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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Projeto Pós-graduação Curso Gestão Hospitalar Disciplina Bioética em Serviços Hospitalares Tema 01 Conceitos em Ética e Bioética Professor João Luiz Coelho Ribas Introdução A evolução da gestão de unidades hospitalares está diretamente ligada à história e à evolução da Medicina, à concepção da unidade hospitalar e à evolução dos conceitos éticos e bioéticos. Portanto, esta disciplina tem como objetivo principal possibilitar um intercâmbio entre a ética e bioética hospitalar e a função do gestor nesse meio, com seus anseios e suas dificuldades. Nesse tema, acompanharemos a evolução da bioética desde a sua concepção até o seu estado nos dias atuais, entrelaçando seus conceitos e conhecimentos com o nosso dia a dia, os nossos conhecimentos, as nossas dificuldades e incertezas. Para mais detalhes, não deixe de assistir ao vídeo de introdução do professor João. Problematização Imagine que chegou ao seu conhecimento no Comitê de Ética da instituição em que você trabalha, para sua avaliação e conduta, a seguinte situação: há muitos anos, um barco afundou ao se chocar contra um iceberg. Um dos botes salva-vidas estava cheio e vazando, e para reduzir a carga, jogaram 14 homens ao mar. Duas irmãs de homens que foram jogados também se atiraram. Os critérios utilizados foram que casais não seriam separados e todas as mulheres seriam preservadas. Dessa forma, todos os que ficaram no bote CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 salvaram-se e o marinheiro foi o único membro da tripulação processado por homicídio. O juiz disse que o certo seria terem sorteado as pessoas a serem salvas, sendo sua sentença a seguinte: “Em nenhuma forma, além desta (sorteio) ou outra similar, eles teriam direitos iguais em bases iguais, e em nenhuma outra forma é possível resguardar contra a parcialidade e opressão, violência e conflito”. A sentença do juiz foi criticada, baseada no argumento de que essa situação de crise envolvia uma “aposta” muito alta para ser simplesmente resolvida com uma “jogada”, e as responsabilidades eram muito grandes para serem deixadas a cargo do destino. Agora você precisa emitir um parecer sobre o fato. Então, o que você faria? Para Início de Conversa O fator primordial do novo gestor hospitalar não é se preocupar somente com a administração geral do hospital, mas também com cada detalhe que acontece na sua unidade, na recepção, no consultório do médico, no posto de enfermagem, no quarto do paciente e, especialmente, como estão seus recursos humanos e a qualidade dos seus profissionais, de forma a equilibrar as atividades administrativas e assistenciais. Nessa complexa e multifacetada organização de saúde surge a Bioética Hospitalar, de caráter essencial e presença obrigatória nos dias atuais em cada canto do hospital e em cada mente profissional. Em meio às discussões de moral, ética, leis e princípios e com o rápido desenvolvimento tecnológico, houve excepcional desenvolvimento do método científico, o qual buscava provar que tudo o que, até então, era observado empiricamente era de fato real e cientificamente existente. Discussões cada vez mais acaloradas surgiram a respeito da vida e da sua manipulação por meio de experimentação, o que culminou na forma de diagnóstico e tratamento CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 que utilizamos hoje. Para ilustrar a discussão ética referida anteriormente, assista ao vídeo “Uma reflexão sobre a complexa relação entre ética e desenvolvimento científico”, o qual está disponível no link: <http://www.youtube.com/watch?v=g9Pmavlq 1S0>. E a nossa formação ética e bioética como está? Quando pensamos hoje em ética, especialmente associada à área da saúde, pensamos automaticamente no contato que tivemos durante o nosso desenvolvimento profissional, mais especificamente durante a nossa formação universitária. O problema é que na grande maioria das vezes em que vivenciamos qualquer discussão envolvendo ética, esta estava muito provavelmente inserida em uma matéria, em um caso clínico ou em algo que talvez estivesse na mídia e que indignava a nós e aos nossos professores. De fato o que nos falta – digo isso a todos nós profissionais que de uma forma ou de outra estamos envolvidos com a saúde, o bem-estar e a melhora ou manutenção da qualidade de vida de nossos pacientes – é o desenvolvimento de um raciocínio bioético que deveria nos capacitar para o que hoje chamamos de “bioética ao pé do leito”, ou seja, decisões que precisamos tomar (e na maioria das vezes não temos a escolha de pedir a opinião a um colega) e que podem colocar em jogo o que acreditamos e, especialmente, colocar em jogo o diploma e a competência que exibimos. Infelizmente, apesar de a ética ser ampla e nos trazer desafios diários, muitas universidades restringem-se a transmitir conhecimento ético na disciplina de Deontologia e não no desenvolvimento do raciocínio ético, pois em Deontologia, na maior parte das vezes, aceita-se e não se discute, diferente da ética que, geralmente, discute-se, mesmo que não cheguemos a uma unidade. No entanto, qual é, de fato, a grande diferença entre ética, bioética e CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 deontologia e qual a relação com a gestão hospitalar? Ficou curioso e quer saber a resposta? Basta acessar o vídeo no material digital e ver a resposta com o professor João. Em termos de definição temos: Ética – estuda fatos referentes à conduta humana, suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal a um determinado tempo e sociedade (FERREIRA, 2004). Assim, a ética diz respeito aos princípios e valores morais que direcionam a nossa conduta perante a sociedade para não haver prejuízos a ninguém. Bioética – tem como objetivo enfatizar o conhecimento biológico e os valores humanos, incluindo a visão, a decisão, a conduta e as normas morais das ciências da vida e dos cuidados com a saúde, em um contexto multidisciplinar, garantindo o respeito à pessoa humana desde o início de sua vida até o término dela (POTER, 1971, p. 127). Portanto, sua finalidade é de nos auxiliar a participar racional e cautelosamente no processo da evolução biológica e cultural. Deontologia – são regras fixadas por uma categoria profissional, tendo um papel regulador da ação profissional, para que esta seja exercida adequadamente de acordo com o momento histórico social, estabelecendo condutas e punindo transgressões (LUCATO; FRANÇA, 2007). Lembrando que, além desses conceitos, outros dois são essenciais neste processo e valem a pena ser mencionados: é o de moral e o de lei, de acordo com Ferreira (2004): Moral – do latim morale, “relativo a costumes”. Conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para um grupo ou pessoa determinada. Lei – regra de direito ditada por uma autoridade estatal (elaborada e CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 votada pelo poder legislativo) e se tornando obrigatória para manter a ordem e o desenvolvimento em uma determinada comunidade. O que você acha de ilustrarmos com um exemplo os conceitos de moral, ética e lei? Seria interessante, não é mesmo? Para isso, vá até o material digital e não perca o vídeo do professor João. Vale lembrar que quando falamos de ética, assim como de lei, elas são influenciadas de forma decisiva pela cultura de um povo e a época histórica que esse povo está vivendo. Assim,podemos notar que suas “normas” e “regulamentações” não são de forma alguma estagnadas, sendo alteradas sempre que exista uma situação, ou uma sequência de fatos, que pode levar Estado, País ou Organizações a promoverem discussões e mudanças éticas sobre certo tema em um contexto determinado. Um exemplo recente dessa aplicação para os padrões da bioética foi a legalização do aborto de fetos anencéfalos no Brasil, em 2012. Discussões gerais a respeito do aborto de fetos anencéfalos podem ser visualizadas no site: <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,em-decisao- historica-stf-decide-que-aborto-de-feto-anencefalo-nao-e-crime-imp-,860498>. Sempre devemos salientar que, muito além do que qualquer discussão, a ética é de fato e direito uma responsabilidade de todos, ou seja, é mais do que uma responsabilidade pública, é responsabilidade minha, sua de nosso colega, de nosso vizinho, enfim, de todos. Garrafa (2005) ilustra muito bem isso afirmando que a ética pode ser analisada sob três aspectos fundamentais: a responsabilidade individual, pública e coletiva. Ética da responsabilidade individual: refere-se ao papel e ao compromisso que cada um de nós tem de nós mesmos e de nossos semelhantes, moldadas por ações individuais, coletivas, públicas ou privadas; Ética da responsabilidade pública: diz respeito essencialmente ao papel e aos deveres do Estado não só em relação a temas como a CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 cidadania e os direitos humanos, mas também ao cumprimento das resoluções que versam diretamente e especialmente sobre saúde e vida; Ética da responsabilidade planetária: diz respeito à preservação dos ecossistemas e da natureza como um todo. Responsabilidade individual do Estado enquanto política de governo e de todas as nações mundiais. Enfim, Garrafa (2005) quer nos chamar a atenção para a necessidade do compromisso e da responsabilidade e, ao mesmo tempo, da liberdade e da consciência. Por isso a imediata necessidade do desenvolvimento do raciocínio ético e bioético, não somente em nós profissionais de saúde, mas também na população em geral, para que todos possam usufruir igualmente de seus direitos e deveres. Vamos conversar sobre bioética? Um dos grandes problemas da bioética é definir de fato e direito sua área de abrangência. Da forma com que se apresenta atualmente, a bioética é uma instância de juízo e, mesmo englobando aspectos normativos, não é uma deontologia, mas sim uma prática que está em contato direto com as determinações da ação no ramo da biologia da vida. Em outras palavras, bioética são os conceitos, as normas e os argumentos que dão valor e justificam do ponto de vista ético os nossos atos, os quais podem ter efeitos irreversíveis sobre a vida. Todos nós concordamos que bioética “envolve a ética da vida”, mas temos o desafio de definir onde de fato iniciam-se as discussões bioéticas e onde elas terminam. É fácil pensarmos que essas discussões em relação à vida humana iniciam-se onde a vida inicia e terminam onde ela termina, mas, de fato, onde se dá o início e o término da vida? Não se preocupe que o professor João vai explicar isso e tirar sua dúvida, basta acessar o material digital e assistir ao vídeo. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 Em termos históricos, todas essas concepções e discussões iniciaram-se em 1970, quando o termo “bioética” foi pela primeira vez utilizado. Quem fez essa inserção foi o pesquisador americano Van Rensselaer Potter, em seus trabalhos sobre bioquímica oncológica. No entanto, em termos históricos, alguns historiadores defendem que esse termo já teria sido utilizado em 1927 por um pastor protestante, filósofo e educador, com o objetivo de descrever as relações éticas humanas com animais e plantas. De qualquer forma, independentemente de quando foi primariamente utilizada, a bioética nunca pretendeu estar somente entre as discussões e ações de profissionais de saúde, juristas, filósofos, religiosos e pesquisadores em geral, mas sim fazendo parte de toda a sociedade, pois a bioética trata, em última análise, da preservação da vida, o que de fato interessa a todos os seres humanos. Sendo assim, cabe a nós colocarmos em mente que o verdadeiro enfoque da bioética é de fato a interdisciplinaridade, o pensar diferente, a integração e a corresponsabilidade na integração entre áreas. Portanto, o modelo de bioética foi fundamentado (e ainda são seus pilares de inserção) em um modelo de complexidade e leva em consideração vários aspectos em sua formação e orientação à tomada de decisão. Entre esses aspectos que configuram a diversidade de abrangência e o fundamento da bioética, podemos citar: aspectos culturais; aspectos políticos; aspectos psicológicos; aspectos educacionais; aspectos científicos; aspectos econômicos; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 aspectos espirituais; aspectos profissionais; aspectos assistenciais; aspectos biológicos; aspectos sociais; aspectos morais; aspectos legais. Com certeza essa rica complexidade de aspectos que integra a bioética faz com que ela, por si só, não tenha consequentemente uma definição simples, mas diversa, como ilustrada a seguir por teóricos que tentam definir e conceitualizar a bioética. Potter: “Eu proponho o termo Bioética como forma de enfatizar os dois componentes mais importantes para se atingir uma nova sabedoria, que é tão desesperadamente necessária: conhecimento biológico e valores humanos” (POTTER, 1971); Reich: “Estudo sistemático da dimensão moral – incluindo a visão, decisão, conduta e normas morais – das ciências da vida e dos cuidados à saúde, empregando uma variedade de metodologias éticas em um contexto interdisciplinar” (REICH, 2004); Ramos: “A bioética como parte da ética, ramo da filosofia que enfoca as questões referentes à vida humana e, portanto, à saúde. Ambiciona contribuir para um desenvolvimento controlado das ciências da vida, garantindo o respeito da pessoa humana e dos valores democráticos essenciais. A bioética, como objetivo de estudo, também trata da morte, que é inerente à vida” (RAMOS, 2007). Independentemente da forma, do termo, ou do conceito usado, em última análise, todos concordam que a discussão magma da bioética é: até que ponto nós temos o direito de manipular, em qualquer fase da vida, outros seres CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 humanos, animais e plantas de forma muitas vezes grosseira, incrédula e desrespeitando seus direitos e suas escolhas. Em relação a discussões sobre bioética, sua origem e seus conceitos, leia os artigos “Bioética: origens e complexidade”, no link: <http://www.bioetica.ufrgs.br/complex.pdf>, e “Bioética”, no link: <http://www.scielo.br/pdf/reben/v57n5/a20v57n5.pdf>. Princípios e Desafios da Bioética Antes mesmo de começar sua leitura a respeito do assunto, procure no seu material digital o vídeo do professor João, o qual explicará um pouco sobre os princípios e os desafios da bioética. Desde o surgimento das definições de Bioética fez-se necessário o estabelecimento de um caminho mais concreto para se analisar os casos e os problemas éticos relacionados à assistência à saúde sob o prisma da bioética. Para tal intuito, em 1979, os norte-americanos Tom Beauchamp e James Childress publicaram um livro denominado “Princípios da Ética Biomédica”. Esse livro expressa e fundamenta os principais pilares da bioética, norteando os profissionais da área da saúde à forma e açãofrente às discussões, especialmente as que envolvem a saúde e o bem-estar de seus pacientes. A esses pilares da bioética, Beauchamp e Childress deram o nome de princípios básicos da bioética, são eles: beneficência; não maleficência; respeito à autonomia; justiça. Siqueira (2008) chama a nossa atenção ao dizer que “todos os dilemas bioéticos, sob o prisma dos quatro princípios, passaram a ser exercício rotineiro em tomadas de decisões ao pé do leito. Além do que, antes de qualquer CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 tomada de decisão devemos considerar indispensável a realização de uma ampla reflexão sobre os valores e condutas a serem adotados, após ampla deliberação entre profissional de saúde e paciente, para que as mesmas assegurem ser as mais prudentes possíveis”. O princípio da beneficência De acordo com esse princípio, especialmente quando estamos falando da área da saúde, temos a obrigação moral de agir sempre em benefício do outro. Esse princípio orienta-nos, de forma clara e precisa, a sempre fazer o melhor ao nosso paciente, independentemente de sua condição física, social e cultural, sempre focando a minimização de riscos e a maximização dos benefícios, independentemente do tratamento ofertado. O princípio da não maleficência Esse princípio nos diz que não devemos causar qualquer tipo de dano ao paciente, e isso é mais do que uma exigência bioética, é uma exigência moral de todo profissional de saúde. Vale a pena ressaltarmos que muito mais do que não causar o mal, a falta desse princípio pode ser vista como uma situação de prática negligente, e sempre quanto maior o risco de causar dano, maior e mais justificado deve ser o objetivo do procedimento para que este possa ser considerado, sem relutância alguma, um ato bioeticamente correto. O princípio de respeito à autonomia O respeito à autonomia é um dos pilares mais importantes da bioética. Sob esse prisma, a pessoa tem o direito de decidir fazer ou buscar o que julga melhor para si, sem a interferência de quem quer que seja. Cabe ao profissional de saúde, nesse caso, por exemplo, auxiliar o paciente a superar seus medos e sentimentos, fornecendo subsídios para que ele possa classificar suas preferências e seus valores, e discutir suas opções, seus riscos e benefícios. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Entretanto, ao final, somente a própria pessoa deve decidir, pois ela sabe o que de fato é melhor para si naquele determinado momento. Caso a escolha seja por não aceitar um tratamento medicamentoso e/ou cirúrgico, essa decisão deve ser respeitada. Para essa situação existem sim algumas exceções como: a incapacidade, especialmente quando falamos de crianças e adolescentes, devendo os pais ou responsáveis exercerem esse princípio para tais indivíduos; a incapacidade por perda de consciência nas patologias neurológicas e psiquiátricas graves; em situações de urgência, devido ao fato de precisar agir rápido; a obrigação legal de notificação de doenças, cuja notificação é compulsória; quando existe um grande risco para saúde de outra pessoa, cuja identidade é conhecida; quando o indivíduo recusa-se, sem maiores explicações, a ser informado e participar das decisões e evolução de seu caso. Assim sendo, para que o indivíduo possa exercer essa autodeterminação, são necessárias sempre duas condições fundamentais: a capacidade de agir intencionalmente – o que pressupõe o decidir coerentemente com a sua vontade entre alternativas que lhe são apresentadas – e a liberdade, no sentido de que sua decisão deve ser livre de qualquer influência, especialmente por parte do pesquisador e do profissional de saúde, por mais que este pense ser o melhor caminho a ser escolhido pelo indivíduo. O princípio da justiça Esse princípio está associado basicamente às relações entre grupos. Na área de saúde, agimos de acordo com ele quando possibilitamos, por exemplo, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 integralmente a igualdade de oportunidade de acesso aos benefícios que emergem da necessidade de uma ampla e irrestrita distribuição justa da assistência à saúde individual e coletiva. Agora, para aprofundar ainda mais seus conhecimentos sobre os princípios apresentados, recomendamos a leitura dos artigos “Princípios da Bioética”, no link: <http://www.pucrs.br/bioetica/cont/joao/ principiosdebioetica.pdf> e “Bioética: princípios ou referenciais?”, no link: <http://www.saocamilo-sp.br/pdf/ mundo_saude/41/20_bioetica_principio.pdf>. O que você acha de fazer uma revisão sobre os principais conceitos da bioética? Então, assista ao documentário que se encontra neste link: <http://www.youtube.com/watch?v=2WxU80MLcDY>. Revendo a Problematização Muito bem! Agora chegou a hora de você responder sobre o caso apresentado no início do material, lembra-se dele? Era sobre um barco que afundou e como o bote estava cheio e vazando jogaram 14 homens ao mar, está lembrado agora? Caso queira rever o problema antes de responder, acesse o material digital e assista ao vídeo. Opção 1: apoiaria a decisão judicial visto que, de fato, o critério do sorteio das pessoas que seriam lançadas ao mar era o mais justo, pois não se podia, nessa situação, decidir pelo fim da vida de um ou outro de forma racional. Opção 2: concordaria com a decisão judicial, lembrando que esse caso especificamente trata-se, em última análise, de um caso de eutanásia voluntária, no qual se causou a morte “apropriada” de pessoas mais fracas, debilitadas ou em sofrimento, justificada pelos critérios de escolha das pessoas que foram atiradas ao mar. Opção 3: aceitaria a conduta do juiz, mas disporia que ninguém deveria ter sido processado pelas mortes, pois certamente houve um consenso racional CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 quanto aos critérios de “seleção” das pessoas a serem atiradas ao mar. Acesse o material on-line e confira o feedback comentado das alternativas. Síntese Neste tema, observamos como que o raciocínio bioético vai se desenvolvendo e a evolução de seus conceitos e suas definições, especialmente quando aplicados os princípios da bioética, pilares essenciais ao desenvolvimento do tema. Ainda não acabou, vá ao material digital e encontre o vídeo de síntese do professor João para mais algumas informações do que vimos hoje sobre a bioética, a qual é muito importante para o seu futuro. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 Referências BEAUCHAMP, T. L.; CHILDRESS, J. F. Princípios de Ética Biomédica. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2002. COHEN, C.; FERRAZ, F. C. Direito humano ou ética das relações?. In: Bioética. 3. ed. São Paulo: Edusp, 2002. CONEP. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Disponível em: <http://conselho.saúde.gov.br>. Acesso em: jun. 2015. FERREIRA, A. B. H. Dicionário Eletrônico. Curitiba: Positivo, 2004. GARRAFA, V. Introdução à Bioética. Revista do Hospital Universitário UFMA, São Luís, v. 6, n. 2, p. 9-13, 2005. GUILHEM, D.; DINIZ, D. A ética na pesquisa no Brasil. In: DINIZ, D.; GUILHEM, D.; SCHUKLENK, U. Ética na Pesquisa. Brasília: Letras Livres/UNB, 2005. LIMA, W. M. Bioética e Comitês de Ética. Conep, 2004. POST, S. T. Introduction. Encyclopedia of Bioethics. 3. ed. 2004. POTTER, V. R. Bioethics: Bridge To The Future. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1971. RAMOS, D. L. P.; CRIVELLO JUNIOR, O. Fundamento da Odontologia: Bioética e Ética Profissional. Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan, 2007. SIQUEIRA, J. E.; ZOBOLI, E.; KIPPER, D. J. Bioética clínica. São Paulo: Gaia, 2008. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 Atividades Quando falamos em ética, estamos relacionando especialmente o estudo dos fatos referentes à conduta humana, um pouco diferente da moral que relaciona os costumes e a lei, que aborda as regras determinadas por uma autoridade estatal. Sobre esse item, denomine o que se relaciona à ética, à moral ou à lei. a. Em um caso de assassinato, o ato das pessoas saberem que não devemos tirar a vida de uma pessoa pode-se relacionar ao conceito de ética. b. Quando o assunto matar ou não matar é discutido por uma população dentro de uma sociedade, podemos relacioná-la à lei. c. No caso em que um político foi preso devido a uma conduta inadequada com o dinheiro público, estamos frente a uma questão de lei. d. Um cirurgião encontrou uma gaze no abdômen de seu paciente, a qual foi esquecida por um colega seu em uma cirurgia anterior. Para não causar problemas ao seu colega, jogou a gaze sem que ninguém visse. Nesse caso de acobertamento, podemos relacioná-lo à lei. Um homem com 82 anos de idade, lúcido e ativo, procura atendimento em uma unidade de saúde queixando-se de fraqueza e fadiga, vômito sanguinolento e perda de peso constante. Durante os exames, detectou-se nesse senhor um câncer em estágio avançado. A filha do idoso pede à equipe de saúde que não informe o diagnóstico ao paciente, por motivos pessoais e familiares. Observando-se os princípios da bioética, que procedimento a equipe de saúde deveria realizar? a. Observando o princípio da justiça, eles não deveriam contar nada ao paciente, visto se tratar de um senhor de 82 anos, o que poderia piorar o seu quadro clínico. Sendo assim, seria mais justo dizer que se CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 tratava, por exemplo, de uma úlcera em formação. b. Observando o princípio do respeito à autonomia, o paciente tem o direito de saber de seu diagnóstico e os possíveis agravos à sua saúde que um câncer pode lhe trazer. Ele tem a autonomia de querer ou não o tratamento e o prolongamento de sua vida por métodos muitas vezes invasivos, os quais serão necessários nesse caso. c. Observando o princípio da beneficência, a equipe não deve contar o diagnóstico, visto se tratar de um caso possivelmente sem solução, no qual o melhor tratamento possivelmente seria não tratar. d. Observando o princípio da não maleficência, o ideal seria não contar, pois contar poderia agravar mais o quadro. A Bioética apareceu no início dos anos 1970, não como mais uma disciplina a fazer parte dos currículos acadêmicos ou como um simples avanço da deontologia, mas como um verdadeiro movimento cultural que tem como amplo objetivo estudar a ética referente às novas situações relacionadas à vida e à morte das pessoas. O extraordinário progresso alcançado pela biologia e pela medicina nos últimos anos ocasionou transformações no próprio modo de viver e de morrer da humanidade. Sobre bioética, está correta a afirmação: a. A bioética, por ser uma normativa, possui papel de justiça, uma vez que fornece as bases para imputação de responsabilidade aos que a violam. b. A bioética diz respeito somente às situações proporcionadas pelos avanços em saúde adquiridos nas últimas décadas. c. A visão bioética tem seu foco em compromissos globais frente ao equilíbrio, à preservação do ambiente e à relação homem/natureza. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 d. A bioética engloba a deontologia, mas não se limita a ela, pois esta se estende muito além dos problemas deontológicos na relação entre homem e profissional. Imagine a seguinte situação: você está de plantão em uma das noites mais agitadas em um hospital público de sua região. Várias pessoas estão à espera de atendimento, pois falta estrutura para atender altas demandas por falta de profissionais. Todos que estão de plantão fazem o possível para conseguir atender, porém, quanto mais atendem, mais pessoas chegam em diferentes estágios de gravidade. Um dos pacientes que chegaram era seu irmão, estava com uma forte dor de estômago, de gravidade relativamente baixa. Apesar de você saber que a gravidade era baixa, tomou a decisão de: a. Passá-lo na frente, pois nada mais justo (observando o pressuposto da justiça) do que auxiliar seu irmão em um momento desses. b. Passá-lo na frente, pois a família sempre em primeiro lugar. c. Não passá-lo na frente observando o pressuposto da equidade. d. Não passá-lo na frente descaradamente, pois iria “pegar mal”, mas colocá-lo em uma sala e pedir para que um colega seu o atendesse. Vários autores tentaram, ao longo dos anos, definir a bioética, porém, cada um tem a acrescentar um ao outro. Portanto, em termos gerais, podemos definir bioética como sendo: a. Um conjunto de leis que se tornam obrigatórias para manter a ordem e o desenvolvimento em uma determinada comunidade. b. O estudo dos costumes de uma determinada sociedade, válidas para um grupo ou pessoa determinada. c. O estudo da moralidade da conduta humana, relacionando-se a tudo CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 onde existe vida, e compreendendo desde o momento de seu surgimento até a sua finalização. d. O estudo de todas as formas de seres vivos e inanimados. Acesse o material on-line para ver as repostas das alternativas.
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