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Exame de Ordem Damásio Educacional XX EXAME DA ORDEM 2ª FASE DIREITO PENAL - MATERIAL DE APOIO 1) Como encontrar, em cada caso, o rito processual adequado? 2) Concurso de crimes deve ser levado em conta para a identificação do rito ordinário/sumário/sumaríssimo? 3) Causas de aumento e diminuição de pena devem ser levados em conta para a identificação do rito ordinário/sumário/sumaríssimo? 4) Atenuantes e agravantes devem ser levados em conta para a identificação do rito ordinário/sumário/sumaríssimo? 5) Como é a sequência de atos do rito ordinário? 6) Como é a sequência de atos do rito sumário? 7) Como é a sequência de atos do rito sumaríssimo? 8) Como é a sequência de atos do rito do júri? 9) Quais os elementos especiais dos ritos de crimes contra honra, contra funcionário público e de crimes contra a propriedade imaterial? GABARITO: 1) Como encontrar, em cada caso, o rito processual adequado? – Os procedimentos (ritos) podem ser comum ou especial, dividindo-se o comum em ordinário, sumário e sumaríssimo; e o especial nos ritos especiais previstos no CPP ou em leis extravagantes. Verifica-se ser caso de rito ordinário quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a 4 anos de pena privativa de liberdade; sumário quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4; e sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo (contravenções penais e crimes cuja sanção máxima cominada for menor ou igual a 2 anos de pena privativa de liberdade – ver art. 61 da Lei 9.099/95). Quanto aos ritos especiais previstos no CPP, temos: os de competência do Tribunal do Júri (arts. 406 a 497 do CPP); de crimes funcionais (arts. 513 a 518 do CPP); contra a honra (arts. 519 a 523 do CPP); de crimes contra a propriedade imaterial (arts. 524 a 530-I do CPP) e os previstos em leis extravagantes como: Lei de Drogas (Lei 11.343/06); Lei contra a economia popular (Lei 1.521/51); Lei de licitações (Lei 8.666/93); Lei de ações penais de competência dos Tribunais Superiores (Lei 8.038/90 e art. 1º da Lei 8.658/93). Ressalte-se que em alguns casos o rito se determinará em razão de competência absoluta em razão de previsão Constitucional, como é o caso da competência da Lei do JECrim – rito comum sumaríssimo (art. 98, I, da CF), do Júri (art. 5º, XXXVIII, da CF) e da Lei de ações penais de competência dos Tribunais Superiores (art. 102, I e 105, I da CF), prevalecendo sobre as demais previsões legais. 2) Concurso de crimes deve ser levado em conta para a identificação do rito ordinário/sumário/sumaríssimo? – Sim, pois o parâmetro para determinar o rito comum entre o ordinário/sumário/sumaríssimo é a pena máxima em abstrato (o máximo de pena prevista na acusação que é formulada contra o[s] réu[s]). Exame de Ordem Damásio Educacional 2 de 8 3) Causas de aumento e diminuição de pena devem ser levadas em conta para a identificação do rito ordinário/sumário/sumaríssimo? – Sim, pois essas causas podem levar a pena máxima em abstrato além (para mais) ou aquém (para menos) do máximo previsto no preceito secundário do tipo penal, o que pode alterar o rito. No caso das causas de aumento de pena elas devem ser considerado na sua hipótese máxima; nas de diminuição de pena na sua hipótese mínima (pois, afinal, o que se pretende obter é a maior pena em abstrato possível – o “pior cenário” para o réu). No caso de 2 diminuições de pena ou dois aumentos, primeiro realiza-se uma diminuição/aumento e depois a nova diminuição/aumento do resultado que se chegou no cálculo anterior. Ex.: denúncia por furto simples corresponde ao rito comum ordinário, pois possui pena máxima em abstrato igual a 4 anos; por outro lado, se essa denúncia for por furto tentado, a diminuição mínima da pena (1/3, cf. art. 14, § único, do CP) deve ser considerada para fazer o caso ser julgado pelo rito sumário (4 anos – 1/3 = 32 meses = 2 anos e 8 meses); caso a denúncia aborde ser o furto tentado E que criminoso é primário, E que é de pequeno valor a coisa furtada, a diminuição mínima será de 1/3 + 1/3 (cf. art. 14, § único, do CP + art. 155, § 2º do CP), o que leva para o rito comum sumaríssimo do JECrim ([4 anos – 1/3] – 1/3 = 32 meses – 1/3 = +/- 21 meses e 10 dias = +/- 1 ano, 9 meses e 10 dias). Obs.: conforme o art. 68 § único do CP, “No concurso de causas de aumento ou de diminuição previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua”, o que, a contrario sensu, permite a interpretação de que, se concorrerem causas de aumento/diminuição da parte geral, ou parte geral com parte especial, todas deverão ser aplicadas sucessivamente. 4) Atenuantes e agravantes devem ser levadas em conta para a identificação do rito ordinário/sumário/sumaríssimo? – Não, pois sua aplicação se dá apenas pelo juiz quando da sentença e elas não possuem o condão de elevar a pena máxima além do máximo legal. 5) Como é a sequencia de atos do rito ordinário? – Encerrado o inquérito policial (quando ele for necessário), o Ministério Público ou o querelante oferecerão, respectivamente, denúncia ou queixa, as quais deverão respeitar os requisitos do art. 41 do CPP, art. 8, 2, “b” da Convenção Americana de Direitos Humanos e (no caso de queixa) art. 44 do CPP, oportunidade em que a acusação poderá (faculdade) requerer provas (arrolar até 8 testemunhas, requerer diligências e juntar documentos), sob pena de preclusão. O próximo passo é a análise, pelo juiz, da regularidade da peça acusatória, oportunidade na qual o juiz receberá ou rejeitará a denúncia/queixa conforme dispõe o art. 395 do CPP. Assim, deverá ser a peça acusatória rejeitada quando for (I) inepta (quando não atender ao art. 41 do CPP, art. 8, 2, “b” da Convenção Americana de Direitos Humanos e [no caso de queixa] art. 44 do CPP); ou (II) quando faltar pressuposto processual ou condição da ação para o exercício da ação penal (ex.: o réu não é parte legítima, pois tem apenas 5 anos [processo penal é para maiores de 18 anos], ou pois o réu é um animal [obs.: no caso de não ser o réu o autor do crime, não se trata de ilegitimidade de parte, mas sim de questão sujeita ao mérito (autoria), que necessitará análise Exame de Ordem Damásio Educacional 3 de 8 probatória, sob a qual fará coisa julgada material); ou (III) faltar justa causa para o exercício da ação penal (por justa causa entende-se prova da materialidade e indícios suficientes de autoria). No caso de inexistir um desses vícios, deve o juiz receber a peça acusatória. Essa decisão que recebe a peça acusatória dá início ao processo, razão pela qual qualquer vício nela gera nulidade ab initio (“desde o início” – pois anula o processo desde o primeiro momento do processo: a decisão que recebe a peça acusatória). Conforme o art. 396 do CPP, “oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias” e, “no caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a partir do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído”. Conforme o art. 396-A, “na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário”. Nesse momento (Peça: Resposta à Acusação) o réu pode alegar (I) teses de nulidade; de (II) absolvição sumária as quais podem se dar por extinção da punibilidade (única hipótese em que extinçãoda punibilidade gera absolvição!), por atipicidade, por causa excludente de ilicitude e por causa excludente de culpabilidade (obs.: caso exista alguma dúvida sobre o que é causa que gera atipicidade, excludente de ilicitude e excludente de culpabilidade, aconselhamos um estudo mais detido no tema. Bibliografia recomendada: JUNQUEIRA, Gustavo. Direito Penal. Coleção elementos. Ed.: RT; ou JUNQUEIRA, Gustavo; VANZOLINI, Patrícia. Manual de Direito Penal. Ed. Saraiva); bem como (III) requerer oitiva de até 8 testemunhas, requerer diligências e juntar documentos, sob pena de preclusão. Na hipótese de ser o caso de apresentar exceção (incompetência, suspeição ou impedimento), esse é o momento, em peça autônoma. Conforme o art. 396-A, parágrafo 2º, do CPP, "não apresentada a resposta (Resposta à Acusação) no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 dias". Ao juiz, recebida a resposta à acusação, compete anular o processo (caso verificada alguma nulidade) ou rejeitar tardiamente a denúncia (decisão recente do STJ nesse sentido) ou, ainda, absolver sumariamente, no caso de alguma hipótese do art. 397 do CPP. Seguindo o processo, deve marcar a audiência de instrução e julgamento. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 dias, proceder-se- á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 do CPP, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado. As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento das partes. Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o querelante e o assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apurados na instrução. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão oferecidas alegações finais orais por 20 minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais 10 , proferindo o juiz, a seguir, sentença. Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual. Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação desse, serão concedidos 10 minutos, prorrogando-se por igual período o tempo Exame de Ordem Damásio Educacional 4 de 8 de manifestação da defesa. O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados, conceder às partes o prazo de 5 dias sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10 dias para proferir a sentença. Ordenado diligência considerada imprescindível, de ofício ou a requerimento da parte, a audiência será concluída sem as alegações finais. Realizada, em seguida, a diligência determinada, as partes apresentarão, no prazo sucessivo de 5 dias, suas alegações finais, por memorial, e, no prazo de 10 dias, o juiz proferirá a sentença 6) Como é a sequencia de atos do rito sumário? – Segue o mesmo procedimento do rito comum ordinário, todavia o número de testemunhas é reduzido para apenas 5 para a acusação (para cada fato) e 5 para a defesa (para cada acusado); não há fase de requerimento de diligências complementares; as alegações finais deverão ser apresentadas sempre na forma oral (salvo em casos em que a não apresentação em forma de memoriais puder causar dano ao réu – em homenagem ao direito constitucional da ampla defesa); a audiência de instrução e julgamento deve se realizar no prazo de 30 dias (e não 60 como no ordinário). 7) Como é a sequencia de atos do rito sumaríssimo? – fase preliminar: a autoridade policial deverá encaminhar o autor do fato e o ofendido ao juizado, após lavrar termo circunstanciado que será sucinto e objetivo, substituindo o inquérito policial (art. 69, caput e 77, §1º da Lei 9.099/95). Se necessário, serão requeridos exames periciais (ex.: laudo de constatação químico-toxicológico no caso de porte de drogas). As partes são intimadas para comparecer, no juizado, a uma audiência preliminar. Obs.: é dispensado o exame de corpo de delito quando a materialidade estiver comprovada por boletins médicos. Não subsistirá prisão em flagrante, nem será exigida fiança ao réu que se dirigir imediatamente ao juizado ou assumir o compromisso de fazê-lo (art. 69, § único da Lei 9.099/95). Comparecendo as partes, seus advogados, Ministério Público e, se possível, o responsável civil, o juiz elucidará a respeito de possibilidade de conciliação pela composição civil dos danos e transação penal (aplicação de pena alternativa, sem processo, não privativa de liberdade). Se houver composição dos danos civis, esta será reduzida a termo e, uma vez homologada pelo juiz, será irrecorrível, tendo eficácia de título executivo no cível. Esse acordo acarreta extinção da punibilidade pela renúncia aos direitos de queixa ou representação, em se tratando de crime de ação penal privada ou pública condicionada. Se a ação for pública incondicionada, o procedimento prossegue para a fase de verificação de possibilidade de transação penal (art. 74, p. único da Lei 9.099/95). Caso a ação seja condicionada a representação e não houver ocorrido conciliação, o ofendido poderá representar (oralmente ou por escrito) imediatamente (art. 75, caput, da Lei 9.099/95), até o prazo decadencial de 6 meses. Passada a fase de conciliação e, se o caso, apresentada a representação, chega-se à fase de verificação da possibilidade de transação penal (art. 76, caput, da Lei 9.099/95). Se o autor não tiver condenação definitiva por crime à pena privativa de liberdade, não tiver se favorecido com a transação penal nos últimos 5 anos e tiver circunstâncias pessoais favoráveis, o Ministério Público poderá (leia-se: deverá) elaborar proposta de transação penal (art. 76, caput, da Lei 9.099/95). Aceita a proposta pelo acusado e por seu defensor, o juiz apreciará os termos e proferirá sentença homologatória (art. 76, §3º, da Lei 9.099/95). Dessa decisão cabe recurso em 10 dias (eventualmente de alguma irregularidade procedimental – ex.: constou algo que não deveria ter constado; ou o advogado constituído do acusado não foi intimado a comparecer na audiência em Exame de Ordem Damásio Educacional 5 de 8 que o acusado sozinho transacionou – art. 76, §5º, da Lei 9.099/95). Tal decisão não gera reincidência, efeitos civis, maus antecedentes ou o lançamento do nome do réu no rol de culpados, impedindo apenas a concessão do mesmo benefício no prazo de 5 anos (art. 76, §§4º e 6º, da Lei 9.099/95). Na eventualidade de o acusador (Ministério Público ou querelante) se recusar a oferecer a proposta de transação penal, os Tribunais Superiores entendem que cabe ao juiz, por analogia, aplicar o art. 28 do CPP e remeter ao Procurador de Justiça para que esse decida sobre a proposta (cf. Súmula 696 do STF). Não possível ou não aceita a transação penal, na mesma audiência preliminar, se possível, prossegue-se ao oferecimento da denúncia oral pelo Ministério Público ou queixa oral pelo ofendido ou seu representante legal (art. 77, caput, da Lei 9.099/95). A peça será reduzida a termo, devendo o acusado receber uma cópia dela, com a qual será citado. Sairão as partes intimadas da data de futura audiência de instrução e julgamento. Não há previsão específica sobre o número de testemunhas possíveis de serem arroladas, havendo quem entenda ser de 3, em analogia ao procedimento cível da Lei 9.099/95 e outros que entendem ser 5, na omissão da lei, em analogiaao procedimento sumário. No dia da audiência de instrução e julgamento, renovar-se-á tentativa de composição de danos civis e de transação penal e, caso haja insucesso, o defensor responderá à acusação, buscando refutar a inicial acusatória, e o juiz receberá ou não a denúncia ou a queixa (art. 81, caput, da Lei 9.099/95). Recebida a peça inicial, o juiz fará análise da proposta de suspensão condicional do processo, se houver (art. 89 da Lei 9.099/95); caso esta não seja aceita, prosseguir-se-á a audiência, sendo ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa. Após o acusado será interrogado e será dada a palavra à acusação e à defesa para os debates orais (art. 81, caput, da Lei 9.099/95). A inversão da ordem dos fatos gera nulidade. Na sentença, que dispensa relatório, caberá apelação no prazo de 10 dias de sua ciência, devendo ser apresentadas as razões junto com a interposição. Cabem, ainda, embargos de declaração no prazo de 5 dias. O único recurso cabível nesse procedimento é o de apelação, inclusive no caso de rejeição da peça acusatória (caso em que caberia, no rito comum ordinário, recurso em sentido estrito). No caso de impetração de habeas corpus contra decisão da Turma Recursal dos Juizados Especiais Criminais, entendia o STF que a competência era do STF (Súmula 690 do STF), mas a partir do julgamento do HC 86.834/SP, sedimentou-se que a competência é do respectivo Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal. 8) Como é a sequencia de atos do rito do júri? – O Tribunal do Júri possui competência constitucional mínima consistente no julgamento de crimes dolosos contra a vida. Isso significa que, reservado o julgamento de tais crimes para o Tribunal do Júri, legislação infraconstitucional pode acrescentar outros crimes para sua competência, como fez o art. 78, I, do CPP quanto aos crimes conexos. O procedimento do júri é escalonado em 2 fases: a de instrução preliminar (ou juízo de admissibilidade) e a de julgamento em plenário (ou de julgamento da causa). A primeira fase se inicia com o oferecimento da denúncia ou da queixa subsidiária, seguindo igual trâmite ao rito comum ordinário até a audiência de instrução e julgamento, exceto pelo prazo para realização da audiência que, aqui, é de 10 dias e pela possibilidade que é conferida, aqui, ao Ministério Público se manifestar em 5 dias após a Reposta à Acusação, tal qual uma réplica, na hipótese do acusado Exame de Ordem Damásio Educacional 6 de 8 ter aduzido em sua defesa sobre alguma exceção ou preliminar, ou mesmo juntada de documentos e demais provas. A título de registro, o STF já se posicionou que, após essa réplica, não é necessária nova vista à defesa. A doutrina, a exemplo de Aury Lopes Jr., José Frederico Marques e Alexis Couto de Brito (et. alli), entende tal réplica inconstitucional por, sob uma pretensa tutela ao contraditório, ferir a ampla defesa que (ainda mais no procedimento do júri em que se fala em plenitude de defesa - art. 5º, XXXVIII, "a" da CF) se consubstancia no direito de a defesa sempre falar após a acusação, exercendo sua resistência à acusação que lhe é feita. Em audiência, o trâmite será igual ao do procedimento comum ordinário, exceto pelo fato de que o juiz, ao invés de decidir pela absolvição ou condenação, terá 4 tipos diferentes de decisão: (I) pronúncia, (II) impronúncia, (III) absolvição sumária, (IV) desclassificação. Na pronuncia o juiz reconhece apenas a presença de prova da existência de crime e indícios suficientes de autoria ou participação. Não faz juízo sobre a culpa, tão somente sobre a presença de indícios de autoria (quem condena são os jurados, se o juiz já apontasse a autoria, subverter- se-ia a referida regra, bem como o estado de inocência até o trânsito em julgado). Deve o juiz, nessa decisão, evitar o excesso de linguagem (ou eloquência acusatória) que possa, futuramente, influenciar os jurados sobre a culpa do acusado. Deve o juiz, nessa decisão, dizer em que artigo o acusado está sendo incurso, tratando-se de limite máximo para a acusação no Plenário, declarando, também, as qualificadoras e causas de aumento de pena. Embora seja presente em uma rançosa doutrina e jurisprudência, não existe nenhum princípio de in dubio pro societate. Tal discurso tenta manipular, com intuitos punitivos estranhos à nossa ordem jurídica constitucional, o princípio de in dubio pro reo. A dúvida sempre deve beneficiar o réu, independentemente do momento em que o processo (ou o inquérito) se encontre. No presente caso, o juiz deve se convencer de que há prova de materialidade e indícios de autoria. Se o juiz não tem certeza sequer da existência de indícios, então, de fato, ele nada possui para justificar uma persecução tão gravosa como a que se desencadeará no plenário do júri, devendo impronunciar o réu (nessa toada, a título de exemplo: Aury Lopes Jr.; Alexis Couto de Brito [et. ali]; Gustavo Junqueira; Paulo Rangel; Gustavo Badaró; Eugênio Pacelli; e Fauzi Choukr). A impronúncia pressupõe a ausência de indícios suficientes de autoria ou de prova da existência de crime. Na dúvida, impronuncia-se. Posicionamento crítico e minoritário (Aury Lopes Jr.): a impronúncia é inconstitucional, pois há dupla persecução penal (bis in idem processual) – o que fomenta persecuções temerárias. A impronúncia só serve para que a falta de prova não gere coisa julgada absolutória, pois em qualquer outro procedimento o réu seria inocentado (é uma burla à coisa julgada, permanecendo o réu, até a consumação da prescrição [isso se não sobrevier nova interrupção do prazo], com a incerteza de se ver novamente envolvido em uma persecução penal). A absolvição sumária gera coisa julgada material, trata-se de medida excepcional, pois subtrai dos jurados a apreciação do mérito da questão. O juiz deve reconhecer estar provada a inexistência do fato, ou que o acusado não é autor ou partícipe, ou que o fato não constitua infração penal. Cuidado: não se aplica absolvição sumária no caso de inimputabilidade por deficiência mental se houver outra tese defensiva, pois o acusado pode ser portador de deficiência mental e não ter cometido o fato que lhe imputam – nesse caso seria melhor ao cliente levá-lo a julgamento em plenário. Na desclassificação a prova existente é de crime não doloso contra a vida, não competindo seu julgamento ao Júri, devendo os autos ser remetidos ao juízo competente (vara criminal comum, JECrim,...). Se a desclassificação se der em Plenário, a competência do Júri se prorroga. Exame de Ordem Damásio Educacional 7 de 8 Na segunda fase do procedimento, no dia do julgamento em plenário, o CPP não mais contempla possibilidade de pegar emprestado jurado, caso falte na sessão designada (15 jurados), devendo marcar nova data. Cada parte pode recusar até 3 jurados de modo imotivado. Não tem limite para recusas fundadas em motivo legal de suspeição, impedimento ou incompatibilidade. Estouro de urna é não sobrar 7 jurados para compor o Conselho de Sentença – ocorrendo-se isso sorteia-se suplentes e se designa nova data. Debates: cada um por 1he30min + réplica e tréplica em 1hora cada. É possível inovar teses na tréplica. Se houver 2 ou mais acusados na mesma sessão de julgamento, acrescenta-se 1 hora em todos os prazos anteriores. Não se pode debater acerca: da decisão de pronúncia; do (não) uso de algemas do acusado; do silêncio do acusado, ou da sua ausência. Ordem de quesitos: 1- sobre a materialidade (se o fato existiu); 2- sobre a autoria/participação; 3- “o jurado absolve o acusado?”; 4- causas de diminuição da pena (privilégio); 5- qualificadoras e causas de aumento de pena. Agravantes/atenuantes, quem decide é o juiz presidente diretamente na sentença, quando alegadas nos debates. 9) Quais os elementosespeciais dos ritos de crimes contra honra, contra funcionário público e de crimes contra a propriedade imaterial? – Contra a honra: O juiz, antes de receber a queixa, determinará o cumprimento do disposto no art. 520 do CPP (audiência de conciliação), oferecendo às partes oportunidade para se reconciliarem. As partes serão notificadas a comparecer à audiência, desacompanhadas dos advogados, onde serão ouvidas separadamente. Caso não haja a conciliação, o juiz receberá ou não a queixa. Se o notificado não comparecer, tem-se por frustrada a audiência, facultando-se ao juiz receber a queixa. A audiência de conciliação não ocorrerá (conforme jurisprudência e doutrina majoritária) nos casos de ação penal pública, em razão do princípio da indisponibilidade (corrente minoritária crê possível, em razão do princípio da oportunidade e de um processo não encontrar sua razão de ser se o conflito puder ser apaziguado por outra via menos danosa às partes). A falta de audiência de reconciliação acarreta nulidade. Poderá ser alegada a exceção da verdade a qualquer momento até a sentença, bem como a retratação, quando cabível. Admite-se, ainda, o pedido de explicações (art. 144 do CP), tratando-se de medida preliminar e não obrigatória à propositura da ação, cabível quando houver dúvidas sobre o teor das expressões ofensivas. Contra funcionário público: aplica-se a todos os crimes funcionais (praticados por funcionários públicos no exercício de suas funções) afiançáveis. Antes de receber a denúncia ou queixa, o juiz deverá notificar o agente para apresentar sai defesa preliminar, por escrito, no prazo de 15 dias. A Súmula 330 do STJ prevê que “é desnecessária a resposta preliminar de que trata o art. 514 do CPP, na ação penal instruída por inquérito policial”. Tal defesa visa a impedir o recebimento da peça inicial acusatória, no interesse da administração pública. A falta da notificação para a apresentação da defesa preliminar acarreta nulidade (absoluta) do processo, ab initio, por ferir o princípio da ampla defesa e do contraditório. Contra propriedade imaterial: No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa ou a denúncia não será recebida se não for instruída com o exame pericial dos objetos que constituam o corpo de delito. Sem a prova de direito à ação, não será recebida a queixa, nem ordenada qualquer diligência preliminarmente requerida pelo ofendido. A diligência de busca ou de apreensão será realizada por dois peritos nomeados pelo juiz, que verificarão a existência de fundamento para a Exame de Ordem Damásio Educacional 8 de 8 apreensão, e quer esta se realize, quer não, o laudo pericial será apresentado dentro de 3 dias após o encerramento da diligência. O requerente da diligência poderá impugnar o laudo contrário à apreensão, e o juiz ordenará que esta se efetue, se reconhecer a improcedência das razões aduzidas pelos peritos. Encerradas as diligências, os autos serão conclusos ao juiz para homologação do laudo. Nos crimes de ação privativa do ofendido, não será admitida queixa com fundamento em apreensão e em perícia, se decorrido o prazo de 30 dias, após a homologação do laudo. Será dada vista ao Ministério Público dos autos de busca e apreensão requeridas pelo ofendido, se o crime for de ação pública e não tiver sido oferecida queixa no prazo fixado. Se ocorrer prisão em flagrante e o réu não for posto em liberdade, o prazo anteriormente referido será de 8 dias. O disposto nos arts. 524 a 530 será aplicável aos crimes em que se proceda mediante queixa. Nos casos das infrações previstas nos §§ 1o, 2o e 3o do art. 184 do Código Penal, a autoridade policial procederá à apreensão dos bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos , em sua totalidade, juntamente com os equipamentos, suportes e materiais que possibilitaram a sua existência, desde que estes se destinem precipuamente à prática do ilícito. Na ocasião da apreensão será lavrado termo, assinado por 2 ou mais testemunhas, com a descrição de todos os bens apreendidos e informações sobre suas origens, o qual deverá integrar o inquérito policial ou o processo. Subseqüente à apreensão, será realizada, por perito oficial, ou, na falta deste, por pessoa tecnicamente habilitada, perícia sobre todos os bens apreendidos e elaborado o laudo que deverá integrar o inquérito policial ou o processo. Os titulares de direito de autor e os que lhe são conexos serão os fiéis depositários de todos os bens apreendidos, devendo colocá-los à disposição do juiz quando do ajuizamento da ação. Ressalvada a possibilidade de se preservar o corpo de delito, o juiz poderá determinar, a requerimento da vítima, a destruição da produção ou reprodução apreendida quando não houver impugnação quanto à sua ilicitude ou quando a ação penal não puder ser iniciada por falta de determinação de quem seja o autor do ilícito. O juiz, ao prolatar a sentença condenatória, poderá determinar a destruição dos bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos e o perdimento dos equipamentos apreendidos, desde que precipuamente destinados à produção e reprodução dos bens, em favor da Fazenda Nacional, que deverá destruí-los ou doá-los aos Estados, Municípios e Distrito Federal, a instituições públicas de ensino e pesquisa ou de assistência social, bem como incorporá-los, por economia ou interesse público, ao patrimônio da União, que não poderão retorná-los aos canais de comércio. As associações de titulares de direitos de autor e os que lhes são conexos poderão, em seu próprio nome, funcionar como assistente da acusação nos crimes previstos no art. 184 do Código Penal, quando praticado em detrimento de qualquer de seus associados. Nos crimes em que caiba ação penal pública incondicionada ou condicionada, observar-se-ão as normas constantes dos arts. 530- B, 530-C, 530-D, 530-E, 530-F, 530-G e 530-H.
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