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A natureza e as origens da sociologia Turner

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CAPiTULO 1 
A Natureza e as Origens 
da Sociologia 
a sociedade passa por mudan~as dramaticas, como i1ustrado pela transforma~ao da paisagem com a 
'alizac;ao, as pessoas come~am a pensar sobre 0 mundo que as cerca, Como as pessoas poderiam justificar essas 
manlallC,lse repentinas mudan<;as como, por exemplo, quando 0 antigo sistema feudal deu lugar a uma nova forma de 
_""m;"arO murido social? Foi nesse contexto que a sociologia nasceu, quando os estudiosos come,aram a ver a sociedade 
·ada vez mais como algo que poderia ser analisado sistematicamente. 
2 SOCIOLOGL4 CONCElTOS E APLlCAr;:OES 
A IMPORTANCIA DA SOCIOLOGIA 
Sociologia e0 estudo do comportamento social das intera',;oes e organiza',;Oes humanas. 
Na realidade, todos nos somos sociologos porque voce e eu estamos sempre analisando 
nossos comportamentos e nossas experiencias interpessoais em situa',;oes organizadas. 0 
objetivo da sociologia e tornar essas compreensoes cotidianas da sociedade mais 
sistematicas e precisas, it medida que suas percep',;oes vao alem de nossas experiencias 
pessoais. Pois nos somos simplesmente pequenos jogadores num mundo imenso e 
complexo, com pessoas, simbolos e estruturas sodais, e somente ampliando nossa 
perspectiva alem do "aqui e agora" e que podemos perceber as causas que moldam e 
limitam nossas vidas. 
A enfase na limita',;ao choca-se com as cren',;as pessoais de individuos que gostam de 
se ver como inflexiveis, que usam seu livre arbitrio e iniciativa para moldar seu destino. 
Ate urn certo ponto, nos todos podemos fazer isso, mas nem sempre estamos livres de 
restri',;oes. Agimos num meio social que influencia profundamente nossa maneira de sentir 
e ser em rela',;ao a nos mesmos e ao mundo que nos cerca, como nos vemos e percebemos 
os acontecimentos, como agimos e pensamos, e onde e a que distancia podemos ir na vida. 
As vezes, a limita',;ao e obvia, ate mesmo opressiva e enfraquecedora; muito freqiientemente 
e sutH e ate mesmo despercebida. Entretanto, ela esta constantemente moldando nossos 
pensamentos, sentimentos e a',;oes. 
Examine a situa',;ao de urn aluno de faculdade. Ha grandes val ores culturais e cren',;as 
que enfatizam a importancia da educa',;ao e, desse modo, for',;am os alunos a perceber e 
acreditar que eles devem ir it faculdade. Para alguns, ha pressoes e expectativas dos pais, 
tomando as pressOes para iT it escola ainda maiores. Ha limita',;oes da propria escola - presen',;a, 
fichas de leitura, provas - definindo 0 que se pode fazer. Ha pressoes de classe social 
quanto dinheiro se tern para gas tar -, que determinam se urn aluno deve tambem trabalhar 
enquanto vai it escola. E, se 0 trabalho e necessario, ha limita',;Oes do proprio local de trabalho, 
bern como os problemas de horario e concilia',;ao entre escola e trabalho. A propria esposa e 
os filhos da pessoa podem limita-la a urn horario apertado. Existem as restri',;Oes de economia 
e mercado de trabalho que afetam as decisOes dos alunos sobre seus principais objetivos de 
carreira academica e de vida. As politicas govemamentais que afetam os fund os ptiblicos 
para os alunos (emprestimos, doa',;oes, bolsas de estudos para pesquisas) e para a faculdade 
ou universidade como urn todo. Essas restri',;oes govemamentais e economicas sao, pOI sua 
vez, amarradas apoHtica economica mundial como balan',;as da autoridade geopolitica e 
comercio economico. Ha urn ponto que espero que esteja claro: todos nos vivemos numa teia 
complexa de causas que dita muito do que vemos, sentimos e fazemos. Nenhum de nos e 
totalmente livre; na verdade, podemos escolher nosso caminho na vida cotidiana, mas nossas 
op',;Oes sao sempre limitadas. Isso refor',;a a ideia sociol6gica de que 0 homem e produto e 
produtor de sua cultura. Ele constroi 0 seu meio e e por este construido. 
A sociologia examina essas limita',;oes e, como tal, e uma area muito ampla, pois 
todos os simbolos culturais que os seres humanos criam e usam para interagir e organi7M't 
sociedade; ela expiora todas as estruturas sociais que ditam a vida social, examina todosG 
processos sociais, tais como desvio, crime, divergencia, conflitos, migra',;Oes e movi:meall 
sociais, que fluem atraves da ordem estabelecida socialmente; e busca enteDderi 
transforma',;oes que esses process os provocam na cultura e estrutura social. 
3 CAPjrLLO 1: A SAn-REZA E ,1S ORIGENS DA SOCIOLOGIA 
Emtempos demudam;a, em que a cultura e a estrutura estao atravessando transfoITna<;Oes 
dramaticas, a sociologia torna-se especialmente impoTtante (Nisbet, 1969). Como a velha maneira 
de fazer as coisas se transforma, as vidas pessoais sao interrompidas e, como conseqiienda, as 
pessoas buscam respostas para 0 fato de as rotinas e formulas do passado nao fundonarem 
mais. 0 mundo hoje esta passando por uma transforma<;ao dramatica: 0 aumento de 
conflitos etnicos, 0 desvio de empregos para paises com mao-de-obra mais barata, as 
fortunas instaveis da atividade economica e do comercio, a dificuldade de servi<;os de 
financiamento do governo, a mudan<;a no mercado de trabalho, a propaga<;ao de uma 
doen<;a mortal (sfndrome da imunodeficiencia adquirida - AIDS), 0 aumento da fome nas 
superpopula<;oes, a quebra do equilibrio ecologico, a redefini<;ao dos papeis sociais dos 
homens e das mulheres e muitas outras mudan<;as. Enquanto a vida social e as rotinas 
diarias se tornam mais ativas, a percep<;ao sociologica nao e completamente necessaria. 
Mas, quando a estrutura basica da sociedade e da cultura muda, as pessoas buscam 0 
conhecimento sociologico. Isso nao e verdade apenas hoje - foi a razao principal de a 
sociologia surgir em primeiro plano como uma disciplina diferente nas primeiras decadas 
do seculo XIX. 
o SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA 
No limiar do seculo XXI, estamos vivendo urn momenta da Historia que os especialistas 
estao denominando de globaliza<;ao. Vma das caracteristicas marcantes da globaliza<;ao 
sao os sistemas de comunica<;ao que unem e aproximam os espa<;os. A televisao, por 
exemplo, coloca urn fato de urn pais distante dentro de nossa casa no mesmo momenta em 
que ele esta acontecendo, e tudo parece estar ocorrendo aU "na esquina de nossa casa". 
A tecnologia da comunica<;ao imprimiu maior velocidade ao mercado economico, 
fazendo com que a mercadoria circulasse e fosse distribuida mais rapidamente. Vtilizando 
a expressao de McLuhan, 0 mundo se transformou numa aldeia global. Ianni (1922) e 
Souza Neto (1998) constatam que a globaliza<;ao nao e urn fato acabado, mas urn fenomeno 
em marcha, que destroi possibilidades e, ao mesmo tempo, cria outras. Eurn movimento 
que atinge todas as esferas da vida social, individual e coletiva. 
Em cada lugar ou cidade, a globaliza<;ao toma uma diferente fisionomia, ou seja, 
uma coisa e a inu-rface da globaliza<;ao com a cidade de Sao Paulo, outra coisa e a mesma 
interface com Salvador, na Bahia. Na expressao de Castells (1999), a sociedade hoje e a 
sociedade da informa<;ao, uma sociedade em rede, que conecta e desconecta em qualquer 
momento e lugar. Vma sociedade em rede ultrapassa as rela<;oes sociais e tecnicas de 
produ<;ao, atinge a cultura e as rela<;Oes de poder. 
Rifkin (1995) caracteriza 0 movimento da globaliza<;ao como uma era de mercados 
globais, de produ<;iio automatizada, 0 processo produtivo avista quase sem a presen<;a do 
trabalhador da forma pela qual estamos acostumados, as multinacionais buscando abrir 
as fronteiras e transformando a vida de bilhoes de pessoas para conquistar os mercados 
globais. Ele constata que a dinamica da globaliza<;ao podera conduzir a humanidade a urn 
porto seguro ou a urn terrivel abismo. Se de urn lado 0 tim do trabalho e a senten<;a de 
morte da civiliza<;ao, podera sinalizar tambem algumas mudan<;as que provocarao urn 
ressurgimento do espirito humano. Enfim, "0 futuro esta em nossas maos". 
Atraves dos tempos, 0 homem pensou sobre si mesmo e sobre0 universo. Contudo, 
foi apenas no seculo XVIII que uma confluencia de eventos na Europa levou aemergencia 
4 SOClOLOGIA - CONCEITOS E APLlCA(:OES 
da sociologia. Quando os antigos sistemas feudais come~aram a abrir caminho ao trabalho 
aut6nomo que promovia a industria nas areas urbanas e quando novas formas de governo 
come~aram a desafiar 0 poder das monarquias, as institui~oes da sociedade - emprego e 
receita, pIanos de beneficios, comunidade, fatm1ia e religHio - foram alteradas para sempre. 
Como era de se esperar, as pessoas ficaram inquietas com a nova ordem que surgia, e 
come~aram a pensar mais sistematicamente sobre 0 que as mudant;aS significavam para 0 
futuro (Turner, Beeghley e Powers, 1989). 
o movimento intelectual resultante e denominado de Duminismo ou Seculo das Luzes, 
pois a influencia da religiao, da tradi~ao e do dogma no pensamento intelectual foi 
finalmente rompida. A ciencia agora poderia surgir plenamente como urna maneira de 
pensar 0 mundo; ja a fisica e, mais tarde, a biologia foram capazes de superar a persegui~ao 
realizada pelas elites religiosas e estabeleceram-se como um caminho para 0 conhecimento. 
Junto com 0 crescimento da influencia da ciencia, veio uma avalanche de cO'hceitos sobre 0 
universe social. Muitos desses conceitos, de cani.ter especulativo, avaJiavam a natureza 
dos homens e as primeiras sociedades infiltradas pela complexidade do mundo modemo. 
Parte desses conceitos era moralista, mas nao no sentido religioso. Com eles, 0 tipo adequado 
de sociedade e de rela~oes entre os individuos (uns com os outros e na sociedade) foi 
reavaliado com base nas mudan~as econ6mica e politica ocorridas com 0 comercio e, em 
seguida, com a industrializa~ao. Na Inglaterra, esse novo pensamento foi denominado de 
Era da Raziio; e estudiosos, como Adam Smith (1776), que primeiramente articulou as leis 
da oferta e da procura na area de mercado, tambem avaliaram os efeitos, na sociedade, do 
nipido crescimento populacional, da especializa~ao economica em escala, da comunidade 
em dec1fnio e dos sentimentos morais debilitados. Na Fran~a, um grupo de pensadores 
conhecido como fil6sofos das luzes tambem come~ou a expor uma visao do mundo social 
que defendia uma sociedade em que os individuos eram livres da autoridade politica 
arbitraria e eram guiados por padroes morais combinados e pelo govemo democratico. 
Nnda outra influencia por tras do surgimento da sociologia a Revolu~ao Francesa, 
de 1789 - acelerou 0 pensamento sistematico sobre 0 mundo social. A vioU~ncia da revolu~ao 
foi urn choque para toda a Europa, pois, se tal violencia e influencia puderam derrubar 0 
velho regime, 0 que houve para substitui-Io? Como a sociedade poderia ser reconstrufda a 
fim de evitar tais eventos cataclismicos? Enesse ponto, nas decadas finais do seculo XVIII 
e inicio do XIX, que a sociologia como uma disciplina autoconsciente foi planejada. 
Auguste Comu {1798-1857}, 0 Fundador da Sociologia 
A heran~a francesa do Iluminismo e as ondas de choque da Revolu~ao Francesa levaram 
Auguste Comte em seu quinto volume do Curso de Filosofia Positiva1 (1830-1842) a examinar a 
solicita~ao por uma disdplina dedicada ao estudo cientifico da sociedade. Comte quis chamar 
essa disdplina de "f{sica social" para enfatizar que estudaria a natureza fundamental douniverso 
social, mas ele foi praticamente for~do a deterrninar 0 termo lubrido greco-latino, sodologia. 
1 N.R.T.: No original. COUts de Philosophie Positive. 
1 
5 CAPITeLO 1: A .\',1 TUREL1 E AS ORIGENS DA SOCIOLOGIA 
o problema central para a sodologia era 
aquele que tinha sido articulado pelos pensadores 
mais antigos no lluminismo: como a sociedade deve 
ser mantida unida quando se torna maior, mais 
complexa, mais variada, mais diferenciada, mais 
espedalizada e mais dividida? Aresposta de Comte 
foi que as ideias e as crent;as comuns - urn consensus 
universalis, em suas palavras precisavam ser 
desenvolvidas para dar a sociedade uma 
moralidade "universal". Essa resposta nunca foi 
desenvolvida, mas a preocupa~o com os simbolos 
e a cu1tura, como uma fo~a unificadora para manter 
a essencia do conceito socio16gico frances, existe ate 
os dias de hoje. 
A principal contribui~ao de Comte para 0 
desenvolvimento da sociologia nao foi tanto a 
essencia de suas ideias, mas sua defesa pela 
aceita~ao da sociologia como uma area legitima 
de estudo. Estabelecer uma nova disciplina nunca 
e facil, pois ha sempre alguns interesses 
Auguste Comte (1798-1857) investidos contrarios as novas maneiras de 
pensar. A sociologia era para ser uma disdplina 
dedicada ao estudo da sociedade, e as velhas disciplinas academicas, tais como filosofia, 
etica, teologia e direito, for am amea~adas por esta recem-chegada. Foi assim que Comte 
dispendeu muito do seu notavel trabalho, justificando 0 direito de a sociologia de ser 
reconhedda como cienda. 
Uma tatica que Comte empregou para fazer com que a sociologia parecesse legitirna 
foi postular a lei dos tres estados, na qual 0 conhecimento esta sujeito, em sua evolu~ao, a 
passar por tres estados diferentes. 0 primeiro estado e0 teol6gico2, em que 0 pensamento 
sobre 0 mundo edominado pelas considera~6es do sobrenatural, religiao e Deus; 0 segundo 
estado e 0 metafi~ico3, em que as atra~6es do sobrenatural sao substituidas pelo pensamento 
filos6fico sobre a essencia dos fenomenos e pelo desenvolvimento da matematica, 16gica e 
outros sistemas neutros de pensamento; e 0 terceiro estado e0 positivo, em que a ciencia, ou 
a observa~ao cuidadosa dos fatos empiricos, eo teste sistematico de teorias tornam-se modos 
dominantes para se acumular conhecimento. E com 0 estado positivo 0 conhecimento pode 
ter utilidade pratica a fim de melhorar as vidas das pessoas. 
A sociedade como urn todo, bern como 0 pensamento sobre cada dominio do universo, 
evolui atraves desses tres estagios, mas em velocidades diferentes: a astronomia e a ffsica 
primeiro, depois a quimica e a biologia, e finalmente a sociologia surge como 0 ultimo 
modo de pensar para entrar no estado positivo. Na visao de Comte, a analise da sociedade 
estava pronta para ser reconhecida como ciencia uma reivindica~ao que era desafiada na 
2 N.R.T.: Teologico ou ficticio. 
3 N.R.T.: Metatisico ou abstrato. 
6 SOC/aLOGIA - CONCEITOS E APLICAC;:OES 
epoca de Comte, assim como ainda hoje. E como as leis da organiza<;ao humana eram 
desenvolvidas, Comte (1851-1854) acreditava que elas poderiam ser usadas para melhorar 
a condi<;ao humana novamente, urn tema tao controverso hoje quanta na epoca de Comte. 
Uma segunda tatica legitima empregada por Comte foi postular a hierarquia das 
ciencias, na qual todas as ciencias eram ordenadas de acordo com sua complexidade e seu 
movimento no estado positivo. Na parte inferior da hierarquia estava a matematica, a 
lingua de todas as cit~ncias mais altas na hierarquia, e no topo, su:rg:indo da biologia, estava 
a sociologia, que num momento de extase Comte definiu como "ciencia da humanidade", 
coroamento de toda a forma<;ao cientifica. Pois, se a sociologia foi a Ultima ciencia a surgir, 
era tam bern a mais avan<;ada em rela<;ao a seu assunto, como urn modo legitimo de 
questionamento ou pelo menos assim Comte a concebia. 
'" 
o Primeiro SociOlogo Ingles: Herbert Spencer (1820-1903) 
Oepois do trabalho de Comte, Herbert Spencer foi 0 primeiro soci6logo do seculo XIX a 
prosseguir com a sociologia cientifica. Como Comte, Spencer (1873) acreditava que os 
agrupamentos humanos podiam ser estudados cientificamente, e em seu nota vel trabalho 
de tres volumes, Os Principios da Sociologia (1874-1896), ele desenvolveu uma teoria de 
organiza<;ao social do homem, apresentando uma vasta serie de dados hist6ricos e 
etnogrcificos para fundamenta-Ia. Para Spencer, todos os dominios do universo fisico, 
biol6gico e social- desenvolvem-se segundo principios semelhantes(Spencer, 1862). E a 
tarefa da sociologia e aplicar esses prindpios ao que ele denominou de campo 
superorganico, ou 0 estudo dos padroes de rela<;oes dentre os organismos. 
Spencer retoma a questao de Comte: 0 que mantem unida a sociedade quanta esta se 
toma maior, rna is heterogenea, mais complexa e mais diferenciada? Aresposta de Spencer, 
em termos gerais, foi muito simples: sociedades 
grandes, complexas, desenvolvem: (1) interdepen­
dencias dentre seus componentes especializados; 
e (2) concentra<;oes de poder para controlar e 
coordenar atividades dentre unidades interdepen­
dentes. Para Spencer a evolu<;ao da sociedade 
engloba 0 crescimento e a complexidade que e 
gerenciada pela interdependencia e pelo poder. Se 
os padroes da interdependencia e concentra<;Oes de 
poder falham ao surgir na sociedade, ou sao 
inadequados a tarefa, ocorre a dissolu<;ao, e a 
sociedade se desmorona. 
Ao desenvolver resposta aquestao basica de 
Comte, Spencer fez uma analogia aos corpos 
organicos, argumentando que as sodedades, como 
organismos biol6gicos, devem desempenhar certas 
fun<;oes-chave se elas quiserem sobreviver. As 
Herbert Spencer (1820-1903) sociedades devem reproduzir-se; devem produzir j 
CAPITULO I: ,1 SATUREZA E AS ORIGESS D,; SOClOWGlA 7 
bens e produtos para sustentar os membros; devem prover a distribui~ao desses produtos 
aos membros da sociedade; e elas de vern coordenar e regular as atividades dos membros. 
Quando as sociedades crescem e se tornam mais complexas, revelando muitas divis6es e 
padroes de especializa~ao, estas fun~oes-chave tornam-se distintas ao longo de tres linhas: 
(1) a operacional (reprodu~ao e produ~ao), (2) a distribuidora (0 fluxo de materiais e 
informa~ao), e (3) a reguladora (a concentra~ao de poder para controlar e coordenar). 
Spencer e mais bern lembrado por instituir uma teoria na sociologia conhecida como 
funcionalismo (J. Turner, 1985b). Essa teoria express a a ideia de que tudo 0 que existe em 
uma sociedade contribui para seu funcionamento equilibrado; de que tudo 0 que nela 
existe tern urn sentido, urn significado. A sociologia funcionalista dessa maneira faz uma 
pergunta basica e interessante: 0 que urn fenomeno cultural ou social faz para a manuten~ao 
e integra~ao da sociedade? 
A Tradifiio Francesa: Emile Durkheim (J858-1917) 
Muito do modo de analise de Spencer foi adotado pelo primeiro grande soci610go frances, 
Emile Durkheim, mas as ideias de Spencer foram modificadas a fim de se adequarem a 
extensa linhagem francesa (J. Turner, 1984b). Como Spencer, Durkheim (1895) defendeu a 
pesquisa por leis sOciol6gicas, mas, ao contnlrio de Spencer, Durkheim adotou a posi~ao 
comteana de que 0 conhecimento socio16gico poderia ser usado para construir uma 
sociedade melhor. Como Spencer, para Durkheim (1893) a questao central da sociologia 
era propor exp1ica~6es para a integra~ao da sociedade quando esta se toma maior e mais 
complexa, mas, ao contrario de Spencer, Durkheim (1891) manteve-se fiel aheran~a francesa 
e enfatizou a imporHincia das ideias comuns como for~a unificadora. Como Spencer, 
Durkheim (1895) adotou uma postura funcionalista, argumentando que as explica~6es 
sociol6gicas devem procurar descobrir como urn elemento do mundo social cumpre uma 
necessidade da sociedade, mas, ao contnlrio de Spencer, Comte enfatizou apenas uma 
necessidade - a necessidade de integrar os membros da sociedade num todo coerente. 
o que marca a contribui~ao de Durkheim a sociologia e 0 reconhecimento de que os 
sistemas de~simbolos culturais - ou seja, valores, cren~as, dogmas religiosos, ideologias etc.­
sao uma base importante para a integra~ao da sociedade a. Turner, 1981). Amedida que as 
sociedades se tomam complexas e heterogeneas, a natureza de simbolos culturais, ou 0 que 
Durkheim (1893) denominou de consciencia coletiva, muda. Em sociedades simples, todos os 
individuos tern uma consdencia coletiva comum que regula seus pensamentos e a~6es, ao 
passo que em sociedades mais complexas a conscienda coletiva deve tambem mudar se a 
. sociedade deve manter-se integrada. Deve tornar-se mais IIgeneralizada" e IIabstrata" a fim de 
fomecer alguns slmbolos comuns dentre as pessoas em atividades especializadas e separadas, 
ao passo que em outro myel se toma tambem mais concreta para assegurar que as rela<;oes 
entre, e interiormente, as posi~6es especializadas e organiza~6es nas sodedades complexas 
sejam reguladas e coordenadas. A condi~ao social, entretanto, e possivel emsociedades grandes, 
complexas quando ha alguns simbolos comuns que todos os individuos partilham, juntamente 
com grupos especificos de simbolos que guiam as pessoas em suas rela~6es concretas com os 
14 	 SOCIOLOGIA CONCEITOS E APLICA(:OES 
comportamentos e intera~6es? Como estes podem ser entendidos? Assim terminamos onde 
come~amos esta recapitula~ao da sodologia, pois a sodologia surgiu nas primeiras decadas do 
ultimo seculo e persiste ate hoje nos anos remanescentes do secuIo XX porque se busca entender 
a dinanuca e as causas que produzem mudan~s capazes de transformar nossas vidas. 
RESUMO 
1. 	 A sodologia e 0 estudo dos fenomenos sociais, da intera~ao e da organiza~ao social. 
2. 	 A sociologia e importante para cada dia de nossas vidas, pOis fomece instrumentos 
para entender as for~as extemas que regulam nossos pensamentos, percep~oes e a~oes. 
3. 	 A sociologia surgiu sob as condi<;oes de mudan<;a associadas com: a) 0 decHnio do 
feudalismo e 0 aparecimento do comercio, da industria e da urbaniza~ao; b) 0 
movimento intelectual conhecido como Iluminismo, no qual a ciencia e 0 pensamento 
laico sobre os mundos fisico, bio16gico e social poderiam prosperar; e c) 0 choque 
traumatico e a mudan~a social brusca decorrentes da Revolu~ao Francesa. 
4. 	 0 nome sociologia foi proposto pelo pensador frances, Auguste Comte, que acreditava 
que a ciencia da sociedade poderia competir com as ciencias naturais. Comte tambem 
sentia que 0 descobrimento das leis da organiza~ao social humana poderia ser usado 
para reconstruir a sociedade de uma forma mais humana. 
5. 	 Herbert Spencer na Inglaterra similarmente argumentava que as leis da organiza~ao 
humana poderiam ser desenvolvidas. Essas leis iriam concentrar-se no crescimento e 
na complexidade da sociedade, visto que essas causas criavam pressoes para: a) 0 
aumento da interdependencia e troca entre as pessoas e organiza~ao de uma sociedade: 
e b) 0 aumento do uso do poder para regular, controlar e coordenar as atividades 
desses membros e unidades organizacionais. Spencer fundou uma teoria sociol6gica 
conhecida como funcionalismo, em que a fun~ao de uma estrutura social na manuten~ao 
da sociedade era enfatizada. 
6. 	 Emile Durkheim adotou as ideias de Spencer, mas deu continuidade atradi~ao francesa 
de enfatizar a importancia das ideias culturais para a integra<;ao da sociedade. Como 
Spencer, ele era urn funcionalista e acreditava que as leis da organiza~ao humana 
poderiam ser descobertas, mas acrescentou a teoria de Spencer a importancia de se 
descobrir as causas e fun~oes dos simbolos que buscam integrar a sociedade. 
7. 	 Karl Marx, urn alemao que foi expulso de sua terra natal e que acabou se estabelecendo 
na Inglaterra, eniatizou a natureza contradit6ria da sociedade, inspirando uma teoria 
conhedda como a teoria do confiito ou sociologia do confiito. Na opiniao de Marx, as 
desigualdades na distribui~ao de meios de produ<;ao armam 0 palco para a 
transforma~ao da sociedade, pois as pessoas sem os meios de produ<;ao se organizam 
para entrar em conflito com aquelas que controlam a produ~ao, que detem 0 poder, e 
que manipulam os simbolos culturais para legitimar seus privilegios. Ao contrario de 
Cornte, Spencer e Durkheim, Marx nao acreditava no desenvolvimento de leis gerais 
para a organizaQio humana. 
&. 	Max ~ outro importallle fundador alemao da sociologia,engajou-se num diaIogo
.........,_SiJerMjOSOoom Marx" enfatizando que a desigualdade emultidimensional 
~ew.-'.w¥_h;rneada..eoooomia, que 0 conflito econtingente em condi<;oes

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