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apostila recuperada psicopato

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UNIDADE I
Introdução: conceito, objeto e método da Psicopatologia
	A psicopatologia é o estudo organizado e metódico do psiquismo humano, sob a perspectiva de um transtorno mental. Psicopatologia contém a palavra grega pathos. Embora em sua origem pathos possua vários significados, dois conceitos, bastante diferentes, interessam-nos sobremaneira: o passional, a paixão a passividade; e o patológico, a doença, presente no diagnóstico médico. A fronteira que separa estas duas perspectivas é frágil e varia de acordo como as épocas e as civilizações.
Estas duas posições, aqui resumidamente apresentas, suscitam profundas e decisivas questões ético-ideológico-econômicas ligadas à noção de psicopatologia e, conseqüentemente, ao que entendemos por saúde mental e como abordar a questão. Se, para uma posição, deve-se entender o pathos para tirar proveito dele, na outra, ele deve ser destruído por tratar-se de uma doença. É nesta perspectiva que se defende que subjugado por uma paixão - o crime passional, por exemplo - a culpabilidade do sujeito fica reduzida. Já a outra posição, que vê as paixões como constitutivas do ser humano e defende a necessidade de integrá-las, sustenta que todo adulto normal deve ser responsável por suas paixões e arcar com as conseqüências de seu mau uso. 
Na contemporaneidade, a linha que separa os dois conceitos de pathos - o passional e o patológico - tem-se mostrado cada vez mais tênue. Observa-se um crescente deslocamento do domínio da ética para o da terapêutica. A partir do momento em que as raízes do comportamento do indivíduo encontram-se nas pulsões cuja origem ele ignora, a paixão passa a ser entendida como um estrangeiro-interno que, em vez de ser integrado à vida do sujeito - posição ética – é submetido a um procedimento que visa exorcizá-la - posição terapêutica. Tratar as paixões significa, neste contexto, considerá-las patológicas, isto é, não mais entendê-las como parte do indivíduo com as quais ele tem que se haver, mas, sim, como algo perturbador que foge completamente a seu controle. O radical pathos, que quase invariavelmente envia à concepção médica de doença, é a expressão mais vulgar que ele adquiriu na concepção do homem comum. É interessante observar que a definição de "alienado" segue esta mesma linha. O individuo apaixonado não é mais culpabilizado, mas tratado como doente: cada vez mais a terapêutica ocupa o lugar da ética; o desvio, o lugar do erro; e a cura, o do castigo. O que se depreende de tudo isso é que a exigência de normalidade é cada vez maior embora o delito não seja mais imputado a uma incapacidade de controlar as paixões, ao pathos/passional, mas, antes, a uma doença, ao pathos/patologia.
O aparecimento da Psicopatologia como disciplina organizada, marcando ao mesmo tempo o rompimento com a psiquiatria do séc. XVIII, se dá com a publicação da Allgemaine Psychopathologie (Psicopatologia Geral) de Karl Jaspers no início do século XX. 
Hoje, o termo "psicopatologia" encontra-se associado a um grande número de disciplinas que se interessam pelo sofrimento psíquico. Isso trouxe um problema tanto do diálogo intercientífico entre as diferentes abordagens epistemológicas de cada uma destas disciplinas, quanto da confrontação crítica dos modelos por elas utilizados, o que evidencia a irredutibilidade do fenômeno psíquico a uma única forma discursiva. A área da saúde mental, seja na clínica privada, nos hospitais ou nas instituições, é particularmente suscetível às conseqüências, por vezes catastróficas, do confronto das diferentes compreensões clínico-teóricas do pathos.
A tentativa mais conhecida para superar os impasses criados pela pluralidade de abordagens tem o seu expoente máximo no DSM-IV (Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Psiquiátrica Americana), que propõe oferecer uma definição empiro-pragmática das entidades nosográficas . Nele busca-se, acima de tudo, "o ideal de um acordo mínimo com relação à delimitação formal e operacional das categorias diagnósticas empregadas". Objetiva-se a criação de uma nomenclatura única que forneça uma linguagem comum a pesquisadores e clínicos de diferentes orientações teóricas. Esta mesma ideologia está presente no igualmente reputado CID-1O (Classificação Internacional de Doenças). 
Esta abordagem empírico-pragmática das entidades psicopatológicas reivindica elaborar, unicamente a partir da observação direta dos fenômenos em questão, um sistema de classificação independente de qualquer a priori teórico. Isso significa deixar de lado os problemas etiológicos e centrar-se na nosografia. A grande crítica que se faz a esta abordagem é o fato de não levar em conta a subjetividade tanto daquele que está sendo "classificado" quanto daquele que classifica: o olhar de quem olha não é imune à sua própria organização subjetiva.
A isso vem juntar-se o desenvolvimento das neurociências e, sobretudo, o espantoso crescimento dos psicofármacos, que reforça a idéia da origem biológica dos transtornos psíquicos. Nesta perspectiva, não é exagerado supor que, num futuro não muito distante, poder-se-á tratar um determinado transtorno psíquico sem a ajuda da psicopatologia em suas múltiplas vertentes. Ou seja, sem que seja necessário conhecer os aspectos subjetivos, os conflitos interiores e as experiências psíquicas do sujeito: bastará conhecer o uso das moléculas químicas.
É na pluralidade das psicopatologias que surge a Psicopatologia Fundamental, termo proposto em meados dos anos 80s por Pierre Fedida. A preocupação central da Psicopatologia Fundamental é de contribuir para a redefinição do campo do psicopatológico, propondo uma reflexão crítica dos modelos existentes e uma discussão dos paradigmas que afetam nossos objetos de pesquisa, nossas teorias e práticas. Isso significa que a Psicopatologia Fundamental reconhece e dialoga com as outras leituras presentes na polis psicopatológica. 
A Psicopatologia Fundamental é um projeto de natureza intercientífica onde a comparação epistemológica dos modelos teórico-clínicos e de seus funcionamentos propiciaria a ampliação do limite e da operacionalidade de cada um destes modelos e, consequentemente, uma transformação destes últimos. Tal projeto levaria à construção de um espaço teórico-clínico, com fundamentos próprios, que permitiria a coexistência, o diálogo e o intercâmbio, dos diferentes modelos conceituais - neurociências, imunologia, farmacologia, oncologia e outros tantos - que lidam com o pathos. 
Entretanto, é importante frisar que não se trata de uma interdisciplinaridade, mas, antes, de uma transdisciplinaridade, pois, campos diferentes, cada qual com métodos, procedimentos e objetivos que lhe são próprios não se comunicam facilmente.
 A transdiciplinaridade reune, em uma ampla rede de significações, os conhecimentos específicos e singulares de cada modelo em torno de uma concepção ética comum. Trata-se de resgatar o pathos, como paixão, e escutar o sujeito que traz uma voz única a respeito de seu pathos transformando aquilo que causa sofrimento em experiência, em ensinamento interno. Cria-se, então, um discurso sobre as paixões, sobre a passividade, sobre o sofrimento, enfim, sobre o sujeito trágico. Encontramos aqui a essência de "Psicopatologia": o conhecimento, a razão - o logos - a respeito do pathos, da paixão, do sofrimento. O pathos, em si, nada ensina não conduzindo senão à morte. Quando a experiência é, ao mesmo tempo, terapêutica e metapsicológica, estamos no âmbito da Psicopatologia Fundamental. 
Entretanto, é devido a esta experiência única e compartilhada, que a Psicopatologia Fundamental se distingue da Psicopatologia Geral: enquanto a última propõe um discurso classificatório sobre as doenças mentais, a primeira propõe um conhecimento do psiquismo através do pathos.
Na perspectiva da Psicopatologia Fundamental, o aparelho psíquico é um prolongamento do sistema imunológico; uma organização que se desenvolveu a fim de proteger o ser humano contra os ataques, tanto internos quanto externos, que punhamsua vida em perigo. Esta concepção está em filiação direta com as teses freudianas apresentadas em um de seus textos mais polêmicos, Neurose de transferência: uma síntese. Freud defende que a História da Humanidade - filogênese - é repetida a cada ser humano - ontogênese Com isso, Freud resgata a noção grega de pathos colocando-a como ingrediente central da essência do humano.
Freud inaugura um discurso sobre o pathos, uma psicopatologia, onde falar de normalidade, a não ser do ponto de vista estatístico, não faz mais sentido, pois um tal estado sem tensão - o nirvana - só seria alcançado com a morte do organismo. Nesta perspectiva, as neuroses passam a ser compreendidas como criações que garantiriam a sobrevivência da espécie contribuindo, ao mesmo tempo, para a construção do psiquismo humano. Isto significa que, para Freud, em Neuroses de transferência: uma síntese, as neuroses e as perversões são modos de subjetivação encontrados pelos sujeitos. Por outro lado, aquele que não alcança a subjetividade, que não responde ao pathos com a sua "psicopatologia individual", é levado ao extermínio. 
A proposta da Psicopatologia Fundamental é pensar a questão páthica como dimensão inerente do Ser. Trata-se de "criar" uma psicopatologia própria para cada sujeito, que lhe permita transformar em experiência as manifestações de seu pathos. 
Respeitar o princípio da voz única, da singularidade do pathos que constitui o sujeito que fala - proposta central da Psicopatologia Fundamental, como já foi dito - é uma outra maneira de tratar a questão da cidadania.
No entanto, falar de cidadania só faz sentido onde existe um compromisso social não apenas por parte daqueles engajados de maneira mais próxima com as Políticas de Saúde Mental, mas igualmente da sociedade como um todo. 
O respeito à singularidade tem, como contra-partida, oferecer um tratamento mais "personalizado" onde as particularidades das subjetivações ganham contornos mais nítidos. Isto implica a criação de uma estrutura elaborada pela e para a comunidade, mas, sobretudo, a viabilização de um espaço de convivência, que acolhe, cuida e possibilita a utilização de diversos recursos, não se focalizando na doença, e enfatizando um projeto de Invenção Social. 
Trabalhar nesta perspectiva é reconhecer a particularidade psíquica, assim como a genética, de cada um, e acreditar que o portador de um sofrimento psíquico possui um saber sobre o seu pathos. 
	 
UNIDADE II –
Saúde e doença, normal e anormal em Saúde Mental
         Do ponto de vista epistemológico, a dificuldade de conceituar saúde é reconhecida desde a Grécia antiga. A carência de estudos sobre o conceito de saúde propriamente definido parece indicar uma dificuldade dos paradigmas científicos dominante nos mais diversos campos científicos de abordar a saúde positivamente. Por outro lado, tal pobreza conceitual pode ter sido resultado da influência da indústria farmacêutica e de certa cultura da doença, que têm restringido o interesse e os investimentos de pesquisa a um tratamento teórico e empírico da questão da saúde como mera ausência de doença. Entretanto, a divisão do corpo humano, a tecnologização das práticas e a fragmentação do saber, com o surgimento das várias especialidades médicas, têm gerado reações contra a expropriação da saúde e, desde a década de 1970, vêm propiciando um movimento que busca ressuscitá-la como objeto científico. 
 Do ponto de vista das práticas e políticas de saúde, os sistemas de saúde do mundo ocidental, e, nele, do Brasil, têm sido questionados por sua dependência em relação a um modelo assistencial individualista, com ênfase na dimensão curativa da doença, além dos elevados custos e da baixa efetividade. Ganha força, então, a idéia de promover a saúde, e não apenas de curar a doença, emergindo daí os conceitos de vigilância da saúde, políticas públicas saudáveis e cidades saudáveis, articulados à noção de promoção da saúde pela mudança das condições de vida e de trabalho da população.
     Surgem, assim, propostas para uma nova política de saúde que estão centradas em uma formulação positiva de teoria e prática, buscando romper com concepções estabelecidas sobre o processo saúde-doença-cuidado. Com relação à noção de saúde, a pretensão tem sido de pensá-la positivamente, e não apenas como ausência de doença. Embora o conceito de promoção da saúde tenha surgido na década de 1940, com Sigerist (Mendes, 1996), ainda hoje essa perspectiva vem se sustentando, muitas vezes apenas no plano retórico e ideológico, visto que tanto as políticas e as ações quanto as pesquisas no campo da saúde têm-se pautado predominantemente pelo conceito de doença. 
1) Normalidade, rotulação e desvio no campo da sociologia 
     	A questão da normalidade tem ocupado uma posição de flagrante centralidade na sociologia, desde a sua constituição como disciplina científica. Um de seus fundadores, Émile Durkheim, afirmou que o objetivo principal de qualquer ciência da vida, seja ela individual ou social, é a definição e a explicação do estado normal, bem como a diferenciação do seu estado patológico. Posteriormente, as teorias sociológicas sobre o papel de doente e o rótulo, dominantes no campo das ciências sociais aplicadas à saúde nos anos 1950 e 1960, de certa forma buscaram realizar tal intento, ao explorar os fatores envolvidos na definição dos fenômenos normais e patológicos e suas implicações.
 	Centrada na categoria de doença, a teoria do papel de doente reafirmou a adequação do estado patológico às normas sociais. Ou seja, a enfermidade pode desviar o indivíduo do seu funcionamento biossocial normal, mas não consistiria em um desvio no sentido estrito de violação das normas da ação social. O doente teria um papel definido, que implicaria isenção das responsabilidades sociais, da impossibilidade do cuidado de si mesmo, do desejo de ficar bem e ter dever de procurar e cooperar com o tratamento médico. (Possuir uma condição enferma ou ocupar legitimamente a posição de doente não constituiria em si um comportamento desviante). Não se esperaria que as pessoas se abstivessem da condição de enferma, do mesmo modo como se esperaria que elas não cometessem um crime ou um pecado.    
 A teoria do rótulo, sistematizada nos Estados Unidos na década de 1960 (Goffman, 19), significou uma oposição à perspectiva parsoniana em dois aspectos: na consideração da enfermidade mental como desvio e na aceitação do papel de doente como iatrogênico. Segundo os teóricos do rótulo, a sociedade estabelece os meios de classificar as pessoas em categorias, de acordo com os seus atributos (Goffman, 19). Os sujeitos que apresentam atributos socialmente desejados são categorizados como normais, enquanto aqueles que possuem um ou mais atributos indesejáveis são considerados desviantes. 
    
     No que se refere à saúde mental, o psiquiatra é visto por essa teoria como o principal rotulador legitimado socialmente, embora outros profissionais possam confirmar ou até mesmo serem os únicos responsáveis pelo rótulo. O diagnóstico psiquiátrico implicaria uma poderosa operação de rotulação capaz de produzir um tipo especial de desvio secundário: a doença mental. O diagnóstico engendraria um estereótipo que orientaria a ação da sociedade no sentido de demandar dos 'desviantes' um comportamento 'louco', levando a que eles se comportem como tal. 
O desempenho ou não do papel de desviante teria como conseqüência a recompensa ou a punição. Com isso, os comportamentos se estabilizariam ao longo do tempo, e o indivíduo passaria a se comportar de um modo mais estranho e bizarro do que quando foi inicialmente rotulado. O resultado desse processo de legitimação foi denominado por Goffman (2005) de “carreira do doente mental", correspondendo a um complexo processo microssocial de reconhecimento, rotulação, estigmatização e institucionalização de sujeitos.
A polêmica em torno da questão de se a enfermidade é ou não um desvio das regras normativas parece superada, à medida querestringe a exploração e o entendimento da relação entre enfermidade e desvio. Nem toda enfermidade implica comportamentos desviantes, e vice-versa. Nesse sentido, uma enfermidade pode ou não ser considerada um desvio, a depender da natureza dos seus signos, do alcance individual e social do seu desenlace e de suas conseqüências e do sistema de valores e normas do grupo social no qual se insere o sujeito doente.
     Assim, a aceitação do papel de doente não garante a saúde ou a doença. Nesse nível individual e microssocial, uma hipótese preliminar é a de que o resultado da interação entre o desejo do doente e a ação social daqueles com os quais ele convive mais diretamente será a manutenção da saúde ou a ocorrência de doença. Tomando a questão em um plano de referência para além do nível individual, deve-se considerar o imenso e intricado complexo de fatores em jogo nesse processo, desde os processos biológicos e os fatores ecossociais de exposição até os efeitos simbólicos e práticos sobre a sociedade. 
De todo modo, tanto na teoria do papel de doente quanto na teoria da rotulação identifica-se o suposto implícito de que, de alguma maneira, todos somos doentes, e que a saúde resultaria de uma interação social com alto grau de esforço para sua manutenção da realidade. Enquanto a saúde se caracteriza pela abertura às modificações e pela instituição de novas normas de saúde, o patológico corresponde à impossibilidade de mudança e à obediência irrestrita às normas. Sendo a normatividade uma dimensão da saúde, cada indivíduo tem, para si mesmo, sua própria concepção de saúde. Se a fronteira entre saúde e doença é imprecisa para indivíduos diferentes considerados simultaneamente, ela tampouco é precisa para um único indivíduo considerado sucessivamente, pois a fronteira pode variar ao longo do tempo, e o que é normal, em uma situação, pode se tornar patológico, em outra. Além disso, a saúde implica o adoecimento e a saída do estado patológico, se a possibilidade de testar a saúde pela doença fosse eliminada, o ser humano não teria mais a segurança de ser saudável.     Tal proposição possui implicações éticas e políticas de longo alcance. A exclusão dos estados temporários de doença do conceito tradicional de saúde poderia justificar o surgimento de propostas eugenistas de criação de uma sociedade totalmente saudável e sem diferenças. 
     Essa nova concepção rompe com a visão, característica do século XIX, de saúde como adequação a uma norma, a um modelo predefinido. A saúde passa a expressar diferentes padrões e deixa de se limitar à perspectiva da adaptação. Em algumas situações, ela pode ser veiculada, justamente, pelo que foi definido convencionalmente como signo de doença. 
     Ao mesmo tempo em que se diferenciou qualitativamente saúde e doença, estabeleceu-se uma distinção original entre normalidade e saúde. A normalidade, como norma de vida, constitui uma categoria mais ampla, que engloba saúde e patologia como distintas subcategorias. Tanto saúde quanto doença situam-se no âmbito da normalidade, pois ambas implicam certa norma de vida. Nesse sentido, o patológico não é o contrário lógico do conceito de normal, mas sim o contrário vital de sadio. A saúde é uma normalidade, tanto quanto a doença. O aspecto comum a essas diferentes manifestações normais da vida é a presença de uma lógica, de uma organização própria, de uma norma.
Essas proposições nos levam a uma reformulação da prática clínica da medicina. Nessas bases, o diagnóstico e o tratamento deveriam estar calcados, sobretudo na observação do doente, e não nas modernas técnicas de exame. Eles podem até mesmo contrariar o resultado dos exames. A perspectiva do doente deve ser privilegiada, pois ela antecede o saber científico. A terapêutica deve respeitar o novo modo de vida instaurado pela doença, não agindo intempestivamente no sentido do retorno ao normal. Além do mais, a cura não implica necessariamente saúde. A cura pode estar mais próxima da doença ou da saúde se, na estabilidade que ela proporciona, encontra-se ausente ou presente uma abertura às modificações.
          Em termos práticos, será preciso promover todas 'saúdes', planejando-se políticas e concretizando programas e serviços capazes de gerar bem-estar e de evitar riscos, tanto para os indivíduos quanto para os grupos sociais, respeitadas as condições de contexto social e sanitário tanto quanto a autonomia e a capacidade de criação dos sujeitos históricos.
UNIDADE III –
Elementos de diagnóstico em psicopatologia
Desde os primórdios da psicanálise, Freud (1904/1948e) reconheceu a importância do estabelecimento de um diagnóstico provisório antes do início efetivo do tratamento. 
Pensamos que a atual desvalorização do diagnóstico da personalidade resulta de uma confusão entre os conceitos de método e técnica. 
Em resumo, se a unicidade do método for confundida com unicidade de técnica, não existirá, realmente, sentido na elaboração do psicodiagnóstico. Por outro lado, se o método psicanalítico tiver que se conformar a diferentes procedimentos técnicos e estratégias de atendimento, não poderemos abrir mão do diagnóstico. Cabe, neste momento, para dar continuidade a nosso pensamento, esclarecermos o que entendemos por psicodiagnóstico. Consiste o psicodiagnóstico na realização de discriminações que visam, primordialmente, orientar intervenções psicoterapêuticas e psicoprofiláticas. Ou seja, a nosso ver, o psicodiagnóstico só tem sentido no contexto de uma prática psicológica, pois existe um vínculo essencial entre o tipo de discriminação diagnóstica apreendida e o tipo de operação interventora que se pretenda aplicar à questão. Tanto é absurdo utilizar, na clínica psicológica, distinções que orientam outras práticas, médicas ou religiosas, como entender que outros agentes, operando a partir de diferentes perspectivas de entendimento, adotem nossas discriminações. Qualquer conclusão diagnóstica, seja psicológica, psiquiátrica ou qualquer outra, é significativa apenas no âmbito de uma certa operatividade, teoricamente orientada, postura que evita, inclusive, o uso fetichizado do diagnóstico. Sabemos que é este tipo de uso, baseado na crença a respeito da possibilidade de uma afirmação essencial sobre o ser humano, que legitima rotulações e práticas segregacionistas mais ou menos disfarçadas. Em outras palavras, considerar qualquer diagnóstico desvinculadamente das condições de sua produção resulta em duplo equívoco, ético e epistemológico, que pode gerar conseqüências humanamente lamentáveis.
De nossa parte, propomos enfaticamente a consideração do psicodiagnóstico como tentativa de apreensão de aspectos da realidade intersubjetiva a partir do reconhecimento das limitações inerentes às condições mentais humanas do pesquisador. Pensamos que esta é uma postura baseada em pretensões mais realistas, podendo resultar em maior eficácia clínica. Evidentemente, nesta concepção do psicodiagnóstico como orientação para certos tipos de intervenções, que guardam em comum o fato de sempre se realizarem em termos simbólicos, ao nível psicológico de organização do fenômeno da vida (Bleger, 1977), encontramos diferentes práticas. 
Lembramos que esta idéia é, no nosso entender, uma das mais valiosas contribuições da psicanálise, pelo fato de enfatizar a importância do ambiente, mais precisamente das experiências emocionais em tenra idade, para a formação da personalidade do ser humano. Está presente na obra de Freud (1917/1948c), em suas considerações referentes às três séries complementares, a saber, fatores hereditários e constitucionais, experiências infantis e fatores desencadeantes ou atuais, cuja interação complexa seria responsável pela etiologia das neuroses. Embora, ao desenvolver sua metapsicologia baseada na teoria pulsional, Freud trouxe uma contribuição original por maximizar o valor dos acontecimentos vitais, ou seja, nos termos de Bleger (1977), da dramática humana, para a compreensão do fenômeno psíquico.
Assim, qualquer que seja a psicopatologiaenvolvida, um atendimento psicoterápico embasado no método psicanalítico, que considere as características estruturais da personalidade do paciente, pode aliviar o sofrimento psíquico e facilitar a atualização de potencialidades. Aliás, é muitíssimo importante salientar que, no nosso entender, a estrutura de personalidade deixa de ser, no plano concreto da temporalidade de cada um, mutável, porque, em última instância, ela expressa posições libidinais e localizações tópicas do sujeito, as quais, fixadas na infância, passam a se constituir como determinações. Na prática clínica, as estruturas podem manter-se, mas seu funcionamento pode ser transformado. Por outro lado, as organizações limítrofes podem chegar a se estruturar verdadeiramente.
A psicanálise destaca-se de outros enfoques psicopatológicos na medida em que distingue o plano sintomatológico, que pertence ao registro descritivo, superficial e manifesto, do plano latente da estrutura de personalidade, que diz respeito a angústias, defesa e fantasias não diretamente acessíveis à consciência. 
Desta feita, os sintomas são considerados de modo bastante relativizado, acreditando-se que qualquer estrutura de personalidade pode apresentar qualquer tipo de sintoma, neurótico ou psicótico, em virtude de todos os seres humanos partilharem todos os tipos de situações de ansiedade, como já apontava Freud (1926/1948a). Fundamental é o contexto de personalidade no qual o sintoma tem lugar, da mesma forma que este contexto orientará primordialmente as intervenções psicoterápicas ou psicoprofiláticas a serem desenvolvidas, com vistas a permitir a cada estrutura encontrar sua melhor realização. Não se menospreza, contudo, o valor da discriminação sintomatológica psiquiátrica, a partir da qual eventuais medidas devem ser tomadas, em caráter de urgência, para a preservação da integridade e da vida. Trata-se, entretanto, de prática que, sendo desenvolvida por outro profissional, o psiquiatra clínico, não se confunde com as intervenções psicológicas propriamente ditas, a cargo do psicoterapeuta.
Psicanaliticamente falando, pensa-se que, no plano mais profundo da personalidade, cada estrutura é produto do alcance e da realização de determinadas etapas do desenvolvimento psicoemocional. Entende-se, assim, que a estrutura psicótica seja resultado do enfrentamento de frustrações bastante precoces, numa fase da vida em que não foi suficientemente alcançada e consolidada a integração da personalidade, a diferenciação eu/não-eu e estabelecidas relações objetais. 
O sintoma neurótico expressa, portanto, o conflito entre a censura psíquica e o desejo sexual inconsciente, constituindo-se como um compromisso entre ambos. A angústia de base, reverso do desejo, é, neste caso, a de castração, que, simbolicamente implicaria na perda de acesso ao prazer, temido e desejado.
Resumindo, cada uma das estruturas pode se apresentar compensada ou descompensada, enquanto as organizações, pela sua labilidade e pelo desgaste emocional que custam, nunca estão, rigorosamente falando, realmente compensadas, ainda que possam passar por períodos de sofrimento mais ou menos agudo.
O psicodiagnóstico estrutural psicanalítico vem a ser, portanto, a discriminação da estrutura/organização de base da personalidade, a partir da qual diferenciamos, em um primeiro momento, se estamos, ou não, diante de psicopatologia resultante, essencialmente, de deficiências ambientais, para, a seguir, diferenciarmos, excluída a possibilidade de estruturação neurótica, a magnitude e momento desenvolvimental de ocorrência da falha básica. Discrimina-se a estrutura/organização em pauta por meio do exame de alguns critérios metapsicológicos, a partir dos quais, segundo se supõe, esta ou aquela se configura ao longo da história e do desenvolvimento individuais. São eles: a angústia organizadora, as modalidades de relação objetal predominantes, as técnicas defensivas mais intensa e freqüentemente utilizadas e o grau do desenvolvimento egóico e pulsional. Trata-se, como é possível notar, de critérios passíveis de apreensão tão somente na relação transferencial, vale dizer, no contato intersubjetivo peculiar que o enquadre psicanalítico oferece, de modo a possibilitar produção de conhecimento sobre o analisando. Como é sabido, a compreensão e o manejo da transferência exigem certa perícia por parte do profissional, resultante tanto de sua formação teórica, como de sua experiência pessoal de análise.
Acreditamos que o campo transferencial pode se configurar em qualquer tipo de contato clínico, isto é, durante entrevistas psicoterapêuticas, psicoprofiláticas ou psicodiagnósticas, as quais podem incluir o emprego de métodos projetivos. Tais procedimentos facilitam, em apreciável medida, o trabalho psicodiagnóstico justamente quando são usados para o desvelamento da relação transferencial estabelecida, com a vantagem, não dispensável para profissionais iniciantes, de serem facilmente supervisionáveis.
UNIDADE IV
Funções psíquicas: consciência, atenção, sensopercepção tempo-espaço, memória, afetividade, vontade, pensamento, consciência do Eu e inteligência.
1. Consciência
Para designar quadros em que há um rebaixamento do nível da consciência são empregados termos tão diferentes quanto obnubilação, embotamento, entorpecimento, ofuscamento, turvação,perturbação e obtusão da consciência; embriaguez; torpor; sonolência; pré-coma; estado para-sônico, onírico e oniróide; confusão mental; onirismo; alucinose aguda; e amência. Estupor, estado crepuscular e delírio (delirium) também são usados, apesar de representarem, para a maioria dos autores, abolição da psicomotricidade, estreitamento da consciênciae uma síndrome, respectivamente. 
Vários autores empregam diversos termos para designar diferentes níveis de rebaixamento de consciência, só que o fazem de forma não-uniforme. Entre a lucidez e o coma, de um grau menor para um maior de rebaixamento, teríamos: embotamento, sonolência e sopor; sonolência, obnubilação e delirium; obnubilação, sonolência, estupor e pré-coma; embotamento (ou obnubilação simples), estado crepuscular e confusão; obnubilação e sopor; obnubilação, confusão mental e torpor; turvação e sonolência; obnubilação, sonolência e torpor; obnubilação e sonolência; ou leve, moderado, intenso e estuporoso. 
Também se encontra com freqüência nos livros de psicopatologia uma classificação qualitativa, considerando se, paralelamente ao rebaixamento da consciência, há ou não sintomas psicóticos, como delírios e alucinações. No primeiro caso, ou seja, quando ocorre sintomatologia produtiva, são utilizadas as seguintes expressões: obnubilação, obnubilação acompanhada de onirismo, obnubilação delirante, estado confusional, turvação, delírio, turvação oniróide, estado oniróide, estado onírico ou oniróide, alteração oniróide da consciência e onirismo. E no segundo caso, ausência de sintomatologia produtiva, as expressões adotadas são: entorpecimento, obnubilação simples, obnubilação, embotamento,15 torpor e confusão mental simples. Como se vê, o termo obnubilação, dependendo do autor, é usado num ou no outro sentido, podendo ser o oposto de entorpecimento ou, alternativamente, o oposto de estado confusional. 
Alguns autores falam em elevação do nível da consciência, hiperlucidez, hipervigilância, ou hiperfrenia. Trata-se de um quadro caracterizado por hipermnésia evocativa, maior alerta, aumento da intensidade das percepções, hiperatividade e exaltação do humor, que ocorre na mania, na intoxicação por estimulantes ou alucinógenos, em algumas auras epilépticas e no início da esquizofrenia. Todavia, um nível de consciência acima do normal é meramente uma possibilidade teórica, não observada empiricamente. De acordo com esse autor, se ocorre um incremento de algumas funções psíquicas, ao mesmo tempo há um claro prejuízo em outras: observa-se diminuição da capacidade de concentração, hipomnésia de fixação, incoerência, desorganização da conduta e hipopragmatismo. 
2. Atenção 
Descrevem-sedois aspectos da atenção: a tenacidade e a vigilância. A tenacidade, ou capacidade de concentração, é a capacidade de manter a atenção em um determinado objeto por certo tempo. A vigilância é a capacidade de a qualquer momento desviar a atenção de um objeto para um outro. Tenacidade e vigilância são qualidades opostas: se uma aumenta, a outra tende a diminuir de intensidade. Surge aqui, contudo, uma dificuldade, pois o termo vigilância também é utilizado com outro significado, correspondendo à definição neuropsicológica de consciência. Estar vigilante é estar desperto, lúcido, ter a consciência clara. 
O termo hiperprosexia tem sido utilizado com dois significados diferentes e oposto: para designar quadros de hipertenacidade e hipovigilância, e quadros de hipotenacidade e hipervigilância. No primeiro caso, são empregadas ainda as expressões despolarização da atenção, distração, absorção, pseudo-aprosexia e estreitamento da atenção, Já no segundo caso, em que há um excesso de mobilidade da atenção, as expressões adotadas são labilidade da atenção, instabilidade da atenção, distração e distraibilidade.
 3. Sensopercepção 
A pareidolia consiste numa imagem (fantástica e extrojetada) criada intencionalmente a partir de percepções reais, a partir de elementos sensoriais incompletos ou imprecisos. Por exemplo: ver figuras humanas, cenas, animais, objetos, etc, em nuvens, em manchas ou relevos de paredes, no fogo, na Lua, etc; ou "ouvir" sons musicais com base em ruídos monótonos. Nesses casos, o objeto real passa para um segundo plano. Apesar de a pareidolia ser incluída por diversos autores entre as formas de ilusão, diferencia-se desta, pelo fato de o indivíduo estar todo o tempo consciente da irrealidade da imagem e de sua influência sobre ela. 
Há três espécies de vivências alucinatórias: as alucinações verdadeiras, as pseudo-alucinações e as alucinoses. As pseudo-alucinações distinguem-se das alucinações verdadeiras pela ausência de corporeidade e localização no espaço subjetivo interno, o que as torna mais semelhantes às imagens representativas do que às perceptivas. Ainda de acordo com esta descrição, a crença na realidade do fenômeno é a mesma observada nas alucinações verdadeiras. Todavia, o conceito de pseudo-alucinações é controverso e, poderia haver crítica por parte do paciente. Além disso, muitos psiquiatras empregam o termo pseudo-alucinação com outros significados, como, por exemplo, referindo-se a certas experiências sensoriais em quadros dissociativos histéricos. 
Nas alucinoses, a imagem é percebida no espaço objetivo externo, mas, ao contrário das alucinações verdadeiras, é adequada e imediatamente criticada pelo indivíduo, que reconhece o fenômeno como patológico. Elas ocorrem sob lucidez de consciência, sendo também chamadas de alucinações neurológicas, já que estão relacionadas a distúrbios de origem orgânica. O mesmo termo alucinose, porém, é usado com significado bem diverso. Foi introduzido para designar delírios alucinatórios agudos e crônicos. Um exemplo desse tipo de condição é a categoria nosológica alucinose alcoólica, na qual em geral não há crítica por parte do enfermo em relação às vivências alucinatórias (auditivas), as quais constituem, portanto, alucinações verdadeiras e não alucinoses. 
4. Memória 
A fabulação (ou confabulação) foi descrita por Korsakoff, mas tal denominação foi dada por Kraepelin. Ela é observada em quadros clínicos nos quais há um importante déficit de memória, como a síndrome de Korsakoff e a demência, e consiste no preenchimento de lacunas de memória com falsas recordações, as quais são tidas pelos doentes como verdadeiras. A alucinação de memória, por sua vez, é definida como a recordação de algo que de fato não ocorreu. Trata-se de uma falsa lembrança, produzida pela imaginação do paciente. Pode ocorrer na esquizofrenia e em outros transtornos psicóticos, em virtude da atividade delirante. Já o termo paramnésia é utilizado em dois sentidos. Ele pode ter um significado mais genérico, correspondendo ao conjunto de alterações qualitativas da memória. Neste caso, a fabulação é considerada uma forma de paramnésia. Mas, para outros autores, paramnésia é sinônimo de alucinação de memória. Dependendo do autor, a fabulação e a alucinação de memória são consideradas alterações psicopatológicas distintas; a fabulação representa um subtipo de alucinação de memória; ou a alucinação de memória está incluída entre as fabulações. Por fim, Pio Abreu distingue fabulação de confabulação, no que não é seguido; e Schneider não fala em paramnésia nem em alucinação de memória, preferindo o termo pseudomnésia.
 5. Linguagem 
Na esquizofrenia e na afasia sensorial eventualmente ocorre uma completa desorganização da linguagem, cuja sintaxe se torna inteiramente incoerente. Palavras reconhecíveis, em geral articuladas corretamente, são emitidas numa ordem caótica e ilógica, podendo ainda ser misturadas com neologismos, o que torna o discurso sem qualquer sentido, ininteligível. Aqui, encontramos um bom exemplo de uma mesma anormalidade psicopatológica que recebe múltiplas denominações: jargonofasia, esquizofasia, salada de palavras, confusão de linguagem, confusão de fala e paragramatismo. Sá fala ainda em glossolalia, termo em geral empregado em uma outra situação clínica: o indivíduo parece estar falando uma outra língua; ele produz sons ininteligíveis, porém mantém os aspectos prosódicos da fala normal. 
Para-respostas são respostas totalmente disparatadas em relação às perguntas. Por exemplo: "Qual é o seu nome?" - Resposta: "Acho que vai chover". São encontradas na esquizofrenia e na demência. Em alguns livros, recebem a denominação de para-respostas fenômenos bem diferentes do que foi descrito acima. O paciente, embora compreenda perfeitamente a pergunta e conheça a resposta correta, deliberadamente dá uma resposta errada, mas que está relacionada à pergunta. Por exemplo: "Quantos patas tem um cachorro?" - Resposta: "Cinco"; ou então: "Quanto dá o resultado da multiplicação '3 x 3'?" - Resposta: "10". Essas respostas aproximadas, designação adotada por alguns, ocorrem num quadro de pseudodemência (dissociativa) conhecido como síndrome de Ganser. 
6. Pensamento 
Diversos autores incluem entre as alterações do pensamento o roubo, a imposição, a divulgação e a sonorização do pensamento. Esta última, no entanto, é em geral classificada como um distúrbio da sensopercepção, enquanto que os demais sintomas costumam ser relacionados à consciência do eu. Esses quatro fenômenos não representam por si só alteração do curso, da forma ou do conteúdo do pensamento, embora possam se acompanhar de alterações do pensamento: a presença de alterações da consciência do eu implica em atividade delirante; e o roubo do pensamento leva a uma interrupção do curso. 
As descrições de pensamento desagregado, dissociado, incoerente confuso, descarrilado e disparatado, assim como de escapamento e de afrouxamento dos enlaces associativos são, na essência, idênticas. Há uma perda do sentido lógico na associação de idéias, com a formação de associações novas, que são incompreensíveis, irracionais e extravagantes. Como conseqüência, altera-se a sintaxe do discurso, que se torna incoerente, fragmentado e, muitas vezes, ininteligívelPor costume ou tradição, observa-se que, na prática, os termos desagregado, dissociado, descarrilado e disparatado são mais usados na esquizofrenia, enquanto que incoerente e confuso são empregados mais freqüentemente nos quadros de delirium.
 A prolixidade caracteriza-se por um discurso tedioso, repleto de detalhes irrelevantes, no qual a idéia-alvo jamais é alcançada ou só o é tardiamente. Decorre de uma incapacidade de síntese, de distinguir o essencial do acessório. Alguns autores, alternativamente, utilizam o termo circunstancialidade com o mesmo significado. Outros falam em circunstancialidade e em tangencialidade, que seriam subtipos de prolixidade ou alterações do pensamento distintas desta. 
 	A idéia sobrevalorada,que pode ocorrer em pessoas normais _ convicções políticas, científicas ou religiosas, por exemplo _ e ainda em alguns transtornos mentais _ como a hipocondria _ ganha preponderância em relação às demais e orienta unilateralmente a conduta. Os demais autores, via de regra, distinguem as idéias sobrevaloradas das deliróides, inclusive Alonso Fernández que, porém, afirma que algumas idéias sobrevaloradas, aquelas em que há um grau de convicção maior, poderiam ser classificadas como idéias deliróides. 
7. Vontade 
Os termos hipobulia e abulia são amplamente utilizados nos textos de psicopatologia, com o significado de diminuição (e abolição) da energia, do sentimento de força, do vigor, da motivação, da espontaneidade, da iniciativa e da capacidade de decisão. Hipobulia e abulia são associados a vários transtornos mentais, especialmente à depressão. Contudo, o termo hiperbulia é menos freqüentemente encontrado e é definido de forma heterogênea: como aumento da "força de vontade" ou persistência, da capacidade de decisão, dos impulsos ou do sentimento de força. Se hipobulia e hiperbulia são opostos, seria esperado que esta fosse associada à síndrome maníaca, o que porém só Sá e Roxo fazem. 
8. Psicomotricidade 
Diversos autores consideram flexibilidade cerácea e catalepsia como sinônimos. Porém, para outros, há uma clara distinção: embora em ambos os fenômenos haja rigidez muscular, somente no caso da flexibilidade cerácea essa rigidez é facilmente vencida. A catalepsia representa uma estereotipia de posição, posição esta que a doente espontânea e ativamente mantém. Já na flexibilidade cerácea, o examinador coloca um segmento do corpo do paciente, - um membro, a cabeça ou o tronco - nas mais diversas posições e o paciente irá manter passivamente a postura corporal por bastante tempo, mesmo que esta seja desconfortável. O corpo do paciente é amoldável, como se fosse de cera. Em muitos livros de psicopatologia publicados em português, ao invés de cerácea _ adjetivo relativo a cera _, encontramos o termo "cérea", o qual, como nos alerta Nobre de Melo, não pertence à nossa língua. Diferentemente dos demais, Leme Lopes classifica a flexibilidade cerácea como uma forma de catalepsia 
9. Afetividade 
Vários autores restringem a definição de hipertimia a uma alegria (ou irritabilidade) patológica, como a que ocorre na síndrome maníaca, reservando para os estados depressivos o termo hipotimia. “Contudo, hipertimia e hipotimia correspondem, respectivamente, ao aumento e à diminuição da intensidade e duração dos afetos e, coerentemente com essas definições, o termo hipertimia seja o mais adequado para designar um estado de exaltação afetiva, seja para o pólo da alegria ou para o pólo da tristeza. 
10. Consciência do eu 
A consciência da existência do eu, conceito criado por Schneider, foi considerada por Jaspers como um subtipo da consciência da atividade do eu. Vários psicopatólogos falam em diminuição da consciência da existência do eu, que é relacionada à depressão e à esquizofrenia. 
O termo transitivismo, em geral é usado para designar uma alteração da consciência dos limites do eu em que o indivíduo atribui vivências que na verdade são suas - como sentimentos, pensamentos, ou alucinações - a uma outra pessoa ou a um animal. 
Como vimos,m diferentes termos são utilizados para designar um mesmo conceito. Exemplos disso foram: jargonofasia, esquizofasia, salada de palavras, etc.; prolixidade e circunstancialidade; transitivismo e projeção. Ocorre o mesmo em relação aos estados de rebaixamento da consciência, aos distúrbios qualitativos da atenção e aos distúrbios formais do pensamento em que há perda do nexo lógico entre as idéias. Os distúrbios qualitativos da atenção são aqueles em que a tenacidade e a vigilância se alteram em sentidos opostos. Um dos termos empregados para caracterizar a situação de hipervigilância com hipotenacidade é "distraibilidade", palavra esta que não existe na língua portuguesa. Quando aos estados de diminuição do nível da consciência são classificados em função da presença ou não de sintomas psicóticos, também não há uma uniformidade terminológica. No entanto, parece ser útil uma classificação dos quadros de delirium com base em sua expressão fenomenológica, pois se acredita que haja algum tipo de relação entre esta e a sua etiopatogenia. 
Por outro lado, também acontece de um mesmo termo ou expressão psicopatológica ser usado com significados diferentes, como são os casos de obnubilação, vigilância, hiperprosexia, distração, pseudo-alucinação, alucinose, paramnésia, para-resposta, idéia deliróide, hipertimia e transitivismo. O termo hiperprosexia poderia ser excluído do vocabulário psicopatológico, não só em função de sua ambigüidade, mas também porque ele só seria adequado para designar estados em que houvesse um aumento global da atenção, o que não é possível na prática, pois tenacidade e vigilância (mobilidade da atenção) nunca se encontram simultaneamente exacerbadas. 
Faltam universalidade e uniformidade a alguns dos mais importantes conceitos e termos da psicopatologia descritiva. Comparando-se importantes textos, observa-se que: um mesmo termo é utilizado com diferentes sentidos pelos diversos autores; determinados conceitos são considerados por alguns autores, mas ignorados por outros; e um mesmo conceito é designado por termos diferentes. Essa falta de consenso, que afeta alguns dos principais tópicos em psicopatologia, irá inevitavelmente se refletir em qualquer discussão de um caso clínico, prejudicando qualquer argumentação, pela ausência de uma linguagem comum. Torna-se assim imperativo um estudo aprofundado das obras dos mais importantes autores em psicopatologia para que, a partir da observação do que há em comum entre elas e de suas divergências, possa ser produzida uma síntese e uma revisão crítica dos principais conceitos e se alcance uma maior uniformização da terminologia
Unidade V –
Principais transtornos em Psicopatologia – etiologia, diagnóstico e tratamento
Os distúrbios da saúde mental (psiquiátricos) envolvem as alterações do pensamento (raciocínio), das emoções e do comportamento. Esses distúrbios são causados por interações complexas entre influências físicas, psicológicas, sociais, culturais e hereditárias. 
Na medicina, a classificação das doenças muda constantemente, à medida que o conhecimento avança. De modo similar, na psiquiatria, o conhecimento da função cerebral e como ela é influenciada pelo ambiente e por outros fatores vem se tornando cada vez mais sofisticado. Apesar dos avanços, o conhecimento dos intricados mecanismos envolvidos no funcionamento cerebral encontra-se ainda no início. Entretanto, como muitas pesquisas demonstraram que as doenças mentais podem ser diferenciadas entre si com um alto grau de confiabilidade, vêm sendo estabelecidos protocolos de diagnósticos cada vez mais refinados. Em 1952, a American Psychiatric Association publicou pela primeira vez o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-I). A edição mais recente – o DSM-IV – foi publicada em 1994. 
Foram realizados avanços nos métodos diagnósticos e, atualmente, existem diversas técnicas recentes de diagnóstico por imagem do cérebro, como a tomografia computadorizada (TC), a ressonância magnética (RM) e a tomografia por emissão de pósitrons (TEP), um tipo de escaneamento que mede o fluxo sangüíneo em áreas específicas do cérebro. Essas técnicas de diagnóstico por imagem vêm sendo utilizadas no mapeamento de estrutura e funções do cérebro em indivíduos com comportamento normal e anormal, provendo aos cientistas uma maior compreensão de como o cérebro funciona em indivíduos com e sem doença mental. As pesquisas que conseguiram diferenciar um distúrbio psiquiátrico de outro levaram a uma maior precisão diagnóstica. 
A maioria dos métodos de tratamento psiquiátrico pode ser categorizada como somáticos ou psicoterapêuticos. Os tratamentos somáticos incluem as terapias medicamentosas e eletroconvulsivantes.Os tratamentos psicoterapêuticos incluem a psicoterapia (individual, em grupo ou familiar), as técnicas de terapia comportamental (como os métodos de relaxamento e a hipnose) e a hipnoterapia. Muitos distúrbios psiquiátricos dependem de uma combinação de terapia medicamentosa e psicoterapia. De fato, muitos estudos sugerem que, para os principais distúrbios psiquiátricos, uma abordagem terapêutica que inclua tanto medicamentos quanto a psicoterapia é mais eficaz que qualquer um desses métodos terapêuticos utilizado isoladamente. 
1)Tratamento Medicamentoso 
Durante os últimos quarenta anos, foram desenvolvidos vários medicamentos psiquiátricos de eficácia comprovada e amplamente utilizados pelos psiquiatras e outros médicos. Freqüentemente, esses medicamentos são categorizados de acordo com o distúrbio para o qual foram prescritos inicialmente. Por exemplo, os antidepressivos (p.ex., imipramina, fluoxetina e bupropiona) são utilizados no tratamento da depressão, enquanto que os antipsicóticos (p.ex., clorpromazina, aloperidol e tiotixeno) são úteis no tratamento de distúrbios psicóticos como a esquizofrenia. Novos medicamentos antipsicóticos (p.ex., clozapina e risperidona), são úteis para alguns pacientes que não respondem a outros medicamentos antipsicóticos. Por sua vez, os medicamentos contra a ansiedade (ansiolíticos), como o clonazepam e o diazepam, são os indicados no tratamento dos distúrbios da ansiedade (p.ex., síndrome do pânico e fobias). Os estabilizadores do humor (p.ex., lítio e carbamazepina) vêm sendo utilizados com algum êxito em pacientes com doença maníaco-depressiva. 
2)Terapia Eletroconvulsivante 
Na terapia eletroconvulsivante, eletrodos são fixados à cabeça do paciente e é realizada uma série de descargas elétricas no cérebro visando induzir convulsões. Já foi claramente demonstrado que esse procedimento é o mais eficaz para a depressão grave. Ao contrário do que é propagada pelos meios de comunicação, a terapia eletroconvulsivante é segura e raramente causa qualquer complicação grave. O uso moderno de anestésicos e miorrelaxantes (relaxantes musculares) reduziram enormemente qualquer tipo de risco para o paciente. 
3)Psicoterapia 
Nos últimos anos, têm sido obtidos avanços significativos no campo da psicoterapia. A psicoterapia é o tratamento que o terapeuta aplica ao paciente através de técnicas psicológicas, fazendo uso sistemático da relação terapeuta-paciente. Os psiquiatras não são os únicos profissionais da saúde mental especializados na prática da psicoterapia. Também estão incluídos os psicólogos clínicos, os assistentes sociais, os enfermeiros, alguns conselheiros religiosos e muitos profissionais paramédicos. No entanto, os psiquiatras são os únicos profissionais da saúde mental que podem prescrever medicamentos. Embora a psicoterapia individual seja praticada de muitas formas diferentes, quase todos os profissionais da saúde mental estão filiados a uma das quatro escolas de psicoterapia: a dinâmica, a cognitiva-comportamental, a interpessoal ou a comportamental. A psicoterapia dinâmica deriva da psicanálise e a sua base é ajudar o paciente a compreender as estruturas e padrões inconscientes que podem estar criando sintomas e dificuldades de relacionamento. A escola cognitiva-comportamental centraliza-se principalmente nas distorções do pensamento do paciente. A terapia interpessoal enfoca como uma perda ou uma alteração em uma relação afeta o paciente. A terapia comportamental visa ajudar os pacientes a modificarem as maneiras condicionadas de reagir a eventos que ocorrem ao seu redor. Na prática, muitos psicoterapeutas combinam técnicas, de acordo com as necessidades do paciente. A psicoterapia é adequada em uma grande variedade de condições. Mesmo os indivíduos que não apresentam qualquer distúrbio psiquiátrico podem considerar que a psicoterapia lhes é útil para enfrentar problemas como, por exemplo, dificuldades no trabalho, perda de um ente querido ou uma doença crônica na família. A psicoterapia de grupo e a terapia familiar também são amplamente utilizadas.
4) Hipnose e Hipnoterapia 
A hipnose e hipnoterapia vêm sendo cada vez mais utilizadas no tratamento da dor e de distúrbios físicos que possuem um componente psicológico. Essas técnicas podem promover o relaxamento e, conseqüentemente, reduzem a ansiedade e a tensão. Por exemplo, a hipnose e a hipnoterapia podem ajudar os indivíduos com câncer que, além da dor, apresentam ansiedade ou depressão.
 
PRINCIPAIS TRANSTORNOS
1) Depressão
O termo Depressão pode significar um sintoma que faz parte de inúmeros distúrbios emocionais sem ser exclusivo de nenhum deles, pode significar uma síndrome traduzida por muitos e variáveis sintomas somáticos ou ainda, pode significar uma doença, caracterizada por marcantes alterações afetivas. 
A sintomatologia depressiva é muito variada e muito diferente entre as diferentes pessoas. Para entendermos melhor essa diversidade de sintomas depressivos, vamos considerar que, entre as pessoas, a Depressão seria como uma bebedeira geral, onde cada pessoa alcoolizada ficasse de um jeito; uns alegres, outros tristes, irritados, engraçados, dorminhocos, libertinos... 
A psicopatologia recomenda como válida a existência de três sintomas depressivos básicos, os quais darão origem a variadíssimas manifestações desta alteração afetiva. Essa tríade sintomática da Depressão seria:
1 - Sofrimento Moral
2 - Inibição Global 
3 - Estreitamento Vivencial.
2)Depressão com Ansiedade 
Alguns deprimidos podem apresentar sintomas somáticos (físicos), juntamente ou ao invés dos sintomas emocionais de tristeza, angústia, medo, etc. Esses sintomas físicos podem ser, por exemplo, dores vagas e imprecisas, tonturas, cólicas, falta de ar, e outras queixas de caracterização clínica complicada. Outras pessoas podem manifestar sua Depressão com irritabilidade aumentada, como por exemplo, crises de raiva, explosividade, sentimentos exagerados de frustração, tendência para responder a eventos com ataques de ira ou culpando os outros.
Na Depressão também é muito freqüente certo prejuízo na capacidade de pensar, de se concentrar ou de tomar decisões. Os depressivos podem se queixar de enfraquecimento da memória ou mostrar-se facilmente distraídos. A produtividade ocupacional costuma estar também prejudicada, notadamente nas profissões intelectualmente exigentes. Em crianças deprimidas pode haver uma queda abrupta no rendimento escolar, como resultado da dificuldade de concentração.
Freqüentemente existem pensamentos sobre a morte nos quadros depressivos. Trata-se, não apenas da ideação suicida típica, mas, sobretudo, da preferência em estar morto a viver "desse jeito". Nos idosos as dificuldades de memória podem ser a queixas principal e ser confundido com os sinais iniciais de demência.
Atualmente tem-se enfatizado muito a teoria unitária, pela qual a Ansiedade e a Depressão seriam duas modalidades sintomáticas da mesma afecção. As atuais escalas internacionais de Hamilton para avaliação de Depressão e de Ansiedade, não separaram nitidamente os dois tipos de manifestações. Outras escalas anteriores também mostravam a mesma falta de clareza para diferenciação entre esses dois quadros emocionais. 
A tendência unitária Ansiedade-Depressão se reforça ainda na eficácia do tratamento com antidepressivos, tanto para quadros ansiosos, como é o caso do Pânico, da Fobia Social, do Transtorno Obsessivo-compulsivo e mesmo da Ansiedade Generalizada, quanto para os casos de Depressão, com ou sem componente ansioso importante.
O número de autores que não acreditam na Ansiedade e Depressão como sendo a mesma coisa, aos quais nos juntamos, é maioria expressiva, entretanto, quase todos reconhecem existir alguma coisa em comum nesses dois fenômenos.
Acreditamos, pois, na necessidade imperiosa de um antecedente afetivo e de caráter depressivo para que a ansiedade se manifeste patologicamente. O mesmo requisito afetivo não se necessita para a ansiedade normale fisiológica. Talvez seja por isso que os quadros ansiosos respondem tão bem à terapêutica antidepressiva.
Saber com certeza se a Ansiedade pode ser uma das causas de Depressão ou se, ao contrário, pode surgir como conseqüência desta ou, ainda, se uma nova entidade clínica independente se constitui quando ambos os fenômenos coexistem num mesmo paciente tem sido uma questão aberta às pesquisas e reflexões.
O estado de Hipotimia ou Depressão se caracteriza, essencialmente por uma tristeza profunda, normalmente imotivada, que se acompanha de lentidão e inibição de todos os processos psíquicos. Em suas formas leves a Depressão se revela por um sentimento de mal-estar, de abatimento, de tristeza, de inutilidade e de incapacidade para realizar qualquer atividade.
Os pacientes hipotímicos estão dominados por um profundo sentimento de tristeza imotivada. No doente deprimido, as percepções são acompanhadas de uma tonalidade afetiva desagradável: tudo Ihe parece negro. Os doentes perdem completamente o interesse pela vida. Nada lhes interessa do presente nem do futuro e, do passado, são rememorados apenas os acontecimentos desagradáveis. As percepções são lentas, monótonas, descoloridas. Ao paciente parece que os alimentos perderam o sabor habitual. Nos estados depressivos, as ilusões são mais freqüentes do que as alucinações.
As idéias deliróides nos pacientes hipotímicos são comuns, expressando geralmente idéias de culpa, de indignidade, ruína, pecado e de auto-acusação. O pensamento é lento e o próprio ato de pensar é acompanhado de um sentimento desagradável. O conteúdo do pensamento exprime motivações dolorosas. O paciente é incapaz de livrar-se de suas idéias tristes pela simples ação de sua vontade ou dos "pensamentos positivos", como se diz.
O quadro clínico do estado afetivo depressivo é caracterizado pela inibição geral da pessoa, pela baixa performance global refletida pela lentidão e pobreza dos movimentos, pela mímica apagada, pela linguagem lenta, monótona e pelas dificuldades pragmáticas.
Nas Distimias, nas Reações Agudas ao Estresse e nas neuroses de modo geral, a Depressão costuma ser mais reativa, isto é, mais psicogênica (mais anímica que vital), originando-se de situações psicologicamente compreensíveis e de experiências desagradáveis. A anormalidade do sentimento depressivo nesses quadros psicogênicos está na intensidade e na duração desse afeto em comparação às pessoas normais e não em sua qualidade, como acontece nos Transtornos Afetivos Bipolares.
3) Estresse 
Há autores que definem a era moderna como a Idade da Ansiedade, associando a este acontecimento psíquico a agitada dinâmica existencial da modernidade; sociedade industrial, competitividade, consumismo desenfreado e assim por diante. 
Nas últimas décadas, a expressiva mudança em todos os níveis da sociedade passou a exigir do ser humano uma grande capacidade de adaptação física, mental e social. Muitas vezes, a grande exigência imposta às pessoas pelas mudanças da vida moderna e, conseqüentemente, a necessidade imperiosa de ajustar-se à tais mudanças, acabaram por expor as pessoas à uma freqüente situação de conflito, ansiedade, angústia e desestabilização emocional. 
O endocrinologista canadense Hans Selye (1907-1982) foi o primeiro a pesquisar seriamente o estresse na década de 1930. Ele observou que organismos diferentes apresentam um mesmo padrão de resposta fisiológica para estímulos sensoriais ou psicológicos. E isso teria efeitos nocivos em quase todos os órgãos, tecidos ou processos metabólicos. fungos, etc. 
O estresse patológico surge como uma conseqüência direta dos persistentes esforços adaptativos da pessoa à sua situação existencial. 
Seria impossível e, ao mesmo tempo, extremamente indesejável eliminar completamente todos os tipos de Estresses. Fisiologicamente, a ausência total de Estresse equivale à morte. O que devemos tentar fazer é reduzir, nas pessoas, os efeitos danosos do Estresse que sociedade proporciona e sensibilizá-las para os meios capazes ajudar a administrar melhor os estressores do cotidiano.
Procurando significados para a palavra Estresse (stress, em inglês), vamos entender que estar estressado significa "estar sob pressão" ou "estar sob a ação de estímulo persistente". Mas essa reação do organismo aos agentes estressores tem um propósito evolutivo. É uma resposta que a natureza dotou os animais superiores ao perigo. A função de toda essa revolução orgânica é preparar o organismo para a ação, para adaptação imediata à situação causadora do Estresse para, em essência, favorecer a sobrevivência. Portanto, o Estresse não implica, obrigatoriamente, numa alteração patológica e doentia. 
Longe de considerarmos o Estresse uma armadilha da natureza, esse conjunto de alterações fisiológicas tem como principal objetivo adaptar o indivíduo à situação proporcionada pelo estímulo estressor. O estado de Estresse está, então, intimamente relacionado com a capacidade de adaptação do indivíduo à circunstância atual. Ele contribui para a sobrevivência das espécies, incluindo a nossa. 
 O Estresse envolve o organismo como um todo e, assim como o aumento de adrenalina e cortisona possam ser considerados componentes endócrinos do Estresse, a ansiedade seria, igualmente, um dos componentes psíquicos.
A própria classificação internacional das doenças (CID.10), agrupa num mesmo capítulo as Reações Agudas ao Estresse Grave e os Transtornos do Ajustamento (adaptação), sugerindo assim que uma pode levar ao outro.
Nossos conturbados tempos modernos não têm sido favoráveis ao equilíbrio e ao desenvolvimento pleno e sadio do corpo humano, apesar de todo o progresso da medicina, das conquistas científicas, técnicas e sociais que sempre têm objetivado isso. Hábitos alimentares inadequados, a poluição do ar e da água, a agressão sonora e visual do ambiente, a insegurança social e no trabalho, a violência urbana, as crises econômicas e muitas outras fontes de estresse importantes acabam esgotando a capacidade adaptativa da pessoa.
Assim sendo, a maioria dos autores acredita que parte expressiva das razões para o estresse é determinada pelo modo como nossa sociedade está organizada, pela industrialização, pelo consumo e pela concorrência, especifica os tipos de relações que serão mantidas e as exigências que deverão ser cumpridas, gerando condições mais ou menos estressantes de trabalho, das estruturas familiar e social.
Assim, o ser humano moderno, ao se confrontar com estímulos estressores do cotidiano, do trabalho, da vida social e pelas ruas é impedido de manifestar reações de agressão ou de medo sincero, sendo obrigado a apresentar um comportamento emocional ou motor politicamente correto, porém, incongruente com sua real situação neuroendócrina. Se a situação estressante persiste indefinidamente pode sair muito caro, organicamente, o custo de desempanhar um papel social incompatível com a natureza biológica do estresse. Haverá um elevado desgaste do organismo, predispondo certas doenças psicossomáticas.
Entre os estressores de peso social temos o fracasso, a carga, a manutenção, momnotonia e a satisfação com o trabalho, a pressão para corrida contra o tempo, as ameaças sociais e financeiras, indução do medo através da violência urbana, as situações involuntárias de competição, os trabalhos em condições de perigo, a submissão involuntária aos tabus, a contestação e contrariedade com certos valores, a contrariedade ou privação de vida social e submissão contrariada às normas. 
Nossa capacidade de perceber o mundo individualmente proporciona uma representação pessoal da realidade. Essa percepção pessoal da realidade, diferente em cada um de nós, é chamada de procepção da realidade. O principal conhecimento que devemos ter disso é que a realidade será sempre representada intimamente e de acordo com os filtros afetivos de cada um. 
De qualquer forma é fundamental ter em mente que a força dos estressores depende mais da sensibilidade do sujeito do que do valordo objeto, ou seja, depende de como e com que peso a pessoa valoriza o evento (interno ou externo), mais do que o evento em si. Há pessoas que vivenciam as mesmas experiências que outros e regem diferentemente, experimentando estresse de grau variado ou, às vezes, nem se estressando. 
A percepção pessoal da realidade engloba toda a realidade ou toda nossa maneira de ver e sentir o mundo e só essa realidade (única para nós) nos interessa. Nossa percepção pessoal da realidade engloba não apenas a concepção que temos das coisas que estão fora da gente, como os fatos, eventos, objetos, pessoas, etc., mas também os conceitos que cultivamos dentro da gente, nossas escalas de valores, nossos conflitos e complexos. Dentro de todo esse material interno ou intra-psíquico inclui-se, também, a imagem que nós temos de nós mesmos, ou seja, inclui nossa auto-estima.
Nossa auto-estima, por exemplo, poderá ser representada mais negativamente ou mais positivamente, de acordo com a tonalidade afetiva de cada um. Algumas pessoas se vêem ótimos, outras se vêem péssimos. Assim sendo, a idéia que temos de nós mesmos pode, por si só, ser um estímulo agressivo e causador de ansiedade, caso seja uma idéia de nós seja uma idéia ruim e que nos perturba constantemente.
A Afetividade é, pois, quem dá valor e Representa nossa realidade. Essa Afetividade também é capaz de Representar um ambiente cheio de gente como se fosse ameaçador, estressante. A Afetividade valoriza tudo em nossa vida, tudo aquilo que está fora de nós, como os fatos e acontecimentos, bem como aquilo que está dentro de nós (causas subjetivas), como nossos medos, nossos conflitos, nossos anseios, etc. A Afetividade valoriza também os fatos e acontecimentos de nosso passado e nossas perspectivas futuras.
4) Síndrome do Pânico
O Distúrbio do Pânico habitualmente se inicia depois dos 20 anos, é igualmente prevalente entre homens e mulheres, portanto, em sua maioria, as pessoas que tem o Pânico são jovens ou adultos jovens na faixa etária dos 20 aos 40 anos e se encontram na plenitude da vida profissional. Normalmente são pessoas extremamente produtivas, costumam assumir grandes responsabilidades e afazeres, são perfeccionistas, muito exigentes consigo mesmas e não costumam aceitar bem os erros ou imprevistos. 
Os portadores de Pânico costumam ter tendência à preocupação excessiva com problemas do cotidiano, têm um bom nível de criatividade, excessiva necessidades de estar no controle da situação, têm expectativas altas, pensamentos rígidos, são competentes e confiáveis. Freqüentemente esses pacientes têm tendência a subestimar suas necessidades físicas.
Psicologicamente eles costumam reprimir alguns ou todos os sentimentos negativos, sendo os mais comuns o orgulho, a irritação e, principalmente, seus conflitos íntimos.Essa maneira da pessoa ser acaba por predispor a situação de stress acentuado e isso pode levar ao aumento intenso da atividade de determinadas regiões do cérebro, desencadeando assim um desequilíbrio bioquímico e conseqüentemente o aparecimento do Pânico.
Depois das primeiras crises de Pânico, durante muito tempo os pacientes se recusam aceitar tratar-se de um transtorno psicoemocional. Normalmente costumam ser pessoas que não se vêem sensíveis aos problemas da emoção, julgam-se perfeitamente controladas, dizem que já passaram por momentos de vida mais difíceis sem que nada lhes acontecesse, enfim, são pessoas que até então subestimavam aqueles que sofriam problemas psíquicos.
Psicologicamente constata-se, na expressiva maioria dos pacientes portadores de Pânico, a existência de conflitos intra-psíquicos. Algumas vezes nem mesmo os pacientes têm a nítida noção de estarem vivenciando tais conflitos, os quais atuam, nestes casos, mais à nível inconsciente. Porque, afinal, as emoções neste determinado paciente desencadearam a Síndrome do Pânico e não a Depressão franca e típica?
Como vimos diante de um mesmo agente agressor nem todos foram sensibilizados e, dos que foram sensíveis, tivemos três tipos de reação diferente. Emocionalmente algo semelhante pode acontecer. Diante da tensão, do stress, da angústia, dos conflitos, ou da ansiedade exagerada às pessoas podem reagir diferentemente; algumas necessitam de muito mais estímulos para reagirem que outras, das que reagem cada qual reagirá à sua maneira. Algumas com Depressão Típica, outras com Fobias, Pânico, Obsessão-Compulsão, Ansiedade Generalizada, etc.
Apesar dessas características, depois do primeiro episódio de Pânico, normalmente de gravidade suficiente para atendimento em Pronto-Socorro, essas pessoas tornam-se mais amedrontadas, tensas e inseguras. Considerar que o extremo mal estar pelo qual passaram tenha tido origem puramente emocional é a última coisa que acreditam.
Os ataques de pânico são recorrentes (voltam) e caracterizam essencialmente este distúrbio. Essas crises se manifestam por ansiedade aguda e intensa, extremo desconforto, sintomas vegetativos (veja a lista) associados e medo de algo ruim acontecer de repente, como por exemplo da morte iminente, de passar mal, desmaiar, perder o controle, etc. As crises de ansiedade no Pânico duram minutos e costumam ser inesperadas, ou seja, não seguem situações especiais, podendo surpreender o paciente em ocasiões variadas. Não obstante, existem alguns pacientes que desenvolvem o episódio de pânico diante de determinadas situações pré-conhecidas, como por exemplo, dirigindo automóveis, diante de grande multidão, dentro de bancos, etc. Neste caso dizemos que o Distúrbio do Pânico é acompanhado de Agorafobia. 
Uma vez que os Ataques de Pânico ocorrem em diversos quadros de Ansiedade, o texto e o conjunto de critérios para um Ataque de Pânico são oferecidos separadamente nesta seção.
A característica essencial de um Ataque de Pânico é um período distinto de intenso medo ou desconforto acompanhado por pelo menos 4 de 13 sintomas físicos citados abaixo. O ataque tem um início súbito e aumenta rapidamente, atingindo um pico em geral em 10 minutos acompanhado por um sentimento de perigo ou catástrofe iminente e um anseio por escapar. 
A falta de ar é um sintoma comum nos Ataques de Pânico. O rubor facial é comum em Ataques de Pânico ligados a situações relacionadas à ansiedade social e de desempenho. A ansiedade característica de um Ataque de Pânico pode ser diferenciada da ansiedade generalizada por sua natureza intermitente (em crises) enquanto na ansiedade generalizada a ansiedade não é em crises mas continuada e a gravidade geralmente é maior nas crises de pânico que na ansiedade generalizada.
Por ser o Pânico considerado também como um estado de Ansiedade Paroxística Episódica, encontra-se classificado na CID-10 dentro dos Transtornos de Ansiedade (F41.0). 
O DSM-IV enfatiza e a CID-10 cita que, muito freqüentemente, um Distúrbio Depressivo coexiste com o Transtorno do Pânico. Nós, particularmente, achamos que a Síndrome do Pânico é, literalmente, uma forma atípica de doença depressiva. O sentimento de pânico é, em essência, uma grave sensação de insegurança e temor. De qualquer forma a mobilidade social 
Qual seria a causa do grande aumento do número de casos? Possivelmente deve-se ao aumento da ansiedade patológica na vida moderna. A cronificação dessa ansiedade patológica irá desencadear estados de stress continuado. Tanto eventos desagradáveis, profissionais ou extra-profissionais, quanto eventos agradáveis, também em ambos os campos, podem se constituir em agentes estressores: morte de ente querido, nascimento de filho, despedida ou promoção no emprego, casamento ou separação, todos são potencialmente estressores.
Sabemos hoje que a síndrome do Pânico está biologicamente associada a uma disfunção dos neurotransmissores a qual criaria um fator agravante na sensação de medo. De acordo com uma das teorias, o sistema de alerta normal do organismo - um conjunto de mecanismos físicos e mentais que permite que uma pessoa reaja à alguma ameaça - é desencadeado desnecessariamente na crise dePânico, sem que haja um perigo iminente a desencadeá-lo de fato, como naturalmente se espera da fisiologia normal do ser humano.
Constata-se também que o Pânico ocorre com maior freqüência em algumas famílias, significando haver uma participação importante de fatores hereditários na determinação de quem está sujeito ao distúrbio. Apesar dessa concordância, muitas pessoas desenvolvem este distúrbio sem nenhum antecedente familiar.
Vale ressaltar ainda que alguns medicamentos como anfetaminas (usados em dietas de emagrecimento) ou drogas (cocaína, maconha, crack, ecstasy, etc.), podem aumentar a atividade e o medo promovendo alterações químicas que podem levar ao Pânico.
5) Transtornos Fóbicos-Ansiosos - Agorabia e Fobia Social
Trata-se de um grupo de transtornos no qual uma ansiedade é desencadeada exclusiva ou essencialmente por situações nitidamente determinadas que não apresentem atualmente nenhum perigo real. Estas situações são, por esse motivo, evitadas ou suportadas com temor. As preocupações do sujeito podem estar centradas sobre sintomas individuais tais como palpitações ou uma impressão de desmaio, e freqüentemente se associam com medo de morrer, perda do autocontrole ou de ficar louco. 
A simples evocação de uma situação fóbica desencadeia em geral ansiedade antecipatória. A ansiedade fóbica freqüentemente se associa a uma depressão. Para determinar se convém fazer dois diagnósticos (ansiedade fóbica e episódio depressivo) ou um só (ansiedade fóbica ou episódio depressivo), reciso levar em conta a ordem de ocorrência dos transtornos e as medidas terapêuticas que são consideradas no momento do exame. 
A característica essencial da Agorafobia é uma Ansiedade que aparece quando a pessoa se encontra em locais ou situações das quais sair dali (escapar) poderia ser difícil ou embaraçoso ou, na maioria das vezes, em situações nas quais um auxílio imediato pode ser difícil, caso a pessoa venha a passar mal. A Ansiedade agorafóbica pode ser, inclusive, antecipatória, ou seja, aparecer diante da simples possibilidade de ter que participar de determinadas situações. Essa Ansiedade antecipatória pode levar ao afastamento (fuga) dessas situações, presumivelmente causadoras de Ansiedade. 
As FOBIAS SOCIAIS estão centradas em torno de um medo de expor-se a outras pessoas e tem, como conseqüência, o afastamento e evitamento sociais. Podem ser específicas às situações de comer ou falar em público mas podem ser mais difusas, envolvendo quase todas as circunstâncias sociais fora do ambiente familiar. Neste caso, entre as situações fóbicas que invariavelmente resultam na evitação do objeto, atividade ou situação socialmente temida, destaca-se o medo de humilhação e embaraço em lugares públicos, o medo de comer em público, falar em público, urinar em banheiro público e, muito freqüentemente, de assinar cheques à vista de pessoas estranhas.
A exposição à situação social ou de desempenho provoca, quase que invariavelmente, uma resposta imediata de ansiedade, a qual pode assumir a forma de um Ataque de Pânico ligado à situação ou predisposto pela situação.
O prejuízo na atividade social de pessoas portadoras da Fobia Social pode chegar ao extremo do isolamento. Nas situações sociais ou de desempenho temidas, os indivíduos com Fobia Social experimentam preocupações acerca de embaraço e temem que outros os considerem ansiosos, débeis, "malucos" ou estúpidos. O medo de falar em público pode ser em virtude da preocupação de que os outros percebam o tremor em suas mãos ou voz. Podem ainda experimentar extrema ansiedade ao conversar com outras pessoas pelo medo não saberem se expressar. Os sintomas de ansiedade que surgem nessas situações costumam ser palpitações, tremores, sudorese, desconforto gastrintestinal, diarréia, tensão muscular, rubor facial, etc.
Apesar de ser um transtorno comum, os pacientes são muito relutantes em buscar tratamento especializado, o que acaba acontecendo muito tardiamente porque a maioria não acredita que possa haver cura. Assim sendo, mesmo a Fobia Social tendo forte impacto pessoal e severo prejuízo sócio-ocupacional, apenas de 4% a 5% dos pacientes procura o auxílio profissional especializado precocemente. Isto se deve, provavelmente, à falta de conhecimento sobre esse transtorno por parte dos pacientes, e mesmo por parte dos profissionais de saúde. Um certo nível de desconforto frente a certas situações sociais pode ser interpretado como normal pelo paciente, ou banalizado pelos familiares e amigos, existindo ainda certo estigma social pela procura de um psiquiatra para tratamento.
Os sintomas físicos, também chamados de sintomas autossômicos (do sistema nervoso autônomo), podem incluir taquicardia, tremores, perda de fôlego, sudorese e dores abdominais. Os sintomas cognitivos dizem respeito a pensamentos de desadaptação e crenças inadequadas sobre situações sociais. Os sintomas comportamentais incluem uma sensação de congelamento e "paralisia", na qual o paciente não consegue reagir, e evitação fóbica da situação ou objeto da fobia.
A causa da Fobia Social parece ser devida à combinação de alterações genéticas e ambientais, portanto, a etiologia parece ter padrão genético-familiar associado a um papel familiar como modelo de resposta às situações sociais (a angústia social dos pais pode ser aprendida e exacerbada pelos filhos, tomando-se patológica). O ambiente influencia na medida em que os pacientes parecem copiar os modelos de medos de seus pais ou familiares mais próximos de modo exacerbado. Existe um risco familiar aumentado de 16% para esse transtorno. Em termos neurobiológicos, parece haver uma disfunção do sistema dopaminérgico estriatal, com redução dos níveis desse neurotransmissor e do sistema serotoninérgico, com supersensibilidade do receptor pós-sináptico.
Muitas pessoas utilizam o álcool para relaxar em ocasiões sociais, entretanto, para os pacientes com Fobia Social, a ansiedade associada com situações sociais freqüentemente resultam em dependência ao álcool. Esses pacientes utilizam o álcool para auxiliar em situações sociais que os deixam temerosos, e muitos o usam deliberadamente para aliviar os sintomas da ansiedade antecipatória.
De todos os Transtornos de Ansiedade, as fobias (simples, social ou agorafobia ) são as que mais freqüentemente se associam ao alcoolismo, ao contrário do Transtorno de Ansiedade Generalizada, que tende a ser posterior à ocorrência do abuso de álcool. O Transtorno de Pânico e o Obsessivo-Compulsivo têm uma temporalidade variável em relação ao alcoolismo. Vários estudos encontraram taxas de cerca de 80% a 85% de ocorrência de Fobia Social prévia ao alcoolismo.
Em crianças a Fobia Social pode se apresentar sob a forma de crises de choro, ataques de raiva, imobilidade, comportamento aderente ou permanência junto à mãe ou a uma pessoa.
6) Transtorno Obsessivo-Compulsivo - TOC
As características essenciais do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) são obsessões ou compulsões recorrentes e suficientemente graves para consumirem tempo ou causar sofrimento acentuado à pessoa.  Leigamente diz-se que a pessoa tem várias "manias" e que é esquisito ou estranho mas, normalmente, o portador de TOC sabe que suas "manias", obsessões ou compulsões são excessivas ou irracionais. 
Obsessões são pensamentos ou idéias (p.ex. dúvidas), impulsos, imagens, cenas, que invadem a consciência de forma repetitiva, persistente e estereotipada seguidos ou não de rituais destinados a neutralizá-los. São experimentados como intrusivos inapropriados ou estranhos pelo paciente em algum momento, ao longo do transtorno, causando ansiedade ou desconforto acentuado. A pessoa tenta resistir a eles, ignorá-los ou suprimi-los com ações ou com outros pensamentos, reconhecendo-os, no entanto, como produtos de sua mente e não como originados de fora. Não são simplesmente medos exagerados relacionados com problemas reais. 
Compulsões são comportamentos repetitivos (p.ex.lavar as mãos, fazer verificações), ou atos mentais (rezar,

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