Como uma nação com cerca de um milhão de habitantes chegou à América, à África e à Ásia, estabelecendo centros administrativos, locais de produção de mercadorias e se instalando em diferentes partes do mundo? É o que pretendemos responder na primeira parte dessa unidade. A seguir traremos uma provocação: o que significava para aquelas pessoas chegar a um local ainda inexplorado e já habitado como a América? No interior do imaginário medieval e religioso, os portugueses pensaram ter encontrado o Éden ao mesmo tempo em que se deparavam com monstros fantásticos que povoavam as histórias desde a época clássica. Como lidar com esse novo território e seu povo a partir desses pensamentos? Veremos tudo isso nas páginas que se seguem. Não se esqueça de responder às questões de fixação ao fim do livro. 1.2 CONTEXTO PORTUGUÊS Para compreendermos como se desenvolveu a relação entre Portugal e seus domínios no além-mar, voltaremos nossa análise para antes da chamada “expansão ultramarina” portuguesa. Veremos então como se deu a unificação desse reino, as principais características que levaram a Coroa e a burguesia a buscarem um novo caminho para as Índias e a chegada à América. 1.3 O REINO PORTUGUÊS: UMA UNIFICAÇÃO PRECOCE Diferente da maioria dos atuais países europeus, Portugal teve uma unificação UNIDADE 7 precoce e desde o século XIII possuía basicamente o mesmo território dos dias de hoje. Isso se deveu a uma série de conflitos envolvendo o reino de Leão e Castela – donos iniciais da parte oeste da Península Ibérica – e a família de Borgonha, nome- ada para governar o Condado Portucalense (entre os rios Douro e Minho) no ano de 1096. Menos de um século depois seu herdeiro, Dom Afonso Henriques era aclamado rei de Portugal após importante vitória contra os mouros na Batalha de Ourique (1139), cuja independência fora reconhecida oito anos depois por Leão e Castela no tratado de Zamorra. Iniciava-se, assim, a primeira dinastia do reino português, com sede em Coimbra. Com o sul da região tomado pelos mouros, os reis portugueses envolveram-se em várias batalhas que duraram muitos anos com o intuito de expulsar quem consi- deravam invasores e conquistar esses territórios. Em 1249, Dom Afonso III concluía a conquista da região do Algarve, extremo sul da Península e no fim do mesmo século a língua portuguesa era adotada como oficial e as fronteiras com Leão e Castela já estavam estabelecidas. Os conflitos com os castelhanos, porém, continuariam a ocorrer e no decorrer dos séculos importantes investidas aconteceriam do outro lado da fronteira no intuito de retomar o reino português para suas posses. Uma nova ten- tativa de reunificar os reinos levou à mudança da dinastia no poder no reino portu- guês com a ascensão de Dom João I de Avis. Na batalha de Aljubarrota (1385), Por- tugal derrotou os castelhanos e garantiu sua independência diante de Leão e Cas- tela. Será essa dinastia que irá lançar-se às Grandes Navegações, cujas caravelas aportarão na pequena ilha que se mostrará um continente de grandes proporções anos depois. Batalha de Ourique: A batalha ocorrida em 1139 entrou para o imaginário português de- pois que o testamento de Dom Afonso Henriques foi encontrado no Cartório Real do Mos- teiro de Alcobaça no ano de 1596. Segundo o documento, Jesus Cristo teria aparecido para Afonso enquanto o exército português acampava às vésperas da grande batalha. Cristo teria dito que estava ali para “fortalecer teu coração neste conflito, e fundar os princípios de teu Reino sobre pedra firme [...]” (LIMA, 2010, p. 101). A fundação de Portugal, assim, é marcada por um milagre que povoará o imaginário português ao longo dos sé- culos. 8 1.4 AS GRANDES NAVEGAÇÕES A luta contra os mouros que moveu o reino português rumo ao sul não parou com a conquista do Algarve, mas continuou em direção ao norte da África che- gando a Ceuta no ano de 1415. Iniciava-se ali a expansão portuguesa que chegaria três anos depois ao arquipélago da Madeira. Holanda (2007) enumera o caminho percorrido pelas caravelas portuguesas nos anos subsequentes, que chegaram às ilhas Canárias (domínio espanhol), ao Açores no ano de 1431 e três anos mais tarde ultrapassavam o cabo do Bojador: A falta de interesse, a descrença na possibilidade de lucro imediato estariam, efetivamente na origem das hesitações dos portugueses, até que, em 1434, Gil Eanes resolveu ultrapassar o Bojador, marcando nova etapa ao reconhecimento da costa da África (HOLANDA, 2007, p. 35). É certo que a busca por metais preciosos e a cobiça por escravos foi o que moveu os primeiros descobrimentos portugueses na costa africana. Holanda (2007) identifica que, além da mão de obra, aquelas embarcações buscavam apropriar-se de diferentes mercadorias de alto valor na Europa como o marfim e a malagueta – chamado de “grão do paraíso”. Ao final do século XV, Diogo Cão despontava como a grande figura da navegação no novo reinado que se iniciara em 1481 com Dom João II, chegando ao Zaire e à Angola. Seus esforços são continuados por Bartolomeu Dias, que em 1487 finalmente ultrapassa o Cabo das Tormentas (chamado depois de Cabo da Boa Esperança) e consegue chegar ao Oceano Índico. Holanda conclui que “o eixo do comércio mundial se prepara, assim, para deixar as margens do Me- diterrâneo em favor do Atlântico. Esse deslocamento só se processará, contudo, no decorrer do século XVI”. 1.5 O PIONEIRISMO PORTUGUÊS De que maneira um pequeno reino como Portugal foi o responsável por tantas descobertas de maneira tão precoce? Algumas considerações podem ser aqui elen- cadas. Em primeiro lugar, como vimos, a unificação do reino português ocorreu muito antes que a maioria dos demais países, o que levou a uma organização de governo e centralização que contribuíramsobremaneira para a atividade. A localização do reino no extremo ocidente do continente europeu é outro ponto a ser considerado, 9 com enorme área litorânea que facilitava a saída para o mar. De acordo com Holanda (2007), a glória dos descobrimentos foi durante muito tempo quase exclusivamente associada à figura do Infante D. Henrique, que se fixara na ponta de Sagres, no Algarve, para melhor gerir o movimento. Ainda que para essa localidade tenham se dirigido importantes estudiosos e práticos da arte da navega- ção, o historiador afirma que não foi fundada ali uma escola, como durante muito tempo diversos estudiosos afirmaram. Mesmo assim, foi de extrema importância o pa- pel daquele local no desenvolvimento da expansão marítima. Acerca dos progressos da marinha na época dos descobrimentos, os portu- gueses contribuíram ainda com a arquitetura naval, desenvolvendo a caravela como um meio mais apropriado de navegação do que as primitivas barcas ou os barinéis. A utilização das caravelas nas expedições rumo à África começou no ano de 1441. Segundo Holanda (2007, p. 38) “trata-se de embarcação ligeira, de pequeno calado, apta a aproximar-se de terra sem maior perigo. Isso a indica especialmente para as expedições em mares incógnitos”. Ainda sobre os progressos técnicos que ocorrem no período, a maneira de lo- calizar-se em alto mar também sofreu modificações. Antes, as chamadas “cartas de marear” não indicavam longitude ou latitude, apenas rumos e distâncias, o que fazia com que, em alto mar, marinheiros e comandantes guiassem-se apenas por obser- vações e estimativas precárias. O aperfeiçoamento de instrumentos como o astrolá- bio e o quadrante em finais do século XV auxiliou, assim, no progresso das navega- ções no período. [...] consideramos justo admitir que a iniciativa não partiu de qualquer particular: efetivamente, para que se encetasse e prosseguisse, poder- 10 se-ia julgar indispensável uma prévia acumulação de capitais em es- cala não reduzida, de maneira a manter uma despesa que não se sabia quando seria compensada por futuros proventos. Tanto assim que o primeiro ato da expansão portuguesa só pelo Estado pôde ser organizado [...]não existe, por conseguinte, uma diretriz única de ex- pansão. Na convergência das necessidades de expansão comercial para a burguesia e de expansão guerreira para a nobreza reside plau- sivelmente a causa dos descobrimentos e conquistas (GODINHO, 1944, p. 85). Como podemos, há certo consenso em compreender que a iniciativa dos des- cobrimentos não foi individual, mas coletiva: era necessário o acúmulo financeiro que vinha não só da Coroa, mas também dos mercadores para dar conta de um empre- endimento de alto custo e sem perspectivas imediatas de retorno. Além disso, os no- bres portugueses almejavam ganhar batalhas e conquistar territórios para ascender através de títulos e mercês pelos serviços prestados à Coroa. O litoral africano foi o primeiro passo em que todos esses anseios se convergiram, levando ainda às Índias para depois se deparar com uma terra até então desconhecida pelos europeus. 1.6 A CHEGADA ÀS ÍNDIAS E À AMÉRICA O navegador genovês chamado Cristóvão Colombo procurou o rei português pedindo navios para realizar uma expedição, um pedido que foi recusado por Dom João II. Anos depois, em 1493, passava por Lisboa em direção à Castela o mesmo navegador, com notícias de que havia encontrado ilhas desconhecidas à ocidente e levando a informação ao rei que financiara sua expedição, o de Castela. Trazia consigo nativos que lembravam mais os naturais das Índias do que os da Guiné. O abalo de Dom João II com a notícia se agravara ao saber que pouco tempo depois três Bulas papais concediam de fato o direito daquelas terras à Castela, traçando um meridiano a 100 léguas a oeste das ilhas de Açores e Cabo Verde. Discordando do que foi proposto pelo papa Alexandre VI, novas negociações foram realizadas e o Tratado de Tordesilhas (1494) assinado, no qual um meridiano a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde delimitava que as terras que estivessem a ocidente seriam castelhanas e a oriente, portuguesas. Dom Manuel, sucessor de Dom João II, é quem veria a expansão marítima se consolidar. Em julho de 1497, Vasco da Gama partiu do rio Tejo com quatro embar- cações e ao fim do mesmo ano dobrava o Cabo da Boa Esperança, chegando em seguida a Moçambique, Melinde, Mombaça, e alcançando Calecute. Vasco da 11 Gama colocava Portugal, assim, em contato direto com as especiarias, com as pe- dras preciosas e com o ouro, conquistando o monopólio desses produtos na Europa: “a abertura da rota marítima das Índias assume, assim, importância verdadeiramente revolucionária na época [...]” (HOLANDA, 2007, p. 42). A empolgação do novo trajeto fez com que muitos navegantes buscassem percorrer o mesmo caminho, e um deles sairia do rio Tejo no dia 9 de março com 13 caravelas rumo às Índias. No caminho, porém, Pedro Álvares Cabral chegaria no dia 22 de abril à terra que chamou de Vera Cruz, local em que aportaria e em que seria realizada a primeira missa do Brasil. A carta de Pero Vaz de Caminha, escritor que participava da viagem, é considerada a Certidão de Nascimento do nosso país. So- bre os nativos que avistaram de suas embarcações, Caminha escreveu: Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas ver- gonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos so- bre o batel [...]. Um deles deu-lhes um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas como de papagaio; e outro deu-lhe um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer de aljaveira, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza [...] (VAZ DE CAMINHA, 1500, p. 02) Como vimos com a citação da carta de Pero Vaz de Caminha, a partir do contato, os portugueses tiveram muitas dúvidas: que terras eram essas, tão distantes e encontradas “por acaso”? Quem eram essas pessoas que não conheciam seu Deus e viviam em pecado? Assim como Caminha compara os objetos indígenas que pos- suíam contas brancas com a aljaveira (uma árvore com sementes utilizadas como contas na Europa), toda a relação entre portugueses e nativos será baseada nos pensamentos que os europeus já traziam consigo: tudo será interpretado a partir de seus próprios valores e durante muito tempo o homem europeu não conseguirá ver os nativos como seus iguais. A seguir, vamos ver como alguns desses valores fantásti- cos e religiosos afetaram a maneira como os portugueses viam as novas terras. 1.7 IMAGINÁRIO CULTURAL Tema muito comum na literatura europeia, a busca pelo paraíso na Terra en- contrará terreno fértil a partir da chegada às terras desconhecidas. Todo o imaginário de monstros, sereias e deuses que remetem à Antiguidade também acompanhou capitães e marinheiros rumo ao Novo Mundo. De acordo com a Souza (1986, p. 24), “todo um universo imaginário acoplava- 12 se ao novo fato, sendo, simultaneamente, fecundado por ele: os olhos europeus pro- curavam a confirmação do que já sabiam, relutantes ante o reconhecimento do ou- tro”. A historiadora explica que, se antes o Índico possuía um grande papel no ima- ginário fantástico europeu, após várias viagens e aumento do conhecimento sobre ele, “[...] o Atlântico passará a ocupar papel análogo no imaginário do europeu qua- trocentista [...]” (SOUZA, 1986, p. 26), desde reduto de criaturas monstruosas até o Paraíso na Terra. A aventura marítima, assim, se desenvolveu sob a influência do ima- ginário europeu na vertente positiva, mas também na negativa, pois religiosos como frei Vicente de Salvador interpretavam o Novo Mundo como um local demoníaco. Apesar disso, o predomínio dentre os desbravadoresque chegavam era de que essa região poderia ser o Paraíso na Terra. Era, pois, generalizada, sobretudo entre eclesiásticos, a ideia de que o descobrimento do Brasil fora ação divina; de que, dentre os povos, Deus escolhera os portugueses [...] Ação divina, o descobrimento do Brasil desvendou aos portugueses a natureza paradisíaca que tantos aproximariam do Paraíso Terrestre: buscavam, assim, no acervo imagi- nário, os elementos de identificação da nova terra. Associar a fertili- dade, a vegetação luxuriante, a amenidade do clima às descrições tradicionais do Paraíso Terrestre tornava mais próxima e familiar para os europeus a terra tão distante e desconhecida (SOUZA, 1986, p. 35). Uma das missões dos “descobridores” portugueses, assim, seria a de catequizar os nativos do Novo Mundo, já que a expansão da fé e a colonização caminhavam juntas no imaginário europeu. A edenização da natureza foi acompanhada pela desconsideração do nativo, visto enquanto bárbaro e demoníaco e, portanto, passí- vel de ser inclusive escravizado – tempos depois os jesuítas se organizaram contra isso, indo de encontro a grupos que buscavam manter seus privilégios de escravizar os 13 naturais da terra. 1.8 OS INDÍGENAS DO NOVO MUNDO A população ameríndia que povoava todo o território onde os portugueses chegaram era bastante heterogênea, sendo impossível falarmos em uma “cultura indígena”. Havia dois grandes blocos que dividiam essa população: os tupis-guaranis e os tapuias. De acordo com Fausto (2015), os tupis-guaranis habitavam quase toda a costa brasileira, desde o Ceará até o extremo sul. Em alguns pontos do litoral havia ainda a presença de outros grupos indígenas, como os Goitacazes, os Aimorés e os Tremembés, todos denominados pelos tupis-guaranis de tapuias, ou seja, indígenas que falavam uma língua diferente. As informações que temos nos dias de hoje sobre essa grande população ainda são muito escassas e baseadas em sua maioria nos relatos de religiosos e via- jantes da época. Isso faz com que os nativos fossem divididos entre “bons” e “ruins” conforme sua afinidade ou desavença em relação aos portugueses. Os grupos tupis praticavam a caça, a pesca, a coleta de frutos e a agricultura. Plantavam feijão, milho, abóbora e principalmente mandioca, influenciando a alimentação da colônia com a farinha dessa raiz. Viviam em grupos separados, mas mantinham contato com outras aldeias para a troca de mulheres e bens de luxo, o que resultava em alianças, mas também em conflitos e guerras (FAUSTO, 2015). Segundo Fausto (2015), assim como na América espanhola, a chegada dos portugueses representou uma catástrofe para a população nativa. Os conflitos entre as aldeias também significaram alianças entre europeus e indígenas na submissão dos grupos inimigos. O contato com os portugueses trouxe violência, epidemias de doenças desconhecidas até então e morte. De milhões de moradores nativos na América portuguesa, hoje encontramos cerca de 250 mil indígenas no Brasil, que ainda sofrem com falta de políticas públicas para a manutenção de suas terras e para que suas culturas sejam preservadas. 14 O documentário “Caravelas e Naus: um choque tecnológico no século XVI” produzido pela Panavideo Produções traz a visão de diferentes pesquisadores que nos ajudam a desvendar como ocorreram os avanços tecnológicos do século XVI que transformaram Portugal em um dos maiores impérios ultramarinos daquela época. Você verá como eram construídas as caravelas e suas vantagens diante das outras embarcações do período. Disponível em: https://bit.ly/2CFxgtR. Acesso em: 12 out. 2020; “O Descobrimento do Brasil” é um debate que foi ao ar no 22/04/2016 pela TV Cultura, onde você pode assistir dois especialistas discutindo sobre diferentes questões relativas ao descobrimento/ conquista do atual Brasil. Disponível em: https://bit.ly/39jUGkh. Acesso em: 12 out. 2020; Leia o artigo “Descobrimento do Brasil: ‘achamento’ do país tropical”. Neste artigo, Ve- rardi (2018) discorre sobre as grandes navegações portuguesas e a conquista perpe- trada por eles no atual Brasil. Ela trata ainda da nomenclatura utilizada ao longo do tempo: se já existiam habitantes, como chamar de ‘descobrimento’? Disponível em: https://bit.ly/32Lhbh0. Acesso em: 12 out. 2020; Assista ao 1º episódio da série de documentários “Guerras do Brasil Episódio: 1 “Guerras de Conquista”. Nesse episódio você poderá entender melhor como era a cultura dos indígenas tupi-guarani e como foi o contato com os portugueses. Além da entrevista de antropólogos e historiadores, o documentário também traz diversas imagens e do- cumentos para explicar esse momento da nossa História. Disponível em: https://bit.ly/3ho9vFl. Acesso em: 12 out. 2020. 15 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Leia as asserções abaixo que exibem os motivos para o pioneirismo português nas Grandes Navegações: I. A unificação precoce do reino. II. A tradição milenar que remete aos romanos. III. O interesse da Coroa. IV. Os avanços tecnológicos. V. A geografia. Assinale a alternativa correta. a) I,III,IV e V. b) II,III e IV. c) I e III. d) IV e V. e) II apenas. 2. Quais eram os principais interesses dos portugueses ao iniciarem a navegação ao redor do litoral africano? a) Escravos e mercadorias valiosas para a Europa. b) Ouro e colonizar o continente. c) Expulsar os muçulmanos de todo o território. d) Estabelecer redes de comércio com os povos africanos. e) Catequizar os povos africanos. 3. Antes do Atlântico ser palco do universo fantástico dos europeus, qual era a re- gião que povoava seu imaginário com criaturas monstruosas e até com o Paraíso na Terra? a) O norte da Ásia. b) O sul da África. 16 c) O Índico. d) A América do Norte. e) O atual continente australiano. 4. Como Vitorino Magalhães Godinho entende que se deu a expansão portuguesa? a) Através de investimentos da Coroa. b) Pela busca da nobreza em prestar serviços ao rei. c) Com o interesse mercantil da burguesia. d) Pela busca de escravos e mercadorias valiosas. e) Todas as anteriores. 5. Como se deu o primeiro contato entre os portugueses e o Novo Mundo? a) De maneira pacífica e ordeira na colonização. b) Respeitando a cultura dos nativos e aprendendo com eles. c) Com os portugueses impondo sua visão de mundo europeia. d) Assimilando a cultura nativa para conviver melhor em terras estranhas. e) Com a admiração portuguesa diante de um mundo perfeito. 6. Fausto divide os indígenas nativos do Brasil entre tupis-guaranis e tapuias. De acordo com o historiador, por que os tupis denominavam o outro grupo indígena de tapuias? a) Porque tapuia significa “antropófago”, ou seja, que come carne humana. b) Porque todos que eram inimigos dos tupis eram chamados por eles de tapuias. c) Porque tapuia remetia à região que esses grupos ocupavam. d) Porque tapuia significava que esses grupos não falavam tupi. e) Porque o português estabeleceu essa diferença entre os dois grupos e os tupis assimilaram a nomenclatura. 17 A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA E ECONÔMICA DO TERRITÓRIO 2.1 INTRODUÇÃO Na segunda unidade de nosso livro, iremos discorrer sobre como a Coroa por- tuguesa organizou sua colônia no continente americano. Assim, trataremos em pri- meiro lugar da divisão do território em capitanias hereditárias e depois do envio de governadores-gerais para administrarem o Estado do Brasil. Em seguida, aprendere- mos sobre a importância da “cidade da Bahia”, atual cidade de Salvador, na cen- tralização da administração da Coroa de Portugal. Veremos ainda como se estabe- leceram os primeiros engenhos deaçúcar (Figura 1) em Pernambuco e na Bahia e a inserção desse produto na economia europeia. Você compreenderá, assim, a es- colha da Bahia como sede do governo geral e a preponderância de Pernambuco como maior produtor açucareiro do período. Nos primeiros trinta anos após a chegada de Pedro Álvares Cabral, foram re- alizadas apenas viagens esporádicas ao novo território para a extração de pau-bra- sil. Com receio de que outras Coroas europeias tomassem a região recém-desco- berta, o rei português começa a pensar em maneiras de povoar o território. A pri- meira tentativa de estabelecer seus domínios no continente americano começou com as capitanias hereditárias. Figura 1: Engenho de Itamaracá Fonte: Herkenhoff (1999, p. 252) UNIDADE 18 2.2 CAPITANIAS HEREDITÁRIAS: A PRIMEIRA DIVISÃO DO NOVO TERRITÓRIO Após a divisão do novo continente entre Portugal e Espanha com o Tratado de Tordesilhas, entre os anos 1534 e 1535 o rei português Dom João III dividiu o novo território em quinze lotes denominados capitanias hereditárias – sistema já empre- gado nas ilhas do Atlântico e que havia alcançado bons resultados. Todas as capi- tanias receberam a mesma carta de doação e o mesmo foral: enquanto a carta de doação detalhava a questão jurídica da doação de fato e especificava o nome do favorecido e o direito desse e de seus sucessores, o foral trazia as regras gerais de natureza econômica, fiscal, militar e administrativa (KAHN, 1972). A partir desses documentos, os capitães-donatários e seus herdeiros (por isso a denominação de “hereditária”) teriam total direito sobre as terras, ainda que elas continuassem pertencendo à Coroa portuguesa. Poderiam distribuir pequenos lotes denominados sesmarias e fundar vilas, além de possuir o monopólio da navegação fluvial, das moendas e engenhos. Deveriam ainda exercer o comando militar, fisca- lizar o comércio e aplicar ou delegar o cumprimento da lei (SALGADO, 1985). Como se observa, o sistema das capitanias hereditárias já implantara uma certa base administrativa, que orientaria o donatário, pelo me- nos, no aspecto legal em sua parceria com a Coroa nessa primeira etapa do empreendimento ultramarino, o qual seria caracterizado, como vimos, pela ação da política portuguesa na busca da iniciativa particular a fim de garantir a sua realização (SALGADO, 1985, p. 51). Para Salgado (1985), ainda que muitos pesquisadores falem do “fracasso” do sistema de capitanias no Brasil, foi com sua instituição que as bases administrativas da colônia começaram a ser estabelecidas. Do ponto de vista comercial, foi a partir das capitanias de Pernambuco e São Vicente que as possibilidades de exploração mercantil da colônia foram vislumbradas. Antes do estabelecimento do Estado do Brasil diversas vilas foram criadas ainda durante os anos em que vigoravam apenas as capitanias hereditárias. São Vicente, por exemplo, foi fundada no ano de 1532 e foi o primeiro município da América portuguesa (PUNTONI, 2013). 19 Figura 2: Mapa Histórico de Luís Teixeira das capitanias hereditárias Fonte: Cintra (2015, p. 14) 2.3 O GOVERNO-GERAL E A “CIDADE DA BAHIA” Em mais um ajustamento nas relações entre Portugal e sua colônia, no ano de 1548 foi instituído no Brasil o governo-geral. Os governadores-gerais eram nomeados 20 pelo próprio rei e eram homens socialmente bem qualificados através do nasci- mento e da prestação de serviços à Coroa. Recebiam cartas-patentes e regimentos com todas as regras que deveriam seguir e os poderes que iriam exercer. O primeiro governador-geral enviado para o Brasil foi Tomé de Sousa. A partir de seu regimento, podemos ler que esse oficial possuía função militar nas áreas de defesa interna e externa e poderia atuar também na esfera fazendária (cobrança de tributos e fiscalização), ainda que para essa função existisse também o Provedor- mor, responsável pela administração geral da Fazenda. O governador-geral deveria também fiscalizar o cumprimento da lei, sendo que sua aplicação estava a cargo do Ouvidor-geral, um funcionário designado pela Coroa (SALGADO, 1985). Como podemos ver, a Coroa portuguesa organizou todo o funcionamento da colônia a partir da “cidade da Bahia”, atual Salvador, cuja fundação constava entre os deveres do primeiro governador-geral do Brasil. Para Puntoni (2013), a escolha da Bahia era “quase natural” devido não só à sua localização geográfica e às qualidades naturais de baía – que facilitavam sua defesa – mas também pela conjuntura do domínio, já que seu donatário (Francisco Pereira Coutinho) havia falecido e coube à Coroa portuguesa apenas pagar aos seus herdeiros para a retomada da terra. A fundação da cidade foi um grande em- preendimento logístico e contou com uma equipe de técnicos: 14 pedreiros, 8 car- pinteiros, caiadores e taipeiros. Pela primeira vez uma capital inteira era transplan- tada para o outro lado do oceano. Conforme os relatos de Gabriel Soares de Souza do ano de 1587, após mandar 21 cercar a cidade, o governador fundou a Sé, o colégio dos padres para a Compa- nhia de Jesus e outras igrejas, e ordenou a construção de diversas casas que iriam abrigar os governadores, a Câmara, a cadeia, a Alfândega, etc. No mesmo regi- mento de Tomé de Souza era possível ler ainda que a povoação das “terras do Brasil” era necessária para converter “a gente dela” à fé católica. Assim, a cidade de Sal- vador também foi projetada para desempenhar o papel de centro de missionação. A bula para a criação do bispado data do dia 25 de fevereiro de 1551 e o bispo escolhido foi Pero Fernandes Sardinha, bispo de Évora (PUNTONI, 2013). Com o primeiro governador-geral também vieram os primeiros jesuítas, como Manuel de Nobrega, com a função de catequizar os índios e disciplinar um clero que já contava com má fama na colônia (FAUSTO, 2015). Figura 3: Busto em homenagem a Tomé de Sousa Fonte: Wikimedia Commons (2013, online) No ano de 1549, a Câmara já funcionava na cidade, composta por um mo- desto Corpo de oficiais: eram dois juízes ordinários, três vereadores e um procurador. Em 1581 foi incluída a figura do mestre, um representante dos ofícios mecânicos. Desde o início, o papel da Câmara foi muito importante por reunir os interesses das elites econômicas e políticas do Recôncavo, os produtores de açúcar (PUNTONI, 2013). 22 Salvador, até meados do século XVIII, desempenharia então um pa- pel central no sistema político do Estado do Brasil. Sua preeminência seria mantida pelas relações especiais que seus oficiais mantinham com os outros corpos mais elevados da República, e, em particular, com o próprio governo geral. Em vários momentos de crise, a Câmara de Salvador fora uma das principais protagonistas na política ameri- cana de Portugal (PUNTONI, 2013, p. 97). Da mesma forma que a América espanhola, os portugueses no Brasil organi- zaram sua colônia com a finalidade de fornecer gêneros alimentícios e minérios de valor para a metrópole. No litoral começavam a se organizar as grandes proprieda- des e os engenhos que iriam produzir o açúcar que seria enviado para Portugal. Se até 1530 esse território fornecia basicamente pau-brasil para a Europa, após a vinda do governador-geral e a fundação de Salvador, a colônia passaria a fornecer uma mercadoria de grande valor no mercado europeu. 2.4 A PRODUÇÃO DE AÇÚCAR Segundo Schwartz (1988), durante os séculos XV e XVI quase todas as ilhas do Atlântico exportavam açúcar para os mercados europeus. A ilha da Madeira, por exemplo, era o maior monocultor de açúcar do Ocidente no final do século XV. No Novo Mundo, portugueses e espanhóis tinham ciência de que o açúcar provavel- mente seria o produto maislucrativo. Mesmo Cristóvão Colombo, que se casara na ilha da Madeira, levou mudas de cana-de-açúcar para as Antilhas já em sua se- gunda viagem, no ano de 1493. Apesar de algumas tentativas de engenhos de açúcar nos primeiros anos do século XVI, foi apenas entre as décadas de 1530 e 1540 que a produção estabele- ceu bases sólidas no Brasil. De acordo com Schwartz (1988), a cana-de-açúcar foi plantada em todas as capitanias, com mudas trazidas da Madeira e de São Tomé. Engenhos foram construídos em Porto Seguro, Ilhéus e na Bahia e também houve grande produção em São Vicente, ainda que essa região não tenha sido uma importante área açu- careira durante todo o período colonial – até o século XVII sua produção de aguar- dente era relevante enquanto produto de troca. Pernambuco se tornou a mais bem-sucedida das capitanias. Seu donatário se chamava Duarte Coelho e se mudou com toda a família para gerir o povoamento e desenvolvimento da colônia. 23 Schwartz (1988) explica que as importantes relações que a família estabele- ceu com os indígenas através de casamentos com mulheres nativas foram valiosas para lidar com a resistência dos nativos. O cunhado do donatário, chamado Jerô- nimo de Albuquerque foi um dos homens que se casou com uma indígena. As cartas de Duarte Coelho informam à Coroa que no ano de 1542 ele havia plantado muitos pés de cana e solicitava o direito de importar escravos africanos. Na década de 1580 Pernambuco já possuía 66 engenhos e era a principal região produtora de açú- car no Brasil. Depois de Pernambuco, a Bahia se constituiu como importante produtora de açúcar. Seu litoral era apropriado para o cultivo da cana, mas o centro da produ- ção canavieira concentrava-se no Recôncavo, ao redor da Baía de Todos os Santos. Figura 4: Engenho de Pernambuco Fonte: Post [Séc. XVII] O donatário Francisco Pereira Coutinho chegou ao Brasil em 1536 e mesmo com a vantagem de ter ao seu lado o Caramuru e as boas relações com os indíge- nas, não exerceu uma boa liderança dos colonos. Sitiados, acabaram mortos em um naufrágio ao tentar retornar à Baía de Todos os Santos depois de refugiarem-se em Porto Seguro. 24 A criação de uma capital diretamente controlada pela Coroa e de instituições para viabilizar o governo colonial não substituíram de ime- diato o preexistente sistema de donatarias. A Coroa tencionava rea- ver gradualmente os direitos de governo que concedera aos dona- tários. Na próspera capitania de Pernambuco a princípio teve pouco sucesso, entretanto a construção de Salvador foi, sem dúvida, um grande passo no processo de aumento do controle exercido pelo mo- narca (SCHWARTZ, 1988, p. 34-35). Os primeiros engenhos construídos no Brasil são descritos como pequenos e do tipo de trapiche, ou seja, movidos por cavalos ou bois. Os próprios donatários as vezes construíam engenhos movidos à força hidráulica, mas os custos envolvidos nesse tipo de construção – grandes rodas d’água e um sistema de calhas para con- duzir a água ao local apropriado – eram muito elevados para a maioria dos colonos. Diferentes fatores contribuíram para que essa situação começasse a se modificar na região do Nordeste, como a disponibilidade de capital – vindo dos lucros anteriores ou de investimentos estrangeiros –, a expansão das terras cultivadas, o aperfeiçoa- mento administrativo e a maior produtividade da força de trabalho. No século XVII também houve melhoramentos técnicos que aumentaram a produção global de açúcar (SCHWARTZ, 1988). Como vimos, cada donatário poderia distribuir terras aos seus colonos para que fossem exploradas na forma de roças, fazendas (lotes maiores que poderiam ser utilizados para criar gado, cultivar cana ou outros produtos exportáveis como gen- gibre e algodão), e também engenhos. Através da carta de sesmaria, assim, eles eram autorizados a distribuir territórios recém-conquistados ou retomados. Outra forma de estimular a colonização e o desenvolvimento da economia açucareira eram os sistemas de arrendamento, parceria e outras formas de associação entre os engenhos e os lavradores que deveriam plantar a cana sem transformá-la, eles mes- mos, em açúcar. 2.5 INVASÕES HOLANDESAS NA BAHIA E EM PERNAMBUCO No início do século XVII, a Holanda despontava como uma das maiores po- tências marítimas europeias. De acordo com Françozo (2014), naquela época os ho- landeses possuíam mais navios do que todo o restante da Europa combinado, reali- zavam transações comerciais nos quatro cantos do globo e já no início daquele sé- culo haviam se tornado o centro comercial do Velho Mundo. Por volta do ano de 1620 os holandeses controlavam entre metade e dois terços do comércio marítimo 25 entre Brasil e Europa. Ainda segundo Françozo (2014, p. 50) com “a intensificação desse comércio e o aumento de sua importância, somados ao conflito político-militar entre as Pro- víncias Unidas e a Espanha, criaram ocasião e ensejo para a instituição de uma única companhia privada que controlaria o comércio com o oeste [...]”. Assim, a criação da Companhia das Índias Ocidentais (conhecida pela sigla de WIC, do holandês West-Indische Compagnie) possuía o intuito de organizar e au- mentar o comércio holandês no Atlântico, avançando contra o domínio ibérico nas Américas. Os holandeses fizeram uma primeira tentativa de domínio da região Nordeste atacando a Bahia no ano de 1624, mas foram expulsos pelos portugueses no ano seguinte. Em 1630, porém, os holandeses obtiveram sucesso no ataque às cidades de Olinda e Recife, na capitania de Pernambuco, grande produtora de açúcar. Apesar da resistência portuguesa, os holandeses conquistaram outras cidades im- portantes da região e permaneceram no Nordeste por 24 anos. Mello (2009) sugere três momentos da ocupação holandesa: uma fase inicial de conquista para os holandeses e de resistência luso-brasileira (1630-1637); um pe- ríodo de paz associado à chegada e ao governo de João Maurício de Nassau (1638- 1645); uma etapa final de guerra, de restauração na perspectiva luso-brasileira e de repressão do levante restaurador na ótica holandesa (1645-1654). O governador ho- landês Maurício de Nassau organizou ainda a tomada da cidade de Luanda, capital de Angola, demonstrando compreender a importante relação que se estabelecia 26 entre os dois lados do Atlântico na provisão de mão de obra para o Brasil. A retomada de Luanda foi organizada pelos próprios moradores do Brasil e pelo reio Dom João IV, liderada pelo governador do Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá e Benavides no ano de 1648. A guerra também começara em Pernambuco no ano de 1645, levando nove anos para finalmente os portugueses conseguirem expulsar os holandeses do território. A administração de Maurício de Nassau ficou conhecida como bastante avançada para aquele período, retomando a produção de açúcar que havia sido afetada pela resistência nos anos iniciais, promovendo melhorias urbanas e renomeando a capitania de Pernambuco como Nova Holanda e a cidade de Recife como Cidade Maurícia, em sua própria homenagem. 27 FIXANDO O CONTEÚDO 1. O que foram as capitanias hereditárias? a) Foi uma tentativa da Coroa Portuguesa de povoar o interior do território distribu- indo terras que deveriam ser colonizadas longe da costa. b) Foram espécies de caravelas construídas em Portugal que facilitavam a circula- ção entre Lisboa, Salvador e Angola. c) Foi a divisão do território da América Portuguesa em 15 lotes para serem coloniza- dos por particulares. d) Foram pequenos terrenos divididos entre particulares no Recôncavo Baiano para que fossem instalados os primeiros engenhosde açúcar. e) Eram construções fortificadas no litoral do continente africano que auxiliavam as embarcações portuguesas com mantimentos e compra de escravos. 2. Quais as características dos governadores-gerais do Brasil? a) Foram os primeiros homens degredados para o Novo Mundo que acabaram as- sumindo uma função administrativa importante no Brasil. b) Eram sempre membros da realeza e representavam o rei português no Novo Mundo. c) Eram nomeados pelos comandantes das caravelas para cuidarem da região onde aportavam até que fosse nomeado um vice-rei para o Brasil. d) Eram homens escolhidos pela Coroa portuguesa por serem bem qualificados não só pelo nascimento, mas também pela prestação de serviços. e) Eram nomeados pelo rei português para administrar o Brasil, prestando contas para os jesuítas que vieram na mesma época como Manuel de Nóbrega. 3. Quais as funções do Provedor-mor e do Ouvidor-geral no Brasil? a) Cuidar da defesa do território e aplicar a justiça. b) Administrar as finanças e aplicar a justiça. c) Os dois possuíam funções semelhantes na defesa do território. d) Aplicar a justiça e cuidar das finanças. 28 e) Prover os mantimentos e enviar informações sobre a colônia ao rei. 4. Por que o historiador Pedro Puntoni entende que a escolha da Bahia como sede do governo-geral foi algo “natural”? a) Porque foi o primeiro lugar em que os portugueses aportaram e, portanto, fazia sentido começarem por ali. b) Porque o restante do litoral do atual nordeste era acidentado e de difícil acesso, e a Bahia era o único lugar que daria para estabelecer uma cidade para a capi- tal. c) Porque era o local mais perto geograficamente de Lisboa em toda a América Portuguesa. d) Porque além de suas qualidades geográficas e que facilitavam a defesa do terri- tório, seu donatário havia morrido e cabia à Coroa apenas pagar o valor para seus herdeiros. e) Porque ali já havia grandes plantações de cana-de-açúcar, o que facilitava a instalação dos primeiros engenhos no Brasil. 5. Quais motivos Stuart Schwartz identifica para o sucesso da capitania de Pernam- buco? a) A utilização de mão de obra escrava indígena e a proximidade com Lisboa. b) A vinda do donatário com toda a família e a boa relação com os indígenas. c) A invasão holandesa que modernizou a fabricação do açúcar e aumentou a pro- dução. d) Os investimentos da Coroa portuguesa nos primeiros engenhos de açúcar da re- gião. e) A habilidade de Duarte de Coelho em submeter os indígenas para trabalharem nos engenhos de açúcar. 6. Quais os motivos que fizeram com que a produção de açúcar em Pernambuco começasse a aumentar a partir do século XVII? 29 a) Os investimentos financeiros da Coroa portuguesa, que assumiu o controle da pro- dução açucareira. b) A baixa no consumo de açúcar na Europa, o que fez com que a produção em Pernambuco aumentasse. c) A vinda de portugueses ricos que financiaram o aumento da produção. d) A expansão das terras cultivadas, o aperfeiçoamento administrativo e a maior produtividade da força de trabalho. e) A utilização de mão de obra assalariada na produção, o que modificou as rela- ções de trabalho. 30 O CONTINENTE AFRICANO E A ESCRAVIDÃO NO BRASIL 3.1 INTRODUÇÃO Nessa unidade iremos discutir as relações que se estabeleceram entre algu- mas regiões do continente africano, Portugal e o Brasil. A economia açucareira foi totalmente baseada na mão de obra de africanos escravizados, comprados na África e trazidos para a colônia portuguesa, o que significou uma gigantesca migra- ção forçada para esse território. Veremos como funcionava a escravidão naquela sociedade e como ela foi modificada a partir do contato com o europeu, resultando no tráfico atlântico que enriquecia não só portugueses, mas diferentes Coroas da Europa. Além disso, vamos aprender sobre o trabalho na colônia e o que significou para essas pessoas a vinda para o Brasil: como era trabalhar em um engenho, a violência empregada pelos senhores de escravos e as formas de resistência. Por fim, discutiremos como a utilização da mão de obra escrava impactou o a sociedade brasileira até os dias de hoje e o que vem sendo feito para diminuir as desigualdades sociais causadas pelo sistema escravagista. 3.2 A ÁFRICA E O COMÉRCIO NEGREIRO Quando falamos em migração forçada, devemos ter em mente que o conti- nente africano passou por diversos fluxos migratórios compulsórios durante sua histó- ria, conectando a África com o Oriente Médio, o Mediterrâneo e o Oceano Índico. Segundo Ferreira (2018), porém, em nenhum momento o custo humano foi tão alto quanto no tráfico Atlântico, responsável pela transferência forçada de cerca de 12 milhões de pessoas entre os séculos XVI e XIX.. Essa migração forçada começou a se desenvolver com a colonização das Américas no século XVI. Portugueses e espanhóis utilizavam a mão de obra africana na mineração e na agricultura comercial, sendo impossível dissociar essa demanda UNIDADE 31 por mão de obra do tráfico Atlântico. O estudo sobre a utilização de africanos es- cravizados na América é bastante difundido em materiais escolares e nas universi- dades. No início, porém, os europeus começaram fornecendo mão de obra escrava dentro da própria África e também para Portugal e Espanha, locais em que a escra- vidão tinha caráter mais urbano. De acordo com Ferreira (2018), tanto Lisboa como Sevilha possuíam considerável população de origem africana no século XVI. Atualmente algum revisionismo tenta transferir para os próprios africanos as mazelas decorridas do tráfico de escravos, argumentando que a escravidão já exis- tia naquele continente e que os africanos escravizados eram vendidos pela própria população daquela região. Convém ressaltar que o contato com os europeus mo- dificou profundamente as relações africanas, impondo uma quantidade de escra- vos enorme e estabelecendo a ideia de mercadoria que não condizia com os cos- tumes daquela sociedade. Ferreira (2018) explica que, no curto prazo, o tráfico Atlântico significou a cen- tralização política dos reinos africanos que dominaram o fornecimento de escravos para mercadores europeus, o que levou a um quadro de instabilidade nas socieda- des africanas, já que vários grupos se insurgiam contra essa centralização. Além disso, o direito costumeiro em vigor também foi modificado, já que o que constituía transgressão ou crime passível de escravização se ampliou para satisfazer a necessi- dade de produzir mais e mais cativos. Por exemplo: antes, crimes como roubo e adul- tério eram punidos com multa ou prisão; com a necessidade cada vez maior de escravos para abastecer o mercado atlântico, essas transgressões passaram a ser punidas com a escravidão. Nem todas as regiões do continente africano fizeram parte do tráfico Atlân- tico de escravos. As regiões mais afetadas foram a Costa da Mina (entre Gana e Nigéria) e a África Central (do Gabão até o sul de Angola). Ferreira (2018) afirma que essas duas regiões responderam por quase 80% das vítimas do tráfico Atlântico. 32 Figura 5: A relação comercial que se estabelecia entre a Europa, África e América. Fonte: Wikimedia Commons (2011, online) Nas duas regiões, os embarques de escravos eram em sua grande maioria direcionados ao Brasil que recebeu quase dez vezes mais africanos cativos do que as colônias inglesas da América do Norte. A proeminência brasileira se devia a di- versos fatores: à proximidade geográfica entre as duas regiões; à facilidade do con- tato marítimo devido às correntes e regimes de ventos; à relação comercial que se estabeleceu entre Costada Mina e África Central e a sociedade luso-brasileira. Ferreira (2018) argumenta que a interação direta entre as duas colônias por- tuguesas com a troca de mercadorias entre Brasil e Angola, estimulou a economia do tráfico atlântico. 33 No Brasil, os dois grandes centros importadores de escravos foram a Bahia e depois o Rio de Janeiro. Os traficantes baianos possuíam uma importante moeda de troca no litoral africano, o fumo produzido no Recôncavo. De acordo com Fausto (2015), essa região estava mais ligada à Costa da Mina, à Guiné e ao golfo de Benim. Já o Rio de Janeiro recebia em sua maioria escravos de Angola, superando a Bahia após a descoberta das minas de ouro, com o avanço da economia açucareira e o crescimento urbano da capital a partir do século XIX. 3.3 OS INDÍGENAS: ESCRAVIDÃO, POVOAMENTO E DEFESA DO TERRITÓRIO Desde o início da colonização, houve três modos de apropriação de indíge- nas pelos portugueses: o resgate, o cativeiro e os descimentos. De acordo Alencastro (2000), os resgates eram a troca de mercadorias por índios prisioneiros de outros ín- dios. A lei portuguesa estabelecia que apenas índios “à corda”, ou seja, que já fos- sem prisioneiros e que seriam mortos, poderiam ser objeto de um resgaste pela po- pulação. Além disso, esses indivíduos teriam seu cativeiro limitado a dez anos. Os índios escravizados via categoria de cativeiro deveriam ser apresados na chamada “guerra justa”, obrigatoriamente consentida e determinada pelas autoridades ré- gias, por períodos estabelecidos e contra certas etnias. Nesse contexto, os índios capturados seriam escravos por toda a vida. Por fim, os descimentos eram os deslo- camentos forçados dos índios para as proximidades das vilas e agrupamentos euro- peus. À primeira vista secundários, os descimentos – pela dimensão que to- maram no âmbito da América portuguesa – aparecem como as inici- ativas de consequências mais catastróficas para os indígenas. Acua- das pelos reides das entradas nas aldeias, e pelas pressões das autori- dades civis e religiosas, as tribos do sertão foram sendo ‘descidas’ e 34 aldeadas na vizinhança dos portos, das vilas e cidades. Mal alimenta- dos, expostos ao trabalho forçado num ambiente epidemiológico que lhes era particularmente hostil, os índios aldeados pereciam em grande número (ALENCASTRO, 2000, p. 120). Figura 6: “Os invasores” (1936) Fonte: Parreiras (1936) Alencastro (2000) ainda argumenta, por fim, que a maior parte dos textos pro- ibindo o cativeiro indígena não surtiu efeito na colônia, e utiliza o trabalho do profes- sor Monteiro (2002) para demonstrar como em meados do século XVII os índios eram citados como bens nos testamentos dos paulistas. Um dos testamentos analisados pelo historiador informa que transferia a herança dos índios, que eram declarados como “livres pelas leis do reino e só pelo uso e costume da terra são de serviços obrigatórios”. Ou seja, apesar da lei, os indígenas escravizados constavam até em documentos oficiais como testamentos, burlando a proibição utilizando termos como “serviços obrigatórios”. Apesar desses documentos que comprovam o “costume” de manter indíge- nas escravizados, a Coroa portuguesa o proibia desde o ano de 1570, reproduzindo a noção defendida pela Bula de Paulo II do ano de 1537. Pela lei de 20 de março de 1570, só seria lícita a escravização dos índios conseguidos em “guerra justa”, ou seja, autorizada pelo rei ou pelo governador do Brasil, e caso os indígenas praticas- sem a antropofagia. Diferente das sofisticadas discussões encontradas na Espanha como a Controvérsia de Valladolid, em Portugal a definição de guerra justa era a 35 mesma desde o século XIV, e afirmava o direito da Igreja ou do Estado em declarar guerra contra os infiéis – a guerra declarada por particulares, portanto, deveria ser condenada. No período filipino a lei de 24 de fevereiro de 1587 regulamentava o uso dos índios trazidos do sertão, entradas que só poderiam ser realizadas com a licença do governador geral – menos de 10 anos depois, elas só poderiam ser auto- rizadas pelo rei. Mas foi a lei de 30 de julho de 1609 que declarou que todos os índios seriam efetivamente livres, fossem cristãos ou pagãos. A reclamação de toda a po- pulação, porém, fez com que dois anos depois a legalidade do cativeiro em caso de guerra justa fosse retomada (PUNTONI, 2002). A lei de 1611 consolidava o “regime das missões” tal como havia sido elabo- rado pelos jesuítas, onde os índios deveriam ser fixados em um povoado com os prin- cípios pedagógicos dos religiosos. Segundo Puntoni (2002), índios de diferentes na- ções eram reunidos nesses povoados para serem submetidos a várias formas de res- socialização e aculturação. Para trazer os indígenas aos povoados, os jesuítas pro- cediam aos descimentos das tribos indígenas. 36 Figura 7: Monumento às Bandeiras (1954) do artista Victor Brecheret, localizado no Parque Ibirapuera na cidade de São Paulo Fonte: Imbroisi (2016, online) Para além de servirem como mão de obra, os indígenas também foram utiliza- dos pelos portugueses como povoadores necessários na manutenção de seu domí- nio, especialmente diante das tentativas de conquistas ou de invasão de outras po- tências europeias. Segundo Puntoni (2002), os nativos eram os únicos capazes de ensinar sobre os novos territórios e contribuir com o envio de homens para que as tropas portuguesas conseguissem enfrentar não só as tribos hostis, mas também os ataques de outras nações. Não só os portugueses perceberam a vantagem de aliar-se aos nativos do Novo Mundo, mas mesmo os invasores holandeses sabiam da importância de trazer os indígenas para perto. O conde de Nassau reconhecia em relatório de 1644 que era da amizade com os índios que dependia o sossego e a conservação da colônia 37 do Brasil. O importante era, manter as alianças com as tribos indígenas do país, seja para fins militares e conservação do domínio, seja para o serviço da empresa colo- nial. 3.4 VIVÊNCIA E RESISTÊNCIA AFRO-BRASILEIRA NO PERÍODO COLONIAL Durante muito tempo era possível encontrar nos manuais didáticos brasileiros a afirmação de que os escravos africanos eram melhores para o trabalho e que os índios teriam sido deixados de lado porque eram “preguiçosos” e não se adaptavam ao serviço. Hoje sabemos não só que o trabalho indígena foi utilizado por muito tempo, mas também que a mão de obra de africanos escravizados foi empregada pelo lucro que o tráfico negreiro trazia tanto para a Coroa como para particulares. Além disso, essa população trazida para a América de maneira compulsória não aceitou de maneira passiva seu destino, atuando de diferentes formas como através da diminuição do trabalho, pela agressão a seus senhores, através das fugas indivi- duais ou em massa, com a formação de quilombos e mesmo pela autodestruição através do infanticídio e suicídio. De acordo com Schwartz (1987), a geografia e a ecologia de grande parte do litoral baiano favoreciam a fuga dos escravos, que floresceu em quase todas as áreas da capitania. O historiador argumenta que uma série de características con- tribuiu para a fuga de escravos e a formação de comunidades de fugitivos na Bahia, como o fato de ser um dos principais terminais do comércio atlântico de escravos e uma importante zona de agricultura e exportação. Nas zonas das grandes planta- ções, a quantidade de escravos poderia chegar a mais de 60% dos habitantes. A maioria dessa população era formada por homens, já que eram os preferidos para o trabalho pesado nos engenhos. Depois de fugirem, formavam comunidades den- tro da mata, mas próximo aos povoados, chamadas de mocambos. Viviamda agri- cultura, mas também do assalto às estradas e do roubo de gado. O mocambo re- presentava uma expressão de protesto social numa sociedade escravista. Nas regiões das minas de ouro do centro-sul (que estudaremos na próxima unidade) parte do que ocorria no Nordeste açucareiro também se reproduzia. Os escravos também eram grande parte da população – entre um terço e metade da quantidade de moradores da região – mas pessoas chamadas “de cor” considera- das livres constituíam cerca de 40% dos moradores já ao final do período colonial. 38 Assim, o autor ainda argumenta que a população afro-brasileira nessa região já era quase três quartos dos habitantes, com a diferença de que os escravos possuíam relativa autonomia em seu trabalho: contanto que fossem produtivos e entregassem o ouro encontrado podiam se movimentar pela região mineradora. O vasto mar de escravos e pessoas de cor livres forneciam um ambi- ente potencialmente simpático aos fugitivos. A natureza descontinua dos povoados e a topografia montanhosa forneciam grandes tratos inacessíveis, próprios para os esconderijos e, mesmo em muitas con- centrações urbanas, a grande população de cor livre tornava difícil a descoberta dos fugitivos. Ademais, como estes eram frequente- mente capazes de fornecer ouro que haviam roubado ou encon- trado, alguns brancos dispunham-se a cooperar com os mocambos ou proteger foragidos (SCHWARTZ, 1987, p. 77). Os escravos que fugiam acabavam se organizando nos chamados quilombos ou mocambos, que poderiam ser muito diversos naquele período. De acordo com Gomes (2018), havia quilombos que constituíam comunidades independentes com atividades camponesas que se integravam à economia local; havia os que se ca- racterizavam pelo protesto reivindicatório dos escravos; havia ainda os formados por pequenos grupos quilombolas que se dedicavam ao assalto das fazendas próximas; havia por fim os que aceitavam voltar à situação de escravo desde que suas exi- gências fossem atendidas . O mais famoso quilombo do Brasil é, sem dúvida, o Qui- lombo de Palmares. 3.5 QUILOMBO DE PALMARES O Quilombo de Palmares era uma rede de povoados na região que hoje cor- responde a parte do estado de Alagoas e chegou a agregar milhares de moradores. Ele se formou no início do século XVII e perdurou por quase cem anos (1605-1694). Segundo Schwartz (1987), os administradores régios transformaram Palmares em um símbolo de como qualquer comunidade de fugitivos poderia ameaçar uma sociedade baseada na mão de obra escrava. Devido ao tamanho que alcançou com o passar dos anos, é possível encontrar documentação sobre o período, ainda que ela se relacione mais com sua última década de existência e destruição. O his- toriador explica que Palmares não era uma comunidade única, mas uma série de mocambos unidos em um único reino neo-africano. A partir dos relatos de observa- dores europeus, entende-se que Palmares era um estado organizado sob o controle de um rei, com chefes subordinados e povoados apartados. A liderança se dava 39 aparentemente por uma linhagem régia. Os fugitivos de Palmares viviam da agricul- tura, embora também houvesse a negociação de armas e outros produtos com ha- bitantes brancos da região. Como nas sociedades africanas, em Palmares também havia escravidão. Palmares parece ter sido uma adaptação de formas culturais afri- canas à situação em que esses escravos de diversas origens se encontravam, unindo-se em oposição à escravidão colonial. Durante toda a sua história, o quilombo esteve sob constante ataque: mesmo os holandeses quando ocuparam a região de Pernambuco organizaram três expe- dições contra Palmares; entre os anos de 1672 e 1680 houve praticamente uma ex- pedição a cada ano. Segundo Schwartz (1987), a cada novo governador, o “rei” de Palmares, cha- mado Ganga Zumba, reiterava os pedidos de paz, prometendo lealdade à coroa portuguesa e devolução de novos fugitivos em troca do reconhecimento da liber- dade do quilombo. Os portugueses teriam aceitado essas condições, mas logo as violadas, ocorrendo dentro de Palmares uma revolta contra Ganga Zumba, que foi deposto e morto por seu sobrinho, Zumbi. Os administradores portugueses continua- ram as investidas contra o quilombo, buscando os bandeirantes paulistas para elimi- nar Palmares. De acordo com Gomes (2018), no fim da década de 1680 e começo dos anos 1690 começou a preparação das grandes expedições militares comandadas pelo bandeirante Domingos Jorge Velho. Além de numerosos, os bandeirantes levaram potentes canhões e considerável aparato militar. A batalha final ocorreu em feve- reiro de 1694 com a destruição do quilombo e morte de Zumbi. Figura 8: Zumbi (1927) Fonte: Parreiras (1927) 40 https://bit.ly/32KFZpi. https://bit.ly/2ZSgpfW. 41 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Quando os primeiros contatos entre europeus e africanos começam, a escravi- dão já existia na África. Qual mudança se estabeleceu a partir desse contato e da demanda por mão de obra escrava na América? a) A alta demanda fez com que ocorressem mudanças nos costumes e cada vez mais transgressões eram passíveis de escravidão. b) A baixa demanda de mão de obra na América praticamente acabou com a escravidão que já existia na África. c) Os chefes das sociedades africanas cederam seu lugar para que os portugueses administrassem a oferta de escravos. d) As principais sociedades africanas entraram no comércio e distribuição de escra- vos, fabricando embarcações que chegavam até a América. e) Os portugueses fundaram vilas e enviaram governadores para aumentarem a quantidade de escravos enviados para a América. 2. Quais as principais regiões africanas que participaram do tráfico atlântico de es- cravos? a) A região norte da África, atual Marrocos e deserto do Saara, ofereceu grande parte dos escravos enviados para a América. b) Especialmente o interior africano foi responsável pela grande quantidade de es- cravos que serviram de mão de obra para os portugueses. c) Os escravos enviados para o Brasil saíram em sua maioria da Costa da Mina e da África Central (do Gabão até o sul de Angola). d) A região sul, especialmente Botsuana e Namíbia, foi a que mais enviou escravos para o Brasil. e) A região da África Oriental, próxima à Índia, foi a maior fornecedora de escravos para o Brasil. 42 3. Explique o que foram os descimentos. a) Era o envio de indígenas para o sul do país para incentivar o povoamento do território. b) Eram os deslocamentos forçados dos índios para as proximidades das vilas e agrupamentos europeus. c) Eram trajetos percorridos de barco para o interior do território com o auxílio dos indígenas que conheciam a região. d) Eram as entradas de portugueses para o interior em busca de indígenas para servirem de mão de obra na região centro-sul. e) Era a busca por metais preciosos no interior do país através do envio de indígenas que conheciam o território. 4. Quem foi Raposo Tavares e qual sua importância na história do Brasil? a) Foi um importante governador-geral que auxiliou na expulsão dos holandeses em Pernambuco no século XVII. b) Foi um donatário que fundou a cidade de Recife e contribuiu para o desenvolvi- mento da agricultura na região. c) Foi um senhor de engenho cuja fazenda foi uma das principais produtoras de açúcar do século XVII em Pernambuco. d) Foi um bandeirante paulista responsável por uma grande bandeira que aprisio- nou entre 40 e 60 mil guaranis no século XVII. e) Foi o responsável por destruir o Quilombo de Palmares no final do século XVII em Alagoas. 5. Qual dessas formas de resistência foram utilizadas pelos escravos no Brasil durante o período colonial?a) Respeitavam seus senhores para um dia serem libertos. b) Obediência contra os senhores de engenho. c) Fuga, formação de quilombos e suicídio. d) Fuga de navio de volta para a África. e) Aumento da produção. 43 6. O que foi o Quilombo de Palmares? a) Foi um local fundado por escravos na Bahia no qual os filhos dos cativos nasciam livres. b) Foi o maior quilombo do período colonial, que existiu na região do atual estado de Alagoas. c) Foi uma importante fazenda produtora de açúcar na região do atual estado de Alagoas. d) Foi um movimento de escravos a favor da abolição, que surgiu no período colo- nial e) Foi um local de fuga de escravos, liderado por Palmares, próximo ao Recôncavo Baiano. 44 A DESCOBERTA DE OURO NAS MINAS 4.1 INTRODUÇÃO Depois de estudarmos a utilização da mão de obra de africanos escravizados e de indígenas no Brasil colonial, veremos agora outro momento importante da His- tória, que se iniciou no final do século XVII: a descoberta do ouro na região das Minas Gerais. Os primeiros relatos de ouro surgiram com as incursões dos bandeirantes ao interior, no ano de 1693 na região da capitania de São Paulo – que depois seria des- membrada como Minas Gerais a partir do desenvolvimento trazido pela mineração (SOUZA, 2006). A notícia que se espalhou rapidamente e trouxe milhares de aventureiros para a região, modificou profundamente as relações estabelecidas entre a metrópole e a colônia, bem como inverteu o centro econômico do Brasil do Nordeste para a região Sudeste. Estudaremos nessa unidade como se deu esse processo, como foi a instala- ção de uma nova rede burocrática na região, a cobrança de impostos e o cotidiano da população que buscava ascensão social a partir do enriquecimento trazido pelo ouro. 4.2 OURO: DESCOBERTA, EXPLORAÇÃO E CONTROLE Em meados do século XVII, quando começou a circular a notícia da desco- berta de ouro pelos bandeirantes paulistas na região do atual estado de Minas Ge- rais, aquela área contava apenas com um superintendente e um guarda-mor, não possuindo qualquer fiscalização da arrecadação dos mineiros a não ser nos portos do Rio de Janeiro, Santos e Paraty, onde foram construídas Casas de Fundição. A primeira medida realizada pela Coroa portuguesa foi, então, a compra da capitania de São Vicente (que ainda era de um donatário) no ano de 1709 como maneira de iniciar a fiscalização da região (SILVA, 2005). A agilidade para organizar a arrecadação de impostos se devia à grande quantidade de pessoas que se dirigiram para a região logo nos primeiros indícios de UNIDADE 45 que o ouro havia sido encontrado. Para se ter uma ideia de como a notícia se alas- trou rapidamente, entre os anos de 1693 e 1709, André João Antonil (nome falso do jesuíta italiano João Antônio Andreoni, por duas vezes reitor do Colégio da Bahia) escrevia o livro chamado Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas, onde discorria sobre as quatro fontes de riqueza da colônia, incluindo o ouro. Publicado no início do mês de março de 1711, dias depois o Conselho Ultramarino de Portugal pro- curou o rei para proibir sua circulação, argumentando que o livro expunha “muito distintamente todos os caminhos que há para as minas de ouro descobertas” (SOUZA, 2006). Antonil era um apologista das culturas do açúcar e do tabaco que se desen- volviam no Nordeste, e via apreensivo os possíveis benefícios trazidos pela exploração do ouro. Souza (2006) explica que o ouro das Gerais afetava diretamente os produ- tores de açúcar ao roubar-lhes escravos e desviando os gêneros necessários à subsis- tência dos engenhos. Após dois séculos de dominação inconteste, a açucarocracia Casas de Fundição: As Casas de Fundição eram locais estabelecidos pela Coroa com a função de fundir o ouro e retirar a quinta parte dele como imposto para o rei – conhecido assim como “o quinto”, ou seja, 20% do ouro que seria fundido deveria ser retirado do mon- tante. O contrabando era muito comum no período devido à facilidade em se esconder o ouro e movê-lo de lugar. A maneira que a coroa tentou resolver o problema foi proibindo que o ouro circulasse pelas vilas e cidades sem o selo real cunhado na barra de ouro depois de fundida. Era o ouro “quintado”. O Conselho Ultramarino foi fundado pelo rei Dom João IV pouco tempo depois da Restau- ração Portuguesa, no ano de 1643. Esse Conselho era responsável por tudo o que se rela- cionava às finanças e à administração dos territórios do além-mar: primeiro a África, depois as Índias e o Brasil. Dessa forma, a autorização de publicação de livros em Portugal não era de sua alçada, mas após o livro de Antonil, seus conselheiros entenderam que deveria pas- sar por eles qualquer livro que contivesse “matérias pertencentes às Conquistas” (SOUZA, 2006, p. 85). 46 via-se abalada por levas de aventureiros frequentemente malnascidos e malcompor- tados. O eixo da vida da colônia se deslocou, assim, para o centro-sul, especialmente para o Rio de Janeiro, por onde entravam escravos e suprimentos e saía o ouro das minas. Antes de terminar o século XVIII (no ano de 1763), a capital seria transferida de Salvador para o Rio de Janeiro (FAUSTO, 2015). Em poucos anos, a grande quantidade de pessoas que se deslocou até a re- gião mineradora gerou a insatisfação dos paulistas, que se consideravam com mais direitos sobre a extração do que os forasteiros. Chamada de Guerra dos Emboabas (1707-1709), o conflito entre paulistas e estrangeiros significou não a luta contra a me- trópole ou seus oficiais – cujas revoltas já haviam começado e iriam se multiplicar no século XVIII – mas sim entre os colonos. Tratava-se, no caso emboaba, da luta da rotina contra a aventura, e surpreendentemente os conservadores de então eram os aventureiros da véspera, isto é, os paulistas desbravadores que, uma vez fixados nos arraiais auríferos, desejavam explorar com exclusividade os veios sobre os quais tinham sido os primeiros a deitar os olhos. [...] os adver- sários, batizados pelos paulistas de emboabas – palavra cujo signifi- cado é obscuro mas tinha indiscutível conotação pejorativa – iam in- troduzindo técnicas novas e mais sofisticadas [...] (SOUZA, 2006, p. 82). Figura 9: Lavagem do minério de ouro, proximidades da montanha de Itacolomi Fonte: Rugendas (1835) 47 Silva (2005) retrata que em decorrência da Guerra, o monarca português criou a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, cujo governador António de Albu- querque Coelho de Carvalho tomou posso em 12 de junho de 1710. É possível perce- ber, assim, que enquanto a região do atual nordeste possuía o governo-geral e todo o aparato burocrático vindo de Portugal no intuito de administrar a produção açu- careira, mais ao sul e especialmente no interior da colônia, muito pouco vinha sendo feito pelo governo central. Com a descoberta do ouro pelos paulistas, porém, em muito pouco tempo as coisas mudariam naquela região. Com as dificuldades em construir uma Casa de Fundição na região – pedida por Dom João V, mas recusada pelos moradores das Minas – no ano de 1720 o rei decidiu dividir ainda mais a região, criando a capitania autônoma de Minas Gerais e desligando-a de São Paulo. Em 1721, chegava o governador Dom Lourenço de Al- meida, com amplos poderes para organizar a cobrança do quinto. Em 1724 final- mente o governador conseguiu instalar na região a Casa de Fundição (SILVA, 2005). Apesar da arrecadação não diminuir com o passar dos anos, o governador alertava em carta que sabia da grande quantidade de ouro que era contrabande- ado para a Bahia, para o Rio de Janeiro e para Pernambuco. Com seus
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