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FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS/IBMEC Curso de Direito “EMISSÃO DE DEBÊNTURES POR SOCIEDADES LIMITADAS”. IISSIISS CCRROOCCEE DDAA SSIILLVVAA FFEERRRREEIIRRAA ORIENTADOR: VERÔNICA LAGASSI Rio de Janeiro 2017.1 “EMISSÃO DE DEBÊNTURES POR SOCIEDADES LIMITADAS” ISIS CROCE DA SILVA FERREIRA Trabalho de Conclusão de Curso de Direito, apresentada como pré- requisito à obtenção do título de Bacharel em Direito da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas/Ibmec RJ. Área de Concentração: Direito Societário Professor Orientador: Dra. Verônica Lagassi Rio de Janeiro 2017.1 FOLHA DE APROVAÇÃO “EMISSÃO DE DEBÊNTURES POR SOCIEDADES LIMITADAS” ISIS CROCE DA SILVA FERREIRA Trabalho de Conclusão de Curso de Direito, apresentada como pré- requisito à obtenção do título de Bacharel em Direito da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas/Ibmec RJ. Banca Examinadora: _____________________________________________________ Professora DSc. Verônica Lagassi Orientador _____________________________________________________ Professora DSc. Carla Izolda Costa Fiuza Marshal Examinador _____________________________________________________ Professora MSc. Caroline da Rosa Pinheiro Examinador AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à Deus, pela minha vida. Agradeço também à minha família por todo o suporte ao longo da minha vida acadêmica, e por nunca ter deixado de acreditar no meu potencial Agradeço também aos meus professores que contribuíram para minha formação, por todo o ensinamento e dedicação, e em especial à minha professora orientadora Dra. Verônica Lagassi, por toda a atenção e carinho na confecção deste trabalho de conclusão de curso. Epígrafe "Seja quem você for. Seja qualquer posição que você tenha na vida, no nível altíssimo ou mais baixo, social. Tenha sempre como meta muita força, muita determinação e sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá, de alguma maneira você chega lá" - Ayrton Senna, RESUMO O trabalho tem como objetivo principal discutir sobre a viabilidade de se permitir que as sociedades limitadas, sejam capazes de emitir debêntures, ao longo da análise, os principais pontos levantados são a perda da natureza jurídica da sociedade limitada, os altos juros cobrados pelas instituições financeiras, e as debêntures não conversíveis em ações se apresentando como uma solução para as sociedades limitadas financiarem seus empreendimentos sem se tornarem reféns das instituições financeiras. Palavras Chave: sociedades limitadas, valores mobiliários, debêntures. ABSTRACT The main objective of the final paper is to discuss the feasibility of allowing limited companies to be able to issue debentures. The principal points raised are the loss of the legal nature of the limited company, the high interest rates charged by the institutions And non-convertible debentures are presented as a solution for limited companies to finance their ventures without becoming hostages of financial institutions. Key Words: Limited Companies, Securities, debentures. LISTA DE FIGURAS Figura 1- Quadro comparativo de constituições de Empresas no Rio de Janeiro - Ano base: 2016 ...... 28 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................. 12 CAPITULO 1 - DEBÊNTURES .................................................................... 15 1.1 CONCEITO .......................................................................................... 16 1.2 PROCESSO DE EMISSÃO ................................................................. 18 1.3 CLASSIFICAÇAO DAS DEBÊNTURES ........................................... 21 1.3.1 Quanto a Garantia ............................................................................... 21 1.3.2 Quanto ao Tipo ................................................................................... 22 1.3.3 Quanto a Forma .................................................................................. 23 1.4 DIREITO DE RESGATE .................................................................... 23 CAPÍTULO 2 – SOCIEDADES LIMITADAS ............................................. 25 2.1 CONCEITO DE SOCIEDADES ......................................................... 25 2.2 SOCEIDADES LIMITADAS NO BRASIL ........................................ 26 2.3 CARACTERÍSTICAS ......................................................................... 28 2.4 CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE LIMITADA ............................ 33 CAPÍTULO 3 – SOCIEDADES LIMITADAS: PODEM OU NÃO EMITIR DEBÊTURES? ................................................................................ 36 3.1 CONSTITUIÇÃO DE SOCIEDADE ANÔNIMA.............................. 36 3.2 VIABILIDADE DA EMISSÃO DE DEBENTURES POR SOCIEDADES LIMITADAS ........................................................................ 44 3.3 PROJETO DE LEI Nº 6322 DE 2013 .................................................. 48 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 53 12 INTRODUÇÃO Debêntures são definidas como uma espécie de valor mobiliário, nos termos do art. 2º, da Lei nº 6.385, de 1976, conforme será tratado mais detalhadamente adiante. São utilizadas principalmente para capitar recursos no mercado de capitais diretamente com investidores, e por esse motivo se apresentam como uma forma alternativa aos empréstimos fornecidos por instituições financeiras. Atualmente, a Lei nº 6.404, de 1976 (Lei das S.A.) restringe a emissão de tais valores mobiliários às sociedades por ações quando diz, no art. 52, que as debêntures poderão ser emitidas pelas companhias, ocorre que a Lei nº 6.385, de 1976, que é o diploma regulador dos valores mobiliários, em seu artigo 8º, direciona à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a competência para tutelar sobre a emissão de valores mobiliários. Diante de tal permissão, a CVM editou a Instrução Normativa nº 476, que tem como objetivo a regulamentação de emissão de valores mobiliários distribuídos com esforço restrito. De modo que a referida Instrução Normativa, não faz qualquer restrição quanto ao tipo societário que pode emitir debêntures, deixando a entender que como não está expressamente proibido, é permitido, pelo princípio da legalidade. Frente ao impasse instaurado e a discussão acerca do assunto, e visando solucionar a questão, no sentido de permitir a emissão de debêntures pelas sociedades limitadas, foi elaborado o Projeto de Lei nº 6.322, de 2013, que em caso de aprovação irá acrescentar um parágrafo único ao artigo 52 da Lei nº 6.404/76, cuja redação irá permitir que as sociedades limitadas façam uso, assim como as sociedadesanônimas, da emissão de debêntures, para captação de recursos. Diante de tais divergências, existem questionamentos a serem feitos acerca do assunto, é viável que as sociedades limitadas gozem do direito 13 de emitir debêntures? Porque não optar por constituir uma sociedade anônima de capital fechado? E por fim, as sociedades limitadas perderiam sua natureza contratual, caso fosse liberado que estas emitissem debêntures? Tais questionamentos serão tratados no decorrer a construção do raciocínio em torno do tema. Desse modo, o objeto do presente trabalho é, discutir a legalidade e viabilidade da emissão de debêntures por sociedades limitadas. Visando dessa forma, otimizar o processo de capitação de recursos em tais sociedades, apresentando para isso a emissão de debêntures como alternativa aos empréstimos junto as instituições financeiras. O tema abordado é de extrema relevância, visto que, atualmente no Brasil, o maior número de sociedades constituídas está sob o regime das Sociedades Limitadas, e consequentemente, uma alteração como essa na legislação seria um marco na história do direito societário brasileiro, cumpre esclarecer também que partes relevantes dessas sociedades brasileiras tem recursos e estrutura suficiente para proceder com a emissão de debêntures. Portanto, limitar tal operação a sociedades anônimas, seria privar a maior parte das empresas brasileiras de usufruir da liberdade de optar pelo melhor meio de captar recursos para atender seus interesses. O trabalho será estruturado em três capítulos principais, que serão subdivididos por subitens a fim de organizar melhor a exposição dos temas a serem tratados, para a construção do raciocínio. De forma que no primeiro capítulo será direcionado a explicar o conceito, as espécies e meios de emissão das debêntures, consecutivamente o segundo capítulo tratará de todos os temas relacionados a sociedade limitada e seu processo de constituição e por fim no terceiro capítulo será destinado a discorrer acerca do projeto de lei, bem como sobre a viabilidade da emissão das debêntures pelas sociedades limitadas. 14 O método de pesquisa a ser utilizado será explicativo, uma vez que a intensão principal do trabalho é apresentar os fundamentos dos institutos envolvidos no tema, de modo a aprofundar o conhecimento e esclarecer as questões abordadas com base no entendimento doutrinário através de uma seleção bibliográfica com autores considerados referências no âmbito do direito societário. 15 CAPITULO 1 – DEBÊNTURES Antes de ingressar com o conceito de debênture, é de suma importância conceituar e caracterizar valores mobiliários, uma vez que, debêntures uma das espécies de valor mobiliário existente atualmente. Atualmente, não existe um conceito pré-estabelecido para definir o que são valores mobiliários visto que a lei nº 6.385/76, que trata de sua regulamentação não estipulou um conceito, se limitando a listar as suas espécies existentes no art. 2º1. No entanto, pode-se entender como sendo valores mobiliários, títulos emitidos tanto por empresas privadas ou por entidades públicas, que são comercializados no mercado de capitais. Tais documentos normalmente representam um crédito que o investidor adquirente do título possui contra a companhia emissora. São Valores Mobiliários, quando ofertados publicamente, quaisquer títulos os contratos de investimentos coletivo que gerem direito de participação, de parceria ou remuneração, inclusive resultante da prestação de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do 1 Art. 2º São valores mobiliários sujeitos ao regime desta Lei: I - as ações, debêntures e bônus de subscrição; II - os cupons, direitos, recibos de subscrição e certificados de desdobramento relativos aos valores mobiliários referidos no inciso II; III - os certificados de depósito de valores mobiliários; IV - as cédulas de debêntures; V - as cotas de fundos de investimento em valores mobiliários ou de clubes de investimento em quaisquer ativos; VI - as notas comerciais; VII - os contratos futuros, de opções e outros derivativos, cujos ativos subjacentes sejam valores mobiliários; VIII - outros contratos derivativos, independentemente dos ativos subjacentes; e IX - quando ofertados publicamente, quaisquer outros títulos ou contratos de investimento coletivo, que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração, inclusive resultante de prestação de serviços, cujos rendimentos do esforço do empreendedor ou de terceiros. 16 empreendedor ou de terceiros. 2 Esse crédito na maioria das vezes pode ser devolvido através de rendimentos mensais ou no seu valor integral com correção monetária, conforme acordado no momento da emissão, ou podem também representar um direito de participação da sociedade, como no caso das Ações. No caso das debêntures, os valores mobiliários vão funcionar como uma espécie de empréstimo, onde a companhia realizará a emissão dos títulos com as condições de pagamento e juros adequados às suas necessidades, pré-estabelecidas na escritura de emissão. Percebe-se no trecho abaixo retirado do livro Mercado de Capitais Regime Jurídico, de Nelson Eizerik: Normalmente, a debenture atribui uma remuneração que consiste no pagamento de correção monetária e determinada taxa de juros, prevista na escritura de emissão. É possível, ainda, a emissão de debêntures com direito de participação nos lucros da companhia emissora. 3 De modo que as Debêntures em particular, ao mesmo tempo que são por definição do texto legislativo, um valor mobiliário, funcionam muito bem como um contrato de empréstimo entre investidores e sociedade. 1.1 CONCEITO Debêntures nada mais são do que valores mobiliários de acordo com art. 2º, I da lei 6.385/764, que possuem como principal objetivo a captação de recursos para as companhias emissoras. Ou seja, eles funcionam como 2 CVM, O Mercado de valores mobiliários brasileiro – 3º edição, Rio de Janeiro: 2014, il 3 EIZERICK, Nelson, Mercado de Capitais e Regime Jurídico. 3º Edição. São Paulo: Renovar , 2013 4 Art. 2º São valores mobiliários sujeitos ao regime desta Lei: I - as ações, debêntures e bônus de subscrição; (...) 4 17 uma forma de empréstimo. Diante disso, as Debêntures são consideradas por grande parte da doutrina como contratos de mútuo, pois possuem essa característica de empréstimo. Nelson Eizerik define Debêntures, como “valores mobiliários que conferem aos seus titulares um direito de crédito contra a companhia emissora, nas condições estabelecidas na escritura de emissão e no certificado, se houver. ”5 José Edwaldo Tavares Borba, entende debêntures como: As debêntures, estas sim, são títulos de dívida, e atuam, em princípio, como frações representativas de um empréstimo tomado ao público. São, por conseguinte, alternativas à contratação de um empréstimo bancário. Sendo, ordinariamente, um título de longo prazo, presta-se a debênture a atender às necessidades de investimento da sociedade mediante a captação da poupança privada. 6 O que ocorre, é que no cotidiano de uma sociedade, a necessidade de se gerar novos recursos é frequente. Essa necessidade se dá por diversos motivos, como por exemplo: a necessidade de investir em novos equipamentos com o objetivo de aprimorar um processo produtivo, ou até mesmo quitar eventuais dívidas adquiridas no passado. Dessa forma, éinteressante para a sociedade que, no momento da captação de tais recursos estas gozem de um prazo longo para devolução dos investimentos injetados na Companhia. É nesse cenário que as debêntures se encaixam perfeitamente, pois se tratam de um título de crédito no qual o credor injeta recursos financeiros na Companhia a longo prazo, que podem ser devolvidos com juros, ou até mesmo convertidos em ações da Companhia. Para José Edwaldo Tavares Borba, as debêntures têm papel fundamental no desenvolvimento 5 EIZERICK, Nelson, Mercado de Capitais e Regime Jurídico. 3º Edição. São Paulo: Renovar , 2013 6 BORBA, José Edwaldo Tavares, Das Debêntures, Rio de Janeiro: Renovar, 2005 18 econômico da sociedade, pois se molda às necessidades da Companhia. O mercado de Capitais representa, em todo mundo a mais eficiente fonte de recursos para a implantação de desenvolvimento dos projetos empresarias. Nesse mercado poderá a sociedade, através da colocação de seus papeis, obter os recursos que necessita. Dentre esses papeis, os mais importantes são a ação e a debênture. 7 Tal empréstimo é feito através de um contrato de mútuo, pactuado entre a Companhia emissora e o investidor, denominado Escritura de Emissão. Este contrato confere ao investidor o direito do crédito contra a companhia emissora, tais como fora acordado na escritura de emissão. Diante de tais fatos, as debêntures se tornaram atualmente a forma de capitação de recursos mais utilizada pelas companhias. Fato que se justifica por apresentarem um modelo de investimento maleável e livre de tantas burocracias. E, além disso, por terem o perfil de investimento a longo prazo, viabilizam aos Investidores e Companhias emissoras escolherem, o modelo de negócio que melhor se adeque ao seu cenário financeiro. (...) é uma forma de a Companhia contrair um empréstimo junto ao público, quando necessita de recursos e não deseja recorrer às instituições financeiras, nem a aumentar o seu capital social, com a consequente emissão de novas ações.8 Conforme exposto no trecho acima, Nelson Eizrick, compartilha do entendimento de que as debêntures são uma alternativa muito atraente aos empréstimos feitos junto às instituições financeiras. 1.2 PROCESSO DE EMISSÃO Via de regra, a decisão de emissão das Debêntures ocorre por competência da Assembleia Geral de Acionistas através da deliberação dos 7 BORBA, José Edwaldo Tavares, Das Debêntures, Rio de Janeiro:Renovar, 2005 8 EIZERICK, Nelson, Mercado de Capitais e Regime Jurídico. 3º Edição. São Paulo: Renovar, 2013 19 acionistas. É nesse momento que se estipulam as condições e critérios que serão adotados na emissão. Excepcionalmente, nas companhias de capital aberto, desde que haja previsão no Estatuto Social da Companhia emissora, o Conselho de Administradores também poderá deliberar sobre a emissão de debêntures, inclusive sobre a emissão das Debêntures conversíveis em ações, desde que tal deliberação respeite o limite estipulado no Estatuto. A emissão das debêntures pode acontecer de duas maneiras: emissão pública e emissão privada. A emissão pública é feita por companhias de capital aberto e que possuam registro na CVM – Comissão de Valores Mobiliários, que fica responsável por aprovar tal emissão, de modo que torna a emissão mais segura e atraente aos investidores. Além de se exigir a figura do agente fiduciário, que tem o papel de representar os debenturistas, e só pode ser realizada através do sistema de distribuição do mercado financeiro, sendo para isso, intermediadas por instituição financeira. Portanto existem requisitos a serem cumpridos para se fazer uma emissão pública, que são: efetuar o registro da emissão junto a CVM e ter a presença de um Agente Fiduciário, que deve estar nomeado na escritura de emissão. Vale ressaltar, que o Registro na CVM é importante, pois além de trazer todas as informações essenciais das Debêntures a serem emitidas como, por exemplo, classe, garantias, valores, e etc., traz também informações de registro da sociedade. O que facilita ao investidor no momento de escolher o investimento mais adequado à sua necessidade de empreendimento. Além de servir de respaldo por atestar a veracidade da operação, tal como preconizamos acima. Ainda sobre a emissão pública das Debêntures, outra figura muito importante e que merece destaque, por incrementar ainda mais a segurança da emissão pública, é a do Agente Fiduciário. Este que encontra regulação no art. 66 da lei nº 6.404/76, tem como responsabilidade cuidar dos interesses e dos 20 direitos dos investidores junto a companhia emissora. Como exemplo de suas atribuições, o agente fiduciário deve: notificar aos investidores sobre inadimplemento, elaborar de relatórios, realizar reuniões anuais a fim de informar sobre os acontecimentos relevantes na companhia. Podem exercer a função de Agente Fiduciário, qualquer pessoa que cumpra os requisitos para assumir cargo de administração de companhia ou instituições financeiras aprovadas pelo Banco Central e que tenham como objeto a administração de bens de terceiros, nos termos do art. 66, §1º, da lei nº 6.404/769. Já emissão privada de Debêntures é, na sua maioria, feita por Companhias de capital fechado, no entanto as Companhias de capital aberto também são permitidas a realizar tal operação. A realização da emissão por via privada não está subordinada à aprovação da CVM, mantendo-se apenas o dever de informar sobre a realização emissão privada de Debêntures pelas companhias emissoras. Ocorre que por não estar vinculada a aprovação da CVM, tal operação não transmite a mesma credibilidade de modo que, a emissão privada, normalmente é realizada para um grupo pequeno de investidores pré-determinados. 9 Art. 66. O agente fiduciário será nomeado e deverá aceitar a função na escritura de emissão das debêntures. § 1º Somente podem ser nomeados agentes fiduciários as pessoas naturais que satisfaçam aos requisitos para o exercício de cargo em órgão de administração da companhia e as instituições financeiras que, especialmente autorizadas pelo Banco Central do Brasil, tenham por objeto a administração ou a custódia de bens de terceiros. § 2º A Comissão de Valores Mobiliários poderá estabelecer que nas emissões de debêntures negociadas no mercado o agente fiduciário, ou um dos agentes fiduciários, seja instituição financeira. § 3º Não pode ser agente fiduciário: a) pessoa que já exerça a função em outra emissão da mesma companhia; b) pessoa que já exerça a função em outra emissão da mesma companhia, a menos que autorizado, nos termos das normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários; (Redação dada pela Medida Provisória nº 517, d 2010) c) pessoa que já exerça a função em outra emissão da mesma companhia, a menos que autorizado, nos termos das normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários; (Redação dada pela Lei nº 12.431, de 2011). d) instituição financeira coligada à companhia emissora ou à entidade que subscreva a emissão para distribuí-la no mercado, e qualquer sociedade por elas controlada; e) credor, por qualquer título, da sociedade emissora, ou sociedade por ele controlada; f) instituição financeira cujos administradores tenham interesse na companhia emissora; g) pessoa que, de qualquer outro modo, se coloque em situação de conflito de interesses pelo exercício da função. § 4º O agente fiduciário que, por circunstâncias posteriores à emissão, ficar impedido de continuar a exercer a função deverá comunicar imediatamenteo fato aos debenturistas e pedir sua substituição.9 21 Nos casos de emissão privada, a figura do agente fiduciário só será exigida quando for constituído, um fundo amortizador, e este deve possuir previsão na Escritura de Emissão. Cumpre informar que a responsabilidade de gestão de tal fundo ficará a cargo da Companhia emissora e que a função de agente fiduciário terá sua remuneração ajustada em comum acordo com a companhia que está emitindo as Debêntures. 1.3 CLASSIFICAÇÃO DAS DEBÊNTURES Atualmente, existe no mercado uma vasta quantidade de formas de se emitir debêntures. O que facilita na hora da Companhia proceder com a emissão das Debêntures, pois tem muitas opções e pode realizar a operação que mais se adequa a sua atual situação econômica e suas necessidades. Sendo assim, as Debêntures podem ser classificadas quanto as garantias que podem oferecer, quanto ao tipo que podem ser emitidas e quanto a forma de emissão. 1.3.1 QUANTO A GARANTIA As debêntures podem ser emitidas com ou sem garantias. Quando emitidas com garantia podem ser: • Com Garantia Real: quando existe a previsão na Escritura de Emissão algum bem ou direito dados em garantia pelo valor recebido na aquisição da Debênture. • Com Garantia Flutuante: essa espécie de garantia, assegura aos debenturistas o direito de preferência na ordem de pagamento sobre os credores quirografários da companhia emissora em caso de falência da mesma. 22 Há ainda, a possibilidade de as debêntures serem emitidas sem garantia. Ou seja, quando as Debêntures não possuem privilégios e nem preferência na ordem de pagamento, em caso de falência da companhia. Elas podem ser: • Quirografárias: quando se igualam na preferência na ordem de pagamento aos credores quirografários da companhia emissora; • Subordinadas: quando se subordinam aos credores e debenturistas quirografários da companhia. Desta forma, quando se tem Debêntures Subordinadas estas são as penúltimas na ordem de pagamento, a receberem a restituição do valor investido, tendo a preferência somente sobre os acionistas da Companhia emissora. 1.3.2 QUANTO AO TIPO As Debêntures também podem ser de dois tipos: conversíveis em ações, previstas no art. 57, da lei 6.404/76 10ou simples. São chamadas de simples, as debêntures que não podem ser conversíveis em ações. Na Escritura de Emissão das Debêntures conversíveis em ações 10 Art. 57. A debênture poderá ser conversível em ações nas condições constantes da escritura de emissão, que especificará: I - as bases da conversão, seja em número de ações em que poderá ser convertida cada debênture, seja como relação entre o valor nominal da debênture e o preço de emissão das ações; II - a espécie e a classe das ações em que poderá ser convertida; III - o prazo ou época para o exercício do direito à conversão; IV - as demais condições a que a conversão acaso fique sujeita. § 1º Os acionistas terão direito de preferência para subscrever a emissão de debêntures com cláusula de conversibilidade em ações, observado o disposto nos artigos 171 e 172. § 2º Enquanto puder ser exercido o direito à conversão, dependerá de prévia aprovação dos debenturistas, em assembléia especial, ou de seu agente fiduciário, a alteração do estatuto para: a) mudar o objeto da companhia; b) criar ações preferenciais ou modificar as vantagens das existentes, em prejuízo das ações em que são conversíveis as debêntures. 23 deve conter uma cláusula permitindo que sejam convertidas. A conversão pode se dar por tempo determinado ou a qualquer tempo, conforme estipulado na cláusula de conversibilidade. 1.3.3 QUANTO A FORMA As debêntures podem classificar-se ainda como Nominativas ou Escriturais. As nominativas possuem um certificado cujo nome do titular vem escrito expressamente. Em casos de transferência de Debêntures nominativas, é necessário haver um registro em livro de registro que deve ficar arquivado na sede da Companhia emissora, e deve também haver a emissão de um novo certificado, contendo o nome do novo titular. As escriturais, embora também nominativas, pois ficam depositadas em contas de depósito em instituições financeiras, não possuem certificados. As instituições financeiras cujas debêntures se encontrem depositadas devem ser designadas pela Companhia emissora. 1.4 DIREITO DE RESGATE Como já mencionado anteriormente, as debêntures nada mais são do que um mecanismo que viabiliza a captação de recursos para companhias, diretamente com o investidor, sem que esta se veja obrigada a recorrer a instituições financeiras. E, portanto, além de ser classificada como um valor mobiliário também é vista como uma forma de empréstimo. As condições pré-estabelecidas na escritura de emissão podem ser modificadas, desde que haja previsão e que os debenturistas concordem com tais repactuações. Diante disso, os investidores recebem remunerações, pelos valores investidos, que podem ser em forma de juros (fixos ou variáveis, conforme estabelecido na escritura de emissão), participação de lucros e ainda 24 pagamento de prêmios. O valor total acrescido de juros e correção monetária da quantia investida, deverá ser devolvido integralmente aos investidores que tiverem adquirido as debêntures, conforme constar determinado na Escritura de emissão. É importante mencionar ainda, acerca da existência da chamada Debênture perpétua. É chamada assim, pois não possui uma data de vencimento pré-fixada na escritura de emissão, e com isso ela se dá por tempo indeterminado, e o titular da debênture fica recebendo somente os juros remuneratórios. 25 CAPITULO 2 – SOCIEDADES LIMITADAS 2.1. CONCEITO DE SOCIEDADES As sociedades são a reunião de duas ou mais pessoas com o propósito de investir e explorar uma determinada atividade econômica, nos termos do art. 981, do Código Civil Brasileiro11. Sérgio Campinho12 define sociedades como sendo: “uma entidade dotada de personalidade jurídica, com patrimônio próprio, atividade negocial e fim lucrativo. ” Já Fábio Ulhoa entende que sociedades são: A realização de investimentos comuns para a exploração de atividade econômica pode revestir várias formas jurídicas, entre as quais a “sociedade empresária”.13 As sociedades são dotadas personalidade jurídica e, portanto, são as exploradoras da atividade econômica, com isso, é importante ressaltar que as sociedades que são as empresárias e não os sócios que a compõe. Em decorrência da personalidade e para viabilizar o desenvolvimento da atividade econômica, estas possuem capacidade jurídica para realização de negócio jurídico, bem como agir em nome próprio. José Edwaldo Tavares Borba, explica: O conceito de pessoa jurídica foi construído à imagem e semelhança do conceito de pessoa física. Ambas são sujeitos de direito e obrigações, atuando na ordem jurídica. Os sócios, ao constituir a 11 Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados. 12 CAMPINHO, Sérgio, O Direito de empresa à luz do Código Civil – 12º edição – Rio de Janeiro: Renovar, 2011 13 COELHO, Fábio Ulhoa, Curso de Direito Comercial, Volume 2: O Direito da Empresa, 17º Edição , São Paulo: Ed. Saraiva, 2013 26 sociedade, transferem-lhe bens quepassam a compor o seu patrimônio. (...) Com o exercício de sua atividade, a sociedade realizará negócios nos quais auferirá lucros ou sofrerá prejuízos, com a consequente ampliação ou redução do próprio patrimônio. Esse patrimônio não se confunde com o dos sócios.14 Atualmente, no ordenamento jurídico brasileiro, existem 5 modalidades de sociedade: nome coletivo, comandita simples, comandita por ações, sociedade anônima e sociedade limitada (simples ou empresária), porém não se prolongando, o presente trabalho se limitará a esmiuçar os aspectos jurídicos e características das sociedades limitada e anônima. 2.2 SOCIEDADES LIMITADAS NO BRASIL Entende-se por sociedades limitadas, as sociedades formadas por duas ou mais pessoas, com responsabilidade limitada ao valor investido e convertido em quotas no momento de sua constituição. O art. 1052 e seguintes, no Capítulo IV, do Código Civil Brasileiro, traz as regras que regerão a Sociedade Limitada e nas suas omissões usa-se a lei 6404/76 (lei das S.A.). A sociedade limitada terá o seu capital social dividido por quotas, que poderão ter ou não valores iguais, e serão distribuídas aos sócios na proporção do valor acordado para compor o capital social, sendo vedado ao sócio pagar sua participação na sociedade com a prestação de serviço, conforme estabelecido no art. 1.055, do Código Civil de 200215: A sua constituição se dá, como já falado anteriormente, por dois ou mais sócios, que devem estar em pleno gozo de sua capacidade civil, 14 BORBA, José Edwaldo Tavares, Direito societário – 13º Edição, rev. e atual – Rio de Janeiro: Renovar, 2012. 15 Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio. § 1º Pela exata estimação de bens conferidos ao capital social respondem solidariamente todos os sócios, até o prazo de cinco anos da data do registro da sociedade. § 2º É vedada contribuição que consista em prestação de serviços 27 através do contrato social, que pode ser público ou privado, onde serão determinadas as condições gerais da sociedade. As sociedades limitadas podem ser de natureza simples ou empresária, de acordo com a atividade a ser explorada. Quando a atividade é de cunho meramente mercantil, ou seja, não requer conhecimento intelectual, como exemplo, uma sociedade que explora a fabricação de lentes para óculos, será empresária, já quando a atividade a ser explorada é uma atividade que envolve conhecimentos técnicos e intelectuais, como um consultório médico ou uma empresa que presta serviço de consultoria em arquitetura, está será uma sociedade simples. Porém essa terminologia, não é unânime na doutrina, Fabio Ulhôa, por exemplo, usa a terminologia sociedade de pessoas / empresárias para se referir a natureza, conforme trecho extraído abaixo: ...São, geralmente, sociedades de pequeno ou médio porte, cujo sucesso depende, basicamente, da competência empresarial e do caráter do empreendedor. A pessoa do sócio é importante para o bom desenvolvimento dos negócios sociais, e não apenas o aporte de recursos materiais que ele realiza. E, há, de outro lado, sociedades empresárias para as quais os atributos dos seus membros são irrelevantes. Qualquer um, desde que se comprometa a investir determinado dinheiro na empresa, serve para sócio. Por evidente, essa marca se encontra, com maior facilidade, nos empreendimentos de maior vulto e complexidade. As sociedades em que os atributos dos sócios interferem na realização do objeto social são chamadas de pessoas; aquelas em que tais atributos não interferem são as de capital.16 Atualmente, o presente modelo societário é o mais explorado entre os empreendedores no Brasil, tendo em vista que sua constituição é menos burocrática e requer um baixo investimento, quando comparado às Sociedades Anônimas, mantendo no entanto responsabilidade limitada ao valor das quotas, o que torna as sociedades limitadas atraentes para pequenos e médios empreendedores, que são a grande maioria no cenário atual. 16 COELHO, Fábio Ulhoa, Curso de Direito Comercial, Volume 2: O Direito da Empresa, 17º Edição, São Paulo: Ed. Saraiva, 2013 28 ...Deriva por certo, do contexto em que ela surgiu, como um novo tipo de sociedade, isto é, o da busca de uma alternativa para a exploração de atividades econômicas, em parceria, que pudesse assegurar a limitação da responsabilidade característica da sociedade anônima, mas sem as formalidades próprias desta. 17 Figura 1 - Quadro comparativo de constituições de Empresas no Rio de Janeiro - Ano base: 2016 O quadro acima apresenta um gráfico de constituição de empresas referente ao ano de 2016, nele é visível que o número de sociedade limitadas constituídas supera os demais tipos societários. 2.3 CARACTERÍSTICAS A principal característica da sociedade limitada é o fato de se tratar de uma sociedade contratual, ou seja, para a sua constituição é necessário a confecção de um instrumento contratual denominado contrato 17 COELHO, Fábio Ulhoa, Curso de Direito Comercial, Volume 2: O Direito da Empresa, 17º Edição, São Paulo: Ed. Saraiva, 2013 29 social. Sobre a necessidade de se haver um contrato social para a existência da sociedade, Frederico Simionato, escreve (...) O matiz contratual das sociedades é notório. Por conseguinte, sua natureza jurídica é contratual, verdadeiro contrato, só que plurilateral. Não é um ato complexo, institucional ou de fundação. O instrumento jurídico que faz nascer a sociedade é sempre um contrato, um estatuto, que disciplina as infinitas relações jurídicas entre os sócios e eles mesmos; entre os sócios e a sociedade; entre a sociedade e terceiros. O contrato de sociedade tem finalidade comum, que decorre da manifestação de vontade, majoritária e unânime. Após o seu surgimento, a sociedade entra na categoria das entidades jurídicas, que produzem infinitos efeitos, sejam obrigacionais, econômicas, etc.18 No contrato social, deve estar contido: a denominação da sociedade, o valor do capital social, e as condições de integralização das quotas subscritas ao mesmo, objeto social lícito, os administradores eleitos, que podem ser os próprios sócios ou terceiros eleitos pelos mesmos, conforme regra do art. 997 do Código Civil19. É importante dizer que no contrato social 18 SIMIONATO, Frederico Augusto Monte – Tratado de Direito Societário, Vol. I – Rio de Janeiro: Forense, 2009. 19 Art. 57. A debênture poderá ser conversível em ações nas condições constantes da escritura de emissão, que especificará: I - as bases da conversão, seja em número de ações em que poderá ser convertida cada debênture, seja como relação entre o valor nominal da debênture e o preço de emissão das ações; II - a espécie e a classe das ações em que poderá ser convertida; III - o prazo ou época para o exercício do direito à conversão; IV - as demais condições a que a conversão acaso fique sujeita. § 1º Os acionistas terão direito de preferência para subscrever a emissão de debêntures com cláusula de conversibilidade em ações, observado o disposto nos artigos 171 e 172. § 2º Enquanto puder ser exercido o direito à conversão, dependerá de prévia aprovação dos debenturistas, em assembleia especial, ou de seu agente fiduciário, a alteração do estatuto para: a) mudar o objeto da companhia; b) criar ações preferenciais ou modificar as vantagens das existentes, em prejuízodas ações 30 deve conter a assinatura dos sócios, e o visto de um advogado revisor e posteriormente o instrumento deve ser arquivado em órgão competente, sendo este a Junta Comercial ou o Registro Civil de Pessoas Jurídicas, dependendo da natureza jurídica da sociedade. Outra importante característica é a responsabilidade dos sócios. Nas sociedades limitadas a responsabilidade será solidária e limitada ao valor de suas quotas, nos termos do art. 1052 do Código Civil de 200220, isso quer dizer que, os sócios responderão solidariamente, caso algum dos sócios não tenha integralizado as quotas subscritas e limitadamente ao valor de suas respectivas quotas. Ou seja, via de regra o patrimônio pessoal do sócio não será atingido nos casos em que a sociedade não prosperar, somente nos casos de insolvência da sociedade, o sócio será chamado para responder subsidiariamente àquelas obrigações que a sociedade não conseguir cumprir, conforme explica Tavares Borba: Nenhuma dívida da sociedade poderá ser cobrada do sócio, ou vice- versa. Descabe, outrossim, a compensação de crédito da sociedade com dívida de sócio. Mesmo o sócio de responsabilidade limitada, quando no caso de insolvência da sociedade, é chamado a responder pelas obrigações sociais, a sua condição será semelhante à do fiador, que responde por terceiro, com este não se confundindo.21 O fato de a responsabilidade ser limitada, transmite ao empreendedor segurança no momento de ingressar em um novo empreendimento e também liberdade para mensurar o valor do investimento que deseja realizar. Frederico Simionato confirma no trecho abaixo, que a responsabilidade limitada dos sócios se torna um grande atrativo, porém ele se refere a sociedade por quotas de responsabilidade limitada, que foi a em que são conversíveis as debêntures. 20Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social. 21 BORBA, José Edwaldo Tavares, Direito societário – 13º Edição, rev. e atual – Rio de Janeiro: Renovar, 2012. 31 antecessora da sociedade limitada no código civil de 1916 (Lei nº 3071 de 1916), esse tipo societário deixou de existir, dando lugar a sociedade limitada. A principal razão que fundamentou o surgimento da sociedade por quotas de responsabilidade limitada foi, com efeito, um imperativo econômico: evitar a responsabilidade solidária e ilimitada dos sócios, ou seja, estabelecer um sistema diverso daquele que existe para as sociedades em nome coletivo e comandita simples. Na sociedade comandita simples apenas o comanditário tem responsabilidade limitada. 22 Quanto à responsabilidade dos administradores, estes irão responder somente pelos atos que praticarem com abuso de poder, em desacordo com a lei ou com o contrato social da sociedade, e com isso causarem danos à sociedade ou a terceiros, de modo que se estiverem agindo dentro dos limites de sua atuação e boa-fé, ainda que a sociedade sofra algum dano, estes não podem ser responsabilizados. Os administradores estão jungidos aos deveres de lealdade, boa-fé, fidelidade, em relação à sociedade que administram. Assim, quando desatendem a tais deveres, nasce a sua responsabilidade (Código Civil, art. 1011, 1016 e 1017). Os atos ou omissões do administrador que tenham gerado prejuízos (danos emergentes e lucros cessantes) para a sociedade deverão ser pelo mesmo ressarcidos.23 Também como importante característica atribuída à sociedade limitada, tem-se a divisão por quotas, onde o capital social da sociedade é dividido por quotas que podem ter valores sempre iguais ou valores diferentes. O valor unitário das quotas deve estar previsto no contrato social, assim como o valor do capital social e a quantidade de quotas que foram emitidas. Para Simonato quotas são: 22 SIMIONATO, Frederico Augusto Monte – Tratado de Direito Societário, Vol. I – Rio de Janeiro: Forense, 2009. 23 JORGE, Tarsis Nametala Sarlo, Manual das sociedades Limitadas - Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007 32 A quota é parcela do capital social que confere direito de voto ao sócio: então, entra na categoria de bens disponíveis, de interesse privado e que confere aos seus titulares direitos de voto nas deliberações e reuniões sociais, acarretando-lhe deveres e responsabilidade próprios de seu status jurídico de sócio. Por conseguinte, a quota tem uma vertente que é a manifestação jurídica sobre uma participação econômica, e outra vertente que deriva dessa manifestação jurídica que é conferir direitos políticos aos sócios, consubstanciando-se no direito de voto24 É importante ressaltar que no caso da sociedade limitada os sócios serão chamados de quotistas e não de acionistas como no caso das S.A., pois na Ltdas a divisão é feita por quotas e não por ações. Dessa forma, cada quotista irá receber uma quantidade determinada de quotas, na proporção do valor que subscreveu no momento da constituição da empresa. O valor que cada quotista subscreveu, não precisa ser necessariamente integralizado no ato da constituição, porém é importante que o prazo de integralização contido no contrato social da sociedade seja respeitado, sob pena de indenização por danos morais ou até mesmo exclusão do quotista inadimplente da sociedade. José Edwaldo Tavares Borba explica que: (...)faculta-se aos demais sócios (art. 1058), ao excluir o sócio remisso, tomar para si as cotas do sócio excluído, observadas naturalmente as respectivas preferencias, ou transferi-las a terceiros. Os sócios ou os terceiros que absorverem essas participações terão que pagar, no mínimo, o montante necessário a cobrir as entradas e a integralizar as cotas em comisso, cabendo devolver ao sócio remisso as entradas realizadas, com dedução dos juros e mora, despesas e demais 24 SIMIONATO, Frederico Augusto Monte – Tratado de Direito Societário, Vol. I – Rio de Janeiro: Forense, 2009. 33 prestações previstas no contrato. 25 Existem também as quotas preferenciais que devem ser indicadas no contrato social, essa modalidade de quota pode garantir ao seu detentor diversos benefícios em relação aos demais quotistas da sociedade, como valor superior na aferição dos lucros, preferência na devolução do capital social nos casos em que a sociedade é liquidada, entre outros. Deve-se, pois, ao se criar cotas preferenciais, atentar para o princípio da razoabilidade, a fim de que o privilégio conferido não ganhe a conotação de exclusão, ou mesmo de lesão, em face dos interesses dos demais cotistas, especialmente dos minoritários. 26 José Edwaldo Tavares Borba, conforme trecho transcrito acima, destaca a importância de se apreciar o princípio da razoabilidade no que tange às quotas preferenciais, de modo que é importante salientar que tais quotas não podem excluir direitos dos demais sócios. 2.4 CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE LIMITADA O processo de constituição de uma sociedade limitada é simples, envolvendo principalmente 2 etapas, que são: a elaboração do contrato social e o seu registro na Junta Comercial do estado onde a sociedade será sediada. Mas, caso não seja uma sociedade empresária o registro de seu contrato social deverá ser feito no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Por se tratar de uma sociedade de natureza contratual,o contrato social da sociedade será regido pelas as regulamentações para celebrar contratos contidas no Código Civil, contudo, por se tratar de um contrato social, ou seja, de constituição de uma sociedade este deverá conter elementos específicos em seu conteúdo. 25 BORBA, José Edwaldo Tavares, Direito societário – 13º Edição, rev. e atual – Rio de Janeiro: Renovar, 2012. 26 Idem 34 Vamos a eles: • Denominação da sociedade, bem como o tipo societário que está sendo constituído; • Qualificação completa dos sócios sejam eles pessoas físicas ou jurídicas, para os casos de o sócio ser pessoa física a qualificação correta se dá com o nome completo, nacionalidade, profissão, estado civil, data de nascimento (somente para os casos em que o sócio for solteiro), número da identidade e CPF e endereço do domicílio, quando o sócio for pessoa jurídica exige-se o número do CNPJ e o endereço da sede do sócio; • Deve ser determinado o endereço da sede sociedade, o prazo de duração da sociedade e o foro para dirimir eventuais questões judiciais que possam vir a surgir ao longo de sua duração; • É de suma importância a determinação detalhada do Objeto Social, e a atividade econômica à ser desenvolvida, deve ser lícita e possível. Sérgio Campinho 27 destaca, que é essencial que sejam fixados limites através da declaração detalhada do objeto social da sociedade, pois dessa forma, a sociedade estará obrigada respeitar tais limites previamente fixados, durante a exploração da atividade econômica; • O Capital Social deve ser determinado no instrumento de constituição da sociedade, bem como a forma que os sócios acordaram de integralizar a quantia que cabe à cada um, vale ressaltar que, não é aceitável pagamento por meio de serviços, sendo necessário, portanto, que integralize o valor em espécie ou com bens avaliados em valor correspondente do quinhão do sócio. Deve conter também a divisão 27 CAMPINHO, Sérgio, O Direito de empresa à luz do Código Civil – 12º edição – Rio de Janeiro: Renovar, 2011 35 das quotas sendo estas divididas de acordo com a participação de cada sócio, outrossim, é importante dizer ainda que é permitido que o capital social da sociedade seja alterado, tanto para redução como para aumento, no entanto para realizar tal operação é necessário confeccionar um instrumento de alteração de contrato social; • Os administradores da companhia também devem ser designados no contrato social. Para administradores da sociedade os sócios podem eleger um ou mais sócios ou terceiro, desde que este seja plenamente capaz. Em casos em que o contrato social se omita sobre quem irá administrar a sociedade, entende-se que todos os sócios são administradores podendo para isso agir em conjunto ou separadamente. Após a confecção do contrato social, respeitando todas as peculiaridades exigidas, o mesmo deve ser encaminhado ao órgão de registro competente, tal como explicitado anteriormente. É importante salientar, que o contrato social deve ser levado ao registro com a assinatura de todos os sócios e suas firmas reconhecidas em cartório, bem como assinatura de duas testemunhas e um visto de um advogado28 (É função do Advogado elaborar o contrato social e não tão somente revisar). Diante da narração, nota-se que o processo de constituição de uma sociedade limitada é muito simples e de baixo custo, quando comparado ao processo de constituição de uma sociedade anônima, que será detalhado mais adiante. Por este motivo, é que a procura por aquele tipo societário é visivelmente maior. 28 Ressalvado no caso de micro e pequena empresa, pois a Lei nº 123/2006 as isenta da exigência do visto. 36 CAPITULO 3 – SOCIEDADES LIMITADAS: PODEM OU NÃO EMITIR DEBENTURES Antes de tratarmos sobre a viabilidade em si da emissão de debêntures pelas sociedades limitadas, é importante tratar detalhadamente do processo de constituição de sociedade anônima, uma vez que um dos grandes questionamentos quando o assunto é abordado é: Porque não constituir uma sociedade anônima de capital fechado? 3.1 CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE ANÔNIMA A constituição da sociedade anônima é composta por diversos procedimentos que se dividem, basicamente em 3 fases, são elas: 1º) preliminares; 2º) constituição; e por fim 3º) providencias complementares. Na 1º fase é onde são tomadas as providencias iniciais, antes mesmo que a sociedade seja constituída, os requisitos preliminares encontram- se regulamentados no art. 80, da Lei nº 6404/76 29 e são eles: Encontrar subscritores, pelo menos dois nos termos da lei, que subscrevam todas as ações no qual o capital social foi dividido no estatuto social, caso não se encontre subscritores suficientes para o capital social estipulado em estatuto, então o projeto da sociedade será findo. Devendo se iniciar um novo projeto, excluindo os subscritores do antigo e reinserindo-os no novo, com um novo estatuto social, vale dizer que ao se tornar subscritor, tal ato é irrevogável e, portanto, não poderá voltar atrás, somente com a sessão 29 Art. 80. A constituição da companhia depende do cumprimento dos seguintes requisitos preliminares: I - subscrição, pelo menos por 2 (duas) pessoas, de todas as ações em que se divide o capital social fixado no estatuto; II - realização, como entrada, de 10% (dez por cento), no mínimo, do preço de emissão das ações subscritas em dinheiro; III - depósito, no Banco do Brasil S/A., ou em outro estabelecimento bancário autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários, da parte do capital realizado em dinheiro. Parágrafo único. O disposto no número II não se aplica às companhias para as quais a lei exige realização inicial de parte maior do capital social. 37 das ações após a constituição completa da sociedade. Após determinados quem serão os subscritores, deverá ocorrer o recolhimento de uma parte do valor as ações emitidas, tal valor será determinado pelos fundadores da sociedade e não poderá ser inferior a 10% do valor total das ações emitidas, nos termos da lei. O montante deverá ser recolhido de todos os subscritores da sociedade pelos fundadores, José Edwaldo Tavares Borba, ressalta que: Se a realização se fizer em bens, a questão da entrada não se coloca, pois, as ações correspondentes, necessariamente, estarão integralizadas desde logo. Um bem não pode ser utilizado para realizar parcialmente um dado número de ações, mas tão somente para integralizá-las.30 E por fim, posteriormente ao recolhimento da entrada, os fundadores deverão realizar do depósito desse montante, dentro de um prazo de 5 dias contados a partir do dia em que os fundadores receberam o dinheiro. O depósito deverá ser realizado no Banco do Brasil, ou em outro banco que seja autorizado pela CVM, conforme regulamentado no já citado art. 80, da Lei nº 6404/76. Caso a sociedade não seja constituída num prazo de 6 meses, o banco deverá restituir os valores depositados aos respectivos subscritores. Após ser constituída, a sociedade poderá em nome próprio sacar o montante depositado ou criar uma conta para movimentação e transferir o montante para essa conta. A subscrição pode ser de duas maneiras, particular ou pública, no momento de optar por qual modalidade de subscrição adotadas, é que se define se a sociedade será de capital aberto ou fechado. A subscrição pública, ocorre quando os fundadores apelam ao públicopara subscrever o capital social, sendo essas sociedades de capital fechado, já na subscrição particular 30 BORBA, José Edwaldo Tavares, Direito societário – 13º Edição, rev. e atual – Rio de Janeiro: Renovar, 2012. 38 os subscritores são pré-determinados não se fazendo necessária a oferta pública, essas serão as sociedades de capital fechado, portanto a subscrição pública é destinada a investidores diversos no mercado que se interessem pela atividade explorada, já a subscrição particular é direcionada a investidores pré- determinados. A subscrição pública deve cumprir as exigências contidas no art. 82, da Lei nº 6404/7631, que são: o registro da emissão das ações na CVM e a escolha de uma instituição financeira para intermediar a subscrição. Modesto Carvalhosa, define subscrição pública como sendo: Configura-se como pública a subscrição de ações ofertadas, mediante a utilização de listas ou boletins de subscrição, folhetos, prospectos ou anúncios destinados ao público por qualquer meio ou forma; a procura de novos subscritores indeterminados, por meio de empregados, representantes, agentes administrativos ou pessoas físicas ou jurídicas integrantes ou não do sistema de distribuição de valores mobiliários; a consulta sobre a mobilidade da oferta ou coleta de intenções de investimentos, a negociação feita em loja, escritório ou estabelecimento aberto ao público, ou com a utilização de material publicitário, divulgado nos meios de comunicação de massa ou eletrônicos, sempre com o fim de promover a subscrição dos valores mobiliários ofertados por pessoas indeterminadas. 32 O registro prévio na CVM da emissão das ações a serem ofertadas é indispensável, uma vez que, a capitação de recursos para a constituição da companhia se dará por meio de oferta pública, de modo que 31 Art. 82. A constituição de companhia por subscrição pública depende do prévio registro da emissão na Comissão de Valores Mobiliários, e a subscrição somente poderá ser efetuada com a intermediação de instituição financeira. § 1º O pedido de registro de emissão obedecerá às normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários e será instruído com: a) o estudo de viabilidade econômica e financeira do empreendimento; b) o projeto do estatuto social; c) o prospecto, organizado e assinado pelos fundadores e pela instituição financeira intermediária. § 2º A Comissão de Valores Mobiliários poderá condicionar o registro a modificações no estatuto ou no prospecto e denegá-lo por inviabilidade ou temeridade do empreendimento, ou inidoneidade dos fundadores. 32 CARVALHOSA, Modesto, Comentários à lei de sociedades anônimas – 2º Volume: artigos 75 a 137 – 4º Edição – São Paulo: Saraiva, 2008 39 exige mais cuidados. Dessa forma, para ser efetuado o registro devem ser entregues a CVM, o prospecto do empreendimento que deve ser elaborado na forma do art. 84, da Lei nº 6.404/7633 em conjunto com o estatuto de viabilidade e o projeto do estatuto social, ficando a cargo da CVM analisar os documentos e se perceber que o empreendimento é inviável esta poderá negar o registro da emissão ou apenas exigir modificações para que o empreendimento se adeque e se torne viável a exploração da atividade econômica. Modesto Carvalhosa ressalta que: (...) deve-se, no entanto, entender que o prospecto constitui um dos elementos da oferta pública, sendo requisito necessário, porém não suficiente, para que este se configure. A oferta pública in incertam personam, em nossa sistemática, é constituída do projeto de estatuto (art. 83) e do prospecto.34 A contratação de uma instituição financeira, é importante pois ela 33 Art. 84. O prospecto deverá mencionar, com precisão e clareza, as bases da companhia e os motivos que justifiquem a expectativa de bom êxito do empreendimento, e em especial: I - o valor do capital social a ser subscrito, o modo de sua realização e a existência ou não de autorização para aumento futuro; II - a parte do capital a ser formada com bens, a discriminação desses bens e o valor a eles atribuídos pelos fundadores; III - o número, as espécies e classes de ações em que se dividirá o capital; o valor nominal das ações, e o preço da emissão das ações; IV - a importância da entrada a ser realizada no ato da subscrição; V - as obrigações assumidas pelos fundadores, os contratos assinados no interesse da futura companhia e as quantias já despendidas e por despender; VI - as vantagens particulares, a que terão direito os fundadores ou terceiros, e o dispositivo do projeto do estatuto que as regula; VII - a autorização governamental para constituir-se a companhia, se necessária; VIII - as datas de início e término da subscrição e as instituições autorizadas a receber as entradas; IX - a solução prevista para o caso de excesso de subscrição; X - o prazo dentro do qual deverá realizar-se a assembléia de constituição da companhia, ou a preliminar para avaliação dos bens, se for o caso; XI - o nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos fundadores, ou, se pessoa jurídica, a firma ou denominação, nacionalidade e sede, bem como o número e espécie de ações que cada um houver subscrito, XII - a instituição financeira intermediária do lançamento, em cujo poder ficarão depositados os originais do prospecto e do projeto de estatuto, com os documentos a que fizerem menção, para exame de qualquer interessado. 34 CARVALHOSA, Modesto, Comentários à lei de sociedades anônimas – 2º Volume: artigos 75 a 137 – 4º Edição – São Paulo: Saraiva, 2008 40 irá intermediar a subscrição das ações, de modo que irá auxiliar na elaboração do prospecto que deverá ser assinado em conjunto pela instituição financeira contratada e pelos fundadores. Após, deferido o registro pela CVM esta deverá emitir e autenticar os boletins de subscrição bem como receber as entradas que ficarão em seu poder até o fim da constituição da companhia. Por essa participação, a instituição financeira receberá uma remuneração e ainda poderá se comprometer a subscrever parte das ações caso não seja encontrado subscritores suficientes no momento da oferta. Modesto Carvalhosa compartilha do mesmo entendimento, conforme texto transcrito a seguir: (...) cabe a instituição financeira intermediária, em conjunto com a companhia ofertante, redigir o prospecto tanto na sua eventual forma preliminar como na definitiva. Para assumir a qualidade de agente dos fundadores, a instituição intermediária celebrará com estes um contrato de prestação de serviços, isoladamente ou como líder de consórcio de intermediários. Essa avença terá como objeto a divulgação dos documentos de constituição, os serviços de reserva e subscrição das ações, os serviços de depósitos das entradas recebidas e a prestação de informações ao público interessado. 35 Superada a fase de subscrição pública, a companhia será constituída por meio da deliberação dos subscritores em assembleia geral. Na assembleia geral de constituição, todos os subscritores terão direito igual de voto, sem que haja distinção da classe entre as ações que foram adquiridas. Para que seja instaurada a assembleia geral, todos os subscritores serão acionados por meio de duas convocações. Podendo a assembleia ser realizada na primeira convocação caso estejam presentes os representantes de 50% do capital social, após realizada a primeira convocação 35 CARVALHOSA, Modesto, Comentários à lei de sociedades anônimas – 2º Volume: artigos 75 a 137 –4º Edição – São Paulo: Saraiva, 2008 41 sem que tenha sido realizada, ocorrerá uma segunda convocação, e nesse caso, a assembleia se instalará, estando presentes os representantes de qualquer porcentagem do capital social. Vale ressaltar que nos casos em que houver subscrição do capital social em bens, deve-se indicar peritos para elaboração de laudo de avaliação de tais bens, assim como realizar duas assembleias, sendo que a segunda assembleia terá como objeto a aprovação dos laudos. José Edwaldo Tavares Borba, explica: Caso tenha havido subscrição de capital em bens, a assembleia de constituição deverá ser precedida de uma outra, destinada a nomear a empresa especializada ou os peritos que promoverão a avaliação desses bens. A assembleia que se seguir decidirá sobre a aprovação da avaliação e sobre a constituição da sociedade. Em certos casos, os fundadores solicitam, previamente, a determinadas pessoas a avaliação dos imóveis. Assim, uma única assembleia poderia nomear os peritos pré-indicados pelos fundadores, que já disporiam do laudo, seguindo-se a sua imediata aprovação e a constituição de sociedade, tudo concentrado.36 Modesto Carvalhosa explica ainda, sobre a subscrição de bens, as consequências nos casos em que for comprovado erro, dolo ou fraude: Comprovado erro, dolo, fraude, coação ou simulação, na avaliação dos bens, poderá ser pleiteada a anulação dos atos daí decorrentes. Trata-se, no caso, de hipótese diversa da subscrição em dinheiro, pois, nesta, a nulidade da subscrição respectiva não torna ineficaz a constituição, convolando-se em responsabilidade por perdas e danos. Já na subscrição particular, como anteriormente falado, não requer oferta pública, e por esse motivo não está vinculada a aprovação da CVM e nem obrigada a contratar uma instituição financeira intermediária que se 36 BORBA, José Edwaldo Tavares, Direito societário – 13º Edição, rev. e atual – Rio de Janeiro: Renovar, 2012. 42 responsabilize por intermediar a subscrição das ações emitidas. Fábio Ulhoa entende por subscrição particular: A constituição por subscrição particular destina-se à formação de sociedade anônima fechada, que não pretende a captação de recursos no mercado de capitais, pelo menos no seu início. Portanto, os subscritores encontrados 37para subscrever o capital da sociedade, estarão no meio social dos fundadores sendo até mesmo eles próprios, de modo que, todos os subscritores serão considerados subscritores, nessa modalidade de subscrição do capital social. A constituição da companhia que optar pela subscrição particular poderá ser por deliberação em assembleia geral ou por escritura pública, conforme determina o art. 88, da Lei nº 6404/7638. Ainda tratando do art. 88 da referida lei, determina-se que, uma vez que os sócios optem por constituir a sociedade anônima por escritura pública, esta deve conter a qualificação completa de todos os subscritores (sócios), o estatuto social da companhia, a relação das ações tomadas pelos subscritores bem como o valor das entradas que foram depositadas, a 37 COELHO, Fábio Ulhoa, Curso de Direito Comercial, Volume 2: O Direito da Empresa, 17º Edição, São Paulo: Ed. Saraiva, 2013 38 Art. 88. A constituição da companhia por subscrição particular do capital pode fazer-se por deliberação dos subscritores em assembléia-geral ou por escritura pública, considerando-se fundadores todos os subscritores. § 1º Se a forma escolhida for a de assembléia-geral, observar-se-á o disposto nos artigos 86 e 87, devendo ser entregues à assembléia o projeto do estatuto, assinado em duplicata por todos os subscritores do capital, e as listas ou boletins de subscrição de todas as ações. § 2º Preferida a escritura pública, será ela assinada por todos os subscritores, e conterá: a) a qualificação dos subscritores, nos termos do artigo 85; b) o estatuto da companhia; c) a relação das ações tomadas pelos subscritores e a importância das entradas pagas; d) a transcrição do recibo do depósito referido no número III do artigo 80; e) a transcrição do laudo de avaliação dos peritos, caso tenha havido subscrição do capital social em bens (artigo 8°); f) a nomeação dos primeiros administradores e, quando for o caso, dos fiscais. 43 transcrição do depósito, para as entradas em dinheiro, e nos casos de subscrição do capital social em bens deve conter a transcrição do laudo de avaliação elaborado por peritos e pôr fim a nomeação dos primeiros administradores, nos casos em que houver conselho fiscal, deverá também proceder com a nomeação destes. Ao realizar a constituição da companhia por assembleia geral, esta será realizada da mesma forma como ocorre a assembleia de constituição de companhias que passaram pelo procedimento da subscrição pública do capital social. Depois de realizada a constituição da sociedade, se inicia a terceira e última fase que é constituída pelas providencias finais ou complementares, nessa etapa ocorre o registro (arquivamento) na Junta Comercial e a publicação dos atos constitutivos da sociedade, conforme determinado no art. 94, da Lei nº 6.404 de 7639. Fabio Ulhoa destaca que: A sociedade anônima que exercer atividade antes de cumpridas as formalidades atinentes ao arquivamento e publicação de seus atos constitutivos será considerada irregular. Diz a lei, ademais, que a companhia não responde pelos atos praticados em seu nome enquanto perdurar a irregularidade, a menos que a assembleia geral delibere em contrário (LSA, art. 99, parágrafo único). Além disso, se a companhia sofrer prejuízo pelo atraso na adoção das providências complementares, os primeiros administradores deverão indenizá-la, observando-se os pressupostos do art. 159 da LSA. 40 A companhia que tiver sido constituída por deliberação em assembleia deverá arquivar na Junta Comercial, os documentos conforme indicados no art. 95, da Lei nº 6404/7641, e se tiver sido constituída por 39 Art. 94. Nenhuma companhia poderá funcionar sem que sejam arquivados e publicados seus atos constitutivos. 40 COELHO, Fábio Ulhoa, Curso de Direito Comercial, Volume 2: O Direito da Empresa, 17º Edição , São Paulo: Ed. Saraiva, 2013 41 Art. 95. Se a companhia houver sido constituída por deliberação em assembléia-geral, deverão ser arquivados no registro do comércio do lugar da sede: 44 escritura pública, basta arquivar a certidão do instrumento, nos termos do art. 96, da Lei nº 6.404 de 7642. Após realizado o arquivamento dos atos na junta comercial do estado onde está sediada a sociedade, deve-se providenciar pelos administradores da companhia, a publicação dos atos constitutivo. A publicação deverá ser realizada no prazo de trinta dias subsequentes ao registro, conforme determina o art. 98, caput, da Lei nº 6.404/7643. 3.2 VIABILIDADE DA EMISSÃO DE DEBÊNTURES POR SOCIEDADES LIMITADAS Preliminarmente, cumpre ressaltar que atualmente, a emissão das debêntures é prática privativa das sociedades anônimas, por restrição do art. 52, da Lei nº 6.404/7644, que limita às Companhias a emissão das debêntures. O termo “companhia”, conforme indicado no art. 1º, da Lei nº 6.404/76 45é usado como denominação alternativa para fazer referência à sociedade anônima. Em contrapartida, o art. 8º, inciso I, da Lei nº 6.835/7646, deixa a cargo da CVM, a competência para regulamentar a emissão de valoresI - um exemplar do estatuto social, assinado por todos os subscritores (artigo 88, § 1º) ou, se a subscrição houver sido pública, os originais do estatuto e do prospecto, assinados pelos fundadores, bem como do jornal em que tiverem sido publicados; II - a relação completa, autenticada pelos fundadores ou pelo presidente da assembleia, dos subscritores do capital social, com a qualificação, número das ações e o total da entrada de cada subscritor (artigo 85); III - o recibo do depósito a que se refere o número III do artigo 80; IV - duplicata das atas das assembleias realizadas para a avaliação de bens quando for o caso (artigo 8º); V - duplicata da ata da assembleia-geral dos subscritores que houver deliberado a constituição da companhia (artigo 87). 42 Art. 96. Se a companhia tiver sido constituída por escritura pública, bastará o arquivamento de certidão do instrumento. 43 Art. 98. Arquivados os documentos relativos à constituição da companhia, os seus administradores providenciarão, nos 30 (trinta) dias subsequentes, a publicação deles, bem como a de certidão do arquivamento, em órgão oficial do local de sua sede. 44 Art. 52. A companhia poderá emitir debêntures que conferirão aos seus titulares direito de crédito contra ela, nas condições constantes da escritura de emissão e, se houver, do certificado. 45 Art. 1º A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. 46 Art. 8º Compete à Comissão de Valores Mobiliários: I - regulamentar, com observância da política definida pelo Conselho Monetário Nacional, as matérias expressamente previstas nesta Lei e na lei de sociedades por ações; 45 mobiliários, e nesse contexto, a instrução nº 476 da CVM, que regulamenta a emissão de valores mobiliários realizados por oferta pública com esforço restrito47, não restringe tal emissão às sociedades anônimas, por não mencionar especificamente os tipos societários permitidos, deixando a especulação de que uma vez que não existe a vedação expressa em texto normativo, a prática seria permitida. Com isso, a discussão em torno do tema se alastrou, de modo que levou a algumas sociedades limitadas tentarem arquivar atos de emissão de debêntures não conversíveis em ações nas juntas comerciais, tendo seu pedido negado, sob o fundamento de que a Lei nº 6.404/76, é categórica em limitar a emissão das debêntures pelas sociedades limitadas. É importante esclarecer que, quando se fala em emissão de debêntures por sociedades limitadas, estamos sempre tratando das debêntures na modalidade não conversíveis em ações, pois o objetivo principal desse tipo societário, ao emitir o referido valor mobiliário não é alterar sua natureza jurídica, que é contratual, mas sim buscar alternativas mais saudáveis à sua economia interna, na captação de recursos para seus eventuais investimentos. Apesar de serem definidas com valores mobiliários na legislação brasileira, as debêntures, como já esclarecido anteriormente, tem sua aplicação prática como títulos de crédito, e quando tratamos de debêntures não conversíveis em ações, estas são praticamente exclusivamente títulos de crédito, uma vez que o único modo de se sanar o crédito junto ao investidor que adquiriu a debênture é lhe devolvendo o valor investido acrescido de juro e correção monetária. José Edwaldo Tavares Borba, entende que: As debêntures, estas sim, são títulos de dívida, e atuam, em princípio, 47 A oferta pública com esforço restrito consiste em oferta de valores mobiliários destinada a investidores qualificados e deve ser intermediada por integrantes do sistema de distribuição de valores mobiliários, que podem ser instituição financeiras, corretores de valores mobiliários. Nessa modalidade está vedada a busca por investidores em estabelecimentos abertos ao público. 46 como frações representativas de um empréstimo tomado ao público. São, por conseguinte, alternativas à contratação de um empréstimo bancário. Sendo ordinariamente um título a longo prazo, presta-se a debênture a atender às necessidades de investimento da sociedade mediante a captação da poupança privada. As taxas de juros das debêntures flutuam, via de regra, muito abaixo das praticadas pelas instituições financeiras, e as condições gerais da operação são normalmente mais flexíveis. O campo de aplicação das debêntures situa-se, pois, preferencialmente, no âmbito dos empréstimos de longo prazo, destinados a implantação ou expansão de projetos empresariais em geral. 48 O cenário atual mostra que as sociedades de responsabilidade limitada são as sociedades mais constituídas por ano e consequentemente o tipo societário mais numeroso no país. Tal fenômeno ocorre, principalmente, devido ao fato de ser uma espécie societária que traz a principal e mais apreciada característica da sociedade anônima, que é a responsabilidade financeira limitada ao valor que fora investido na aquisição das quotas. Além de ser um tipo societário de fácil constituição e menos onerosa, conforme os valores apresentados a seguir: O custo para constituição uma sociedade limitada, é de R$376,00 (trezentos e setenta e seis reais)49 conforme informações retiradas da tabela atualizada no endereço eletrônico na Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro. Já o custo para constituição de uma sociedade anônima é de R$ 554,00 (quinhentos e cinquenta e quatro reais)50, conforme exposto na tabela de valores para arquivamento de atos retirada do site da junta comercial do Rio de Janeiro. Tendo em vista que, o valor indicado acima, corresponde ao valor 48 BORBA, José Edwaldo Tavares, Das Debêntures, Rio de Janeiro: Renovar, 2005 49 https://www.jucerja.rj.gov.br/JucerjaPortalWeb/Paginas/Informacoes/TabelaPrecosPWJ.aspx 50 https://www.jucerja.rj.gov.br/JucerjaPortalWeb/Paginas/Informacoes/TabelaPrecosPWJ.aspx 47 que deve ser pago para cumprir o penúltimo requisito para que seja realizada constituição já na fase complementar, que ainda requer que haja publicação dos atos em jornal, o que agrega valor ao custo de constituição. Além do elevado custo, o processo de constituição de uma sociedade anônima, é infinitamente mais burocrático, por ser uma sociedade de funcionalidade mais complexa, e que pode eventualmente ter contato direto com o público investidor. Pelos motivos apresentados, o processo acaba por se tornar mais moroso, em comparação à sociedade limitada. Outra questão que deve ser abordada é o barateamento do custo na capitação de recursos para a sociedade, que a permissão da emissão de debêntures por sociedades limitadas irá proporcionar. Visto que, atualmente a única alternativa para uma sociedade limitada buscar recursos no mercado com a finalidade de custear seus empreendimentos, é através de instituições financeiras. Tal modalidade é infinitamente mais onerosa e rígida (uma vez que não permite negociações acerca dos juros cobrados pela instituição financeira). Diante disso, as debêntures se apresentam como uma alternativa perfeita aos empréstimos realizados junto a instituições financeiras, pois como já falado, são por definição de lei, valores mobiliários, porém na prática funcionam como títulos de crédito, de modo que a sociedade captora de recursos pode estabelecer na escritura de emissão, os juros e os prazos para pagamentos, conforme melhor satisfazer suas necessidades, e buscar investidores interessados nas condições oferecidas. Os empréstimos bancários além de atenderem apenas
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