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Arte Românica História da Arte Profª Denise Dalle Vedove A palavra românico foi criada por um crítico francês do século XIX para tentar exprimir a universalidade dessa arte, profundamente européia, que teve como principal ponto de partida a cultura romana. No domínio da arte, o termo designa vários estilos espalhados pela Europa Ocidental, nos séculos XI e XII, que possuíam certos traços comuns, apresentando, contudo, grandes diferenças. Essas variações refletem a quebra da unidade política européia que prevalecia no tempo do Império Romano. Nesse período, o viajante que saísse da Itália e se dirigisse para a Espanha ou França, encontraria em todas as cidades, termas, aquedutos e templos relativamente idênticos. A língua oficial falada era apenas uma, o latim, e por toda parte entre gente civilizada, encontravam-se os mesmos costumes, as mesmas idéias e o mesmo modo de vida. Um único ponto comum, permite-nos falar da arte românica como uma entidade : a presença em todas essas comunidades de um mesmo sentimento religioso, porque a arte românica foi essencialmente uma arte sacra. Catedral de Saint Sernin, em Toulouse. França A arquitetura Os monumentos ao séc. XI são escassos, em razão das invasões e pilhagens dos normandos, das guerras feudais e também dos incêndios. A idéia de utilizar a abóbada nos edifícios rapidamente se fundiu, marcando um começo de grande realização. A arquitetura nesse período foi caracterizada pelo aspecto regional, traduzido na utilização de métodos engenhosos, visando resolver o equilíbrio arquitetônico na adaptação das plantas das igrejas, dos mosteiros e dos castelos. Catedral de Saint Sernin, em Toulouse, França. Os Mosteiros Após o reinado de Carlos Magno, a corte deixou de ser o centro cultural e intelectual do Império. As ciências e o ensino, a arte e a literatura estavam agora centralizados nos mosteiros. Os manuscritos ilustrados foram um dos primeiros títulos de glória. Excluindo a ilustração do livro, considerada a arte monástica por excelência, os monges, também se interessavam pela arquitetura, pela escultura e pela pintura. Eram exímios como ourives e esmaltadores, conhecendo também a arte de tecer a tapeçaria e sedas, iniciando o trabalho de encadernação, fundição de sinos e fábrica de vidros e cerâmica. Os mosteiros, como as grandes casas senhoriais, aspiravam tornar-se economicamente independentes. Em geral, um mosteiro possuía igreja, cemitério, claustro, jardim, dormitório, refeitório, galinheiro,adega, enfermaria, casa do abade, prisão, tanque de peixes, moinho, casa dos hóspedes, estábulos, celeiros, depósitos, escola pública, capelas, casa do médico, pomar e biblioteca. Catedral de Santiago de Compostela, Espanha A arquitetura das igrejas concentrava-se quase inteiramente nas mãos do clero, sendo que apenas uma parte dos operários e artistas eram monges. Sendo mais supervisores que arquitetos. A Igreja O complexo arquitetônico construído em Pisa compreende o campanário ou torre inclinada(construído um século depois), a catedral e o cemitério ou campo santo. A Catedral de Pisa (1063 a 1092) lembra uma basílica romana com a forma de uma cruz latina. A Abadia de Cluny Quase completamente destruída, a Abadia de Cluny, na Borgonha, construída no início do séc. X, exerceu profunda influência na cristandade dos séculos posteriores, inclusive além de suas fronteiras. As igrejas deviam possuir relíquias santas. A popularidade das relíquias dependia, em parte, do poder milagroso que possuíam. Portanto, uma igreja que tivesse um certo número de relíquias estava favorecida, não só pelo número de fiéis, mas também devido à quantidade de ofertas. A Escultura Os artistas românicos redescobriram a escultura, cuja prática os primeiros cristãos haviam perdido por completo, temerosos dos excessos do culto pagão ao corpo humano. Trata-se, porém, de uma escultura inteiramente subordinada aos propósitos arquitetônicos. Não são encontradas estátuas soltas, formando seu próprio ambiente, mas estátuas-colunas esgueirando-se pelas pilastras: cenas inteiras esculpidas nos capitéis. Nos relevos que ornamentam os capitéis românicos são utilizados os motivos mais diversos: figuras de demônios, animais fantasiosos, formas vegetais e geométricas que se mesclam às representações de personagens do Antigo e Novo Testamento. Não somente os animais e a folhagem, mas também as figuras humanas têm função ornamental no conjunto total da igreja. De acordo com o espaço a preencher, essas figuras são curvadas e torcidas, esticadas ou reduzidas no seu tamanho. A decoração estrutural da igreja românica não se limita ao interior, mas estendia-se também à fachada. A Pintura Com exceção de algumas tentativas, a arte românica desenvolveu muito mais a iluminura do que a pintura, preferindo explorar as possibilidades expressivas da cor e do desenho quando estas acompanhavam um texto que visava completar a informação. Iluminura: arte que, nos antigos manuscritos e em certo número de incunábulos (livro impresso até o ano de 1500), alia a ilustração e a ornamentação, por meio de pintura em cores vivas, ouro e prata, de letras iniciais, flores, folhagens, figuras e cenas, em combinações variadas, ocupando parte do espaço comumente reservado ao texto e estendendo-se pelas margens, em barras, molduras e ramagens. Música No século VI, o papa Gregório Magno, deu novo impulso ao uso da música na igreja. O canto litúrgico sempre fizera parte dos ofícios cristãos. A música proveniente de fontes gregas, romanas e hebraicas era de qualidade simples, para vozes de alcance modesto. Entretanto, cantada em uníssono (diz-se do som que tem a mesma altura que outro), num ritmo livre e fluente, tinha comovente poder melódico e expressão. Ao começar o reinado de Gregório Magno, foi essa música plana ou cantochão ( canto litúrgico da igreja católica do Ocidente, essencialmente monódico, cujo rítmo se baseia apenas na acentuação e nas divisões do fraseado : canto gregoriano), reorganizada e codificada, conhecida atualmente como canto gregoriano, que se tornou a música litúrgica oficial da Igreja. É uma música estritamente vocal. Conclusão O estilo românico foi durante muito tempo considerado como um simples preâmbulo do estilo gótico. De fato, foi a primeira fase de um processo de arquitetura medieval, que culminou no gótico. A arte românica foi uma arte monástica, mas ao mesmo tempo uma arte da aristocracia. A combinação dessas características mostra bem como era a solidariedade entre o clero e a nobreza. Os postos mais importantes da igreja medieval eram reservados, como na velha Roma, para os membros da aristocracia. Os abades e os bispos estavam relacionados com o sistema feudal não só pela sua estirpe nobre, mas também pelos interesses econômicos e políticos. Erguidos no meio de vastas propriedades, dominando as encostas das montanhas com uma paisagem que abrangia os vales da região, com as suas muralhas alcantiladas (rocha escarpada, talhada a pique) e maciças como se fossem baluartes (fortaleza inexpugnável, lugar seguro), os mosteiros eram domínios tão senhoriais e inatingíveis como as fortalezas e os castelos dos príncipes e barões. Nada mais natural, portanto, de que a arte criada nesses mosteiros apresentasse o carátere a concepção próprios da aristocracia. F i m
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