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Kerlinger - Cap. 10 - Investigação sociológica, levantamentos e análise de frequencias

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10.Investigaçãosociológica,levantamentos
eanálisedefreqüências
('
realidadeda pesquisa.Outromotivoé por termosquenosdirigir a um
grandecorpo de estudosvariadosque parecemter as características
comunsde usarvariáveissociológicas,sernão-experimentais,dirigir-se
freqüentementeparaproblemassociaisimportantese usarum conjunto
detécnieasanalíticasrelaciort.\das.Muitasdessaspesquisasforamchama-
das"levantamentos"(surveyresearch)ou"estudosdecampo".
Para sermosmaisconcretos,vejamosos sumáriosde quatroinves-
tigaçõessociológicas.O fato de incluírem"variáveispsicológicas"não
mudasuanaturtzabasicamentesociológica.
a Estesdadosforamobtidospelo InstitutoNorte-Americanode OpiniãoPública.
Sãofornecidosna formadeporcentagem.
Tabela 10.1Respostasà questãosobretolerânciade não-conformidadereligiosa,(.
estudode Stouffer(1955).·
1 "Correlatos"são variáveisrelacionadasa outrasvariáveisde interessee são
usadasgeralmentepara'"explicar"umavariávelou variáveisde interesse.Por
exemplo,o pesquisadorpodeestarinteressadono comportamentodo eleitor.Para
tentarcompreenderestecomportamento,eleestudaaspreferênciasreligiosas,polí-
ticas,o sexo,e statussocialde,digamos,eleitoresemumaimportanteeleição.Em
outraspalavras,elerelacionaessasvariáveissociológicas,ou "correlatos",a como
as pessoasvotam.
oestudodeStou//er:tolerânciae intolerância
Nestegrandee importanteestudo,Stouffer(1955)questionou,entre
outrascoisas,tolerânciae oschamadoscorrelatosdeintolerância.1 Para
obteras respostasàs questões,Stoufferentrevistouduasamostrasalea-
tóriasdepessoasdosEstadosUnidos.(Entrevistaréumaformapoderosa
de obterinformaçãomUltousadana investigaçãosociológica.)Umadas
perguntasfeitaspor ele estavavoltadaparaa relaçãoentretolerância
e liderançana comunidade.Colocandode maneiradiferente,a questão
pretendiaestudara diferençaemtolerânciaentreoslíderese oscidadãos
comuns.A perguntaeraa seguinte:"Seumapessoaquisessefazeruma
conferênciaem sua comunidadecontraigrejase religiões,ela deveria
terpermissãoparafalarou não?" Partedosdadosobtidosemumadas
amostrasnacionaisé dadana tabela10.1.
Não
33%
60%
1%
3%
Semopinião
66%
37%
Resposta
<Sim
Líderesda comunidade
Gruporepresentativonacional
Investigaçãosociológica
Em nossapreocupaçãocomos pontosprincipaisda pesquisacom-
portamental,negligenciamosdiversostópicosque um estudocompleto
teriaque incluir. Dois ou trêsdessestópicos- tipos de pesquisae
métodosde observação,por exemplo- serãodiscutidosno Apêndice.
Devemosconsideraragora,entretanto,umaformamuitoimportantede
investigaçãocomportamentale um tipo deanálisecomume importante.
Na falta de melhoresrubricas,chamaremosà forma de investigação
"investigaçãosociológica",e aotil?o deanálise"análisedefreqüências".
Da formausadanestecapítulo,"investigaçãosociológica"é um
termoamploquesignificaumconjy.ntodeformasrelacionadasdeinves-
tigaçãonão-experimental'dirigidaspara o estudodas relaçõesentre
"variáveissociais".Da formausadaaqui, a investigaçãosociológicaé
feita principalmente,masnão exclusivamente,por sociólogose inclui
diversasvariáveiscaracterizadaspor suaorientaçãosocial:statussocial,
preferênciapolítica,preferênciareligiosa,afiliaçãoa associações,escolari-
dade,renda,ocupação,raça,sexoe assimpor diante.Estas"variáveis
sociais"sãoatributosdeindi\ríduos(ougrupos)quetêma característica
comumdeseremmembros'degrupossociaisgrandese pequenose assim
deseremcompartilhadospormuitosoupelamaioriadosindivíduos.Por
exemplo,todosnós temosocupações,renda,sexo,preferênciareligiosa,
e assimpor diante,e elas'nascem,pelomenosemparte,denossapartici-
páçãoemdiversosgrupos.Sãoo materialbásicodeumagrandeparteda
investigaçãosociológica.
Não queroimplicarqueos sociólogosusemapenasessasvariáveis
e queospsicólogosou oseconomistasnãoasusem.Semdúvida,ultima-
menteos sociólogosvêmusandocadavezmais"variáveispsicológicas"
e os psicólogosvêmusando"variáveissociológicas"- e é assimque
deveser.Estouusandoostermos"investigaçãosociológica"e "variáveis
sociais"em partepor conveniênciae em partepor elesrefletirema
162 16:
Tabela 10.3Valoresorientadosparapessoasemudançadeescolhaocupacional,1952.
Stouffer.2 As mãesde classemédiadestaamostradesmamaramseus
filhos maiscedoque as mãesde classeoperária.(Veja maisdetalhes
na discussãodo capítulo1.)
~~.
Valoresorientadosparapessoase escolhaocupacional
Há algunsanos,os professoresabandonavamo ensino,causando
assimdifíceisproblemasdepessoalemmuitosdistritosescolares.Porque
abandonavamo ensino?(Usamoso tempopassadoporquese presume,
masnaturalmentepodenãoserverdade,queosprofesson;sjá nãoaban-
donemo ensinocomoantigamentepor causada mudançana necessi-
dadede professoresna últimameiadécada.)Rosenberg(1955)lançou
algumaluz indiretano problemaquandoperguntouaosestudantesem
1950e 1952se gostariamde se tornar professores.Ele determinou
tambémse eramorientadospara pessoas(se queriamtrabalharcom
genteemvezde comcoisas;ajudaros outros)ou "não-orientadospara
pessoas".Uma dasrelaçõesrelatadaspor eleestána tabela1O •3.
Abandonaram
o ensino
Continuaram
professores
As respostasà questãodeStoufferparecemclaras,selermoscorreta-
mentea tabela.Há umarelaçãoentreposiçãona comunidadee tole-
rância:os líderesda comunidadeparecemserconsideravelmentemais
tolerantesdo queoscidadãosmédios:66por centodoslíderesdisseram
Sim, deve-sepermitira conferência,ma!)apenas37 por centodos
cidadãoscomunsdisseramSim. (Observequeas porcentagensde Sim,
asporcentagensdeNão e asporcentagensde SemOpiniãosomam,em
cadalinha,100%.)
Mil/er e Swansonrevisitados
No capítulo1 foi citadoum estudode relaçãoentreclassesocial
e tipodecriaçãodecrianças(Millere Swanson,1960).Umadasrelações
específicasestudadafoi entreclassesocialdospaise tempodedesmame
dascrianças.Miller e Swansonentrevistaram103mulheresdasclasses
médiae operária,emDetroit.Perguntaramàs mães,emumapartedo
estudo,quandodesmamaramseusfilhos.As respostasdasmães,dadas
na tabela1.1, estãoreprodqzidasaqui,na tabela10.2. Nestatabela
são dadasfreqüênciasnas respostase as porcentagens,calculadasem
cadalinha.
A relaçãoentreas duasvariáveisé evidente.De fa.to,as porcen-
tagenssão muitosemelhantesem suasmagnitudesàs porcentagensde
Tabela 10.2Classesociale tempode desmame.estudode Miller e Swanson(1960).
(reproduçãoda tabela 1.1)a. • '.
Orientados para pessoas
Nào·orientadospara pessoas
57%
19%
43%
81%
"
• As entradasprincipais nas casas são freqüências;as entradasentre parênteses
são porcentagenscalculadaspelas linhas. Veja nota de rodapé da tabela 1.1.
33
22
(60%)
(40%)
17
31
(35%)
(65%)
!
Classesocial
Classemédia
Classeoperária
rI ••
Desmame
Cedo
50 53
Tarde
55
48
103
As porcentagensna tabelaparecemdizerqueprofessoresnão-orien·
tadospara pessoastendema deixaro eftsino.Os númerosem que a
tabelasebaseiasãocomparativamentepequenos(umtotalde 108pro-
fessores)e o estudoémuitomaislimitadodo queosestudosdeStouffer
e de MilIer e Swanson.Mostra,entretanto,as característicasda investi-
gaçãosociológicaqueestãosendoilustradas:umavariável,Continuaram
2 As porcentagenssilo lIsadas às vezes em tabelas como esta porque "trans-
formam" as freqüênciasdas duas linhas em uma escalacomparávelbaseadaem
100. Já que as somasdas freqüênciasnas linhas, 55 e 48, são desiguais,é mais
difícil "ver" a relação estudandosimplesmenteas freqüências.Quando as fre-
qüênciassão transformadasem porcentagens,entretanto,a relação se torna mais
clara. Quanto mais diferem as somasdas freqüênciasdas linhas e das colunas,
maisútil setornaa transformaçãoemporcentagens.Discutiremosisto maisadiante.
Veja Kerlinger (1973,capo10) sobreprincípios e prática de construir e interpretar
tais tabelasc análises"
164
165
Professoresou Abandonaramo Ensino.(EscolhaOcupacional)é uma
variávelsociológica,queé estudadaem relaçãoa umavariávelpsico-
lógica,Orientadopara Pessoase Não-Orientadopara Pessoas.As res-
postasda amostraforamanalisadasem((lmatabelade porcentagens
(calculadasa partirdasfreqüências).
Efeitosduráveisdaescolarização
O últimoestudocitadonestaseçãonãopodeserexatamentechama-
do levantamentoou estudode campo.B, entretanto,o queestásendo
chamadonestecapítulo,investigaçãosociológica.B tambémum exemplo
deumnovotipodeestudoquecadavezmaisestásendofeito,à medida
quearquivosde dadosvãosendoconstruídosabrangendoos resultados
demuitosestudos.Hyman,Wrighte Reed(1975)desejavamrespostasà
perguntaextremamenteimportante,masraramenteformuladaempirica-
,mente:"Que duraçaotêmos efeitosda educaçãoformal?"
Umadasgrandesdificuldadesemestudarosefeitosdelongoalcance
da escolarizaçãoe de programasou mudançassociaisé a dificuldade
queos pesquisadorestêmemseguiraspessoasao longodo tempo.Os
estudosque seguemas pessoasatravésdo tempochamam-seestudos
longitudinais.Se quisermosavaliaros efeitosde longo alcancedas
escolase da escolaridade,devemosestudaras pessoasquandoestãona
escola,logoapóssaíremdaescolae emmomentosposteriores.Masestaé
umadasespéciesdepesquisamaisdifíceisde fazerpor diversasrazões
práticase técnicasquenãopodemoscitaraqui.B suficientedizer que
hápoucaevidênciaempíricalongitudinalnaquestãodosefeitosduráveis
da escolarização.
Hymane seuscolegasresolveramo problemada dificuldadeem
responderà sua perguntas6'breos efeitosduráveisda escolarização,
fazendoanálisesecundáriadedadoscoletadosemdiversoslevantamentos
nacionais.Comefeito,elescombinarame compararamos resultadosde
várioslevantamentosrelacionadoscoma suapergunta.Isto é, extraíram
informaçãosobreo níveldeescolaridadedemilharesdenorte-americanos
de 54 levantamentos,com um total de cercade 80.000indivíduos.
Oslevantamentosforamfeitosduranteo períodode 1949a 1971.Foram
escolhidosdemodoa agruparem-seemtornodequatropontosnotempo,
permitindoumaaproximaçãoaosestudoslongitudinais.O leitor, cuja
acuidadecríticadeveestarbemdespertacomnossoestudoanterior,verá
nesteestudo,seusproblemase resultados,um ótimoexercíciode inter-
pretaçãocrítica.
Na tabela10.4, algunsresultadosdo estudode Hymane outros
sãodadosdeformamuitosumarizadae condensada.Estesresultadossão
166
,
\,
Tabela 10.4Nível dc cswlllridlldc c pmccnlllgcnsmédiasde conhecimentoacadê.
mico de quatro grupos de idade IIOS IInos hO. estuúoc I-lymane outros (1975).'
Nível úc escolaridadc_..I,Idade Primeiro grauSegundograuUniversitáriocompleto
completo
--------
25-36 36%42%71%37·48
314175
49·60
285364
61-72
325562
a No corpo da tabela são dadas porcentagensmédias, cada uma calculada a
partir de três porcentagensassociadasa itens individuais de conhecimento.Os
36% na casa superior esquerda,por exemplo, significam que uma média de
36% de pessoasde nível de escolaridadede primeiro grau e na faixa de idade
de 25'36conseguiramresponderàs perguntasde conhecimento.
bemtípicosdosváriosresultadosapresentadosem seulivro. A tabela
expressaprinc:palmentea relaçãoentrea quantidadede escolarização
comovariávelindependente(Nível de Escolaridade)e o conhecimento
de três tópicosde informação:sabeo númerode mandatosqueum
presidentepode servir; sabea extensãodo mandatodos senadores;
sabea extensãodo mandatodosmembrosda CâmaradosDeputados.3
Outra"variável"da tabelaé idade,quetemas quatrocategoriasindi-
cadas.
Hymane outrosdesejavamestudara relaçãoentrequantidadede "
escolarizaçãoe conhecimentoposteriorde uma grandevariedadede
"conhecimentos".Estavamtambémfortementeinteressadosnos efeitos
duráveisda escolarização.A influênciada escolapersisteatravésdo
tempo?As "sementesdo conhecimento"plantadashá muito tempo...
se desfazemcomo tempoou persistematravésde todasas vicissitudes
atravésda experiênciaatéa velhice"?(Hymane outros,1975,p. 29)
A abordagemlongitudinalé ideal para um tal problema:estudaro
conhecimentodascriançasna escola,seguindo-aspelo tempo,medindo
seu grau de conhecimentoem pontosdiferentesde tempo,levando
tambémemcontaa quantidadedeescolarizaçãorecebida.B umaabor-
dagemdifícil e mesmoimpossívelpor motivosdecusto,perdadossujei-
tose outrasinfluênciaspossíveissobreo conhecimentoe suaaquisição,
3 Estes três itens e as entradasna tabela foram escolhidosentre muitas tabelas
semelhantes,quaseque arbitrariamente.A maioria dos itens Usadospelos levanta-
mentos,entretanto,foram semelhantesquanto a serem conhecimentofuncional
aplicado.
167
operadasatravésdo tempo. A maioria dos estudossobre os efeitos lia
escolarizaçãoé feita em um ponto do tempo. A relação pode, natural-
mente, ser estudadadesta forma, mas os resultadosnada nos dizem a
respeitodos efeitosda escolarizaçãoatravétdo tempo.
Hyman e outros, numa excelentetentativade "simular" o aspecto
longitudinal, usaram dados de levantamentosnacionais e categorizaram
os dados obtidos durante diferentesperíodos de tempo pela categoria
"Idade", dada na tabela 10.4.Nela há quatro grupos de idade, ou seja:
25-36,37-48,49-60e 61-72.Os autoresargumentaramque os efeitos
da escolarizaçãoseriammostradospelo conhecimento,aumentadocom a
escolarizaçãoaumentadae que os padrõesde diferençasseriam os mes-
mos ou semelhantesem diferentesgrupos.
Pela tabela 10.4 ficou claro que a respostaprincipal dos autores
ficou respondida:da escolaprimária até a universidade,a quantidadede
conhecimentoaumentae aumentade forma parecidanos quatro grupos
(diferentesníveis de idade). Esta descobertarepete-semonotonamente
nas tabelas de Hyman e outros. Raramentese vê tal consistênciade
resultadose demonstraçãode poder de "replicação", se se puder chamar
os diferentesníveis de idade e os vários testesde conhecimento,repU-
cações.
A perguntaincômodavolta sempre,entretanto:"Podemos acreditar
nos resultados?É possívelque essesresultadosfortes sejamespúriosno
sentidode quenão é a escolarizaçãoquegeramaior conhecimentoquanto
mais alto se chegano sistemaeducacional,mas uma outro variável ou
r variáveis?"
Consideremosa inteligência.É possívelque o nível de inteligência
diferentedos participantesda amostraproduziu as diferençasobservadas
empercentagemnos trêsníveis de escolaridade?Parecebastanteplausível
supor que indivíduos mais i1lJ;eligentessobem mais no sistemaescolar
do que indivíduos menos inteligentes.Se for este o caso, sem dúvida
os resultadosda tabela 10.4(e outros semelhantes)levam à conclusão
errada. Não é a escolarização,mas a inteligência que influencia. Ou,
talvez mais exatamente,é a educaçãoe inteligência. Hyman e outros
(1975,p. 294)usarama frase certaque expressaa dificuldade frustrante
que os analistasde resultadosde pesquisaenfrentam,principalmenteem
pesquisa não-experimental: "terrível indeterminância". Naturalmente,
nesteestudohá outras variáveisque contribuempara a terrível indeter-
minância.Vamos nos concentrarrapidamenteapenasem inteligência.
Hyman e outros controlaram variáveis concorrentese explicações
concorrentesde forma competente.Sem dúvida eu recomendoseu livro
ao leitor como modelo de raciocínio cuidadoso,objetividade científica,
exposiçãoclara e o uso de material de pesquisade arquivo para testar
168
I,
questõespráticas importantes.Usa também profusamenteo raciocímo
dehipótesesalternativasquejá encontramosemcapítulosanteriores,mais
especialmenteno capítulo 9 sobre pesquisaexperimentale não-experi-
mental.Vamos dar uma rál(\da olhada, entretanto,no quc talvez seja a
parte mais fraca de Hyman\ç outros, isto é, nos argumentossobre inte-
ligência.
Os autoresdizem que a variável que se desejariapoder controlar é
a inteligência,medida durante a infância, antes que os resultadosdos
testes pudessem ter sido influenciados pela escolarização. Mas tais
medidasnecessáriasao controledireto, dizemeles,estãoalém do alcance
de qualquer pessoa; os sujeitos do levantamentojá estãoadultos, tarde
demaispara medir inteligênciaantesda influência da escolarização.(A
escolarização,naturalmente,tem uma forte influência sobre a inteligên-
cia medida atravésde testes.)Reciprocamente,a mensuraçãoda inteli-
gência de crianças vem cedo demaisparamedir os efeitos duráveis da
escolarização.
Para apoiar seu argumentode que a inteligêncianão produziu os
efeitos por eles relatados, eles usaram argumentosopostos. Primeiro,
as característicassociais e biológicas tiveram sua influência diminuída
como critérios de seleçãoescolar. Mais e mais crianças têm alcance à
educação nos últimos anos. A inteligência deveria, portanto, ter um
grande papel em determinar a realização. Segundo, padrões antigos,
mais rigorosos, de desempenhoacadêmiconas escolas do país, foram
relaxados.Assim, estudantesde geraçõesmais recentesconseguemprosse-
guir na sua formação e subir mais no sistemaeducacional,emborasua
inteligênciaseja mais limitada. O primeiro argumento,então,diz que a "
inteligência desempenhaum papel maior e o segundodiz que desem-
penha um papel menor. Hyman e outros afirmam que os dois argumen-
tos levam à conclusão de que a contribuição da inteligência deve ter
mudadocom o tempo.Portanto, se for d((5coberto,como ocorreu em sua
análise,que os efeitos da educaçãonão variam atravésde períodos de
tempo e grupos de idade, então, inteligência não é a explicação. Eles
citam tambémresultadosde outros estudosem que, segundoafirmam, a
influência geral da inteligênciasobrea realizaçãoeducacionalé modesta
(uma conclusãopossivelmenteduvidosa).
Minha conclusãoé que os resultadosde Hyman e outros sãoempiri-
camenteválidos, tendoem vista a magnitudedos efeitos- as diferenças
de porcentagens- e sua notável consistênciaatravésdo tempo. Mas
ainda estoupreocupadocom a possibilidade de que uma parte substan-
cial dos efeitos observadosseja devida à inteligência.A conclusãomais
exata provavelmente seja que tanto inteligência quanto escolaridade
tenham influências substanciaise conjuntas duradourassobre o conhe-
cimento.Eu tedi! gostadode ver a inteligênciacontrolada.Mas isto não
t69
Tabela10.5Comparaçõesde dados de amostrascom dados do censo; estudo de
Stouffer (1955).
Os levantamentosdescritivosprocuramdeterminara incidênciae
distribuiçãodas característicase opiniõesde populaçõesde pessoas,
obtendoe estudandoas característicase opiniõesde amostraspequenas
e presumivelmentereprese11(~tivasdetais.p0t:.ulações.Sã~~sad~s.ampla-
mentepelogoverno,pelasfil'mase orgal1lzaçoes.O proposltobaSlCOdas
levantamentosusadosdestaformanãoé científico,masantesorientado
paraa açãoe paradiretrizesdeação.Entretanto,os levantamentosdes-
critivostêmtido efeitosmuitofortessobrea pesquisacomportamental
em geral,principalmenteatravésde seuprocedimentosofisticadíssimo
de amostrageme entrevista.Já discutimosamostragemaleatóriae suas
características.Para fins práticosé altamentedesejávelqueas amostras
estudadassejamrepresentativas.Desejamosdizerqueo resultadoobtido
emum estudode grandeescalaé representativo.Se a amostrafor sem
dúvidarepresentativa,então,osresultadosobtidospor meiodelapodem
sergeneralizadosparatodaapopulação.Se80porcentodeumaamostra
respondemfavoravelmentea umaquestãosobreumapossíveldiretriz
dogoverno,porexemplo,acredita-seque,sesefizessea mesmapergunta
a todasaspessoasde um país,um estado,umacidadeou umaorgani-
zação,pertode 80 por centodelasseriamfavoráveis.
Há váriasmaneirasde tirar amostraspara fins de levantamento,
masa únicaquedá umarazoávelgarantiageralde serrepresentativaé
algumaformade amostraaleatória.Freqüentementeos levantamentos
usamo quese denominaprocedimentode amostragemaleatóriaestrati-
ficada,que mostrouváriasvezester uma alta probabilidadede ser
representativa.
A tabela 10.5 contémevidênciasnotáveise asseguradorasda"
representatividadede grandesamostrasaleatóriasde todosos Estados
Unidos.O métodoconsisteemverificara incidênciade características
sociológicasprontamentedisponíveisde uma amostracom as mesmas
característicasobtidasno censomais recente- ou com outra fonte
iA
de confiançade taisdados.
era diretamentepossível.Mesmo assimos pesquisadoresfizeramo
máximoquepuderamnascircunstâncias.4 Pode-semesmodizerquesuas
"análisesde controle"(vejaespecialmenteo capítulo3) sãoexemplos
excelentesde controlena análisede mat7riaise problemasdifíceisecontrovertidos.De fato, todoo estudoé um ótimoexemplode investi-
gaçãosociológicacuidadosae competente.
Levantamentos
Nos levantamentos,pequenase grandespopulaçõessãoestudadas
atravésdeamostrasparadescobrira incidênciarelativa,a distribuiçãoe
inter-relaçqesde variáveispsicológicase sociológicas.Os levantamentos
sãoparteda pesquisasócio-científicae têminfluenciadofortementea
pesquisanasciênciascomportamentais.Têmsidousadosprincipalmente,
masnão exclusivamente,paradescobiro queexistee comoexisteno
ambientesocialdeum grupo,umaáreageográficaoupolíticae mesmo
um país inteiro.Uma de suasprincipaisvirtudes,principalmentepara
administradores,líderesdo governo,dos negóciose da política,é sua
surpreendentecapacidadede fornecerinformaçãoexatasobrepopula-
çõesinteirasusandoamostrasrelativamentepequenas.A tecnologiados
levantamentos- e formasrelacionadasde investigação- encontra-se
altamentedesenvolvida.A sociedademodernatemumaarmapoderosa
paracolecionarfatose testarteoriase hipóteses.
Os estudosde Stouffere de Miller e Swansonsãoamboslevanta-
mentos.Stoufferestudouseuproblemausandoduasamostrasaleatórias
grandes(maisde 2.400casoscada)de todosos EstadosUnidos.Miller
e SwansonentrevistaramumaamostraaleatóriadapopulaçãodeDetroit.
Hymane outrosusaramresultadosobtidosem um certonúmerode
levantamentospor amostragelH,comotambémsãochamados,para res-
pondersuasperguntas.Estesestudosusarama formade pesquisaem
largaescalaprincipalmentepara estudaremrelações.Os autoresnão
estavaminteressadosemlevantamentoscomoarmadescritiva,mascomo
instrumentoparadescobrire testarrelações.Estaênfaseemlevantamen-
to.saumentourecentemente.Muitos,talveza maioriadoslevantamentos,
entretanto,têmsidoo quesedenominoulevantamentosdescritivos.
4 Minha dúvida aumenta,entretanto,pelo que Hyman e outros (1975, p. 25)
dizem a respeito de um rápido teste de inteligência (vocabulário) aplicado em
um dos levantamentosusados por eles. Os adultos escolarizadostiveram notas
mais altas.Em outraspalavras,há uma relaçãopositivaentre inteligênciae efeitos
da escola.Em pesquisa,principalmenteem pesquisaeducacional,muitas vezesse
desejaque todas as pessoastenhamexatamentea mesmainteligência!
170
Característica
Meio urbano
Masculino
Negro
Universidade
Segundograu
Escolaridadeprimária (ou nenhuma)
Levantamento
66,0%
46,6
8,9
17,1
45,4
37,5
Censo
64,0%
47,7
9,2
15,4
43,5
41,1
171
A comparaçãodas porcentagensda amostrae do censo na tabela
10.5 mostra estreito acordo. Os cálculos da amostra,com exceçãoda
escola primária, estão dentro dos 2 por cento dos cálculos do censo.
Verificações semelhantesem outros levanüynentosmostramcálculos deamostrasda incidência de tais característié'asna população aproximan-
do-se bastante dos cálculos do censo.5 No estudo de Stouffer foram
comparadasas porcentagensobtidas em respostaa questõesdiferentes
emduasamostrasaleatóriasindependentesdos EstadosUnidos. Na tabela
10.I reproduzimosas respostasde líderes e não-líderesda comunidade
a uma pergunta sobre tolerância em relação à não-conformidadereli-
giosa. As porcentagensrelatadasna tabelaforam as obtidas em apenas
uma das amostrasde Stouffer. As porcentagensobtidas nas duas amos-
tras, entretanto,estavamtodas dentro de 3 por cento ou menos uma
da outra. Nas seis porcentagensda tabela 10.1,as diferenças entre
elas e as da 'segundaamostraforam 2, I, 3, 1, 1 e O pontos de porcen-
tagem.Esta é uma demonstraçãomuitíssimo convincente da força do
levantamentopor amostragem.B muito mais convincenteainda quando
se considera que os tamanhosdas amostrasusadas nos levantamentos
são de menosde 3.000 indivíduos, e em geral consideravelmentemenos.
Os levantamentose formas relacionadasde investigaçãosão impor-
tantestantopara os objetivoscientíficos de estudarrelaçõesquanto para
objetivos de ação prática e orientadosparaa tomada de decisões,mas
particularmenteparao último. Exemplosde levantamentospara objetivos
científicosjá foram dadosnestecapítulo. (A ênfasedestelivro emciência
e em pesquisa comportamentalcientífica ditou tais exemplos.)Vamos
, mencionarapenasum exemplode uso prático de levantamentosorienta-
dos para a fixação de diretrizes.
Desde 1946 o Survey ResearchCenter, da Universidade de Michi-
gan, vem conduzindo levantamentossobreo estadofinanceiro do consu-
midor para o governofederal. Seu objetivo foi variado, masum objetivo
geral parece ter sido o de fornecer ao governofederal e às partes inte-
ressadasinformaçõesexatassobre o verdadeiroe futuro comportamento
econômicodo povo norte-americano,para que o governopudesseformu-
lar as diretrizes econômicaspara equilibrar ou prevenir, por exemplo,
perturbações econômicas de natureza perniciosa.6 Os levantamentos
5 O leitor curioso pode perguntar:pode-seconfiar nos cálculosdo censo?Afinal,
as cifras do censo,emborapresumive1mentevaloresde população,têmum número
de fontes de erro que reduzemsua exatidãoideal. Há alguns até que dizem que
confiam mais nos cálculos das amostrasque nas cifras do censo. Em todo caso,
as cifras do censo são geralmentebastante exatas. E, afinal, é preciso usar
algumacoisa para verificar os cálculosdas amostras!
6 Para um breve relato desteslevantamentose outros estudos aplicados, veja
Likert e Hayes (1957).
172
anuaisforam, evidcntemcntc.allll1llcntceficazcsc forneceraminformação
nacional exata sobrc 11 rcndll c suas fontcs, poupança,dívidas, bens de
consumo,intcnl,'ol'sdo cOllsumidorl' assimpor diante.
Lcvantalllcntosdc intcresscpma os pesquisadorescomportamentais
têm focalizado pessoase fa~osvitais relacionadosa elas, suas crenças,
opinj(lcs. atitudes.valorcs, motivose comportamentos.Apesar de que a
habilidadc na rcalizaçüode entrevistas,bem como o uso de formulários
cuidadosamcntc planc.iadospredominam nos levantamentos,usam-se
tambémoutros métodosde observação.Em resumo, o levantamentoé
uma forma de investigaçãosociológica (com fortes implicações psico-
lógicas, naturalmente) amplamenteusada, especialmentepara metas
práticase de formulaçãode diretrizes,e que influenciou a pesquisacom-
portamentalprincipalmentecom seu procedimentode entrevistae amos-
tragem, como já foi mencionado. Os resultados foram, notavelmente,
exatose generalizáveis.Podemosconfiar em tais resultados,se obtidos
atravésde amostragemaleatóriafeita pelas melhoresorganizaçõesespe-
cializadas em levantamentos.Vamos dirigir nossa atenção agora para
uma forma de análise comum e importante que é usada em levanta-
mentose em outras formasde investigaçãosociológica.
Análise de freqüências
Foram apresentadosvarios exemplos de análises de freqüências
anteriormente,sem explanação técnica. Estas explanaçõesnão foram
dadas porque os exempJosnos pareciam tão óbvios que não achamos"
necessáriauma explanação.Por que não antecipara explanação?Porque
a prevalênciade tais análisesexigecompreensãodos princípios envolvi-
dos. Além disso, precisamosequilibrar nossapreocupaçãoanterior com
análiseque usa estatísticasde tendênciacentral e variabilidau",
Uma freqüência é simplesmenteu~a contagemde alguma coisa.
Se tivermosumaamostrade 300 indivíduos e contarmoshomense mulhe-
res, estes números são freqüências. Mais exatamente,freqüência é o
número de indivíduos em uma de duas ou mais categoriasou classes.
Se tivermos 152mulheres e 148homens na amostra, 152e 148são
freqüências,númerosquecaemnasduascategorias,homense mulheres.7
Em pesquisa,as tabulaçõesde diversascategoriase as freqüênciasnelas
7 Os dicionários dão uma 'definição diferente.Dizém que freqüência é a razão
entre o número que está em uma classeou categoriae o número total que está
sendo classificado; no exemplo acima, 152/300 e 148/300 seriam freqüências.
Na verdade,estas são "freqüênciasrelativas". Usamos a definição mais simples
para evitar confusão.
173
observadassãochamadasdistribuiçõesde freqüência.São essasdistri-
buiçõesde freqüênciaqueaparecemgeralmenteempublicaçõespopula-
res.Mas elasnão nos interessam;geralmentenão expressamrelações
entrevariáveis.
(
Cruzamentose cálculodeporcentagem
o quenosinteressaé estabelecerasdistribuiçõesdefreqüênciaem
oposição.Tais distribuiçõesgeralmentesãopequenas,istoé,compoucas
categorias.Quandoassimfazemos,elassãochamadascruzamentosou,
mais tecnicamente,partiçõescruzadas.A tabela10.2 traz um cruza-
mento.Observeque as duasvariáveis,classesociale desmame.estão
colocadasumacontraa outra.Isto é, as célulasda tabelaexpressama
co-ocorrênciadasduasvariáveis.As freqüênciasnascélulas"expressam"
a relaçãoentreas duasvariáveis.Falandoclaramente,descobrimosque
33 mãesqueeramde classemédiadesmamaramcedo,22desmamaram
tardee assimpor diante.Estaé a formamaissimplesde cruzamento,
duascélulaspor duascélulas,que expressama relaçãomais simples
possível.
As tabelas10.1e 10.3 tambémcontêmcruzamentosdoispor dois,
masas freqüênciasforamconvertidasemporcentagenspara realçara
forçadasrelaçõesnas tabelas.O cruzamentoda tabela10.4,também
em formade porcentagem,é, na realidade,quatrocruzamentos.Cada
linha é mais uma replicaçãodo que uma categoriade umavariável
- commetadedeumacategoria,níveldeescolaridade,omitida.(Os 36
, por centona primeiracélula significamque 36 por centodos que
foramà escolaprimária,no grupode idade25-36,sabiamasperguntas
de conhecimentos.Isto implica,naturalmente,que64 por centonãoas
sabiam.As tabelasde cruzamentosãofreqüentementetruncadasdesta
maneira.) v'
A conversãodasfreqüênciasdeumatabelaemporcentagensé feita
parafacilitar"ver a relação"e avaliarsuaforça.A regraparaconversão
é: "Calculeasporcentagensdavariávelou variáveisindependentespara
a variáveldependente".8 Por exemplo,na tabela10.2, a variávelinde-
pendenteé classesociale a variáveldependenteé desmame.Portanto,as
porcentagenssãocalculadasaolongodalinhas(33/55=0,60=60por
centoe assimpor diante).Na tabela10.1,a variávelindependenteé
liderançade comunidade,ou líderese não-líderes,e a variáveldepen-
denteé tolerância,ourespostasSim ouNão a questõessobrenão-confor-
8 Há umarazãoestatísticapor trásdestaregra.VejaKerlinger(1973,pp. 162-166)
paraa explicaçãotécnica.Damosumaexplicaçãonão-técnicamaisadiante.
174
midadereligioso.Obscrvccomo11 força da relaçãose mostraclara-
mentenasduastabclus.Sc IISporccnlugcnsfossemcalculadasde outra
forma,pelllsCOIUIIIIH.11 dircçüodll relaçãoficaria expressaincorreta-
menteetlllve:!.kVUHHC11 con~'~l1S110crruda.Taistabelascalculadasincorre-tamcnte.ilí IOI"UIIIpulJllcutlu.,.(Nao importase as porcentagensforem
clllcullldllHpor Ijnhllsou por colunas.contantoquea regrade calcular
du vllriÍlvc1IIldcpcndcntcparaa variáveldependentesejaseguida.)
Um exemplodepossívelcálculoincorretode porcentagens
Tentandoajudara desenvolvera compreensãodo leitor quantoa
problemas,relações,análisese inferências,vamosdiscutir agoraum
problemasutile interessanteemconexãocomo queprovavelmenteseja
umaanáliseincorretacontidaem um importanterelatóriodo governo
sobredesordenscivis (Reportof The NationalAdvisoryCommitteeon
Civil Disorders,1968).Em 1967,o PresidenteLyndonTohnsonnomeou
umacomissãoparainvestigare estudarosdistúrbiosraciaisqueestavam
ocorrendonascidadesnorte-americanas.Sua ordemexecutivadizia:
"A Comissãoinvestigaráe fará recomendaçõesa respeitode: (1) As
origensdosgrandesdistúrbiosrecentesemnossascidades,incluindoas
causase fatoresbásicosque levarama tais distúrbios... " (ibidem,
p. 534).A partir de um levantamentofeitoemNewark,foramobtidas
asrespostasdosparticipantes(P) e daspessoasnão-envolvidas(NE) nos
distúrbiosà questão:"Às vezeseuodeioosbrancos".A tabelaapresen-
tadapelaComissãoé dadana tabela10.6 (ibid.,p. 176).
As porcentagensdadasna tabelaforamcalculadasda participação
emdistúrbios,comoumavariável,paraa atitudeemrelaçãoaosbrancos,
outravariável(indicadapelo acordoou desacordocom a afirmação).
Podesermostrado,a partirda teoriadasprobabilidades,queporcenta-genssãorealmenteo quesechamaprobabilidadescondicionais(Kerlin-
ger,1973,pp. 164-165)cujoenunciadocorretoé derivadodo problema
originaldepesquisa.O problemaoriginaldepesquisa,nestecaso,deriva
da ordemdo Presidente.Se as causasdos distúrbiossãoo problema,
comoficouindicadonaordem,entãoo enunciadosep, entãoq, é; sep,
entãodistúrbio,comdistúrbiosendoa variáveldependente.O p repre-
sentaas causasinvestigadas.Mas na tabela10.6 a forma comoas
porcentagensforamcalculdadasfazp distúrbioseq atitude,o queinverte
asvariáveisindependentee dependente.As porcentagensna tabela,em
outraspalavras,implicamna afirmativa:"se distúrbio,entãoatitude",
ou"seperturbador,entãoatitudenegativaparacomosbrancos".
A afirmativanãoé desarrazoada,masnãopareceestardeconformi-
dadecomo pr~blemaenunciadopeloPresidenteTohnson.Pareceexpli-
175
Ta/u'/a 10.6Respostados participantesem distúrbios(P) e pessoasnão-envolvidas
(NE) à questão:"Às vezeseu odeio os brancos", Relatório dos Distúrbios Civis. Tabela 10.7Resposlllsdo purlidpulIlCscm dislúrbios (P) e pessoasnão-envolvidas
(NE), com porccnlllgclIHculculllltUHpor lillhus.
Concordo
Discordo
P (N = 105)
72,4%
27,6%
100,0%
NE (N = 126)
50,0%
50,0%
100,0%
..,
.~
Conconlo
Discordo
, P
55%
32%
NE
45%
68%
100%
100%
carasatitudes,masnãoosdistúrbios.O quesedesejadosdadosé uma
respostaà questão:"Qual é a probabilidadede distúrbios,dadaa atitu-
de?" Podeser mostradoqueessaprobabilidadeé obtidacalculando-se
as porcentagens(maisexatamente,asproporções)dasfreqüênciasorigi-
nais atravésdas linhas.As freqüênciasoriginaisdasquatrocélulasda
tabelaforamobtidasdasfreqüênciasdePeNE (105e 126)dadaspela
comissão.As porcentagens,então,foramcalculadasda atitudeparaos
distúrbios,ou nas linhas.Estasporcentagensestãona tabela10.7 (os
valoresforamarredondados).Sãoequivalentesa dizer:"Se atitude,então
distúrbio".
Tomandoessasporcentagenscomoprobabilidade,lê-se,por exem-
plo: "A probabilidadededistúrbios,dadaa concordânciacoma afirma-
tiva: 'Às vezeseuodeioosbrancos',é 0,55(ou55por cento)".É óbvio
queessasprobabilidadesou porcentagenscontamumahistóriadiferente
da do relatórioda Comissão.Nestatabelatorna-seimportanteo desa-
cordocoma afirmativa.Dadoo desacordocoma afirmativa,a probabili-
dadeé de 0.68de queindivíduosnãoseenvolverão.Dadoo acordo,a
probabilidadeé de0,55dequeos indivíduosparticiparãodostumultos.
Maisimportante,asporcentagensouprobabilidadesnatabela10.7estão
emconsonânciacomasordensdo Presidente;asdatabela10.6parecem
não estarem consonânciacom elas.
Esteexemploé particularmentedifícil porque,nestecaso,podem
seroferecidosargumentosrazoáveisparaambosos métodosde calcular
asporcentagens.lã quea atnbuiçãoe obietivodacomissãoforam,entre-
tanto.determinarporqueocorriamasperturbações,o pesodoargumento
parececair parao lado do cálculode porcentagensda tabela10.7e
contrao da tabela10.6. O enunciadocorretodo problema,na forma
"sep, entãoq", é: seatitude,entãoperturbaçãoe nãoseperturhadores,
entãoatitude.
O exemplofoi explanadomaisextensamenteparadaraoleitoralgo
maisque a oportunidadede um rápidoolhar para'um problemade
análisee interpretaçãointeressantee importante.Pode-seter ganho
tambémmaiorcompreensãoda análisede cruzamentossimples.O pro-
blemasubstantivoé importantetantoteóricaquantopraticamente.O
176
desafiodo presidenteà Comissãoé quaseequivalentea estabelecerum
problemacientífico:"O quecausouos distúrbiosraciais?"Isto é, sem
dúvida,um desafioparaos psicólogose sociólogoscriaremumateoria
para explicara violênciaracial,a tensãoracial e as atitudesraciais,
assimcomo determinaros fatos do preconceitoe da discriminação.
Creioquenãoprecisoenfatizara importânciado problema.
Outrasformasde análisedefreqüênciase cruzamento
Os cruzamentostêmváriasformase modelos.Atéaquiexaminamos
só o tipo maissimplescomapenasduasvariáveis,uma independente
e uma dependente,e duascélulaspara cadavariável.Outrasformas
sãopossíveis,naturalmente:2 x 4, 3 x 4, e assimpor diante.É possível
tambémter-semaisdeduasvariáveis.Alémdetrês,entretanto- duas
variáveisindependentee umadependente- torna-sedifícil e proble-
máticaa análisee a interpretação.Há tambémoutrosmodelose tabelas.
Um modelofreqüenteomiteparteda participação.Isto é, em vez de
tabelas"completas"que.exprimamtodos os aspectosdas variáveis,
omitem-seumaou maiscélulas.A tabela10.4 é um exemplo.As por-
centagensrelatadassãoapenasmetadedahistória.Por exemplo,nonível
de idade25-36,36 por centodos que tiveramescolaridadeprimária
tiveramo conhecimentoacadêmicotestado.E a percentagemdos que
nãotinhamconhecimentoacadêmico?Nestecaso,naturalmente,64 por
cento.Estáimplícito.Seo leitorcompreenderosprincípiosbásicos,mais
fácil se torna ler e interpretara maioriadas tabelasde freqüênciae
porcentagem.
Investigaçãosociológica:uma rápida perspectiva
É facilmentepossívelescreverum livro inteirosobreo que foi
chamadoaqui investigaçãosociológica.Aliás, taislivrosforamescritos.
A abordagemadotadanestelivro,entretanto,enfatizaa pesquisaexperi-
mentale a mensuraçãodevariáveiscontínuasàsexpensasda ênfasena
177
investigaçãosociológica,porquetal abordagemprovavelmenteestejamais
próxima da naturezada ciência,comoem grandeparte do estudoexperi-
mental e não-experimentalde relações.Quando possível e conveniente,
a experimentaçãodeveriaser feita emlaborúório e no campo,pelosmoti-
vos dados anteriormente.Quando possível, as variáveis deveriam ser
medidasusandoescalasde valoresque pudessemser atribuídasaos obje-
tos medidos.Isso não significa que a pesquisanão-experimentalnão seja
importante e necessária.Não significa tambémque a mensuraçãoque
permitaapenascontagem9 - como a contagemde Stouffer de respostas
Sim e Não (tabela 10.1), ou a contagemde Hyman e outros de números
de indivíduos em diferentesníveis de escolaridade(tabela 10.4) - não
seja necessária e importante. Em suma, ambas as abordagens são
necessáriase indispensáveisna pesquisacomportamental.
A investigação sociológica, então, é uma parte extensa e muito
importanteda pesquisacomportamentalcontemporânea.Pode-seatédizer
- e certamenteseria dito por algunspensadores- que é mais impor-
tante do que a investigaçãoexperimental.Considere os levantarn.entos
e os estudosem larga escala como o relatório Coleman, Igualdadede
OportunidadesEducacionais.Pode-sedizer ou mesmotomar por implíci-
to que, por haver menos controle e menos certeza de inferência, a
pesquisanão seja importante? Um dos objetivos destelivro é ajudar o
leitor a compreendera tela enormeonde estápintada a pesquisa·experi-
mentale a riqueza e variedadede cores que os cientistascomportamen-
taisusamna pintura. Foram dadosgrandespassoscientíficosnesteséculo,
principalmentena conceitualizaçãode problemasde pesquisae na meto-
dologia. A investil!açãosociológicafez e continuaráa fazer parte impor-
tante,ativa e criativa do esforçogeral.
9 Algunsespecialistasconsideramquecontarobjetosincluídosemcategoriasnão
é propriamentemensuração.Outrosdizemque é mensuração,chamadamensu-
raçãonominal.Tomo a últimaposiçãopor causada definiçãode mensuração
comoa atribuiçãode algarismosa objetosde acordocomregras.Atribuem-lSe,
comefeito,l's e O'sa indivíduos.A regraé: se um indivíduopertencea uma
categoria,atribua1; se não, atribuaO. Um exemploé sexo:atribua1 para
masculino,Oparafeminino(ouvice-versa).
178
,
:1
J
11.A abordagemmultivariada:
regressãomúltiplae partiçãoda variância,
A realizaçãode criançasna escolatornou-sefoco de intensaatenção
da pesquisa.. Psicólogos, sociólogos, economistase educadores estão
fazendo estudose análisestentandocompreendere prever a realização.
A realização semprefoi, naturalmente,mais ou menosestudada.Hoje,
entretanto,a abordagemé o que pode ser chamadamultivariável, ou
multivariada. "Multivariada" significa "muitas variáveis". Tornou-se de
conhecimentogeral entre os cientistascomportamentaisque quasequal-
. quer fenômeno tem muitas determinantese não apenasumaou duas.
A realização de criançasna escola é um grande exemplo. Assim, se
quisermoscompreendere poder prever a realização,devemosestudarde
alguma forma os efeitos de muitas variáveis sobre a realização. Sem
dúvida, se quisermoscompreenderqualquer fenômenocomplexo psico-
lógico, sociológico ou educacional,devemosfreqüentementeabordar o
problemade maneiramultivariada.
Uma divergênciatécnica: partição da variância
Para podermosfalar inteligentementesobre a abordagemmultiva-
riada aos fenômenose dadoscomportamentais,precisamoscompreender
uma idéia relativamentesimples mas altálnentetécnica, a partição da
variância. Se medirmosa realizaçãoverbal de criançascom algum tipo
de teste, obteremosuma nota de realização verbal para cada criança.
As notas serão diferentesumas das outras; em geral haverá diferenças
individuais consideráveis.Algumas crianças vão se sair muito bem e
vamos supor que tiveram granderealização.Outras nem tanto e vamos
acreditar que não tiveram a realização que desejaríamos.As notas
variam; em outras palavras, mostram variabilidade ou, mais tecnica-
mente,variância.
Variânciasignifica duascoisasem pesquisa;primeiro é usadacome{ r
termo geral para expressara variabilidade das característicasde indi-
víduos e objetos,para expressaras diferençasnas características.Dizem
os pesquisadores:"A variância de realizaçãonaquelaescolaé maior que
a variância de realização nesta escola". Significa que as diferenças de
179
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