Buscar

Entrevista Psicologia Social e Tecnologia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

EM DEBATe A TECNOLO 
PSICOLOGIA: CON 
Três estudiosos apresentam a 
Psicologia, Ciência e Profissão suas 
posições a respeito da Psicologia Social 
hoje, suas principais tendências, 
possibilidades de atuação prática e 
perspectivas futuras. Dentro disso, a 
discussão de uma questão 
controvertida: a Tecnologia Social. 
C onjunto de conhecimentos aplicáveis na resolução de problemas enfrentados pelo homem em sociedade, a Tec-
nologia Social é definida e indicada, 
por alguns, como método para solu-
cionar uma grande variedade de ques-
tões, considerando-se a ideologia de 
seu aplicador um problema secundá-
rio. Para outros, nos moldes em que a 
Tecnologia Social vem sendo aplica-
da, a questão da ideologia se coloca 
como ponto fundamental de dis¬ 
Ciência e tecnologia a 
serviço do homem 
Psicologia, Ciência e Profissão: Quais 
as principais linhas da Psicologia Social 
hoje? Com qual delas seu trabalho se 
identifica? 
Aroldo Rodrigues: Já houve tempo em 
que várias linhas transitavam na Psi-
cologia Social com destaque mais ou 
menos igual. Recentemente, porém, o 
domínio do cognitivismo é indiscutí-
vel, o que justifica a seguinte afirma-
ção de Markus e Zajonc (1985) no 
capítulo que escreveram para a re¬ 
cém-saída terceira edição do The 
Handbook of Social Psychology: "A 
Psicologia Social dos anos 50 e 60 era 
caracterizada por uma diversidade de 
enfoques. Algumas pesquisas eram 
apresentadas numa linguagem de estí¬ 
mulo-resposta, outras nas tradições 
da teoria de campo e da Gestalt e o 
restante era conceitualizado em ter-
mos cognitivos. A mudança desde en-
tão tem sido de proporções revolucio-
nárias, impelindo praticamente todos 
os investigadores a verem os fenôme-
nos psicossociais sob uma perspectiva 
cognitiva. Psicologia Social e Psicolo-
gia Social cognitiva são hoje quase 
sinônimos. O enfoque cognitivo é 
agora claramente dominante entre os 
psicólogos sociais, não havendo, pra-
ticamente, competidores." De forma 
semelhante se expressa a psicóloga 
francesa Montmollin (1982) ao dizer: 
"por cognitivo devem ser entendidas, 
em psicologia social, as atividades 
psicológicas internas pelas quais o in-
divíduo (ou cada membro de um gru-
po) apreende e interpreta os estímulos 
sociais, pessoais, condutas e eventos 
observados, objetos e situações so-
ciais que se encontram em seu am-
biente. Interessa-nos, pois, o que 
ocorre 'na cabeça do sujeito' quando 
se encontra na presença de outros, 
nos processos de aquisição, categori-
zação, combinação, enfim, de proces-
samento de informações, que termi-
nam na expressão verbal de um juízo 
de atribuição e/ou avalização." Eu, 
pessoalmente, me identifico inteira-
mente com esta linha cognitiva em 
Psicologia Social, embora muitas pes-
soas no Brasil (que obviamente nunca 
leram meus livros e artigos) me cha-
mem de "behaviorista"... 
PCP: Em que consistem as diferenças 
e semelhanças dessas linhas? E como 
define e defende a sua posição? 
AR: A diferença entre a Psicologia 
Social cognitivista e a de característi-
cas lewinianas e gestálticas não é mui-
to grande; elas se distinguem porque 
esta última se prende a princípios rígi-
dos da teoria de campo e da Gestalt, 
enquanto a Psicologia Social cognitiva 
contemporânea faz apelo às contribui-
ções de Lewin e da Gestalt sem se 
limitar a elas. O enfoque cognitivo se 
distingue essencialmente do enfoque 
comportamentalista de vez que este 
quase não considera os processos me¬ 
GIA SOCIAL NA 
TROVÉRSIAS 
cussão. 
Psicologia, Ciência e Profissão 
convidou três psicólogos sociais para 
darem seus depoimentos sobre a 
questão. Nossa idéia inicial era apre-
sentar um texto coeso — resumo de 
um debate envolvendo os três entre-
vistados. Mas, na impossibilidade de 
reuni-los (pois não estavam, geografi-
camente, próximos) optamos por 
depoimentos individuais. A seguir, as 
opiniões de Aroldo Rodrigues, coor-
denador do Programa de pós-gradu¬ 
diadores não observáveis, porém cla-
ramente inferíveis, que caracterizam 
as cognições ou representações so-
ciais das pessoas. 
PCP: Em que consiste a Tecnologia 
Social? Qual a sua relevância? 
AR: A Tecnologia Social consiste na 
utilização dos achados científicos das 
Ciências Sociais a fim de resolver pro-
blemas sociais. O tecnólogo social se 
fundamenta nos dados científicos 
existentes, combina-os e, através de 
ação da Universidade, Gama Filho, 
Ph.D. em Psicologia pela Universidade 
da Califórnia e introdutor das idéias 
de Jacobo Varela— especialista no as-
sunto — no Brasil; Sílvia Lane, vice-
reitora acadêmica e professora titular 
de Psicologia Social no curso de 
pós- graduação da PUC — Pontifícia 
Universidade Católica e Wanderley Co¬ 
do, professor de Psicologia Social na 
USP de Ribeirão Preto e autor de "O 
que é Alienação"e "O que é corpola¬ 
tria" entre outros títulos. 
sua criatividade, utiliza-os na resolu-
ção de problemas sociais. Como bem 
diz Jacobo Varela, o inventor da Tec-
nologia Social, "tecnologia é síntese, 
enquanto ciência é análise". Jacobo 
Varela, no Uruguai, e Euclides San-
chez e Esther Wiesenfeld, na Vene-
zuela, são em minha opinião os mais 
destacados tecnólogos sociais da 
atualidade. A tecnologia social surgiu 
na América Latina e não nos países do 
primeiro mundo, provavelmente devi-
do à necessidade premente de resol-
ver graves problemas sociais existen-
tes nos países do terceiro mundo. Os 
países desenvolvidos podem dar-se ao 
luxo de descobrir muitas coisas e não 
aplicá-las; não é o caso dos países do 
terceiro mundo, onde a gravidade dos 
problemas sociais está a exigir o es-
forço dos cientistas e dos tecnólogos 
sociais; os primeiros através de des-
cobertas de relações não-aleatórias 
entre variáveis, que permitem aos se-
gundos criar soluções para a resolu-
ção de problemas concretos. Dedican¬ 
do-se à resolução dos problemas so-
ciais, a relevância da Tecnologia So-
cial dificilmente pode ser superesti-
mada. É necessário que ela seja mais 
e mais desenvolvida entre nós; sem-
pre, porém, ancorada em descobertas 
científicas sólidas, que facilitem o tra-
balho do tecnólogo social. 
PCP:Quais as implicações éticas, políti-
cas e ideológicas do uso da Psicologia 
Social? 
AR: É claro que toda atividade prática 
envolve problemas de natureza ética, 
política e ideológica. A Tecnologia 
Social não está isenta desses proble-
mas. É preciso que o tecnólogo social 
deixe bem claro quais são os seus 
valores, para que as pessoas que com 
ele lidam possam julgar as soluções 
que apresenta. O trabalho do tecnólo-
go social há de ser franco, aberto, 
sincero e honesto. Isso se consegue 
através da explicitação de seus valo-
res às pessoas a quem sua atuação 
possa vir a influenciar. Não há como 
evitar a influência dos valores pes-
soais em sua atuação. 
PCP: Qual o papel da Psicologia So-
cial nesse quadro? 
AR: A Psicologia Social, como ciência 
básica que é, tem muito a contribuir 
para a atividade do tecnólogo social. 
Embora a quase totalidade das pes-
soas discordem de mim, eu pessoal-
mente estou seguro de que a ciência é 
neutra em sua procura das relações 
não-aleatórias entre variáveis. Admi-
to que a escolha do tema e até o 
relatório do cientista possam não ser 
neutros. O produto final, isto é, o 
conhecimento novo que surge, este é 
inexoravelmente neutro, pois toda a 
comunidade cientifica o fiscaliza. 
Ninguém acredita ingenuamente no 
que um cientista diz; é necessário que 
ele prove o que diz. Na publicidade e 
na necessidade de o cientista descre-
ver em detalhes como chegou ao co-
nhecimento por ele apresentado é que 
reside a grande salvaguarda da ciência 
contra tendenciosidade e vieses pes-
soais. Penso, pois, que assim devem 
marchar a Psicologia Social e a Tecno-
logia Social: a primeira procurando 
séria, honesta e objetivamete, oco-
nhecimento da realidade social em 
que vivemos; a segunda, baseada 
nesse conhecimento, planejando in-
tervenções dedicadas à resolução de 
problemas sociais. 
PCP: Como está a Psicologia Social no 
Brasil e o que tem surgido de novo? 
AR: A Psicologia Social no Brasil não 
EM DEBATe A TECNOLO 
PSICOLOGIA: CON 
Três estudiosos apresentam a 
Psicologia, Ciência e Profissão suas 
posições a respeito da Psicologia Social 
hoje, suas principais tendências, 
possibilidades de atuação prática e 
perspectivas futuras. Dentro disso, a 
discussão de uma questão 
controvertida: a Tecnologia Social. 
C onjunto de conhecimentos aplicáveis na resolução de problemas enfrentados pelo homem em sociedade, a Tec-
nologia Social é definida e indicada, 
por alguns, como método para solu-
cionar uma grande variedade de ques-
tões, considerando-se a ideologia de 
seu aplicador um problema secundá-
rio. Para outros, nos moldes em que a 
Tecnologia Social vem sendo aplica-
da, a questão da ideologia se coloca 
como ponto fundamental de dis¬ 
Ciência e tecnologia a 
serviço do homem 
Psicologia, Ciência e Profissão: Quais 
as principais linhas da Psicologia Social 
hoje? Com qual delas seu trabalho se 
identifica? 
Aroldo Rodrigues: Já houve tempo em 
que várias linhas transitavam na Psi-
cologia Social com destaque mais ou 
menos igual. Recentemente, porém, o 
domínio do cognitivismo é indiscutí-
vel, o que justifica a seguinte afirma-
ção de Markus e Zajonc (1985) no 
capítulo que escreveram para a re¬ 
cém-saída terceira edição do The 
Handbook of Social Psychology: "A 
Psicologia Social dos anos 50 e 60 era 
caracterizada por uma diversidade de 
enfoques. Algumas pesquisas eram 
apresentadas numa linguagem de estí¬ 
mulo-resposta, outras nas tradições 
da teoria de campo e da Gestalt e o 
restante era conceitualizado em ter-
mos cognitivos. A mudança desde en-
tão tem sido de proporções revolucio-
nárias, impelindo praticamente todos 
os investigadores a verem os fenôme-
nos psicossociais sob uma perspectiva 
cognitiva. Psicologia Social e Psicolo-
gia Social cognitiva são hoje quase 
sinônimos. O enfoque cognitivo é 
agora claramente dominante entre os 
psicólogos sociais, não havendo, pra-
ticamente, competidores." De forma 
semelhante se expressa a psicóloga 
francesa Montmollin (1982) ao dizer: 
"por cognitivo devem ser entendidas, 
em psicologia social, as atividades 
psicológicas internas pelas quais o in-
divíduo (ou cada membro de um gru-
po) apreende e interpreta os estímulos 
sociais, pessoais, condutas e eventos 
observados, objetos e situações so-
ciais que se encontram em seu am-
biente. Interessa-nos, pois, o que 
ocorre 'na cabeça do sujeito' quando 
se encontra na presença de outros, 
nos processos de aquisição, categori-
zação, combinação, enfim, de proces-
samento de informações, que termi-
nam na expressão verbal de um juízo 
de atribuição e/ou avalização." Eu, 
pessoalmente, me identifico inteira-
mente com esta linha cognitiva em 
Psicologia Social, embora muitas pes-
soas no Brasil (que obviamente nunca 
leram meus livros e artigos) me cha-
mem de "behaviorista"... 
PCP: Em que consistem as diferenças 
e semelhanças dessas linhas? E como 
define e defende a sua posição? 
AR: A diferença entre a Psicologia 
Social cognitivista e a de característi-
cas lewinianas e gestálticas não é mui-
to grande; elas se distinguem porque 
esta última se prende a princípios rígi-
dos da teoria de campo e da Gestalt, 
enquanto a Psicologia Social cognitiva 
contemporânea faz apelo às contribui-
ções de Lewin e da Gestalt sem se 
limitar a elas. O enfoque cognitivo se 
distingue essencialmente do enfoque 
comportamentalista de vez que este 
quase não considera os processos me¬ 
GIA SOCIAL NA 
TROVÉRSIAS 
cussão. 
Psicologia, Ciência e Profissão 
convidou três psicólogos sociais para 
darem seus depoimentos sobre a 
questão. Nossa idéia inicial era apre-
sentar um texto coeso — resumo de 
um debate envolvendo os três entre-
vistados. Mas, na impossibilidade de 
reuni-los (pois não estavam, geografi-
camente, próximos) optamos por 
depoimentos individuais. A seguir, as 
opiniões de Aroldo Rodrigues, coor-
denador do Programa de pós-gradu¬ 
diadores não observáveis, porém cla-
ramente inferíveis, que caracterizam 
as cognições ou representações so-
ciais das pessoas. 
PCP: Em que consiste a Tecnologia 
Social? Qual a sua relevância? 
AR: A Tecnologia Social consiste na 
utilização dos achados científicos das 
Ciências Sociais a fim de resolver pro-
blemas sociais. O tecnólogo social se 
fundamenta nos dados científicos 
existentes, combina-os e, através de 
ação da Universidade, Gama Filho, 
Ph.D. em Psicologia pela Universidade 
da Califórnia e introdutor das idéias 
de Jacobo Varela— especialista no as-
sunto — no Brasil; Sílvia Lane, vice-
reitora acadêmica e professora titular 
de Psicologia Social no curso de 
pós- graduação da PUC — Pontifícia 
Universidade Católica e Wanderley Co¬ 
do, professor de Psicologia Social na 
USP de Ribeirão Preto e autor de "O 
que é Alienação"e "O que é corpola¬ 
tria" entre outros títulos. 
sua criatividade, utiliza-os na resolu-
ção de problemas sociais. Como bem 
diz Jacobo Varela, o inventor da Tec-
nologia Social, "tecnologia é síntese, 
enquanto ciência é análise". Jacobo 
Varela, no Uruguai, e Euclides San-
chez e Esther Wiesenfeld, na Vene-
zuela, são em minha opinião os mais 
destacados tecnólogos sociais da 
atualidade. A tecnologia social surgiu 
na América Latina e não nos países do 
primeiro mundo, provavelmente devi-
do à necessidade premente de resol-
ver graves problemas sociais existen-
tes nos países do terceiro mundo. Os 
países desenvolvidos podem dar-se ao 
luxo de descobrir muitas coisas e não 
aplicá-las; não é o caso dos países do 
terceiro mundo, onde a gravidade dos 
problemas sociais está a exigir o es-
forço dos cientistas e dos tecnólogos 
sociais; os primeiros através de des-
cobertas de relações não-aleatórias 
entre variáveis, que permitem aos se-
gundos criar soluções para a resolu-
ção de problemas concretos. Dedican¬ 
do-se à resolução dos problemas so-
ciais, a relevância da Tecnologia So-
cial dificilmente pode ser superesti-
mada. É necessário que ela seja mais 
e mais desenvolvida entre nós; sem-
pre, porém, ancorada em descobertas 
científicas sólidas, que facilitem o tra-
balho do tecnólogo social. 
PCP:Quais as implicações éticas, políti-
cas e ideológicas do uso da Psicologia 
Social? 
AR: É claro que toda atividade prática 
envolve problemas de natureza ética, 
política e ideológica. A Tecnologia 
Social não está isenta desses proble-
mas. É preciso que o tecnólogo social 
deixe bem claro quais são os seus 
valores, para que as pessoas que com 
ele lidam possam julgar as soluções 
que apresenta. O trabalho do tecnólo-
go social há de ser franco, aberto, 
sincero e honesto. Isso se consegue 
através da explicitação de seus valo-
res às pessoas a quem sua atuação 
possa vir a influenciar. Não há como 
evitar a influência dos valores pes-
soais em sua atuação. 
PCP: Qual o papel da Psicologia So-
cial nesse quadro? 
AR: A Psicologia Social, como ciência 
básica que é, tem muito a contribuir 
para a atividade do tecnólogo social. 
Embora a quase totalidade das pes-
soas discordem de mim, eu pessoal-
mente estou seguro de que a ciência é 
neutra em sua procura das relações 
não-aleatórias entre variáveis. Admi-
to que a escolha do tema e até o 
relatório do cientista possam não ser 
neutros. O produto final, isto é, o 
conhecimento novo que surge, este é 
inexoravelmente neutro, pois toda a 
comunidade cientifica o fiscaliza. 
Ninguém acredita ingenuamente no 
que um cientista diz; é necessário que 
ele prove o que diz. Na publicidade e 
na necessidade de o cientista descre-
ver em detalhescomo chegou ao co-
nhecimento por ele apresentado é que 
reside a grande salvaguarda da ciência 
contra tendenciosidade e vieses pes-
soais. Penso, pois, que assim devem 
marchar a Psicologia Social e a Tecno-
logia Social: a primeira procurando 
séria, honesta e objetivamete, o co-
nhecimento da realidade social em 
que vivemos; a segunda, baseada 
nesse conhecimento, planejando in-
tervenções dedicadas à resolução de 
problemas sociais. 
PCP: Como está a Psicologia Social no 
Brasil e o que tem surgido de novo? 
AR: A Psicologia Social no Brasil não 
vai bem. São muito poucos os psicólo-
gos sociais; o governo não dá atenção 
às contribuições do psicólogo social; 
os educadores, psicólogos clínicos e 
agentes comunitários não percebem, 
em sua maioria, a imensa contribuição 
que a Psicologia Social tem a lhes 
prestar em suas atividades específi-
cas. Em meu livro Aplicações da Psico-
logia Social, procurei apresentar 
exemplos de como a psicologia social 
pode ser útil à educação, à clínica, às 
organizações e à atividade comunitá-
ria. Não sei se tive êxito. A primeira 
edição se esgotou com rapidez mas a 
segunda não segue o mesmo ritmo. 
Ademais, há um grande isolamento 
entre os psicólogos sociais no Brasil. 
Não fosse por uma iniciativa do pro-
fessor José Augusto Dela Coleta, con-
vocando vários psicólogos sociais 
brasileiros para uma Sessão Técnica 
sobre "Quem é o Brasileiro?", na pe-
núltima reunião da Sociedade de Psi-
cologia de Ribeirão Preto, esse isola-
mento seria ainda maior. Graças à 
iniciativa do professor Dela Coleta, 
um grupo de quase 10 psicólogos so-
ciais de várias partes do Brasil estão 
trabalhando, desde então, em torno 
do tema proposto naquela reunião. 
No ano passado se realizou outra ses-
são na reunião anual da SPRP em que 
voltamos a nos encontrar e a reportar 
vários dados relativos à psicologia so-
cial do brasileiro. É nossa intenção 
publicar em livro, num futuro próxi-
mo, o que temos encontrado sobre 
esse assunto. 
PCP: Quais as perspectivas da Psicolo-
gia Social no Brasil no seu ponto de 
vista? 
AR: Penso que o futuro da Psicologia 
Social no Brasil dependerá muito dos 
seguintes fatores: a conscientização 
de que a Psicologia Social tem muito a 
oferecer às áreas aplicadas da psicolo-
gia e a outros setores de atividades; a 
aceitação de que a Psicologia Social é 
uma ciência básica e que a ela cabe 
descobrir as relações estáveis entre 
variáveis psicossociais a fim de possi-
bilitar ao tecnólogo social a solução 
dos problemas sociais de forma cons-
ciente e não improvisada; que os cur-
sos de psicologia social em nossas 
universidades sejam concebidos de 
forma tal que possam fornecer ao alu-
no um treinamento adequado em psi-
cologia social. Se as coisas marcha-
rem nessa direção, as perspectivas pa-
ra o futuro são boas; do contrário, 
continuaremos limitados ao pequeno 
espaço de que dispomos atualmente 
no cenário da psicologia social em 
nosso país. 
Revendo a prática da 
Psicologia Social 
Sílvia Lane: na origem da Psicolo-
gia Social já se encontram duas preo-
cupações básicas: a aplicação prática 
— na seleção de pessoal, ao encontrar 
habilidades de relações sociais, etc. 
— e a questão das atitudes. Essas 
duas linhas vêm percorrendo a Psico-
logia Social até hoje. Acredito que 
isso está extremamente vinculado às 
condições históricas, sobretudo nor-
te-americanas, porque é nos EUA que 
a Psicologia Social realmente se de-
senvolve. Para nós o problema se co-
loca em termos de América Latina; 
como adaptar, ou transportar, para a 
nossa realidade, uma Psicologia Social 
que se desenvolve num país com as 
características norte-americanas? Nós 
sentimos que ela tinha muito pouco 
a ver com a nossa realidade, acabava 
ficando restrita ao meio acadêmico. 
Era um discurso que não acarretava 
nada na prática e isso foi gerando uma 
necessidade de reflexão, uma crítica 
dessa psicologia, sem negar, é claro, 
as contribuições de Lewin, Fastinger, 
Heidegger, por exemplo. Eu diria que 
essas são as grandes linhas hoje: uma 
linha mais comportamental, mais tec-
nológica e uma linha mais cogniti¬ 
vista. 
No meu caso, sempre procurei, 
nos meus cursos, enfatizar que se nós 
temos uma teoria, ela só persiste se a 
nossa realidade a confirmar. E só 
através da prática, da investigação, é 
que se pode fazer uma crítica da teo-
ria, porque ela, em si, é insuficiente 
para explicar o real. A partir dessa 
crítica , nós tentamos ver onde é 
que estava a verdadeira contradição. 
Dentro desse modelo mais expe-
rimental — seja cognitivista seja com¬ 
portamentalista — vimos que o pro-
blema era que uma tradição positivis-
ta procurava manter a objetividade 
dos fatos e negar ou controlar a subje-
tividade, que assim ficava afastada do 
fato social. O indivíduo era o objeto 
de estudo e a concepção de social era 
apenas um cenário. Tínhamos de res-
gatar a subjetividade para a Psicologia 
Social e mais, deixar de ver o indiví-
duo como produto de si mesmo; por-
que a característica fundamental do 
ser humano é eleser um produto histó-
rico e, ao mesmo tempo, agente do 
meio. 
"TEORIA E PRÁTICA 
TÊM 
DE VIR JUNTAS" 
Do ponto de vista de uma revisão 
crítica da Psicologia Social, o proble-
ma agora é a prática que, acredito, 
deve ser revista. Na medida em que se 
tem a concepção do Homem como 
produto e agente histórico-cultural, a 
atuação do psicólogo tem que ser mais 
consequente. Ele não vive mais aque-
la dicotomia teoria x prática mas teo-
ria e prática têm de vir juntas; então a 
prática tem de ser constantemente re-
fletida, revista e reformulada. Na me-
dida em que se pensa o Homem de 
uma outra forma, tem-se de pensar a 
atuação profissional também de outra 
forma. 
Essa visão crítica da Psicologia 
Social só é possível na América Lati-
na, porque as condições históricas de 
países extremamente desenvovidos 
tornam o conhecimento deles inade-
quado para nós. Então, na América 
Latina surgem alternativas; os argen-
tinos fazem uma revisão crítica de 
Freud, no Peru eles se voltam à litera-
tura indigenista, tentando encontrar o 
sentido próprio de seu povo, por 
vai bem. São muito poucos os psicólo-
gos sociais; o governo não dá atenção 
às contribuições do psicólogo social; 
os educadores, psicólogos clínicos e 
agentes comunitários não percebem, 
em sua maioria, a imensa contribuição 
que a Psicologia Social tem a lhes 
prestar em suas atividades específi-
cas. Em meu livro Aplicações da Psico-
logia Social, procurei apresentar 
exemplos de como a psicologia social 
pode ser útil à educação, à clínica, às 
organizações e à atividade comunitá-
ria. Não sei se tive êxito. A primeira 
edição se esgotou com rapidez mas a 
segunda não segue o mesmo ritmo. 
Ademais, há um grande isolamento 
entre os psicólogos sociais no Brasil. 
Não fosse por uma iniciativa do pro-
fessor José Augusto Dela Coleta, con-
vocando vários psicólogos sociais 
brasileiros para uma Sessão Técnica 
sobre "Quem é o Brasileiro?", na pe-
núltima reunião da Sociedade de Psi-
cologia de Ribeirão Preto, esse isola-
mento seria ainda maior. Graças à 
iniciativa do professor Dela Coleta, 
um grupo de quase 10 psicólogos so-
ciais de várias partes do Brasil estão 
trabalhando, desde então, em torno 
do tema proposto naquela reunião. 
No ano passado se realizou outra ses-
são na reunião anual da SPRP em que 
voltamos a nos encontrar e a reportar 
vários dados relativos à psicologia so-
cial do brasileiro. É nossa intenção 
publicar em livro, num futuro próxi-
mo, o que temos encontrado sobre 
esse assunto. 
PCP: Quais as perspectivas da Psicolo-
gia Social no Brasil no seu ponto de 
vista? 
AR: Penso que o futuro da Psicologia 
Social no Brasil dependerá muito dos 
seguintes fatores: a conscientização 
de que a Psicologia Social tem muitoa 
oferecer às áreas aplicadas da psicolo-
gia e a outros setores de atividades; a 
aceitação de que a Psicologia Social é 
uma ciência básica e que a ela cabe 
descobrir as relações estáveis entre 
variáveis psicossociais a fim de possi-
bilitar ao tecnólogo social a solução 
dos problemas sociais de forma cons-
ciente e não improvisada; que os cur-
sos de psicologia social em nossas 
universidades sejam concebidos de 
forma tal que possam fornecer ao alu-
no um treinamento adequado em psi-
cologia social. Se as coisas marcha-
rem nessa direção, as perspectivas pa-
ra o futuro são boas; do contrário, 
continuaremos limitados ao pequeno 
espaço de que dispomos atualmente 
no cenário da psicologia social em 
nosso país. 
Revendo a prática da 
Psicologia Social 
Sílvia Lane: na origem da Psicolo-
gia Social já se encontram duas preo-
cupações básicas: a aplicação prática 
— na seleção de pessoal, ao encontrar 
habilidades de relações sociais, etc. 
— e a questão das atitudes. Essas 
duas linhas vêm percorrendo a Psico-
logia Social até hoje. Acredito que 
isso está extremamente vinculado às 
condições históricas, sobretudo nor-
te-americanas, porque é nos EUA que 
a Psicologia Social realmente se de-
senvolve. Para nós o problema se co-
loca em termos de América Latina; 
como adaptar, ou transportar, para a 
nossa realidade, uma Psicologia Social 
que se desenvolve num país com as 
características norte-americanas? Nós 
sentimos que ela tinha muito pouco 
a ver com a nossa realidade, acabava 
ficando restrita ao meio acadêmico. 
Era um discurso que não acarretava 
nada na prática e isso foi gerando uma 
necessidade de reflexão, uma crítica 
dessa psicologia, sem negar, é claro, 
as contribuições de Lewin, Fastinger, 
Heidegger, por exemplo. Eu diria que 
essas são as grandes linhas hoje: uma 
linha mais comportamental, mais tec-
nológica e uma linha mais cogniti¬ 
vista. 
No meu caso, sempre procurei, 
nos meus cursos, enfatizar que se nós 
temos uma teoria, ela só persiste se a 
nossa realidade a confirmar. E só 
através da prática, da investigação, é 
que se pode fazer uma crítica da teo-
ria, porque ela, em si, é insuficiente 
para explicar o real. A partir dessa 
crítica , nós tentamos ver onde é 
que estava a verdadeira contradição. 
Dentro desse modelo mais expe-
rimental — seja cognitivista seja com¬ 
portamentalista — vimos que o pro-
blema era que uma tradição positivis-
ta procurava manter a objetividade 
dos fatos e negar ou controlar a subje-
tividade, que assim ficava afastada do 
fato social. O indivíduo era o objeto 
de estudo e a concepção de social era 
apenas um cenário. Tínhamos de res-
gatar a subjetividade para a Psicologia 
Social e mais, deixar de ver o indiví-
duo como produto de si mesmo; por-
que a característica fundamental do 
ser humano é eleser um produto histó-
rico e, ao mesmo tempo, agente do 
meio. 
"TEORIA E PRÁTICA 
TÊM 
DE VIR JUNTAS" 
Do ponto de vista de uma revisão 
crítica da Psicologia Social, o proble-
ma agora é a prática que, acredito, 
deve ser revista. Na medida em que se 
tem a concepção do Homem como 
produto e agente histórico-cultural, a 
atuação do psicólogo tem que ser mais 
consequente. Ele não vive mais aque-
la dicotomia teoria x prática mas teo-
ria e prática têm de vir juntas; então a 
prática tem de ser constantemente re-
fletida, revista e reformulada. Na me-
dida em que se pensa o Homem de 
uma outra forma, tem-se de pensar a 
atuação profissional também de outra 
forma. 
Essa visão crítica da Psicologia 
Social só é possível na América Lati-
na, porque as condições históricas de 
países extremamente desenvovidos 
tornam o conhecimento deles inade-
quado para nós. Então, na América 
Latina surgem alternativas; os argen-
tinos fazem uma revisão crítica de 
Freud, no Peru eles se voltam à litera-
tura indigenista, tentando encontrar o 
sentido próprio de seu povo, por 
exemplo. Nós fomos caminhando, 
com pesquisas em comunidades po-
bres, em periferias, sempre voltados à 
realidade social da maioria da popula-
ção brasileira. 
Quanto às perspectivas da Psico-
logia Social, atualmente nós estamos 
com o campo em aberto. Há muita 
pesquisa a ser feita e o grande desafio 
agora é chegarmos às categorias do 
pacto social; porque toda psicologia é 
social, a não ser que você assuma que 
o homem possa não ser histórico. 
Nesse sentido, acho que as perspecti-
vas são grandes. DemOS um salto qua-
litativo, estamos sentindo que há um 
movimento que é brasileiro. A 
ABRAPSO — Associação Brasileira 
de Psicologia Social —, que se reúne 
na SBPC, em âmbito nacional e em 
assembléias regionais, durante o ano, 
é um exemplo disso. Dá para perceber 
que o movimento está avançando, não 
só com psicólogos mas também com 
assistentes sociais, antropólogos, so-
ciólogos, que precisam da visão da 
Psicologia. 
Ideologia: o ponto 
fundamenta l da 
discussão 
Wanderlei Codo: A proposta da 
Tecnologia Social se apresenta como 
uma nova abordagem em Psicologia 
Social, capaz de resolver problemas 
que vão desde a ' 'persuasão da esposa 
quanto à melhor localização de um 
móvel na sala até a resolução de crises 
internacionais". Mas o que há de no-
vo na Tecnologia Social? Segundo o 
próprio Varela, a novidade é exata-
mente esta: o uso da Psicologia para 
resolver problemas sociais, formando 
um aparato tecnológico. Evidente-
mente, qualquer ciência — e princi-
palmente a nossa, voltada à com-
preensão do comportamento humano 
— tem como razão a intervenção so-
cial. 
Tomemos Freud como parâme-
tro: sua preocupação era resolver 
conflitos de seus pacientes e por isso, 
exatamente, fundamentou e desenvol-
veu toda uma teoria que ainda hoje 
influencia a nossa compreensão do 
Homem. A diferença nas duas abor-
dagens é a consciência da complexi-
dade dos problemas humanos, que 
Freud sempre explicitou e Varela pa-
rece ignorar. O trabalho de Varela 
constitui uma autêntica "receita" pa-
ra resolver problemas sociais. Nesse 
sentido se assemelharia muito aos li-
vros que entulham as livrarias do tipo 
"como fazer amigos e influenciar pes-
soas", não fosse um certo colorido 
cientificista emprestado pela citação 
de alguns nomes respeitados na área. 
Vejamos um exemplo de inter-
venção do tecnólogo: um dos proble-
mas que resolveu foi o seguinte: uma 
empresa decidiu trocar o gerente e o 
escolhido para o posto foi uma pessoa 
de outra filial, provocando uma rea-
ção de mal-estar nos funcionários pre-
teridos para o cargo. 
O cientista foi chamado, então, a 
intervir exatamente para que a deci-
são se concretizasse "sem traumas 
para a empresa". Qualquer pessoa de 
bom senso saberia que as causas des-
se problema estão sediadas na estru-
tura alienada de trabalho na sociedade 
contemporânea — que permite aos di-
retores alterar a seu bel prazer os 
quadros de profissionais da empresa 
sem que os próprios tenham direito a 
opinar sobre isso — e nas característi-
cas do mercado capitalista, em que a 
competição frenética angustia qual-
quer trabalhador numa perspectiva de 
mudança. O que fez o senhor Varela? 
EM DEBATE 
Tratou de persuadir os trabalhadores, 
candidatos naturais para o cargo, de 
que não eram as pessoas mais aptas 
para aquele posto. 
Estamos diante de um duplo en-
godo: nem a realidade social cabe no 
receituário do tecnólogo e muito me-
nos as soluções encontradas são capa-
zes de resolver qualquer coisa, exceto 
o problema imediato do dirigente em-
presarial. Estamos diante de uma Tec-
nologia Social sem dúvida voltada a 
encobrir os problemas sociais e a ser-
viço dos meios de produção. 
" O MUNDO ESTÁ CARENTE DE 
UMA TECNOLOGIA SOCIAL" 
Quando se pergunta qual o papel 
da Psicologia Social nesse contexto, 
eu diria que o que pode nos interessar 
é o seguinte: porque o mero exercíciodo charlatanismo merece atenção de 
alguns pesquisadores considerados 
sérios nessa área de conhecimento? 
Estamos vivendo numa socieda-
de psicologizada. Nunca os psicólo-
gos tiveram tanto espaço nos meios de 
comunicação de massa como hoje. 
Alguns de nossos livros ganham sta-
tus de best-seller, como ocorreu com 
Skinner, revistas especializadas são en-
contradas em qualquer banca de jor-
nal, nosso vocabulário técnico está 
popularizado, etc.. E, infelizmente, 
não é por uma demonstração cabal de 
competência dos psicologos que essa 
situação se apresenta. E antes, por 
atravessarmos a mais grave crise que 
o capitalismo já enfrentou, por estar-
mos diante de um quandro social ca-
rente de mudanças e com uma popula-
ção desorganizada politicamente para 
enfrentar essa necessidade. Ou seja, 
uma situação propícia para o apareci-
mento do charlatanismo. De um lado, 
uma espectativa cada vez maior de 
soluções para a crise social e, de ou-
tro, a falta de instrumentos concretos 
para realizá-las. 
Eis algo em que concordo literal-
mente com Jacobo Varela: o mundo 
está carente de uma Tecnologia So-
cial. Mas que seja capaz de resolver 
não apenas querelas administrativas 
das empresas mas, principalmente, 
capaz de instrumentalizar o cidadão 
para a busca de sua própria cidadania. 
exemplo. Nós fomos caminhando, 
com pesquisas em comunidades po-
bres, em periferias, sempre voltados à 
realidade social da maioria da popula-
ção brasileira. 
Quanto às perspectivas da Psico-
logia Social, atualmente nós estamos 
com o campo em aberto. Há muita 
pesquisa a ser feita e o grande desafio 
agora é chegarmos às categorias do 
pacto social; porque toda psicologia é 
social, a não ser que você assuma que 
o homem possa não ser histórico. 
Nesse sentido, acho que as perspecti-
vas são grandes. DemOS um salto qua-
litativo, estamos sentindo que há um 
movimento que é brasileiro. A 
ABRAPSO — Associação Brasileira 
de Psicologia Social —, que se reúne 
na SBPC, em âmbito nacional e em 
assembléias regionais, durante o ano, 
é um exemplo disso. Dá para perceber 
que o movimento está avançando, não 
só com psicólogos mas também com 
assistentes sociais, antropólogos, so-
ciólogos, que precisam da visão da 
Psicologia. 
Ideologia: o ponto 
fundamenta l da 
discussão 
Wanderlei Codo: A proposta da 
Tecnologia Social se apresenta como 
uma nova abordagem em Psicologia 
Social, capaz de resolver problemas 
que vão desde a ' 'persuasão da esposa 
quanto à melhor localização de um 
móvel na sala até a resolução de crises 
internacionais". Mas o que há de no-
vo na Tecnologia Social? Segundo o 
próprio Varela, a novidade é exata-
mente esta: o uso da Psicologia para 
resolver problemas sociais, formando 
um aparato tecnológico. Evidente-
mente, qualquer ciência — e princi-
palmente a nossa, voltada à com-
preensão do comportamento humano 
— tem como razão a intervenção so-
cial. 
Tomemos Freud como parâme-
tro: sua preocupação era resolver 
conflitos de seus pacientes e por isso, 
exatamente, fundamentou e desenvol-
veu toda uma teoria que ainda hoje 
influencia a nossa compreensão do 
Homem. A diferença nas duas abor-
dagens é a consciência da complexi-
dade dos problemas humanos, que 
Freud sempre explicitou e Varela pa-
rece ignorar. O trabalho de Varela 
constitui uma autêntica "receita" pa-
ra resolver problemas sociais. Nesse 
sentido se assemelharia muito aos li-
vros que entulham as livrarias do tipo 
"como fazer amigos e influenciar pes-
soas", não fosse um certo colorido 
cientificista emprestado pela citação 
de alguns nomes respeitados na área. 
Vejamos um exemplo de inter-
venção do tecnólogo: um dos proble-
mas que resolveu foi o seguinte: uma 
empresa decidiu trocar o gerente e o 
escolhido para o posto foi uma pessoa 
de outra filial, provocando uma rea-
ção de mal-estar nos funcionários pre-
teridos para o cargo. 
O cientista foi chamado, então, a 
intervir exatamente para que a deci-
são se concretizasse "sem traumas 
para a empresa". Qualquer pessoa de 
bom senso saberia que as causas des-
se problema estão sediadas na estru-
tura alienada de trabalho na sociedade 
contemporânea — que permite aos di-
retores alterar a seu bel prazer os 
quadros de profissionais da empresa 
sem que os próprios tenham direito a 
opinar sobre isso — e nas característi-
cas do mercado capitalista, em que a 
competição frenética angustia qual-
quer trabalhador numa perspectiva de 
mudança. O que fez o senhor Varela? 
EM DEBATE 
Tratou de persuadir os trabalhadores, 
candidatos naturais para o cargo, de 
que não eram as pessoas mais aptas 
para aquele posto. 
Estamos diante de um duplo en-
godo: nem a realidade social cabe no 
receituário do tecnólogo e muito me-
nos as soluções encontradas são capa-
zes de resolver qualquer coisa, exceto 
o problema imediato do dirigente em-
presarial. Estamos diante de uma Tec-
nologia Social sem dúvida voltada a 
encobrir os problemas sociais e a ser-
viço dos meios de produção. 
" O MUNDO ESTÁ CARENTE DE 
UMA TECNOLOGIA SOCIAL" 
Quando se pergunta qual o papel 
da Psicologia Social nesse contexto, 
eu diria que o que pode nos interessar 
é o seguinte: porque o mero exercício 
do charlatanismo merece atenção de 
alguns pesquisadores considerados 
sérios nessa área de conhecimento? 
Estamos vivendo numa socieda-
de psicologizada. Nunca os psicólo-
gos tiveram tanto espaço nos meios de 
comunicação de massa como hoje. 
Alguns de nossos livros ganham sta-
tus de best-seller, como ocorreu com 
Skinner, revistas especializadas são en-
contradas em qualquer banca de jor-
nal, nosso vocabulário técnico está 
popularizado, etc.. E, infelizmente, 
não é por uma demonstração cabal de 
competência dos psicologos que essa 
situação se apresenta. E antes, por 
atravessarmos a mais grave crise que 
o capitalismo já enfrentou, por estar-
mos diante de um quandro social ca-
rente de mudanças e com uma popula-
ção desorganizada politicamente para 
enfrentar essa necessidade. Ou seja, 
uma situação propícia para o apareci-
mento do charlatanismo. De um lado, 
uma espectativa cada vez maior de 
soluções para a crise social e, de ou-
tro, a falta de instrumentos concretos 
para realizá-las. 
Eis algo em que concordo literal-
mente com Jacobo Varela: o mundo 
está carente de uma Tecnologia So-
cial. Mas que seja capaz de resolver 
não apenas querelas administrativas 
das empresas mas, principalmente, 
capaz de instrumentalizar o cidadão 
para a busca de sua própria cidadania.

Outros materiais