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Apostila - Vigotysky e Washoe

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LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO: ESTUDOS COM ANIMAIS
 	Alguns autores interpretam os resultados de estudos em animais em seu habitat natural como indicativos de que nenhuma outra espécie apresenta nada similar linguagem humana.Segundo estes autores, a maioria dos sistemas de comunicação de primatas compreende um número fixo relativamente restrito de sinais que consistem de manifestações vocais e gestuais. Tipicamente cada sinal tem uma função própria. Gritos de alarme, apresentações de corte, gestos de submissão, e gritos relacionados a alimentação estão dentre os mais comuns. Há pouca discordância de que esses sistemas de comunicação não possuem as propriedades geralmente associadas com a linguagem humana, tais como arbitrariedade e dualidade de estrutura.
 	Outros animais, inclusive nossos vizinhos mais próximos, chimpanzés e outros primatas não-humanos, não parecem capazes de desenvolver uma linguagem falada como a humana. Uma das limitações que têm se imposto áqueles que tentaram ensinar nossa linguagem a esses animais é a própria estrutura do aparelho vocal. Viki, a chamada de Hayes e Hayes (Hayes e Hayes, 1952), por exemplo, só conseguiu aprender a dizer duas palavras após dois anos de tratamento!
 	No entanto, não ser capaz de produzir os sons da fala humana, não significa incapacidade para aprender e usar linguagem . A linguagem, é certamente, muito mais do que vocalização. O aspecto da linguagem que mais tem sido discutido nos últimos anos pela psicolingüística, é a produtividade. Será que outros animais são capazes de utilizar um sistema de regras para gerar sentenças, ou seja, será que são capazes de desenvolver esse aspecto tão característico da linguagem humana? Será que esta habilidade é exclusivamente humana e depende de um ´´órgão de linguagem`` exclusivo da espécie humana como diz Chomsky? 
 	Pesquisadores examinaram esta questão, removendo a barreira da vocalização, ensinado a Linguagem Americana de Sinais a chipanzés. Os Gardners (Gardners e Gardners, 1969, 1975) foram pioneiros ao tentar ensinar linguagem à chimpanzés Washoe. No projeto Washoe, a chipanzé foi exposta a linguagem de um modo similar ao que ocorre com crianças que estão adquirindo linguagem.A chipanzé morava em um trailer no quintal dos Gardners e era criada como se fosse uma criança humana. A linguagem de sinais era utilizada para comunicação em situações do dia á dia. Os pesquisadores trabalhavam, até certo ponto, como babás de Washoe e se utilizavam da linguagem durante a preparação de suas refeições, banho e brincadeiras, como qualquer pai e mãe fazem com um bebê humano. Além disso os pesquisadores não usavam linguagem falada na presença da chipanzé; a comunicação entre eles também era feita através de sinais. Isto era feito para evitar que a chipanzé se ´´ empolgasse`` e se utilizasse de vocalizações.
 	Washoe foi um verdadeiro sucesso. Ela rapidamente aprendeu a usar corretamente vários sinais. Além disso ela fazia um uso produtivo de linguagem. Quando não conhecia o nome de um objeto, ela inventava um. Por exemplo, ao ver pela primeira vez um pato ela combinou as palavras água e pássaros para designa-lo. Ela também generalizava o q aprendia e aplicava sinais aprendidos em dado contexto e em situações novas. Por exemplo, quando aprendeu o sinais para ´´abrir``,passou a usa-lo em novos contextos (abrir a porta ; abrir a janela ; abrir a torneira).
	O que foi dito sugere que Washoe foi capaz de dominar os aspectos semânticos de itens lexicais individuais. A compreensão e utilização de aspectos sintáticos da língua é, no entanto, outra questão. E, ao q parece , Washoe não dominava tão bem esses aspectos. Sentenças como ´´Roger faz cócegas em Washoe`` e ´´Washoe faz cócegas em Roger`` eram usados como se fossem a mesma coisa. Washoe não utilizava a ordem das palavras para veicular significado, uma ferramenta sintática amplamente utilizada em línguas humanas.
Apesar das dificuldades encontradas por Washoe no que concerne a sintaxe, isto não significa que ela fosse completamente ignorante no que concerne a gramática. Questões como ´´Quem é você?``; ´´o que tem na caixa?`` ou ´´quando Washoe escova os dentes?``, requerem respostas de uma categoria gramatical particular, e eram respondidas adequadamente pó Washoe, na maioria das vezes.
Muitos psicolinguistas (Terrace, Pelito, Sanders e Bever, 1979) Levantaram dúvidas a respeito das habilidades de Washoe e outros chimpanzés em estudos semelhantes ao dos Gardners. Uma das principais críticas feitas é a respeito de se o uso da linguagem feito por Washoe é realmente criativo ou apenas uma repetição do que os humanos faziam. Examinando filmes de uma chimpanzé chamada de Neam Chimpsky (apelidada de Nim) – uma brincadeira com Noam Chomisky - ,em interação com os experimentadores que lhe ensinavam a linguagem de sinais, Terrace observou que até certo ponto realmente o animal parecia reproduzir sinais já feitos pelos experimentadores em situações idênticas, ao invés de produzir linguagem a partir da utilização de regras como ocorre com crianças humanas.
Outros pesquisadores contestaram Terrace e colaboradores, ressaltando o fato de que Nim era ensinado em um setup de laboratório muito diferente do estudo naturalístico dos Garders. Para estudar o efeito do contexto em que a linguagem era gerada sobre a produtividade, Nim foi observado em situações estruturadas de laboratório e em interações mais espontâneas. Foi observado que o número de respostas espontâneas e não imitativas era muito mais freqüente quando Nim estava envolvido em uma conversa (60%) do que no teste de laboratório (14%). Estes dados, no entanto , são questionáveis já que se baseiam em uma única sessão de teste de 8 minutos de duração.
É interessante também notar que os chimpanzés que aprenderam a sinalizar, foram capazes de ensinar a linguagem a seus filhotes, sem a intervenção de humanos.Mas os filhotes, comparados aos bebês humanos apresentam um ritmo muito mais lento de desenvolvimento lingüístico . Loulis, um filhote adotado de Washoe , tinha vocabulário de 47 sinais aos 63 meses, enquanto que crianças normais adquirem cerca de 14000 palavras até os 72 meses de idade.A questão que per4manece em aberto é se a diferença entre os humanos e os chimpanzés é apenas uma questão de ritmo ou se é uma diferença qualitativa.
O estudo com chimpanzés e outros primatas continua. Estudos mais recentes utilizam bonobos (chimpanzés pigmeus) que, aparentemente se utilizam de vocalizações me gestos mais freqüentemente que os outros primatas em seu habitat natural. Grenfield Savage-Rumbaugh (1991) relataram que um chipanzé pigmweu foi capaz de aprender a usar adequadamente a ordem das palavras para veicular significado.Pode ser, que esta espécie já esteja mais equipada em termos neutrais para aprender linguagem.
Obviamente não podemos concluir que chimpanzés são capazes de aprender e utilizar uma linguagem humana do mesmo modo que uma criança o faz . Mas também não é possível negar terminantemente que esses animais não são capazes de fazer um uso produtivo da linguagem. Eles aparecem, pelo menos até certo ponto capazes de fazer um uso produtivo da linguagem.Eles parecem, pelo menos até certo ponto capazes de derivar algumas regras lingüísticas e aplicá-las produtivamente em situações de comunicação.Algumas diferenças, pelo menos no ritmo de desenvolvimento, parecem existir. Mas, estes estudos não se resumem a uma tentativa de ensinar primatas não- humanos a´´falar``. Para que,então, tentar ensinar uma linguagem humana a chimpanzés? Esses estudos podem trazer alguma informação a respeito da relação entre linguagens e outras funções cognitivas.Será que a linguagem é algo diferente e separado de outros processos cognitivos,ou será que mais um desdobramento desses processos? Esta questão é crucial para a compreensão do desenvolvimento da linguagem em crianças humanas.Além disso,durante muito tempo a linguagem foi tida como fator que estabelece a fronteira entre os homens e os outrosanimais.Estudos como o projeto Washoe, permitem um exame científico desta importante questão filosófica. Finalmente, esses estudos provocam um avanço das técnicas para ensino da linguagem, do qual podem se beneficiar crianças com déficits no desenvolvimento da capacidade lingüísticas.
PENSAMENTO E LINGUAGEM
Lev S. Vygotsky
Vygotsky estava preocupado em entender a relação entre as idéias que as pessoas desenvolvem e o que dizem ou escrevem. Não o fez apenas especulando em uma mesa de escritório, mas foi a campo, pesquisou, fez experiências. Extraiu conclusões como: 
“A estrutura da língua que uma pessoa fala influencia a maneira com que esta pessoa percebe o universo...” Para aqueles que vêem na linguagem apenas um código aleatório, o autor responderia: “Uma palavra que não representa uma idéia é uma coisa morta, da mesma forma que uma idéia não incorporada em palavras não passa de uma sombra.“ 
Vygotsky desenvolveu inúmeros conceitos fundamentais para que compreendamos a origem de nossas concepções e a forma como as exprimimos: “pensamento egocêntrico”, “pensamento socializado”, “conceito espontâneo”, “conceito científico”, “discurso interior”, “discurso exteriorizado”, e tantos outros.
A Origens do pensamento e da língua de acordo com Vygotsky seria explicada da seguinte mneira:
assim como no reino animal, para o ser humano pensamento e linguagem têm origens diferentes. Inicialmente o pensamento não é verbal e a linguagem não é intelectual. Suas trajetórias de desenvolvimento, entretanto, não são paralelas - elas cruzam-se. 
Em dado momento, a cerca de dois anos de idade, as curvas de desenvolvimento do pensamento e da linguagem, até então separadas, encontram-se para, a partir daí, dar início a uma nova forma de comportamento. É a partir deste ponto que o pensamento começa a se tornar verbal e a linguagem racional. 
Inicialmente a criança aparenta usar linguagem apenas para interação superficial em seu convívio, mas, a partir de certo ponto, esta linguagem penetra no subconsciente para se constituir na estrutura do pensamento da criança. 
O significado das palavras e a formação de conceitos ... um problema deve surgir, que não possa ser solucionado a não ser que pela formação de um novo conceito (Vygotsky, 1962:55) A partir do momento que a criança descobre que tudo tem um nome, cada novo objeto que surge representa um problema que a criança resolve atribuindo-lhe um nome. 
Quando lhe falta a palavra para nomear este novo objeto, a criança recorre ao adulto. Esses significados básicos de palavras assim adquiridos funcionarão como embriões para a formação de novos e mais complexos conceitos. 
De acordo com Vygotsky, todas as atividades cognitivas básicas do indivíduo ocorrem de acordo com sua história social e acabam se constituindo no produto do desenvolvimento histórico-social de sua comunidade (Luria, 1976). Portanto, as habilidades cognitivas e as formas de estruturar o pensamento do indivíduo não são determinadas por fatores congênitos. São, isto sim, resultado das atividades praticadas de acordo com os hábitos sociais da cultura em que o indivíduo se desenvolve. Conseqüentemente, a história da sociedade na qual a criança se desenvolve e a história pessoal desta criança são fatores cruciais que vão determinar sua forma de pensar.
Pensamento e linguagem difícil dizer se se trata de um fenômeno de pensamento, ou se se trata de um fenômeno de linguagem. Uma palavra sem significado é um som vazio; portanto, o significado é um critério da palavra e um seu componente indispensável. Pareceria portanto que poderia ser encarado como um fenômeno lingüístico.
 Mas do ponto de vista da psicologia, o significado de cada palavra é uma generalização, um conceito. E, como as generalizações e os conceitos são inegavelmente atos de pensamento, podemos encarar o significado como um fenômeno do pensar. 
No entanto, daqui não se segue que o pensamento pertença a duas esferas diferentes da vida psíquica. O significado das palavras só é um fenômeno de pensamento na medida em que é encarnado pela fala e só é um fenômeno lingüístico na medida em que se encontra ligado com o pensamento e por este é iluminado.
Existe uma inter-relação fundamental entre pensamento e linguagem, um proporcionando recursos ao outro. Desta forma a linguagem tem um papel essencial na formação do pensamento e do caráter do indivíduo. 
Um dos princípios básicos da teoria de Vygotsky é o conceito de "zona de desenvolvimento próximo". Zona de desenvolvimento próximo representa a diferença entre a capacidade da criança de resolver problemas por si própria e a capacidade de resolvê-los com ajuda de alguém. Em outras palavras, teríamos uma "zona de desenvolvimento auto-suficiente" que abrange todas as funções e atividades que a criança consegue desempenhar por seus próprios meios, sem ajuda externa. 
Zona de desenvolvimento próximo, por sua vez, abrange todas as funções e atividades que a criança ou o aluno consegue desempenhar apenas se houver ajuda de alguém. Esta pessoa que intervém para orientar a criança pode ser tanto um adulto (pais, professor, responsável, instrutor de língua estrangeira) quanto um colega que já tenha desenvolvido a habilidade requerida. 
Uma analogia interessante nos vem à mente quando pensamos em zona de desenvolvimento próximo. Em mecânica, quando regula-se o ponto de um motor a explosão, este deve ser ajustado ligeiramente à frente do momento de máxima compressão dentro do cilindro, para maximizar a potência e o desempenho. 
A idéia de zona de desenvolvimento próximo é de grande relevância em todas as áreas educacionais. Uma implicação importante é a de que o aprendizado humano é de natureza social e é parte de um processo em que a criança desenvolve seu intelecto dentro da intelectualidade daqueles que a cercam (Vygotsky, 1978). De acordo com Vygotsky, uma característica essencial do aprendizado é que ele desperta vários processos de desenvolvimento internamente, os quais funcionam apenas quando a criança interage em seu ambiente de convívio.
O trabalho de Vygotsky ajuda a explicar o desenvolvimento cognitivo do ser humano e também serve como base das recentes tendências na lingüística aplicada em direção a metodologias de ensino de línguas estrangeiras menos planificadas e mais naturais e humanas, mais comunicativas e baseadas na experiência prática em ambientes multiculturais de convívio

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