Prévia do material em texto
TERMOS DE USO Cursos para concursos DA DISPONIBILIDADE DO CURSO O aluno deve observar a disponibilidade do curso após o dia da compra. Cada curso possui um prazo próprio para acesso. O início da contagem do prazo se inicia com o primeiro acesso a aula após à autorização da compra. Após o encer- ramento desse prazo, você não terá mais acesso ao curso. DA DISPONIBILIDADE DAS AULAS EM VÍDEO Caso seu curso contenha vídeos, eles são disponibilizados de acordo com o cronograma. As aulas são divididas em blocos de 25 minutos e cada vídeo poderá ser assistido pelo aluno até 3 (três) vezes de acordo com a descrição con- tida no curso, no horário que melhor lhe convier, não sendo permitido que as aulas sejam baixadas e copiadas para arquivo pessoal do aluno. DOS REQUISITOS DO SISTEMA É indicado uma internet mínima de 5 Mb/s para acesso as aulas em alta resolu- ção, sendo que também é possível o acesso com internet de 2 Mb/s em resolu- ções menores. DO ACESSO As aulas estarão disponíveis no site www.psicologianova.com.br e somente po- derão ser utilizadas pelo aluno matriculado no curso, sendo vedada à cessão a terceiros. Dois acessos simultâneos farão com que a conexão caia. A Psicologia Nova não se responsabiliza por problemas de atualização de Flash, Java, navegadores, ou ainda, bloqueios por antivírus ou firewall. Portanto, certifique-se com antecedência que sua máquina encontra-se apta para o acesso ao nosso curso. DOS CANCELAMENTOS E RESCISÕES Caso o curso tenha iniciado, mas não finalizadas as filmagens, em caso de de- sistência, será descontado o valor proporcional às aulas já disponibilizadas, as- sistidas ou não, bem como incidirá multa rescisória de 30% (trinta por cento) sobre o total pago. Caso todas as aulas estejam efetivamente disponíveis, não será possível o cancelamento. A critério do(a) aluno(a), o saldo a ser restituído poderá ser convertido em bônus para abatimento em futuros cursos online ofere- cidos pelo PSICOLOGIA NOVA. Em nenhuma hipótese será possível a troca de um curso contratado pelo(a) aluno(a) por outro curso online haja vista a diversidade da quantidade de aulas, professores contratados, disciplinas lecionadas, investimentos, administração e despesas da Escola. PSICOLOGIA SOCIAL. 2 TÓPICO EXTRA - CULTURA JUVENIL 22 TRABALHO EM REDE. PRINCÍPIOS DA INTERSETORIALIDADE. 38 QUESTÕES 39 QUESTÕES COMENTADAS E GABARITADAS 44 Aula 2 Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 2 Psicologia Social. A Psicologia Social estuda a dependência e a interdependência entre as pessoas. Robert B. Zajonc Antes de qualquer coisa, devemos definir o que é Psicologia Social. Segundo David Myers, a Psicologia Social é uma ciência que estuda as influências de nossas situações, com especial atenção a como vemos e afetamos uns aos outros. Mais precisamente, ela é o estudo científico de como as pessoas pensam, influenciam e se relacionam umas com as outras. A psicologia social se situa na fronteira da psicologia com a sociologia. Comparada com a sociologia (o estudo das pessoas em grupos e sociedades), a psicologia social focaliza mais nos indivíduos e usa mais experimentação. Comparada à psicologia da personalidade, a psicologia social focaliza menos nas diferenças dos indivíduos e mais em como eles, em geral, veem e influenciam uns aos outros. A psicologia social ainda é uma ciência jovem. Os primeiros experimentos nessa área foram relatados há pouco mais de um século (1898), e os primeiros textos de psicologia social surgiram em torno de 1900 (Smith, 2005). Somente a partir da década de 1930 ela assumiu sua forma atual, e apenas a partir da Segunda Guerra Mundial começou a emergir como o campo de vulto que é hoje. A psicologia social estuda nosso pensamento, nossa influência e nossos relacionamentos fazendo perguntas que intrigam a todos. Advirto que temos várias escolas, e sub escolas, da psicologia social. É pudente estudarmos todas, mesmo aquelas que não definem o que é psicologia social e se perdem na sua construção histórica. Histórico da Psicologia Social. Cada livro de psicologia social apresenta uma história e uma abordagem diferente. Os autores nacionais tentam descrever a psicologia social através da própria história da psicologia social (e raramente chegam a uma conclusão). Os autores europeus e norte americanos insistem na segregação da psicologia social em etapas bem definidas. E a banca? A banca não tem tradição na área de psicologia social e definitivamente não apresenta posicionamento em sua base marxista ou behaviorista. Dito isso, vamos ao melhor texto que encontrei para definir, em breves palavras, a psicologia social. No decorrer de sua breve história, a Psicologia Social tem se caracterizado pela pluralidade e multiplicidade de abordagens teóricas adotadas como referenciais legítimos à produção de conhecimentos sociopsicológicos. Tal contexto tem dificultado sobremaneira a delimitação do objeto de estudo ou mesmo dos vários objetos de estudo dessa disciplina. Contudo, o binômio indivíduo-sociedade, isto é, o estudo das relações que os indivíduos mantêm entre si e com a sua sociedade ou cultura, sempre esteve no centro das preocupações dos psicólogos sociais, com o pêndulo oscilando ora para um lado, ora para o outro. Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 3 […] A ênfase maior dada ao indivíduo ou à sociedade fez com que diferentes autores (House, 1977; Stephan & Stephan, 1985) começassem a defender a existência de duas modalidades de Psicologia Social: a Psicologia Social Psicológica e a Psicologia Social Sociológica. A Psicologia Social Psicológica, segundo a definição de G. Allport (1954), que se tornou clássica, procura explicar os sentimentos, pensamentos e comportamentos do indivíduo na presença real ou imaginada de outras pessoas. Já a Psicologia Social Sociológica, segundo Stephan e Stephan (1985), tem como foco o estudo da experiência social que o indivíduo adquire a partir de sua participação nos diferentes grupos sociais com os quais convive. Em outras palavras, os psicólogos sociais da primeira vertente tendem a enfatizar principalmente os processos intraindividuais responsáveis pelo modo pelo qual os indivíduos respondem aos estímulos sociais, enquanto os últimos tendem a privilegiar os fenômenos que emergem dos diferentes grupos e sociedades. Para além dessa já hoje clássica divisão, a Psicologia Social desdobrou-se, mais recentemente, em outra vertente, qual seja a Psicologia Social Crítica (Álvaro & Garrido, 2006) ou Psicologia Social Histórico-Crítica (Mancebo & Jacó-Vilela, 2004), expressões que abarcam, na realidade, diferentes posturas teóricas. Assim é que, de acordo com Hepburn (2003), tanto o Socioconstrucionismo (Gergen, 1997) e a Psicologia Discursiva (Potter & Wetherell, 1987), como a Psicologia Marxista, o pós- modernismo e o feminismo, entre outros, contribuem atualmente para o campo da Psicologia Social Crítica. Tais perspectivas guardam em comum o fato de adotarem uma postura crítica em relação às instituições, organizações e práticas da sociedade atual, bem como do conhecimento até então produzido pela Psicologia Social a esse respeito. Nesse sentido, colocam-se contra a opressão e a exploração presentes na maioria das sociedades e têm como um de seus principais objetivos a promoção da mudança social como forma de garantir o bem-estar do ser humano (Hepburn, 2003). A evolução da Psicologia Social, nas diferentes partes de mundo, vem ocorrendo, de certa forma, associada às várias modalidades ou vertentes da disciplina. Assim é que, na América do Norte, e maisespecialmente nos Estados Unidos da América, a Psicologia Social Psicológica foi e continua sendo a tendência predominante. Já na Europa, é possível se notar uma preocupação maior com os processos grupais e socioculturais, que sempre estiveram na base das preocupações da Psicologia Social Sociológica. Por outro lado, na América Latina, verifica-se a adoção da Psicologia Social Crítica como abordagem preferencial à análise dos graves problemas sociais que costumam assolar a região. Fonte: FERREIRA, Maria Cristina. A Psicologia Social contemporânea: principais tendências e perspectivas nacionais e internacionais. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília , v. 26, n. spe, p. 51-64, 2010 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 37722010000500005&lng=en&nrm=iso>. access on 01 July 2015. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722010000500005. Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 4 O objeto da Psicologia Social. Se a FUNIVERSA perguntasse: “qual o objeto de estudo da psicologia social?” O que você diria? Os grupos? As pessoas em suas relações interpessoais? As representações sociais? Admitamos, qualquer resposta dada será incompleta. Temos um sério problema de identificação do objeto da psicologia social. Sobre isso: Sob a luz da constituição histórica da Psicologia Social moderna torna-se evidente o fato de que a Psicologia Social é uma disciplina relativamente nova no ramo das ciências, e que, por isso, ainda há desafios e barreiras para serem repensados na atualidade. No cerne de suas implicações, destaca-se a dificuldade de definição do objeto de estudo dos Psicólogos Sociais. A dificuldade de definição da psicologia social reside na impressão dos seus objetivos. Sendo uma disciplina relativamente recente, não há ainda acordo, no campo dos seus cultores, no sentido de delimitar-lhe os objetivos nítidos e a extensão de suas aplicações. Enquanto que, para uns, a psicologia social se aproxima da psicologia (McDougall), para outros, o seu objeto de estudo quase se confunde com o da sociologia (Ellwood, Ross). Partindo desses dois pólos, da psicologia, e da sociologia, a psicologia social não parece, à primeira vista, ser uma ciência autônoma, De um lado, no pólo da psicologia, tudo o que não pertence a psicologia fisiológica seria psicologia social: o homem é um animal gregário e todas as suas funções psíquicas só se compreenderiam no jogo das reações sociais; o comportamento humano é, antes de tudo, social, pela sua natureza ou pelo seus fins. De outro lado, todos os fatos sociais, tendo o homem como centro, reconheceriam uma base psicológica, e toda a sociologia se converteria numa psicologia (RAMOS, p. 27, 2003). Fonte: Junior, João Paulo Roberti e Justo, Ana Maria. A Psicologia Social Entre Rumos E Vertentes. Revista Caminhos, On-line, “Humanidades”, Rio do Sul, a. 4, n. 6, p. 21-38, abr./jun. 2013. Características da Psicologia Social contemporânea. Nesse ponto precisamos definir as escolas de psicologia social no mundo e as suas característica no Brasil. Para isso, resumi um artigo “A Psicologia Social contemporânea: principais tendências e perspectivas nacionais e internacionais” e destaquei no próprio artigo os pontos mais importantes. Acompanhe comigo. A Psicologia Social na América do Norte: Evolução Teórica e Temática Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 5 [...] Assim é que, durante algum tempo, na América do Norte, a Psicologia Social desenvolveu-se paralelamente no contexto de ambas as disciplinas. Logo, porém, isto é, ainda nas primeiras décadas do século XX, a Psicologia Social Psicológica estabelece-se como a tendência predominante no cenário norte-americano, em especial nos Estados Unidos da América (EUA), sob forte influência do behaviorismo. Exemplo marcante de tal enfoque é o livro texto de Psicologia Social publicado em 1924, por Floyd Allport, considerado um dos mais famosos psicólogos sociais behavioristas da época. Ao defender que a Psicologia Social deveria concentrar-se no estudo experimental do indivíduo, na medida em que o grupo constituía-se tão somente em mais um estímulo do ambiente social a que esse indivíduo era submetido, Allport define os contornos da Psicologia Social Psicológica como uma disciplina objetiva, de base experimental e focada no indivíduo (Franzoi, 2007). Os anos de 1920 e 1930 serão dominados pelo estudo das atitudes, da influência social interpessoal e da dinâmica de grupos. No que tange às atitudes, a investigação concentrou-se no desenvolvimento de diferentes técnicas destinadas a mensurar tal constructo tomado como um fenômeno mental (McGarty & Haslam, 1997). No que se refere à influência social e dinâmica de grupos, merecem destaque os experimentos realizados por Muzar Sheriff e Kurt Lewin, psicólogos europeus que imigraram para os EUA e receberam fortes influências do gestaltismo. Sheriff (1936) estava interessado no processo de formação de normas sociais, tendo chegado à conclusão de que os grupos desenvolvem normas que governam os julgamentos dos indivíduos que dele fazem parte, bem como dos novos membros que a elas também se adaptam, em função das normas grupais existirem à revelia de seus membros individuais. Lewin e seus colegas (Lewin, Lippitt & White, 1939) dedicaram-se à análise da influência dos estilos de liderança e do clima grupal sobre o comportamento dos membros do grupo, tendo observado que o estilo de liderança democrático produzia normas grupais construtivas e independentes, que levavam à realização de um trabalho produtivo, independentemente da presença ou não do líder. Já a liderança laissez-faire deixava os membros passivos, enquanto os grupos com liderança autocrática tornavam-se agressivos ou apáticos. Dois principais temas marcaram as duas décadas subsequentes, que assinalam o período da Segunda Grande Guerra e do pós-guerra: atitudes e percepção de pessoa. A investigação das atitudes, iniciada nos anos 20, prosseguiu nas décadas seguintes com os experimentos de Carl Hovland e sua equipe sobre comunicação e persuasão (Hovland, Janis & Kelley, 1953), que levaram a importantes conclusões acerca dos diferentes fatores que interferiam na mudança de atitudes (Goethals, 2003). Tais estudos, bem como os que lhes sucederam, conferiram às atitudes um papel fundamental no campo da Psicologia Social Psicológica, tendo levado alguns autores (e.g., McGuire, 1968) a afirmar que tal fenômeno constituía-se em conceito central à Psicologia Social. A investigação sobre percepção de pessoas, que até hoje consiste em uma das áreas centrais de estudo da Psicologia Social Psicológica, inicia-se com os trabalhos de Fritz Heider (1944, 1946, 1958), que também imigrou da Alemanha para os EUA durante a Segunda Grande Guerra, e recebeu forte influência do gestaltismo. Na Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 6 publicação de 1944, o autor realiza o primeiro tratamento sistemático dos processos atribuicionais (Goethals, 2003), ao lançar o argumento de que os indivíduos associam as ações das pessoas a motivos e disposições internas, em função de perceberem uma justaposição ou gestalt entre o modo pelo qual as pessoas se comportam e a natureza de suas qualidades pessoais. Tal argumento sobre como as pessoas realizam atribuições causais será aprofundado no livro de 1958, traduzido para o português com o nome de "Psicologia das Relações Interpessoais". No artigo de 1946, Heider desenvolve a teoria do equilíbrio,segundo a qual as pessoas tendem a manter sentimentos e cognições coerentes sobre um mesmo objeto ou pessoa, de modo a obter uma situação de equilíbrio. Quando esse equilíbrio se desfaz, elas vivenciam uma situação de tensão e procuram restabelecê-lo, mediante a mudança de algum dos elementos da situação. Tal princípio encontra-se na base das teorias da consistência cognitiva que irão proliferar nos anos seguintes. Ainda na área de percepção de pessoas, merecem destaque os estudos de Solomon Asch (1946), que irá aplicar os princípios gestaltistas em seus experimentos sobre a formação de impressões. Seus resultados levam-no a concluir que as informações sobre as características pessoais do outro são organizadas em um todo coerente, que difere da soma das partes e pode ser modificado por peças críticas de informação que provocam a reorganização desse todo. Ademais, a ordem com que as informações são recebidas afeta a formação da impressão global. Os anos de 1950 e 1960 assistem à renovação do interesse pelas pesquisas sobre influência social e processos intergrupais, conduzidas, sobretudo, sob a liderança de Asch e Leon Festinger. Asch (1952), na esteira dos trabalhos anteriores de Sheriff (1936) sobre formação de normas sociais, já citados, interessa-se pela análise dos processos que levam os indivíduos a se conformarem com as normas do grupo ao realizarem julgamentos, ainda quando se torna evidente que tais julgamentos estão incorretos. Seus estudos sobre conformidade suscitaram uma série de desdobramentos posteriores, relacionados à investigação dos diferentes fatores que influenciavam tal fenômeno, além de inspirarem os experimentos clássicos de Milgram (1965), sobre obediência à autoridade. Festinger (1954), sob a influência das investigações realizadas por Lewin, propõe a teoria dos processos de comparação social, na qual defende que as pessoas necessitam avaliar suas habilidades e opiniões a partir de comparações realizadas com outros indivíduos que lhes são similares. A referida teoria suscitou uma série de experimentos, reemergiu algumas vezes ao longo dos anos 70 e encontra-se solidamente estabelecida no momento atual, sendo usada, de forma recorrente, como mecanismo explanatório dos processos de formação da identidade pessoal e social (Goethals, 2003). Posteriormente, Festinger (1957) introduz a teoria da dissonância cognitiva, na qual estabelece que as pessoas são motivadas a procurar o equilíbrio entre suas atitudes e ações. Nesse sentido, quando instadas a mudar seu comportamento, mostram-se propensas a modificar também suas atitudes, de modo a restabelecerem o equilíbrio entre ações e atitudes. Apesar de ter sido alvo de críticas, a referida teoria foi uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento da Psicologia Social Psicológica nas décadas seguintes (Rodrigues, Assmar & Jablonski, 2000), tendo propiciado um grande número de pesquisas experimentais rigorosas, conduzidas com a finalidade de testar seus vários pressupostos. As teorias da atribuição irão dominar o cenário sociopsicológico norte- Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 7 americano a partir do final dos anos de 1960 e durante os anos de 1970 e 1980, numa evidência da ascensão progressiva do cognitivismo no campo da Psicologia Social Psicológica. Apoiando-se nos pressupostos sobre as relações interpessoais antecipados por Heider (1944, 1958), as referidas teorias e seus desdobramentos (Jones & Davis, 1965; Kelley, 1967; Ross, 1977; Weiner, 1986) vão se debruçar sobre os processos cognitivos responsáveis pelos julgamentos sociais, isto é, pelos mecanismos que levam o indivíduo a perceber e atribuir causas internas (pessoais) ou externas (situacionais) ao comportamento do outro, bem como sobre os erros e vieses que interferem em tais processos. As investigações desenvolvidas no âmbito das teorias atribuicionais contribuíram não apenas para a elucidação de alguns dos princípios que governam o pensamento social, mas também para a maior compreensão de outros fenômenos psicossociais, como, por exemplo, a depressão e o ajustamento conjugal (Goethals, 2003). A partir dos anos 1980, o cognitivismo se consolida de vez como a perspectiva dominante na Psicologia Social Psicológica e no cenário norte-americano. Em consequência, o principal tema de investigação passa a ser a cognição social, que tem como objetivo básico compreender os processos cognitivos que se encontram subjacentes ao pensamento social (Fiske & Taylor, 1984). Adotando tal perspectiva, os psicólogos sociais cognitivistas se dedicam então a fazer uma reanálise de temas que já vinham sendo estudados há algum tempo, procurando agora, porém, desvelar os mecanismos cognitivos subjacentes a tais fenômenos, tendência que se mantém até os dias atuais, conforme será visto mais à frente. A Crise da Psicologia Social na América do Norte A breve descrição da evolução teórica e temática da Psicologia Social norte- americana evidencia que, com o passar do tempo, o modelo de pesquisa-ação orientado para a comunidade e para o estudo dos grupos, introduzido por Lewin ainda nos anos de 1930, foi sendo paulatinamente abandonado e substituído pela investigação de fenômenos e processos eminentemente intraindividuais, de natureza cognitiva. Tendo como meta última a investigação das leis universais capazes de explicar o comportamento social, a Psicologia Social Psicológica estrutura-se progressivamente como uma ciência natural e empírica, que desconsidera o papel que as estruturas sociais e os sistemas culturais exercem sobre os indivíduos (Pepitone, 1981). É nesse contexto que os anos de 1970 irão assistir ao surgimento da chamada "crise da Psicologia Social", motivada pela excessiva individualização da Psicologia Social Psicológica e dos movimentos sociais ocorridos nos anos de 1970 (como o feminismo, por exemplo). Nesse sentido, a crise da Psicologia Social se caracterizou, sobretudo, pelo questionamento das bases conceituais e metodológicas da Psicologia Social Psicológica até então dominante, no que tange à sua validade, relevância e capacidade de generalização (Apfelbaum, 1992). Os questionamentos se dirigiam principalmente à sua relevância social, isto é, ao fato dessa vertente da Psicologia Social usar uma linguagem científica cada vez mais neutra e afastada dos problemas sociais reais e, consequentemente, desenvolver modelos e teorias que não eram capazes de contribuir para a explicação da nova realidade social que surgia. Adicionalmente, criticava-se a artificialidade dos experimentos conduzidos em laboratório, a falta de compromisso ético de seus Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 8 mentores e a excessiva fragmentação dos modelos teóricos (Jones, 1985). As críticas referidas suscitaram grande resistência da comunidade científica estabelecida à época. No entanto, contribuíram para o movimento de internacionalização da Psicologia Social, responsável pelo desenvolvimento de uma Psicologia Social Européia, mais preocupada com o contexto social, e, mais recentemente, de uma Psicologia Latino-Americana, voltada prioritariamente para os problemas sociais, a serem abordadas logo após uma breve revisão do atual estado da arte da Psicologia Social na América do Norte. A Psicologia Social na América do Norte: Tendências Atuais Na atualidade, os psicólogos sociais da América do Norte continuam se debruçando sobre temas tradicionais, que já tinham sido objeto de interesse dos que construíram a história da disciplina naquele país, mas também vêm se dedicando a novas temáticas que contribuíram para expandir e diversificar o espectro de fenômenos sociais investigados no contexto norte-americano.De acordo com Ross, Lepper e Ward (2010), em capítulo publicado na quinta e mais recente edição do Handbook of Social Psychology, três tópicos podem ser considerados centrais à psicologia social, em função do continuado interesse que vêm despertando, razão pela qual que se encontram presentes na maioria dos livros textos e palestras sobre o assunto. São eles a cognição social, as atitudes e os processos grupais. A esses tópicos, Ross e cols. ainda acrescentam algumas novas vertentes da Psicologia Social que, mais recentemente, vêm também se mostrando promissoras. Entre elas, merecem destaque a Neurociência Social e a Psicologia Social Evolucionista. [...] A Psicologia Social na Europa: Evolução e Tendências Atuais Apesar de a Psicologia Social europeia ter inicialmente caminhado lado a lado com a Psicologia Social Psicológica, ela começou, a partir dos anos 1970 e motivada pela crise da Psicologia Social na América do Norte, a adquirir sua própria identidade e a demonstrar maior preocupação com a estrutura social. Desde então, ela vem crescendo progressivamente em tamanho e influência. Entre os temas de estudo mais frequentes no contexto europeu encontram-se a identidade social, que se insere principalmente no contexto das relações intergrupais, e as representações sociais, que remetem a uma psicologia dos grupos e coletividades. [...] A Psicologia Social na América Latina: Evolução e Tendências Atuais A Psicologia Social praticada na América Latina, até a década de 1970, esteve grandemente influenciada pelo paradigma da Psicologia Social Psicológica, tendência até hoje dominante na América do Norte. Ao final da década, porém, muitos psicólogos sociais latino-americanos iniciaram um forte movimento de questionamento à Psicologia Social norte-americana (em função de seu experimentalismo e individualismo), em prol de uma psicologia social mais contextualizada, isto é, mais voltada para os problemas políticos e sociais que a região vinha enfrentando. Estimulados pela arbitrariedade dos regimes militares e pela grande desigualdade social do continente, esses psicólogos sociais irão defender uma ruptura radical com a psicologia social tradicional (Spink & Spink, 2005). Nesse sentido, vários psicólogos latino-americanos passaram a adotar como Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 9 referencial de seus estudos a Psicologia Social Crítica. Um autor frequentemente citado como legítimo representante dessa perspectiva na Psicologia Social latino- americana é Martin-Baró, psicólogo e padre jesuíta espanhol, radicado em El Salvador, que defendia em suas obras o desenvolvimento de uma psicologia social comprometida com a realidade social latino-americana. Como forma de ajudar a minorar a situação estrutural de injustiça social que permeia a maioria dos povos latino-americanos, Martín-Baró (1996) enfatiza que a principal tarefa do psicólogo social deve ser a conscientização de pessoas e grupos, como forma de levá-los a desenvolver um saber crítico sobre si e sobre sua realidade, que lhes permita controlar sua própria existência. De acordo com o autor, urge, portanto, que os psicólogos sociais contribuam para a construção de identidades pessoais, coletivas e históricas capazes de romper a situação de alienação das maiorias populares oprimidas e desumanizadas que vivem à margem da sociedade dominan-te e, consequentemente, levar à mudança social. Trata-se, assim, de desenvolver um saber psicológico historicamente construído que se mostre capaz de compreender e contribuir para sanar os problemas que atingem as maiorias populares e oprimidas. Para ele (Martin-Baró, 1989), então, a construção teórica em psicologia social deve emergir dos problemas e conflitos vivenciados pelo povo latino-americano, de forma contextualizada com sua história. Outra autora de destaque no cenário latino-americano é Maritza Montero, da Venezuela. Em revisão recente sobre a Psicologia Social Crítica em seu país, Montero e Montenegro (2006) assinalam que ela se caracteriza principalmente por questionar os modos de produção de conhecimento e prática da Psicologia e perseguir a transformação social e a relevância social da pesquisa e intervenção sobre os problemas sociais que assolam o país. Para tanto, coloca-se contra as abordagens positivistas e experimentais, a neutralidade científica e as perspectivas individualistas de abordagem dos fenômenos psicossociais, defendendo, ao contrário, a produção de um conhecimento contextualizado, participante e co construído por pesquisadores e atores sociais, como forma de contribuir para a solução dos problemas sociais que vivenciam e transformar sua realidade social. Apoiando-se primordialmente em tal referencial, os psicólogos venezuelanos, muitas vezes em colaboração com colegas latino-americanos de outras nacionalidades, têm direcionado suas investigações para as temáticas dos estereótipos, autoimagens, identidades sociais, nacionalismo, movimentos sociais, poder social, relações de gênero, violência doméstica, direitos reprodutivos da mulher, entre outros. Tais estudos têm sido acompanhados, também, por uma intensa produção teórica sobre os princípios paradigmáticos da Psicologia Comunitária, bem como suas práticas e inserção no campo da ciência, sobre os modos de construção do conhecimento, sobre o conceito de empoderamento, sobre a pesquisa participativa etc. (Montero & Montenegro, 2006). Iniciativas sob a perspectiva da Psicologia Crítica também têm despontado em outros países latino-americanos como, por exemplo, a Colômbia (Molina-Valencia & Mesa, 2006), o Chile (Shafir, 2006) e o Brasil, que será objeto de análise mais detalhada na próxima seção. Cumpre registrar, porém, que a Psicologia Social Crítica não é a única tendência dominante na América Latina, na medida em que nela coexistem múltiplas tendências, havendo, assim, vários psicólogos sociais na região que vêm desenvolvendo seus trabalhos com o apoio de referenciais da Psicologia Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 10 Social norte-americana ou da Psicologia Social europeia. Nesse sentido, Álvaro e Garrido (2006) questionam se é possível afirmar a existência de uma Psicologia Social latino-americana que reúna traços próprios de identidade. Fonte: FERREIRA, Maria Cristina. A Psicologia Social contemporânea: principais tendências e perspectivas nacionais e internacionais. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília , v. 26, n. spe, p. 51-64, 2010 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 37722010000500005&lng=en&nrm=iso>. access on 01 July 2015. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722010000500005. Esse resumo de artigo, reduzido à terça parte, apresenta de forma bem clara as tendências históricas e atuais da psicologia social. Recomendo que faça um bom mapa mental para resumir as informações dadas. A seguir, apresentarei um outro resumo, complementar à aula de hoje. Resumo do Capítulo I – Psicologia Social (Aroldo rodrigues, Eveline Assmar e Bernardo Jablonski). O que é Psicologia Social? Psicologia Social é o estudo científico da influência recíproca entre as pessoas e dos processos cognitivo e afetivo gerados por esta interação. À exceção da figura legendária de Robinson Crusoé e de eremitas, todos os seres humanos vivemos em constante processo de dependência e interdependência em relação a nossos semelhantes. Um aperto de mão, uma reprimenda, um elogio, um sorriso, um simples olhar de uma pessoa em direção a outra suscitam nesta última uma resposta que caracterizamos como social. Por sua vez, a resposta emitida servirá de estímulo à pessoa que a provocou gerando, por seu turno, umoutro comportamento desta última, estabelecendo-se assim o processo de interação social. [...] A mera expectativa de como será o comportamento do outro (ou de seus pensamentos ou sentimentos) influencia nossas ações. Consideremos uma situação hipotética: se uma pessoa espera uma reação negativa de alguém, é bem possível que ela inicie a interação de forma agressiva. [...] Simultaneamente a manifestações comportamentais, processos mentais superiores (a expectativa de que falamos anteriormente e também nosso julgamento, processamento de informação etc.) são desencadeados pelo processo de interação e caracterizam o que se chama de pensamento social, ou seja, os processos cognitivos decorrentes da interação social. [...] Interação humana e suas consequências cognitivas, comportamentais e afetivas constituem, pois, o objeto material da Psicologia Social, ou seja, aquilo que a Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 11 Psicologia Social estuda. O objeto formal da Psicologia Social, ou seja, a maneira pela qual ela estuda seu objeto material, é o método científico, ou seja, é toda atividade conducente à descoberta de um fato novo orientada pelo paradigma. [...] teoria à levantamento de hipóteses à teste empírico das hipóteses levantadas à análise dos dados colhidos à confirmação ou rejeição das hipóteses à generalização [...] a Psicologia Social estuda a interação social e os concomitantes cognitivos e emocionais inerentes à interação entre pessoas, e que o faz por meio da utilização do método científico. Para completar a conceituação do que seja Psicologia Social convém acrescentar-se uma outra característica: o caráter situacional (ou latitudinal) do fenômeno psicossocial. Ressalte-se ainda que tais fatores situacionais devem ter a característica de estímulos sociais. O comportamento "procurar a sombra num dia de forte calor" é um comportamento ditado por fatores situacionais, mas dificilmente se consideraria tal atividade como sendo um comportamento social. Este mesmo comportamento de evitar o sol e abrigar-se à sombra de uma árvore poderia ser um comportamento social caso os fatores situacionais por ele responsáveis fossem um, ou uma combinação, dos seguintes: receio de que outras pessoas considerassem idiotice permanecer no sol quando havia uma confortável sombra a dois metros de distância; desejo de evitar a transpiração que o sol suscitaria em virtude da necessidade de manter-se asseado para um encontro iminente; apreensão com a atribuição de frivolidade (desejo de exibir uma cor bronzeada para efeitos estéticos) que pessoas observando a permanência do indivíduo ao sol poderiam fazer. Nestes últimos casos, o comportamento de esquivar-se do sol e dirigir-se à sombra seria, sem dúvida, um comportamento social e nele se verificaria nitidamente a relevância dos fatores situacionais a que nos referimos, fatores estes de característica latitudinal ou horizontal, em vez de longitudinal ou vertical. Não quer isto dizer que fatores longitudinais (experiências passadas, fatores hereditários, características de personalidade) não influam no comportamento social da pessoa. Influem e muito. Quando o psicólogo social os considera, todavia, faz isso ciente de que está utilizando uma variável longitudinal que interatua com variáveis situacionais na explicação de um determinado comportamento. Em outras palavras, ele recorre a ensinamentos emanados do estudo das características da personalidade individual a fim de verificar as interações das variáveis individuais com os fatores situacionais. O que caracteriza o aspecto social do comportamento estudado, contudo, é a influência de fatores situacionais. [...] a Psicologia Social é o estudo científico de manifestações comportamentais de caráter situacional suscitadas pela interação de uma pessoa com outras pessoas, ou pela mera expectativa de tal interação, bem como dos processos cognitivos e afetivos decorrentes do processo de interação social. Psicologia Social e áreas afins do conhecimento [...] Psicologia Social e Sociologia Fontes importantes do conhecimento sociológico consideram como objeto de estudo sociológico a sociedade, as instituições sociais e as relações sociais (p. ex.: Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 12 BROOM & SELZNICK, 1958; GIDDENS, 2009; INKLES, 1963; ZGOURIDES & ZGOURIDES, 2000) Dificilmente se encontra um psicólogo social ou um sociólogo que afirme, categoricamente, que Psicologia Social e Sociologia são áreas totalmente distintas. A maioria se inclina para a posição segundo a qual ambos estes setores do conhecimento têm, pelo menos, um objeto formal um pouco distinto (maneira pela qual estudam os fenômenos sociais), porém reconhecem a existência de uma área de interseção bastante nítida em seu objeto material (os fenômenos sociais que estudam). Esta é também a posição dos autores deste manual. Uma representação gráfica satisfatória do inter-relacionamento entre Psicologia Social e Sociologia poderia ser representada mais ou menos como se vê na figura 1.1. Os fenômenos sociais enumerados nessa figura são meramente exemplificativos, não sendo nossa intenção exaurir a gama de fenômenos tipicamente estudados pela Psicologia Social, pela Sociologia ou por ambas. Apesar de uma razoável área de interseção entre estas duas disciplinas, as perguntas formuladas pelo psicólogo social e pelo sociólogo em suas investigações do objeto material que lhes é comum variam bastante. Tomemos o exemplo do fenômeno psicossocial da delinquência juvenil. Numerosos são os livros encontrados na literatura psicológica e sociológica sobre o assunto. [...] [...] Psicologia Social Científica - Aplicações da Psicologia Social e tecnologia social A Psicologia Social é uma ciência e neste livro o leitor encontrará uma razoável quantidade de descobertas científicas que são fruto da atividade de pesquisa dos psicólogos sociais. No capítulo 14, exemplos de aplicações decorrentes destes conhecimentos serão apresentados. Os tipos de investigações conduzidas na Psicologia Social Científica e os tipos de aplicações comumente encontrados podem ser vistos no quadro a seguir: Psicologia Social Científica Pesquisa teórica Pesquisa centrada num problema Pesquisa metodológica Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 13 Pesquisa de avaliação Pesquisa de réplica Aplicações da Psicologia Social Aplicações simples Aplicações complexas (tecnologia social) Quadro 1.3 Tipos de pesquisa e de aplicações em Psicologia Social Como esse quadro mostra, os psicólogos sociais dedicam-se a pesquisas destinadas a promover avanços teóricos (p. ex.: teste de hipóteses derivadas de teorias; aperfeiçoamento do poder preditivo de teorias), ou a lançar luz sobre um problema específico (p. ex.: verificar se a densidade populacional influi no comportamento de ajuda nas cidades; verificar se uma liderança de-mocrática é mais ou menos eficaz que uma autocrática), ou a promover um refinamento metodológico (p. ex.: verificar se universitários se comportam de forma diferente de sujeitos não universitários; detectar tendenciosidades na coleta de dados), ou a avaliar a eficácia de uma intervenção (p. ex.: verificar se uma tentativa de mudança de atitude teve êxito ou não avaliar a eficácia de um programa destinado a diminuir o preconceito racial num determinado grupo social), ou, finalmente, apenas verificar a estabilidade e a generalidade de achados anteriores por meio da condução de réplicas (p. ex.: verificar se achadospsicossociais são trans históricos e/ou transculturais). Todos estes tipos de pesquisa integram a Psicologia Social Científica e fornecem subsídios para sua aplicação a problemas psicossociais concretos. Quando se lança mão de um achado específico para a solução de um problema determinado (p. ex.: eliminar o sentimento de frustração de um grupo com o objetivo de diminuir sua agressividade; utilizar um determinado tipo de poder social para lograr uma mudança comportamental específica) estamos tratando de aplicações simples; se, todavia, combinamos achados existentes para utilizá-los na solução de um problema social, estamos praticando o que Jacobo Varela (1971) denomina de Tecnologia Social. Varela (1975) define assim a Tecnologia Social: "É a atividade que conduz ao planejamento de soluções de problemas sociais a partir de combinações de achados derivados de diferentes áreas das ciências sociais" (p. 160). A primeira distinção que se impõe na compreensão do que seja tecnologia social é a que se refere à diferença de objetivos do cientista social (seja ele psicólogo social ou não básico ou aplicado) e do tecnólogo social. O cientista não orienta sua atividade para a solução de problemas Dizem Reyes e Varela (1980): "Frequentemente, achados científicos foram feitos por alguém que não tinha a menor ideia de que eles iriam ser utilizados para algo de útil ou de uma determinada maneira. A progressão do telégrafo para o telefone e para o rádio é um exemplo. Mas Morse e Bell eram inventores. Os cientistas atrás deles foram Faraday, Henry, Maxwell, Hertz e outros. Sem as descobertas puramente científicas, as invenções que as seguiram não teriam sido possíveis. Mas o cientista sozinho não poderia ter-nos legado as comunicações modernas. Não era esta sua preocupação. Os tecnólogos foram imprescindíveis para dar os passos necessários. Maxwell e os demais não estavam interessados em saber como suas descobertas seriam usadas. Sua ocupação era bem distinta daquela de Bell ou de Marconi" (p. 49). Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 14 Reyes e Varela (1980) salientam ainda que os cientistas sociais, no afã de atenderem à pressão social que clama pela relevância de suas pesquisas, criam "programas aplicados". Acontece, porém, que pesquisa aplicada continua sendo pesquisa, isto é, a preocupação é a de descobrir a realidade em ambientes naturais e continuar pesquisando até que se obtenha um conhecimento satisfatório e fidedigno desta realidade. O tecnólogo social não se preocupa em descobrir a realidade; ele deixa isto para os cientistas e, baseado nas descobertas destes últimos, procura resolver problemas concretos. No capítulo 9, ao tratarmos do fenômeno de influência social, mostraremos a tecnologia social em ação. Marcos históricos da Psicologia Social Científica [...] 1895: Gustave Le Bon publica seu livro La Psychologie des foules que, apesar de conter conceitos não empiricamente testáveis, suscitou o estudo científico dos processos grupais e, principalmente, dos movimentos de massa. 1898: Norman Triplett conduz o primeiro experimento relativo a fenômenos psicossociais, comparando o desempenho de meninos no exercício de uma atividade nas condições de isolamento ou juntamente com outros, fenômeno este que ficou conhecido como "facilitação social". 1908: William McDougall e Edward A. Ross publicam no mesmo ano os primeiros livros intitulados Psicologia Social. Apesar do mesmo título, a abordagem dos autores é distinta: McDougall é guiado por uma posição instintivista e Ross salienta o papel da cultura e da sociedade no comportamento humano. 1921: Morton Prince inicia a publicação do Journal of Abnormal and So-cial Psychology, o qual se constitui, até 1964, na principal fonte de publicação de estudo em Psicologia Social. 1928: Louis L. Thurstone inicia seus estudos relativos à mensuração das atitudes em seu artigo "Atitudes Can Be Measured". 1935: Carl Murchison publica o primeiro Handbook of Social Psychology. 1936: Kurt Lewin e seus associados dedicam-se com afinco à aplicação de princípios teóricos na resolução de problemas sociais, caracterizando o que ficou consagrado no termo action research. A influência de Lewin em Psicologia Social é de tal ordem que Leon Festinger, comentando uni li-vro sobre a obra de Kurt Lewin, declarou que 95% da Psicologia Social contemporânea revela a influência lewiniana. 1936: George Gallup inicia o movimento de medida de opinião pública em bases amplas tornando tal atividade uma realização de notável repercussão e alcance em Psicologia, Sociologia e Ciência Política. 1936: Muzafer Sherif mostra experimentalmente como se formam as normas sociais, a partir de seus estudos sobre o efeito autocinético. 1939: Kurt Lewin, Ron Lippit e Ralph White publicam os resultados de seus estudos relativos à conduta de grupos funcionando em diferentes atmosferas no que concerne ao tipo de liderança exercida. Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 15 1943: Theodore M. Newcomb reporta seu estudo de quatro anos no Bennington College, mostrando como as atitudes podem se modificar em função da adesão a diferentes grupos de referência. 1946: Fritz Heider publica seu artigo "Attitudes and Cognitive Organization" considerado o berço das teorias de consistência cognitiva que floresceram na década de 1950 e que continuam a ter relevante papel na Psicologia Social contemporânea. 1953: Carl Hovland, Irving Janis e Harold Kelley publicam os resultados dos estudos do Grupo de Yale acerca dos fatores influentes na mudança de atitudes. 1954: Gardner Lindzey coordena o Handbook of Social Psychology. 1957: Leon Festinger apresenta sua teoria da dissonância cognitiva que, sem qualquer dúvida, constitui a teoria de maior valor heurístico em Psicologia Social, inspirando uma grande quantidade de testes empíricos e de aplicações. 1958: Fritz Heider publica seu influente livro The Psychology of Interpersonal Relations. Esse livro lançou as bases do que é hoje conhecido como teoria da atribuição e tem exercido influência significativa em Psicologia Social desde sua publicação até os dias de hoje. 1964: Sob a presidência de Leon Festinger forma-se o Comitê de Psicologia Social Transnacional que teve papel fundamental na criação das associações de Psicologia Social europeia e latino-americana. 1965: Dois novos periódicos destinados a divulgar pesquisas em Psicologia Social veem a lume: O Journal of Personality and Social Psychology e o Journal of Experimental Social Psychology. 1965: É criada a Associação Europeia de Psicologia Social Experimental sob a presidência de Serge Moscovici (França). Poucos anos depois esta associação inicia a publicação do periódico European Journal of Social Psychology. 1968: G. Lindzey e E. Aronson coordenam a 2' edição do Handbook of Social Psychology. 1970: Por conta dos trabalhos de Edward E. Jones, Harold H. Kelley, Ke-ith E. Davis, Richard Nisbett, Bernard Weiner, John Harvey etc., extraordinário impulso é dado ao estudo do fenômeno de atribuição de causalidade em Psicologia Social. 1970: Ganha grande visibilidade o movimento que se tornou conhecido como a crise da Psicologia Social, durante o qual fortes ataques foram dirigidos às pesquisas de laboratório, aos procedimentos metodológicos e éticos e à falta de aplicação da Psicologia Social aos problemas sociais. A crise também se caracterizou pela crítica à pouca relevância prática das pesquisas em Psicologia Social. 1971: Realiza-se em Viria Del Mar, Chile, o primeiro workshop de Psicologia Social na América Latina, do qual participaram as principais figuras da Psicologia Social latino-americanae três psicólogos de renome dos Estados Unidos. Foi então criado o Comitê Latino-Americano de Psicologia Social sob a presidência de Luis Ramallo (Chile), mais tarde transformado na Associação Latino-Americana de Psicologia Social. 1973: Funda-se a Associação Latino-Americana de Psicologia Social, tendo como presidente Aroldo Rodrigues (Brasil). Integraram a diretoria em Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 16 diferentes funções Héctor Cappello (México), José Miguel Salazar (Venezuela), Gerardo Marín (Colômbia), Julio Villegas (Chile) e Catalina Weinerman (Argentina). 1981: Harry C. Triandis e colaboradores editam a obra Handbook of Cross-Cultural Psychology. 1984: Susan Fiske e Shelley Taylor publicam o livro Social Cognition, que traduz a ênfase que se passou a dar em Psicologia Social aos processos cognitivos. 1985: Gardner Lindzey e Elliot Aronson editam mais uma edição do Handbook of Social Psychology. 1986: O pensamento atribuicional em Psicologia Social serve de base para a Teoria Atribuicional de Motivação e Emoção proposta por Bernard Weiner em seu livro An Attributional Theory of Motivation and Emotion. 1998: A 4' edição do Handbook of Social Psychology é publicada, agora organizada por Gardner Lindzey, Susan T. Fiske e Daniel T. Gilbert. 2001: Dijksterhuis e Bargh publicam na série Advances in Experimental Social Psychology seu importante capítulo acerca dos efeitos automáticos do processo de percepção social no comportamento social. 2010: Vem a lume a 5' edição do Handbook of Social Psychology editado novamente por Gardner Lindzey, Susan T. Fiske, Daniel T. Gilbert. No quadro 1.4 o leitor encontrará uma sinopse da história da Psicologia Social. Nele a nossa preocupação foi mais a de exemplificar temas e nomes de destaque em vários períodos do que a de sermos exaustivos. Saliente-se ainda que o fato de certos tópicos não serem mencionados em determinados períodos não significa que eles tenham sido ignorados. A finalidade da sinopse é mostrar o surgimento e a maior importância dada ao estudo de certos fenômenos psicossociais em alguns períodos aproximados de tempo. Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 17 Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 18 Os fenômenos psicossociais na psicologia social. O que são fenômenos psicossociais? Esse é o tipo de resposta que não aparece de forma clara nos manuais de psicologia social. Em tese, e para fins de concursos, são todos os fenômenos humanos. O que você deve entender é que esses fenômenos são plurais e que existe uma diversidade de formas de compreensão. Em resumo, não conseguimos definir quais são e nem os métodos exatos que devem ser usados. Isso é um problema? Para fins de concurso e de ciência sim, mas argumenta-se que a própria realidade é plural e que necessita de abordagens cada vez mais multimetodológicas para termos resultados adequados. Em breves termos, o estudo dos fenômenos psicossociais representa tudo o que a psicologia estuda, incluindo psicopatologias, à luz do viés social. Esse viés social depende também da escola adotada. Um bom exemplo de como isso começou é o seguinte: Rodrigues (1986) salienta também que foi em 1897 que houve o primeiro experimento relativo a fenômenos psicossociais, e que este fora realizado por N. Tripplett com o objetivo de comparar o desempenho de meninos no exercício de uma atividade nas condições de isolamento ou junto com outros. Conforme Moura (1993) percebeu-se que a velocidade de um corredor era 20% maior quando na presença de outros, chegando-se à conclusão de que a situação em grupo produzia mais ambições do que em isolamento na realização de tarefas. Júnior e Justo. Revista Caminhos, On-line, “Humanidades”, Rio do Sul, a. 4, n. 6, p. 21-38, abr./jun. 2013 A seguir, apresento um trecho de artigo que tangencia alguns dos fenômenos psicossociais. Cognição social Segundo Carlston (2010), a cognição social pode ser vista atualmente como uma subárea da Psicologia, responsável por integrar uma série de micro-teorias que, ao longo do tempo, foram se desenvolvendo no contexto da Psicologia Social para explicar os modos pelos quais as pessoas pensam sobre si mesmas e sobre as coisas, formam impressões acerca de outras pessoas ou grupos sociais e explicam comportamentos e eventos. Apoiada no modelo de processamento de informação (que considera a atenção e percepção, a memória e o julgamento como diferentes etapas do processamento cognitivo), a cognição social dedica-se, assim, a estudar o conteúdo das representações mentais e os mecanismos que se encontram subjacentes ao processamento da informação social. Ela se focaliza, portanto, nos modos pelos quais as impressões, crenças e cognições sobre os estímulos sociais (o próprio indivíduo, bem Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 19 como outras pessoas, grupos e eventos sociais) são formadas e afetam o comportamento. No que tange ao conteúdo das representações mentais, a premissa básica é a de que as informações sociais são representadas cognitivamente sob a forma de estruturas mentais, isto é, de estruturas gerais de conhecimento, construídas, organizadas e estocadas na memória em categorias, com base nas informações obtidas no contato do indivíduo com seu mundo social (Quinn, Macrae & Bodenhausen, 2003). Essas estruturas são denominadas de esquemas sociais, que podem tomar a forma de protótipos (representam os membros mais típicos) ou de exemplares (representam membros individuais), a serem acessados quando necessário. Tal acesso ocorre por meio do processamento da informação social, mediante o qual o percebedor social identifica inicialmente os atributos salientes na pessoa alvo de sua percepção (Quinn & cols., 2003). Em seguida, ele procura na memória as representações mentais ou esquemas similares aos atributos identificados, seleciona o mais apropriado e usa-o para realizar inferências acerca daquela pessoa, armazenando na memória de longo prazo a avaliação daí resultante. Subjacente a todo esse processo, há o pressuposto básico de que as pessoas são limitadas em sua capacidade de processar informações e, por essa razão, utilizam-se de certas estratégias ou heurísticas para lidar com o grande volume e complexidade de informações sociais a que são submetidas em seu dia-a-dia (Pennington, 2000). Com isso, acabam por cometer erros e distorções em seus julgamentos e tomadas de decisão. Algumas questões chaves têm permeado as investigações na área da cognição social (Quinn & cols., 2003). Elas dizem respeito principalmente ao grau em que o processamento cognitivo é automático ou controlado, à influência da motivação e do afeto na cognição social e ao fato de a cognição ser abstrata ou situada. No que diz respeito à automaticidade ou não do processamento da informação social, os resultados têm apontado que as pessoas podem realizar tanto julgamentos mais espontâneos e automáticos, quanto julgamentos mais conscientes e reflexivos, sendo que o uso de um tipo ou outro irá depender principalmente de sua motivação e habilidade em cada situação (Pennington, 2000). Nesse sentido, muitos dos julgamentos sociais ocorrem de forma inconsciente, não intencional, não controlável e demandam pouco da já limitada capacidade humana de processamento. Contudo, fenômenos mais complexos podem exigir um processamento mais consciente econtrolado, o que irá depender da habilidade cognitiva do percebedor e/ou do fato de o processamento automático mostrar-se contrário a seus objetivos e metas. O debate acerca das influências da motivação e do afeto na cognição social tem permeado essa área de estudos desde seus primórdios. Em que pese o fato de os primeiros psicólogos sociais cognitivistas terem rejeitado tais influências, as pesquisas mais recentes apontam que os afetos e motivações individuais interagem com as cognições na determinação do comportamento social (Schwarz, 1998). Nesse sentido, fatores motivacionais podem interferir no grau de esforço cognitivo despendido no processamento da informação social, bem como direcionar tal processamento, ao facilitar a ativação de esquemas relevantes às metas do indivíduo (Quinn & cols., 2003). Por outro lado, tem-se também verificado que a codificação, elaboração e julgamento sociais são mediados pelas emoções, na medida em que elas contribuem para a ativação de informações com elas congruentes, além de provocarem Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 20 reorganizações mentais que se mostrem mais consistentes com as experiências afetivas individuais (Quinn & cols., 2003). As investigações iniciais na área da cognição social dedicaram-se, sobretudo, a esclarecer as diferentes características associadas à representação e processamento da informação social, ou seja, seu principal foco era uma cognição social abstrata e vinculada ao que se passava no interior da cabeça do indivíduo. Mais recentemente, porém, os psicólogos sociais cognitivistas passaram a explorar as características da situação social que interferem nas estratégias de processamento, ou seja, uma cognição social situada. Com isso, a ênfase se desloca do "pensamento sobre os estímulos sociais" para o "pensamento no contexto social" (Schwarz, 1998). Os resultados iniciais de tais estudos já puseram em evidência que os julgamentos sociais de uma mesma pessoa alvo podem diferir em função dos diferentes indivíduos que realizam tais julgamentos, a depender da natureza das interações de cada um com a pessoa alvo. Desse modo, um conjunto de pessoas interagindo ativamente e compartilhando suas avaliações, transmitirão informações que serão interpretadas e integradas diferentemente por cada percebedor (Smith & Collins, 2009). Entre os principais fenômenos psicossocias investigados atualmente, na perspectiva da cognição social, encontram-se o self, a formação de impressões, a percepção de pessoas e os estereótipos. No contexto do cognitivismo, o self é conceituado como um autoesquema, isto é, como uma representação mental que contém o conhecimento do percebedor acerca de si próprio, no que se refere a suas características de personalidade, papéis sociais, experiências passadas e metas futuras (Quinn & cols., 2003). As pesquisas sobre essa temática têm demonstrado que as pessoas diferem em termos dos atributos que consideram centrais à sua autodefinição, das dimensões distintas de seus autoesquemas que podem ser ativadas em situações diversas, das informações relativas a seu autoconceito que são processadas de modo mais completo e que são mais facilmente relembradas, e da forma com que a autodefinição do indivíduo afeta as crenças e expectativas que ele traz para uma determinada situação social. O self decorre, portanto, de um processo flexível e construtivo de julgamento sobre si mesmo, que leva o indivíduo a se apresentar de diferentes maneiras, a depender do ambiente social em que se encontra inserido, o que irá contribuir para sua adaptação a esse ambiente (Quinn & cols., 2003). Os estereótipos, a formação de impressões e a percepção de pessoas constituem temas tradicionalmente estudados pela Psicologia Social e centrais à área de cognição social. Em contraste com os autoesquemas, que contêm as estruturas de conhecimento sobre o próprio indivíduo, os estereótipos consistem em esquemas ou representações mentais sobre grupos sociais. Nesse sentido, eles interferem ativamente no processo de formação de impressão e percepção de pessoas, que é o responsável pela integração de informações e avaliação de outros indivíduos, ou seja, pelas formas com que o percebedor interpreta os indivíduos que o rodeiam. Os achados empíricos mais recentes nesse campo de estudos têm demonstrado que as pessoas costumam realizar inferências iniciais (formação e percepção de pessoa) baseadas em estereótipos, o que significa dizer que essas categorias sociais são ativadas de modo automático ou inconsciente, tão logo o percebedor identifica um determinado indivíduo como pertencente a certo grupo social. Posteriormente, dependendo de sua motivação e habilidade, poderá corrigir essa impressão inicial, com base em informações mais individualizadas e que se mostrem congruentes ou incongruentes com seus Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 21 estereótipos (Quinn & cols., 2003). Em síntese, a investigação atual na área da cognição social evoluiu progressivamente, de modo a incluir temas não abordados inicialmente, como a automaticidade dos processos sociocognitivos, os afetos e a motivação. Tais avanços contribuíram sobremaneira para ampliar o escopo da teorização e pesquisa nesse campo de estudos, além de alargarem a compreensão da ampla gama de fenômenos responsáveis pela atuação do indivíduo em seu contexto social. Fonte: FERREIRA, Maria Cristina. A Psicologia Social contemporânea: principais tendências e perspectivas nacionais e internacionais. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília , v. 26, n. spe, p. 51-64, 2010 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 37722010000500005&lng=en&nrm=iso>. access on 01 July 2015. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722010000500005. Sobre a atuação psicossocial Segundo Ploner et al.: Podemos dizer que, hoje, temos uma gama significativa de práticas psicossociais em comunidade, indicando uma grande variedade de atuações, trabalhos e perspectivas epistemológicas (Gohn, 1987; Landim, 1998; Montero, 1994a; Freitas, 2000b). Tratam-se de práticas de intervenção ou atuação psicológica/psicossocial com características distintivas: a. Dirigem-se aos mais diversos segmentos da população (como bairros; cortiços; favelas; mangues; alagados; diferentes grupos populares, civis, religiosos; diversos movimentos populares; segmentos ou setores de entidades civis, profissionais, comunitárias; comissões e/ou fóruns em educação, saúde, direitos humanos; entre outros); b. Localizam o objeto de investigação e/ou ação dentro de um enquadre teórico diversificado (indo do individual, passando pelo familiar, por pequenos grupos, até organizações e movimentos comunitários e/ou populares de dimensões maiores); c. Selecionam algum tema como central e prioritário em suas proposições (provenientes da área da saúde, educação, trabalho; relações comunitárias e organizativas; direitos humanos, violência e cidadania; formação profissional; qualidade de vida; relações de exclusão e inclusão social; emprego, desemprego e falta de perspectiva de vida, entre outros), d. Empregam aportes teórico-metodológicos diferentes e, em algumas ocasiões, antagônicos entre si (podem se distribuir em um continuun em que em um dos pólos há a adoção de referenciais mais objetivistas, quantitativos e supostamente imparciais, e no outro extremo há, somente, a adoção de perspectivas analíticas qualitativas e participativas, excluindo qualquer tipo de recurso e/ou material quantitativo); e. Estabelecem um tipo de relação de conhecimento entre o profissional e a comunidade que imprime rumos para o trabalho desenvolvido (o foco da decisãorecai em um dos pólos da relação ou na síntese de ambos). Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 22 Assim, hoje, talvez fosse mais adequado nos referirmos a esse tipo de prática no plural, uma vez que há várias psicologias (sociais) comunitárias, e não apenas uma, e muito menos consensuais entre si, para não dizermos tendo concepções de homem e de sociedade, muitas vezes, díspares e antagônicas entre si. Fonte: PLONER, KS., et al., org. Ética e paradigmas na psicologia social [online]. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2008. 313 p. ISBN: 978-85- 99662-85-4. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org> Tópico Extra - Cultura juvenil O entendimento desse tópico passa, necessariamente, pelo texto “A Tendência Antissocial”. Texto resultante de uma conferência proferida na British Psycho- Analytical Society em 1956. Esse artigo faz parte do livro “Privação e Delinquência” que é, por sua vez, livro é uma coletânea de artigos que Winnicott nos fornece através de um excelente referencial psicanalítico sobre a violência e a destruição. É principalmente uma compreensão etiológica da tendência antissocial ligada a partir do entendimento do desenvolvimento infantil e do adolescente. Iremos tratar desse tópico, e aprofundar muito do que foi falado anteriormente, através da resenha que fiz do “Privação e Delinquência”. Winnicott construiu parte de sua teoria a partir das observações que fez como Consultor Psiquiátrico do esquema de evacuação do Governo Inglês. Isso foi durante a segunda grande guerra e ele teve a oportunidade de trabalhar com crianças que vivenciaram o isolamento e/ou a perda de seus pais. É nesse contexto que surge o conceito de “deprivação”. Não temos em nosso idioma a palavra perfeita para traduzir “deprivation”. Por isso utilizarei, a exemplo de todos os que me precederam, a palavra deprivação. A privação (sem o “de”) representa a ausência de cuidados maternos e, por consequência, o desencadeamento de patologias graves, como as psicoses e o Autismo Infantil Precoce. A deprivação, por sua vez, refere-se a uma perda de algo que já existiu (cuidado materno que foi perdido). Apenas por curiosidade, destaco que a questão é saber quando esse senso de privação ou perda é real ou apenas um efeito psicológico. Para Winnicott, a criança que recebeu afeto e carinho na época certa pode se sentir tão isolada e privada quanto a criança que não recebeu. A tendência antissocial é um aspecto normal do desenvolvimento da criança associado a deprivação. Destaco que a deprivação é um conceito distinto da privação na concepção de Winnicott (Bowlby não faz essa distinção, cuidado). Enquanto a privação leva a retirada e a falha em prosperar, a deprivação significa que a criança recebeu um “rótulo” de que era suficiente boa e depois experimentou a perda súbita de vínculo. Isso pode ocorrer pelo nascimento de outra criança, o abandono dos pais, etc. Essas situações fazem com que a criança queira protestar. O ato antissocial (roubo, enurese noturna, etc.) constitui-se em um imperativo relativo a uma falha no período da dependência relativa. De acordo com Winnicott, a tendência antissocial indica que o bebê pode experimentar um ambiente suficientemente bom à época da dependência absoluta, mas que foi perdido posteriormente. Assim, o ato antissocial é um sinal de esperança de que o indivíduo venha a redescobrir aquela experiência boa anterior à perda. A tendência antissocial Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 23 não deve ser vista como um diagnóstico, e pode ser aplicada tanto à crianças como a adultos. A tendência antissocial é uma tentativa de estabelecer uma reivindicação. Em psicopatologia a reivindicação é uma negação de que o direito a reclamar se perdeu. No comportamento antissocial patológico, o jovem antissocial é impelido a corrigir, e afazer com que a família ou a sociedade corrija, a omissão que foi esquecida. O comportamento corresponde a um momento de esperança. É preciso enfatizar que é uma privação, e não uma carência, que está subentendida na tendência antissocial. Uma carência produz um resultado diferente: sendo deficiente o suprimento básico de facilitação ambiental, curso do processo de amadurecimento é distorcido e o resultado é um defeito de personalidade, não um defeito de caráter. A tendência antissocial pode ser uma característica em crianças normais e em crianças de qualquer tipo ou de qualquer diagnóstico psiquiátrico, exceto a esquizofrenia, pois este não é suficientemente maduro para sofrer privação e encontra- se num estado de distorção associado à carência. A personalidade paranoide ajusta facilmente a tendência antissocial à tendência geral para se sentir perseguido, de modo que, na personalidade paranoide, pode haver uma sobreposição de distúrbios de personalidade e de caráter. Winnicott distingue delinquência de tendência antissocial. As raízes são as mesmas (deprivação), mas a delinquência, caracterizada pela criminalidade, significa que o sujeito já se identificou com esse estilo antissocial de vida. Aqui a mudança é muito mais difícil que a simples tendência antissocial em função dos ganhos secundários. Existe também uma reação de defesa mais acentuada. Winnicott disse que “a delinquência é um sinal de esperança”. Inconscientemente o delinquente busca reencontrar bons pais. O problema, como o próprio autor aponta, é que o ambiente social não aceita esse tipo de comportamento e a consequência é a punição (e não a compreensão). O jovem delinquente não é totalmente consciente de seus atos. E um exame das motivações inconscientes do delinquente irá nos ligar a uma sensação de perda e de privação. Como você já sabe, a agressividade é natural à condição humana. Mas será que a tendência antissocial também é? Para Winnicott sim: o desenvolvimento emocional normal possui em si, naturalmente, a tendência antissocial. Para Winnicott, diferentemente de Freud e de Klein, a agressão é um sintoma da vida. É uma reação natural que não tem, necessariamente, a intenção de matar ou machucar alguém. O sadismo, a inveja e o ódio surgem depois com o desenvolvimento humano (não são inatos). A principal conclusão do livro, ou uma das principais, é que o cuidado parental é essencial para o desenvolvimento humano (é esse modelo que é replicado nos tratamentos psicoterapêuticos). No capítulo 1 - Evacuation of Small Children – discorre-se sobre o programa de evacuação britânica e argumenta-se que a retirada de crianças de 2 a 5 anos do convívio de seus pais produz grandes problemas psicológicos (especialmente nas mais novas). Isso é justificado pelo entendimento que quanto mais jovem for a criança, menos habilidade terá para manter a ideia da pessoa viva dentro de si. Curiosidade: Para Winnicott, não são só as Pessoas depressivas, de qualquer idade - além das crianças que sofrem de deprivação - encontram dificuldades em Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 24 manter esse objeto vivo (as pessoas que ama) dentro de si. Isso ocorre também com a família que mora junto com a pessoa depressiva! Neste mesmo capítulo Bowlby é citado por sua classificação sobre o nível de perturbação medidos pelo modo de reagir das crianças vítimas de deprivação: A. Crianças ansiosas, podendo ser deprimidas ou não. B. Crianças fechadas em si mesma, tendendo a afastar-se de todo e qualquer relacionamento. C. Crianças ciumentas e briguentas. D. Crianças hiperativas e agressivas. E. Crianças com estados alternantes de exaltação e depressão.F. Crianças delinquentes. Essas são as dimensões, além disso, devemos classificar o grau de perturbação: I – Leve II – Razoavelmente sério (que se corrigirá com tratamento e compreensão) III – Distúrbio emocional profundo Após muitas pesquisas e as experiências no London Child Guidance Clinic, Winnicott concluiu que um fator importante na causa da delinquência é um período de separação prolongado do adolescente em relação a mãe na sua fase infantil. Algo em torno de 6 meses durante os primeiros cinco anos de vida. Destaco que, obviamente, quando tratamos de crianças, quase nunca é fácil reconstruir essa história de forma objetiva. Por isso é importante reconstruir a partir de observações do comportamento da criança no seu lar temporário. Bowlby, por sua vez, acreditava que a evacuação das crianças de suas cidades sem as mães poderia levar a uma série de desordens psicológicas, assim como aumentar a delinquência juvenil na década seguinte. No Capitulo 2 (Review of The Cambridge Evacuation Survey: A Wartime Study in Social Welfare and Education - Susan Isaacs), o autor, Susan Isaacs, afirma que a evacuação de crianças foi um evento necessário diante das circunstâncias da guerra. O problema era que o plano de evacuação foi pior do que se não tivesse ocorrido. Bowlby classificou as crianças vítimas dessa deprivação em seis grupos: a) Crianças ansiosas com ou sem sintomas depressivos b) Crianças que se isolam e que evitam relacionamentos com outras pessoas c) Crianças invejosas e briguentas d) Crianças com agressividade e hiperativas e) Crianças que alternam o humor entre depressão e o contentamento incontido (júbilo). f) Crianças delinquentes As crianças eram classificadas nesses seis modos de agir. Também eram classificadas de acordo com o nível de desordem exibido de acordo com três graus: Grau I – pequenas dificuldades no relacionamento social e escolar; na maioria dos casos apenas um simples tratamento e compreensão levam à adaptação. Grau II – sério desajuste, necessita de tratamento clínico fundamentado em cuidado e atenção. Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 25 Grau III – indica um severo distúrbio emocional que, a menos que seja devidamente tratado nos estágios precoces, vai levar a sérios problemas no futuro. Recomendo que já se acostume com as classificações de Bowlby. Essa classificação não é totalmente fechada e pode variar com estudos futuros. Sobre a capacidade de compreensão de acordo com as idades, Winnicott afirma que crianças mais velhas (com 5 anos, por exemplo) tendem a ter maiores impactos indiretos com a guerra em si que crianças mais novas. O texto do Capítulo III (Children in the War) fala como as crianças, de diferentes faixas etárias, tendem a lidar com a ideia da guerra. Apesar de ser interessante essa distinção, não nos interessa para fins de concurso. O que nos interessa está fora desse livro: No artigo "Crianças na guerra" (1940b/1999), Winnicott escreveu a respeito de como é possível compreender o efeito da guerra nas crianças e sobre a capacidade que elas teriam para entende–la. De acordo com o autor, seria necessário conhecer inicialmente as ideias e os sentimentos que a criança já possui "naturalmente" e sobre os quais as notícias da guerra seriam inseridas. Para Winnicott, as crianças lidam com "guerras pessoais" travadas em seu íntimo, possuem um mundo interno rico e já possuem conhecimentos sobre cobiça, ódio e crueldade, sobre amor e remorso, sobre o impulso para fazer o bem e sobre a tristeza. "As crianças pequenas compreendem muito bem as palavras bom e mau, e não adianta dizer que, para elas, essas ideias estão apenas na fantasia, uma vez que, na verdade, seu mundo imaginário pode parecer–lhes bem mais real do que o mundo externo" (1940b/1999, p. 28). Fonte: Guizzo (2012) Quando as crianças são tomadas de seus pais, fortes sentimentos emergem. Esses sentimentos surgem não só nas crianças, como também na família que perdeu a guarda da criança e a família adotiva. Winnicott apelas aos pais temporários na carta intitulada “The Evacuated Child”. Ele diz que os pais temporários devem assumir o papel de pais, mesmo que apenas durante um tempo, para se relacionarem melhor com as crianças que acolheram. Em um Capítulo posterior (The Return of the Evacuated Child), Winnicott afirma que a volta da criança evacuada não é um ato simples. Para as crianças que se deram bem em seus lares provisórios, a volta pode ser uma decepção. Se os pais originais mantiverem o contato com a criança em suas famílias adotivas, o regresso emocional será bem menos complicado. Como você já sabe, existe um limite na capacidade infantil em manter viva a ideia de alguém que ama sem manter contato com a pessoa. O mesmo pode ser dito dos pais e, por extensão, para todos os seres humanos. Assim, no caso dos pais originais, o lado ruim de perder a guarda das crianças é que, depois de um tempo, eles param de se sentir responsáveis pelas crianças. Winnicott encontrou muitos casos em que mães começaram a trabalhar, tiveram outras crianças ou até casos em que tinham dificuldades de lembrar onde seus filhos estavam. E mais uma vez ele manifesta a importância de manter contato periódico com os filhos em seus lares provisórios. Em muitos momentos do livro, Winnicott é jocoso ao indagar se os pais biológicos não estariam mais felizes sem seus filhos – afinal, sobraria mais tempo para cuidar de si, para investir em planos novos. Felizmente ele sempre retorna o senso de Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 26 que os pais que vivem a situação de perder o contato com seus filhos se sentem, na maioria das vezes, vazios de sentido. Aqui temos de fazer uma parada para citar um ponto fundamental do capítulo em questão: Segundo Winnicott, a comparação maior feita pela criança não é entre a casa nova e a casa antiga, mas entre a casa antiga e a casa idealizada em sua mente. Nesse contexto, ele encontrou várias crianças que vinham de lares ruins, mas que tinham imagens maravilhosas em suas memórias. Quando a criança regressa à casa real, com suas fantásticas expectativas, ocorre uma desilusão ao mesmo tempo em que ela percebe que tem um lar. Essa adaptação leva tempo, e deve ser encarada com paciência e naturalidade. Fonte: Winnicott (2006) Ainda sobre o processo de idealização: Quanto mais tempo a criança fica longe de casa, mais ela tende a idealizar o ambiente em que vivia. O ato de idealizar não é um problema, ao contrário, nos trás conforto e prazer. O problema é quando essa idealização se distancia demais da realidade. Em tempos de guerra, em especial, é possível que essa idealização não seja totalmente controlada pela criança e leve a fantasias de batalhas perto de casa, pessoas mortas na cozinha ou a casa demolida. Fonte: Winnicott (2006) O seu retorno para casa pode inaugurar uma nova era de imaginação, novamente ligada à realidade, e de encerramento das fantasias negativas que possuía. Além disso, Winnicott lista uma série de características (não exaustivas) que indicam que a criança está dando um passo além na reintegração ao seu lar: desperdiçar comida, pirraçar, testar os adultos (i.e. pequenos furtos), testar a mãe sobre o quanto ela é a verdadeira mãe, etc. Essas são características que são apresentadas em função da criança se sentir segura novamente. Ela, que antes cumpria a função de mãe e pai de si mesma, agora volta a ser criança. Winnicott faz uma divagação interessante: “Não é apenas a comida e o abrigo que contam, e nem a provisão de ocupações para momentos livres. Penso que essas coisas são suficientemente importantes. Podem ser providas em abundânciae ainda assim o essencial estará faltando se os pais de uma criança ou seus pais adotivos/guardiões não assumirem a responsabilidade pelo seu desenvolvimento. Existe um assunto que mencionei da necessidade de feriados do autocontrole. Devo dizer que, para que a criança se desenvolva a ponto de descobrir as profundezas de sua natureza, alguém tem de desafia-la e, algumas vezes, até odiá-la. E quem melhor para fazer isso que os próprios pais (que podem odiar sem oferecer perigo de uma ruptura de relação)?”. A volta para casa não é fácil, além dos problemas normais no convívio com crianças, é preciso gradualmente reconquistar a confiança e readaptar-se à vida em família. É preciso colocar limites também! E ele recomenda que desde início a família original mostre uma postura enérgica nos limites do que mostrar essa postura depois – seria uma quebra de confiança mostrar limites apenas após a criança começar a demonstrar comportamentos de desafio. Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 27 O Capítulo 8 (Residential Management as Treatment for Difficult Children) é um capítulo é de menor importância para o nosso concurso, porém, listo uma série de conclusões do autor que podem ser estendidas ao contexto de atuação profissional: a) O diagnóstico adequado de crianças só pode ser feito após a criança ser observada em grupo em um bom período de tempo –o ideal seriam três meses. b) Deve-se investigar a existência ou a não-existência de um lar original estável no imaginário da criança. Caso esse retrato existe, o lar adotivo deve sempre relembrar de onde a criança veio. Caso não exista, o lar adotivo provisório deve proporcionar uma referência primária, incentivando a superposição de que a casa original é o ideal de seus sonhos – para que o lar provisório seja pobremente caracterizado na fantasia infantil. c) É importante conhecer as anormalidades que existiam em seu lar de origem. d) Também é importante saber a qualidade da relação entre a criança e sua mãe biológica. e) É importante observar alguns indicadores de adaptação, como a habilidade de brincar, de perseverar em tarefas e de fazer amigos. Quando essas variáveis estão bem encaminhadas, há um forte indício de saúde na criança. Crianças ansiosas mudam frequentemente de amigos e crianças com sérios distúrbios apenas conseguem integrar grupos quando esses grupos são verdadeiras gangues – segundo Winnicott, organizadas para perseguir algo. A maioria das crianças tiradas à força de seus lares e levadas para os abrigos eram incapazes de brincar, de persistir em tarefas construtivas ou de estabelecer amizades. f) Crianças com atrasos no desenvolvimento devem ser agrupadas com outras crianças com atrasos no desenvolvimento. Quanto a ela letra “f”, peço que se lembre que não estávamos nem na segunda metade do século passado! No Capítulo 9 (Children’s Hostels in War and Peace), o autor fala que para lidar com crianças com tendências antissociais, é inútil recomendar apenas a psicoterapia. O melhor tratamento é operar resultados através do próprio grupo de convívio. Essa orientação é justificada pelo fato que a mudança implica em perda de algo vital na relação e que quando é o grupo que indica o caminho da mudança, a criança é capaz de fazer trocas adequadamente. Para concluir essa primeira parte do livro e introduzir a próxima parte, destaco: ...lembrava-me da recomendação de Winnicott de que, na conduta antissocial, o tratamento psicanalítico deveria ser acompanhado de assistência ao ambiente, já que o paciente com seu comportamento, por determinação inconsciente e também consciente, compele alguém a se encarregar de cuidar dele. É o que acontecia com Mariana quando, inúmeras vezes, batia com o carro e recorria ao pai porque estava sem os documentos necessários, ou quando esperava a iniciativa e ajuda da mãe para limpar e arrumar o seu quarto ou mesmo cuidar de sua higiene pessoal, ou em situações mais graves e arriscadas, como quando, de maneira inocente ou inconsequente, aceitou trazer uma encomenda de um amigo, ao voltar de uma viagem ao exterior, e depois constatou tratar-se de um pacote de maconha, Os pais se afligiam por tudo isso e é fácil ter empatia por seus sentimentos de preocupação e de exasperação, pois no comportamento repetido de Mariana Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 28 encontramos o que Winnicott denomina de "o valor de incômodo dos sintomas" como característica sempre presente na expressão da tendência antissocial. Ao cuidar de uma criança, esclarece Winnicott, a mãe está constantemente lidando com o valor de incômodo do seu bebê, que se manifesta, por exemplo, quando o bebê urina no seu colo enquanto está sendo amamentado, ou quando a desperta várias vezes à noite ou em tantos outros detalhes de cuidado do cotidiano. Entretanto, acrescenta Winnicott, qualquer exagero no valor do incômodo de um bebê já pode significar um certo grau de privação e sinais de uma tendência antissocial. Assim, desde a incontinência urinária, ao roubo, às mentiras, à vadiagem e à conduta desordenada e caótica, em todos esses sintomas, embora cada um com seu significado e valor específico, existe o elemento importante que é o transtorno, a perturbação que causa ao ambiente. Fonte: Vilete, 2005. Na segunda parte do livro (The Nature and Origins of the Antisocial Tendency) é discutida as raízes da agressão e da tendência antissocial. A agressividade infantil não pode ser entendida apenas como o surgimento de um instinto primitivo – isso é uma falsa premissa. A agressão deve ser entendida como algo inato coexistente com o amor. Winnicott defende que, do ponto de vista social, a agressão cumpre o papel de trazer a atenção dos outros para si. Pelos casos descritos no livro podemos observar que as crianças agressivas conseguem mais que meramente agredir colegas e familiares, conseguem atenção, cuidados e amor. É digno destacar que algumas vezes a agressão aparece não quando o bebê ou a criança está frustrada, mas quando está empolgada (mamando, por exemplo). O objetivo do bebê é a gratificação e a pacificação da mente e do corpo. A gratificação proporciona paz, mas o bebê percebe que para obter essa gratificação, ele põe em perigo o que ama. Quando ele fica frustrado, ele deve odiar alguma parte de si mesmo, a menos que tenha alguém externo a ele para ser odiado. A agressividade é entendida como uma reação direta ou indireta à frustração e é uma das muitas fontes de energia do indivíduo. Ela é saudável quando sob controle – é aproveitável para dar força ao trabalho de reparação e restituição. Para Winnicott, um dos objetivos na construção da personalidade é tornar o indivíduo capaz de drenar cada vez mais o instintual. Isso envolve a capacidade crescente para reconhecer a própria crueldade e avidez, que então, e só então, podem ser dominadas e convertida em atividade sublimada. É usado, ao longo do capítulo em questão, a expressão “voracidade”, que significa a fusão original de amor e agressão. Outra expressão usada é a “avidez”, entendida como um sintoma antissocial comum. E não deve ser entendido como um retrato da onipotência infantil, mas uma consequência da deprivação. A avidez é parte da compulsão do bebê para buscar uma cura por parte da mãe que causou a privação. Essa avidez é antissocial e precursora do furto e pode ser entendida e curada pela adaptação terapêutica da mãe através de mimos e carinhos. E como diferenciar a agressividade da tendência antissocial? Uma característica fundamental da criança antissocial é o fato de não haver em sua personalidade nenhuma área para o brincar: este é substituído pela atuação (acting out). A criançaantissocial procura, de um modo ou de outro, violenta ou gentilmente, fazer com que o mundo reconheça seu débito, ou tenta fazer o mundo reconstruir a moldura que foi quebrada. Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 29 Winnicott dá maior ênfase à importância do ambiente humano (mãe) na identificação e na tendência inata da criança para o envolvimento. Na época dos 6 meses aos 2 anos a privação ou a perda podem ter consequências devastadoras para a capacidade de formar vínculos e o processo de sociabilização decorrentes da tendência inata podem se perder ou se obstruir. O Capítulo 12 (The Absence of a Sense of Guilt) é um capítulo interessantíssimo por propor um roteiro pelo qual a criança desenvolve o comportamento antissocial e estabelece-o como uma rotina sem o sentimento de culpa. Esse sentimento de culpa é um sentimento moral que, segundo Winnicott, existe, mas é perdido quando os ganhos secundários são alcançados. Assim, a melhor época para tratar tais tipos de tendências é antes desses ganhos secundários – até essa fase, a criança se sente desconfortável por ser compelida a roubar ou destruir. O padrão descrito por Winnicott é o seguinte: 1. As coisas vão bem para a criança; 2. Alguma coisa causa distúrbio a esse ambiente pacífico; 3. A criança é exigida além da capacidade (as defesas do ego são demolidas); 4. A criança é reorganizada na base de um novo padrão de defesa do ego, inferior em qualidade; 5. A criança começa a se tornar esperançosa novamente e organiza atos antissociais por esperança – esperança de compelir a sociedade de retornar ao estado anterior, esperança de reconhecer o fato; 6. Se isso ocorre, então a criança pode atingir um estado anterior antes do período de deprivação e redescobrir o bom objeto e o bom controle humano que pode exercer sobre o ambiente quando experienciar impulsões, incluindo impulsos destrutivos. Para que fique mais claro, a criança usa o comportamento antissocial, que é natural e inato (lembre-se da agressividade) para levar o ambiente que o cerca a exibir algum tipo de comportamento (reestabelecer o status quo anterior à deprivação). Assim, quando isso funciona, ele aprende a lógica por detrás desse comportamento e o afirma em seu ego como uma defesa. Um ponto que ele destaca é que não podemos descartar a possibilidade de que algumas crianças nasçam totalmente amorais. Mas que mesmo assim, isso não significa nada no estudo do desenvolvimento humano através do cruzamento de fatores maturacionais e ambientais. No Capítulo 13 (Some Psychological Aspects of Juvenile Delinquency), é retomado o conceito de delinquência derivado da deprivação familiar. Para Winnicott, o comportamento antissocial é um pedido de socorro, pedindo o controle de pessoas fortes, amorosas e confiantes. Winnicott exemplifica: quando uma criança rouba açúcar, está procurando pela mãe suficientemente boa de quem ele tem o direito de pegar qualquer doce dela. Ele também procura pelo pai, que irá proteger a mãe de seus ataques (aqueles realizados no exercício de seu amor primitivo). Quando uma criança rouba fora de casa, ainda procura pela mãe, mas com um maior senso de frustração e uma maior necessidade de encontrar, ao mesmo tempo, uma autoridade paternal que possa colocar limites em seu comportamento impulsivo. No caso da delinquência, seria a busca de um pai restritivo, que pode ser amoroso, mas que deve ser primeiro enérgico Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 30 e limitador. Só assim a criança retoma seus impulsos primitivos de amor, seu senso de culpa e sua vontade de se recuperar. A menos que isso aconteça, o delinquente se tornará cada vez mais e mais inibido no amor e mais deprimido e despersonalizado, e, eventualmente, incapaz de sentir a realidade das coisas como são, a não ser pela realidade da violência. A delinquência indica que alguma esperança permanece. Aqui é interessante fazer uma distinção. Enquanto a criança normal cria, nos primeiros estágios da vida, um ambiente interno saudável (a partir do qual é capaz de controlar seus impulsos), a criança antissocial não tem a chance de construir um ambiente interno saudável, o que gera uma necessidade de controle do ambiente. Winnicott também fala que é mais fácil tratar crianças no meio termo dessas duas condições (normal e antissocial) caso elas sejam mais jovens. No Capítulo 14 (The Antisocial Tendency), começa-se diferenciando a tendência antissocial da delinquência. Esta última é um complexo de defesas antissociais sobrecarregadas de ganhos secundários e reações sociais que tornam difícil o trabalho do investigador de chegar ao seu âmago. A tendência antissocial, por sua vez, pode mais facilmente ser estudada em crianças normais ou quase normais. Lembre-se que a tendência antissocial não é um diagnóstico, e não é comparável a outros diagnósticos como neurose e psicose. Winnicott fala que o tratamento da tendência antissocial não é a psicanálise, mas o gerenciamento da esperança através de uma assistência ambiental especializada. Em um momento posterior do texto ele fala que o tratamento deve fazer com que a criança experimente novamente os impulsos do Id para que os mesmos sejam testados através da estabilidade de um novo ambiente social – é essa relação que constitui o tratamento efetivo. O ambiente deve propiciar novas oportunidades para que o ego se reconstrua! Quanto a separação (Capítulo 15 – The Psychology of separation), Winnicott fala que se a perda ou privação aconteceu num estágio de desenvolvimento emocional em que a criança ou bebê ainda não é capaz de uma reação a ela, o ego imaturo não pode lamentar a perda, não pode sentir o luto. Na parte III do livro (The Social Provisiona), Winnicott afirma que se o problema não é resolvido em casa, a criança delinquente deverá ser encaminhada para um alojamento para crianças desajustáveis (reformatório). Se falhar será remetido pelo Tribunal para um Instituto Correcional ou prisão. Além disso, faz uma avaliação da privação afirmando a importância da história pregressa da criança; o uso da terapia e da administração ambiental na recuperação de delinquentes. Depois, discorre sobre algumas funções sociais: a) Lares adotivos: depois que as crianças sentem-se seguras, vem o ódio pela privação que passou. É importante que os pais adotivos saibam compreender e lidar com isso. b) Alojamento/Instituições: provisão de roupas, comida, teto. c) Hospital psiquiátrico: para casos mais graves. d) Prisão: quando falhou a tentativa de correção terapêutica. Além disso, ele apresenta seis categorias úteis para classificar o nível de desestruturação dos lares (Capítulo 21 – The Deprived Child and How He can be Compensated for Loss of Family Life): Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 31 1. Lar regularmente bom com distúrbio causado por acidente envolvendo um dos pais ou os dois. 2. Lar partido pela separação dos pais (os dois são bons pais). 3. Lar partido pela separação dos pais (os dois não são bons pais). 4. Lar incompleto pela falta de um pai (filho bastardo). A mãe é boa e os avós assumem o papel parental de alguma forma. 5. Lar incompleto pela ausência de pai e a mãe não é suficientemente boa. 6. Lar inexistente. Outras variáveis que irão influenciar na classificação do tipo de distúrbio e na sua gravidade: a. Idade da criança b. Natureza e nível de inteligência da criança c. Diagnóstico psiquiátrico Tópico EXTRA para a SEDEST: A fala da criança e do adolescente na Justiça. Algumas perguntassimples, mas essenciais: 1. O que é a fala da criança e do adolescente? 2. O que pode ser considerado e o que não pode ser considerado útil na fala da criança e do adolescente? 3. Qual a relevância da fala da criança e do adolescente na justiça? 4. A “fala” da criança e do adolescente é a mesma coisa que depoimento? A fala da criança e do adolescente no contexto jurídico, e em qualquer contexto, é a sua expressão verbal sobre fatos ocorridos, desejos, necessidades e vontades. É a comunicação que eles fazem com os profissionais do Ministério Público, Conselho Tutelar, Psicólogo, Assistente Social e até Juízes. Toda fala é relevante e deve ser ouvida para uma primeira triagem. Essa triagem, feita por qualquer profissional envolvido no sistema de garantias e direitos de proteção ao menor tem a função de decidir a relevância ou o encaminhamento das informações apresentadas. Sobre isso: A escuta de crianças, no contexto jurídico, vem sendo defendida como um direito fundamental dos menores de idade. Alude-se, com freqüência, ao artigo 12 da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança (1989), o qual expressa o direito de a criança ser ouvida em procedimentos judiciais que lhe digam respeito. Na visão de Mônaco e Campos (2005): Esse direito assume relevantes funções, por exemplo, na determinação da guarda da criança quando da dissolução do vínculo que une eventualmente os seus pais, bem como nas decisões que visem a rever uma guarda anteriormente deferida, além das hipóteses de adoção, quando a oitiva da criança se faz necessária (p.9). O Brasil, além de signatário da citada Convenção, incorporou os postulados básicos desta ao Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990) que, no capítulo Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 32 II, dispõe sobre o direito da criança à liberdade, ao respeito e à dignidade. No artigo 16, a referida legislação expõe aspectos que compreendem o direito à liberdade, como a opinião e a expressão. Em nosso sistema de justiça, a escuta de crianças e adolescentes é feita, geralmente, por assistentes sociais e psicólogos que compõem as equipes interdisciplinares dos juízos, justificando-se que dispõem de recursos técnicos mais apropriados à escuta em pauta. Fonte: BRITO, Leila; AYRES, Lygia and AMEN, Marcia. A escuta de crianças no sistema de justiça. Psicol. Soc. [online]. 2006, vol.18, n.3 [cited 2015-11-21], pp. 68- 73 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 71822006000300010&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1807- 0310. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822006000300010. A fala da criança e do adolescente no contexto da justiça apresenta um papel bastante diferenciado em relação à fala no contexto clínico. Isso ocorre tanto pelo seu caráter de depoimento, na maioria das vezes, quanto pela limitação que o psicólogo tem de intervir na saúde mental do paciente. O campo da justiça raramente coloca o psicólogo em situações de atendimento clínico para a intervenção sobre a saúde. Assim, a fala da criança serve para diagnóstico e, em regra, pouco contribui para o tratamento imediato dos problemas psicológicos que as levaram à seara jurídica. Em geral, os psicólogos estão comprometidos com o modelo de Depoimento sem Danos. Essa é a perspectiva que quero que leve para o seu concurso! Se temos a fala no contexto da justiça, também temos a escuta, correto? Sim, a escuta no campo da justiça também adquire um novo significado. O papel da escuta clínica enquanto prática profissional psicológica é uma ferramenta primordial para a atuação do psicólogo. Esse termo foi lançado por Freud e permanece até hoje. A escuta na área clínica, independente da abordagem considera a sua proposta terapêutica, pois já é uma intervenção prática. Na área da justiça a condição terapêutica da escuta deixa de existir. Ocorre apenas a escuta e ela é realizada por qualquer profissional do sistema. O profissional tem compromisso com o processo de justiça e a intervenção terapêutica fica, portando, em segundo plano. Legalmente, esse processo ganha outros nomes, como oitiva, depoimento, entrevista, etc. ATENÇÃO: na justiça, a relação da fala e a escuta de crianças e adolescentes deixa de ter compromisso com a intervenção de saúde e desenvolvimento de relação transferencial para enfatizar a promoção da justiça. Tudo o que a criança e o adolescente falam é verdadeiro? Deve ser considerado como real? Não. Nesse ponto está a importância de considerar seus depoimentos para iniciar, por exemplo, processos de suspeita de abuso sexual, mas não para condenar. Em outras palavras, o relato da criança é suficiente para promover o indiciamento por abuso sexual, não para garantir a condenação. Sobre isso: À palavra da criança, neste tipo de crime, em determinadas horas é dada especial relevância, em outras é questionável, duvidosa. O certo é que, pelo que se pode apurar nos julgados do Tribunais anteriormente citados, a palavra da criança deve ser coerente e concisa Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 33 em todas as vezes que precisar depor, além da necessidade de apresentar-se junto a algum outro indício ou evidência; do contrário, torna-se frágil. Verificando-se, assim, a vital importância da preparação dos profissionais que extraem a verdade da criança. Não se pretende, e importante deixar claro, defender a tese de que a criança sempre estará narrando o fato tal como aconteceu, mas alertar de que cuidados específicos devem ser tomados quando de sua oitiva, seja na fase policial ou judicial, já que se trata de um ser munido de condição peculiar, ou seja, merecendo tratamento diferenciado do adulto, que lhe garanta proteção integral e prioridade no atendimento; previsão constitucional, reforçada e especificada pelo estatuto da criança e do adolescente. No tocante aos procedimentos para a oitiva da criança, o que existe hoje no brasil é, tão somente, uma adequação da forma utilizada para os adultos, conforme previsão do código de processo penal, além de algumas iniciativas isoladas, chamadas de ‘psicologia do testemunho’ e ‘depoimento sem dano’, que deu origem ao projeto de lei n. 35/2007, do Senado Federal. Com base nos julgados, conclui-se que a palavra da vítima influencia a decisão do magistrado quando coerente e corroborada por outras provas constantes dos autos, sendo raras as situações em que decidem com base unicamente no seu depoimento, embora aconteça, mas, ainda assim, é exigida forma lógica e sem contradições. Ainda, quando há incoerência na fala da criança, se não apoiado por outra prova, remete-se à fabulação ou sugestionabilidade, não sendo considerada a possibilidade de confusão, natural diante da agressão de que foi vítima, muitas vezes praticada por pessoa por quem nutria amor e admiração, além de inerente ao estágio de desenvolvimento psíquico-emocional do infante frente a fato tão complexo para si. Sendo assim, o estudo em tela revela a necessidade emergente da conscientização dos profissionais que atendem situações como as apresentadas, relativas ao abuso sexual infantil, de que é imprescindível a intervenção multidisciplinar, já que há possibilidade de atuação punitiva, protetora e terapêutica, objetivando, assim, a produção de uma prova de qualidade, favorecendo o processo e o poder punitivo do estado, além da proteção integral ao menor. Fonte: Mônica Jacinto. O valor da palavra da vítima nos crimes de abuso sexual contra crianças nos julgados do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/13130/o-valor-da- palavra-da-vitima-nos-crimes-de-abuso-sexual-contra-criancas-nos- julgados-do-tribunal-de-justica-de-santa-catarinaSe por um lado há uma real necessidade de oferecer o apoio psicológico a eles para fortalecer o restabelecimento dos laços afetivos e sociais rompidos por vivências traumáticas, é inegável que o compromisso do psicólogo nesse tipo de processo é com a prova pericial. Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 34 Mas Alyson, toda fala da criança e adolescente é um depoimento? É uma prova? Obviamente que não, a criança será ouvida, por exemplo, na colocação em família substituta. No entanto, reafirmo que a análise do discurso tem o condão de produzir provas para o processo na justiça. Depoimento sem dano e o problema da “Escuta” do psicólogo. O chamado Depoimento sem Dano (DSD) consiste na oitiva de crianças e adolescentes em situação de violência. O depoimento é tomado por um técnico (psicólogo ou assistente social) em uma sala especial, conectada por equipamento de vídeo e áudio à sala de audiência, em tempo real. O técnico possui um ponto eletrônico, através do qual o juiz direciona as perguntas a serem feitas à criança. Além disso, o depoimento fica gravado, constando como prova no processo. Sobre isso: José Antônio Dalto e Cezar (2007b), Juiz da 2ª Vara da Infância e da Juventude de Porto Alegre (RS) esclarece que o DSD, uma iniciativa de sua autoria, vem sendo utilizado para se obter o depoimento de crianças desde seis de maio de 2003. De acordo com esse procedimento, a oitiva de crianças deve ser realizada em recinto especial, acolhedor, equipado com câmeras e microfones. No local devem estar presentes somente a criança e o técnico responsável pela inquirição, sendo contra- indicado que a oitiva seja feita na sala de audiências. O técnico encarregado da inquirição, quase sempre um psicólogo ou um assistente social, munido de um ponto eletrônico, repassa as perguntas formuladas pelo magistrado ao depoente, no caso, à criança. No local destinado às audiências, o juiz, o representante do Ministério Público, os advogados, o acusado - se for o caso - e funcionários do judiciário assistem ao depoimento da criança, que é transmitido em tempo real. Para viabilizar o acompanhamento da inquirição pelos presentes na sala de audiências, os dois ambientes são interligados por um sistema de áudio e vídeo. Fonte: BRITO, Leila Maria Torraca de; PARENTE, Daniella Coelho. Inquirição judicial de crianças: pontos e contrapontos. Psicol. Soc., Belo Horizonte, v. 24, n. 1, abr. 2012 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 71822012000100020&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 26 dez. 2012. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822012000100020. Entendeu o que é o depoimento sem dano (ou depoimento com danos reduzidos / depoimento especial)? Agora você precisa saber da posição dos Conselhos de Psicologia. Com base nos temas discutidos durante encontros dos psicólogos jurídicos do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Arantes (2007) observa que o mal- estar vem sendo gerado pela introdução de programas que não respeitam as delimitações tradicionais dos campos da psicologia e do direito. A autora cita Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 35 programas tais como a Justiça Terapêutica e o Depoimento sem Dano, nos quais o psicólogo é chamado para atuar de maneira conflitante com sua formação profissional ao reproduzirem, segundo Arantes, práticas normalizadoras e de controle. Essa autora questiona se por meio dessas práticas a sociedade contemporânea não estaria diante de um novo regime de dominação, sobre o qual ainda não se tem clareza. Outra questão levantada por Arantes (2007) e outros autores (Brito, s/d; Verona e Castro, 2008) bastante controversa e importante nas situações de violência sexual contra crianças e adolescentes é a participação do psicólogo na oitiva das vítimas para produção de prova e responsabilização da pessoa acusada como autor da violência. No Estado do Rio Grande do Sul vem sendo desenvolvido o método denominado Depoimento sem Dano – DSD. A experiência constitui-se na tomada do depoimento da vítima, o qual é realizado com a intermediação de um profissional de psicologia ou do serviço social, em uma sala separada por vidro de espelho unidirecional, liberando a criança ou adolescente de depor diretamente ao corpo jurídico que compõe a audiência – juiz, promotor e advogado de defesa (Cezar, 2007). Os idealizadores do DSD entendem que essa proposta evita a repetição de depoimentos e a exposição da vítima ao contexto inóspito de uma audiência. Além disso, segundo Cezar (2007), o DSD favorece a “indispensável observância dos princípios constitucionais do contraditório e ampla defesa...” (p. 60), legitimando a intervenção jurídica tanto na condenação quanto na absolvição do acusado. O Depoimento sem Dano é, no momento, tema que vem gerando vários debates, desde que o Conselho Federal de Psicologia – CFP assumiu publicamente sua posição contrária ao Projeto de Lei no 7.524/06. Entre vários questionamentos, o CFP considera que no procedimento DSD o psicólogo deixa de desenvolver o seu exercício profissional para atuar como um mediador do juiz, “procurando ganhar a confiança das supostas vítimas para que venham a falar, e a constituir a prova contra os acusados, possibilitando, assim, a produção antecipada dessa prova no processo penal, antes mesmo do ajuizamento da ação” (Verona e Castro, 2008, s/p). Arantes (2007) compreende a participação do psicólogo nesse espaço de atuação como uma duplicação do magistrado, cujo objetivo é tão somente colher o depoimento de uma vítima, conforme a necessidade do processo. Para a autora mencionada, ouvir a criança em uma audiência não é a mesma coisa que ouvi-la em uma entrevista, consulta ou atendimento psicológico, situações em que a escuta do psicólogo é orientada pelas demandas e desejos da criança e não pelas necessidades do processo. A autora também alerta para o fato de que em um processo criminal, no qual o depoimento da criança é gravada, sua voz se estenderá para além da decisão judicial, sendo possível que sua fala e expressões possam ser indefinidamente revistas e reinterpretadas. Padilha e Antunes (2009), por sua vez, destacam o longo período entre a revelação do abuso, isto é, o primeiro relato da criança sobre o abuso sofrido, e seu depoimento em juízo. Destacam também a exposição da vítima a múltiplas entrevistas e a possibilidade de o seu relato ser desvirtuado durante todo esse percurso. Esses fatores associados à 1) necessidade de responsabilização do agressor como elemento de coibição do abuso sexual, 2) ao constrangimento provocado pela exposição da criança a um ambiente inapropriado como o de uma corte judicial e 3) ao sofrimento da criança em reviver repetidas vezes as lembranças doloridas são considerados pelos autores como justificativas suficientes para que o Depoimento sem Dano seja prática aplicada Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 36 para produção de prova antecipada. Quanto à crítica ao papel do psicólogo de inquirir e fazer o papel de um operador da Justiça, Padilha e Antunes (2009) ressaltam que, de fato, a prática clínica e a prática forense se diferenciam e o psicólogo forense está a serviço do sistema legal. Portanto questionam: se o psicólogo forense está a serviço do sistema legal, por que não realizar entrevista(s) em um ambiente mais adequado, de forma a minimizar o impacto do depoimento de uma criança que já foi submetida a diversos abusos ao longo desse trajeto? (p. 182) E acrescentam, com propriedade, que o depoimentoda criança não implica apenas na criminalização do agressor, mas é a “possibilidade de proteger essa criança de revitimizações...” (p. 182). O Conselho Federal de Psicologia - CFP lançou a Resolução 10/2010, que regulamenta a escuta psicológica de crianças e adolescentes em situação de violência. A resolução “Institui a regulamentação da Escuta Psicológica de Crianças e Adolescentes envolvidos em situação de violência, na Rede de Proteção”. Essa resolução vedava a participação do profissional de psicologia no depoimento sem dano. O CFP – em minha modesta opinião – inviabilizava o trabalho de colheita de provas pelo profissional mais capacitado e indicado para esse trabalho. Alegaram todo aquele blá blá blá clássico do CFP (temos de discutir mais, social, revitimização, escuta, e depois de discutirmos mais vamos discutir mais ainda, nota de repúdio, etc.)1. Mas, como o CFP só serve para propagar o medo nos recém-formados em psicologia, em 2012 o CFP perdeu2: A Justiça Federal no Rio de Janeiro suspendeu, em todo o território nacional, a Resolução nº 10/10, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que regulamenta a escuta psicológica de crianças e adolescentes em situação de violência. A decisão liminar da 28ª Vara Federal ocorreu no dia 9 de julho, mas a informação só foi divulgada terça-feira(17.07) pela Procuradoria da República no Rio de Janeiro. A ação foi movida pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. Pelo entendimento da Justiça, a resolução inviabiliza a atuação dos psicólogos na inquirição de crianças e adolescentes em situação de violência, já que impede esses profissionais de fazer perguntas diretas aos menores.(notícia completa aqui) Em 2013 o CFP perdeu: 1 Na opinião do professor, sim, o CFP é uma instituição milionária, pouco competente e dominada ideologicamente por uma corrente política. É uma instituição moribunda. 2 Fonte: Blog do JG: http://bloggjg.blogspot.com.br/2013/05/conselho- federal-de-psicologia-tem.html Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 37 O juiz da 1º Vara Federal da Seção Judiciária do Ceará, após manifestação e defesa do Conselho Federal de Psicologia e do Conselho Federal de Serviço Social acerca da validade dos atos normativos questionados, julgou procedente a ação civil pública e determinou a suspensão das resoluções em todo o território nacional, bem como a abstenção dos conselhos de fiscalização de aplicar penalidades éticas aos profissionais que atuam na escuta psicológica da criança e do adolescente. Desse modo, a Resolução CFP nº 010/2010 encontra-se suspensa em todo o território nacional, e o sistema conselhos em razão da determinação judicial se absterá de fiscalizar profissionais em razão da inobservância do ato normativo questionado. (notícia completa aqui). Segundo o Ministério Público Federal: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por meio do Procurador da República signatário, no exercício das atribuições de Procurador Regional dos Direitos do Cidadão, e com fundamento nos arts. 129, II e m, da CF e ar1. 6°, XX, da LC 75/93, e nos termos da Res. CSMPF n. 87/2006, 1352/2010, que tem por objeto apurar a legalidade e a constitucionalidade das Resoluções n. 09 e 10, de 2010, do Conselho Federal de Psicologia e instruir a correspondente ação do Ministério Público Federal, e aqueles que instruem o procedimento administrativo n. 1398/2010, a ele apensado, em especial as informações trazidas pelo Centro de Apoio Operacional às Promotorias Criminais com as representações respectivas, aquelas fornecidas pelo Conselho Federal de Psicologia em resposta ao Ofício PRDC n. 5294/2010 por meio do Ofício n. 1637-10/CT-CFP e as notícia de que a Sociedade Brasileira de Psicologia e a Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental se posicionam contra as referidas resoluções; CONSIDERANDO os fundamentos que orientaram a instauração do inquérito civil n. 1352/2010 constantes da respectiva portaria, em especial os seguintes, aplicáveis a ambas as resoluções: -a Constituição Federal estabelece como regra o livre exercício profissional, desde que atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer (art. 5°, XIII, CF), descabendo aos conselhos profissionais, por meio de resoluções, estabelecer vedações ao exercício profissional não previstas em lei; Nas palavras de João Campos: O Conselho Federal de Psicologia, ao restringir o trabalho dos profissionais e o direito da pessoa de receber orientação profissional, por intermédio do questionado ato normativo, extrapolou o seu poder regulamentar. O Conselho Federal de Psicologia, ao criar e restringir direitos mediante resolução, usurpou a competência do Poder Legislativo, incorrendo em abuso de poder regulamentar, com graves implicações no plano jurídico- Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 38 constitucional. Pelos motivos expostos, com fundamento no inciso V, do art. 49, da Magna Carta, pretende sustar a norma contida no parágrafo único, do art. 3º e o Art. 4º, da Resolução nº 1, de 23 de março de 1999. Trabalho em Rede. Princípios da intersetorialidade. O trabalho em rede já abordamos na aula passada (é a interdisciplinaridade aliada à rede de saúde). Coincidentemente, temos o seguinte texto na internet: É uma junta contendo as políticas públicas através do desenvolvimento de ações conjuntas destinadas a proteção, inclusão e promoção da família vítima do processo de exclusão social. Ocorre para orientar as práticas de construção de redes municipais: “até algumas décadas atrás, usávamos o termo rede na administração pública ou privada para designar uma cadeia de serviços similares, subordinados em geral a uma organização-mãe que exercia a gestão de forma centralizada e hierárquica” (GUARÁ et al. 1998, p. 12); “uma rede pode ser o resultado do processo de agregação de várias organizações afins em torno de um interesse comum, seja na prestação de serviços, seja na produção de bens. Neste caso, dizemos que as unidades operacionais independentes são ‘credenciadas’ e interdependentes com relação aos processos operacionais que compartilham.” (GONÇALVES apud GUARÁ et al. 1998, p. 13) Pensar rede nesta perspectiva exige sintonia com a realidade local, com sua cultura de organização social, bem como uma sociedade civil forte e organizada, capaz de se fazer ativa e participativa diante da administração pública. O termo rede sugere a idéia de articulação, conexão, vínculos, ações complementares, relações horizontais entre parceiros, interdependência de serviços para garantir a integralidade da atenção aos segmentos sociais vulnerabilizados ou em situação de risco social e pessoal. Assim na área da criança e do adolescente entende-se rede como “conjunto integrado de instituições governamentais, não governamentais e informais, ações, informações, profissionais, serviços e programas que priorizem o atendimento integral à criança e adolescente na realidade local de forma descentralizada e participativa.”(HOFFMANN et al, 2000, p. 6). GUARÁ et al (1998, p. 18 – 32) classifica os tipos de redes que podem ser observadas no espaço local, como: a rede social espontânea; redes sócio – comunitárias; rede social movimentalista; redes setoriais públicas; e redes de serviços privados. Porém a esta classificação acrescenta-se duas outras que retratam com maior dinamicidade as possibilidades de articulação às Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br| 39 já existentes, como as redes regionais e as redes intersetoriais*. Observe abaixo a classificação organizada por GUARA et ALL, veja, ESPONTÂNEA: constituída pelo núcleo familiar, pela vizinhança, pela comunidade e pela Igreja. São consideradas as redes primárias, sustentadas em princípios como cooperação, afetividade e solidariedade. REDES SÓCIO – COMUNITÁRIAS: constituída por agentes filantrópicos, organizações comunitárias, associações de bairros, entre outros que objetivam oferecer serviços assistenciais, organizar comunidades e grupos sociais. REDE SOCIAL MOVIMENTALISTA: constituída por movimentos sociais de luta pela garantia dos direitos sociais (creche, saúde, educação, habitação, terra…). Caracteriza-se por defender a democracia e a participação popular. REDES SETORIAIS PÚBLICAS: são aquelas que prestam serviços e programas sociais consagrados pelas políticas públicas como educação, saúde, assistência social, previdência social, habitação, cultura, lazer, etc. REDES DE SERVIÇOS PRIVADOS: constituída por serviços especializados na área de educação, saúde, habitação, previdência, e outros que se destinam a atender aos que podem pagar por eles. REDES REGIONAIS: constituídas pela articulação entre serviços em diversas áreas da política pública e entre municípios de uma mesma região. REDES INTERSETORIAIS*: são aquelas que articulam o conjunto das organizações governamentais, não governamentais e informais, comunidades, profissionais, serviços, programas sociais, setor privado, bem como as redes setoriais, priorizando o atendimento integral às necessidades dos segmentos vulnerabilizados socialmente. GUARÁ, et al Gestão Municipal dos serviços de atenção à criança e ao adolescente. São Paulo: IEE/PUC – SP; Brasília: SAS/MPAS,1998. *Núcleo de Estudos da Família Criança e Adolescente da UEPG – Ponta Grossa/Pr Org: a autora Ano: 2001. Fonte: http://robertolazarosilveira.com.br/trabalho-em-rede-principios-da- intersetorialidade/ Questões Questões Inéditas Alyson Barros Julgue os itens a seguir 1. O efeito manada e definido em psicologia social como a capacidade da multidão em buscar a individuação social. ( ) Certo ( ) Errado 2. O preconceito é uma forma de interação social pautada na confirmação de estereótipos e de evidências dos papéis. ( ) Certo ( ) Errado 3. A subjetividade humana, para Foucault, é vista como um elemento influenciado por determinantes biológicos e sociais, sempre modulados pelo momento histórico. Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 40 ( ) Certo ( ) Errado 4. Segundo Guatarri, os processos de singularização são reprimidos pelas forças dominantes no controle da subjetividade humana. ( ) Certo ( ) Errado 5. Os processos de subjetivação representam o modo como o sujeito deixa o papel de objeto para tornar-se sujeito atuante em um papel social pré-definido. ( ) Certo ( ) Errado 6. Os auto esquemas são crenças sobre si mesmo que organizam e guiam o processamento de informações relacionadas ao self. ( ) Certo ( ) Errado 7. O processo de individuação ocorre antes da formação da identidade. ( ) Certo ( ) Errado 8. Os selves possíveis são projeções de identidades almejadas ou repudiadas. ( ) Certo ( ) Errado 9. O coletivismo representa a tendência a dar prioridade aos próprios objetivos e não aos do grupo. ( ) Certo ( ) Errado 10. O lócus de controle é o grau em que as pessoas percebem os resultados como internamente controláveis por seus próprios esforços ou como externamente controlados pelo acaso ou por forças externas. ( ) Certo ( ) Errado 11. CESPE - MPU – 2013 A análise da sedução e fascinação é importante para o diagnóstico dos jogos de poder e de desejo nas instituições. ( ) Certo ( ) Errado 12. CESPE - SERPRO – 2013 Sedução e fascinação são indissociáveis e elementos importantes para a compreensão dos complexos jogos de poder e de desejo nas organizações. ( ) Certo ( ) Errado 13. FCC - 2009 - TJ-SE - Analista Judiciário - Psicologia Nas discussões relativas às prisões e instituições totais destacam-se dois autores que por sua obra, tornaram-se referência para os estudiosos da Psicologia Criminal. São eles: a) Jean Piaget e Humbert Maturana. b) Sigmund Freud e Carl Gustav Jung. c) Michel Foucault e Erving Goffman. d) Jürgen Habermas e José Bleger. Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 41 e) Donald Woods Winnicott e Edgar Morin. 14. FCC - 2012 - MPE-AP - Analista Ministerial - Psicologia Na atualidade, as instituições totais recebem críticas no tocante ao abrigamento de adolescentes em conflito com a lei, pois a) dificultam a vida social porque os adolescentes vivem isolados, realizando cada atividade diária de forma apenas individual e nunca em grupo. b) partem de uma visão médica e assistencialista sobre os cuidados que devem recair sobre aqueles que cometem atos infracionais. c) dificultam a formação de grupos e o estabelecimento de rotinas pré-estabelecidas pelos dirigentes. d) oneram a sociedade já que usualmente são utilizados espaços com grande valorização imobiliária. e) privilegiam apenas o controle e a segurança, despersonalizando os indivíduos. 15. CEPERJ - 2012 - DEGASE - Psicólogo Segundo Erving Goffman, as instituições totais retiram do indivíduo sua capacidade de decisão e escolha, por meio de rígidos regulamentos, sanções e julgamentos dos dirigentes. A afirmativa que não descreve ação implementada por essas instituições é: a) A conduta do interno no interior da instituição é constantemente observada e qualquer ato fora do determinado pode futuramente ser usado contra ele próprio. b) A presença de autoridade escalonada responsável pela garantia do cumprimento das regras determinadas, mesmo que isso inclua castigos físicos ou morais. c) Tudo pertence à instituição e pode ser retirado a qualquer momento. d) O interno consegue equilibrar suas necessidades pessoais ao poder e organizar livremente, e por conta própria, sua rotina diária no interior da instituição. e) O internado pode renunciar a certos níveis de sociabilidade, a fim de evitar incidentes. 16. CEPERJ - 2012 - DEGASE - Psicólogo “Os processos pelos quais o eu da pessoa é mortificado são relativamente padronizados nas instituições totais.” GOFFMAN, 2007 (p.24) Identifique abaixo as afirmativas que são exemplos de mortificação da identidade do indivíduo: I- Permissão para visitas a qualquer tempo. II- Perda de direitos civis. III- Uso de violência e ações de humilhação para a obtenção de obediência. IV- Alteração na aparência pessoal e não permissão para posse de bens pessoais. V- Direito à expressão e opinião próprias. A alternativa que contém a indicação das afirmativas corretas é: a) II e III b) II, III e IV c) III, IV e V d) I, IV e V e) I, III e IV Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 42 17. FCC - 2012 - TRE-SP - Analista Judiciário - Psicologia Os grupos podem diferir em sua aparência e comportamento, no entanto, interiormente todos têm três elementos básicos: interação, atividades e a) recursos. b) atitudes. c) sistemas. d) sentimentos. e) raciocínios. 18. FCC - 2012 - TRE-SP - Analista Judiciário - Psicologia A estrutura latente dos grupos, na concepção de Moreno, não é apenas uma distribuição de afetos dentro do grupo. É uma realidade afetiva e cognoscitiva, pois representa para cada membro do grupo as formas como: vivem o grupo e seus membros; vive sua própria situação dentro do grupo; percebe os outros e a distância socialque experimenta em relação a eles e como é a) reconhecido por si. b) atingido pelos outros. c) percebido pelos outros. d) representado emocionalmente pelos outros. e) acolhido pelos outros membros do grupo. 19. CESPE - MPU – 2013 Conforme a abordagem da psicologia comunitária, as relações de poder são determinadas pelas situações caracterizadas pela substituição do ideal de ego do indivíduo pelo superego do grupo. ( ) Certo ( ) Errado 20. CESPE - SERPRO – 2013 Julgue os itens subsequentes, com relação ao sentido do trabalho nas organizações. O trabalho pode assumir tanto uma condição de neutralidade quanto de centralidade na vida dos trabalhadores, assim como na identificação desses indivíduos com a sociedade. ( ) Certo ( ) Errado 21. CESPE - SERPRO – 2013 Os indivíduos constroem suas concepções de trabalho à medida que vivenciam as relações com o meio em que vivem. ( ) Certo ( ) Errado 22. CESPE - MPU – 2013 Os grupos operativos propõem a vinculação entre a dinâmica de grupo e o referencial da terapia ocupacional. ( ) Certo ( ) Errado 23. FCC – TRT – Alagoas – 2014 Ao definir inclusão, Will Schutz (1994) diz que se trata de uma necessidade Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 43 interpessoal de estabelecer e manter relacionamento satisfatório com as pessoas, tendo em vista sua (A) interação e associação. (B) motivação e relação. (C) maturidade emocional e conhecimento técnico. (D) posição social e status no grupo. (E) aceitação e reconhecimento intragrupal. 24. FCC – TRT – Alagoas – 2014 A Teoria Cognitivista, ao estudar os grupos, enfatiza a importância de compreender como os indivíduos (A) acionam os mecanismos de defesa nas relações com o grupo e desenvolvem os processos de identificação e de regressão. (B) se comportam como consequência de seu espaço vital ou campo psicológico e acionam os outros membros do grupo. (C) recebem e integram as informações sobre o mundo social e como essa informação influi em seu comportamento. (D) compartilham suas experiências pessoais subjetivas e como se relacionam diante de conflitos grupais. (E) acionam uma rede de atração pessoal e como essa rede influi na formação e extinção dos grupos. 25. FGV – DP – RJ – 2014 Jurandir Freire Costa, na análise de importantes transformações na subjetividade contemporânea, considera que o “corpo está se tornando o referente privilegiado para a construção das identidades pessoais”. Segundo Freire Costa, esse fenômeno se articula (A) à não superação do Édipo na cultura contemporânea e à derrocada das instâncias educativas tradicionais. (B) ao capitalismo globalizado que disseminou atributos físicos como modelos e ao esvaziamento da política partidária. (C) à proliferação do uso de drogas (lícitas e ilícitas) e ao consumismo sem limites. (D) ao remapeamento cognitivo do corpo físico e à invasão da cultura pela moral do espetáculo. (E) à educação sentimental e às transformações no funcionamento familiar. 26. FGV – FUNARTE – 2014 Leon Festinger, um dos mais importantes teóricos da psicologia social, cunhou, em 1957, o termo dissonância cognitiva, que pode ser definido como: (A) o sentimento de ansiedade e tensão interna provocado pela percepção da inconsistência lógica entre duas cognições diferentes, incluindo atitudes, crenças e comportamentos; (B) o conjunto de manifestações comportamentais suscitadas pela interação de uma pessoa com outras pessoas ou pela mera expectativa de tal interação; (C) a substituição do paradigma vigente na ciência normal por um novo paradigma, resultado de uma espécie de revolução científica; (D) a modificação do modo de pensar e agir de cada indivíduo em relação a crenças e Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 44 valores, criando assim novas informações ou cognições sobre alguns dos seus conceitos pessoais; (E) o aprendizado de cada indivíduo na relação com os outros indivíduos pela apropriação da realidade criada pelas gerações anteriores. 27. FGV – FUNARTE – 2014 Segundo Michel Foucault, a proteção e o evitamento da depredação das novas formas de acúmulo de riqueza na modernidade fizeram proliferar uma tecnologia de vigilância e controle, que se instalou no século XVIII e caracteriza nossa sociedade até os dias de hoje. Tal tecnologia corresponde: (A) à repressão social; (B) à exclusão da pobreza; (C) ao grande enclausuramento; (D) à luta de classes; (E) ao panoptismo. 28. FGV – DP – RJ – 2014 No conhecido livro “Vigiar e Punir”, Foucault reflete sobre a técnica do exame, que consistiria em uma tecnologia (A) do poder soberano que invisibiliza, desterritorializa e militariza. (B) do poder disciplinar que visibiliza, individualiza e normaliza. (C) do poder disciplinar que singulariza, invisibiliza e pune. (D) do poder fluido que controla, medicaliza e incita. (E) do poder soberano que normaliza, cerimonializa e pune. Questões Comentadas e Gabaritadas Questões Inéditas Alyson Barros Julgue os itens a seguir 1. O efeito manada e definido em psicologia social como a capacidade da multidão em buscar a individuação social. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: E Comentários: Efeito manada é a tendência de pessoas seguirem grupos maiores, sem julgamento racional de seu comportamento. Não é o processo de individuação, mas o famoso “Maria vai com as outras” em uma escala maior. A melhor charge para explicar esse efeito é a seguinte: Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 45 2. O preconceito é uma forma de interação social pautada na confirmação de estereótipos e de evidências dos papéis. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: E Comentários: O preconceito é fundamentado em uma interpretação anterior às evidências conclusivas e reais. Obviamente que podemos ter preconceitos apenas com evidências parciais da realidade, mas, de fato, não há no preconceito uma confirmação completa dos papéis (pois deixaria de ser um conceito pré-concebido nesse caso). Para ilustrar, é válido lembrar que para legitimar a escravidão no Brasil, por exemplo, foram utilizadas justificativas teológicas e até fisiológicas para justificar o injustificável. Foram criados mitos para explicar o tráfico negreiro para o Brasil. Uma dessas ideias pré-concebidas era de que escravocratas e fazendeiros acreditavam tinham uma missão civilizadora de dar educação aos negros e de apresentar-lhes o trabalho e o cristianismo. Período vergonhoso da nossa história recente. 3. A subjetividade humana, para Foucault, é vista como um elemento influenciado por determinantes biológicos e sociais, sempre modulados pelo momento histórico. ( ) Certo ( ) Errado Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 46 Gabarito: E Comentários: Foucault, Deleuze e Guatarri não falam de qualquer determinante biológico, ao contrário, defendem a construção social da identidade e da subjetividade a partir da visão social e histórica. 4. Segundo Guatarri, os processos de singularização são reprimidos pelas forças dominantes no controle da subjetividade humana. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: C Comentários: Definição perfeita. 5. Os processos de subjetivação representam o modo como o sujeito deixa o papel de objeto para tornar-se sujeito atuante em um papel social pré-definido. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: E Comentários: Essa definição extrapolou um pouco o conceitode subjetivação de Foucault. Para esse autor os processos de subjetivação nada mais são que a forma pela qual seres humanos tornam-se sujeitos, dentro ou não dos papéis sociais previamente definidos. 6. Os auto esquemas são crenças sobre si mesmo que organizam e guiam o processamento de informações relacionadas ao self. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: C Comentários: Definição perfeita. 7. O processo de individuação ocorre antes da formação da identidade. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: E Comentários: A melhor forma de entender essa relação, para todos os autores levantados, é que a individuação ocorre em paralelo a formação da identidade. A relação de paralelismo é lógica, pois a individuação é justamente a formação da identidade. 8. Os selves possíveis são projeções de identidades almejadas ou repudiadas. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: C Comentários: Definição correta. Selves possíveis são imagens que sonhamos ou que tememos nos tornar no futuro. 9. O coletivismo representa a tendência a dar prioridade aos próprios objetivos e não aos do grupo. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: E Comentários: Esse é o conceito de individualismo. Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 47 10. O lócus de controle é o grau em que as pessoas percebem os resultados como internamente controláveis por seus próprios esforços ou como externamente controlados pelo acaso ou por forças externas. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: C Comentários: Definição correta. 11. CESPE - MPU – 2013 A análise da sedução e fascinação é importante para o diagnóstico dos jogos de poder e de desejo nas instituições. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: C Comentários: Aqui cabe uma breve referência: Vale lembrar que, nas relações cotidianas de trabalho das organizações, há duas modalidades de controle pelo amor: a fascinação e a sedução. Por meio desses dois mecanismos, as organizações conseguem impor de maneira sutil a sua cultura e dominar o inconsciente do indivíduo deixando pouca margem tanto para o pensamento e quanto para a postura/ação crítica dentro e fora da empresa. Quanto à fascinação, ela está bem próxima da relação hipnótica e confere ao hipnotizador um domínio quase que completo do indivíduo. Há, segundo ENRIQUEZ (1991), um conjunto de consequências que caracterizam essa relação: a submissão do indivíduo, o deixar de lado tudo aquilo que não diz respeito ao objeto amado, a ausência de crítica, a alienação e a submissão voluntária. Em suma, a relação hipnótica consiste em abandono amoroso. O fascínio por determinado objeto pode ser conquistado, de acordo com ENRIQUEZ (1991), por meio de ritos de grandes comemorações, de grandes festas triunfais. Busca-se, por meio do discurso adequado, os meios para a obtenção dos objetivos do hipnotizador. Os hipnotizadores lançam mão do discurso de que cada pessoa que os siga pode se tornar um herói, um ser imortal, tornar-se uma pessoa acima das outras, objeto de reconhecimento e de admiração. O indivíduo, de sua parte, vai atrás seja do reconhecimento, intrinsecamente ligado ao narcisismo, seja da admiração, do ser referência para as outras pessoas. Enfim o indivíduo é convidado pelo hipnotizador a fazer parte do clube dos raros e a organização, de acordo com FREITAS (2000, p.111), constrói para o indivíduo a ilusão mesma do clube dos raros. Segundo a autora, “ela propõe a fantasia do ser um, traduzida no eu faço parte da organização e ela faz parte de mim, o sucesso dela é o meu sucesso e vice-versa”. Portanto, o narcisismo individual se confunde com o organizacional: de um lado, está o indivíduo desejoso de fazer parte de um grupo poderoso e que pode dar sentido a sua vida; e de outro, a organização surge como sendo o local de satisfação do desejo. O indivíduo acredita que, seguindo todas as orientações do hipnotizador, poderá se tornar um herói, um semideus, e desta maneira, estará disposto a se perder no objeto de fascínio, aguardando o cumprimento da promessa contida no discurso do hipnotizador. Espera fundir-se ao objeto amado, fugindo de si mesmo em direção ao outro, ao do hipnotizador, o líder carismático que, com seu perfil megalomaníaco e paranóico, vai envolvê-lo o indivíduo, inclusive, com sua permissão: “trata-se de uma verdadeira gestão psíquica do sujeito, na qual todos os caminhos, em última instância, o levam à frustração. Como Narciso, ele está condenado a um amor impossível. Ele se Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 48 desdobrará para satisfazer às elevadas expectativas da empresa, que criou um perfil perfeito e impossível de se atingido” (FREITAS, 2000, p.114). Ao lado da fascinação, a sedução é uma outra modalidade do controle pelo amor. Mas, diferentemente daquela, a sedução sai um pouco da vertente do sagrado. Nela, também, não existe nada fantástico, ou fora do comum: “a sedução reside na aparência: um sorriso insinuante, palavras escolhidas com precaução, frases agradavelmente balanceadas, uma certa banalização dos problemas permitem ao discurso de ser suficientemente agradável” (ENRIQUEZ, 1991, p.252 tradução nossa). Em termos gerais, o sedutor busca, por meio de estratégias bem definidas, ser o detentor dos desejos das outras pessoas. FREITAS (2000, p.149) compreende a sedução como o convite a uma fantasia de rara beleza, como “um processo, uma relação dual, fugitiva em sua promessa de charme e intensidade das emoções prazerosas que podem ocorrer nesse encontro sugerido com a magia e o encantamento a ser desfrutado”. O sedutor espera o comprometimento do indivíduo para a realização de algo que ele deseje. E o seduzido, quando entra no jogo, apenas vai atender às necessidades e desejos do sedutor, tendo como provável destino, o auto-abandono. O sedutor deseja o amor do seduzido, o controle de sua vontade, alienando-o e cerceando sua liberdade de pensamento e de ação. Fonte: Siqueira, Marcus Vinicius Soares. O Discurso Organizacional em Recursos Humanos e a Subjetividade do Indivíduo – uma Análise Crítica. Fundação Getulio Vargas. Escola de Administração de Empresas de São Paulo. São Paulo. 2004. 12. CESPE - SERPRO – 2013 Sedução e fascinação são indissociáveis e elementos importantes para a compreensão dos complexos jogos de poder e de desejo nas organizações. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: C Comentários: Veja os comentários da questão anterior. 13. FCC - 2009 - TJ-SE - Analista Judiciário - Psicologia Nas discussões relativas às prisões e instituições totais destacam-se dois autores que por sua obra, tornaram-se referência para os estudiosos da Psicologia Criminal. São eles: a) Jean Piaget e Humbert Maturana. b) Sigmund Freud e Carl Gustav Jung. c) Michel Foucault e Erving Goffman. d) Jürgen Habermas e José Bleger. e) Donald Woods Winnicott e Edgar Morin. Gabarito: C Comentários: Será que as questões do dia da sua prova serão assim? 14. FCC - 2012 - MPE-AP - Analista Ministerial - Psicologia Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 49 Na atualidade, as instituições totais recebem críticas no tocante ao abrigamento de adolescentes em conflito com a lei, pois a) dificultam a vida social porque os adolescentes vivem isolados, realizando cada atividade diária de forma apenas individual e nunca em grupo. b) partem de uma visão médica e assistencialista sobre os cuidados que devem recair sobre aqueles que cometem atos infracionais. c) dificultam a formação de grupos e o estabelecimento de rotinas pré-estabelecidas pelos dirigentes. d) oneram a sociedade já que usualmente são utilizadosespaços com grande valorização imobiliária. e) privilegiam apenas o controle e a segurança, despersonalizando os indivíduos. Gabarito: E Comentários: O foco das instituições totais é sobre a reconstrução da subjetividade do sujeito. Essas instituições totais existem, segundo Goffman, para manter a ordem social e para garantir a segurança daqueles que seguem os valores morais da ideologia vigente. 15. CEPERJ - 2012 - DEGASE - Psicólogo Segundo Erving Goffman, as instituições totais retiram do indivíduo sua capacidade de decisão e escolha, por meio de rígidos regulamentos, sanções e julgamentos dos dirigentes. A afirmativa que não descreve ação implementada por essas instituições é: a) A conduta do interno no interior da instituição é constantemente observada e qualquer ato fora do determinado pode futuramente ser usado contra ele próprio. b) A presença de autoridade escalonada responsável pela garantia do cumprimento das regras determinadas, mesmo que isso inclua castigos físicos ou morais. c) Tudo pertence à instituição e pode ser retirado a qualquer momento. d) O interno consegue equilibrar suas necessidades pessoais ao poder e organizar livremente, e por conta própria, sua rotina diária no interior da instituição. e) O internado pode renunciar a certos níveis de sociabilidade, a fim de evitar incidentes. Gabarito: D Comentários: A letra D pressupõe liberdade e a liberdade é a principal coisa retirada dos internos das instituições totais. 16. CEPERJ - 2012 - DEGASE - Psicólogo “Os processos pelos quais o eu da pessoa é mortificado são relativamente padronizados nas instituições totais.” GOFFMAN, 2007 (p.24) Identifique abaixo as afirmativas que são exemplos de mortificação da identidade do indivíduo: I- Permissão para visitas a qualquer tempo. II- Perda de direitos civis. III- Uso de violência e ações de humilhação para a obtenção de obediência. IV- Alteração na aparência pessoal e não permissão para posse de bens pessoais. V- Direito à expressão e opinião próprias. A alternativa que contém a indicação das afirmativas corretas é: a) II e III Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 50 b) II, III e IV c) III, IV e V d) I, IV e V e) I, III e IV Gabarito: B Comentários: Lembre-se que não há liberdade em instituições totais, assim, nada de permissão para visitas a qualquer tempo e nem direito à expressão e opinião próprias. 17. FCC - 2012 - TRE-SP - Analista Judiciário - Psicologia Os grupos podem diferir em sua aparência e comportamento, no entanto, interiormente todos têm três elementos básicos: interação, atividades e a) recursos. b) atitudes. c) sistemas. d) sentimentos. e) raciocínios. Gabarito: D Comentários: Esse é o ciclo de Moscovici, explicado no trecho abaixo: No interior de quaisquer grupos se fazem presentes três elementos básicos: interação, atividade e sentimento. (HAMPTOM, 1991. p. 108). Interação Refere-se ao comportamento interpessoal, que pode variar de grupo para grupo. A relação social de interação não implica, necessariamente, no estabelecimento de uma conversa ou de um contato pessoal muito próximo. Quando os atos de duas ou mais pessoas que se encontram, estão intimamente relacionados, é possível reconhecer e se falar em interação (HAMPTON, 1991, p. 108). Atividade As coisas que as pessoas fazem são denominadas simplesmente atividades. No contexto organizacional desde o ato de falar até o executar tarefas de alta complexidade, são ações que determinam a atividade por elas exercida. Dessa forma, é possível notar que há diferença entre as atividades desenvolvidas pelas diversas pessoas junto a uma organização. Tais diferenças podem ser medidas e tomadas como indicadores de desempenho. (HAMPTON, 1991, p. 108). Assim, ao avaliar uma determinada atividade, necessário se faz um reconhecimento de que a mesma, por mais insignificante que pareça, é de vital importância junto ao meio organizacional. As pessoas responsáveis pela execução de tarefas de alta complexidade não são, por si só, auto- suficientes. Realizá-las depende da realização de outras atividades consideradas menos complexas ou, aparentemente, sem quaisquer importâncias. Sentimento O terceiro elemento, sentimento, “[...] inclui os processos mentais e emocionais que estão dentro das pessoas e que não podem ser vistos, mas cuja presença é inferida a partir das atividades e interações das pessoas”. De tal modo, “[...] um sorriso sugere um determinado sentimento, um punho ameaçador sugere outro. Mas são as atitudes, os sentimentos, as opiniões e as crenças compartilhadas pelas pessoas que interessam Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 51 especialmente para a compreensão do comportamento dos grupos.”(Ibid, p. 110) Fonte: Soares, Jeannette Oliveira Santos. Comportamento e relações interpessoais nas organizações: breve análise da SEFAZ/BA após a implementação do PROMOSEFAZ. Universidade Federal da Bahia. 2004. 18. FCC - 2012 - TRE-SP - Analista Judiciário - Psicologia A estrutura latente dos grupos, na concepção de Moreno, não é apenas uma distribuição de afetos dentro do grupo. É uma realidade afetiva e cognoscitiva, pois representa para cada membro do grupo as formas como: vivem o grupo e seus membros; vive sua própria situação dentro do grupo; percebe os outros e a distância social que experimenta em relação a eles e como é a) reconhecido por si. b) atingido pelos outros. c) percebido pelos outros. d) representado emocionalmente pelos outros. e) acolhido pelos outros membros do grupo. Gabarito: C Comentários: O foco da teoria de Moreno, a arrisco dizer que até para Lewin, é o campo psicológico. Esse campo psicológico é o campo dos fenômenos percebidos pelo sujeito (e não os fatos reais) e que constitui a subjetividade humana. 19. CESPE - MPU – 2013 Conforme a abordagem da psicologia comunitária, as relações de poder são determinadas pelas situações caracterizadas pela substituição do ideal de ego do indivíduo pelo superego do grupo. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: E Comentários: A psicologia comunitária se caracteriza por ser: [...] uma área da psicologia social que estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do lugar/comunidade, estuda o sistema de relações e representações, identidade, níveis de consciência, identificação e pertinência dos indivíduos ao lugar/comunidade e aos grupos comunitários. Visa ao desenvolvimento da consciência dos moradores como sujeitos históricos e comunitários, através de um esforço interdisciplinar que perpassa o desenvolvimento dos grupos e da comunidade. [...] Seu problema central é a transformação do indivíduo em sujeito. Fonte: Campos, R. H. F. (Org.). (2000). Psicologia social comunitária: da solidariedade à autonomia. Petrópolis, RJ: Vozes. Assim como na psicologia institucional, o indivíduo não se integra ao superego do grupo, ao contrário, busca realizar o seu ideal de ego. Veja: Por sua vez, o indivíduo acredita que participando da comunidade formada pelos membros da empresa, especialmente da dos detentores de poder, ele será reconhecido e alcançará o seu ideal de ego. O que ocorre é que o indivíduo não acredita apenas no sucesso e no reconhecimento por parte da empresa, ele acredita que ela, instituição sagrada do capitalismo, merece sua dedicação, seu empenho e qualquer renúncia da sua parte. Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 52 [..] As organizações, fazendo uso de múltiplos mecanismos tais como a gestão do afetivo, enfatizam de maneira continuada a necessidade em se terempregados talentosos, leais e comprometidos com os objetivos e com o crescimento da empresa. Igualmente, o discurso da comunidade se confunde com o do comprometimento, pois procuram-se indivíduos que estejam comprometidos com a organização e que sejam capazes de fazer parte de um “clube”, de uma comunidade, a qual fortalece os laços afetivos entre os indivíduos que a compõem. Para tanto, as grandes empresas fazem uso de mecanismos como a fascinação, a sedução e a servidão voluntária: o indivíduo acredita que, participando da comunidade formada pelos membros da empresa, especialmente dos detentores do poder, do sucesso, ele poderá ser enfim reconhecido e atingir o seu ideal de ego. Da mesma forma que outras categorias de análise, o comprometimento e a formação da comunidade na empresa é trabalhado de maneira não somente explícita, mas com mecanismos ocultos no discurso, que cada vez mais ideológico, faz com que o indivíduo desenvolva a percepção da empresa, não apenas como um local de trabalho, em que ele é remunerado para alguma atividade, mas como uma instituição sagrada merecedora de sua dedicação, seu empenho e qualquer outra renúncia que, porventura, seja necessária. Fonte: Siqueira, Marcus Vinicius Soares. O Discurso Organizacional em Recursos Humanos e a Subjetividade do Indivíduo – uma Análise Crítica. Fundação Getulio Vargas. Escola de Administração de Empresas de São Paulo. São Paulo. 2004. 20. CESPE - SERPRO – 2013 Julgue os itens subsequentes, com relação ao sentido do trabalho nas organizações. O trabalho pode assumir tanto uma condição de neutralidade quanto de centralidade na vida dos trabalhadores, assim como na identificação desses indivíduos com a sociedade. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: C Comentários: O trabalho ajuda a construir a identidade social do trabalhador e a imagem que o próprio trabalhador tem de si. Não significa que o trabalho será sempre o elemento central na vida do sujeito. Assertiva correta. 21. CESPE - SERPRO – 2013 Os indivíduos constroem suas concepções de trabalho à medida que vivenciam as relações com o meio em que vivem. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: C Comentários: Perfeita, sem comentários. 22. CESPE - MPU – 2013 Os grupos operativos propõem a vinculação entre a dinâmica de grupo e o referencial da terapia ocupacional. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: E Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 53 Comentários: Na verdade, os grupos operativos aparecem como uma proposta de trabalho através do vínculo entre os participantes e a abordagem adotada. Essa abordagem não é limitada pela terapia ocupacional, como afirma a assertiva. O propósito dos grupos operativos são as atividades centradas na solução de situações estereotipadas, dificuldades de aprendizagem e comunicação, devido à acumulação de ansiedade que desperta toda mudança. Por fim: Segundo Pichon-Rivière, entende-se por grupo um conjunto de pessoas movidas por necessidades semelhantes e se reúnem em torno de uma tarefa específica, um objetivo mútuo, onde cada participante é diferente e exercita sua fala, sua opinião, seu silêncio, defendendo seu ponto de vista. E neste grupo o indivíduo constrói sua identidade introjetando o outro dentro de si, ou seja, mesmo quando uma pessoa está longe posso chamá-la em pensamento ou mesmo todo conjunto. Assim o sujeito constrói sua identidade na sua relação com o outro, estando povoado de outros grupos internos de forma que todos esses integrantes do nosso mundo interno estão presentes em nossas ações. (FREIRE, 2000) Os grupos operativos se caracterizam pela relação que seus integrantes mantêm com a tarefa, que pode ser de cura ou aquisição de conhecimentos por exemplo. As finalidades e propósitos dos grupos operativos são as atividades centradas na solução de situações estereotipadas, dificuldades de aprendizagem e comunicação, devido à acumulação de ansiedade que desperta toda mudança. A ansiedade diante da mudança pode ser depressiva (abandono do vínculo anterior) ou paranóide (criada pelo novo vínculo e as inseguranças) (OSÒRIO, 2003). Fonte: Alves, Eduardo Pereira e Cunha, Leandro de Souza. Grupos Operativos Pichon Rivière. Ed. Artigonal junho de 2010 23. FCC – TRT – Alagoas – 2014 Ao definir inclusão, Will Schutz (1994) diz que se trata de uma necessidade interpessoal de estabelecer e manter relacionamento satisfatório com as pessoas, tendo em vista sua (A) interação e associação. (B) motivação e relação. (C) maturidade emocional e conhecimento técnico. (D) posição social e status no grupo. (E) aceitação e reconhecimento intragrupal. Gabarito: A Comentários: Para Schutz e sua teoria FIRO, temos três componentes que explicam as relações interpessoais: inclusão, controle e afeto. Como vimos em aula: Essas três necessidades de conduta interpessoal são suficientes para predizer e explicar as relações interpessoais. Inclusão se refere a associação, interação ou comunicação entre as pessoas. A carência de inclusão denota exclusão, isolamento, solidão e abandono. A conduta de Controle se relaciona com o processo de tomada de decisões entre as pessoas. Controle é sinônimo de poder, autoridade, dominação, influência e a carência de controle indica submissão, monitoramento, rebeldia e resistência. Afeto diz respeito aos sentimentos de proximidade entre duas pessoas. Ele é expresso através do amor, ternura e amizade. O efeito negativo contém o ódio, a distância emocional e o ressentimento. Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 54 24. FCC – TRT – Alagoas – 2014 A Teoria Cognitivista, ao estudar os grupos, enfatiza a importância de compreender como os indivíduos (A) acionam os mecanismos de defesa nas relações com o grupo e desenvolvem os processos de identificação e de regressão. (B) se comportam como consequência de seu espaço vital ou campo psicológico e acionam os outros membros do grupo. (C) recebem e integram as informações sobre o mundo social e como essa informação influi em seu comportamento. (D) compartilham suas experiências pessoais subjetivas e como se relacionam diante de conflitos grupais. (E) acionam uma rede de atração pessoal e como essa rede influi na formação e extinção dos grupos. Gabarito: C Comentários: Vejamos de onde provavelmente saiu a questão: Aqueles que estudam os fenômenos grupais adotam diferentes orientações teóricas, por exemplo: a teoria de campo, segundo a qual o comportamento é uma conseqüência de um campo de componentes interdependentes, Cartwright (1959) e Zander (1959). A abordagem do grupo social através da teoria psicanalítica, representada pelos trabalhos de Freud e Bion (1975), que desenvolvem os conceitos de identificação, de regressão, os mecanismos de defesa e inconscientes no estudo dos grupos sociais. A teoria cognitivista representada pelo trabalho de Krech e de Crutchfield (1961), enfatiza a importância de compreender como os atores sociais recebem e integram as informações sobre o mundo social e como essa informação influi em seu comportamento. Encontra-se ainda entre os estudiosos de orientação dinamicista a abordagem empírico- estatística que postula o uso da estatística como meio para identificação dos conceitos e leis gerais dos grupos sociais. Estes usam a análise fatorial e os processos desenvolvidos no campo dos testes de Cottrell, Meyer e Hamphill. O estudo do grupo social foi abordado, também, por meio de modelos formais com bases na matemática por Simon, French e Harary entre outros. Cartwright e Zander (1968), ao analisarem as diferentes orientações teóricas e os métodos empregados no estudo dos grupos sociais, enfatizam a contribuição que esta diversidadeteórica e experimental empresta ao desenvolvimento científico dos fenômenos grupais. A distinção entre um agregado, de um lado, e, de outro, um grupo social, tem sido feita pelos psicólogos sociais, mas para muitos deles não existe uma linha divisória rígida entre um e outro. Lima, Conceição Maria Dias. Atores sociais e liderança no processo de formação do capital social: proposta à cooperativa agropecuária. 25. FGV – DP – RJ – 2014 Jurandir Freire Costa, na análise de importantes transformações na subjetividade contemporânea, considera que o “corpo está se tornando o referente privilegiado para a construção das identidades pessoais”. Segundo Freire Costa, esse fenômeno se articula (A) à não superação do Édipo na cultura contemporânea e à derrocada das instâncias educativas tradicionais. (B) ao capitalismo globalizado que disseminou atributos físicos como modelos e ao esvaziamento da política partidária. (C) à proliferação do uso de drogas (lícitas e ilícitas) e ao consumismo sem limites. (D) ao remapeamento cognitivo do corpo físico e à invasão da cultura pela moral do Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 55 espetáculo. (E) à educação sentimental e às transformações no funcionamento familiar. Gabarito: D Comentários: Primeiramente, quem é Jurandir Freire Costa? É um psiquiatra e psicanalista com uma extensa literatura na área clínica e social. Jurandir Freire Costa, em seu livro O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo suscita que se tornou comum falar de “cultura do corpo” em alusão à preocupação moderna com a saúde e com a forma física. O autor nota, que à primeira vista, a expressão parece redundante, visto que toda cultura é “do corpo”, pois cultura, conforme considera Freire Costa (2004), é gestação, manutenção e reprodução de hábitos físicos e mentais. Entretanto, salienta que a redundância é apenas aparente: “[...] Cultura do corpo, ou culto ao corpo, não é uma definição; é um recurso de ênfase. A designação imprecisa chama a atenção para o fato de o corpo ter-se tornado um referente privilegiado para a construção das identidades pessoais”.(p.203). Dessa forma, empregamos a expressão tendo em vista tais considerações. Contudo, entendemos, que o termo “culto ao corpo” para além de ser um referente privilegiado na construção das identidades pessoais, também engendra questões ligadas à felicidade, beleza, auto-estima, prosperidade e glamour. Assim, utilizamos a expressão em um sentido amplo, conferindo relação com a moda, com a estética (na acepção de aparência física), com a indústria de cosméticos, de alimentos dietéticos, de cirurgias plásticas etc. O próprio autor diz: Referir o sentimento de identidade ao corpo significa definir o que somos e o que devemos ser, a partir de nossos atributos físicos. Ou seja, atualmente, se tornou verossímil acreditar que a) atos psicológicos têm origens e causas físicas e que b) aspirações morais devem ter como modelo desempenhos corpóreos ideais. Em outros termos, estamos nos habituando a entender e a explicar a natureza da vida psíquica e das condutas éticas pelo conhecimento da materialidade corporal. Sugiro que o culto ao corpo vem sendo condicionado por vários fatores, entre os quais dois são especificamente importantes: 1) o remapeamento cognitivo do corpo físico e 2) a invasão da cultura pela moral do espetáculo. O primeiro fenômeno fornece as justificativas racionais para a redescrição do que somos; o segundo, as normas morais o que devemos ser. Em conjunto, os dois vêm competindo com outros ideais de identidade pessoal, em particular com o ideal do sujeito sentimental. 26. FGV – FUNARTE – 2014 Leon Festinger, um dos mais importantes teóricos da psicologia social, cunhou, em 1957, o termo dissonância cognitiva, que pode ser definido como: (A) o sentimento de ansiedade e tensão interna provocado pela percepção da inconsistência lógica entre duas cognições diferentes, incluindo atitudes, crenças e comportamentos; (B) o conjunto de manifestações comportamentais suscitadas pela interação de uma pessoa com outras pessoas ou pela mera expectativa de tal interação; (C) a substituição do paradigma vigente na ciência normal por um novo paradigma, resultado de uma espécie de revolução científica; (D) a modificação do modo de pensar e agir de cada indivíduo em relação a crenças e valores, criando assim novas informações ou cognições sobre alguns dos seus conceitos pessoais; (E) o aprendizado de cada indivíduo na relação com os outros indivíduos pela apropriação da realidade criada pelas gerações anteriores. Gabarito: A Comentários: O conceito de dissonância cognitiva é o mesmo de incongruência de Rogers. 27. FGV – FUNARTE – 2014 Segundo Michel Foucault, a proteção e o evitamento da depredação das novas formas de Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 56 acúmulo de riqueza na modernidade fizeram proliferar uma tecnologia de vigilância e controle, que se instalou no século XVIII e caracteriza nossa sociedade até os dias de hoje. Tal tecnologia corresponde: (A) à repressão social; (B) à exclusão da pobreza; (C) ao grande enclausuramento; (D) à luta de classes; (E) ao panoptismo. Gabarito: E Comentários: Essa tecnologia de controle (Vigiar e Punir) é denominada Panoptismo. Sobre isso: As relações sociais modernas têm para Foucault como característica a atuação de tal poder tríplice, exercido sobre os sujeitos por meio de vigilância individual, controle e correção. O Panopticon de Bentham é a representação arquitetônica típica de tal período: um edifício em forma de anel, dividido em pequenas celas, no qual tudo o que era feito pelo indivíduo estava exposto ao olhar de um vigilante, que ninguém poderia ver. Este tipo de poder pode receber o nome de panoptismo, que não repousa mais sobre o inquérito, mas sobre o exame. Dessa maneira, afirma o autor: A multidão, massa compacta, local de múltiplas trocas, individualidades que se fundem, efeito coletivo, é abolida em proveito de uma coleção de individualidades separadas. Do ponto de vista do guardião, é substituída por uma multidão enumerável e controlável; do ponto de vista dos detentos, por uma solidão sequestrada e olhada (p. 190-191) O Panóptico automatiza o poder ao infundir naquele que é observado uma sensação consciente de uma vigilância permanente: arquitetura que cria e mantém uma relação de poder, portanto, que não mais depende daquele que o exerce; os vigiados são presos em um sistema no qual eles mesmos são portadores das relações que os submetem. Em outras palavras, aquele que “[...] está submetido a um campo de visibilidade, e sabe disso, retoma por sua conta as limitações do poder; fá-las funcionar espontaneamente sobre si mesmo; [...] torna-se o princípio de sua própria sujeição” (p. 192). O Panóptico dá ao poder a oportunidade de empreender novas experiências, modificar o comportamento de indivíduos, domesticá-los através de técnicas democraticamente controladas. A ampliação e organização do poder se faz visando ao recrudescimento das próprias forças sociais: aumento da produção, expansão da indústria, desenvolvimento da economia, potencialização da instrução. O panoptismo coloca em funcionamento uma forma de disciplina diferente da chamada disciplina-bloco. Enquanto esta se baseia na instituição fechada, destinada à marginalização e à suspensão do tempo e do diálogo, a disciplina-mecanismo empreendida por essa nova técnica procura tornar o poder mais ágil, de atuação mais sutil, mais eficaz. Pode-se falar em uma verdadeira inversão funcional das disciplinas, segundo o próprio autor. Anteriormente assentados na tentativa de neutralizar os perigos fixandoas populações agitadas, os mecanismos de poder procuram, cada vez mais, produzir indivíduos úteis. Ademais, a multiplicação da disciplina é correlata à sua desinstitucionalização, “[...] as disciplinas maciças e compactas se decompõem em processos flexíveis de controle, que se pode transferir e adaptar” (p. 199). O espetáculo cede espaço à vigilância. Na verdade, esta última deve funcionar como uma forma de regulação inversa à primeira em uma sociedade na qual a comunidade e a vida pública perdem espaço e são substituídas pela prevalência do indivíduo privado, por um lado, e pelo Estado, por outro: “[...] sob a superfície das imagens, investem-se os corpos em profundidade; atrás da grande abstração da troca, processa-se o treinamento minucioso e concreto das forças úteis; os circuitos da comunicação são os suportes de uma acumulação e centralização do saber [...]” (p. 205). Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 57 Fonte: Argolo, Pedro. O Panoptismo em Vigiar e Punir de Michel Foucault (1926-1984). Disponível em: http://jus.com.br/artigos/28147/o-panoptismo-em-vigiar-e-punir-de-michel- foucault-1926-1984#ixzz3DbqCI6ow 28. FGV – DP – RJ – 2014 No conhecido livro “Vigiar e Punir”, Foucault reflete sobre a técnica do exame, que consistiria em uma tecnologia (A) do poder soberano que invisibiliza, desterritorializa e militariza. (B) do poder disciplinar que visibiliza, individualiza e normaliza. (C) do poder disciplinar que singulariza, invisibiliza e pune. (D) do poder fluido que controla, medicaliza e incita. (E) do poder soberano que normaliza, cerimonializa e pune. Gabarito: B Comentários: Sobre isso: Quanto aos dispositivos disciplinares, ou instrumentos do poder disciplinar, também são em número de três os seus principais, quais sejam: o olhar hierárquico, a sanção normalizadora e o exame. Vejamos brevemente cada um deles. O olhar hierárquico consiste antes na idéia mais ampla de vigilância. A vigilância é a mais importante máquina, a principal engrenagem do poder disciplinar: ela contribui para automatizar e desindividualizar o poder, ao passo que contribui para individualizar os sujeitos a ele submetidos. Ao mesmo tempo, a vigilância produz efeitos homogêneos de poder, generaliza a disciplina, expandindo-a para além das instituições fechadas. Nesse sentido, pode-se dizer que ela assegura, como explica Foucault, uma distribuição infinitesimal do poder. ... Finalmente, o exame é o último dos dispositivos do poder disciplinar que nos resta comentar. Antes de mais nada, cabe ressaltar que ele consiste em uma espécie de articulação entre a vigilância e a sanção normalizadora. Em outras palavras, o exame constitui o indivíduo como objeto para análise e posterior comparação. Trata-se de um controle normalizante, uma vigilância que permite qualificar, classificar e punir. O exame estabelece sobre os indivíduos uma visibilidade através da qual eles são diferenciados e sancionados. Disso decorre que o exame é o resultado do somatório entre objetivação e sujeição: "ele manifesta a sujeição dos que são percebidos como objetos e a objetivação dos que se sujeitam" (Foucault 2001b: 154). Objetivação essa, ressalte-se, que opera pela concomitância entre a visibilidade dos sujeitos e a invisibilidade da disciplina. Ritualizado ao extremo, o exame tem ainda, e mais uma vez no sistema foucaultiano, o atributo de colocar em funcionamento relações de poder que permitem obter saber. Mais do que isso, com o exame, o indivíduo passa a ser, ao mesmo tempo, efeito e objeto do poder e do saber: "o exame não se contenta em sancionar um aprendizado; é um de seus fatores permanentes" (Foucault 2001b: 155). Fonte: POGREBINSCHI, Thamy. Foucault, para além do poder disciplinar e do biopoder. Lua Nova [online]. 2004, n.63 [cited 2014-09-17], pp. 179-201 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 64452004000300008&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0102- 6445. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-64452004000300008. Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3 www.psicologianova.com.br | 58 Psicologia Nova Os melhores cursos para os melhores alunos. www.psicologianova.com.br Si zia n Ba lta sa r d a Si lva - 03 7. 43 9. 61 1- 64 - siz ian @ gm ail .co m - 12 /1 2/ 20 18 1 6: 38 :3 3