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apostila de CDC

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APOSTILA DE DIREITO DO CONSUMIDOR
Aplicação: 	Oitavo Período do Curso de Direito da UGB/FERP
Bibliografia:
GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado pelos autores do Anteprojeto, 8ª ed. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.
CAVALIERI FILHO, Sérgio, Programa de Direito do Consumidor. São Paulo: Atlas, 2008.
UNIDADE I: O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR:
Aspectos históricos
Dispositivos constitucionais. Origem e finalidade.
Princípios que norteiam as relações consumeristas.
A Política Nacional das Relações de Consumo. 
Conceitos: consumidor, fornecedor, produtos e serviços. 
O consumidor perante a Teoria Finalista, Maximalista e Finalista Atenuada.
Para o Mestre João Batista de Almeida, hodiernamente, o consumo é parte indissociável do cotidiano do ser humano. É verdadeira a afirmação de que todos nós somos consumidores. Independente da classe social e da faixa de renda, consumimos desde o nascimento e em todos os períodos de nossa existência. 
I - ASPECTOS HISTÓRICOS
Devemos, inicialmente, entender quais fatos sociais que contribuíram para o surgimento do Código de Defesa do Consumidor, Lei n.° 8.078 de 11 de setembro de 1990, além de afastar a influência dos conceitos de base privatista, por serem absolutamente inadequados a sociedade capitalista contemporânea, para então, compreendermos a sua extensão e aplicação.
Cediço que o CDC foi editado em 11/09/1990. Antes mesmo de sua criação já existiam relações de consumo que eram protegidas, inadequadamente, pelas regras do direito civil. Nesse sentido, aplicamos durante quase um século às relações de consumo a lei civil e tal aplicação, naturalmente, influenciou na nossa formação jurídica, fato este que dificultou a compreensão da nova era jurídica, iniciada com sobredita lei que regula as relações jurídicas de consumo.
Assim, entender o CDC pressupõe compreender a sociedade em que vivemos, conhecida como sociedade de massa, que começou a se formar a partir da Revolução Industrial. Não obstante, cediço que o ser humano realiza atos de consumo desde sempre, há, inclusive, menção no Código de Hamurabi. Contudo, o enfoque histórico será dado a partir da história mais recente da humanidade, especialmente à época que surgiu a sociedade em consumo em massa.
Nesse momento histórico, iniciou-se crescimento demográfico nos grandes centros urbanos, proveniente do êxodo rural, gerando, com isso, um aumento da demanda e, consequentemente, o aumento da oferta. Diante dessa nova realidade, as indústrias se viram impelidas a produzirem cada vez mais. Passou-se então a pensar num modelo de produção capaz de entregar, para um maior número de pessoas mais produtos e serviços. Para isso, criou-se a chamada produção em série, a “standartização” da produção, ou seja, a homogeneização da produção.
A aludida produção homogeneizada levou a redução dos custos e ao aumento da oferta e deu tão certo que passou a alcançar um número cada vez maior de consumidor, tornando essa relação indireta e impessoal. Assim, ela rompeu com a conhecida produção artesanal, onde o consumidor conhecia pessoalmente o fornecedor e isso lhe permitia, de certa forma, controlar a produção e distribuição do produto pretendido, já que nessa ocasião a relação era direta e pessoal.
Com a segunda grande guerra o novo modelo ganhou um plus com o uso da tecnologia tornando-se o modelo padrão de produção adotado mundialmente, criando, assim, os grandes empreendedores comerciais e industriais que se tornaram a parte mais forte na relação jurídica de consumo.
 
Dentre as diversas características do aludido modelo, existem duas que interessam de perto para o estudo do direito do consumidor. A primeira caracteriza-se pela produção unilateral do fabricante, que tem como escopo ofertar um grande número de produtos ou serviços para serem adquiridos por um número cada vez maior de pessoas. Para tanto, ele cria um modelo e depois o reproduz milhares de vezes. A segunda resta evidenciada pelo gritante desequilíbrio da relação contratual que se formou, onde a parte mais fraca da relação, o consumidor, fica subordinada as regras impostas pela mais forte, o fornecedor.
Com escopo de vender os milhares de exemplares produzidos tornou-se preciso contratar em massa. Diante disso, os contratos passaram a obedecer a mesma regra da linha de produção do bem ou serviço, qual seja, cria-se, unilateralmente, um único contrato e o reproduz milhares de vezes, fazendo, com isso, surgir os contratos de adesão, assim denominado, pois não permitem a discussão das cláusulas nele contidas, impedindo o pleno exercício do elemento volitivo do contratante-consumidor.
Tomemos como exemplo uma montadora que produz mil carros e os vende a uma concessionária. Não teria sentido se a referida concessionária fizesse mil contratos diferentes para mil compradores ou no exemplo das instituições financeiras, milhões de contratos diferentes. Conforme leciona Rizzatto Nunes, quem planeja a oferta de um serviço ou um produto qualquer, por exemplo, financeiro, bancário, para ser reproduzido milhões de vezes, também planeja um único contrato e o imprime e distribui milhões de vezes.
Para realmente compreendermos a missão do CDC, devemos, portanto, romper com a memória privatista, pois caso contrário, nesse caso do contrato nos reportaríamos, entre outros, ao aforismo pacta sunt servanda, (o contrato faz lei entre as partes ou os pactos devem ser respeitados), já que no direito civil essa é uma forte característica contratual que fundamenta-se na autonomia da vontade, pois presume-se que o que ali está contido é fruto da deliberação conjunta das partes envolvidas, que se apresentam em igualdades de condição e não da imposição de uma sobre a outra.
Como vimos essa não é uma realidade nas relações de consumo, pois o consumidor não discute qualquer cláusula, apenas faz a sua adesão, experimentando uma completa diminuição do seu poder de deliberar que evidencia uma das vertentes de sua vulnerabilidade diante do fornecedor.
Como se sabe, o direito é, e realmente deve ser, uma ciência dinâmica, cambiante no tempo. Atento a isso e percebendo os fenômenos sociais que estavam ocorrendo, o legislador começou a pensar em uma forma de compensar o desequilíbrio que estava se formando nas novas relações jurídicas, principalmente, com relação a vulnerabilidade (econômica, técnica, fática, jurídica, etc.)do consumidor. Assim, os velhos dogmas começaram a ser repensados e, aos poucos, o contrato foi perdendo a sua aparência individualista para adquirir uma função social dentro da sociedade moderna.
O discurso realizado pelo presi​dente John Kennedy ao Congresso Nacional Americano em 15 de março de 1962 representa, para muitos, um marco da proteção ao consumidor. Nesta oca​sião, ele proclamou: “consumer by definition, include us all” salientando que todo consumidor tem direito, essencialmente, de ser ouvido, mas também à segurança, à informação e à escolha. O referido pronunciamento provocou debates em vários países e estudos sobre a matéria e passou a ser considerado um marco na defesa dos direitos dos consumidores.
Outrossim, verificou-se que o consumidor seria o elo mais fraco da corrente econômica capitalista, e nenhuma corrente é mais forte que o seu elo mais fraco ou nas palavras de Henry Ford "O consumidor é o elo mais fraco da economia. E nenhuma economia pode ser mais forte do que seu elo mais fraco".
Esta proclamação inspirou posteriormente legislações de proteção do consumidor em diversos países, tornando o referido dia, 15 de março, como o Dia Mundial de Proteção ao Consumidor. A partir desse pronunciamento, ocorreu uma crescente inserção da proteção ao consumidor nas constituições sendo este mais um importante passo para a fundação deste ramo jurídico. Entre os anos 1974 e 1990, cerca de 30 (trinta) países passaram por uma transição rumo à democracia. Mauro Cappelletti afirma que este processo incluiu afeitura de novos textos cons​titucionais que passam a conter a proteção ao consumidor e a tutela dos interesses difusos.
No Brasil, este rol de direitos básicos do consumidor foi acolhido pelo Código de Defesa do Consumidor e am​pliado por seu art. 6º, bem como o dia 15 de março foi proclamado como o Dia Nacional do Consumidor pela Lei 10.504 de 08 de julho de 2002.
Com a nossa Constituição Cidadã não foi diferente. Assim, o Brasil incluiu o consumi​dor como destinatário da proteção jurídica constitucional com a Constituição de 1988. O reconhecimento da defesa do consumidor representou um avanço aos direi​tos fundamentais. Da concepção individual, restrita a direitos civis e políticos, ele passa ao conceito coletivo ou grupal (criança e adolescente, consumidores idosos, torcedores), abarcando direitos sociais e difusos. 
A Carta Magna brasileira reconhece a proteção do consumidor como direito fundamental, no art. 5º, XXXII, in verbis: 
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(…)
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;
Diante de tal regra, o constituinte originário institui um direito subjetivo público geral a todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país. 
Efeitos do status de direito fundamentl.
A doutrina aponta três consequências da consagração do Dirieto do Consumidor como um fundamental. Quais sejam:
I – Proteção como parte do núcleo imodificável da CF - Trata-se, portanto, de cláusula pétrea (artigo 60, §4º da CF) 
II – Eficácia Horizontal (direta ou indireta) do direito fundamental – o Esatdo deverá garantir que os fornecedores respeitem o direito do consumidor. Será direta, quando utilizar o texto constitucional para proteção dos direito dos consumidores; será indireta, quando se utilizar norma infraconstitucional para proteção, por exemplo as normas do CDC.
III – Garantia constitucional desde novo ramos do direito, tendo em vista a força normativa da Constituição. Significa que nenhuma lei poderá desrespeitar a normatividade do CDC, pois está lastreado na força normativa da Constituição, o que garante a eficácia de suas normas.
Para alguns doutrinadores, aplica-se também a Teoria da Proibição do Retrocesso, segundo a qual, qualquer norma que tente diminuir ou suprimir direitos dos consumidores deve ser considerada inconstitucional.
 Outrossim, a CF/88 elenca a defesa do consumidor, adotando-o como princípio da ordem econômi​ca, conforme se depreende do art. 170, inciso V, a seguir: 
Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
 (...) 
V – defesa do consumidor.
Vislumbra-se então, que a defesa do consumidor é princípio que deve ser seguido pelo Estado e pela sociedade para atingir a finalidade de existência digna e justiça social, imbricado com o princípio da dignidade da pessoa humana. 
Para a doutrina, este principio possui um caráter conformador, pois autoriza a intervenção do Estado na economia - decorrência do Estado Social de Direito, bem como conforma a atuação do fornecedor, garantindo a sua livre iniciativa, mas garantindo a proteção do consumidor. É uma forma de harmonizar o sistema, evitando desequilíbrio na relação consumerista.
Assim, como nosso país adota o modelo de economia capitalista de produção onde a livre iniciativa é um princípio basilar da economia de mercado, mesmo assim, a CF/88 confere proteção ao consumidor contra os eventuais abusos ocorridos no mercado de consumo, abrindo uma brecha para a intervenção do Estado na ordem econômica.
Além disso, a Constituição confere concreção ao princípio de defesa do consu​midor através de regras referentes à competência para legislação sobre a responsabilidade por danos ao consumidor (art. 24, VIII); ao esclarecimento sobre impostos incidentes sobre mercadoria e serviço (art. 150, § 5º); à necessidade de lei sobre a concessão de serviços públicos e o direito dos usuários (art. 175, parágrafo único, II); ao esclarecimento em propaganda dos malefícios causados pelo fumo, bebida, agrotóxico, medicamentos e terapias (art. 220, § 4º), etc. 
Por fim, a Constituição determinou a elaboração de uma lei para a defesa do consumidor, dando origem constitucional ao CDC, bem diferente de como ocorre com as demais leis ordinárias em geral, conforme se depreende do art. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias:
Art. 48 - O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor.
Assim, por expressa determinação da Carta Política de 1988, atribuindo, portanto, origem constitucional, surge o CDC para fazer frente a nova realidade fática e, consequentemente, jurídica da expansão mundial do consumerismo e regular o princípio constitucional da defesa do consumidor.
INFLUÊNCIA
O Código de defesa do consumidor foi inspirado em vários modelos legislativos estrangeiros, mas foi o Código de Consumo Francês nossa principal influência. Salienta-se que o CDC foi uma norma extremamente revolucionária, servindo, hoje, como modelo para outros países da América Latina.
O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR => Lei Ordinária n.° 8.078 de 11 de setembro de 1990.
CONCEITO
Conjunto de regras e princípios que regula a tutela de um sujeito especial de direitos, a saber, o consumidor, como agente privado vulnerável, nas suas relações frente a fornecedores.
CARACTERÍSTICAS DA LEI
OBJETO e FINALIDADE
O direito consumerista é concebido como conjunto de princípios e regras destinadas à proteção do consumidor, logo se verifica que não é o consumo o objeto central da tutela instituída (como ocorre na França), e sim o próprio consumidor.
TERMINOLOGIA
Esta terminologia também se revela por ser mais adequada do ponto de vista constitucional e legal, pois como vimos a defesa do consumidor é preocupação expressa no art. 5º, XXXII da CF/88.
NORMA COGENTE
Verifica-se da simples leitura do artigo 1º do CDC que se trata de norma cogente, cuja observância de seu preceitos se torna obrigatória, pois não tolera renúncia de direito.
Não bastasse, é considerada um norma de ordem pública e de interesse social, o que permite a intervenção do juiz de oficio , a fim de que seja preservado o interesse do consumidor e o interesse social. Assim, o juiz pode inverter o ônus da prova de oficio, declarar nulidade de clausula abusivas, etc. (exceção Súmula 381 do STJ.
O interesse social permite que se combata os abusos não só das partes, mas de toda a coletividade, pois as relações jurídicas de consumos são disseminadas.
MICROSSISTEMA JURIDICO
O CDC ao lado de outras leis como a das Locações (Lei 8.245/91), do Seguro (Dec. Lei 73/66), dos Condomínios e Incorporações (n°. 4.591/64) entre outras, criam o que se chama de microssistema jurídico ou subsistema autônomo, instituindo uma tutela especial protetiva, muito similar da legislação trabalhista, da criança e do adolescente, do idoso e outras leis ou estatutos tendentes a criar uma esfera particular de normatização. 
Outrossim, é importante ressaltar que o CDC, diante de uma relação jurídica de consumo e na qualidade de subsistema e norma especial, prevalece sobre as demais regras exceto claro, com relação a Constituição, como de resto qualquer norma de hierarquia inferior, sendo ainda, aplicado às outras normas de forma supletiva e complementar.
Dessa forma, verifica-se que o CDC possui posição de destaque dentro do ordenamento jurídico, sendo uma norma supra legal com uma malha principiológica própria, certo que eventual conflito aparente de normas será resolvido com a aplicação da norma mais benéfica ainda queestá não seja o CDC, conforme dispõe o artigo 7º, a seguir transcrito:
Art. 7º - Os direitos previstos neste Código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e eqüidade.
	STJ – O microssistema jurídico criado pela legislação consumerista busca dotar o consumidor de instrumentos que permitam um real exercício dos direitos a ele assegurados e, entre os direitos básicos do consumidor, previstos no art. 6.º, VIII, está a facilitação da defesa dos direitos privados.
 
Ademais, para Rizzatto Nunes, o CDC é uma lei principiológica, modelo até então inexistente no Sistema Jurídico Nacional. Como lei principiológica entende-se aquela que ingressa no sistema jurídico de forma horizontal, atingindo toda e qualquer relação jurídica que possa ser caracterizada de consumo e que também seja regrado por outra norma jurídica infraconstitucional, levando a sua aplicação a todas as áreas do direito, seja público, privado, contratual, extracontratual, material, formal, mas que, frisa-se, se caracterize uma relação jurídica de consumo.
Nesse sentido, ensina Nelson Nery Júnior quando discorre sobre a proteção contratual no CDC, comentado pelos autores do anteprojeto da editora Forense Universitária – página 444, 7ª edição, “Optou-se por aprovar lei que contivesse preceitos gerais, que fixasse os princípios fundamentais das relações de consumo. É isto que significa ser uma lei principiológica. Todas as demais que se destinarem, de forma específica, a regular determinado setor das relações de consumo deverão submeter-se aos preceitos gerais da lei principiológica, que é o Código de Defesa do Consumidor”.
O Mestre Sérgio Cavalieri Filho bem ensina quando afirma, que hoje, tudo ou quase tudo é relação de consumo: saúde, habitação, segurança, transportes, alimentação, medicamentos, e assim, por diante: Somos mais de 180 milhoes de consumidores no Brasil, sem contar as pessoas jurídicas, gerando diariamente outros tantos milhões de relações de consumo. Seria uma temeridade, e até uma impossibilidade, se o legislador pretendesse retirar dos múltiplos diplomas legais tudo aquilo que se relaciona com os direitos ou interesses do consumidor, para concentrar tudo isso em um minissistema jurídico. Isso seria impraticável. Por isso, sem retirar as relações de consumo do campo do Direito onde por natureza se situam, sem afastá-las de seu natural habitat, o Código do Consumidor irradia sobre elas a sua disciplina, colorindo-as com as suas tintas. Vale dizer, a disciplina do Código de Defesa do Consumidor alcança as relações de consumo onde quer que venham a ocorrer.
Tomemos como exemplo da sua inserção horizontal um contrato de seguro de automóvel, pois continua sendo regrado pelo Código Civil e pelas demais normas editadas pelos órgãos que regulamentam o setor (SUSEP, instituto de Resseguros, etc.), entretanto, também está submetido a todos os princípios e regras da Lei 8.078/90, ressaltando que esta ultima prevalece sobre aquelas. Igualmente ocorre com os serviços públicos, pois continuam regidos pelas leis e princípios de Direito Público, mas o que for pertinente as relações de consumo fica também sujeitos a disciplina do CDC.
Diante disso, não é mendaz afirmar por força constitucional surgiu um novo direito que figura na relação de consumo e como tal, tem campo de aplicação próprio, objeto próprio e princípios próprios.
Sua aplicação não retroage a sua vigência, exceto nos casos de prestações sucessivas, em que o contrato é por prazo indeterminado, a exemplo dos planos de saúde.
POLÍTICA NACIONAL DE RELAÇÕES DE CONSUMO
Adotar uma Política Nacional significa adotar uma orientação global para disciplinar as relações de consumo. A Política Nacional de Relações de Consumo está contemplada pelo artigo 4° do CDC e deve fundamentar-se em diversos princípios que permeiam todo o CDC, sendo inclusive utilizados como direitos básicos do consumidor. 
Ressalta-se, que os objetivos da Política Nacional de Defesa do Consumidor, previstos no artigo 4º do Código de Defesa do Consumidor, consistem no atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde, segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos determinados princípios. Tais princípios consubstanciam no estabelecimento de alguns pressupostos básicos previstos pela lei, a serem observados pela sociedade (também o Poder Público), que servem de diretrizes para todo o sistema de proteção e defesa do consumidor. 
Para efetivação destes princípios, o Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 5º, dispôs sobre os instrumentos que devem ser utilizados, como a assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente; criação de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério Público; criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo; criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas. 
Conforme se depreende da simples leitura do artigo 4º da Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de 1990), vários são os princípios gerais da defesa do consumidor que visam proporcionar o atendimento das necessidades dos consumidores, levando-se em consideração sua dignidade, saúde e segurança, bem como a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, transparência e harmonia nas relações entre eles e seus fornecedores de produtos ou serviços.
Vejamos então, os incisos e princípios mais importantes e não somente aqueles adotados pela Política Nacional de Relações de Consumo: 
PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR
O princípio em baila é, na verdade, a primeira medida da isonomia, garantida pela Constituição Federal. Significa dizer que o consumidor é a parte mais fraca da relação jurídica de consumo. Essa fraqueza é real, concreta e decorre de vários aspectos entre os quais temos o aspecto econômico, o técnico e o aspecto fático.
O aludido princípio está contemplado expressamente no CDC, em seu artigo 4°, I, a seguir transcrito:
Art. 4° (…)
I – reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo.
As suas vertentes serão estudadas quando da análise do conceito de consumidor, haja vista ser este o sujeito que ostenta esse título por não possuir qualquer controle sobre o processo produtivo (produção, distribuição e comercialização), pois apenas participa em sua última etapa (consumo).
Como bem ensina o mestre Antônio Hermam Benjamim, vulnerabilidade não se confunde com hipossuficiência, para ele, a vulnerabilidade é um traço universal de todos os consumidores, ricos ou pobres, educados ou ignorantes, crédulos ou espertos. Já a hipossuficiência e a marca pessoal, limitadade de alguns – até mesmo de uma coletividade – mas nunca de todos os consumidores (....) A vulnerabilidade do consumidor por si, justifica a existência do Código. 
PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA
O principio da transparência consta em diversos artigos do CDC de forma implícita e explicita como é o caso do caput do artigo 4.°do CDC, conforme segue:
Art.4° A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios. (grifei)
Nas relações de consumo, o que se quer é uma conduta transparente de ambas as partes. As partes não podem contratar de maneira ambígua, com reserva mental, elas devem expor uma á outra as suas pretensões, as suas expectativas.Foi-se o tempo dos contratos redigidos em linguagem hermética, impenetrável, técnica, que o contratante não podia decifrar e, por isso, somente depois percebia que tinha sido enganado.
Tamanha é a necessidade de transparência que o próprio CDC determinou expressamente que haja transparência nas relações de consumo. Igualmente ocorreu com outras leis que lhes seguiram, inclusive para alterá-lo, pois reafirmaram a necessidade de transparência nas relações de consumo, come ocorreu com a Lei 11.785/2008 que determinou que a fonte n.° 12 deverá ser utilizada nos contratos de adesão, igualmente, a Lei 11.989/2009 acrescentou o parágrafo único no art. 31 do CDC, dispondo que as informações, nos produtos refrigerados devem ser gravados de forma indelével, ou seja, não podem delir, desvanecer, apagar, a exemplo do queijo, iogurte, margarina, pizza, etc
O que se busca com a transparência é permitir que os contratos, uma vez lidos, por pessoas comuns, sejam por elas compreendidos. O princípio da transparência decorre do dever de informar do fornecedor e do direito a informação do consumidor, que torna defeso a criação de barreiras à informção a fim de ocultar desvantagens ao consumidor ou a enganosa valorização das vantagens que o contrato lhe trará. 
PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO
Visa suprir a deficiência técnica do consumidor, ou seja, a vulnerabilidade técnica do consumidor diante do produto e serviço colocado a disposição no mercado de consumo. O fornecedor deve informar o consumidor tudo que ele precisa saber sobre aquele produto/serviço, em especial, no que tange a sua segurança, qualidade, características, funcionamento, preço, etc.
Assim, ainda que o consumidor adquira um produto importado, o manual deve estar em português a fim de que o mesmo possa ser compreendido. Acabou-se o tempo que consumidor comprava um determinado produto importado, inclusive no supermercado, e ficava sem saber quais eram os seus componentes ou como era o seu funcionamento. 
O aludido princípio está contemplado expressamente no inciso II do artigo 6°, entre outros artigos, senão vejamos:
Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:
(…)
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
O direito a informação trata-se de um dever exigido mesmo antes do início de qualquer relação. A informação passou a ser um componente do produto ou serviço que não podem ser ofertados no mercado sem ela.
PRINCÍPIO DA SEGURANÇA
O princípio da segurança garante a proteção à vida e a saúde dos consumidores determinando que os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não poderão acarretar riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis. Neste último caso o fornecedor tem o dever de informar ao consumidor os riscos que o produto pode causar as medidas para mitigá-los, como nos casos os produtos de limpeza, os defensivos agrícolas, remédios, entre outros.
O princípio de segurança resta contemplado no caput do artigo 4°, e inciso I do 6°, bem como na estrutura do sistema de responsabilidade civil. Por isso mesmo é que vamos encontrá-lo no parágrafo dos artigos 12 e 14 do CDC.
Art. 4º - A Política Nacional de Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria de sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das 
relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:
Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE
O parágrafo único do art. 7° estabeleceu o princípio da solidariedade legal para a responsabilidade pela reparação dos danos causados ao consumidor, conforme segue:
Art. 7º  ( ... )
Parágrafo único - Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.
Outrossim, a norma estipulou de forma implícita a responsabilidade solidária quando atribui a responsabilidade aos fornecedores, ou seja, deixando firmado a obrigação de todos os partícipes da cadeia de produção, conforme se extrai da leitura dos artigos 12 a 20.
Isso significa que o consumidor pode escolher a quem acionar: um ou todos. Como a solidariedade obriga a todos os responsáveis, simultaneamente, todos respondem pelo total do dano causado.
Do ponto de vista processual a escolha do consumidor em mover a ação contra mais de um responsável está garantido na forma de litisconsórcio facultativo, descrito no artigo 113 do CPC.
O principio da solidariedade aparece novamente nos artigos 12 e 18, caput, nos parágrafos 1° e 2° do artigo 25, no parágrafo 2° do art. 28 e no art. 34, entre outros. Dessa forma, tanto a responsabilidade por vício ou defeito será solidária.
PRINCÍPIO DO ACESSO À JUSTIÇA
O presente artigo está contemplado no inciso II do art. 6° do CDC que garante a ampla proteção de acesso aos órgãos administrativos e judiciais para proteção e garantia de seus direitos enquanto consumidores, o que implica abono e isenção de taxas e custas, nomeação de procuradores para defendê-los, atendimento preferencial, entre outros.
Outro ponto que merece destaque é o fato de que acesso a justiça difere de acesso ao judiciário. Sendo este último estendido a todas as pessoas por força da própria Constituição Federal.
O acesso a justiça aqui tratado é o direito que o consumidor tem de receber uma resposta do Estado rápida e efetiva, conferindo utilidade ao provimento jurisdicional. Para tanto, o CDC criou regras que tornam o acesso e a resposta ao judiciário mais eficiente, como, por exemplo, a inversão do ônus da prova, a responsabilidade solidária, a proibição, como regra, de intervenção de terceiros.
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ
 O princípio da Boa fé vem da necessidade de criar uma harmonia nas relações de consumo entre os seus partícipes. Essa harmonização nasce fundada na boa-fé que resta estampada no inciso III do artigo 4° do CDC, como cláusula geral de uma relação jurídica de consumo, o que importa dizer que ela estará inserida em toda relação assim considerada.
A boa-fé aqui tratada é a objetiva, ou seja, decorre da própria relação de consumo que seria uma regra de conduta que deve ser obrigatoriamente observada pelos dois pólos da relação de consumo, isto é, tanto o consumidor quanto o fornecedor devem agir conforme certos parâmetros de honestidade e lealdade a fim de se estabelecer o equilíbrio nas relações de consumo.
Assim, boa-fé objetiva, conforme Cláudia Lima Marques, “significa atuação refletiva, uma atuação refletindo, pensando no outro, no parceiro contratual, respeitando-o, respeitando seus interesses legítimos, suas expectativas razoáveis seus direitos, agindo com lealdade, sem abuso, sem obstrução, sem causar lesão ou devantagem excessiva, cooperando para atingir o bom fim das obrigações”.
Com base nesse princípio, torna-se lícito ao juiz, modificar as cláusulas de um contrato se verificar que é abusiva ou, da mesma forma que poderá modificar ou rever de alguma clausula, a pedido do consumidor, quando demonstrar que, por motivo superveniente, o mesmo tenha se tornado excessivamente oneroso. 
Enfim, boa-fé objetiva é a ética negocial, ou seja, o comportamento ético, padrão de conduta, tomando como paradigma o homem honrado, leal e honesto.
RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO
O Código de defesa do Consumidor não conceitua relação jurídica de consumo, mas para que ele seja aplicado é preciso que o caso concreto se caracterize como uma relação jurídica de consumo.
Nelson Nery Júnior define relação jurídica de consumo como sendoa relação jurídica existente entre fornecedor e consumidor, tendo por objeto a aquisição de produtos ou a utilização de serviços pelo consumidor.
Com o conceito acima noticiado, podemos identificar os elementos da relação jurídica de consumo em subjetivos e objetivos. No primeiro encontram-se os sujeitos da relação, consumidores e fornecedores no segundo o objeto, a razão pela qual realizaram a relação, sendo este os produtos ou serviços.
Nesse contexto, para que haja efetiva relação jurídica de consumo torna-se necessário identificar num dos pólos da relação o consumidor no outro, o fornecedor, que pode tomar forma de fornecedor real (fabricante, produtor construtor e prestador de serviços) fornecedor presumido (importador) e fornecedor aparente (comerciante) e devem estar transacionando produtos ou serviços.
	
Assim, será efetiva a relação de consumo quando ocorrer direta transação entre o consumidor e fornecedor. Será, entretanto, presumida quando realizada por simples oferta ou publicidade inserida no mercado de consumo, bem como pela ocorrência de um acidente de consumo que cause dano a terceiro, ainda que este não tenha participado diretamente de uma relação de consumo.
Temos, portanto, no art. 2°, caput, do CDC a definição do titular merecedor de uma proteção integral, denominado consumidor em sentido próprio. Além deste, há outros três consumidores denominado equiparados que restam dispostos, respectivamente, no parágrafo único do art. 2º; no art. 17 e 29. A técnica da equiparação permite que certos sujeitos que não figure, efetivamente, em uma relação jurídica de consumo, possam fazer uso restrito do Código.
Inicialmente, nos preocuparemos com a definição de Consumidor sentido próprio, chamado pela doutrina de consumidor padrão, standard ou stricto sensu, cuja lei disponibiliza sua tutela integral e que é exatamente a que apresenta mais conflito em razão do uso do termo “destinatário final”. 
CONSUMIDOR STANDARD
Assim, o Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 2º, caput, define: 
Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. 
Parece fácil, mas é muito árduo o labor no sentido de se exarar a precisa definição de consumidor, pois temos que levar em conta a acirrada divergência conceitual em torno do significado do vocábulo “destinatário final”. 
Como vimos, o problema surge com a definição de destinatário final, em razão da sua ambigüidade. Diante do termo em baila surgiram algumas correntes, sendo as mais relevantes a que seguem:
CORRENTE SUBJETIVA OU FINALISTA
Essa teoria analise o que é feito com o produto ou serviço sob os aspetos fático e econômico, por isso, subjetivista.
Para a corrente finalista, o destinatário final seria a pessoa que retira o produto ou serviço não apenas da cadeia de produção, mas também da cadeia do mercado, assim caracterizado como sendo aquele que utiliza o produto para o seu benefício pessoal ou da sua família e que não usa como meio de produção de outro produto ou serviço ou, ainda para revendê-lo. Não se admite, portanto, que o consumo se faça com vistas à incrementar uma atividade profissional lucrativa, qualquer que seja a sua destinação.
Nesse sentido, é necessário dar destinação final fática e econômica ao produto ou serviço, ou seja, é preciso retirar do mercado de consumo e esgotá-lo economicamente (não pode ser utilizada em novo ciclo de produção)
Como exemplo, imagine que um advogado adquira um ar condicionado para colocar no seu escritório, incorporando em sua atividade laboral para dar maior conforto aos seus clientes, podendo, com isso, aumentar o preço da consulta ou mesmo captar novos clientes. Para essa corrente esse advogado não seria consumidor, pois não estaria utilizando o bem como destinatário final, mas estaria incorporando-o no seu labor para auferir renda. Diferente seria se ele utilizasse o mesmo aparelho em seu quarto dando-lhe uma destinação pessoal, pois nesse caso e, somente nessa hipótese, ele seria considerado consumidor.
Assim, a corrente subjetiva entende ser imprescindível para a conceituação de consumidor que a destinação final seja entendida como fática e econômica, isto é, que a aquisição de um bem ou a utilização de um serviço satisfaça uma necessidade pessoal do adquirente, seja ele pessoa física ou jurídica desde que esta não desenvolva atividade econômica organizada e ainda, não objetive o desenvolvimento de outra atividade negocial ainda que a sua utilização não esteja vinculada a atividade fim.
Nesse contexto, a corrente sbjetivista, restringe o conceito de consumidor às pessoas fisicas ou jurídicas, não profissionais, que não desenvolvam atividade econômica organizada por caracterizar uso intermediário. Não se admite, portanto, que o consumo se faça com intuito de incrementar atividade profissional lucrativa e isto, ressalte o produto ou serviço à revenda ou a integração do processo de transformação, beneficiamento ou montagem de outros bens ou serviços, que simplesmente passe a compor o ativo fixo da atividade profissional desenvolvida pelo consumidor.
Não há de se cogitar em consumo final, mas intermediário, quando um profissional adquire produto ou usufrui serviço com o fim de, direta ou indiretamente, dinamizar ou instrumentalizar seu negócio lucrativo.
CORRENTE MAXIMALISTA OU OBJETIVA
Essa teoria pouco importa com o que é feito com o produto ou serviço, tendo, pois conceito jurídico, exceto no caso de revenda.
A corrente maximalista ou objetiva tenta ampliar as hipóteses de incidência do CDC, sustentando, em síntese que o destinatário final é aquele que retira o produto do mercado, ainda que para usá-lo como meio de produção.
Assim, defende que a expressão “destinatário final” deve ser interpretada de forma ampla, bastando que o consumidor seja o destinatário fático de bem ou serviço, isto é, que retire do mercado, encerrando objetivamente a cadeia produtiva em que foi inserido o fornecimento do bem ou da prestação do serviço, não podendo apenas, ser objeto de revenda.
No exemplo citado acima, o advogado que comprou o ar-condicionado para o seu escritório seria destinatário final, portanto. Igualmente ocorreria no caso de hipotético de uma grande pessoal jurídica ao adquirir um computador como instrumento de trabalho de um de seus funcionários de um pequeno fonercedor, ou seja, a única exigência é que se dê ao bem ou serviço uma destinação final fática, pouco importanto se há ou não desequilíbrio na relação decorrente da vulnerabilidade deste adquirente.
Adeptos da corrente maximalista defendem que para a definição legal de consumidor, ex vi o art. 2º do CDC, basta que o consumidor seja o destinatário final de produtos e serviços, incluindo aquilo que é utilizado, adquirido para empenho de atividade ou profissão, bastando, para tanto, que não haja a finalidade de revenda.
Não há razão plausível para se distinguir o uso privado do uso profissional, o importante é a ausência de intermediação ou revenda.
Os maximalistas defendem em última análise que o CDC seria um Código geral de consumo, para toda a sociedade de consumo, devendo aplicar uma interpretação extensiva para que as suas normas possam servir cada vez mais às relações de mercado.
Assim, a doutrina maximalista prega a interpretação mais extensa possível e considera a definição do art. 2º puramente objetiva, não importando se tem ou não objetivo de lucro quando adquirido o produto ou serviço.
Destinatário final seria, portanto, o destinatário fático, ou seja, aquele que retira do mercado o produto ou serviço e utiliza ou consome. O uso privado ou econômico-profissional não infere na definição de consumidor desde que o produto ou serviço não integre diretamente o seu processo de produção, transformação, montagem, beneficiamento ou revenda da atividade fim do adquirente.
Assim, a aquisição de um computador ou software, para o exercício profissional da advocacia poucoimporta se por um advogado principiante ou por grande banca de advocacia, a presente corrente qualifica ambos como consumidor, pois não se apoia na vulnerabilidade do adquirente que no caso da banca poderá não exsitir. Da mesma forma, a aquisição de gasolina por um taxista ou por uma empresa de ônibus, colocaria ambos sob a êgide do CDC. Portando, sendo o taxista ou a grande empresa destinatários finais, podem ser perfeitamente considerados consumidores.
TEORIA FINALISTA ATENUADA
Cláudia Lima Marques partiu do viés da vulnerabilidade para melhor definir a figura do consumidor.
POSIÇÃO DO STJ 
A linha de precedentes adotada pelo STJ inclinava-se pela teoria maximalista ou objetiva, posto que vinha considerando consumidor o destinatário final fático do bem ou serviço, ainda que utilizado no exercício de sua profissão ou empresa.
Neste sentido: vide Resp 208.793/MT, Min. Carlos Alberto Menezes Direito, Terceira Turma, unânime, DJ 01/08/2000; Resp 329.587/SP, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito. Terceira Turma, unânime, DJ 24/06/2002, Resp 286.441/RS, Min. Rel. Antônio de Pádua Ribeiro, DJ 03/02/2003.
Resp 286.441/RS, DJ 03/03/2003, Resp 488.274/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJU 23/06/2003, Resp 468.148/SP, DJU 23/06/2003, Resp 445.854/MS, Rel. Castro Filho, 3a. T. DJU 28/10/2003.
Depois de 10.11.2004, especificamente, com o julgamento do REsp n.° 541.867/BA, na segunda Seção do STJ, Rel. Min. Barros Monteiro, a corrente subjetivista prevaleceu: “não há falar em relação de consumo quando a aquisição de bens ou utilização de serviços, por pessoa natural ou jurídica, tem como escopo incrementar a sua atividade comercial.” 
O recurso acima julgou o caso de uma pequena farmácia que se filiou ao sistema de cartões de crédito, mas que por erro da administradora do cartão que teria efetuado o pagamento a terceiro que não a farmácia, pela compra realizada no seu estabelecimento. Após delonga discussão sobre a configuração ou não da relação jurídica de consumo o STJ, por maioria, decidiu pela inexistência.
Por fim, hodiernamente, após o REsp n.° 476.428/SC - 2005, verifica-se que o STJ passou a adotar a teoria finalista atenuada/mitigada/abrandada/aprofundada que suaviza os conceitos trazidos pelo CDC, reconhecendo como consumidor a pessoa física ou jurídica que adquire o produto ou utiliza o serviço, mesmo em razão de sua atividade econômica tendo em vista a necessidade de se equilibrar as relações entre fornecedores e consumidores, quando verificada a vulnerabilidade destes com relação aqueles.
Assim, a corrente subjetivista sofreu certo abrandamento, a fim de admitir a aplicação do CDC quando a aquisição do produto ou serviço, ainda que feita para incremento de atividade profissional, mas que entre os sujetios da relação esteja presente a vulnerabilidade do adquirente em relação ao fornecedor.
A exemplo, podemos citar o caso da 3º Turma do STJ que demonstra a ampliação do conceito de consumidor a uma pessoa que utilize determinado produto para fins de trabalho e não apenas para consumo direto. Nesse sentido, a 3ª turma negou provimento a recurso especial interposto pela Marbor Máquinas Ltda., de Goiás, que pretendia mudar decisão de primeira instância. A decisão beneficiou uma compradora que alegou ter assinado, com a empresa, contrato que possuía cláusulas abusivas.
A consumidora-costureira, Sheila de Souza Lima, ajuizou ação judicial pedindo a nulidade de determinadas cláusulas existentes em contrato de compra e venda firmado com a Marbor para aquisição da determinada máquina de costura, mediante pagamento em vinte prestações mensais. O acórdão de primeira instância aceitou a revisão do contrato da compradora, de acordo com a aplicabilidade do CDC.
Mas, ao recorrer ao STJ, a Marbor alegou que não se configura como relação de consumo um caso em que o destinatário final adquire determinado bem para utilizar no exercício da profissão, conforme estabelece o CDC. Argumentou, ainda, que de acordo com o CPC, a ação deve ser julgada no foro eleito pelas partes - uma vez que, no contrato firmado, foi eleito o foro da comarca de São Paulo/SP - para dirimir eventuais controvérsias da referida relação contratual, e não a comarca de Goiânia/GO - onde correu a ação. 
RECURSO ESPECIAL Nº 1.010.834 – GO
(2007/0283503-8)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : MARBOR MÁQUINAS LTDA
ADVOGADO : JOSE ROBERTO CAMASMIE ASSAD E OUTRO(S)
RECORRIDO : SHEILA DE SOUZA LIMA
ADVOGADO : VALÉRIA DE BESSA CASTANHEIRA LEÃO E OUTRO(S)
EMENTA PROCESSO CIVIL E CONSUMIDOR. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE MÁQUINA DE BORDAR. FABRICANTE. ADQUIRENTE. VULNERABILIDADE. RELAÇÃO DE CONSUMO. NULIDADE DE CLÁUSULA ELETIVA DE FORO.
Ao proferir seu voto, a Ministra Relatora do recurso no âmbito do STJ, Nancy Andrighi, considerou que embora o Tribunal tenha restringido anteriormente o conceito de consumidor à pessoa que adquire determinado produto com o objetivo específico de consumo, outros julgamentos realizados depois, voltaram a aplicar a tendência maximalista. Dessa forma, agregaram novos argumentos a favor do conceito de consumo, de modo a tornar tal conceito "mais amplo e justo", conforme destacou.
A ministra enfatizou, ainda, que "no processo em exame, o que se verifica é o conflito entre uma empresa fabricante de máquinas e fornecedora de softwares, suprimentos, peças e acessórios para a atividade confeccionista e uma pessoa física que adquire uma máquina de bordar em prol da sua sobrevivência e de sua família, ficando evidenciada sua vulnerabilidade econômica". 
Por conta disso, a relatora entendeu que, no caso em questão, pode sim ser admitida a aplicação das normas do CDC a determinados consumidores profissionais, "desde que seja demonstrada a vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica" da pessoa. Os ministros que compõem a 3ª turma acompanharam o voto da relatora e, em votação unânime, negaram provimento ao recurso da empresa Marbor.
Voltemos ao exemplo de um advogado que adquire livros ou computadores para usá-los profissionalmente. Para os maximalistas, quer se cuide de um profissional iniciante ou de um grande e conceituado escritório de advocacia o CDC iria incidir sobre a transação. Entretanto, para os finalistas, ambas relações (advogado iniciante ou grande banca) estariam excluídas da incidência do CDC, por não restar caracterizada a figura do consumidor no adquirente, seja ele o profissional liberal ou grande escritório. Entretanto, como vimos o STJ passou a adotar a corrente subjetivista atenuada e isso quer dizer que a figura do consumidor se caracteriza pela posição do vulnerável em relação ao fornecedor, pouco importando tratar-se de pessoa fisíca ou jurídica, ainda que o consumo seja para incremento de atividade profissional, ou seja, teoricamente, o CDC iria proteger a figura do pequeno advogado, mas o mesmo não ocorreira com a grande banca, conforme segue:
REsp 476428 / SC
RECURSO ESPECIAL 19/04/2005
2002/0145624-5 Direito do Consumidor. Recurso especial. Conceito de consumidor. Critério subjetivo ou finalista. Mitigação. Pessoa Jurídica. Excepcionalidade. Vulnerabilidade. Constatação na hipótese dos autos. (...) - A relação jurídica qualificada por ser "de consumo" não se caracteriza pela presença de pessoa física ou jurídica em seus pólos, mas pela presença de uma parte vulnerável de um lado (consumidor), e de um fornecedor, de outro.
- Mesmo nas relações entre pessoas jurídicas, se da análise da hipótese concreta decorrer inegável vulnerabilidade entre a pessoa-jurídica consumidora e a fornecedora, deve-se aplicar o CDC na busca do equilíbrio entre as partes. Ao consagrar o critério finalista para interpretação do conceito de consumidor, a jurisprudência deste STJ também reconhece a necessidade de, em situações específicas, abrandar o rigor do critério subjetivo do conceito de consumidor, para admitir a aplicabilidade do CDC nas relações entre fornecedores e consumidores-(...). (grifei)
	
Nessalinha, não reconhecendo a vulnerabilidade do da pessoa que adquira ou utilize o produto ou serviço, consumidor será reconhecido nos moldes da teoria subjetivista, conforme segue:
DIREITO CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR. CLÍNICA DE ONCOLOGIA. COMPRA DE MÁQUINA RECONDICIONADA, DE VENDEDOR ESTRANGEIRO, MEDIANTE CONTATO FEITO COM REPRESENTANTE COMERCIAL, NO BRASIL. PAGAMENTO DE PARTE DO PREÇO MEDIANTE REMESSA AO EXTERIOR, E DE PARTE MEDIANTE DEPÓSITO AO REPRESENTANTE COMERCIAL. POSTERIOR FALÊNCIA DA EMPRESA ESTRANGEIRA. CONSEQUÊNCIAS. APLICAÇÃO DO CDC. IMPOSSIBILIDADE. DEVOLUÇÃO DO PREÇO TOTAL PELO REPRESENTANTE COMERCIAL. IMPOSSIBILIDADE. DEVOLUÇÃO DA PARCELA DO PREÇO NÃO TRANSFERIDA AO EXTERIOR. POSSIBILIDADE. APURAÇÃO. LIQUIDAÇÃO. 1. A relação jurídica entre clínica de oncologia que compra equipamento para prestar serviços de tratamento ao câncer, e representante comercial que vende esses mesmos equipamentos, não é de consumo, dada a adoção da teoria finalista acerca da definição das relações de consumo, no julgamento do REsp 541.867/BA (Rel. Min. Barros Monteiro, Segunda Seção, DJ de 16/5/2005). 2. Há precedentes nesta Corte mitigando a teoria finalista nas hipóteses em que haja elementos que indiquem a presença de situações de clara vulnerabilidade de uma das partes, o que não ocorre na situação concreta. 3. Pela legislação de regência, o representante comercial age por conta e risco do representando, não figurando, pessoalmente, como vendedor nos negócios que intermedia. Tendo isso em vista, não se pode imputar a ele a responsabilidade pela não conclusão da venda decorrente da falência da sociedade estrangeira a quem ele representa. 4. Não tendo sido possível concluir a entrega da mercadoria, contudo, por força de evento externo pelo qual nenhuma das partes responde, é lícito que seja resolvida a avença, com a devolução, pelo representante, de todos os valores por ele recebidos diretamente, salvo os que tiverem sido repassados à sociedade estrangeira, por regulares operações contabilmente demonstradas. 5. Recurso especial conhecido e parcialmente provido. (Recurso Especial Nº 1.173.060, Terceira Turma, Superior Tribunal de Justiça, Relator: Nancy Andrighi, Julgado em 16/10/2012)
A vulnerabilidade, portanto, e aqui se inclui a técnica, fática ou econômica, jurídica e informacional, é o ponto de partida fundamental para verificação da aplicabilidade ou não das normas do CDC, nos termos do STJ REsp 1195642/RJ. 
Hodiernamente, o conceito de consumidor e o seu alcance, portanto, passa necessariamente pela análise in concreto da noção de vulnerabilidade, independente do adquirente ser profissional ou não, pessoa física ou jurídica. 
O princípio, vulnerabilidade do consumidor é tido como o princípio maior que rege as relações de consumo. Com seu reconhecimento no mercado de consumo, trazido explicitamente no CDC, em seu art. 4.º, I, o legislador consumerista demonstrou a fragilidade do consumidor na relação perante o fornecedor.
          Assim considera-se que todos os princípios, direitos e garantias relacionadas ao direito consumerista advém do reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor.
Seguindo essa concepção, um taxista que adquire o veiculo para seu trabalho pode ser considerado consumidor (REsp 611.872-RJ, 2012, INFO 505) ou da empresa administradora de imóveis que adquire um avião para servir de meio de transporte de seus sócios e funcionários, havendo relação de consumo entre ela e o vendedora de aviões (REsp 1321083-PR, 2014, INFO 548), ainda da concessionária de veículos que firma contrato de seguro de responsabilidade para proteção do seu patrimônio (REsp 1352419-SP, 2014, INFO 548). 
	
Como vimos, a vulnerabilidade do consumidor decorre dos fenômenos de massificação da produção e da contratação em massa e pode, em sintese, ser verificada em algumas situações distintas, quais sejam: econômica, técnica, jurídica, fática e informacional, não obstante a doutrina abarque outras searas da vulnerabilidade, como a científica, entre outras.
VULNERABILIDADE ECONÔMICA
A regra, é que o consumidor é sempre o mais fraco na relação sob o enfoque econômico que, como vimos, é resultado do sistema capitalista estruturado na chamada produção em série, a Standartização da produção, ou seja, a homogeneização da produção.
Assim, a vulnerabilidade econômica resulta das disparidades de força entre os agentes econômicos e os consumidores, fazendo com que os fornecedores possam blindar seu negócio. Os fornecedores detêm condições objetivas de impor sua vontade seja, pela ignorância do consumidor, sua dispersão, pela pressão das necessidaddes, ou por muitos outros mecanismos. O próprio contrato de adesão é um exemplo desses mecanismos. 
VULNERABILIDADE JURÍDICA 
Essa espécie de vulnerabilidade se manifesta pela falta de conhecimentos jurídico, contábil e econômico do consumidor, o que o fragiliza diante do poderio do fornecedor que, sob a alegação de legalidade de suas práticas, fragiliza e anula uma possível discussão sobre o tema, fazendo com que o consumidor simplesmente acate as exigências do fornecedor e acabe por pagar tarifas indevidas, aceitar obrigações que não são licitas, condicionar a aquisição de um produto ou serviço a outro, entre outras práticas abusivas.
VULNERABILIDADE TÉCNICA
Mesmo na sociedade de massa em que vivemos é possível, ainda que mesmo remotamente, o consumidor não seja o mais fraco da relação sob o aspecto econômico, poderá ser quanto ao conhecimento técnico, pois, inegavelmente, é o fornecedor que possui conhecimentos sobre o processo produtivo, pois a ela cabe o monopólio da cadeia produtiva.
  A vulnerabilidade técnica é decorrente do fato de o consumidor não possuir conhecimentos específicos sobre produtos ou serviços por ele adquiridos, ficando sujeito a vontade dos fornecedores e tendo como única garantia a confiança na boa-fé da outra parte, no proceder honesto, leal do fornecedor, fato que lhe deixa sensivelmente exposto.
Esta vulnerabilidade concretiza-se pelo fenômeno da complexidade do mundo moderno, que impossibilita o consumidor de conhecer propriedades, malefícios e benefícios dos produtos e serviços adquiridos no mercado de consumo. Dessa forma, o consumidor se vê totalmente desamparado, já que dificilmente há possibilidade de saber quando determinado produto ou serviço apresenta defeito ou vício, colocando em perigo a sua incolumidade física e patrimonial. Como exemplo, suponha que uma pessoa não entenda nada de computadores, mas influenciada pelo vendedor, acaba comprando um equipamento que está além das suas necessidades e, portanto, mais caro do que o que lhe atenderia.
A vulnerabilidade técnica se caracteriza, portanto, pela falta de conhecimentos específicos sobre o produto ou serviço. É presumida no caso de consumidor não-profissional. Eventualmente, nos casos que o produto ou serviço adquirido não tiver relação com a formação, competência ou área de atuação do consumidor.
 
VULNERABILIDADE FÁTICA
Ocorre quando, em determinados mercados, somente existem um ou poucos fornecedores e o consumidor na impossibilidade de ter seu direito de escolha respeitado fica sujeito a estes fornecedores.
 Pode decorrer até da essencialidade do produto ou serviço no mercado, como no caso de saúde, educação, fornecimento de energia, disponibilidade de crédito etc. Desta forma o consumidor fica sujeito às condições impostas pelo fornecedor, pois não tem como escolher outro fornecedor.
De acordo com o atual posicionamento do STJ, o CDC tem como escopo equilibrar as partes das relações jurídicas que se formaram sob esse novo mercado de produção em massa. Nesse sentido, a relação jurídica de consumo não se caracteriza pela presença de pessoa física ou jurídica em seus pólos, mas pela presença de uma parte vulnerável de um lado (consumidor), e de um fornecedor, de outro, o que permite seu reconhecimento mesmo nas relações entre pessoas jurídicas, desde que da análise do caso concreto verificar inegável vulnerabilidadeentre a pessoa-jurídica consumidora e a fornecedora.
VULNERABILIDADE INFORMACIONAL
 
Advém da ausência, insuficiência ou complexidade da informação prestada que não permite a compreensão do consumidor. O consumidor tem direito a informação o que leva ao fornecedor o direito de informar, nos termos do artigo 6º, III do CDC. Portanto, está ligada ao consumidor consciente, por isso o fornecedor deve . 
O STJ negou provimento ao fornecedor que, sem informar claramente o consumidor, reduziu o volume do refrigerante de garrafa PET de 600 ml para 500, prática que é considerada “maquiagem de produto” ou “aumento disfarçado de preço”.
Aqui o consumidor não detém informações suficientes para realizar o processo de aquisição ou não do produto.
DOS CONSUMIDORES EQUIPARADOS
bystandard
O Código de Defesa do Consumidor estabeleceu consumidores por equiparação, ampliando a sua aplicação a terceiros que não se encaixam no conceito padrão de consumidor (destinatário final), mas que a estes se equiparam para efeitos da tutela legal, conforme estabelece dos artigos 2º, parágrafo único, 17, e 29. Tais dispositivos funcionam como normas de extensão na medida em que colocam sob o manto protetivo do CDC, as figuras ali encontradas.
Conforme já afirmado, o conceito jurídico previsto no art. 2º caput, é denominado pela doutrina como conceito padrão ou standard, entretanto, a lei consumerista reconhece outras pessoas (a coletividade de pessoas, vitimas do fato do produto ou serviço e todas as pessoas expostas as práticas comerciais e à dsiciplina contratual) como consumidoras denominando-as de consumidores por equiparação ou bystandard.
DA COLETIVIDADE DE PESSOAS 
Art. 2º (...)
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
A regra do parágrafo único do artigo 2º amplia a definição de consumidor, dada pelo caput, equiparando a ele a coletividade de pessoas, mesmo que não possam ser identificadas, desde que, tenham de alguma maneira participado da relação de consumo, (terceiros intervenientes) absorvendo bens ou serviços ou se apresenantando para tais absorções. 
A aludida regra, segundo Rizzatto Nunes, tem como escopo garantir e proteger uma particular coletividade de pessoas, como o condomínio e, por analogia, a massa falida, o espólio (mesmo que, tecnicamente, não se trate de uma coletividade de pessoa e o artigo não contemple os entes com personalidade anômala) que possam ser, de alguma maneira, afetadas pela relação de consumo. Assim, o aludido artigo amplia o caput do art. 2º e permite, por exemplo, que a massa falida ao adquirir produtos possa estar resguardada pelas regras do CDC.
O mestre Sérgio Cavalieri Filho interpreta de forma diversa o referido artigo quando diz que a regra afirma o caráter difuso do direito do consumidor, ou seja, explica que a norma visa tratar da classe dos consumidores de forma difusa ou coletiva, permitindo com isso que esteja amparado pela tutela jurisdicional coletiva. Por isso, teria no CDC previsão tanto da tutela individual, quanto da coletiva, conforme artigos 81 e 91 do CDC. Assim, para o renomado Mestre, entra em cena, portanto, a defesa dos interesses individuais homogêneos, coletivos e difusos, que podem ser objeto de ações coletivas, inclusive intentadas por associações voltadas à proteção dos direitos do consumidor, Ministério Público etc.
VITIMAS DO ACIDENTE DE CONSUMO
Art. 17 Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.
Já o artigo 17 equiparou a vítima do acidente do consumo (pessoa que foi atingida pelo fato do produto/serviço – terceiros-vítimas) como consumidor para os fins de responsabilizar o fornecedor do produto/serviço defeituoso de forma objetiva.
Quanto aos objetivos protecionistas buscados pelo legislador consumerista, Zelmo Denari cita as considerações feitas pela jurista espanhola Parra Lucan, de seguinte teor: "trata-se de impor, de alguma forma, ao fornecedor a obrigação de fabricar produtos seguros, que satisfaçam os requisitos de segurança a que tem direito o grande público”.
Cabe aqui destacar que, a regra contida no art. 17 do CDC agasalha a proteção ao terceiro que não faz parte da relação direta de consumo, logo de se concluir que, se do acidente de consumo restou prejuízo para qualquer pessoa, mesmo aquelas que não estariam enquadradas no conceito de consumidor padrão, o dever de indenizar estará presente, bem como a aplicação do diploma consumerista. Neste aspecto, Jaime Marins nos fornece um exemplo bem ilustrativo do que seja o chamado ‘bystander’ ao relatar o caso de um comerciante de defensivos agrícolas que se vê seriamente intoxicado pelo simples ato de estocagem em decorrência de defeito no acondicionamento do produto (defeito de produção). Neste caso, embora o comerciante não seja consumidor stricto sensu, poderá se socorrer da proteção consumerista.
Imagine um pedestre que atropelado em decorrência deste defeito de fabricação de um veículo adquirido por um consumidor ou de uma empresa de transporte coletivo, que após brusca colisão com uma escola, causa lesão aos seus passageiros e fere diversas crianças que ali estudavam.
Na realidade o fato do acidente que causou a lesão aos passageiros foi o mesmo fato que causou a lesão nas crianças. Ora, não restam dúvidas que os passageiros são considerados consumidores, logo poderão valer-se do CDC (e também do Código Civil por ser mais benéfico ao consumidor por regular o contrato de transporte), buscando responsabilizar o fornecedor (empresa de transporte coletivo), pelos danos causados, utilizando inclusive a responsabilidade objetiva. E as crianças?
Diante do artigo em comento o CDC chama estas pessoas (crianças) de vítimas do evento, pois foram vítimas de um acidente de consumo, vale dizer: foram vítimas de um serviço defeituoso, que expôs a vida humana em risco, daí, em razão do critério ex vi legis, tais pessoas são equiparadas aos consumidores garantindo-lhes os instrumentos do CDC. Assim, as crianças também estarão amparadas pelo CDC.
A compreensão dessa modalidade permite, inclusive que um fornecedor se tore consumidor equiparado quando se tornar vitima do produto que comercializa, como foi o caso do REsp 1288008 - MG, 2013, no qual o comerciante foi atingido em seu olho esquerdo pelo estilhaço de uma garrafa de cerveja que estourou em suas mãos quando colocava em um freezer, causando graves lesões. O comerciante foi vitima de uma acidente de consumo.
Nesse sentido, Zelmo Denari afiança que o CDC demonstra a preocupação com "terceiros" nas relações de consumo, protegendo os denominados bystanders, vale dizer, aquelas pessoas estranhas à relação de consumo, mas que sofreram prejuízo em razão dos defeitos intrínsecos ou extrínsecos do produto ou serviço.
EXPOSTOS ÀS PRÁTICAS ABUSIVAS
Art. 29 Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas
Consigna-se ainda, que o produto ou serviço defeituoso atinge o consumidor (terceiros-expostos) não só em sua incolumidade física, mas também psíquica, e para tanto, tem-se a regra do artigo 29 do CDC. 
Leciona Maria Zanardo que o consumidor equiparado é também a pessoa que foi exposta a uma prática comercial. Maria Zanardo expõe que práticas comerciais são técnicas, meios de que o fornecedor se utiliza para comercializar, vender, oferecer o seu produto ao consumidor potencial, atingindo a quem se pretende transformar em destinatário final: o consumidor/adquirente. Pela sistemática adotada pelo CDC, a expressão “Práticas Comerciais” abrange desde a oferta do produto até as cobranças de dívidas. Estende-se, pois, da pré-venda a pós-venda.
Conforme ensinamentos de Hélio Zaghetto Gama, equiparam-se ao consumidor na forma do art. 29 do CDC, as pessoas expostas à oferta, à publicidade, às práticas comerciais abusivas, às cobranças de dívidas e aos bancos de dadose cadastros. Com isso, todas as ilegalidades que os fornecedores praticarem sob esse enfoque, as vitimas serão equiparadas a consumidor.
Assim, o artigo 29, assim como o 17, apresenta-se como regra excepcionadora da abrangência original do CDC, pois amplia a incidência da legislação consumerista para além dos restritos limites da relação de consumo, originada pela relação do consumidor e fornecedor descritos no caput dos artigos 2° e 3°, respectivamente. Assim, basta que o consumidor esteja exposto áquelas práticas, prescindindo, portanto, da efetiva participação da pessoa na relação juridica de consumo (art. 2°) ou que seja atingida pelo evento danoso (art. 17). 
Conclui-se, que na sistemática adotada pelo Código de Defesa do Consumidor a definição de consumidor se alarga, indo além da figura do cosumidor strito sensu do produto e/ou serviço descrita no caput do art. 2º, para contemplar toda a coletividade de consumidores, de acordo com parágrafo único do art. 2°, além das vítimas do acidente decorrente do fato de produto e/ou serviço, na forma do art. 17, bem como aqueles que estejam expostos às práticas consideradas abusivas, conforme reza o art. 29. 
FORNECEDOR
Art. 3º - Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
O art. 3º do CDC conceitua fornecedor como sendo toda pessoa física ou jurídica nacional ou estrangeira de direito público ou privado, que atua na cadeia produtiva, exercendo atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
Conforme vimos anteriormentes, temos como elementos subjetivos da relação jurídica de consumo, a figura do consumidor e do fornecedor, onde este último pode tomar forma de fornecedor real (fabricante, produtor, contrutor e prestador de serviços) fornecedor presumido (importador) e fornecedor aparente (comerciante) e devem estar transacionando produtos ou serviços. Assim, temos que a expressão fornecedor foi utilizada pelo CDC para designar o gênero, do qual fabricante, produtor, construtor, prestador de serviços, importador e comerciante são espécies.
CONCEITO
Diferente do que ocorre com o consumidor, o conceito de fornecedor não ganhou grande discussão doutrinária em razão da amplitude do artigo 3° do CDC, pois conceitua como fornecedor todas as pessoas, naturais ou jurídicas, bem como os entes despersonalizados e os considerados como entes de personalidade anômala, que mediante suas atividades de caráter profissional ofereçam no mercado, produtos ou serviços.
Deste modo, não apenas o fabricante ou produtor originário, mas também todos os intermediários (intervenientes, transformadores, distribuidores) e, ainda, o comerciante, desde que façam disso suas atividades principais ou profissões, serão tratados pela lei, como fornecedores. Frisa-se que o rol do artigo 3º é um rol meramente exemplificativo, mas que pratica com habitualidade e mediante remuneração.
A determinação precisa de fornecedor tem grande relevância para caracterizar a relação jurídica de consumo, pois mesmo que haja na relação o consumidor como destinatário final do produto ou serviço não será relação de consumo se a figura do fornecedor não for encontrada.
Como exemplo, suponha que uma pessoa queira vender seu carro usado para adquirir um novo e assim o faz. Diante do conceito de consumidor, anteriormente estudado, verificamos que o comprador será um consumidor se adquirir o veiculo como destinatário final e não para revendê-lo. Entretanto, a relação jurídica celebrada não estará sob a égide do CDC, pois o vendedor não será considerado fornecedor já que a venda não tem caráter atividade profissional. A atividade tem que ser de caráter profissional habitual, seja cíclica ou continua, como no caso do estudante que, apesar de ser funcionário de uma empresa, vende roupas para ajudar a pagar a mensalidade. Nesse caso, sua atividade de venda é exercida com características de atividade profissional, pois faz dela uma atividade regular ainda que seja realizada de forma cíclica, já que só vende seus produtos em determinados períodos. Igual ocorre com os vendedores ambulantes das praias brasileiras, que trabalham somente alguns meses do ano.
Assim, o requisito fundamental para a caracterização da figura do fornecedor é a atividade profissional habitual remunerada, que pode ser cíclica ou continua, no exercício contínuo de determinado serviço ou fornecimento de produto.
DA PESSOA JURÍDICA
Com relação as pessoas jurídicas não há qualquer exclusão, pois o Código declarou que todas as espécies de pessoa jurídica, personalizadas ou não, podem ser fornecedores, ou seja, qualquer pessoa jurídica de direito público, interno ou externo, privado, nacional ou estrangeira, poderá figurar na relação jurídica de consumo na qualidade de fornecedora.
Com relação a pessoa jurídica estrangeira o artigo em baila se refere àquela admitida em nosso território e que, nessa qualidade, presta serviços ou venda produtos, como no caso da companhia aérea que aqui faz escalas, ou da companhia teatral estrangeira que vem ao país para realizar apresentações.
ENTES DESPERSONALIZADOS E DE PERSONALIDADE ANÔMALA
A proteção do CDC subsiste, ainda que o fornecedor seja um ente despersonalizado, ou seja, entidades despedidas de personalidade jurídica ou, por analogia, considerado de personalidade anômala, como nos casos do espólio e da massa falida. 
Por exemplo, a quebra de um fabricante de televisores não tem o condão de eliminar a garantia do funcionamento dos aparelhos, bem como afastar a aplicação do CDC, igualmente ocorreria com a morte de um prestador de serviço.
DA PESSOA FÍSICA
 No que tange a pessoa física, seja ela empresário individual ou autônomo poderá ser considerado fornecedor. Assim, o eletricista, encanador, pedreiro, o vendedor, camelô, vendedor ambulante, etc, desde que coloquem no mercado, com habitualidade e profissionalmente, produtos e serviços são considerados fornecedores.
Para facilitar a compreensão retornemos ao exemplo acima que considera fornecedor o estudante que vende roupas para ajudar a pagar a mensalidade escolar ou do ambulante que vende coco na praia. 
Certo, porém que o CDC, no caso dos “profissionais liberais” prestadores de serviços, o CDC fez uma ressalva com relação as suas responsabilidades, pois para eles, em regra necessita da análise da culpa.
Por derradeiro, o CDC utiliza-se de critério puramente objetivos para definir a figura do fornecedor, sendo irrelevante a sua natureza jurídica, assim, mesmo as pessoas que não exploram fins econômicos, como as associações e fundações, também denominadas de entidades filantrópricas ou beneficentes, podem ser consideradas fornecedor. Esse é o entendimento dos nossos trinbunais, conforme REsp n.° 519.310/SP, em parte transcrito:
“Processo Civil. Recurso Especial. Sociedade Civil, sem fins lucrativos de carárter beneficente e filantrópico. Prestação de serviços médicos, hospitalares, odontológicos e jurídicos aos seus associados. Relação de consumo caracterizada. Possibilidade de aplicação do Código de Defesa do Consumidor.”
O estatuto de torcedor equipara a fornecedor os organizadores do evento ou aquele que possui o mando de campo, por outro lado, o torcedor é considerado consumidor. Segundo o STJ, o STJD não é equiparado a fornecedor.
MERCADO DE CONSUMO
Além do que foi dito acima, a atividade profissional deve ser desenvolvida no mercado de consumo, espaço de negócio não institucional no qual se desenvolvem atividades econômicas próprias de ciclo de produção e comercialização dos produtos ou de serviços. 
Com esse entendimento, o STJ já afastou a aplicação do CDC para os seguintescasos:
- Serviços advocatícios
- Contratos de crédito educativo
- Relação condominial
- Locação predial urbana
- Previdência privada complementar fechada (Súmula 563)
Súmula 563-STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às entidades abertas de previdência complementar, não incidindo nos com tratos previdenciários celebrados com entidades fechadas. 
OBJETO DA RELAÇÃO DE CONSUMO: PRODUTO E SERVIÇOS
PRODUTO
O objeto de uma relação jurídica é o elemento em razão do qual a relação se constitui e sobre a qual recai tanto a exigência do credor, como a obrigação do de​vedor, podendo ser tanto uma coisa quanto uma prestação. Na relação de consumo, esse objeto, é determinado na atividade humana de dar um produto ou de realizar um serviço por parte do fornecedor.
Destarte, uma relação jurídica de consumo será caracterizada pela presença em um de seus pólos do consumidor padrão, assim definido pelo caput do artigo 2°, no outro polo, o fornecedor, assim definido pelo caput do artigo 3° e, finalmente, pela existência de um vínculo jurídico de direito material decorrente da celebração de contrato de fornecimento de produto (art. 3° § 1°) ou prestação de serviço. (art. 3° § 2°).
Conceito de produto
O § 1º do art. 3º do CDC define: “produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.”
Assim, produto corresponde ao elemento objetivo da relação de consumo, isto é, o objeto sobre o qual recai a relação jurídica. 
O CDC conceitua produto como sendo qualquer bem, novo ou usado, seja ele móvel, imóvel, material ou imaterial (ambiente virtual), suscetível de apropriação e que seja destinado a satisfazer uma necessidade do consumidor, isto é, aquilo que resulta do processo de produção ou fabricação. Diante do dialogo das fontes, como o CDC não traz o que é bem móvel ou imóvel, utilizam-se os artigos 79 a 84 do CC.
Bens, portanto, podem ser definidos como coisa que, diante da sua utilidade e raridade, passam a ter valor econômico e tornam-se suscetíveis de apropriação pelo homem.
 VALOR ECONÔMICO
Produto necessariamente deve possuir valor econômico, sendo o bem jurídico objeto de direito subjetivo, que goza de tutela jurídica e que possui natureza patri​monial, portanto devem ser raros e uteis. Assim estão excluídos como objeto os bens sem apreciação econômica, indisponíveis ou fora de comércio, tais como o nome, a vida, os órgãos e tecidos do corpo humano os quais estão fora do âmbito de aplicação do CDC.
Repisa-se que a exigência é que o produto tenha valor econômico, isto não quer dizer que o consumidor tenha que, necessa​riamente, pagar por ele, como exemplo das promoções leve dois e pague um.
AMOSTRA GRÁTIS 
A única referência à amostra grátis que o CDC faz é aquela do parágrafo único do artigo 39, que serve apenas para liberar o consumidor de qualquer pagamento. Não obstante, analogicamente, deve ressaltar que a amostra grátis também está submetida as exigências legais de qualidade, garantia, durabilidade, proteção contra vício, defeitos, etc., pois apesar de ter sido pago pelo consumidor, possui valor econômico.
MATERIAL OU IMATERIAL
A segunda característica do produto é diz respeito sua materialidade ou imateria​lidade. O diploma consumerista não restringe os produtos quanto à materialidade. 
Esta divisão era originária do direito romano - res corporales - em que as coisas corpóreas eram as que podiam ser tocadas pelas mãos, sendo a tangibilidade sua característica fun​damental. Nosso direito moderno, conservou a referida denominação, que aqui equivale a material.
Insta salientar, quase sempre os produtos imateriais estarão ligados a serviços, como por exemplo, pacote de turismo, mútuo bancário, energia elétrica, gás natural, pacotes de telefonia, etc.. Cediço, aliás, que não se vende um produto, seja ele material ou imaterial, sem serviço. Os gases, o fundo de comércio com os bens que compõem, etc.
 MÓVEL OU IMÓVEL 
De acordo com a definição tradicional, imóveis são as coisas que não podem ser transportadas sem destruição, de um lugar para outro. Móveis, em oposição, são bens que, sem deterioração na substância ou na forma, podem ser transportados de um lugar a outro, por força própria ou estranha. Assim os bens móveis abrangem os semoventes, (animais) e os móveis propriamente ditos (moedas, produtos, ou mer​cadorias).
Por isso, conclui-se que os produtos, quer de natureza material ou imaterial, quer móveis ou imóveis, serão objeto da relação de consumo, bastando para isso que pos​suam existência própria e sejam dotados de valor econômico.
DURÁVEL E NÃO DURÁVEL
Os conceitos de produto durável e não durável aparecem na seção que trata da decadência e prescrição, especificamente no artigo 26, I e II, pois os prazos decadenciais serão menores para os não duráveis e maiores para os duráveis. Portanto, serão tratados na oportunidade em que analisarmos tais temas. Entretanto, segue um breve conceito dos mesmos, a iniciar pelo durável. Como o próprio nome sugere, produto durável é aquele que não se extingue com o uso, ou seja, ele dura e leva tempo para se desgastar, mas não é eterno. Assim, seriam duráveis os livros, roupas, automóveis, equipamentos eletrônicos, etc. Até mesmo um imóvel construído desgasta com o tempo. Para alguns doutrinadores apenas o terreno seria um produto que não sofreria desgaste com o tempo. 
Por esse razão, o desgaste natural não poderia ser considerado um vício do produto e, por esse motivo, não há proteção legal para o desgaste natural, salvo se o fabricante tenha assumido certo prazo de funcionamento, quando a proteção passa a ser contratual.
Por sua vez, produto não durável, é aquele que acaba com o uso, ou seja, não possui qualquer durabilidade, pois quando usado, ele se extingue ou, ao menos, vai se extinguindo. A extinção poderá ser imediata, como os produtos alimentícios in natura, como a pesca, grão, vegetais, ou enlatados, engarrafados, os remédios, cosméticos etc., ou, paulatina, como sabonete, caneta, etc. 
Assim, o que diferencia um produto durável do não durável é a maneira de extinção enquanto é utilizado, pois enquanto aquele (durável) permanece tal como era após ser utilizado, o não durável perde totalmente ou parcialmente a sua existência com o uso ou vai. 
A sua distinção interessa de perto ao estudo da decadencia, pois o CDC estabelece prazos distintos para reclamação por vício do produto ou serviço, sendo mais curtos para os não duráveis e mais longos para os duraveis.
SERVIÇO
CDC Art. 3º (...)
§ 2º - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
Assim, percebe-se que o objeto da relação jurídica de consumo não está restrito apenas as coisas, mas abrange também as atividades ou ações humanas desde que alguém deva fazer ou não fazer ou obrigue-se a dar alguma coisa. À essa atividade – física ou intelectual – praticada pelo homem, através do seu trabalho, mediante remuneração direta ou indireta, denomina-se serviço. 
Inicialmente, vale esclarecer que o rol do artigo é meramente exemplificativo, mesmo porque o parágrafo em questão utiliza a expressão “qualquer”. Dessa forma, serviço é qualquer atividade prestada no mercado de consumo mediante remuneração.
Os serviços objeto da relação de consumo podem ser de três tipos: 
• Materiais: reparação, hotelaria, transporte, etc.
• Financeiros: seguro, crédito, etc.
• Intelectual: médico, assessoria jurídica, etc.
SERVIÇO DURÁVEL E NÃO DURÁVEL
Apesar do conceito de serviço conduzir ao enquadramento de uma atividade não durável, o mercado acabou criando os chamados serviços duráveis, assim considerados àqueles que tiverem sido estabelecidos no contrato de prestação, como contínuo a exemplo dos educacionais, de saúde, fornecimento de energia, etc., ou os que deixarem como resultado um produto,

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