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Direito Empresarial | 1 SOCIEDADE ANÔNIMA Olá turma! Vamos aprender mais um pouco hoje? “Não desanimes...a tua derrota de hoje é treino para a vitória definitiva.” (Josemaria Escrivá) “Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência.” (Santo Agostinho) Essa aula tem como objetivo: • Resumir as principais características de todos os tipos de sociedades personificadas e não personificadas. • Classificar as sociedades quanto à personalidade jurídica, à responsabilidade dos sócios, à composição e ao ato constitutivo. • Conhecer as peculiaridades de cada tipo societário, considerando-os na criação, interpretação e aplicação do Direito. TERMOS-CHAVE: Classificação. Dissolução. Sociedades. 2 | Direito Empresarial Sociedade Anônima (lei 6404 / 1976 – lei das S.As) A sociedade anônima ou S.A ou Companhia tem sua origem em Gênova na Itália em 1409, onde surgiu na figura do Banco Casa de São Jorge. No Brasil, a primeira sociedade anônima foi o Banco do Brasil, o qual ainda existe até hoje. Esse tipo de sociedade é bastante utilizado para os grandes empreendimentos. A relação entre os sócios, os quais são denominados de acionistas, revela-se preponderantemente impessoal, havendo uma maior ingerência no capital. Para ser sócio, basta capacidade financeira. O termo ‘anônima’ está relacionado ao ‘anonimato dos sócios’, não importando quem são estes, mas quanto podem investir na sociedade. Por conta disso, a sociedade anônima é classificada como sociedade de capital. O ato constitutivo consiste em estatuto social, em que a relação societária é constituída por meio de um ato de vontade de natureza não contratual, logo os postulados da ‘teoria dos contratos’ do Direito Civil não contribuem para a compensação dos direitos e deveres dos membros da sociedade. Fabio Ulhoa (2011, p. 44) propõe o seguinte questionamento: o herdeiro de um acionista falecido está obrigado a integrar a sociedade? Sendo a sociedade institucional, o herdeiro da ação necessariamente passa a integrar o quadro de acionistas. Se não o deseja, pode negociar suas ações, vendendo-as a interessados no investimento. Contudo, para isso, ele precisa tornar-se, ainda que por pouco tempo, um membro da sociedade. O vínculo societário não pode ser desfeito mediante o reembolso da participação societária, porque não tem natureza de um contrato. Em uma sociedade contratual de pessoas, como a sociedade limitada (LTDA), o herdeiro poderia exigir a liquidação da participação societária (passando a titularizar não mais direitos de sócio, mas um mero crédito pelo reembolso), o que não ocorre na anônima (institucional e de capital). Direito Empresarial | 3 Vale ressaltar que a S.A SEMPRE É EMPRESÁRIA. Mesmo que as atividades desempenhadas sejam de cunho intelectual (medicina, engenharia, etc), se for uma sociedade de capitais, será empresarial. Sabe-se que as sociedades consistem em pessoas jurídicas de direito privado, formadas a partir da união entre duas ou mais pessoas. Contudo, quanto à exigência de pluralidade de sócios, há duas exceções nas sociedades anônimas: 1ª) Subsidiária integral – Trata-se de uma sociedade disposta no Art. 251 da LSA, formada por uma única pessoa, sendo essa pessoa uma pessoa jurídica brasileira e a aquisição tem que ser feita por uma escritura pública. 2ª) Nos termos do art. 206 da Lei das S.A, por no máximo 1 ano, a Companhia pode estar centralizada nas mãos de um único acionista. No que tange à responsabilidade dos sócios, todos respondem de forma LIMITADA, mas NÃO HÁ SOLIDARIEDADE pela integralização do capital social (art. 1a Lei das SA). Cada sócio responde apenas pela sua parte no capital social, não assumindo qualquer responsabilidade pelas dívidas da sociedade, salvo nos casos de desconsideração da personalidade jurídica ou a imputação direta de responsabilidade pela prática de atos ilícitos. Em caso de mora do acionista no pagamento de sua parte do capital social, tornando-se remisso, a S.A tem duas alternativas: a cobrança dele em juízo e a alienação, em bolsa, das ações não integralizadas. Percebam que não existe a possibilidade de redução do capital. Ainda que o acionista primitivo seja excluído, não haverá liquidação da sua parte, pois em se tratando de uma sociedade de capitais, o investimento previsto deve ser efetivado, ou seja, o que foi subscrito tem que ser integralizado. Quanto ao direito de retirada, ele é menos utilizado e mais restrito do que nas sociedades de pessoas, em que há a dissolução parcial. Aqui na sociedade anônima, essa situação é diferente, pois a venda pela cessão das ações é livre, não sendo necessário o direito de retirada para garantir a liberdade de se associar ou deixar de ser associado. Lembrem-se que a Sociedade Anônima é um tipo societário 4 | Direito Empresarial classificado como sociedade de capitais, em que o dinheiro investido pelos sócios é mais importante do que a própria pessoa deles. Assim, não importa se o sócio deixe a sociedade, porque o mais importante foi o investimento que ele realizou. Existe apenas uma troca do quadro societário. Sendo assim, o direito de retirada, mediante o reembolso do valor de suas ações, será bastante restrito nas possibilidades do art 137 LSA. A Lei de S.A., em seu artigo 109 enumera os direitos essenciais dos acionistas, que são aqueles que não podem ser supridos nem pelo estatuto nem pela assembleia geral. Art. 109. Nem o estatuto social nem a assembleia- geral poderão privar o acionista dos direitos de: I - participar dos lucros sociais; II - participar do acervo da companhia, em caso de liquidação; III - fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão dos negócios sociais; IV - preferência para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em ações, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição, observado o disposto nos artigos 171 e 172; V - retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei. A participação dos lucros é direito essencial em todas as sociedades. Isso não significa dizer que é obrigatória a distribuição de lucros sempre, mas que um sócio não pode ser privado, discriminadamente dessa Direito Empresarial | 5 distribuição. Se não houver distribuição em um dado exercício social, isso irá valer para todos os acionistas. Também terá o acionista o direito sobre o patrimônio da sociedade, pois ao integralizar ele contribuiu para a sua formação e se a sociedade for liquidada ele receberá sua proporção. O direito de preferência se refere a todas as formas de criação de novos investimentos na sociedade, pois o acionista deve ter o direito de buscar manter a porcentagem no capital caso sejam aumentadas as ações. Se ele tem 20 % das ações do capital social, quando houver emissão de novas ações ou algum outro tipo de financiamento que aumente o capital da S.A, esse sócio tem direito de preferência investir mais 20%, para manter sua porcentagem. Caso queria investir mais, não terá preferência, terá que obedecer à ordem já existente. Por exemplo, terá que esperar que o demais que possuem porcentagem maior não queiram investir, para ele poder investir mais e assim obter maior poder de decisão sobre a S.A (quem tem maior porcentagem no capital tem maior poder de mando). Observem que não há, nos direitos essenciais, o direito de voto. Porém, há uma situação que se deve ter atenção: o acionista que não tem direito a voto ou o tem de maneira restrita e recebe preferência na distribuição de lucros recebe valores maiores, porém, como ele não vota, fica sujeito à decisão dos ordinaristas (acionistas com direito à voto) sobre a partilha dos lucros. Classificação das S.A Abertas: é aquela que está autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários1 (CVM) a negociar os seus valores mobiliários no mercado de 1 É vinculada ao Ministério da Fazenda, tendo poderes de agência reguladora.Foi ciada em 1976. Antes de 1976, quem fiscalizava o mercado de capitais era o Banco Central, o que não deu muito certo, pois a bolsa do RJ teve problemas graves em 1971, surgiu necessidade de um órgão específico para isso. Ela fiscaliza, regulamente o funcionamento e autoriza quem entra nesse mercado. Ela analisa se uma S.A tem condições de entrar e de permanecer no mercado. 6 | Direito Empresarial capitais2. O objetivo é fazer capitação de recursos no mercado, quando não consegue mais levantar crédito junto a instituições financeiras. (art 3o da lei das S.A) OBS: A CVM é uma autarquia federal criada pela Lei n° 6.385/76 para fiscalizar as S.A abertas, pois o movimento de venda de ações gera um grande interesse social e principalmente econômico. Fechadas: não contam com autorização da CVM para negociar os seus valores mobiliários (art.4o LSA). São negociadas dentro da própria sociedade. Ou seja, para que eu me torne acionista, tenho que conhecer alguém que esteja interessado em vender ações. Não tenho lugar público para entrar em contato com o acionista, esse se revela o âmbito fechado desse tipo de S.A. Constituição da S.A: A constituição da sociedade anônima ocorrerá de duas maneiras diferentes, a depender do tipo. Porém, independentemente de ser a constituição de uma S.A aberta ou fechada, terão que ser observadas três etapas que passaremos a analisar. Etapa 1: Requisitos preliminares: art. 80 lei S.A Subscrição, por pelo menos duas pessoas, de todas as ações em que se divide o capital social fixado no estatuto da sociedade; Prévio PAGAMENTO, realização, como entrada, de 10% no mínimo, do preço de emissão das ações subscritas em dinheiro; [Exceção: Instituições financeiras (50%) e outras companhias para as quais a lei exige percentual maior]. Que seja depositado no Banco do Brasil ou outro estabelecimento bancário autorizado pela Comissão de Valores Mobiliário (CVM), da parte do capital realizado em dinheiro. 2 Formado pela Bolsa de valores e pelo Mercado de Balcão, o Mercado de Capitais é um termo abstrato que se refere ao lugar público que possui essa oferta e compra de títulos emitidos pela S.A. É fiscalizado pela Comissão de Valores Mobiliário - CVM). (Art.3º da LSA, e art.22 da lei 6385/76- trata da CVM). Direito Empresarial | 7 Etapa 2: Subscrição. Se os três requisitos estiverem devidamente preenchidos, passa- se à próxima etapa que é conhecida como subscrição. A companhia será criada por subscrição pública se ela for de capital aberto ou por subscrição particular se ela for de capital fechado. Constituição por Subscrição Pública (sucessiva): quando para completar o montante do CS se fizer necessária a captação de recursos no mercado. As S.A abertas se constituem por meio de subscrição pública de ações. Depende de prévio registro da emissão na CVM e precisa da intermediação de instituição financeira. A companhia aberta gera interesse público, pois ela terá grande responsabilidade sobre o movimento do mercado de capitais e, consequentemente, sobre o sistema econômico do país. Nesse contexto, não se pode permitir que sejam constituídas sociedades que já nasçam sem boas perspectivas, por isso o crivo da CVM para análise da viabilidade econômica da sociedade (ROSSIGNOLI, 2015, p. 162). Constituição por Subscrição Particular (simultânea): se dá quando total do capital necessário à sociedade já houver sido obtida pelos próprios fundadores da companhia. Não há que se falar em intervenção da CVM para sua constituição tendo em vista que a companhia fechada não movimenta o mercado de capitais e exatamente por isso não tem como captar os investidores no mercado, ou seja, para criar a S.A. Fechada, os fundadores irão buscar os investidores de modo particular, apresentado diretamente a proposta para a criação da sociedade. Etapa 3: Registro e Publicação. Após a subscrição, o estatuto deverá ser registrado na Junta Comercial, momento em que a sociedade passa a ter personalidade jurídica. Posteriormente ele deve ser publicado, em até 30 dias, em jornal de grande circulação local. Finalmente a S.A estará constituída e regularizada. Percebam que se revela um procedimento bastante burocrático. 8 | Direito Empresarial AÇÕES: O capital social é dividido em ações, que constituem o principal valor mobiliário emitido pela companhia. A ação é livremente negociável e pode ser penhorada para a garantia de dívidas pessoais de seus titulares, sem que, para tanto, a comunidade dos sócios tenha que ser previamente consultada. Em regra, o acionista não tem direito pleno de exigir a restituição do valor da ação em caso de querer sair da sociedade, de modo que obterá a restituição mediante a negociação com terceiros. Assim, a princípio, uma ação não poderia ser liquidada, mas vendida para um terceiro, o qual entraria na sociedade anônima. Enquanto o sócio quotista pode exigir da sociedade a restituição do percentual correspondente de sua quota aplicada sobre o valor do patrimônio líquido calculado a data de sua retirada (valor de crédito), o acionista NÃO pode! Ademais, só há livre circulação de ações (compra e venda, com o consequente ingresso de terceiros), e não de quotas! Quanto ao valor: Valor Nominal: corresponde ao resultado da divisão do valor do Capital Social (CS) pelo quantitativo (quantidade) de ações. A finalidade de atribuir valor nominal às ações é de oferecer certa garantia aos acionistas em face da diluição de seu patrimônio acionário (situação em que a S.A emite novas ações com valor de emissão inferior ao valor patrimonial das ações já existentes, ou seja, a diluição equivale à redução do valor patrimonial das ações). O Art. 13: da lei das S.A prevê “É vedada a Direito Empresarial | 9 emissão de ações por preço inferior ao seu valor nominal”. Nesse sentido, a lei cria um limite para a diluição. Portanto, o estatuto que atribui às ações valor nominal resguarda, relativamente, os acionistas dos efeitos da diluição. Se o CS de uma sociedade anônima é de 500.000,00 e ela conta com 500 ações, o valor nominal será de um mil reais. (Montante do CS / Quant. das ações = valor nominal das ações). Ex2: CS de 1.000.000 e emitiu 100.000, o valor nominal será de 10 reais. CS / Quant. das ações = valor nominal das ações Valor de negociação: nas S/A há livre circulação de ações, sendo estas, portando, documentos negociáveis. Nesse sentido, o valor de negociação é exatamente o valor obtido com a alienação da ação. Valor patrimonial: corresponde à participação do sócio no patrimônio líquido da companhia. Calcula-se por meio da divisão do patrimônio líquido pela quantidade de ações. (PL / Q de ações). O cálculo do valor patrimonial da ação é de suma importância em situação de liquidação da CIA. Após o balanço patrimonial, na partilha do saldo remanescente, cada acionista receberá o valor patrimonial correspondente às ações que possuir. O Patrimônio Líquido é a diferença entre os valores do ativo (+) e do passivo (-) de uma entidade em determinado momento, ou seja, se a sociedade tem um Ativo (bens + direitos) de R$100.000,00 e um Passivo (obrigações) de R$40.000,00, o Patrimônio Líquido dessa entidade será de R$60.000,00. PL / Quant. das ações = valor patrimonial das ações Valor econômico: decorrente da avaliação de peritos (valor das ações teriam se postas à venda no mercado de capitais). Importante no caso de averiguação de responsabilidade dos administradores, cuja gestão tenha havido negociações de ações. Caso as ações tenham sido vendidas por preço muito abaixo de seu valor econômico, pode-se responsabilizar os administradores que conduziriam a negociação. Valor de emissão: estipulado unilateralmente pela S.A emissora quando esta é constituída ou quando aumenta seu capital social. OBS: seu preço de emissão não pode ser inferior ao seu valor nominal. 10 | Direito EmpresarialQuanto às vantagens: Ordinárias (ou comuns): são ações de emissão obrigatória por toda e qualquer S/A. Ações que conferem direitos comuns aos seus titulares. Por exemplo: voto (art 110 LSA), o direito de participar nos lucros e nas perdas da S/A, tudo isso sem quaisquer restrições ou privilégios. (Art.16, 110 LSA) Preferenciais: conferem aos seus titulares certas vantagens, certas preferências, certos privilégios. Por exemplo: prioridade na distribuição de lucros e prioridade no reembolso do capital. (Art.15 e 17, LSA), e na distribuição de dividendos. Vale ressaltar que as ações preferenciais, em regra, não conferem direito de voto aos seus titulares. O que são classes de ações? As ações preferenciais sempre podem ser divididas em classes, cabendo ao estatuto especificar a gama de direitos e restrições correspondente a cada uma, ou seja, a classe reúne ações cujos titulares têm os mesmos direitos e restrições. Gozo ou fruição: ações emitidas para amortizar dívidas da S.A. (Art.44, §5º, LSA). Amortização consiste “na distribuição aos acionistas, a título de antecipação e sem redução do capital social, de quantias que lhes poderiam tocar em caso de liquidação da companhia”. É um meio que a companhia dispõe para entregar antecipadamente aos acionistas as quantias que eles somente poderiam ter acesso se e quando a sociedade anônima vier a ser dissolvida, com a liquidação do seu patrimônio. Ações de fruição, decorrentes da amortização das ações, devolvem ao acionista o valor de seu investimento. Somente as ações integralmente amortizadas podem ser substituídas por ações de fruição, pois, caso contrário, haveria o fracionamento das ações, que é expressamente vedado pelo artigo 28 da Lei n. 6.404/76. Direito Empresarial | 11 As ações ora estudadas podem ser convertidas, ou seja, são conversíveis de um tipo a outro, de acordo com o que dispuser o estatuto social. Quanto à forma de circulação Quanto à forma, a teor do art. 20 da Lei de S.A., temos que as ações devem ser nominativas, e quanto a esse aspecto dividem-se em nominativas e escriturais, cuja classificação se dá pela forma de transferência da sua titularidade (ROSSIGNOLI, 2015, p. 170). Nominativas: são aquelas cujos titulares encontram-se nominados no livro de registro de ações nominativas. Portanto, o proprietário desse tipo de ação tem o seu nome consignado, lançado no chamado livro de registro de ações nominativas. (art.31 da LSA) O registro no livro é condição indispensável para que se opere validamente a transferência da propriedade da ação. Exigem solenidade e possuem um certificado. Escriturais: as ações escriturais não são transferidas por termo em livro próprio, mas sim por conta de depósito, através de movimentação bancária (virtualmente), de um ato escritural e não a partir da consignação no livro de registro das ações nominativas. Não possuem certificado. (Art. 34 LSA) Somente instituições financeiras autorizadas pela CVM podem manter serviços de ações escriturais. 12 | Direito Empresarial Demais valores mobiliários Valores mobiliários são títulos de investimento, emitidos pela S/A para captação de valores no mercado. Além das ações, as S.A podem emitir debêntures, bônus de subscrição e partes beneficiárias. No caso das Debêntures (art.52 a 74 da LSA), terceiros pagam à sociedade pela aquisição delas, investindo-se na condição de debenturistas, gozando de um direito de crédito oponível àquela SA no futuro, nos termos da inscrição dessa debênture. Funciona, para a AS como um empréstimo. Esses ‘investidores’ têm direito de restituição dos recursos prestados com acréscimo remuneratórios. Imagina que uma S/A formada por 10 sócios vive uma dificuldade de caixa importante. Não há mais como recorrer a instituições financeiras porque o crédito foi todo tomado. Todavia, a busca de linhas de crédito em instituições financeiras não se revela a única alternativa. A S.A poderá emitir títulos de investimento (por exemplo: as debêntures) e negociá-las no mercado de capitais (S.A aberta) ou com terceiros conhecidos (fechada). Então, as debêntures serão adquiridas por terceiros e, naturalmente, quando eles adquirem essas debêntures, eles estão pagando por essa aquisição e, dessa maneira, injetando dinheiro na S/A e, com isso, haverá captação de recursos a partir destas, que são uma expressão de títulos de investimento (debêntures). Já as Partes beneficiárias (art.47§ único, da LSA) não poderão ser emitidas pelas S/A abertas, mas unicamente pelas S/A fechadas. Elas não possuem valor nominal, e são estranhas ao capital social. As partes beneficiárias conferem aos seus titulares direito de crédito, que consiste na participação nos lucros anuais da sociedade até o limite de 10% do lucro da empresa. É um negócio de alto risco, pois o detentor desse valor mobiliário somente obterá vantagens se a sociedade der lucros, o que pode não ocorrer Por fim, o Bônus de subscrição (art.75-79 da LSA): representa uma espécie de valor mobiliário, que atribui ao seu titular direito de preferência para subscrever novas ações da companhia por ocasião do aumento do Direito Empresarial | 13 seu Capital Social. Se o capital da SA vai ser objeto de aumento, o titular do bônus de subscrição goza de direito de preferência para subscrever essas novas ações da SA que estão sendo objeto de aumento. CAPITAL SOCIAL: O capital social pode ser entendido como uma medida da contribuição dos sócios para a sociedade anônima. Para dar início à sua atividade econômica, a companhia necessita de recursos, ou seja, máquinas, tecnologia, serviços, trabalho e outros meios, cabendo aos sócios prover tais recursos. Ao transferirem a propriedade de dinheiro bem ou crédito para a S.A, recebem ações correspondentes ao valor investido. Uma vez iniciada a atividade, pode ocorrer de a sociedade necessitar de mais recursos, e os acionistas (pelo voto da maioria com direito de voto) entenderem que é caso de ampliar a contribuição deles para o desenvolvimento da empresa. No caso de integralização do CS por meio de bens, segundo art. 7º LSA, devem ser suscetíveis de avaliação em dinheiro. Para tanto, é preciso que 3 peritos avaliem o bem, exigência que não tem na sociedade LTDA. Já no caso de ser por meio de crédito, essa forma de capitalização é condicionada à concordância da maioria dos demais sócios que podem votar na S.A. Nesse contexto, as sociedades têm duas maneiras de obter recursos: capitalização e financiamento. No primeiro caso, recebe dos sócios os recursos, não tendo ela o dever de restituir ou remunerar, 14 | Direito Empresarial embora possa fazê-lo se atendidos certos pressupostos econômicos e jurídicos. No segundo caso, seja por financiamento bancário ou por autofinanciamento (emissão de debêntures), a S.A se torna devedora dos prestadores de recursos, isto é, tem a obrigação de restituir o valor destes, com os acréscimos remuneratórios. Sobre o capital social da S.A predomina o princípio da intangibilidade do capital social, o qual estabelece que, em princípio, a sociedade está proibida de restituir recursos correspondentes aos sócios. Salvo em casos específicos legais, se querem sair da sociedade e receber o valor de suas ações, devem vender tais valores mobiliários a terceiros. Diferentemente do que ocorre com as sociedades de pessoas, segundo Fábio Ulhoa Coelho (2011, p. 181; 197), o capital social não tem função de garantia dos credores, essa garantia é função do patrimônio da sociedade (ativo e passivo). Por conta disso, ao avaliarem uma S.A, os analistas não atribuem absoluta importância ao CS, prestando maior atenção a outros indicadores, como resultados, ativo, passivo, liquidez. Assim, o prestador de recursos, na condição de acionista, tem o retorno de seu investimento condicionado ao sucesso da empresa e decorrentes lucros da companhia.Meios de obter recursos Capitalização: Sócios Financiamento Bancário Direito Empresarial | 15 A Companhia NÃO tem a obrigação de restituir, com acréscimos remuneratórios, os recursos nela aportados a título de capitalização. Contudo, pelos recursos decorrentes de autofinanciamento ou financiamento bancário, responde na condição de devedora. Vale ressaltar que o montante da contribuição dos sócios nem sempre coincide com o montante do capital social, apenas se o preço de emissão é igual ao valor nominal das ações. Nessa situação, a parte do preço que supera o valor nominal (denominada ágio) deve ser contabilizada como reserva de capital. Essa observação é relevante para que se esclareça que o capital social é apenas uma medida das contribuições dos sócios, e não necessariamente a medida. Em suma: - Contribuição dos sócios = CS (soma das ações nominais) + Reserva de Capital - Preço da emissão > valor nominal : ágio -> vai para a Reserva de Capital O CS pode ser, voluntariamente, reduzido em razão de perda ou excessividade. Nesse último caso, os recursos podem ser apropriados em reservas, permanecendo no patrimônio da Companhia, ou restituídos aos acionistas. Por outro lado, o CS pode ser aumentado com a emissão de novas ações, em que há o ingresso de mais recursos na sociedade, e também pode ser majorado sem haver a captação de novos recursos, sendo por meio da captação de lucros ou reservas e por meio de conversão de valores mobiliários em ações. Quando se opera a capitalização de lucros ou reservas, pode (não é obrigatório) a Companhia emitir novas ações para distribuí-las, 16 | Direito Empresarial proporcionalmente, entre os acionistas ou manter o mesmo número, caso em que elas terão o seu valor nominal majorado. Por conta disso, a capitalização de lucros ou reservas é chamado de aumento gratuito do CS, já que não importa alteração no patrimônio líquido da S.A. A outra hipótese de aumento do capital sem ingresso de recurso decorre da conversão de valores mobiliários (partes beneficiárias e debêntures) em ações, em que o titular do valor mobiliário torna- se acionista e opera-se o concomitante aumento do capital social. No entanto, não se pode considera-la um aumento gratuito, pois ela acarreta a redução do passivo, na medida em que o investidor deixa de ser o titular de direito creditício perante a S.A e torna-se sócio do negócio, sujeito aos sucessos ou insucessos da empresa. Redução do Capital social: 1) por perda: em razão do insucesso no desenvolvimento da atividade empresarial. Capital referido no estatuto # dos recursos que, de fato, titulariza; 2) por excesso: considera excessivo o CS para as necessidades de seus negócios; Aumento do Capital Social: 1) emissão de novas ações 2) conversão de debêntures ou partes beneficiárias em ações 3) recursos decorrentes de lucros ou reservas. Para melhor compreensão das sociedades de capital e como a quantidade de ações para cada acionista influencia nas decisões da sociedade, assista ao filme “Mauá: o imperador rei”. Direito Empresarial | 17 Órgãos Societários: A companhia se desdobra em vários órgãos, vezes por exigência jurídica, vezes por objetivos administrativos. 1. Assembleia Geral: Órgão máximo da companhia. Regulado pelos arts.121-137 da LSA É o órgão deliberativo da companhia, deliberativo por excelência Conta com poderes para decidir sobre todos os negócios relativos ao objeto e desenvolvimento da atividade. Assembleia geral ordinária (132, LSA) Assembleia Geral extraordinária (135 e 136, LSA – 131 e 132): quando tratar de tema não elencado no art 132 Representa a congregação de vontades individuais dos sócios que são somadas, e o resultado da deliberação da assembleia é a expressão da vontade da sociedade. 2. Conselho de administração: Regulada pelos arts.138-142, LSA. Deve ser composto por ao menos 3 acionistas PF Cuida-se de órgão de formação facultativa Tem a responsabilidade de orientar os negócios da companhia. Ele responde pela orientação geral dos negócios da S/A Ele será obrigatório nas companhias abertas, companhia de capital autorizado e companhia de economia mista. 3. Diretoria: Órgão executivo por Excelência. Executa o que a Assembleia decide. Órgão de representação da SA. Art.143 e 144 da LSA 18 | Direito Empresarial 4. Conselho Fiscal: Art.161 e 165 da LSA Órgão de fiscalização e controle da administração da S/A. Órgão obrigatório para todas as companhias, ainda que o seu funcionamento seja facultativo. Sociedade Comandita por Ações É regida pelas normas relativas às sociedades anônimas (artigos 280 e seguintes da Lei 6.404/76), mas possui duas categorias de sócios: o acionista diretor e os que não participam da administração. Somente os acionistas podem ser diretores, respondendo ilimitadamente pelas obrigações da sociedade empresária, enquanto os sócios que não participam da administração possuem responsabilidade limitada ao capital social. Assim como as S/As, pode ser empresa de capital aberto (ações em Mercado de Capitais). A sociedade comandita por ações é um tipo societário no qual o capital está igualmente dividido em ações e que se rege pelas normas aplicáveis à sociedade anônima. Seu capital social é formado pela retirada do patrimônio do sócio, seja dinheiro, bens suscetíveis de valor econômico ou direitos, transferindo-os para o sustento da sociedade (ROSSIGNOLI, 2015, p. 200). Tanto na sociedade anônima (S/A) e como na comandita por ações (C/A), os acionistas não têm o direito de impedir o ingresso de terceiro não sócio na sociedade, assegurado o princípio da livre-circulação das ações (LSA, art. 36). Nestas sociedades, as ações são sempre penhoráveis por dívida de sócio e a morte não autoriza a dissolução parcial, seja a pedido dos sobreviventes ou dos sucessores. (COELHO, 2002). Diferencia-se da sociedade anônima pela questão dos diretores terem que ser acionistas e responderem ilimitadamente pelas obrigações sociais, e talvez este seja justamente o motivo pelo qual sua utilidade prática nos dias atuais seja quase inexistente. Direito Empresarial | 19 DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE DE CAPITAIS • TOTAL: Em sociedade por ações, o procedimento de dissolução não segue as regras previstas no CC/02, mas as regras da LSA (lei 6404/1976), apesar de acabarem sendo bem semelhantes, conforme veremos a seguir. Art. 206. Dissolve-se a companhia: I - De pleno direito: a) pelo término do prazo de duração; b) nos casos previstos no estatuto; c) por deliberação da assembleia-geral (artigo 136, número VII); c) por deliberação da assembleia-geral (art. 136, X); d) pela existência de 1 (um) único acionista, verificada em assembleia-geral ordinária, se o mínimo de 2 (dois) não for reconstituído até à do ano seguinte, ressalvado o disposto no artigo 251; e) pela extinção, na forma da lei, da autorização para funcionar. II - Por decisão judicial: a) quando anulada a sua constituição, em ação proposta por qualquer acionista; b) quando provado que não pode preencher o seu fim, em ação proposta por acionistas que representem 5% (cinco por cento) ou mais do capital social; c) em caso de falência, na forma prevista na respectiva lei; III - por decisão de autoridade administrativa competente, nos casos e na forma previstos em lei especial. 20 | Direito Empresarial No caso de dissolução por decisão judicial prevista na regra do art 206, II, b, o STJ (RESP 408.122/PR) já se pronunciou acerca da possibilidade da desistência da ação por um dos autores, no curso do processo: Portanto, em caso de dissolução total requerida no Judiciário quando provado que a Companhia não pode mais preencher o seu fim, a desistência só cabe quando subscrita por unanimidade dos sócios que pleitearam a ação. Ademais, o requisito de 5% da titularidade do capital social só é exigido no momento da propositura da ação. A Companhiadissolvida conserva a Personalidade Jurídica até a extinção, para ultimar as obrigações e realizar a liquidação, nos termos do art 207 LSA. Quanto ao nome empresarial, o art. 212 determina que, assim como nas sociedades de pessoas, o liquidante deverá usar a denominação social seguida das palavras ‘em liquidação’. Ocorrendo um dos atos de dissolução, passa-se à fase de liquidação, em que haverá o pagamento dos credores. Sendo ela extrajudicial (art 206, I), salvo disposição contrária no estatuto, o liquidante será nomeado pela Assembleia – Geral ou pelo Conselho de Administração, caso exista. O Art. 208 §2o da LSA prevê que o liquidante poderá ser destituído, a qualquer tempo pelo órgão que o tiver nomeado. Contudo, nada impede Direito societário. Ação de dissolução de sociedade anônima, proposta por acionistas minoritários. Quórum mínimo atendido na data da propositura da ação. Desistência da ação por um dos autores, no curso do processo. Homologação pelo juízo. Correspondente diminuição da participação detida pelos autores no capital social da companhia a ser dissolvida, para patamar inferior ao mínimo legal. Irrelevância. - A titularidade de 5% do capital social da companhia, em ações de dissolução proposta com base no art. 206 da Lei das S.A., é condição a ser preenchida na data da propositura da demanda, sendo irrelevantes as alterações nesse percentual ocorridas no curso do processo. - Na hipótese dos autos, a desistência de um dos litigantes não poderia prejudicar os demais. Sendo necessário o litisconsórcio formado por ocasião da propositura da ação, o consentimento dado pelo autor no início do processo não pode ser revogado em seu curso. A desistência só pode ser admitida caso subscrita por todos os autores. Recurso especial conhecido e provido. Direito Empresarial | 21 que os acionistas requeiram a destituição judicial do liquidante, caso se verifique o descumprimento de alguns dos seus deveres, estabelecidos no art. 210 LSA. Cumpre destacar que, nas assembleias-gerais realizadas durante a fase de liquidação da companhia, todas as ações passam a ser iguais no que diz respeito ao direito de voto, conforme art. 213 §1º LSA: “Nas assembleias-gerais da companhia em liquidação todas as ações gozam de igual direito de voto, tornando-se ineficazes as restrições ou limitações porventura existentes em relação às ações ordinárias ou preferenciais; cessando o estado de liquidação, restaura-se a eficácia das restrições ou limitações relativas ao direito de voto”. A última fase, que é a da partilha, também possui regras semelhantes às dispostas no CC/02. Art. 215. A assembleia-geral pode deliberar que antes de ultimada a liquidação, e depois de pagos todos os credores, se façam rateios entre os acionistas, à proporção que se forem apurando os haveres sociais. § 1º É facultado à assembleia-geral aprovar, pelo voto de acionistas que representem 90% (noventa por cento), no mínimo, das ações, depois de pagos ou garantidos os credores, condições especiais para a partilha do ativo remanescente, com a atribuição de bens aos sócios, pelo valor contábil ou outro por ela fixado. § 2º Provado pelo acionista dissidente (artigo 216, § 2o) que as condições especiais de partilha visaram a favorecer a maioria, em detrimento da parcela que lhe tocaria, se inexistissem tais condições, será a partilha suspensa, se não consumada, ou, se já consumada, os acionistas majoritários indenizarão os minoritários pelos prejuízos apurados. 22 | Direito Empresarial Dessa maneira, por votação dos acionistas que representem o mínimo de 90 % do CS, é facultado estabelecer condições especiais de partilha. Por outro lado, se algum sócio se sentir prejudicado e conseguir provar, a partilha é suspensa (caso não consumada) ou haverá o pagamento de indenização (se consumada). • Parcial Conforme já discutido, na dissolução parcial, não há a extinção da sociedade, mas apenas a resolução desta para um sócio e sua consequente apuração de haveres e possível redução no capital social. Ocorre que, tendo em vista ser predominante o princípio da intangibilidade do capital social nas sociedades por ações, em razão da ausência de affectio societatis nesse tipo societário e do fato de o direito de retirada do acionista estar previsto taxativamente na Lei 6404/1976, durante muito tempo essa possibilidade foi negada em juízo. A virada na orientação jurisprudencial do STJ iniciou com o Recurso Especial 111.294/PR, Relator p/ Acórdão Min. Cesar Asfor Rocha, julgado pela Quarta Turma em 19/09/2000 e publicado em 28/05/2001. Vejam: COMERCIAL. SOCIEDADE ANÔNIMA. DISSOLUÇÃO PARCIAL. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. Nas sociedades anônimas o direito de retirada do acionista é restrito às hipóteses do art. 137 da Lei 6.404/76, apresentando-se impossível o pedido de dissolução parcial da sociedade, próprio das empresas organizadas por quotas de responsabilidade limitada, sem relevo a qualificação de coligada da empresa acionista, cuja condição poderá ser desfeita mediante alienação de ações de modo a reduzir a menos de dez por cento do capital da sociedade anônima.” (AgRg no Ag 34.120/SP, Rel. Ministro Dias Trindade, Terceira Turma, julgado em 26/04/1993, DJ 14/06/1993). Direito Empresarial | 23 Hoje, a jurisprudência, baseada nos precedentes do STJ, tem permitido a dissolução parcial apenas em Sociedades Anônimas de capital fechado organizadas como grupos familiares, quando houver a affectio societatis. Assim, verificada a quebra desse vínculo, é preferível a dissolução parcial da sociedade, com a continuação desta, do que a sua dissolução total. “DIREITO COMERCIAL. SOCIEDADE ANÔNIMA. GRUPO FAMILIAR. INEXISTÊNCIA DE LUCROS E DE DISTRIBUIÇÃO DE DIVIDENDOS HÁ VÁRIOS ANOS. DISSOLUÇÃO PARCIAL. SÓCIOS MINORITÁRIOS. POSSIBILIDADE. Pelas peculiaridades da espécie, em que o elemento preponderante, quando do recrutamento dos sócios, para a constituição da sociedade anônima envolvendo pequeno grupo familiar, foi a afeição pessoal que reinava entre eles, a quebra da affectio societatis conjugada à inexistência de lucros e de distribuição de dividendos, por longos anos, pode se constituir em elemento ensejador da dissolução parcial da sociedade, pois seria injusto manter o acionista prisioneiro da sociedade, com seu investimento improdutivo, na expressão de Rubens Requião. O princípio da preservação da sociedade e de sua utilidade social afasta a dissolução integral da sociedade anônima, conduzindo à dissolução parcial. Recurso parcialmente conhecido, mas improvido. (REsp 111.294/PR, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, Rel. p/ Acórdão Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em 19/09/2000, DJ 28/05/2001, p. 161)” 24 | Direito Empresarial Operações Societárias Olá turma! Vamos aprender mais hoje? “O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário. ” (Albert Einstein). Sabendo disso, não se precisa de pressa, precisa-se de foco. Persista na busca de sua realização profissional, que a vitória chegará. Para cada dia, uma preocupação. Nesta unidade, vamos discutir as operações societárias e suas respectivas consequências no âmbito jurídico. TERMOS-CHAVE: Transformação; Fusão; Incorporação; Cisão. Direito Empresarial | 25 6. OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS Ao se constituir uma sociedade não se tem como prever como será o seu desenvolvimento e como ela irá atuar no mercado. Por isso a estrutura societária nem sempre irá se manter intacta, sendo que por vezes os sócios se veem na necessidade de alterar o formato da sociedade, unindo-se a outra, alterando o tipo societário, transferindo parcela de seu patrimônio, dentre outras situações. Essas modificações pelas quais as sociedades podem passar são conhecidas como operações societárias, que serão discutidas a seguir. A matéria está disciplinada tanto na LSA (lei 6404/1976) quanto no Código Civil. No caso de umaS.A participar de uma operação societária, o que é bastante comum, aplicam-se as regras previstas na LSA, em razão da especialidade desse diploma legislativo. Todavia, se a operação não conta com a participação de uma sociedade anônima, aplicam-se as regras do CC/02. Sobre esse tema, dispõe o Enunciado 70 do CJF: “As disposições sobre incorporação, fusão e cisão previstas no Código Civil não se aplicam às sociedades anônimas. As disposições da Lei n. 6.404/76 sobre essa matéria aplicam-se, por analogia, às demais sociedades naquilo em que o Código Civil for omisso”. 6.1 Transformação Antes Sociedade limitada Depois Sociedade anônima Sociedade Calçados LTDA Companhia Calçados Transformação 26 | Direito Empresarial A transformação se caracteriza pela mera alteração do tipo societário sem que, para tanto, sejam necessárias a dissolução e a liquidação (art 220 LSA; 1.113 CC/02). Admite-se a transformação de uma sociedade limitada para uma sociedade em nome coletivo e vice- versa, de uma sociedade anônima para uma limitada e vice-versa, dentre outros, não há restrições para essa operação. Imaginemos, por exemplo, que dois sócios criaram uma pequena loja de departamento, e escolheram a sociedade limitada como o tipo societário que mais se adequava ao tipo de atividade. Com o decorrer do tempo, tal negócio começa a crescer, à ponto de eles perceberem a necessidade de uma maior capitação de investimentos. Procuram um advogado que os sugere uma transformação para sociedade anônima de capital fechado, pois assim poderão emitir debêntures e ter uma forma mais viável de conseguir o investimento necessário. (ROSSIGNOLI, 2015, p. 209). Por se tratar de uma mudança de grande profundidade na sociedade, a deliberação acerca da transformação exige, em regra, votação unânime, salvo nos casos em que o ato constitutivo (contrato ou estatuto) da sociedade transformada já contenha expressa disposição autorizando a operação. Nesse último caso, aprovando-se a transformação por maioria, permite a lei que o sócio dissidente se retire da sociedade, nos termos do art. 221 da Lei de S.A. e do art. 1114 do Código Civil vigente. Art. 221. LSA A transformação exige o consentimento unânime dos sócios ou acionistas, salvo se prevista no estatuto ou no contrato social, caso em que o sócio dissidente terá o direito de retirar-se da sociedade. Parágrafo único. Os sócios podem renunciar, no contrato social, ao direito de retirada no caso de transformação em companhia. Direito Empresarial | 27 Art. 1.114. CC/02 A transformação depende do consentimento de todos os sócios, salvo se prevista no ato constitutivo, caso em que o dissidente poderá retirar-se da sociedade, aplicando-se, no silêncio do estatuto ou do contrato social, o disposto no art. 1.031. V ou F? ( ) Com relação aos procedimentos de reorganização societária de uma sociedade anônima, é correto afirmar que a transformação é a operação pela qual a sociedade muda seu tipo societário, independentemente, porém, de sua dissolução e liquidação, e dependerá da aprovação de no mínimo 4/5 (quatro quintos) dos sócios cotistas. Nota-se que a mesma é falsa, por contrariar o que expressa o artigo 221 da Lei 6.404/76, ao cobrar, como regra geral, o consenso unânime. A falência produz efeitos em relação aos sócios da empresa falida de acordo com o tipo societário adotado. Por exemplo: os sócios de uma sociedade limitada, falida, não respondem pessoalmente pelas obrigações da massa falida3, salvo nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, já os sócios de uma sociedade em nome coletivo falida responderão com seus bens particulares, caso os da massa falida não forem suficientes para satisfazer os débitos sociais. Por conta disso, havendo falência da sociedade transformada, há de se distinguir entre credores anteriores e posteriores à transformação (LIMA, 2014, p. 927). Quanto aos créditos constituídos após a transformação, a falência ocorrerá de forma normal, de conformidade com o novo tipo societário. 3 A massa falida consiste no acervo de bens pertencentes ao falido (sociedade ou sócio ou empresário individual) após a sentença declaratória de falência decretando a perda do direito à administração e à disposição do referido patrimônio. Trata-se de um ente despersonalizado voltado à defesa dos interesses gerais dos credores do falido. A massa falida é o substituto processual do falido nos processos, sendo representada por um síndico, que é o seu administrador (GONÇALVES, 2003, p. 193). 28 | Direito Empresarial No que tange aos créditos constituídos anteriormente à transformação, o parágrafo único do art 1.115 CC/02 (assim como o art 222 LSA) faculta aos respectivos titulares o direito de pedir que, somente quanto a eles, a falência produza efeitos em relação aos sócios de massa falida, na forma da legislação pertinente ao tipo societário anterior à transformação. Todo o ato constitutivo deverá ser refeito para se adaptar ao novo tipo societário, sendo que é possível até mesmo a transformação de uma sociedade simples para uma empresária ou vice-versa, caso haja mudança no objeto social. Em virtude da recente mudança que foi feita no Código Civil foram alterados o art. 968 e o 1033. O primeiro dispositivo passou a contar com um § 3° que tem a seguinte redação: A lei apenas está garantindo a simplificação dos procedimentos administrativos e fiscais, ao permitir que o empresário individual aproveite seu CNPJ na sociedade que constitui com seus sócios. Já no art. 1033 foi acrescentado um parágrafo único que dispõe: 6.2 Fusão A fusão irá ocorrer quando uma ou mais sociedades unem-se, criando uma nova sociedade e extinguindo as anteriores. Essa nova sociedade irá suceder as anteriores em todos seus direitos e obrigações (Art. 228 LSA e 1.119 CC/02). Ademais essa operação societária poderá ocorrer entre sociedades de diversos tipos societários, inclusive entre sociedades simples e empresárias. § 3° Caso venha a admitir sócios, o empresário individual poderá solicitar ao Registro Público de Empresas Mercantis a transformação de seu registro de empresário para registro de sociedade empresária, observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código. Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio remanescente, inclusive na hipótese de concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro Público de Empresas Mercantis, a transformação do registro da sociedade para empresário individual ou para empresa individual de responsabilidade limitada, observado, no que couber. o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código. Direito Empresarial | 29 Não se tem uma absorção do corpo de uma sociedade por outra, MAS O SOMATÓRIO de dois corpos societários, CONSTITUINDO UM TERCEIRO corpo societário. Somam-se os patrimônios (ativo e passivo) e as coletividades sociais (sócios quotistas e/ou acionistas), emergindo um novo corpo social, extintas as sociedades anteriores (artigos 1.119 do Código Civil e 228 da Lei 6.404/76), ainda que se opte por dar à terceira pessoa o nome de uma das duas sociedades que se fundiram (MAMEDE, 2012, p. 142) Imaginemos que eu tenho a sociedade A, produtora de leite e a sociedade B que faz pasteurização de produtos derivados do leite. Essas duas sociedades percebem que estão perdendo espaço para uma concorrente que faz as duas atividades e então surge a proposta para que elas se fundam. Irão desaparecer, como pessoa jurídica, tanto a sociedade A, quanto a sociedade B e será criada a sociedade C que irá sucedê-las em todos os direitos e obrigações (ROSSIGNOLI, 2015, p. 210). Em regra, o interesse em se realizar a fusão é para que a sociedade nova seja mais forte e competitiva no mercado, mas tal operação irá depender de aprovação do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), pois poderá representar risco à liberdadede concorrência, se se configurar domínio de mercado. Vale ressaltar que, para que ocorra a fusão, deverá haver a aprovação dos sócios em cada sociedade que está sendo proposta. Tal operação e o quórum para aprovação irá depender de cada tipo societário. Por exemplo, no caso de fusão entre uma sociedade limitada e uma anônima, na primeira, o quórum para aprovação de uma fusão societária é a quantidade de sócios que representem pelo menos 3⁄4 do valor do capital social (ou seja, não é por cabeça, mas por valor do capital social que o sócio detém), nos termos do art 1.076, I CC/02; já no âmbito da segunda, o quórum é necessária a aprovação de acionistas A B C 30 | Direito Empresarial que representem metade, no mínimo, das ações com direito a voto, nos termos do art 136, IV LSA. A exigência da unanimidade nas votações para a aprovação de operação societária é exclusiva da transformação, não se estendendo aos demais casos (fusão, incorporação e cisão). Assim, aqueles que não concordarem com a fusão da sociedade de que pertence a outra podem exercer o direito de retirada, havendo uma dissolução parcial, conforme já estudamos na unidade anterior, mas desde que observados os requisitos legais a depender do tipo societário. Por exemplo, na circunstância de haver sócios dissidentes quanto à operação societária, a depender do tipo de sociedade, eles podem exercer o seu direito de retirada. No caso de sociedade limitada, o sócio poderá retirar-se da sociedade, nos trinta dias subsequentes à reunião (art 1.077 CC/02). Se se tratar de sociedade anônima, o acionista dissidente terá o direito de retirar-se da companhia, mediante reembolso do valor das suas ações, salvo no caso de ser titular de ação de espécie ou classe que tenha liquidez4 e dispersão5 no mercado (art 137, II LSA). 4 Quando a espécie ou classe de ação, ou certificado que a represente, integre índice geral representativo de carteira de valores mobiliários admitido à negociação no mercado de valores mobiliários, no Brasil ou no exterior, definido pela Comissão de Valores Mobiliários; 5 Quando o acionista controlador, a sociedade controladora ou outras sociedades sob seu Havendo sócios que não concordam com a operação, o que podem fazer? Podem exercer o direito de retirada da sociedade, nos termos da lei. Direito Empresarial | 31 6.3 Incorporação A incorporação segue uma ideia parecida com a da fusão que é a união de sociedades, porém, aqui, uma sociedade será mantida e as demais serão absorvidas e irão desaparecer. Portanto, haverá a extinção das sociedades incorporadas, mas não surgirá uma nova sociedade. Aprovados os atos da incorporação, a incorporadora declarará extinta a incorporada, e promoverá a respectiva averbação no registro próprio. Extinta a sociedade incorporada, ela será sucedida em todos os seus direitos e obrigações pela sociedade incorporadora (art. 1.116 a 1.118 CC/02 e 227 LSA). Art. 1.116 CC/02. Na incorporação, uma ou várias sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações, devendo todas aprová-la, na forma estabelecida para os respectivos tipos. Art. 1.117 CC/02. A deliberação dos sócios da sociedade incorporada deverá aprovar as bases da operação e o projeto de reforma do ato constitutivo. § 1º A sociedade que houver de ser incorporada tomará conhecimento desse ato, e, se o aprovar, autorizará os administradores a praticar o necessário à incorporação, inclusive a subscrição em bens pelo valor da diferença que se verificar entre o ativo e o passivo. § 2º A deliberação dos sócios da sociedade incorporadora compreenderá a nomeação dos peritos para a avaliação do patrimônio líquido da sociedade, que tenha de ser incorporada. controle detiverem menos da metade da espécie ou classe de ação A B A (Incorporadora) (Incorporada) 32 | Direito Empresarial Art. 1.118 CC/02. Aprovados os atos da incorporação, a incorporadora declarará extinta a incorporada, e promoverá a respectiva averbação no registro próprio. A incorporação apresenta, em relação à fusão, uma significativa vantagem operacional. Como a lei considera a sociedade resultante da fusão uma nova pessoa jurídica, ela deve regularizar-se na Junta Comercial e nos diversos cadastros fiscais. Ocorre que essas providências demandam tempo, durante o qual a nova sociedade não pode realizar nenhum negócio regular. Some-se isso ao fato de que as sociedades participantes da fusão deixam de existir, o que acarreta uma total paralisação da empresa. Por outro lado, na incorporação, a sociedade incorporadora sucede a incorporada, proporcionando o regular desenvolvimento dos negócios das duas. Em razão dessa considerável diferença, a fusão praticamente não existe (COELHO, 2011, p. 513). Importa destacar que o administrador de uma sociedade empresária que leva adiante qualquer operação societária sem a devida verificação da regularidade da outra sociedade envolvida não cumpre seu dever de diligência e responde pelos prejuízos resultantes. Se a sociedade incorporada, por exemplo, não recolhia corretamente determinado imposto, a incorporadora, na condição de sucessora, terá de honrar o tributo devido, com os acréscimos moratórios. Se esse passivo não é devidamente considerado na avaliação das Direito Empresarial | 33 empresas envolvidas, os sócios que compunham a incorporadora anteriormente à operação são prejudicados e têm direito ao ressarcimento contra o administrador incompetente. 6.4 Cisão De uma maneira simples, a cisão constitui em mera transferência de patrimônio de uma sociedade para outra. Haverá a cisão total quando a sociedade ocorrer a transferência de todos os bens da sociedade cindida, a qual, nessa circunstância, será extinta. Esse tipo de operação societária é regulado apenas na LSA, sendo aplicável a todos os tipos societários, e não apenas às companhias (Enunciado n. 231 da CJF, aprovado na III Jornada de Direito Civil). Art. 229. LSA A cisão é a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão. § 1º Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a sociedade que absorver parcela do patrimônio da companhia cindida sucede a esta nos direitos e obrigações relacionados no ato da cisão; no caso de cisão com extinção, as sociedades que Divisão da soc. A em duas ou mais 34 | Direito Empresarial absorverem parcelas do patrimônio da companhia cindida sucederão a esta, na proporção dos patrimônios líquidos transferidos, nos direitos e obrigações não relacionados. § 2º Na cisão com versão de parcela do patrimônio em sociedade nova, a operação será deliberada pela assembleia-geral da companhia à vista de justificação que incluirá as informações de que tratam os números do artigo 224; a assembleia, se a aprovar, nomeará os peritos que avaliarão a parcela do patrimônio a ser transferida, e funcionará como assembleia de constituição da nova companhia. [...] V ou F? ( ) A cisão total é a operação pela qual uma sociedade empresária transfere para outra sociedade já existente a totalidade dosseus ativos, permanecendo apenas com o seu passivo. A afirmativa é falsa, pois, na cisão total, a sociedade que recebe o patrimônio da cindida fica responsável solidariamente pelo passivo (obrigações) da referida sociedade extinta. Por outro lado, haverá cisão parcial quando forem transferidos apenas alguns bens da sociedade cindida para uma já existente ou para uma construída exclusivamente para esse fim, conforme a segunda parte do art 229 da LSA. CISÃO PARCIAL: não há extinção da sociedade cindida A A B Direito Empresarial | 35 Na cisão parcial, as empresas que absorveram o capital, passam a sucedê-la apenas nos direitos e obrigações que serão relacionadosanteriores à efetivação da cisão (ROSSIGNOLI, 2015, p. 213). Destaque-se ainda que a sociedade que recebe os bens da sociedade cindida pode ser sociedade constituída especificamente para tal operação ou sociedade já existente. Nesse último caso, a transferência de parcela do patrimônio obedecerá às disposições sobre incorporação (art 227 LSA). 6.5 Direito dos Credores: A) Na transformação: Art. 1.115 CC/02. A transformação não modificará nem prejudicará, em qualquer caso, os direitos dos credores. Parágrafo único. A falência da sociedade transformada somente produzirá efeitos em relação aos sócios que, no tipo anterior, a eles estariam sujeitos, se o pedirem os titulares de créditos anteriores à transformação, e somente a estes beneficiarão. Os direitos dos credores não podem ser modificados nem prejudicados pela transformação. Dever-se-á fazer distinção entre credores anteriores à transformação e os posteriores. Em homenagem ao princípio da segurança jurídica, se a sociedade sai de um tipo em que os sócios tinham responsabilidade ilimitada pelas obrigações para um tipo em que a responsabilidade é limitada, as obrigações anteriores à transformação permanecerão regidas pelo que era no tipo societário anterior. 36 | Direito Empresarial V ou F? ( ) Na transformação, os direitos dos credores não são afetados, permanecendo com as mesmas garantias oferecidas pelo tipo societário anterior, salvo no que diz respeito à responsabilidade subsidiária ou solidária dos sócios. Está falso, pois a transformação não modificará nem prejudicará, em qualquer caso, os direitos dos credores ( art. 1.115 CC/02). A lei não prevê exceções. B) Na incorporação e na fusão: O artigo 1.122 do CC/02 dispõe que o credor prejudicado pela incorporação e fusão pode pleitear judicialmente a anulação da incorporação e fusão no prazo de 90 dias da publicação de tais atos. Contudo, considerando-se que, com exceção das sociedades anônimas, as demais sociedades não tem a obrigação legal de publicar os seus atos societários, discute-se se dita publicação diz respeito à publicação feita pela Junta Comercial dos atos por ela registrados, ou se as sociedades em geral passam a ter o dever de publicar o documento societário referente à incorporação e à fusão, a fim de propiciar aos credores oportunidade de tomarem ciência da operação e pleitearem a anulação judicial se forem prejudicados. Pela Lei das S/A, o credor da companhia (incorporada ou que sofre fusão) anterior à incorporação ou à fusão, por ela prejudicado, também poderá pleitear judicialmente a anulação da operação, porém, no prazo de até 60 dias depois de publicados os atos relativos à incorporação ou fusão, após o qual, decairá o credor de tal direito, se não o tiver exercido, nos termos do art. 232 LSA. Credor prejudicado deve ser entendido como aquele que tem um dano em seu direito de crédito, que será decorrente de ato ilícito da sociedade devedora por sucessão, tendo em vista que é pressuposto da incorporação e da fusão não prejudicarem os direitos dos credores, que continuarão, até o pagamento integral de seus débitos com as mesmas garantias que a(s) sociedade(s) envolvidas lhe ofereciam. Direito Empresarial | 37 V ou F? ( ) Quando a sociedade incorporadora possuir ativo inferior ao passivo, o credor da incorporada que tiver a garantia patrimonial de seu crédito reduzida, ainda que se sinta prejudicado, não terá legitimidade para pedir a anulação da operação. Está falso, pois o credor que se sentir prejudicado poderá pedir anulação da operação no prazo de 90 dias (Art 1.122 CC/02), mas se a sociedade incorporada for anônima, o prazo é de 60 dias (Art. 232 LSA). Vale ressaltar que existe um prazo para isso, não é a qualquer tempo! ( ) A fusão de duas sociedades não pode modificar os direitos de seus credores. Verdadeiro, pois a fusão nem a incorporação podem modificar os direitos dos credores. Caso isso aconteça, os credores que se sentirem prejudicados terão prazo de 90 dias em sociedades de pessoas e 60 dias em sociedades por ações para pedir anulação da operação societária. Se a importância devida ao credor que pleiteou a anulação for depositada, o processo judicial de anulação não prosseguirá, por estar prejudicado. Se a dívida for ilíquida, poderá ser garantida à execução, com suspensão do processo de execução. Se ocorrer a falência da sociedade incorporadora, qualquer credor anterior terá direito de pedir a separação dos patrimônios, para o fim de serem os créditos pagos pelos bens das respectivas massas. Art. 1.122. CC/02 Até noventa dias após publicados os atos relativos à incorporação, fusão ou cisão, o credor anterior, por ela prejudicado, poderá promover judicialmente a anulação deles. § 1º A consignação em pagamento prejudicará a anulação pleiteada. § 2º Sendo ilíquida a dívida, a sociedade poderá garantir- lhe a execução, suspendendo-se o processo de anulação. § 3º Ocorrendo, no prazo deste artigo, a falência da 38 | Direito Empresarial sociedade incorporadora, da sociedade nova ou da cindida, qualquer credor anterior terá direito a pedir a separação dos patrimônios, para o fim de serem os créditos pagos pelos bens das respectivas massas. C) Na cisão: No que diz respeito à responsabilidade, o legislador se preocupou em proibir qualquer possibilidade de a cisão se transformar em instrumento de fraude contra os credores. A Lei de S.A. determina em seu art. 233 que, na cisão total, os direitos e obrigações se transferem para a nova sociedade, legítima sucessora daquela que se extinguiu. Caso o capital tenha sido dividido em diversas sociedades, cada qual responderá solidariamente pelas obrigações da companhia extinta. Art 233 LSA: Na cisão com extinção da companhia cindida, as sociedades que absorverem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações da companhia extinta. A companhia cindida que subsistir e as que absorverem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações da primeira anteriores à cisão. Parágrafo único. O ato de cisão parcial poderá estipular que as sociedades que absorverem parcelas do patrimônio da companhia cindida serão responsáveis apenas pelas obrigações que lhes forem transferidas, sem solidariedade entre si ou com a companhia cindida, mas, nesse caso, qualquer credor anterior poderá se opor à estipulação, em relação ao seu crédito, desde que notifique a sociedade no prazo de 90 (noventa) dias a contar da data da publicação dos atos da cisão. Direito Empresarial | 39 Na cisão total, em que a sociedade cindida é extinta, as sociedades que absorverem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações daquela. Supondo a existência de três sociedades: A, B e C. Se a sociedade A sofrer cisão total, dividindo seu patrimônio entre as sociedades B e C, estas duas irão responder de maneira solidária pelas obrigações da sociedade A, ou seja, tanto B como C estão na qualidade de devedores da eventual dívida toda de A, como se fosse único devedor. Já em caso de cisão parcial, a sociedade cindida que subsistir e as que absorverem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações da primeira anteriores à cisão. Utilizando o mesmo exemplo acima, supondo que A não deixasse de existir, permanecesse ainda com parte de seu patrimônio, B e C responderiam de maneira solidária apenas pelas dívidas de A anteriores `cisão. Caso a sociedade A contraia novas dívidas após a cisão parcial, B e C não responderão por elas. No entanto, a regra da solidariedade passiva entre as empresas envolvidas na operação de reorganização societária pode ser excepcionada. O parágrafo único do art 233 da LSA traz uma possibilidade, no contexto da cisão parcial, de se afastar a solidariedade existente entre as sociedades que absorveram o patrimônio da cindida. O ato de cisão parcial poderá estipular que as sociedades que absorverem parcelasdo patrimônio da sociedade cindida serão responsáveis apenas pelas obrigações que lhes forem transferidas, sem solidariedade entre si ou com a sociedade cindida. Assim, mediante a estipulação de cláusula expressa no protocolo de cisão é possível excepcionar a regra da solidariedade passiva acerca das responsabilidades das sociedades cindida e daquela que resultar da cisão, facultada, no entanto a oposição do credor à estipulação (PAPINI, 2015). Nessa circunstância, qualquer credor poderá se opor à estipulação em relação aos seus créditos, notificando a sociedade no prazo de 90 dias a contar da data de publicação dos atos de cisão. Feito isso, a solidariedade permanece em relação ao crédito do notificante. Conforme dito no início da unidade, as disposições sobre cisão previstas no Código Civil não se aplicam às sociedades anônimas. Por 40 | Direito Empresarial outro lado, as disposições da Lei n. 6.404/76 sobre essa matéria aplicam- se, por analogia, às demais sociedades naquilo em que o Código Civil for omisso. A cisão parcial não é prevista com detalhes no CC/02, logo deve-se utilizar a LSA para sanar tais lacunas. Nesse sentido explica Fabio Ulhoa Coelho (2014, p. 184): Nesse contexto, em âmbito de recurso especial, ratificou o Superior Tribunal de Justiça o entendimento doutrinário: De se notar que a lei das sociedades por ações, por sua abrangência e superioridade técnica tem sido aplicada a todos os tipos societários, inclusive a limitada, também por via analógica. Quer dizer, sendo o Código Civil lacunoso, poderá o juiz aplicar a LSA, mesmo que o regime de regência supletiva da limitada seja o da simples. Portanto, deve ser reconhecida a possibilidade de aplicação subsidiária das disposições da Lei 6.404/76 as sociedades por quotas de responsabilidade limitada (grifo nosso). RECURSO ESPECIAL. DIREITO EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO. PENHORA DE BENS PARA GARANTIA DA AÇÃO DE EXECUÇÃO. CISÃO PARCIAL DA EMPRESA DEVEDORA. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DA LEI DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS. SOLIDARIEDADE PASSIVA ENTRE A EMPRESA CINDIDA E A RESULTANTE DA CISÃO. 1. Os princípios contidos na Lei de Introdução ao Código Civil, por terem assumido contornos nitidamente constitucionais, não podem ser objeto de recurso especial, sob pena de, se analisados nessa via, ferir-se a esfera de distribuição de competência jurisdicional estabelecida pela Constituição Federal. 2. Viabilidade de aplicação subsidiária da Lei das Sociedades Anônimas (Lei 6404/76) às sociedades limitadas para suprir as lacunas da sua regulamentação legal. 3. Possibilidade de ser excepcionada a regra da solidariedade passiva entre as empresas na cisão parcial mediante a estipulação de cláusula expressa no protocolo de cisão acerca das responsabilidades sociais da empresa cindida e da resultante da cisão. 4. Nessa hipótese, pode haver o repasse às sociedades que absorveram o patrimônio da cindida apenas das obrigações que lhes forem expressamente transferidas, afastando a solidariedade passiva relativamente às obrigações anteriores à cisão. 5. Necessidade, porém, de cláusula expressa no pacto de cisão na forma do art. 233, e seu parágrafo único, da Lei n.o 6.404/76 6. Não reconhecimento, no caso dos autos, pelas instâncias de origem da existência de cláusula de exclusão da solidariedade passiva no Direito Empresarial | 41 Dessa maneira, doutrina e jurisprudência perfilham entendimento uniforme acerca da aplicabilidade da Lei das Sociedades Anônimas para resolver questões sobre cisão parcial dos demais tipos societários, quando o CC/02 for omisso. pacto de cisão. Súmulas 05 e 07 do STJ. 7. Precedente específico desta Corte. 8. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial no 1.396.716 – MG. Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino , julgamento em: 24/03/2015). 42 | Direito Empresarial Olá turma! Vamos aprender mais hoje? “O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário. ” (Albert Einstein). Sabendo disso, não se precisa de pressa, precisa-se de foco. Persista na busca de sua realização profissional, que a vitória chegará. Para cada dia, uma preocupação. Dissolução e Liquidação das Sociedades Direito Empresarial | 43 Conceitos No processo de encerramento de uma sociedade há 03 conceitos bem distintos: Dissolução é o ato por meio do qual se manifesta a vontade ou o dever de por um fim à existência da sociedade. A dissolução pode ocorrer por vontade dos sócios ou por determinação do poder público, nos casos previstos em lei. Já a liquidação é o processo imediatamente posterior à dissolução. Nele, ocorre a apuração de bens e direitos da sociedade, a sua venda e, com os valores apurados, realiza-se o pagamento das obrigações e a divide- se as sobras, se houverem, entre os sócios. Já a extinção diz respeito à baixa da sociedade no registro, com a averbação da prestação de contas final e da decisão de extinguir a sociedade. Previsão legal O procedimento de dissolução está previsto no Código Civil, entre os arts. 1.033 e 1.038. Em relação às Sociedades Anônimas, o procedimento é previsto entre os artigos 206 a 219, da Lei n. 6.404/76. De qualquer forma, embora existam dois regulamentos separados, o processo e os conceitos são muito parecidos. Por esse motivo, essa aula irá tomar por base as regras contidas no Código Civil. a) Dissolução; b) Liquidação; c) Extinção. 44 | Direito Empresarial Causas de Dissolução Conforme dito anteriormente, o processo se inicia com o ato que determina a vontade ou a necessidade de encerrar a empresa. Para tanto, o Código Civil estabelece as causas de dissolução, que são as hipóteses em que essa vontade ou necessidade se tornaram reais. Veja o que a lei diz: Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: I - o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado; II - o consenso unânime dos sócios; III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado; IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias; V - a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar. Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio remanescente, inclusive na hipótese de concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro Público de Empresas Mercantis, a transformação do registro da sociedade para empresário individual ou para empresa individual de responsabilidade limitada, observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código. Direito Empresarial | 45 Percebe-se que o inciso IV estabelece como uma das causas, a falta de pluralidade de sócios. Porém, o parágrafo único estabelece uma exceção, que se dá quando o sócio remanescente, aquele que ficou sozinho no quadro de sócios da sociedade, resolver transformá-la em uma EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, ou no caso dele resolver continuar a atividade como um empresário individual, pessoa física. É sempre bom lembrar, de todo modo, que antes de decidir entre a dissolução ou a transformação, o sócio remanescente terá 180 dias (não confunda com seis meses, pois esse prazo é contado em dias, numa soma que não completa um semestre), para tentar recompor a pluralidade de sócios. Além disso, se for sociedade por tempo DETERMINADO, somente a unanimidade dos sócios pode dissolvê-la; se for por tempo indeterminado, basta a vontade da maioria absoluta. É bom observar, ainda, que se chegar ao fim do prazo e não for providenciada a dissolução (não entrar em liquidação), haverá a prorrogação da sociedade por prazo indeterminado. Nesse caso, entretanto, a sociedade passará a ser IRREGULAR, sendo-lhe aplicáveis as regras da sociedade emcomum. Além disso, há a previsão expressa das hipóteses de dissolução judicial, ou seja, as situações em que a sociedade será liquidada perante a justiça: Art. 1.034. A sociedade pode ser dissolvida judicialmente, a requerimento de qualquer dos sócios, quando: I - anulada a sua constituição; II - exaurido o fim social, ou verificada a sua inexequibilidade. 46 | Direito Empresarial Além disso, o Código Civil prevê a possibilidade de que o próprio contrato social da sociedade estabeleça outras hipóteses de dissolução. Em que pese a previsão legal já ser ampla, é tradição no caso das sociedades contratuais a forte flexibilidade para que os sócios modelem as suas próprias regras: Art. 1.035. O contrato pode prever outras causas de dissolução, a serem verificadas judicialmente quando contestadas. Liquidante De acordo com o art. 1.036 do Código Civil: Art. 1.036. Ocorrida a dissolução, cumpre aos administradores providenciar imediatamente a investidura do liquidante, e restringir a gestão própria aos negócios inadiáveis, vedadas novas operações, pelas quais responderão solidária e ilimitadamente. Parágrafo único. Dissolvida de pleno direito a sociedade, pode o sócio requerer, desde logo, a liquidação judicial. O liquidante é a pessoa responsável por executar o processo. O liquidante irá substituir o representante legal da sociedade, porém, seus poderes serão limitados aos negócios pendentes e inadiáveis, bem como aos atos próprios da liquidação: Art. 1.105. Compete ao liquidante representar a sociedade e praticar todos os atos necessários à sua liquidação, Direito Empresarial | 47 inclusive alienar bens móveis ou imóveis, transigir, receber e dar quitação. Parágrafo único. Sem estar expressamente autorizado pelo contrato social, ou pelo voto da maioria dos sócios, não pode o liquidante gravar de ônus reais os móveis e imóveis, contrair empréstimos, salvo quando indispensáveis ao pagamento de obrigações inadiáveis, nem prosseguir, embora para facilitar a liquidação, na atividade social. Registre-se que o parágrafo único do art. 1.036 permite que qualquer sócio solicite que a liquidação ocorra na forma judicial. De qualquer modo, o liquidante pode estar previsto no contrato social. Por exemplo, dentre as atribuições do administrador pode estar contida a determinação de que ele se torne automaticamente o liquidante, nos casos de dissolução. Fora isso, sempre haverá a possibilidade de que o liquidante seja indicado numa deliberação entre os sócios: Art. 1.038. Se não estiver designado no contrato social, o liquidante será eleito por deliberação dos sócios, podendo a escolha recair em pessoa estranha à sociedade. § 1º O liquidante pode ser destituído, a todo tempo: I - se eleito pela forma prevista neste artigo, mediante deliberação dos sócios; II - em qualquer caso, por via judicial, a requerimento de um ou mais sócios, ocorrendo justa causa. § 2º A liquidação da sociedade se processa de conformidade com o disposto no Capítulo IX, deste Subtítulo. 48 | Direito Empresarial Inclusive, as atribuições do liquidante são similares às do administrador, diferenciando-se especialmente na finalidade, tendo em vista que o administrador visa o desenvolvimento da sociedade, enquanto o liquidante visa ultimar seus negócios. Por isso, os princípios aplicados para esses agentes, tendem a ser congêneres, conforme determina o Código Civil: Art. 1.104. As obrigações e a responsabilidade do liquidante regem-se pelos preceitos peculiares às dos administradores da sociedade liquidanda. Quando a dissolução ocorrer pela extinção da autorização de funcionamento, se os administradores não tomarem as providências para a liquidação em 30 dias, ou se algum sócio resolver pedir a liquidação judicial, o Ministério Público é que será responsável pela liquidação. Art. 1.037. Ocorrendo a hipótese prevista no inciso V do art. 1.033, o Ministério Público, tão logo lhe comunique a autoridade competente, promoverá a liquidação judicial da sociedade, se os administradores não o tiverem feito nos trinta dias seguintes à perda da autorização, ou se o sócio não houver exercido a faculdade assegurada no parágrafo único do artigo antecedente. Direito Empresarial | 49 Parágrafo único. Caso o Ministério Público não promova a liquidação judicial da sociedade nos quinze dias subsequentes ao recebimento da comunicação, a autoridade competente para conceder a autorização nomeará interventor com poderes para requerer a medida e administrar a sociedade até que seja nomeado o liquidante. O legislador ainda previu a possibilidade de que o Ministério Público não realize a liquidação. Nesse caso, a autoridade responsável pela autorização de funcionamento deverá nomear um interventor, para realizar o processo. São deveres do liquidante: Art. 1.103. Constituem deveres do liquidante: I - averbar e publicar a ata, sentença ou instrumento de dissolução da sociedade; II - arrecadar os bens, livros e documentos da sociedade, onde quer que estejam; III - proceder, nos quinze dias seguintes ao da sua investidura e com a assistência, sempre que possível, dos administradores, à elaboração do inventário e do balanço geral do ativo e do passivo; IV - ultimar os negócios da sociedade, realizar o ativo, pagar o passivo e partilhar o remanescente entre os sócios ou acionistas; V - exigir dos quotistas, quando insuficiente o ativo à solução do passivo, a integralização de suas quotas e, se for o caso, as quantias necessárias, nos limites da responsabilidade de cada um e proporcionalmente à respectiva participação nas perdas, repartindo-se, entre os sócios solventes e na mesma proporção, o devido pelo insolvente; VI - convocar assembleia dos quotistas, cada seis meses, para apresentar relatório e balanço do estado da liquidação, prestando conta dos atos praticados durante o 50 | Direito Empresarial semestre, ou sempre que necessário; VII - confessar a falência da sociedade e pedir concordata, de acordo com as formalidades prescritas para o tipo de sociedade liquidanda; VIII - finda a liquidação, apresentar aos sócios o relatório da liquidação e as suas contas finais; IX - averbar a ata da reunião ou da assembleia, ou o instrumento firmado pelos sócios, que considerar encerrada a liquidação. Parágrafo único. Em todos os atos, documentos ou publicações, o liquidante empregará a firma ou denominação social sempre seguida da cláusula “em liquidação” e de sua assinatura individual, com a declaração de sua qualidade. Percebe-se que as atribuições do liquidante, por si só, na ordem em que foram inscritas, já demonstram não apenas o seu papel, mas, especialmente, as etapas do processo de liquidação, apresentadas a seguir. Ressalte-se que em todo o processo, deverá ser utilizada, de forma ostensiva, a cláusula “em liquidação”. O Processo de Liquidação De acordo com o Código Civil: Art. 1.102. Dissolvida a sociedade e nomeado o liquidante na forma do disposto neste Livro, procede-se à sua liquidação, de conformidade com os preceitos deste Capítulo, ressalvado o disposto no ato constitutivo ou no instrumento da dissolução. Direito Empresarial | 51 Parágrafo único. O liquidante, que não seja administrador da sociedade, investir-se-á nas funções, averbada a sua nomeação no registro próprio. O procedimento contém etapas simples: Apuração dos valores a receber; Venda de bens do ativo imobilizado; Pagamento dos Credores; Prestação de contas; Rateio, mediante partilha, entre os sócios, dos valores remanescentes. Naturalmente, o processo de liquidação tem uma prioridade clara: pagar as dívidas da sociedade. O liquidante deve procurar pagar a todos os credores, ainda que de forma proporcional. Porém, se o ativo for maior que o passivo, ou seja, se a sociedade tiver mais bens e direitos a receber do que dívidas a pagar, o liquidante poderá pagar as dívidas vencidas integralmente. É o que
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