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CAPiTULO 1 A Natureza e as Origens da Sociologia a sociedade passa por mudan~as dramaticas, como i1ustrado pela transforma~ao da paisagem com a 'alizac;ao, as pessoas come~am a pensar sobre 0 mundo que as cerca, Como as pessoas poderiam justificar essas manlallC,lse repentinas mudan<;as como, por exemplo, quando 0 antigo sistema feudal deu lugar a uma nova forma de _""m;"arO murido social? Foi nesse contexto que a sociologia nasceu, quando os estudiosos come,aram a ver a sociedade ·ada vez mais como algo que poderia ser analisado sistematicamente. 2 SOCIOLOGL4 CONCElTOS E APLlCAr;:OES A IMPORTANCIA DA SOCIOLOGIA Sociologia e0 estudo do comportamento social das intera',;oes e organiza',;Oes humanas. Na realidade, todos nos somos sociologos porque voce e eu estamos sempre analisando nossos comportamentos e nossas experiencias interpessoais em situa',;oes organizadas. 0 objetivo da sociologia e tornar essas compreensoes cotidianas da sociedade mais sistematicas e precisas, it medida que suas percep',;oes vao alem de nossas experiencias pessoais. Pois nos somos simplesmente pequenos jogadores num mundo imenso e complexo, com pessoas, simbolos e estruturas sodais, e somente ampliando nossa perspectiva alem do "aqui e agora" e que podemos perceber as causas que moldam e limitam nossas vidas. A enfase na limita',;ao choca-se com as cren',;as pessoais de individuos que gostam de se ver como inflexiveis, que usam seu livre arbitrio e iniciativa para moldar seu destino. Ate urn certo ponto, nos todos podemos fazer isso, mas nem sempre estamos livres de restri',;oes. Agimos num meio social que influencia profundamente nossa maneira de sentir e ser em rela',;ao a nos mesmos e ao mundo que nos cerca, como nos vemos e percebemos os acontecimentos, como agimos e pensamos, e onde e a que distancia podemos ir na vida. As vezes, a limita',;ao e obvia, ate mesmo opressiva e enfraquecedora; muito freqiientemente e sutH e ate mesmo despercebida. Entretanto, ela esta constantemente moldando nossos pensamentos, sentimentos e a',;oes. Examine a situa',;ao de urn aluno de faculdade. Ha grandes val ores culturais e cren',;as que enfatizam a importancia da educa',;ao e, desse modo, for',;am os alunos a perceber e acreditar que eles devem ir it faculdade. Para alguns, ha pressoes e expectativas dos pais, tomando as pressOes para iT it escola ainda maiores. Ha limita',;oes da propria escola - presen',;a, fichas de leitura, provas - definindo 0 que se pode fazer. Ha pressoes de classe social quanto dinheiro se tern para gas tar -, que determinam se urn aluno deve tambem trabalhar enquanto vai it escola. E, se 0 trabalho e necessario, ha limita',;Oes do proprio local de trabalho, bern como os problemas de horario e concilia',;ao entre escola e trabalho. A propria esposa e os filhos da pessoa podem limita-la a urn horario apertado. Existem as restri',;Oes de economia e mercado de trabalho que afetam as decisOes dos alunos sobre seus principais objetivos de carreira academica e de vida. As politicas govemamentais que afetam os fund os ptiblicos para os alunos (emprestimos, doa',;oes, bolsas de estudos para pesquisas) e para a faculdade ou universidade como urn todo. Essas restri',;oes govemamentais e economicas sao, pOI sua vez, amarradas apoHtica economica mundial como balan',;as da autoridade geopolitica e comercio economico. Ha urn ponto que espero que esteja claro: todos nos vivemos numa teia complexa de causas que dita muito do que vemos, sentimos e fazemos. Nenhum de nos e totalmente livre; na verdade, podemos escolher nosso caminho na vida cotidiana, mas nossas op',;Oes sao sempre limitadas. Isso refor',;a a ideia sociol6gica de que 0 homem e produto e produtor de sua cultura. Ele constroi 0 seu meio e e por este construido. A sociologia examina essas limita',;oes e, como tal, e uma area muito ampla, pois todos os simbolos culturais que os seres humanos criam e usam para interagir e organi7M't sociedade; ela expiora todas as estruturas sociais que ditam a vida social, examina todosG processos sociais, tais como desvio, crime, divergencia, conflitos, migra',;Oes e movi:meall sociais, que fluem atraves da ordem estabelecida socialmente; e busca enteDderi transforma',;oes que esses process os provocam na cultura e estrutura social. 3 CAPjrLLO 1: A SAn-REZA E ,1S ORIGENS DA SOCIOLOGIA Emtempos demudam;a, em que a cultura e a estrutura estao atravessando transfoITna<;Oes dramaticas, a sociologia torna-se especialmente impoTtante (Nisbet, 1969). Como a velha maneira de fazer as coisas se transforma, as vidas pessoais sao interrompidas e, como conseqiienda, as pessoas buscam respostas para 0 fato de as rotinas e formulas do passado nao fundonarem mais. 0 mundo hoje esta passando por uma transforma<;ao dramatica: 0 aumento de conflitos etnicos, 0 desvio de empregos para paises com mao-de-obra mais barata, as fortunas instaveis da atividade economica e do comercio, a dificuldade de servi<;os de financiamento do governo, a mudan<;a no mercado de trabalho, a propaga<;ao de uma doen<;a mortal (sfndrome da imunodeficiencia adquirida - AIDS), 0 aumento da fome nas superpopula<;oes, a quebra do equilibrio ecologico, a redefini<;ao dos papeis sociais dos homens e das mulheres e muitas outras mudan<;as. Enquanto a vida social e as rotinas diarias se tornam mais ativas, a percep<;ao sociologica nao e completamente necessaria. Mas, quando a estrutura basica da sociedade e da cultura muda, as pessoas buscam 0 conhecimento sociologico. Isso nao e verdade apenas hoje - foi a razao principal de a sociologia surgir em primeiro plano como uma disciplina diferente nas primeiras decadas do seculo XIX. o SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA No limiar do seculo XXI, estamos vivendo urn momenta da Historia que os especialistas estao denominando de globaliza<;ao. Vma das caracteristicas marcantes da globaliza<;ao sao os sistemas de comunica<;ao que unem e aproximam os espa<;os. A televisao, por exemplo, coloca urn fato de urn pais distante dentro de nossa casa no mesmo momenta em que ele esta acontecendo, e tudo parece estar ocorrendo aU "na esquina de nossa casa". A tecnologia da comunica<;ao imprimiu maior velocidade ao mercado economico, fazendo com que a mercadoria circulasse e fosse distribuida mais rapidamente. Vtilizando a expressao de McLuhan, 0 mundo se transformou numa aldeia global. Ianni (1922) e Souza Neto (1998) constatam que a globaliza<;ao nao e urn fato acabado, mas urn fenomeno em marcha, que destroi possibilidades e, ao mesmo tempo, cria outras. Eurn movimento que atinge todas as esferas da vida social, individual e coletiva. Em cada lugar ou cidade, a globaliza<;ao toma uma diferente fisionomia, ou seja, uma coisa e a inu-rface da globaliza<;ao com a cidade de Sao Paulo, outra coisa e a mesma interface com Salvador, na Bahia. Na expressao de Castells (1999), a sociedade hoje e a sociedade da informa<;ao, uma sociedade em rede, que conecta e desconecta em qualquer momento e lugar. Vma sociedade em rede ultrapassa as rela<;oes sociais e tecnicas de produ<;ao, atinge a cultura e as rela<;Oes de poder. Rifkin (1995) caracteriza 0 movimento da globaliza<;ao como uma era de mercados globais, de produ<;iio automatizada, 0 processo produtivo avista quase sem a presen<;a do trabalhador da forma pela qual estamos acostumados, as multinacionais buscando abrir as fronteiras e transformando a vida de bilhoes de pessoas para conquistar os mercados globais. Ele constata que a dinamica da globaliza<;ao podera conduzir a humanidade a urn porto seguro ou a urn terrivel abismo. Se de urn lado 0 tim do trabalho e a senten<;a de morte da civiliza<;ao, podera sinalizar tambem algumas mudan<;as que provocarao urn ressurgimento do espirito humano. Enfim, "0 futuro esta em nossas maos". Atraves dos tempos, 0 homem pensou sobre si mesmo e sobre0 universo. Contudo, foi apenas no seculo XVIII que uma confluencia de eventos na Europa levou aemergencia 4 SOClOLOGIA - CONCEITOS E APLlCA(:OES da sociologia. Quando os antigos sistemas feudais come~aram a abrir caminho ao trabalho aut6nomo que promovia a industria nas areas urbanas e quando novas formas de governo come~aram a desafiar 0 poder das monarquias, as institui~oes da sociedade - emprego e receita, pIanos de beneficios, comunidade, fatm1ia e religHio - foram alteradas para sempre. Como era de se esperar, as pessoas ficaram inquietas com a nova ordem que surgia, e come~aram a pensar mais sistematicamente sobre 0 que as mudant;aS significavam para 0 futuro (Turner, Beeghley e Powers, 1989). o movimento intelectual resultante e denominado de Duminismo ou Seculo das Luzes, pois a influencia da religiao, da tradi~ao e do dogma no pensamento intelectual foi finalmente rompida. A ciencia agora poderia surgir plenamente como urna maneira de pensar 0 mundo; ja a fisica e, mais tarde, a biologia foram capazes de superar a persegui~ao realizada pelas elites religiosas e estabeleceram-se como um caminho para 0 conhecimento. Junto com 0 crescimento da influencia da ciencia, veio uma avalanche de cO'hceitos sobre 0 universe social. Muitos desses conceitos, de cani.ter especulativo, avaJiavam a natureza dos homens e as primeiras sociedades infiltradas pela complexidade do mundo modemo. Parte desses conceitos era moralista, mas nao no sentido religioso. Com eles, 0 tipo adequado de sociedade e de rela~oes entre os individuos (uns com os outros e na sociedade) foi reavaliado com base nas mudan~as econ6mica e politica ocorridas com 0 comercio e, em seguida, com a industrializa~ao. Na Inglaterra, esse novo pensamento foi denominado de Era da Raziio; e estudiosos, como Adam Smith (1776), que primeiramente articulou as leis da oferta e da procura na area de mercado, tambem avaliaram os efeitos, na sociedade, do nipido crescimento populacional, da especializa~ao economica em escala, da comunidade em dec1fnio e dos sentimentos morais debilitados. Na Fran~a, um grupo de pensadores conhecido como fil6sofos das luzes tambem come~ou a expor uma visao do mundo social que defendia uma sociedade em que os individuos eram livres da autoridade politica arbitraria e eram guiados por padroes morais combinados e pelo govemo democratico. Nnda outra influencia por tras do surgimento da sociologia a Revolu~ao Francesa, de 1789 - acelerou 0 pensamento sistematico sobre 0 mundo social. A vioU~ncia da revolu~ao foi urn choque para toda a Europa, pois, se tal violencia e influencia puderam derrubar 0 velho regime, 0 que houve para substitui-Io? Como a sociedade poderia ser reconstrufda a fim de evitar tais eventos cataclismicos? Enesse ponto, nas decadas finais do seculo XVIII e inicio do XIX, que a sociologia como uma disciplina autoconsciente foi planejada. Auguste Comu {1798-1857}, 0 Fundador da Sociologia A heran~a francesa do Iluminismo e as ondas de choque da Revolu~ao Francesa levaram Auguste Comte em seu quinto volume do Curso de Filosofia Positiva1 (1830-1842) a examinar a solicita~ao por uma disdplina dedicada ao estudo cientifico da sociedade. Comte quis chamar essa disdplina de "f{sica social" para enfatizar que estudaria a natureza fundamental douniverso social, mas ele foi praticamente for~do a deterrninar 0 termo lubrido greco-latino, sodologia. 1 N.R.T.: No original. COUts de Philosophie Positive. 1 5 CAPITeLO 1: A .\',1 TUREL1 E AS ORIGENS DA SOCIOLOGIA o problema central para a sodologia era aquele que tinha sido articulado pelos pensadores mais antigos no lluminismo: como a sociedade deve ser mantida unida quando se torna maior, mais complexa, mais variada, mais diferenciada, mais espedalizada e mais dividida? Aresposta de Comte foi que as ideias e as crent;as comuns - urn consensus universalis, em suas palavras precisavam ser desenvolvidas para dar a sociedade uma moralidade "universal". Essa resposta nunca foi desenvolvida, mas a preocupa~o com os simbolos e a cu1tura, como uma fo~a unificadora para manter a essencia do conceito socio16gico frances, existe ate os dias de hoje. A principal contribui~ao de Comte para 0 desenvolvimento da sociologia nao foi tanto a essencia de suas ideias, mas sua defesa pela aceita~ao da sociologia como uma area legitima de estudo. Estabelecer uma nova disciplina nunca e facil, pois ha sempre alguns interesses Auguste Comte (1798-1857) investidos contrarios as novas maneiras de pensar. A sociologia era para ser uma disdplina dedicada ao estudo da sociedade, e as velhas disciplinas academicas, tais como filosofia, etica, teologia e direito, for am amea~adas por esta recem-chegada. Foi assim que Comte dispendeu muito do seu notavel trabalho, justificando 0 direito de a sociologia de ser reconhedda como cienda. Uma tatica que Comte empregou para fazer com que a sociologia parecesse legitirna foi postular a lei dos tres estados, na qual 0 conhecimento esta sujeito, em sua evolu~ao, a passar por tres estados diferentes. 0 primeiro estado e0 teol6gico2, em que 0 pensamento sobre 0 mundo edominado pelas considera~6es do sobrenatural, religiao e Deus; 0 segundo estado e 0 metafi~ico3, em que as atra~6es do sobrenatural sao substituidas pelo pensamento filos6fico sobre a essencia dos fenomenos e pelo desenvolvimento da matematica, 16gica e outros sistemas neutros de pensamento; e 0 terceiro estado e0 positivo, em que a ciencia, ou a observa~ao cuidadosa dos fatos empiricos, eo teste sistematico de teorias tornam-se modos dominantes para se acumular conhecimento. E com 0 estado positivo 0 conhecimento pode ter utilidade pratica a fim de melhorar as vidas das pessoas. A sociedade como urn todo, bern como 0 pensamento sobre cada dominio do universo, evolui atraves desses tres estagios, mas em velocidades diferentes: a astronomia e a ffsica primeiro, depois a quimica e a biologia, e finalmente a sociologia surge como 0 ultimo modo de pensar para entrar no estado positivo. Na visao de Comte, a analise da sociedade estava pronta para ser reconhecida como ciencia uma reivindica~ao que era desafiada na 2 N.R.T.: Teologico ou ficticio. 3 N.R.T.: Metatisico ou abstrato. 6 SOC/aLOGIA - CONCEITOS E APLICAC;:OES epoca de Comte, assim como ainda hoje. E como as leis da organiza<;ao humana eram desenvolvidas, Comte (1851-1854) acreditava que elas poderiam ser usadas para melhorar a condi<;ao humana novamente, urn tema tao controverso hoje quanta na epoca de Comte. Uma segunda tatica legitima empregada por Comte foi postular a hierarquia das ciencias, na qual todas as ciencias eram ordenadas de acordo com sua complexidade e seu movimento no estado positivo. Na parte inferior da hierarquia estava a matematica, a lingua de todas as cit~ncias mais altas na hierarquia, e no topo, su:rg:indo da biologia, estava a sociologia, que num momento de extase Comte definiu como "ciencia da humanidade", coroamento de toda a forma<;ao cientifica. Pois, se a sociologia foi a Ultima ciencia a surgir, era tam bern a mais avan<;ada em rela<;ao a seu assunto, como urn modo legitimo de questionamento ou pelo menos assim Comte a concebia. '" o Primeiro SociOlogo Ingles: Herbert Spencer (1820-1903) Oepois do trabalho de Comte, Herbert Spencer foi 0 primeiro soci6logo do seculo XIX a prosseguir com a sociologia cientifica. Como Comte, Spencer (1873) acreditava que os agrupamentos humanos podiam ser estudados cientificamente, e em seu nota vel trabalho de tres volumes, Os Principios da Sociologia (1874-1896), ele desenvolveu uma teoria de organiza<;ao social do homem, apresentando uma vasta serie de dados hist6ricos e etnogrcificos para fundamenta-Ia. Para Spencer, todos os dominios do universo fisico, biol6gico e social- desenvolvem-se segundo principios semelhantes(Spencer, 1862). E a tarefa da sociologia e aplicar esses prindpios ao que ele denominou de campo superorganico, ou 0 estudo dos padroes de rela<;oes dentre os organismos. Spencer retoma a questao de Comte: 0 que mantem unida a sociedade quanta esta se toma maior, rna is heterogenea, mais complexa e mais diferenciada? Aresposta de Spencer, em termos gerais, foi muito simples: sociedades grandes, complexas, desenvolvem: (1) interdepen dencias dentre seus componentes especializados; e (2) concentra<;oes de poder para controlar e coordenar atividades dentre unidades interdepen dentes. Para Spencer a evolu<;ao da sociedade engloba 0 crescimento e a complexidade que e gerenciada pela interdependencia e pelo poder. Se os padroes da interdependencia e concentra<;Oes de poder falham ao surgir na sociedade, ou sao inadequados a tarefa, ocorre a dissolu<;ao, e a sociedade se desmorona. Ao desenvolver resposta aquestao basica de Comte, Spencer fez uma analogia aos corpos organicos, argumentando que as sodedades, como organismos biol6gicos, devem desempenhar certas fun<;oes-chave se elas quiserem sobreviver. As Herbert Spencer (1820-1903) sociedades devem reproduzir-se; devem produzir j CAPITULO I: ,1 SATUREZA E AS ORIGESS D,; SOClOWGlA 7 bens e produtos para sustentar os membros; devem prover a distribui~ao desses produtos aos membros da sociedade; e elas de vern coordenar e regular as atividades dos membros. Quando as sociedades crescem e se tornam mais complexas, revelando muitas divis6es e padroes de especializa~ao, estas fun~oes-chave tornam-se distintas ao longo de tres linhas: (1) a operacional (reprodu~ao e produ~ao), (2) a distribuidora (0 fluxo de materiais e informa~ao), e (3) a reguladora (a concentra~ao de poder para controlar e coordenar). Spencer e mais bern lembrado por instituir uma teoria na sociologia conhecida como funcionalismo (J. Turner, 1985b). Essa teoria express a a ideia de que tudo 0 que existe em uma sociedade contribui para seu funcionamento equilibrado; de que tudo 0 que nela existe tern urn sentido, urn significado. A sociologia funcionalista dessa maneira faz uma pergunta basica e interessante: 0 que urn fenomeno cultural ou social faz para a manuten~ao e integra~ao da sociedade? A Tradifiio Francesa: Emile Durkheim (J858-1917) Muito do modo de analise de Spencer foi adotado pelo primeiro grande soci610go frances, Emile Durkheim, mas as ideias de Spencer foram modificadas a fim de se adequarem a extensa linhagem francesa (J. Turner, 1984b). Como Spencer, Durkheim (1895) defendeu a pesquisa por leis sOciol6gicas, mas, ao contnlrio de Spencer, Durkheim adotou a posi~ao comteana de que 0 conhecimento socio16gico poderia ser usado para construir uma sociedade melhor. Como Spencer, para Durkheim (1893) a questao central da sociologia era propor exp1ica~6es para a integra~ao da sociedade quando esta se toma maior e mais complexa, mas, ao contrario de Spencer, Durkheim (1891) manteve-se fiel aheran~a francesa e enfatizou a imporHincia das ideias comuns como for~a unificadora. Como Spencer, Durkheim (1895) adotou uma postura funcionalista, argumentando que as explica~6es sociol6gicas devem procurar descobrir como urn elemento do mundo social cumpre uma necessidade da sociedade, mas, ao contnlrio de Spencer, Comte enfatizou apenas uma necessidade - a necessidade de integrar os membros da sociedade num todo coerente. o que marca a contribui~ao de Durkheim a sociologia e 0 reconhecimento de que os sistemas de~simbolos culturais - ou seja, valores, cren~as, dogmas religiosos, ideologias etc. sao uma base importante para a integra~ao da sociedade a. Turner, 1981). Amedida que as sociedades se tomam complexas e heterogeneas, a natureza de simbolos culturais, ou 0 que Durkheim (1893) denominou de consciencia coletiva, muda. Em sociedades simples, todos os individuos tern uma consdencia coletiva comum que regula seus pensamentos e a~6es, ao passo que em sociedades mais complexas a conscienda coletiva deve tambem mudar se a . sociedade deve manter-se integrada. Deve tornar-se mais IIgeneralizada" e IIabstrata" a fim de fomecer alguns slmbolos comuns dentre as pessoas em atividades especializadas e separadas, ao passo que em outro myel se toma tambem mais concreta para assegurar que as rela<;oes entre, e interiormente, as posi~6es especializadas e organiza~6es nas sodedades complexas sejam reguladas e coordenadas. A condi~ao social, entretanto, e possivel emsociedades grandes, complexas quando ha alguns simbolos comuns que todos os individuos partilham, juntamente com grupos especificos de simbolos que guiam as pessoas em suas rela~6es concretas com os 14 SOCIOLOGIA CONCEITOS E APLICA(:OES comportamentos e intera~6es? Como estes podem ser entendidos? Assim terminamos onde come~amos esta recapitula~ao da sodologia, pois a sodologia surgiu nas primeiras decadas do ultimo seculo e persiste ate hoje nos anos remanescentes do secuIo XX porque se busca entender a dinanuca e as causas que produzem mudan~s capazes de transformar nossas vidas. RESUMO 1. A sodologia e 0 estudo dos fenomenos sociais, da intera~ao e da organiza~ao social. 2. A sociologia e importante para cada dia de nossas vidas, pOis fomece instrumentos para entender as for~as extemas que regulam nossos pensamentos, percep~oes e a~oes. 3. A sociologia surgiu sob as condi<;oes de mudan<;a associadas com: a) 0 decHnio do feudalismo e 0 aparecimento do comercio, da industria e da urbaniza~ao; b) 0 movimento intelectual conhecido como Iluminismo, no qual a ciencia e 0 pensamento laico sobre os mundos fisico, bio16gico e social poderiam prosperar; e c) 0 choque traumatico e a mudan~a social brusca decorrentes da Revolu~ao Francesa. 4. 0 nome sociologia foi proposto pelo pensador frances, Auguste Comte, que acreditava que a ciencia da sociedade poderia competir com as ciencias naturais. Comte tambem sentia que 0 descobrimento das leis da organiza~ao social humana poderia ser usado para reconstruir a sociedade de uma forma mais humana. 5. Herbert Spencer na Inglaterra similarmente argumentava que as leis da organiza~ao humana poderiam ser desenvolvidas. Essas leis iriam concentrar-se no crescimento e na complexidade da sociedade, visto que essas causas criavam pressoes para: a) 0 aumento da interdependencia e troca entre as pessoas e organiza~ao de uma sociedade: e b) 0 aumento do uso do poder para regular, controlar e coordenar as atividades desses membros e unidades organizacionais. Spencer fundou uma teoria sociol6gica conhecida como funcionalismo, em que a fun~ao de uma estrutura social na manuten~ao da sociedade era enfatizada. 6. Emile Durkheim adotou as ideias de Spencer, mas deu continuidade atradi~ao francesa de enfatizar a importancia das ideias culturais para a integra<;ao da sociedade. Como Spencer, ele era urn funcionalista e acreditava que as leis da organiza~ao humana poderiam ser descobertas, mas acrescentou a teoria de Spencer a importancia de se descobrir as causas e fun~oes dos simbolos que buscam integrar a sociedade. 7. Karl Marx, urn alemao que foi expulso de sua terra natal e que acabou se estabelecendo na Inglaterra, eniatizou a natureza contradit6ria da sociedade, inspirando uma teoria conhedda como a teoria do confiito ou sociologia do confiito. Na opiniao de Marx, as desigualdades na distribui~ao de meios de produ<;ao armam 0 palco para a transforma~ao da sociedade, pois as pessoas sem os meios de produ<;ao se organizam para entrar em conflito com aquelas que controlam a produ~ao, que detem 0 poder, e que manipulam os simbolos culturais para legitimar seus privilegios. Ao contrario de Cornte, Spencer e Durkheim, Marx nao acreditava no desenvolvimento de leis gerais para a organizaQio humana. &. Max ~ outro importallle fundador alemao da sociologia,engajou-se num diaIogo .........,_SiJerMjOSOoom Marx" enfatizando que a desigualdade emultidimensional ~ew.-'.w¥_h;rneada..eoooomia, que 0 conflito econtingente em condi<;oes
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