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1 INTRODUÇÃO E BREVE HISTÓRICO O interesse desta disciplina é estudar máquinas elétricas em geral e em especial àquelas chamadas de motores de passo, cobrindo sua construção, princípios, teoria, técnicas de acionamento e aplicações. Iniciamos com um breve histórico e mostraremos o estado da arte do avanço tecnológico dos motores de passo. Vários tipos de motores de passo são abordados nesta seção, mas os detalhes estruturais dos modernos motores serão discutidos na seção seguinte. O que é um motor de passo e quais são suas características? A Figura 1 ilustra a seção transversal da estrutura de um motor de passo moderno típico; este é um motor de relutância variável de pilha única. Usando esta figura, estudaremos primeiramente como esta máquina trabalha. O núcleo do estator tem seis pólos ou dentes salientes, enquanto que o rotor tem quatro pólos, ambos os núcleos, do estator e do rotor, são de aço doce. Três jogos de enrolamentos são arranjados conforme mostra a figura. Cada jogo tem duas bobinas conectadas em série. Um jogo de enrolamentos é chamado 'uma fase', e, conseqüentemente, esta máquina é um motor trifásico. A corrente é fornecida por uma fonte da alimentação DC aos enrolamentos através das chaves I, II e III. No estado (1), a corrente é fornecida ao enrolamento da fase I através do interruptor I, ou, como se diz em termos técnicos, 'a fase I é excitada'. O fluxo magnético que ocorre no entreferro devido à excitação é indicado pelas setas. No estado (1), os dois pólos salientes do estator da fase I que está sendo excitada, estão alinhados com dois dos quatro dentes do rotor. Este é um estado estável de equilíbrio dinâmico. Quando o interruptor II é fechado para excitar a fase II, junto com a fase I, o fluxo magnético nos pólos do estator da fase II é àquele mostrado no estado (2), e um torque anti-horário é criado devido à ‘tensão’ nas linhas inclinadas do campo magnético. O rotor então, eventualmente, alcançará o estado (3). Assim, o rotor gira um ângulo fixo, que é denominado 'ângulo de passo', 15o neste caso, quando uma operação de comutação é realizada. Se a chave I é aberta, desenergizando a fase I, o rotor vai girar de mais 15o, atingindo o estado (4). A posição angular do rotor pode assim ser controlada nas unidades de ângulo de passo por um procedimento de chaveamento. Se o chaveamento é realizado numa seqüência, o rotor girará com um movimento pulsado; a velocidade média pode também ser controlada pelo processo de chaveamento. Dispositivos de estado sólido são usados como chaves eletrônicas para acionar um motor de passo, e sinais de chaveamento são gerados por CIs digitais ou por microprocessadores (veja Fig. 2). Como explicado acima, o motor de passo é um motor elétrico que converte uma entrada elétrica digital em um movimento mecânico. Comparado com outros dispositivos que podem executar as mesmas funções ou similares, um sistema de controle que usa um motor de passo tem diversas vantagens significativas como segue: 1. Normalmente não se requer realimentação para controle de posição ou velocidade. 2. O erro de posição não é acumulativo. 3. Os motores de passo são compatíveis com equipamentos digitais modernos. Por estas razões, vários tipos e classes de motores de passo são usados em periféricos de computadores, máquinas automatizadas, e em sistemas similares. 2 Fig. 1 – Princípio de um motor de passo a relutância variável. Primeiras aplicações dos motores de passo Um exemplar do JIEE[1] de 1927 trouxe um artigo sobre aplicação de eletricidade em navios de guerra, e uma parte deste artigo descreve um motor de passo de relutância variável, trifásico, que foi usado para controle remoto do indicador de direção dos tubos de torpedo e dos canhões em navios de guerra britânicos. Como ilustrado na Fig. 3, um interruptor rotativo mecânico foi usado para comutar a corrente de excitação. Uma volta do manípulo produz seis pulsos que causam 90o de movimento do rotor. A saída do rotor, em passos de 15o, foi acoplada a um redutor de engrenagens para alcançar a precisão de posição necessária. O artigo mostrou que o projeto deste motor, aparentemente simples, teve que levar em conta muitos fatores. Muitas precauções foram tomadas para tornar a operação satisfatória e segura. Esta máquina requer uma elevada relação torque/inércia das peças 3 móveis para evitar a perda de passo, e a constante de tempo, a relação entre a indutância do circuito e a resistência, deve ser pequena para alcançar uma alta velocidade da operação. Estes problemas aplicam-se ainda aos motores modernos. Fig. 2 – Sistema de acionamento para um motor de passo. Fig. 3 – Motor de passo usado em navios de guerra britânicos na década de 1920. (a) motor; (b) interruptor rotativo; (c) modelo detalhado do interruptor rotativo. De acordo com um artigo[2] no IEEE Transactions on Automatic Control, a marinha dos Estados Unidos empregaram motores de passo, mais tarde, para a mesma finalidade. Embora a ocorrência das aplicações práticas dos motores de passo modernos nos anos 20, os protótipos dos motores de relutância variável existiam bem antes. Um paper de Byrne[3] diz: 'motores de passo do tipo de relutância, agora aplicados como dispositivos de posicionamento, eram, como "engenhos eletromagnéticos", os motores elétricos da metade do século dezenove'. Descreveremos aqui duas invenções notáveis de 1919 e 1920 na Bretanha. 4 Fig. 4 – Motor de passo trifásico inventado por C. L. WaIker. (1) estrutura de dente para minimizar o ângulo de passo. Em 1919, C. L. Walker, um engenheiro civil de Aberdeen, Escócia, obteve uma patente pela invenção de uma estrutura de motor de passo que podia se mover em pequenos ângulos de passo. A figura 4(a) e (b) mostram, respectivamente, os cortes longitudinal e transversal de um motor trifásico de tal patente. Cada pólo saliente do estator tem um grupo de pequenos dentes. Os dentes do rotor têm o mesmo passo dos pequenos dentes do estator. O número dos dentes do rotor é 32 nesta figura. Quando a fase I é excitada, com a ocorrência do fluxo magnético ao longo do trajeto mostrado pelas curvas tracejadas na figura, um grupo de dentes do rotor é levado a se alinhar com os dentes do estator, como mostra a Fig. 4(b). Neste arranjo, os dentes do estator e do rotor, nas fases II e III, devem estar desalinhados em 1/3 do passo do dente, em sentidos opostos. Quando a corrente de excitação é comutada da fase I para a fase II, o rotor girará no sentido horário com um ângulo de passo que é (360/32)/3 = 3,75o neste caso. Entretanto, se a corrente de excitação for comutada para a fase III, ao invés, a rotação será no sentido anti-horário com o mesmo pequeno ângulo. Walker especificou um plano para a construção de um tipo de motor de passo que é conhecido hoje em dia como multi-pilha do tipo relutância variável, assim como plano para a construção de um motor linear. Entretanto, somente nos anos 50 apareceram comercialmente motores de passo modernos empregando o princípio desta invenção. (2) produção de torque elevado a partir de uma estrutura sanduíche. C. B. Chicken e J. H. Thain em Newcastle upon Tyne, 1920, obtiveram uma patente americana pela invenção de um motor de passo que pode produzir um torque elevado por unidade de volume do rotor. A construção longitudinal desta máquina é mostrada no Fig. 5(a), a característica notável é que o rotor de aço doce passa sucessivamente entre dois núcleos eletromagnéticos opostos como mostra a Fig. 5(b). Esta estrutura, em que os dentes do rotor são ensanduichados pelos dentes do estator, é conhecidapor ser a que produz o maior torque por unidade de volume do rotor. Mas não foi senão nos anos 70 que um motor de passo empregando este 5 princípio, foi usado como um motor de passo de potência em máquinas de controle numérico construídas por Fanuc Ltda, um fabricante japonês. Fig. 5 - Motor de passo de relutância variável inventado por C. B. Chicken e J. H. Thain. O advento da era do controle digital e o progresso dos anos 60 A publicação de janeiro de 1957 da revista Control Engineering[6] trouxe um relatório da época sobre modernas aplicações dos motores de passo sob o título 'The power stepping motor-a new digital actuator'. Este relatório descrevia um sistema de três motores de passo que foram aplicados a uma máquina de controle numérico tridimensional para acabamento superficial de peças. O tipo de motor usado neste sistema é o motor multi-pilha de relutância variável, cujo rotor é como o mostrado na Fig. 6; os dispositivos de chaveamento eram tubos do gás thyratron. O sistema de acionamento é mostrado na Fig. 7. Os movimentos dos três motores são programados manualmente ou por meio de um registro em uma película perfurada. Os movimentos são lidos por uma cabeça de leitura fotoelétrica que fornece os sinais de controle aos thyratrons. Os três motores de passo são operados fazendo com que a mesa se mova em um espaço de três eixos em uma ordem programada com o objetivo de executar o acabamento automático. Fig. 6 – Rotor de um motor multi-pilha de relutância variável. 6 Fig. 7 - Controle numérico tridimensional de uma peça por meio dos motores de passo de relutância variável acionados por thyratrons (após a referência. [6]). Coincidindo com o aparecimento deste relatório, iniciou-se, nas nações industriais avançadas, um trabalho de pesquisa intensivo visando melhorar o desempenho dos motores de passo. Fig. 8 - Motor de passo eletro-hidráulico (cortesia Fanuc Ltda).
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