Buscar

Introdução ao Direito 1- Unidade VI- Norma e Coercibilidade Jurídica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA
Introdução ao Direito I
Profº Antônio EMÍLIO de C. NOBRE
ABRIL/2014
UNIDADE VI – NORMA JURÍDICA E COERCIBILIDADE JURÍDICA
- Definição: 
	* a norma jurídica é um comando, um imperativo dirigido às ações dos indivíduos – e das pessoas jurídicas e demais entes. É uma regra de conduta social; sua finalidade é regular as atividades dos sujeitos em suas relações sociais. A norma jurídica imputa certa ação ou comportamento a alguém, que é seu destinatário. (NUNES, 2009)
- Estrutura Lógica:
	* encontra-se formulada em duas concepções:
		1ª- Kelsen: segundo o autor da teoria Pura do Direito, a estrutura lógica da norma jurídica pode ser enunciada do seguinte modo: “em determinadas circunstâncias, um determinado sujeito deve observar tal ou qual conduta; se não a observa, outro sujeito, órgão do Estado, deve aplicar ao infrator uma sanção.”
		A formulação kelseniana, infere-se que o esquema possui duas partes, que o autor denomina por “norma secundária” - sendo aquela que estabelece uma sanção para a hipótese de violação do dever jurídico e “norma primária” - que define o dever jurídico em face de determinada situação de fato.
	Assim, reduzindo à fórmula prática, temos:
norma secundária: “Dado ñP, deve ser S” - Dada a não prestação, deve ser aplicada a sanção. Ex.: o pai que não prestou assistência material ao filho menor deve ser submetido a uma penalidade.
norma primária: “Dado Ft, deve ser P” - Dado um fato temporal deve ser feita a prestação. Ex.: o pai que possui filho menor deve prestar-lhe assistência material.
	2ª- Carlos Cóssio: este renomado jusfilósofo argentino concebeu a estrutura das regras jurídicas como um juízo disjuntivo, o qual reúne também duas normas: endonorma e perinorma, devendo esta concepção ser assim esquematizada: “Dado A, deve ser P, ou dado ñP, deve ser S”.
	Assim, reduzindo à fórmula prática, temos:
endonorma: equipara-se a norma primária de Kelsen. Corresponde ao juízo que impõe uma prestação (P) ao sujeito que se encontra em determinada situação (A). Ex.: o indivíduo que assume uma dívida (A) deve efetuar o pagamento na época própria (P).
perionorma: corresponde à norma secundária de Kelsen. Impõe uma sanção (S) ao infrator, isto é, ao sujeito que não efetuou a prestação a que estava obrigado (ñ). Ex.: o devedor que não efetuou o pagamento na época própria deverá pagar multa e juros.
	Caracteres:
	Segundo Miguel Reale, o que efetivamente caracteriza uma norma jurídica, de qualquer espécie, é o fato de ser uma estrutura proposicional enunciativa de uma forma de organização ou de conduta, que deve ser seguida de maneira objetiva e obrigatória.
1º- Bilateralidade: o Direito existe sempre vinculando duas ou mais pessoas, atribuindo poder a uma parte e impondo dever à outra (direito subjetivo X dever jurídico).
2º- Generalidade: este princípio revela que a norma jurídica é preceito de ordem geral, que obriga a todos que se acham em igual situação jurídica, deduzindo-se, assim, o princípio da isonomia.
3º- Abstratividade: visando atingir o maior número possível de situações, a norma jurídica é abstrata, regulando os casos dentro do seu denominador comum, ou seja, como ocorrem via de regra.
4º- Imperatividade: para garantir efetivamente a ordem social, o Direito se manifesta através de normas que possuem caráter imperativo, caso contrário, o Direito não lograria estabelecer segurança, nem justiça.
5º- Coercibilidade: significa dizer possibilidade de uso da coação. Esta possui dois elementos: psicológico, o qual exerce a intimidação, através das penalidades previstas para a hipótese de violação das normas jurídicas e o material, que é a força propriamente dita, a qual é acionada quando o destinatário da regra não a cumpre espontaneamente.
	Classificação:
- quanto à sua hierarquia:
leis constitucionais: são as que estão no grau mais elevado, às quais todas as demais normas se devem subordinar;
leis complementares: estão previstas expressamente no texto constitucional brasileiro, constituem-se em uma espécie intermediária entre a norma Constitucional e a lei Ordinária;
leis ordinárias, delegadas, decretos legislativos, resoluções e as medidas provisórias: vide art. 59 da CF;
as leis ordinárias são as normas jurídicas elaboradas pelo Poder Legislativo em sua atividade comum e típica, ex: os Códigos em geral;
as leis delegadas constituem figura jurídica recente no direito brasileiro. São elaboradas pelo Presidente da República, por delegação expressa do Congresso Nacional;
os decretos legislativos são normas aprovadas pelo Congresso Nacional sobre matéria de sua exclusiva competência, como a ratificação de tratados internacionais, o julgamento das contas do Presidente da República, etc. Tais atos não são remetidos ao Presidente para sanção;
as resoluções são decisões do Legislativo – Congresso, Senado ou Câmara – sobre assuntos de seu interesse interno como decisão sobre licença ou perda de cargo por deputado ou senador, fixação de subsídios, mudança temporária da sede do Congresso Nacional, etc.
as medidas provisórias são normas que poderão ser adotadas pelo Presidente da República, em caso de relevância e urgência, com força de lei, tendo vigência por trinta dias. Vide artigo 62 da CF.
decretos regulamentares: são regras jurídicas gerais, abstratas e impessoais, estabelecidas pelo Poder Executivo, em desenvolvimento da lei;
normas individuais, tais quais: os contratos, as sentenças, os testamentos, etc.
- Requisitos de validade:
	considerações gerais:
não basta que uma regra jurídica se estruture;
é indispensável que ela satisfaça a requisitos de validade, para que seja obrigatória;
três aspectos norteiam a validade de uma norma de direito: a vigência; a eficácia e o fundamento.
 A vigência/validade formal ou técnico-jurídica:
que é vigência? é a executoriedade compulsória de uma regra de direito, por haver preenchido os requisitos essenciais à sua feitura ou elaboração.
a que requisitos deve satisfazer a regra jurídica para ser obrigatória, ter validade? Três: 1º- emanar de um órgão competente; 2º- ter o órgão competência ratione materiae e 3º- que o poder se exerça, também, com obediência às exigências legais, ou seja, à legitimidade do procedimento.
a Constituição é a lei fundamental que distribui, de maneira originária, a competência dos elementos institucionais do Estado;
	
 Eficácia/efetividade ou validade social:
- há casos de normas legais, que, por contrariarem as tendências e inclinações dominantes no seio da coletividade, só logram ser cumpridas de maneira compulsória, possuindo, desse modo, validade formal, mas não eficácia espontânea no seio da sociedade. 
 Fundamento ou validade ética:
é o valor ou fim objetivado pela norma de direito;
é a razão de ser da norma, ou ratio júris;
impossível conceber-se uma regra jurídica desvinculada da finalidade que legitima sua vigência e eficácia. 
- Sanção Jurídicas:
	Noções:
I –	Já falamos da imperatividade. Com ela se liga a atuação das sanções. A sanção é uma conseqüência desfavorável normativamente prevista para o caso de violação de uma regra, e pela qual se reforça a imperatividade desta. Em todas as ordens normativas há sanções, embora a sua índole varie profundamente de caso para caso.
	Não quer isto dizer que toda a regra seja necessariamente assistida de sanção. Pode haver regras não sancionadas. Mas a existência de sanções é natural conseqüência da imperatividade. Até na ordem religiosa surgem sanções, terrenas ou ultraterrenas.
	Pelo contrário, na ordem técnica nada encontramos a que corresponda a qualificação de sanção. Só pode falar-se de sanção quando certo dever-ser não é respeitado: ora a ordem técnica não é assistida de eticidade, não é imperativa.
II –	Mas justamente a cominação de sanções criou em certos setores a convicção deque a ordem jurídica não seria também imperativa. O sujeito, colocado perante as conseqüências previsíveis da sua atuação, escolheria a omissão da conduta proibida ou a sujeição às conseqüências. Pelo menos a ordem jurídica (ainda que o raciocínio fosse generalizável a outras ordens normativas) revestiria assim uma condicionalidade plena. Nesta posição dir-se-ia que a regra contém um imperativo hipotético, em todos os sentidos da expressão.
	Se bem que seja difícil apresentar aspectos concretos em que um e outro entendimento cheguem a resultados diversos, em todo o caso esta posição representa uma tal deformação do dado jurídico que nos parece logo dever, só por isso, ser rejeitada. A partirmos de semelhante pressuposto, a construção científica da realidade jurídica, que fizéssemos depois, estaria sujeita aos maiores desvios.
	A ordem jurídica não se cifra num catálogo de condutas que se apresentam à disposição dos destinatários, de tal modo que estes, pesando as suas consequências (confrontando a dor de ser punidos se roubarem com a dor de se privarem das coisas alheias, por exemplo), escolham indiferentemente o que mais vantajoso se lhes apresente. Implica antes uma pretensão de aplicação incondicional. Ao próprio fenômeno jurídico, dado objetivo de que partimos, pertence a característica de a prossecução dos fins visados pela regra não ser confiada ao alvedrio dos sujeitos, ao contrário do que sucede com a norma técnica. Só assim se pode compreender que uma típica sanção jurídica, a pena, tenha como seu sentido intrínseco e fundamento a reprovação pela violação cometida.
III - 	Parsons acentuou muito fortemente a noção de controle social. Um mecanismo de controle social é um processo motivacional em um ou mais agentes, individualmente considerados, que contraria uma tendência para o desvio da atuação esperada. Porque a adequação dos comportamentos não é espontânea.
	Pode-se tender a dar a esta noção um lugar central no Direito, apresentando-a até como a explicação da sanção de regras isoladas. Mas assim distorcer-se-ia a visão da ordem jurídica, pois o ponto de partida deve estar na ordem natural de cooperação, e não no elemento logicamente subseqüente, conquanto indispensável, do controle social.
	Caracteres:	
I - 	É muito importante o estudo das sanções, até para se entender o que significa a coercibilidade. Como a coercibilidade desemboca sempre na suscetibilidade da aplicação de sanções, pela força se necessário for, começaremos por estudar as sanções jurídicas e passaremos depois à coercibilidade.
	Acabamos de ver que a sanção está ligada à imperatividade. Toda regra, jurídica ou outra, pode ser assistida por uma sanção, que reforça a sua imperatividade. A sanção é sempre uma consequência desfavorável que atinge aquele que violou uma regra. Mas as sanções jurídicas distinguem-se profundamente das outras, daí a necessidade de as estudarmos aqui em especial.
	Em si, a sanção não é um fato. Como conseqüência desfavorável, a sanção é um efeito jurídico, conteúdo de uma regra jurídica que prevê a violação de uma regra de conduta.
	A sanção implica, pois, sempre a entrada em vigor de novas regras, denominadas regras sancionatórias. Estas são regras subordinadas e complementares das regras principais, que atuam no caso de aquelas não terem sido observadas. Assim, quando se diz que o funcionário que revelar segredos públicos à pessoa não autorizada será demitido, temos uma regra principal:
	O funcionário não deve revelar segredos públicos à pessoa não autorizada; e uma regra sancionatória, cuja previsão é a violação daquela primeira regra:
	Se o fizer, será demitido.
	A sanção é, pois, a estatuição de uma regra sancionatória.
	A regra sancionatória pode ser por sua vez sancionada. Repete-se o esquema: entra em ação uma nova regra sancionatória, cuja previsão é a violação da primeira regra sancionatória.
II - 	As várias espécies de sanções não se distinguem entre si por traços estruturais, ou por representarem específicas figuras jurídicas: distinguem-se pela função que desempenham. Propõem-se sempre impor uma consequência desfavorável em reação à violação de uma regra, podendo ter finalidade:
compulsória
reconstitutiva
compensatória
preventiva
punitiva.
Estudaremos, pois, sucessivamente cada uma destas modalidades. Mas note-se desde já que a existência de vários tipos de sanções não significa que elas se excluam na sua aplicação. Várias sanções podem cumular-se em reação a uma só violação. Por exemplo, um homicídio pode pôr em ação sanções compensatórias (indenização por danos pessoais, por exemplo), preventivas (medidas de segurança) e punitivas (prisão).
Por outro lado, há uma figura de qualificação duvidosa e à qual outorgaremos por isso um lugar à parte: a ineficácia do ato ilícito. Mas como, a nosso ver, não representa uma sanção.
- Classificação:
Sanções compulsórias:
I - 	Iniciando o estudo das modalidades de sanções que referimos, comecemos pelas sanções compulsórias: aquelas que se destinam a atuar sobre o infrator da regra para levá-lo a adotar, tardiamente embora, a conduta devida. Não deixa de ter havido infração, mas procura-se chegar à situação que resultaria da observância da regra (se abstrairmos do fator tempo) através do comportamento do infrator.
	Na generalidade dos casos, se uma pessoa não cumpre aquilo a que se vinculou continua obrigada, mas não se recorre à coação para forçá-la a fazer o que não foi feito voluntariamente. Procura-se atingir um resultado final quanto possível semelhante, por intermédio de outras sanções, mas prescindindo-se da colaboração do faltoso. Mantém-se assim o antigo princípio: nemo ad factum praecise cogi potest.
	Mas nem sempre assim acontece. Em certos casos reage-se ao ilícito, não cumprimento, através de meios destinados a infligir um sofrimento ou uma privação ao faltoso, de modo a forçá-lo a cumprir.
II - 	As sanções compulsórias não são frequentes.
	Da prisão por dívidas não temos já mais do que resíduos. Antigamente quem não cumprisse uma dívida era preso até que o pagamento fosse realizado. Essa situação desapareceu em geral, mas razões particulares continuam a justifica-la aqui e além.
	Consideremos as chamadas dívidas de alimentos – ou seja, aquelas em que alguém é obrigado a contribuir para a manutenção de outrem. Supúnhamos que o pai, condenado à prestação de alimentos a seus filhos menores, se omite. Poderá ser preso, até que pague. A finalidade compulsória da prisão evidencia-se na circunstância de esta cessar logo que a pensão alimentícia seja paga. O que interessa não é, pois, castigar o infrator, mas conseguir que a obrigação seja cumprida afinal.
	No Brasil, o art. 5º, LXVII da Constituição Federal, proíbe a prisão civil por dívida, salvo para o depositário infiel ou para quem, estando obrigado a contribuir para a manutenção de outrem (a prestar, portanto, o que se chama alimentos) se omitir. O art. 733º do Código de Processo Civil regula esta hipótese.
	Em Portugal, encontram-se ainda outras hipóteses, como no caso do não pagamento por aquele que arrematou bens em hasta pública (art. 904º do código de Processo Civil). E mais: numa importante alteração, o art. 829-A do Código Civil criou genericamente a figura da sanção compulsória de caráter pecuniário, salvo para as obrigações que exigem especiais qualificações técnicas do devedor. A requerimento do credor, o tribunal condenará o devedor inadimplente ao pagamento de uma quantia pecuniária por cada dia de atraso no cumprimento ou por cada infração. Há a curiosidade de as quantias assim cobradas serem repartidas em partes iguais entre o credor e o Estado.
III - 	O direito de retenção fornece-nos outra hipótese de sanção compulsória, fora da prisão por dívidas.
	Nos casos normais, ninguém pode recusar a entrega de coisa alheia alegando que o dono não pagou o que devia. Se o meu vizinho esquecer em minha casa um relógio de ouro, eunão posso recusar entregá-lo alegando que ele anteriormente me pedira cem contos emprestados e não me pagou.
	Mas em certos casos a retenção da coisa alheia torna-se possível: quando há uma certa relação entre a causa da dívida e a detenção do objeto. Assim, aquele que tem em seu poder, de boa fé, coisa alheia, na qual fez beneficiações, pode recusar-se a entrega-la ao titular dela enquanto não for indenizado das despesas feitas (arts. 516 do Código Civil brasileiro e 754 do Código Civil português). Quem não é dono pode reter para compelir o dono a pagar. Temos então uma hipótese de direito de retenção.
	Também neste caso a sanção é um meio compulsório, pois a restituição deve fazer-se logo que a dívida seja satisfeita.
IV - 	Vários outros casos existirão. Certos juros de mora ou agravamentos fiscais têm essencialmente uma função compulsiva, estimulando pela sua desproporção o sujeito a pagar quanto antes.
Sanções reconstitutivas:
I - 	A forma normal de reação da ordem jurídica à inobservância da norma é a imposição da reconstituição em espécie – in natura - da situação a que se teria chegado com a observância. Fala-se também em reposição ou restauração natural.
	Em alguns casos esta reação aparece-nos como evidente. Se Fernando, abusivamente, invade pela força um prédio de que Gabriel é possuidor e nele se instala, a maneira normal de reagir a esta situação está na expulsão de Fernando, entregando-se de novo o prédio a Gabriel. Reconstitui-se, pois, a situação que existiria se não tivesse havido violação, o que representa a vitória da ordem jurídica sobre a desordem.
	E tão importante parece reconstituir essa situação que vão surgir por vezes consequências à primeira vista surpreendentes. Suponhamos que Gabriel é um possuidor formal, ou seja, é alguém que exerce poderes sobre o prédio como se fosse seu titular, sem o ser na realidade; e que Fernando é o proprietário verdadeiro. Pois mesmo assim, se Fernando usar da força para recuperar o seu prédio, a lei tomando em conta que ele violou a regra que proíbe a cada um fazer justiça por suas próprias mãos, sanciona a violação através da reintegração natural: tira-lhe o prédio e entrega-o a Gabriel. De nada valerá a Fernando protestar a sua propriedade. Tem primeiro de abrir mão do prédio, e só depois poderá fazer valer em juízo o seu direito. Assim se realizar até o fim a lógica da reconstituição da situação violada.
II - 	O mesmo acontece no domínio do Direito das Obrigações, pelo menos quando for possível a execução específica. Antecipando embora noções, vejamos do que se trata.
	Na base da figura chamada direito de crédito ou obrigação está o dever de realizar uma prestação em benefício de outrem, o credor. A prestação consiste em princípio numa conduta do devedor. Exemplo: Abel deve entregar um mapa a Bento, Manuel deve cavar a vinha de Nuno, etc.
	Suponhamos que o devedor não cumpre. Nem por isso o credor perde o direito à prestação. O devedor continua vinculado a realiza-la, enquanto ela for possível. Por isso o credor pode exigir judicialmente essa prestação; e com a sua realização, pelo devedor ou por terceiro, o seu direito satisfaz-se.
	Se a prestação consiste na entrega de coisa determinada que se encontre em poder do devedor, a solução é simples: o credor pode requerer em juízo, após tornado certo seu direito, que a coisa lhe seja entregue. Para isso o credor deverá primeiramente, em princípio, obter através do processo declarativo a condenação do devedor à entrega da coisa, pois a sentença dá a máxima certeza ao direito.
	Se o devedor ainda então não cumprir, o credor recorre ao processo executivo ou execução, que se destina justamente a dar realização efetiva ao direito declarado. A mandado do tribunal, a coisa é retirada ao devedor e entregue ao credor.
	Pode em certos casos chegar-se à ação executiva sem se passar pela ação de condenação. Assim acontece se o credor, mesmo não tendo uma sentença, tiver já um título executivo. Este é um ato, formalizado de maneira a que a lei ligue também o atributo da certeza. Título executivo é, pois, o título que reveste as formas exigidas por lei para servir de base à ação executiva.
III - 	Se a prestação a que o devedor se obrigou consiste na realização de um fato, já é mais difícil chegar à execução específica, portanto à realização de uma prestação igual à devida. Essa realização é mesmo impossível quando a prestação tem por objeto uma atividade com características pessoais – por exemplo, a prestação de serviços no âmbito de uma profissão liberal. Mesmo assim, o legislador levou tão longe quanto possível o princípio da execução específica.
1) – Prestação de fato negativo
	Se a prestação consiste em não fazer uma determinada obra e o devedor a realiza, mas for possível desfazê-la, a obra será desfeita pelo devedor ou à custa dele (art. 829 do Código Civil português e arts. 642 e 643 do Código de Processo Civil brasileiro).
2) – Prestação de fato positivo fungível
	Se a prestação é de fato, mas esse fato é fungível, ou seja, pode ser realizado por outras pessoas, além do devedor (a reparação de uma casa, por exemplo) o credor tem o direito de requerer que o fato seja realizado por terceiro à custa do devedor.
	Como se concretiza esta previsão da lei, de que o fato se realize “à custa do devedor”? Na normalidade dos casos, através da venda judicial de bens, realizada em processo de execução.
	Alguém não cumpre uma obrigação, mas tem bens. Uma vez tornado certo o direito do credor e instaurada a ação, executiva, requere-se a apreensão judicial dos bens. Esses bens irão depois à praça para que com o produto da venda se obtenha a quantia necessária à satisfação do custo da atividade requerida.
3) – Obrigação de contratar
	Recentemente, deu-se uma evolução ainda mais ousada.
	Se alguém se tiver obrigado a celebrar certo contrato e faltar à promessa pode o credor, nos casos normais, obter sentença que funciona como sucedâneo da declaração de vontade da outra parte (art. 830 do Código Civil português e arts. 639 a 641 do Código de Processo Civil brasileiro). Tudo se passa como se houvesse contrato e; a parte faltosa fica vinculada como se tivesse dado o seu consentimento para ele. Pode hoje haver, pois, vínculos contratuais não fundados em consentimento direto.
IV - 	Indenização específica.
	Examinamos hipóteses que são de execução específica, pois o credor recebe o próprio bem devido. Mas pensamos que ainda há uma sanção reconstitutiva nos casos de indenização específica.
	Em sentido amplo, a indenização (que focaremos especificamente a seguir) abrange tudo aquilo que há direito a receber em consequência de se ter sofrido um dano que outrem deve reparar.
	A lei dá preferência à indenização específica, sempre que não haja motivo para afastar. E assim, se houve destruição de um bem do credor, a indenização consistirá primacialmente na entrega de um bem igual. Pouco interessa qual o meio processual necessário para se chegar a esse resultado; interessa, sim, o resultado final com que se sancione a violação. O processo, por mais complexo, serve apenas à obtenção desse resultado e em nada altera a situação substantiva.
	Aqui temos mais um caso em que se dá a reconstituição da situação, ainda que pelo recurso a um bem equivalente. Recorrendo a uma imagem, diremos que há esta reconstituição sempre que a fotografia final da situação seja idêntica àquela que se obteria se não tivesse havido violação da regra. Mesmo que isso só se obtenha com um bem igual ao devido, em todo o caso o lesado pela violação é reconduzido à situação em que devia ficar. Por isso dizemos que há uma sanção reconstitutiva: dá-se a reconstituição natural de que falamos.
Sanções compensatórias:
I – 	Doutras vezes a reconstituição natural ou não é eqüitativa, ou não é atingível, ou não é sanção suficiente da violação havida. Utiliza-se então (ou utiliza-se também) uma sanção compensatória. Com esta nãose procura chegar a uma identidade da fotografia final com a que se verificaria se tivesse havido observância da regra, antes se visa constituir uma situação que, embora diferente, seja todavia valorativamente equivalente à primeira. Neste sentido há ainda uma reintegração, mas já não há uma reconstituição da situação anterior.
	A sanção compensatória opera sempre através de uma indenização de danos sofridos. Consoante a natureza do dano assim podemos distinguir várias modalidades. A indenização pode-se destinar a cobrir:
a falta do próprio bem devido
outros danos patrimoniais
danos não patrimoniais
II - 	Muitas vezes, como vimos, a reconstituição natural da situação é impossível ou, por qualquer razão, não é praticável no caso concreto.
	Assim, suponhamos que Abel, pintor famoso, se comprometeu a pintar o retrato de filha de Bento; mas falta arbitrariamente ao prometido. Não é possível a reintegração natural, pois não se admite a coação física do pintor à execução do quadro; e evidentemente que se não consegue chegar a um bem igual ao devido, pois nada é igual à obra daquele pintor, com a sua marca pessoal. Então busca-se uma compensação. O pintor será condenado a pagar uma quantia que representa a tradução em dinheiro do próprio bem de que Bento se viu privado.
III – 	Os danos sofridos pela violação da norma vão com freqüência além da falta do próprio bem devido. Por isso, esses danos podem não ser totalmente cobertos pela reconstituição natural.
	Para o verificarmos, basta atentar nas hipóteses em que alguém deixa de lucrar em conseqüência do fato de certa prestação não ser realizada no momento devido, mas apenas tardiamente.
	Mário, construtor, comprometeu-se a entregar a Noêmia um prédio no dia 1º de janeiro de 1989. Uma grande empresa está interessada nesse prédio a partir dessa data, e oferece por ele um aluguel avultado. Afinal, Mário só três meses depois entrega o prédio, e por esse fato a empresa desinteressa-se e Noêmia só consegue locar o prédio a outra entidade em piores condições.
	A fotografia final da situação é idêntica à que teríamos no caso de haver cumprimento pontual: Noêmia tem o prédio que Mário se comprometeu a entregar. Esta aparente coincidência só se verifica porque a fotografia suprime o fator tempo. Mas este é na realidade essencial. Mário não estava só obrigado a entregar; devia faze-lo no dia 1º de janeiro. Não fazendo, violou a obrigação.
	Desta violação resultam prejuízos, que tomam aqui a configuração técnica de lucros cessantes. Por um lado porque durante três meses Noêmia não recebeu aluguel pelo prédio; por outro, porque o aluguel que daí por diante recebe é inferior ao que podia ter recebido se tivesse havido cumprimento por parte de Mário. Este tem pois de indenizar os prejuízos que para Noêmia resultam do não cumprimento do contrato.
	Portanto, em casos como este, em que não obstante a situação final ser igual à devida há para o credor danos patrimoniais, é forma de sanção da violação de regra o dever de os indenizar. E o mesmo acontece se o equivalente da prestação não cobrir todos os danos sofridos.
IV - 	Danos não patrimoniais.
	Para ilustrar a última modalidade de danos que acarretam sanção compensatória, tomemos uma hipótese radical. Francisco, automobilista, por condução desastrada mata Fernando, filho de Firmino. Suponhamos que nenhuns danos patrimoniais daqui resultam para Firmino, ou de todo o modo foram reparados. A figura da indenização parece que nada mais pode produzir: nenhum dinheiro poderá pagar a perda de um filho.
	Mas, não havendo uma possibilidade de ajuste pecuniário, em todo o caso desde há tempo se admite a reparação por danos morais, pessoais ou não patrimoniais (como preferimos dizer). Francisco deverá pagar a Firmino uma quantia, determinada pelo juiz, para compensar de certa maneira o desgosto por este sofrido. Atribui-se conscientemente um bem de outra espécie, por se considerar que mais vale esta reintegração muito tosca do que coisa nenhuma.
	A reparação dos danos não patrimoniais é pois mais uma forma de sanção, pela qual se pretende (embora só de modo muito grosseiro ou aproximado) atribuir uma compensação do prejuízo sofrido.
Sanções punitivas:
I - 	A pena consiste numa sanção imposta de maneira a representar simultaneamente um sofrimento e uma reprovação para o infrator. Já não interessa reconstituir a situação que existiria se o fato se não tivesse verificado, mas aplicar um castigo violador.
	Compreende-se que a pena corresponda às violações mais graves da ordem jurídica. Mas é importante uma observação. Se bem que quando se fala de pena se tenha em vista normalmente a pena criminal, ela não esgota todas as categorias de penas existentes.
II - 	Há verdadeiras penas civis, sanções previstas fora do direito criminal ou até independentemente da prática de qualquer ato criminoso.
	Suponhamos que Arthur, com o fim de vir a beneficiar da sucessão de outrem, engana o autor da sucessão e mediante esse engano o leva a fazer, a revogar ou a modificar um testamento, ou lhe impede qualquer desses atos. Morto o ator da sucessão, aparentemente é ele quem deve ser chamado a suceder. Mas repugnaria que alguém pudesse que alguém pudesse beneficiar de uma conduta reprovável dessa ordem.
	A lei dispõe que aquele que praticou aqueles fatos é indigno e como tal será afastado daquela sucessão. Assim se castiga a infração, cometida independentemente da reconstituição de uma situação a fim da que existiria se infração não tivesse havido. Trata-se efetivamente de uma pena civil visto que, ao contrário do que acontece com as restantes sanções civis, tem função repressiva.
	E outras penas ainda existem, como por exemplo a pena disciplinas, que corresponde às infrações disciplinares (as praticadas por funcionários contra a disciplina administrativa).
Sanções preventivas:
I - 	Muitas vezes a sanção tem finalidade preventiva
	Reage-se à violação de uma regra jurídica, e por isso há verdadeira sanção; mas a finalidade da sanção é prevenir violações futuras, de que a anterior prática do ilícito justifica o receio.
	A situação é clara no caso da liberdade condicional ou vigiada. A quem pratica crimes, em circunstâncias que revelam a perigosidade do agente, pode-se aplicar essa providência. Não tem função punitiva; função punitiva tem a pena, enquanto aqui a função é evitar a prática futura de crimes que concretizem a tendência para delinqüir que o passado revela. Por exemplo, o criminoso cumpre pena de prisão e, após esta, é-lhe praticado o regime da liberdade condicional ou vigiada. A própria separação temporal na execução das duas sanções indica que estamos perante realidades com diversa função.
II - 	Noutros quadrantes da ordem jurídica surgem situações com fins análogos.Assim, nas dívidas a prestações, todas as prestações devem ser imediatamente pagas logo que o devedor faltar ao cumprimento de uma delas. Por quê? Porque o devedor se revelou indigno da confiança que o prazo de pagamento implica. A sanção estabelecida tem função preventiva – quer evitar ao credor os maiores danos que resultariam de ele ter de esperar pelo vencimento de cada prestação, e só então a poder reclamar de um devedor que não merece confiança.
	Podem ainda ser incluídas entre as sanções preventivas:
1) a inibição do exercício da tutela às pessoas que tenham praticado crimes cuja índole faz temer justamente um mau exercício do cargo;
2) a inabilitação para o exercício de funções públicas em conseqüência da prática de certos fatos delituosos;
3) em geral, todas as sanções em que se visa primariamente uma garantia contra a prática de um ato ilícito.�
�	 ASCENSÃO, José de Oliveira. O Direito. Introdução e Teoria Geral.

Continue navegando