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CUMPRIMENTO DA SENTENÇA NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
§ 2º DISPOSIÇÕES GERAIS
Sumário: 9. Introdução. 10. A noção de sentença condenatória perante as novas técnicas de cumprimento dos julgados. 11. Cumprimento de sentença e contraditório. 12. Necessidade de requerimento do exequente. 13. Intimação do devedor. 14. Legitimação ativa e passiva. Devedores solidários. 15. Regras disciplinadoras do cumprimento das sentenças. 16. A possibilidade de execução com base em sentença declaratória ou constitutiva. 17. Tutela interdital como padrão. 18. Cumprimento por iniciativa do devedor. 19. Sucumbência. 20. Sentença que decide relação jurídica sujeita a condição ou termo. 21. Requisito do requerimento de cumprimento da sentença que decide relação jurídica sujeita a condição ou termo.
1. Introdução
O NCPC, nos arts. 513 a 519, enuncia disposições gerais aplicáveis ao cumprimento de todas as sentenças, qualquer que seja a natureza da obrigação reconhecida no provimento judicial. Prestações derivadas de obrigações de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia, todas são exequíveis segundo os preceitos dos arts. 513 a 519. Apenas as regras dos parágrafos do art. 513 é que são voltadas mais diretamente para o cumprimento do dever de pagar quantia certa.
São, portanto, regras aplicáveis ao cumprimento da generalidade das sentenças, a que regula a executividade das obrigações sujeitas a condição ou termo (art. 514), a que enumera os títulos executivos judiciais (art. 515), a que define a competência (art. 516), a que autoriza o protesto da sentença transitada em julgado (art. 517), a que permite a impugnação dos atos executivos nos próprios autos (art. 518), assim como a que determina sejam aplicadas às decisões concessivas de tutela provisória, no que couber, as disposições relativas ao cumprimento da sentença (art. 519).
A expressão cumprimento de sentença a que recorre o Código de 2015 é
genérica, pois ao enumerar os títulos judiciais que o podem sustentar arrola não só as sentenças em sentido estrito, prevendo que também as decisões interlocutórias que reconheçam a exigibilidade de obrigação podem desempenhar a mesma função atribuída à sentença no plano da execução forçada.
Sem grandes inovações em face do regime do Código anterior, em melhor tratamento sistemático, o novo Código distribuiu a matéria em vários Capítulos:
(a) Capítulo I (do Título II – Do Cumprimento da Sentença), cuidou das Disposições Gerais observáveis na execução dos diversos títulos judiciais (NCPC, arts. 513 a 519);
(b) Capítulo II (do Título II), cuidou do cumprimento provisório da sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa (arts. 520 a 522);
(c) Capítulo III (do Título II), regulou o cumprimento definitivo da sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa (arts. 523 a 527);
(d) Capítulo IV (do Título II), dispôs sobre o cumprimento de sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de prestar alimentos (arts. 528 a 533);
(e) Capítulo V (do Título II), disciplinou o cumprimento de sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa pela Fazenda Pública (arts. 534 e 535);
(f) Capítulo VI (do Título II), cuidou do cumprimento de sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de fazer, não fazer ou de entregar coisa, e se desdobrou em duas seções: (i) a Seção I, relativa ao cumprimento de sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer (arts. 536 e 537); e (ii) a Seção II, referente ao cumprimento de sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de entregar coisa (art. 538).
2. A noção de sentença condenatória perante as novas técnicas de cumprimento dos julgados
A história da execução do título judicial construiu-se em torno da sentença condenatória, embora no estágio atual já não perdure, em caráter absoluto, como veremos adiante, um vínculo exclusivo entre o cumprimento forçado e aquela
modalidade de sentença. A estrutura da sentença condenatória, contudo, é importante para compreender o procedimento utilizado na execução forçada dos títulos formados em juízo.
As obrigações, no plano do direito material, correspondem a vínculos jurídicos que conferem a um dos seus sujeitos o poder de exigir do outro determinada prestação. A não realização da prestação devida, por parte do sujeito passivo, é que se apresenta como o objeto da pretensão que a sentença condenatória tem de enfrentar e solucionar.
Por trás dessa modalidade de sentença, portanto, está sempre uma crise na relação obrigacional, pois o credor, para ter seu direito subjetivo satisfeito, depende de ato do devedor. O inadimplemento provocado pelo comportamento omissivo do devedor é “uma crise de cooperação”, como explica Proto Pisani.1
É para enfrentar essa crise que a sentença define a prestação a que o demandado fica sujeito a realizar para restaurar ou prevenir o direito subjetivo violado ou ameaçado. No pensamento de Proto Pisani não é necessário que a sentença prepare uma execução forçada para ser havida como condenatória; basta que formule a regra concreta a ser observada por quem violou ou ameaçou o direito de outrem. Essa injunção ditada em face do causador da “crise de falta de cooperação” é que justifica e explica a condenação a ser cumprida pelo ofensor do direito subjetivo alheio.2 A atividade jurisdicional não fica, portanto, limitada ao acertamento de direito e obrigação, entra a predispor remédios tendentes a permitir a ulterior intromissão do órgão judicial na esfera jurídica do condenado, invasão essa que poderá assumir o feitio de verdadeira execução forçada ou de medidas coercitivas de várias modalidades, todas, porém, tendentes a provocar o cumprimento da prestação definida no acertamento condenatório.
A intervenção judicial no âmago dessa crise se dá para sujeitar o devedor às consequências do inadimplemento. A sentença condenatória acerta (declara) não só a existência do direito subjetivo do credor, como a sanção em que o inadimplente está incurso, ou seja, define também a prestação que haverá de ser realizada pelo condenado em favor da parte vencedora no pleito judicial.3
Como o vencido pode não realizar espontaneamente a prestação que lhe cabe, e como a sentença não é apenas um parecer, mas um comando de autoridade, reconhece-se que lhe corresponde a função de fonte da execução forçada. O condenado não poderá impunemente abster-se de cumprir a condenação, pois o órgão judicial, diante do definitivo acertamento da situação
jurídica dos litigantes, tomará, em satisfação do direito reconhecido ao credor, as providências necessárias para forçar a realização da prestação definida na sentença.
Antigamente, tinha o credor de instaurar sempre um novo processo (processo de execução), por meio do exercício de uma nova ação (a ação de execução de sentença) para fazer atuar a tutela jurisdicional até suas últimas consequências.4 A efetividade da jurisdição, para o credor, não era alcançada no processo de conhecimento, pois ficava na dependência de novo processo posterior ao encerramento da relação processual cognitiva.
Como, em alguns casos, a lei permitia a expedição do mandado de cumprimento da sentença, de imediato, sem necessidade de movimentação da ação executiva autônoma, construiu-se uma teoria segundo a qual seriam de naturezas distintas: (i) a sentença condenatória (exequível por meio de nova ação
· a ação executiva); e (ii) a sentença executiva lato sensu e a sentença mandamental (estas exequíveis por simples mandado, dentro da mesma relação processual).
A distinção era, porém, equivocada. Pelo objeto, não havia distinção entre os dois grupos de sentenças. Todos se referiam a acertamentos de direitos violados e de sanções correspondentes. A diferença não estava no ato de sentenciar, mas apenas na forma de operar os efeitos condenatórios.
Quando se classificavam as sentenças em declaratórias, constitutivas e condenatórias sempre se levava em conta o objeto (o conteúdo doato decisório). Já quando se cogitou das sentenças executivas ou mandamentais, o que se ponderou foram os efeitos de certas sentenças. Não pode, como é evidente, uma classificação ora lastrear-se no objeto, ora nos efeitos, sob pena de violar comezinha regra de lógica: toda classificação deve compreender todos os objetos do universo enfocado e deve observar um só critério para agrupar as diversas espécies classificadas.
Pode haver, portanto, classificação por objeto e classificação por efeitos. Não pode, todavia, admitir-se como correta uma classificação que utiliza, para formação de alguns grupos de elementos, o critério do conteúdo e, para outros, o dos efeitos.5 Isto levaria, fatalmente, a superposições e conflitos entre as espécies irregularmente agrupadas.
Na verdade, uma sentença condenatória (segundo seu objeto ou conteúdo) tanto pode ser de efeito imediato como diferido, sem que isto lhe altere a substância. A diferença levaria não a comprometer-lhe o caráter condenatório,
mas apenas o comportamento posterior a seu aperfeiçoamento. No plano dos efeitos é que a diferença se registraria. Aí, porém, o que estaria em jogo não seria mais o interior do ato (seu conteúdo) e, sim, o seu exterior (os seus efeitos).
Assim, à luz do critério censurado, a sentença que ordena a entrega de coisa, ainda na vigência do CPC/1973 era sentença condenatória, cuja execução se dava pelo processo da actio iudicati. Depois da reforma operada pela Lei nº 10.444/2002, que introduziu o art. 461-A no CPC/1973, adquiriu a natureza de sentença executiva, já que passou a ser exequível sem depender da actio iudicati. Houve, porém, alguma alteração em seu conteúdo ou objeto? Nenhuma. Seu cumprimento (ato externo e ulterior) é que mudou de critério operacional.
Posteriormente, com a reforma arquitetada pela Lei nº 11.232/2005, todas as sentenças passaram a um regime único de cumprimento e nenhuma delas dependeria mais de ação executiva separada para ser posta em execução. Teria sido extinto algum tipo de sentença quanto ao objeto ou conteúdo? Nenhum. As sentenças, como sempre, continuaram a ser, segundo o conteúdo, declaratórias,
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constitutivas e condenatórias.
Assim, após as profundas reformas da execução, passou a não mais haver, na sistemática do CPC/1973, distinção entre as sentenças condenatórias. Todas passaram a ser de cumprimento independente de ação executiva autônoma. Todas se realizavam por meio de mandado expedido após sua prolação, na mesma relação processual em que se formou a sentença. O sistema, portanto, passou a ser o da executio per officium iudicis e não mais o da actio iudicati. Ação autônoma de execução somente continuou a existir para os títulos extrajudiciais.
3. Cumprimento de sentença e contraditório
Embora tenha sido abolido do direito processual civil brasileiro a ação autônoma de execução de sentença, transformando-a em simples incidente do processo em que a demanda foi acolhida, não há como recusar ao executado a garantia do contraditório e da adequada defesa.
É evidente o reconhecimento ao devedor de opor-se ao cumprimento de sentença, não pelo clássico remédio dos embargos à execução, mas por meio de simples petição destinada a acusar ilegalidades, excessos ou quaisquer irregularidades ocorridas, sejam pertinentes ao mérito ou às formalidades procedimentais, quando dos atos executivos postos em prática.7
4. Necessidade de requerimento do exequente
O novo Código agora deixa expressa a necessidade de requerimento do exequente para se dar início ao cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia certa, seja provisório ou definitivo (NCPC, art. 513, § 1º). Rejeita-se, desta forma, o início do cumprimento da sentença por impulso oficial do juiz. Uma vez, porém, requerido o cumprimento do julgado, pode essa atividade satisfativa prosseguir até as últimas consequências por impulso oficial.
O art. 775 do NCPC, repetindo norma que já constava do art. 569 do CPC/1973, proclama que “o exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida executiva”. Nisso consiste o clássico princípio da livre disponibilidade da execução pelo credor, do qual decorre a necessidade de esperar dele a iniciativa da atividade processual executiva, contemplada no § 1º do dispositivo sub examine.
Nota-se, contudo, que o novo Código, que foi expresso quanto à matéria na disciplina do cumprimento de sentença relativa a obrigação de quantia certa, silenciou-se, a seu respeito, quando regulou a execução de sentença relacionada às obrigações de fazer, não fazer e entregar coisas. O que permite a conclusão, já adotada em doutrina, de que nessas últimas hipóteses, a diligência de fazer cumprir a condenação seria um consectário automático da própria sentença, a dispensar qualquer impulso da parte vencedora.8
Invoca-se para sustentar essa tese a previsão do art. 536, caput (aplicável também às obrigação de entregar coisa, de acordo com o art. 538, § 3º), segundo a qual “no cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente”.9
Se a expedição do mandado executivo, in casu, estaria autorizada como eficácia natural da condenação, certo é, porém, que ao vencedor sempre restará livre a faculdade de abster-se da promoção do imediato cumprimento forçado do título judicial, dentro do princípio geral da livre disponibilidade da execução. Motivos vários podem desaconselhar a implementação imediata da prestação ordenada pela sentença, seja em razão de ordem ética, como a necessidade de não ultrapassar a dignidade humana do devedor, seja de ordem prática ou econômica, como a viabilidade de solução consensual mais interessante para o relacionamento que as partes pretendam manter. A vontade do juiz não pode ser
indiferente a quadro de tal natureza. Em última análise, mesmo diante de prestações de fazer ou de entrega de coisa, seria sempre mais prudente aguardar-se a manifestação do credor após o trânsito em julgado da decisão de mérito, antes de expedir o mandado executivo.
Reforça esse entendimento a circunstância de que o já citado art. 536, ao cogitar da iniciativa de cumprimento da sentença, na espécie, prevê que as medidas de efetivação da condenação poderão ocorrer de ofício ou a
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requerimento da parte.
5. Intimação do devedor
I – Regra geral
O Novo Código determina que o cumprimento da sentença tenha início pela
intimação do devedor, aparentando que a regra se enderece à realização de prestação de quantia certa a que foi judicialmente condenado. Diligência essa que se cumprirá, em regra, na pessoa de seu advogado (NCPC, art. 513, § 2º, I). Igual procedimento, contudo, será também observado em relação às obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa. Isto porque ao cumprimento de sentença a elas relativa, aplicam-se, no que couber, as regras do art. 525, que por sua vez remete ao art. 523, que é justamente aquele onde se prevê a intimação do devedor por meio de seu advogado, segundo a disciplina do cumprimento de sentença relativa a obrigação de quantia certa (art. 513, § 2º).
Desta forma, a regra é a de que toda intimação para cumprir sentença, não importa a natureza da obrigação exequenda, será feita, em princípio, pelo Diário
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da Justiça, na pessoa do advogado constituído nos autos (art. 513, § 2º, I).
II – Exceções
Há, contudo, exceções:
(a) A intimação será feita por carta com aviso de recebimento, quando o executado for representado pela Defensoria Pública ou quando não tiver procurador constituído nos autos (inc. II do § 2º do art. 513), ressalvada as hipóteses de intimação por edital (art. 513, IV). A regra aplica-se, entre outros, ao caso de devedor cujo mandado ad judicia tenha sido outorgado com prazo certo de vigência como até o fim da fase de conhecimento do processo, se outro credenciamentonão tiver ocorrido para a fase executiva.
A intimação será feita por meio eletrônico, no caso das empresas
(b) públicas e privadas, quando não tenham advogado nos autos. É que ditas pessoas jurídicas são obrigadas a manter cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, por imposição do art. 246, § 1º. Não se aplicará essa modalidade de intimação às microempresas e empresas de pequeno porte (art. 513, § 2º, III).
(c) A intimação se dará por edital quando o devedor também tiver sido citado por edital na fase de conhecimento (art. 256), e mesmo assim tiver se mantido revel (art. 513, § 2º, IV).
III – Intimação presumida
Nas hipóteses de intimação postal e por meio eletrônico (incs. II e III do § 2º do art. 513), a intimação será considerada realizada quando o devedor houver mudado de endereço e não tiver previamente comunicado ao juízo – mesmo quando a comunicação não for recebida pessoalmente pelo interessado, nos termos do art. 274, parágrafo único (§ 3º do art. 513).
IV – Inatividade processual longa
Há, por último, uma regra especial que afasta a intimação executiva do advogado do devedor. Trata-se do caso em que o exequente só vem a formular o requerimento exigido pelo § 1º do art. 513 um ano após o trânsito em julgado da sentença em vias de cumprimento. É que o longo tempo de inércia processual pode, com frequência, fazer desaparecer o contato entre o advogado e a parte devedora, dificultando o acesso a dados necessários à sua defesa, nesse novo estágio.
Configurada essa situação processual, impõe-se seja a intimação efetivada ao devedor pessoalmente, por meio de carta com aviso de recebimento, encaminhada ao endereço constante dos autos (art. 513, § 4º). Ressalta o dispositivo em questão que a mudança de endereço não comunicada nos autos importa aplicação da norma do art. 274, parágrafo único, há pouco aludida.
V – Prazo da intimação
Caberá ao ato intimatório assinar o prazo de cumprimento voluntário da sentença, que varia conforme a modalidade da prestação exequenda (arts. 523, 525, 536, § 4º, e 538), bem como explicitar quais são as sanções incorríveis.
6. Legitimação ativa e passiva. Devedores solidários
Tratando-se de simples continuidade do processo em que a sentença foi pronunciada, as partes da sua execução continuam sendo as mesmas entre as quais a coisa julgada se formou. Existindo litisconsórcio, pode a atividade executiva eventualmente ser endereçada a um ou alguns dos devedores condenados. O que não se admite é o cumprimento de sentença movido contra quem não foi parte do processo de conhecimento, mesmo que se trate do fiador, do coobrigado ou de qualquer corresponsável pela dívida, segundo as regras do
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direito material (NCPC, art. 513, § 5º) A regra que, de maneira expressa,
dispõe sobre essa vedação é uma novidade trazida pelo NCPC, que pôs termo a
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antiga discussão jurisprudencial em torno do assunto. Assim, não mais pairam
dúvidas de que o fiador ou o devedor solidário, que não foram demandados, escapam do alcance do procedimento de cumprimento da sentença. Esposou a lei, de tal sorte, o correto entendimento do STJ no sentido de que “o art. 275 do Código Civil que prevê a solidariedade passiva – é norma de direito material, restringindo-se sua aplicação ao momento de formação do processo cognitivo, quando então o credor pode incluir no polo passivo da demanda todos, alguns ou um específico devedor; sendo certo que a sentença somente terá eficácia em relação aos demandados, não alcançando aqueles que não participaram da relação jurídica processual, nos termos do art. 472 do Código de Processo Civil”
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[NCPC, art. 506].
Com efeito, “a responsabilidade solidária – na lição contida no referido acórdão do STJ – precisa ser declarada em processo de conhecimento, sob pena de tornar-se impossível a execução do devedor solidário”, com ressalva apenas dos casos especiais de sucessor, de sócio e demais hipóteses previstas no art. 790
16 do NCPC.
7. Regras disciplinadoras do cumprimento das sentenças
Há sentenças que trazem em si toda a carga eficacial esperada do provimento jurisdicional. Dispensam, portanto, atos ulteriores para satisfazer a pretensão deduzida pela parte em juízo. É o que se passa, em regra, com as sentenças declaratórias e constitutivas. Há, contudo, aquelas que, diante da violação de direito cometida por uma parte contra a outra, não se limitam a definir a situação jurídica existente entre elas, e determinam também a prestação ou prestações a serem cumpridas em favor do titular do direito subjetivo ofendido. Estas últimas são as sentenças que se qualificam como
condenatórias e que funcionam como título capaz de autorizar as medidas concretas do cumprimento respectivo.
Embora não se exija mais a instauração de uma ação executória, o cumprimento da sentença, à falta de satisfação voluntária do comando judicial, realiza-se por meio de um simples incidente processual que, no tocante aos atos expropriatórios, observará as medidas e procedimentos correspondentes à ação executiva dos títulos extrajudiciais (NCPC, art. 513, caput).17 Nesse sentido, o novo Código prevê expressamente a aplicabilidade subsidiária das normas traçadas no Livro II da Parte Especial, “no que couber”, ao cumprimento das sentenças (art. 513, caput). É certo que as disposições relativas à execução, seja ela de título judicial, ou extrajudicial, devem ser basicamente as mesmas, respeitadas as peculiaridades de cada procedimento. Exemplo dessa aplicação subsidiária se encontra nas disposições relativas à penhora e à expropriação de bens (arts. 831 e ss.), situadas no Livro do Processo de Execução, que haverão de prevalecer no incidente de cumprimento da sentença quando nela prevista a satisfação de obrigação por quantia certa.18
O fato de as sentenças declaratórias e as constitutivas não dependerem de atos executivos para realizar o provimento jurisdicional a que correspondem, não afasta a hipótese de ser tomada alguma providência ulterior, no terreno, principalmente, da documentação e publicidade. Assim, em muitas ações de rescisão ou anulação de negócios jurídicos (sentenças constitutivas), de nulidade de contratos, ou de reconhecimento de estado de filiação (sentenças declaratórias), há necessidade de expedir-se mandado para anotações em registros públicos (efeitos mandamentais complementares aos efeitos substanciais da sentença).
Por outro lado, não há sentenças de pura força declarativa ou constitutiva, já que em qualquer decisão que solucione o litígio sempre haverá um capítulo destinado a impor ao vencido os encargos da sucumbência. Nessa parte, portanto, toda sentença será condenatória, e autorizará a movimentação ulterior do incidente de cumprimento forçado, se necessário. Em situação contrária, as sentenças condenatórias nem sempre constituem título executivo em seu conteúdo nuclear, visto que casos há em que o preceito sentencial se basta.
Para passar à execução forçada do comando sentencial é indispensável, em qualquer hipótese, que a condenação corresponda a uma obrigação certa, líquida e exigível (art. 783).19 Por isso, se a sentença, ao acolher pedido genérico (art.
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324, § 1º), não definir o valor devido, ter-se-á de complementá-la por meio do
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procedimento de liquidação (arts. 509 a 512), antes de dar andamento aos atos
destinados a efetivar o seu cumprimento forçado. Eis aí um tipo de sentença condenatória que não se apresenta como título executivo, dando razão a Proto
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Pisani	e Barbosa Moreira	quando advertem que muitas sentenças
os condenatórias não correspondem a título executivo (v. adiante os n 30 a 35).
8. A possibilidade de execução com base em sentença declaratória ou constitutiva
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Ao descrever o título executivo judicial básico, o art. 515, I, do NCPC
reconheceu como título executivo não apenas as sentenças, mas todas “as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregarcoisa”.
Não falando mais o Código em sentença, mas, em decisões, não resta dúvida que são títulos executivos judiciais as decisões relativas às tutelas de urgência ou de evidência, ou quaisquer outras que, no curso do processo, imponham à parte prestações certas e líquidas, de imediato exigíveis.25
Vê-se, ainda, que o novo Código manteve-se na linha de ampliar a força executiva para além dos tradicionais julgados de condenação, acolhendo corrente doutrinária e jurisprudencial que, no regime do Código anterior, já vinha reconhecendo possibilidade, em certos casos, de instaurar execução também com base em decisões declaratórias e constitutivas. A redação do art. 515, I, do NCPC, apoiando-se no reconhecimento judicial de exigibilidade de obrigação, como elemento capaz de identificar a decisão básica do cumprimento forçado do provimento judicial, evidenciou a possibilidade de incluir-se em tal procedimento, também, os julgados declaratórios e constitutivos, desde que neles se contenham os dados configuradores de obrigação exigível, que, para tanto, haverá naturalmente de ser certa e líquida.
Na clássica tripartição das sentenças, somente às condenatórias se reconhecia a qualidade de título executivo, porque seriam elas a únicas que conteriam o comando ao devedor no sentido de compeli-lo à realização de uma prestação. As declaratórias, limitadas à determinação de certeza, não gerariam força alguma para sustentar a pretensão de realização coativa em juízo de qualquer prestação. As constitutivas, também, não seriam títulos executivos,
porque seu efeito não é a certificação de direito a alguma prestação, mas simplesmente a instituição de uma nova situação jurídica que se estabelece imediatamente por emanação da própria sentença, independentemente de qualquer modalidade de cooperação ou comportamento do sujeito passivo.
Mesmo essa visão que parecia tão singela e tão óbvia acabou por sofrer, no direito brasileiro, uma releitura, da qual adveio interessantíssima doutrina com reflexos notáveis sobre a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça formada ainda dentro da vigência do CPC/1973.
O texto daquele Código abria frestas fragilizadoras da teoria de que apenas as sentenças condenatórias produziam título executivo, porque, por exemplo, o seu art. 584 incluía no rol dos títulos executivos judiciais sentenças em que, de forma alguma, o juiz cogitara de ordenar ao vencido qualquer tipo concreto de prestação (sentença penal condenatória, sentença homologatória de conciliação ou transação, formal de partilha). Portanto, não estabelecia o CPC/1973 um monopólio da executibilidade para a sentença condenatória.
Dois outros fatores contribuíram para a doutrina fragilizar, ainda mais, a pretensa exclusividade outrora reconhecida à sentença de condenação:
(a) a ação declaratória, pelo art. 4º, parágrafo único, do CPC/1973 passou a ser cabível até mesmo depois de a obrigação ser exigível, isto é, assegurou-se o acesso da parte à pura declaração de seu direito, quando já era possível reclamar o adimplemento do obrigado por via de provimento condenatório;
(b) nos últimos anos do século XX, o CPC/1973 passou por uma série de reformas, todas preocupadas com a melhor e mais efetiva prestação jurisdicional. Boa parte das inovações ocorreram no terreno da execução forçada, tendo como objetivo eliminar entraves burocráticos à rápida satisfação do direito do credor, e, ainda, facilitar o seu acesso ao processo executivo. Nesse sentido, instituíram-se em leis extravagantes novos e numerosos títulos executivos extrajudiciais. No rol do art. 585 do CPC/1973, a mais significativa inovação deu-se no seu inciso II, onde, a partir da Lei nº 8.953/1994 se conferiu força de título executivo a qualquer documento público ou particular assinado pelo devedor, desde que, no último caso, fosse subscrito também por duas testemunhas. Obviamente o documento haveria de retratar obrigação certa, líquida e exigível, por imposição do art. 586 daquele Código.
Foi aquele o momento propício para a revisão da doutrina clássica de que a sentença declaratória nunca poderia ser utilizada como título executivo. E foi o que nos últimos tempos se deu na jurisprudência, sob liderança do Superior Tribunal de Justiça:
“1. No atual estágio do sistema do processo civil brasileiro não há como insistir no dogma de que as sentenças declaratórias jamais têm eficácia executiva. O art. 4º, parágrafo único, do CPC, considera admissível a ação declaratória ainda que tenha ocorrido violação do direito, modificando, assim, o padrão clássico da tutela puramente declaratória, que a tinha como tipicamente preventiva. Atualmente, portanto, o Código dá ensejo a que uma sentença declaratória possa fazer juízo completo a respeito da existência e do modo de ser da relação jurídica concreta.
2. Tem eficácia executiva a sentença declaratória que traz definição integral da norma jurídica individualizada. Não há razão alguma, lógica ou jurídica, para submetê-la, antes da execução, a um segundo juízo de certificação, até porque a nova sentença não poderia chegar a resultado diferente do da anterior, sob pena de comprometimento da garantia da coisa julgada assegurada constitucionalmente. E instaurar um processo de cognição sem ofertar às partes e ao juiz outra alternativa de resultado que não um, já prefixado, representaria atividade meramente burocrática e desnecessária, que poderia receber qualquer outro qualificativo, menos o de
 (
.
)26j urisdicional”
De fato, se nosso direito processual positivo caminha para a outorga de força de título executivo a todo e qualquer documento particular em que se retrate obrigação líquida, certa e exigível, por que não se reconhecer igual autoridade à sentença declaratória? Esta, mais do que qualquer instrumento particular, tem a inconteste autoridade para acertar e positivar a existência de obrigação líquida, certa e exigível.27 Seria pura perda de tempo exigir, em prejuízo das partes e da própria Justiça, a abertura de um procedimento condenatório em tais circunstâncias. Se o credor está isento da ação condenatória, bastando dispor de instrumento particular para atestar-lhe o crédito descumprido pelo devedor inadimplente, melhor será sua situação de acesso à execução quando estiver aparelhado com prévia sentença declaratória onde se ateste a existência de
dívida líquida e já vencida.28
Observe-se, porém, que nem toda sentença meramente declaratória pode valer como título executivo, mas apenas aquela que na forma do art. 4º, parágrafo único, do CPC/1973 (NCPC, art. 20), se refira à existência de relação obrigacional já violada pelo devedor. Ou seja, a que reconheça “a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa” (NCPC, art. 515, I). As que se limitam a conferir certeza à relação de que não conste dever de realizar modalidade alguma de prestação (como, v.g., a nulidade de negócio jurídico ou a inexistência de dívida ou obrigação) não terão, obviamente, como desempenhar o papel de título executivo, já que nenhuma prestação terá a parte a exigir do vencido.29
A mesma ponderação é cabível em face das decisões constitutivas que, em regra, se limitam a estabelecer nova situação jurídica para as partes, sem prever prestações e contraprestações entre elas, dispensando medidas executivas ulteriores. Não se pode esquecer, todavia, dos casos em que o decisório constitutivo, ao definir o relacionamento jurídico inovado, prevê obrigação doravante exigível entre os litigantes. Pense-se na ação renovatória de locação ou na revisional de contrato que estabeleça novos aluguéis e novos encargos para os interessados. É irrecusável a força executiva para exigir as prestações definidas em sentenças constitutivas dessa natureza.
É, assim, evidente, no sistema atual de nosso processo civil que o dado autorizador da execução forçada não mais adota como parâmetro exclusivo essa ou aquela categoria de sentença do processo de conhecimento.
O que nesse campo se procura, por meioda atividade jurisdicional, é certificar a existência ou não de direitos subjetivos materiais e estabelecer definições de situações jurídicas materiais preexistentes ou formadas pela própria sentença. Os efeitos práticos, manifestáveis pelo cumprimento de prestações ou comportamentos da parte sucumbente, não interferem na essência do ato sentencial e se regem por regras e princípios próprios conectados às exigências do direito material e às conveniências políticas de se estabelecer um procedimento executivo mais singelo ou mais complexo para atingir o efeito concreto ordenado pelo ato sentencial.
Assim, uma sentença condenatória pode ser cumprida com ou sem necessidade do processo autônomo de execução forçada; uma sentença condenatória, pela natureza da prestação violada, pode nunca desaguar numa actio iudicati, ficando apenas no terreno das medidas coercitivas indiretas; uma
sentença declaratória, que, em regra, nada tem a executar, pode, em determinadas circunstâncias, tornar-se título executivo judicial.
Nessa maleabilidade de manejo que as figuras processuais adquiriram no processo efetivo e justo dos novos tempos é que reside a grande riqueza da prestação jurisdicional moderna. Saber fazer uso da abundância dessa fonte de justiça é a virtude por que aspiram os processualistas realmente comprometidos com os novos recursos das garantias constitucionais de tutela jurídica.
9. Tutela interdital como padrão
O processo de conhecimento, na nova sistemática do direito brasileiro, distanciou-se da meta da condenação, que se manifestava pela busca da formação de título executivo, como fecho de um processo e preparação de outro. A sentença não é mais um título de condenação, mas uma fonte direta da execução real ou mandamental, o que a aproxima dos interditos romanos, cuja implementação não se dava por meio da actio iudicati, mas em razão de medidas concretas determinadas de plano pelo pretor. Foge-se, no dizer de Ovídio A. Baptista da Silva, da ordinariedade do processo de conhecimento, que, nos moldes primitivos do CPC/1973, fazia confundir a sentença de condenação com uma sentença declaratória. O Código anterior, por meio de sucessivas reformas, conseguiu superar o modelo romano denominado ordo iudiciorum privatorum.
Mais do que a pura eliminação da autonomia do processo de execução de sentenças, que se alcança com a força de se cumprirem desde logo, no próprio processo da ação cognitiva, o mérito maior da Lei nº 11.232/2005 foi justamente o de adotar como padrão executivo o da tutela interdital, que vê na sentença muito mais do que a definição do direito da parte e da obrigação do devedor, mas um mandamento logo exequível por força imediata do provimento com que se
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acolhe a pretensão da parte. Essa sistemática foi totalmente absorvida pelo
novo Código.
10. Cumprimento por iniciativa do devedor
No sistema do CPC/1973, a redação primitiva do seu art. 570, previa um procedimento especial para o devedor condenado em sentença promover a consignação do objeto de sua obrigação. A técnica de cumprimento da sentença relativa às obrigações de quantia certa, inovada pela Lei nº 11.232/2005 revogou o referido dispositivo (art. 9º). Isto, porém, não importou privar o devedor da
iniciativa de dar cumprimento à sentença. Pelo contrário, o que a nova técnica tornou evidente foi a sujeição do obrigado à realização da prestação reconhecida e imposta em juízo, tanto que se marcou um prazo para tal, sob cominação de multa para a eventualidade de faltar à diligência determinada (CPC/1973 art. 475-J, caput).
O Código de 2015 regula explicitamente essa matéria dispondo que “é lícito ao réu, antes de ser intimado para o cumprimento da sentença, comparecer em juízo e oferecer em pagamento o valor que entender devido, apresentando memória discriminada do cálculo” (art. 526).31
É bom lembrar que se a execução forçada figura no sistema do Código como uma faculdade (direito subjetivo) de que o credor pode livremente dispor (NCPC, art. 775),32 ao devedor a lei civil reconhece não apenas o dever de cumprir a obrigação, como também o direito de liberar-se da dívida (art. 334 do Código Civil).33 Simplificado o procedimento de cumprimento da sentença, tudo se passa da forma mais singela possível: o devedor oferecerá o pagamento diretamente ao credor, dele obtendo a quitação, que será juntada ao processo; ou oferecerá em juízo o depósito da soma devida, mediante levantamento por ele mesmo feito, para obter do juiz o reconhecimento da extinção da dívida e consequente encerramento do processo. Com isso, antecipando à execução do credor, terá condições de evitar multa e encargos acrescidos. Ouvido o credor, e não havendo impugnação, o juiz declarará satisfeita a obrigação e extinguirá o processo (art. 526, § 3º). É mais complicada a situação da iniciativa do devedor no impulso do cumprimento de sentença relativa a prestação de quantia certa, quando não disponha do numerário para depositar em juízo à disposição do credor.
Contando, porém, com bens exequíveis não deverá ficar manietado, em face da omissão do credor em requerer a expedição do mandado de penhora. Embora a lei preveja que os atos expropriatórios serão requeridos pelo credor (NCPC, art. 523), com indicação dos bens passíveis de penhora, (art. 524, VII), não seria justo nem razoável que o devedor nada pudesse fazer, em tal conjuntura, para se liberar da obrigação, diante da inércia do primeiro. Pensamos que o princípio do favor debitoris, princípio geral das obrigações acolhido desde as origens romanas, justifique possa o próprio devedor dar início ao cumprimento da sentença, oferecendo ele mesmo bens à penhora, sem ter de aguardar indefinidamente pela diligência do credor, cuja omissão, às vezes, pode ser caprichosa e abusiva. O princípio do favor debitoris, frequentemente invocado
pelo STJ para liberar, de forma anômala, o devedor, de contratos que realmente
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não tem como cumprir nos termos da avença originária, poderá explicar a
possibilidade da autoexecução de condenação à prestação de dinheiro, quando o credor simplesmente deixa de iniciar o procedimento de cumprimento forçado.
11. Sucumbência
I – Sucumbência no cumprimento de sentença
As despesas processuais do cumprimento da sentença, naturalmente, correm
por conta do executado, como consectário do inadimplemento. Com a abolição da ação autônoma de execução de sentença, chegou-se, nos primeiros tempos de vigência do procedimento sincrético a entender-se descabível a imputação de outra verba advocatícia, na fase executiva, uma vez que, não havendo instauração de nova relação processual não haveria base legal para mais uma condenação daquela espécie. Tudo se passaria sumariamente como simples fase do próprio procedimento condenatório. E, sendo mero estágio do processo já existente, não se lhe aplicaria a sanção do art. 20 do CPC/1973.
A jurisprudência do STJ, todavia, à época, enveredou por outro rumo, tendo a Corte Especial exposado a tese de que “o fato da execução agora ser um mero
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‘incidente’do processo não impede a condenação em honorários”.
Restava, portanto, definir qual o momento em que o juiz arbitraria os honorários da execução, já que não haveria mais citação executiva nem o procedimento de cumprimento da condenação se submeteria a uma nova e necessária sentença. Segundo aquela orientação traçada pela Corte Especial do STJ, haveria de ser aguardado o prazo para cumprimento voluntário da sentença, dentro do qual a condenação seria satisfeita na forma e extensão preconizadas pelo referido ato decisório. Ultrapassado aquele momento processual e tornando- se necessária a realização dos atos próprios da execução forçada, ocorreria a imposição dos novos honorários, para “remuneração do advogado em relação ao trabalho desenvolvido nessa etapa do processo”.
II – Regime do novo Código
Regulando de forma expressa e clara essa situação processual, prevê o art. 523, § 1º, do NCPC que, à falta de cumprimento espontâneo da obrigação de pagar quantia certa,o devedor será intimado a pagar o débito em quinze dias acrescido de custas e honorários advocatícios de dez por cento, sem prejuízo daqueles impostos na sentença. Nesta altura, portanto, dar-se-á a soma das duas
verbas sucumbenciais, a da fase cognitiva e a da fase executiva. Esta última incide, de início, sob a forma de alíquota legal única de dez por cento.
Não se previu norma similar para o cumprimento de sentenças relacionadas com as obrigações de fazer, não fazer e de entregar coisa. Porém, a sujeição do devedor a nova verba advocatícia ocorrerá, também nesses casos, tendo em vista a regra geral de que “são devidos honorários advocatícios (...) no cumprimento de sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não (...) cumulativamente” (art. 85, § 1º).
Portanto, haja ou não, o incidente de impugnação ao cumprimento da
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sentença (NCPC, art. 525, § 1º ), a verba honorária incidirá sempre que o
devedor não cuidar de promover o pagamento voluntário antes de escoado o prazo assinado para tanto (art. 523). Nesse rumo, firmou-se a jurisprudência do STJ, de sorte que, a ultrapassagem do termo legal de cumprimento voluntário da sentença, sem que este tenha sido promovido, acarreta não só a sujeição à multa
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legal do art. 523, § 1º,	como também à nova verba de honorários
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sucumbenciais (art. 85, § 1º ).
III – Sucumbência na impugnação ao cumprimento da sentença
A formulação de impugnação ao cumprimento da sentença não gera, só por si, nova sucumbência para o executado. A propósito, o STJ, em decisão de recursos repetitivos, fixou entendimento que merece prevalecer para o regime do novo CPC, segundo o qual se deve fazer uma distinção entre a impugnação rejeitada e a acolhida, de modo que: (i) “não são cabíveis honorários advocatícios pela rejeição da impugnação ao cumprimento da sentença”; e (ii) “apenas no caso de acolhimento da impugnação, ainda que parcial, serão arbitrados honorários em benefício do executado, com base no art. 20, § 4º, do
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CPC” [NCPC, art. 85, § 1º].
IV – Base de cálculo da verba advocatícia
Discutiu-se, ao tempo do CPC/1973, sobre ser, ou não, obrigatória a inclusão da multa do art. 475-J na base de cálculo dos honorários advocatícios da fase de cumprimento da sentença. A posição do STJ, que merece prevalecer perante o novo Código, foi a de que o montante da multa, “para a fixação dos honorários da fase de cumprimento de sentença, não integra necessariamente sua base de cálculo”.41 Na doutrina elaborada já para o NCPC, Sergio Shimura ensina que, na espécie, “os honorários advocatícios têm a sua base de cálculo no valor
indicado na sentença, e não na somatória do valor constante da decisão e da 42
multa de 10%”.
V – Despesas e custas do cumprimento de sentença
Quanto aos gastos do cumprimento de sentença, há que se fazer a distinção
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entre custas e despesas processuais (NCPC, art. 84). Tratando-se de simples
prosseguimento do processo em que a sentença foi prolatada, não há margem, em princípio, para exigir novo preparo. As custas iniciais referem-se a todo o processo, salvo a instituição por lei local de um novo preparo para o incidente de cumprimento de sentença, já que as custas participam da natureza tributária e
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somente podem ser instituídas por lei. Já as despesas (gastos com atividades
desempenhadas fora dos autos, como transporte, depósito, publicidade etc.)
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submetem-se ao regime da cobrança antecipada, previsto no art. 82 do NCPC.
12. 
Sentença que decide relação jurídica sujeita a condição ou termo
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Dispõe o art. 514 do NCPC que “quando o juiz decidir relação jurídica
sujeita a condição ou termo, o cumprimento da sentença dependerá de demonstração de que se realizou a condição ou de que ocorreu o termo”.
As condições, em direito material, podem ser suspensivas e resolutivas (Código Civil, arts. 125, 127 e 128). O dispositivo em questão, embora não seja explícito, trata, evidentemente, da suspensiva, porque o efeito da condição resolutiva é incompatível com a execução, já que a sua ocorrência importa dissolução do vínculo obrigacional.
Enquanto a condição refere-se a evento futuro e incerto, o termo é o momento também futuro, mas certo, em que o ato jurídico deve produzir seus efeitos.
A não ocorrência da condição ou do termo previstos na sentença faz que ainda não seja exigível a obrigação, impedindo o acesso à jurisdição satisfativa, já que nula é a execução fundada em título de obrigação inexigível (art. 78347). Na realidade, enquanto não realizada a condição ou ocorrido o termo, simplesmente não existirá título executivo.48 Daí se falar-se que – quando o Código prevê execução de sentença sujeita a condição ou termo – cogita, na verdade, de um “título executivo misto, com parte dele judicial (sentença) e
parte dele extrajudicial (demonstração da superação do termo ou condição)”.49 Em outras palavras, trata-se de um título judicial cuja eficácia, todavia, depende de ato extrajudicial posterior.
Chiovenda e Carnelutti são contrários à permissibilidade da sentença subordinada a condição suspensiva. Esclarece o último que a doutrina repele a admissibilidade de uma sentença “cuja eficiência depende de um acontecimento futuro e incerto”. Conforme a lição do festejado mestre, “o fundamento comumente aduzido e indubitavelmente fundado é a contradição entre o estado de pendência e a função da declaração no processo”.50
Entre nossos processualistas, Lopes da Costa lembra que “a sentença condicional destoa, ainda de certo modo, da sistemática de nosso direito substantivo” (Código Civil, art. 125). Pois “o direito sujeito a condição suspensiva não é ainda direito, mas simples esperança de direito: spes debitum iri”. Tanto assim que, pelo art. 130 do mesmo Código, o titular de tal situação jurídica “tem apenas, para garantia da realização possível, direito a medidas cautelares”.51
No entanto, as várias legislações têm admitido a existência de sentenças condenatórias condicionais ou a termo, muito embora a hipótese seja de difícil e rara configuração, na prática. O CPC de 1939 a contemplava no art. 893, o CPC/1973, no art. 572, enquanto o atual mantém a tradição, regulando a execução de tais sentenças nos termos do art. 514.
Não se pode deixar de observar que, dada a impossibilidade de mandar a sentença realizar um direito cuja existência definitiva ainda pende de condições a realizar, o pronunciamento jurisdicional, em semelhantes casos, não chegaria a atender ao fim último do processo que é a composição da lide. Subsiste, como adverte Lopes da Costa, ainda após a prolação da sentença, “o mesmo estado de incerteza”.52 Nunca, porém, seria admissível uma sentença puramente condicional ou hipotética. Em qualquer hipótese, o vínculo jurídico material que a sentença aprecia tem de ser certo e atual, mesmo que originariamente contraído sob condição. Só o evento condicionante de algum efeito seu é que pode, ao tempo da sentença, sujeitar-se à comprovação ulterior.
Melhor seria, de lege ferenda, a pura e simples vedação da sentença condicional tomada em sua acepção total. Haveremos, no entanto, de aceitar a opção do legislador, sendo impossível negar a permissão que o Código deu à existência de sentenças sancionadoras de relações jurídicas condicionais ou a termo. O que se impõe ao aplicador da regra processual é compreendê-la em
dimensões operacionais que se compatibilizem com o direito material em jogo. Se este não reconhece a existência do direito da parte antes do implemento da condição, não pode fazê-lo a sentença, já que, assim procedendo, estaria tutelando direito subjetivo inexistente.
O sentido de solução judicial para “relação jurídica sujeita a condição” há de ser diverso daquele com que o Código Civil define obrigação cujo efeito é subordinado a “evento futuro e incerto” (art. 121). O condicionamento aceitável no plano do processo só pode ser o lógico, segundo o qual uma pretensão certa tem o seu exercíciodependente de um fato também certo a ser cumprido ou respeitado pelo credor. A sentença a respeito só pode ser pronunciada quando formada a certeza acerca dos dois fatos, isto é, do constitutivo do direito da parte, e do outro que lhe condiciona os efeitos.
Pense-se no locador, que tem direito de retomada do imóvel locado, uma vez vencido o prazo negocial, mas que, diante de benfeitorias necessárias introduzidas no prédio pelo locatário, só pode executar a sentença de despejo depois de superar o contradireito de retenção, ou seja, depois de pagar os gastos efetuados pelo réu com a conservação do bem a restituir. Pense-se, também, nos contratos bilaterais em geral, como a compra e venda, a permuta etc., em que o adquirente só pode exigir a entrega da coisa depois de pago ou ofertado o preço ou a contraprestação.
A condenação, in casu, é possível e legítima, mas só se torna exequível quando, após a sentença, ocorrer a condição estipulada pelo julgador, de modo que para exigir a entrega da coisa adquirida, terá o credor de provar primeiro a realização da prestação a seu cargo, exatamente como prevê o art. 514. Sem essa prova, portanto, será carente do direito de reclamar o cumprimento da sentença. Enquanto tal não ocorrer, a obrigação contemplada no título judicial será certa, mas não exigível. Repita-se: sem o requisito da exigibilidade, nenhuma execução é processualmente manejável.
Uma coisa, pois, deve ficar bem esclarecida: quando a lei permite a condenação condicional ou a termo, o que tem em mira é apenas a prestação e nunca a própria relação obrigacional. Seria totalmente inadmissível uma sentença que condenasse alguém a pagar, por exemplo, uma indenização, se ficar, no futuro, provado que praticou ato ilícito, ou, se, em liquidação, se provar que o autor sofreu algum prejuízo. A relação obrigacional, ainda quando sujeita a condição ou termo, tem de ser certa e tem de ser provada antes da condenação. A sentença somente deixará pendente o momento de exigibilidade da prestação, que será aquele em que ocorrer o fato condicionante ou o termo. Fora disso, ter-
se-ia uma sentença meramente hipotética, por declarar uma tese e não solucionar um caso concreto (lide), o que contrariaria todos os princípios do processo e da função jurisdicional.
13. Requisito do requerimento de cumprimento da sentença que decide relação jurídica sujeita a condição ou termo
Já ficou demonstrado que toda execução pressupõe o título executivo e o inadimplemento do devedor. Sem a conduta do obrigado, representada pelo inadimplemento de obrigação exigível (NCPC, art. 786),53 não se pode falar em execução forçada. Carnelutti, aliás, destaca que o fim da citação do processo de execução não é convocar o devedor “para se defender”, mas sim para “confirmar o inadimplemento”.54 Por isso, se a eficácia da condenação estiver subordinada a condição suspensiva ou a termo inicial não ultrapassado, “é claro que não poderá o vencedor exercer seu direito de execução, enquanto não se tornar o vencido inadimplente”;55 e não se pode cogitar de obrigação vencida, se sujeita a condição ou termo, não tiver ainda ocorrido o fato condicionante ou o momento da exigibilidade. É exatamente por isso que, nos termos do art. 514, o requerimento de cumprimento da sentença, em tal situação, deverá ser instruído com prova adequada de que já se realizou a condição ou de que já ocorreu o termo. Só assim a atividade executiva estará objetivamente fundamentada em título de obrigação certa, líquida e exigível (art. 783).

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