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1ª APOSTILA (HOMICÍDIO até art. 121, § 1º)

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TÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
CAPÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A VIDA
1 – HOMICÍDIO SIMPLES, PRIVILEGIADO E QUALIFICADO
O homicídio simples está previsto no art. 121, caput do C.P., cuja pena de reclusão varia de 6 (seis) a 20 (vinte) anos e possui a redação mais compacta de todos os tipos penais incriminadores, que diz: matar alguém. É composto, portanto, pelo núcleo matar e pelo elemento objetivo alguém. 
O ato de matar alguém tem o sentido de ocisão da vida de um homem por outro homem. Dessa forma, podemos identificar com clareza, nesse tipo penal, o núcleo do tipo, o sujeito ativo, o sujeito passivo, o objeto material, bem como o bem juridicamente protegido.
O chamado homicídio privilegiado está previsto no art. 121, § 1º do C.P.. A expressão homicídio privilegiado, embora largamente utilizada pela doutrina e pela jurisprudência, nada mais é do que uma causa especial de redução de pena. Para que pudesse efetivamente usufruir o status de privilegiado, as penas mínima e máxima previstas no mencionado parágrafo deveriam ser menores do que as do caput. Como isso não acontece, existe ali, tão somente, uma minorante, ou seja, uma causa de redução de pena, tal como informa a sua rubrica.
O homicídio qualificado está previsto no art. 121, §§ 2º e 2º-A, do C.P., cuja pena de reclusão é de 12 (doze) a 30 (trinta) anos, para aquele que causar a morte de alguém nas hipóteses previstas nos incisos I a VII do art. 121, § 2º e I e II do art. 121, § 2º-A, do C.P..
Sendo qualificado o homicídio, deverá o julgador, após concluir que o fato praticado pelo agente era típico, ilícito e culpável, levando em consideração o critério trifásico do art. 68 do C.P., fixar a pena-base nos limites nele previstos. 
2 – CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
Trata-se de crime comum, tanto no que diz respeito ao sujeito ativo, quanto ao sujeito passivo; simples; de forma livre (como regra, pois existem modalidades qualificadas que indicam os meios e modos para a prática do delito, como ocorre nas hipóteses dos incisos III e IV), podendo ser cometido dolosa ou culposamente, comissiva ou omissivamente (nos casos de omissão imprópria, quando o agente possuir status de garantidor); de dano; material; instantâneo de efeitos permanentes; não transeunte; monossubjetivo; plurissubsistente; podendo figurar também, a hipótese de crime de ímpeto (como no caso da violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima).
3 – SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO
Sujeito ativo – pode ser qualquer pessoa, haja vista tratar-se de delito comum, uma vez que o tipo penal não delimita sua prática por determinado grupo de pessoas que possua alguma qualidade especial.
Sujeito passivo – da mesma forma, também pode ser qualquer pessoa, em face da ausência de qualquer especificidade constante do tipo penal. 
Vale destacar que somente haverá homicídio se, ao tempo da ação ou da omissão, a vítima se encontrava com vida, pois, caso contrário, estaremos diante da hipótese de crime impossível, em razão da absoluta impropriedade do objeto.
A Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7.170/83) especializou o homicídio no que diz respeito ao seu sujeito passivo, cominando pena de reclusão, de 15 (quinze) a 30 (trinta) anos, nas hipóteses de serem vítimas de homicídio o Presidente da República, o Presidente do Senado Federal, o Presidente da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, conforme se verifica da leitura de seu art. 29.
4 – OBJETO MATERIAL E BEM JURIDICAMENTE PROTEGIDO
Objeto material do delito – é a pessoa contra a qual recai a conduta praticada pelo agente. 
Bem juridicamente protegido – é a vida e, num sentido mais amplo, a pessoa, haja vista que o delito de homicídio encontra-se inserido no capítulo correspondente aos crimes contra a vida, no Título I do C.P., que prevê os crimes contra a pessoa.
*Exceção da inviolabilidade do direito à vida prevista no art. 5º, caput da Constituição Federal: a pena de morte que é permitida nos casos de guerra declarada, nos termos do seu art. 84, XIX.
Se não bastasse, ainda existem em favor do agente que elimina a vida de seu semelhante as causas de justificação, a exemplo do estado de necessidade e da legítima defesa, como ainda algumas dirimentes, como acontece nas hipóteses em que era inexigível um outro comportamento do agente.
Independentemente das exceções que têm por finalidade justificar a regra, a proteção da vida, por intermédio do art. 121 do C.P., começa a partir do início do parto, encerrando-se com a morte da vítima. Isso quer dizer que, uma vez iniciado o trabalho de parto, com a dilatação do colo do útero ou com o rompimento da membrana amniótica, sendo o parto normal ou parto cesariana, até a morte do ser humano, que ocorre com a morte encefálica, nos termos do art. 3º da Lei nº 9.434/97 (que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento; sendo que o art. 3º especifica o momento em que se considera extinta a vida), mesmo que haja vida intrauterina, poderá ocorrer o crime de homicídio.
A prova da vida, portanto, é indispensável à caracterização do homicídio.
No que diz respeito à possibilidade de ocorrência do delito de homicídio, ainda havendo vida intrauterina, mesmo depois de já ter sido iniciado o parto, há divergência em nossa doutrina. 
Cezar Roberto Bitencourt, com precisão, esclarece “a vida começa com o início do parto, com o rompimento do saco amniótico; é suficiente a vida, sendo indiferente a capacidade de viver. Antes do início do parto, o crime será de aborto. Assim, a simples destruição da vida biológica do feto, no início do parto, já constituir o crime de homicídio.”
Em sentido contrário, Ney Moura Teles afirma que “homicídio é a destruição da vida humana extrauterina, praticada por outro ser humano.”
Rogério Greco acredita não haver necessidade de vida extrauterina para que se possa falar em homicídio. O início do parto encerra, na verdade, a possibilidade de prática do delito de aborto e dá início ao raciocínio dos crimes de homicídio e infanticídio. 
Rogério Greco destaca que a inviabilidade de o feto permanecer vivo depois do rompimento do cordão umbilical não afasta a ocorrência do delito de homicídio. Assim, na hipótese de feto anencéfalo, cuja sobrevida será quase que nenhuma após o rompimento do cordão umbilical; se alguém vier a causar a sua morte, mesmo que essa fosse ocorrer poucos minutos após a conduta do agente, sendo, portanto, um fato inevitável, ainda assim deverá responder pelo crime de homicídio.
5 – EXAME DE CORPO DE DELITO
Tratando-se de crime material, infração penal que deixa vestígios, o homicídio, para que possa ser atribuído a alguém, exige a confecção do indispensável exame de corpo de delito, direto ou indireto, conforme determinam os arts. 158 e 167 do C.P.P.
Conforme esclarece Eugênio Pacelli de Oliveira “deixando vestígios a infração, a materialidade do delito e/ou a extensão de suas consequências deverão ser objeto de prova pericial, a ser realizada diretamente sobre o objeto material do crime, o corpo de delito, ou, não mais podendo sê-lo, pelo desaparecimento inevitável do vestígio, de modo indireto. O exame indireto será feito também por meio de peritos, só que a partir de informações prestadas por testemunhas ou pelo exame de documentos relativos aos fatos cuja existência se quiser provar, quando então se exercerá e se obterá apenas um conhecimento técnico por dedução”.
Somente na ausência completa de possibilidade de realização do exame de corpo de delito, seja ele direto, seja indireto, é que a prova testemunhal poderá suprir-lhe falta, nos termos preconizados pelo art. 167 do C.P.P..
Deverão os peritos, portanto, confeccionar o necessário laudo pericial com base no exame direto no corpo da vítima, ou, ainda, por meio de informações documentos, materiais, testemunhos etc.) que lhes façam concluir pela sua morte, narrando, precisamente, os motivos pelos quais são levados a acreditar na sua efetivaocorrência.
Somente não havendo possibilidade de confeccionar o laudo pericial é que a prova testemunhal poderá ser considerada, em substituição a ele.
6 – ELEMENTO SUBJETIVO
O elemento subjetivo constante do caput do art. 121 do C.P. é o dolo, ou seja, a vontade livre e consciente de matar alguém. O agente atual com o chamado animus necandi ou animus occidendi. A conduta do agente, portanto, é dirigida fisicamente a causar a morte de um homem.
Admite-se que o delito seja cometido a título de dolo direto quando o agente quer, efetivamente, a produção do resultado morte, ou quando assume o risco de produzi-lo, atuando, outrossim, com dolo eventual.
* Diferença entre culpa consciente e dolo eventual 
Culpa consciente – o agente, embora preveja o resultado, não deixa de praticar a conduta acreditando, sinceramente, que esse resultado não venha a ocorrer.
Dolo eventual – embora o agente não queira diretamente o resultado, assume o risco de vir a produzi-lo.
Enquanto na culpa consciente o agente efetivamente não quer produzir o resultado, no dolo eventual, embora também não queira produzi-lo, não se importa com sua ocorrência ou não.
Exemplo de culpa consciente: um artista de circo que se utiliza de facas para acertar um alvo e, este último possui, geralmente, uma pessoa para tornar o espetáculo mais divertido e emocionante. Caso o atirador de facas acerte a pessoa, ele responderá pelo crime praticado a título de culpa, sendo esta culpa consciente.
O agente (atirador de facas) embora prevendo o resultado (acertar a pessoa matando-a ou lesionando-a) acredita sinceramente na sua não ocorrência, em via de todos os anos de árduo treinamento, dando continuidade na sua conduta.
Exemplo de dolo eventual: dirigir a 200km/h na Avenida Fernando Ferrari. O motorista não está tentando matar ninguém, mas qualquer pessoa minimamente sana sabe que dirigir a 200km/h na Avenida Fernando Ferrari provavelmente causará a morte de alguém. Se ele mata alguém, então pode ser enquadrado no homicídio com dolo eventual, pois assumiu o risco de causar a morte de alguém.
Em razão do elevado número de casos de delitos ocorridos no trânsito surgiram, em vários Estados da federação, associações com a finalidade de combater esse tipo de criminalidade. O movimento da mídia, exigindo punições mais rígidas, fez com que juízes e promotores passassem a enxergar o delito de trânsito cometido nessas circunstâncias, ou seja, quando houvesse a conjugação de velocidade excessiva com a embriaguez do motorista atropelador, como de dolo eventual, tudo por causa da expressão contida na segunda parte do inciso I do art. 18 do C.P., que diz ser dolosa a conduta quanto o agente assumiu o risco de produzir o resultado.
Tal fórmula vem ganhando força, conforme se verifica na seguinte decisão proferida pelo STF: “a questão de direito, objeto de controvérsia neste writ, consiste na configuração do dolo eventual ou da culpa na conduta do paciente no atropelamento que gerou a morte de quatro vítimas e causou lesões corporais em uma quinta. O dolo eventual compreende a hipótese em que o sujeito não quer diretamente a realização do tipo penal, mas a aceita como possível ou provável (assume o risco da produção do resultado, na redação do art. 18, I, in fine, do CP). Faz-se imprescindível que o dolo eventual se extraia das circunstâncias do evento, e não da mente do autor, eis que não se exige uma declaração expressa do agente. Como se sabe, para a decisão de pronúncia basta um juízo de probabilidade em relação à autoria delitiva. Nessa fase, não deve o Juiz revelar um convencimento absoluto quanto à autoria, pois a competência para julgamento dos crimes contra a vida é do Tribunal do Júri. Na presente hipótese, depreende-se da decisão de pronúncia a existência de indícios suficientes de autoria em relação aos crimes dolosos de homicídio e lesão corporal, visto que diversas testemunhas afirmaram que o paciente dirigia seu veículo em alta velocidade e, após o atropelamento, aparentava estar alcoolizado. No caso em tela, de acordo com o que consta da denúncia, o paciente aceitou o risco de produzir o resultado típico no momento em que resolveu dirigir seu automóvel em velocidade excessiva, sob o efeito de bebida alcoólica e substância entorpecente (STF, HC 97252/SP, Relª. Minª. Ellen Gracie, 2ª T., DJe 4/9/2009).
A questão não é tão simples como se pensa. Essa fórmula criada, ou seja, embriaguez + velocidade excessiva = dolo eventual, não pode prosperar. Nesse sentido, não se pode partir do princípio de que todos aqueles que dirigem embriagados e com velocidade excessiva não se importam em causar a morte ou mesmo lesões em outras pessoas. 
Merece ser frisado, ainda, que o Código Penal não adotou a teoria da representação, mas, sim, a da vontade e a do assentimento. Exige-se, portanto, para a caracterização do dolo eventual, que o agente anteveja como possível o resultado e o aceite, não se importando realmente com sua ocorrência.
Com isso, Rogério Greco quer salientar que nem todos os casos em que houver a fórmula embriaguez + velocidade excessiva haverá dolo eventual. Também não estamos afirmando que não há possibilidade de ocorrer tal hipótese. Só a estamos rejeitando como uma fórmula matemática, absoluta.
Exemplo de culpa consciente: um indivíduo que, durante a comemoração de suas bodas de prata, bebe excessivamente e, com isso, se embriaga. Encerrada a festividade, o agente, juntamente com sua esposa e três filhos, resolve voltar rapidamente para a sua residência, pois queria assistir a uma partida de futebol que seria transmitida pela televisão. Completamente embriagado, dirige em velocidade excessiva, a fim de chegar a tempo para assistir ao início do jogo. Em razão do seu estado de embriaguez, conjugado com a velocidade excessiva que imprimia em seu veículo, colide o seu automóvel com outro e, com isso, causa a morte de toda a sua família. Pergunta-se: Será que o agente, embora dirigindo embriagado e em velocidade excessiva, não se importava com a ocorrência dos resultados? É claro que se importava.
Em sentido contrário, posicionando-se favoravelmente à possibilidade de verificação do dolo eventual no trânsito, principalmente quando estivermos diante daquelas hipóteses conhecidas como “racha” ou “pega”, Ney Moura Teles preconiza: “no ‘racha’, as pessoas organizam-se para uma competição sem qualquer outra motivação como ocorre no tráfego de veículos nas cidades. Querem simplesmente extravasar certos sentimentos de frustração pessoal. O objetivo é se exibirem, e nada mais. [...] Daí que não se pode concluir que aqueles que praticam tais condutas estejam imbuídos daquela atitude interna de não aceitação, sincera porém leviana, da possibilidade da causação do resultado lesivo indesejado. Deve-se, ao contrário, concluir no sentido de que, tendo-se conduzido com indiferença para com os bens jurídicos em sua volta, que podem ser atingidos pelos movimentos que produzem com seus veículos, estão, com esse comportamento, aceitando a possibilidade concreta de lesioná-los, daí que sua conduta é dolosa, com dolo eventual.”
Na verdade, quando alguém participa desse tipo de competição, acredita, sinceramente, que nada irá acontecer, principalmente com ele. Acredita, sim, na sua habilidade como piloto e que, mesmo fazendo manobras arriscadas, nenhuma lesão ou morte será produzida.
O STJ, por intermédio de sua 5ª Turma, julgando o REsp. 249604/SP, em 24 de setembro de 2002, tendo como relator o Min. Felix Fischer, chegou, inclusive, a entender que para a configuração do dolo eventual bastaria o fato de ser possível, ou provável, a produção do resultado mediante comportamento praticado pelo agente na direção de seu veículo automotor. 
Concluindo, embora em alguns raros casos seja possível falar em dolo eventual em crimes de trânsito, não é pela conjugação da embriaguez com a velocidade excessiva, ou mesmo com a prática de manobras arriscadas e levianas que se pode chegar a essa conclusão, mas, sim, levandoem consideração o seu elemento anímico. Se mesmo antevendo como possível a ocorrência do resultado, com ele não se importa, atua com dolo eventual; se, representando-o mentalmente, confia sinceramente na sua não ocorrência, atua com culpa consciente.
MODALIDADES COMISSIVA E OMISSIVA
Pode o delito ser praticado comissivamente quando o agente dirige sua conduta com o fim de causar a morte da vítima, ou omissivamente, quando deixa de fazer aquilo a que estava obrigado em virtude da sua qualidade de garantidor (crime omissivo impróprio), conforme preconizado pelo art. 13, § 2º, alíneas a, b e c, do C.P., agindo dolosamente em ambas as situações.
Isso significa que o agente pode causar a morte de seu desafeto atirando contra ele, ou, como no caso da mãe que, na qualidade de garantidora de seu filho recém-nascido, almejando a sua morte, não lhe fornece a alimentação necessária à sua sobrevivência.
A redação contida no art. 121 do C.P., portanto, prevê um comportamento comissivo, que poderá, entretanto, ser praticado via omissão, em virtude da posição de garante ocupada pelo agente.
MEIOS DE EXECUÇÃO
Delito de forma livre, o homicídio pode ser praticado mediante diversos meios, que podem ser subdivididos em: a) diretos; b) indiretos; c) materiais; d) morais.
Podemos citar como exemplos de meios diretos na prática do homicídio o disparo de arma de fogo, a esganadura, etc.; indiretos, o ataque de animais açulados pelo dono, loucos estimulados; os meios materiais podem ser mecânicos, químicos, patológicos; os meios morais são, por exemplo, o susto, o medo, a emoção violenta.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
A consumação do delito de homicídio ocorre com o resultado morte, já mencionado, sendo, in casu, perfeitamente admissível a tentativa, tendo em vista tratar-se de crime material e plurissubsistente, sendo possível a hipótese de fracionamento do iter criminis.
O agente, portanto, deverá agir com animus necandi, dirigindo finalisticamente sua conduta no sentido de causar a morte da vítima.
Apesar da possibilidade de o resultado morte ocorrer até mesmo dias, ou meses após a prática da conduta levada a efeito pelo agente, para fins de aplicação da lei penal, considera-se praticado o crime, nos termos do art. 4º do C.P., no momento da ação ou da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.
HOMICÍDIO PRIVILEGIADO
Está previsto no § 1º do art. 121 do C.P. e trata-se de uma causa especial de diminuição de pena.
O mencionado parágrafo cuida de duas situações distintas. Na sua primeira parte, a minorante será aplicada quando o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral. Na segunda parte, já não se tem que perquirir a relevância social ou moral que motivou o agente a atuar, causando a morte da vítima. Agora, numa situação distinta da anterior, age sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima.
Embora a lei diga que o juiz pode reduzir a pena, não se trata de faculdade do julgador, senão direito subjetivo do agente em ver diminuída sua pena, quando seu comportamento se amoldar a qualquer uma das duas situações elencadas pelo parágrafo.
Motivo de relevante valor social ou moral
Os elementos que integram a primeira parte do § 1º do art. 121 do C.P. são os seguintes: motivo de relevante valor social e motivo de relevante valor moral.
Quando o agente causa a morte do paciente já em estado terminal, que não suporta mais as dores impostas pela doença a qual está acometido, impelido por esse sentimento de compaixão, deve ser considerado um motivo de relevante valor moral, impondo-se a redução obrigatória da pena.
Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima.
A segunda parte do § 1º do art. 121 do C.P. também determina a redução da pena quando o agente atua sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima.
São vários, portanto, os elementos que devem se fazer presentes para que o agente possa ter o direito subjetivo de ver diminuída sua pena, a saber: a) sob o domínio; b) violenta emoção; c) logo em seguida; d) injusta provocação da vítima.
A expressão sob o domínio significa que o agente deve estar completamente dominado pela situação. Caso contrário, se somente agiu influenciado, a hipótese não será de redução de pena em virtude da aplicação da minorante, mas tão somente de atenuação, em face da existência da circunstância prevista na alínea c do inciso III do art. 65 do C.P. (sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima). Isso significa que a injusta provocação levada a efeito pela vítima fez com que o agente perdesse a sua capacidade de autocontrole, levando-o a praticar a ato extremo.
A expressão violenta emoção compatibiliza com a regra contida no inciso I do art. 28 do C.P., que diz não excluir a imputabilidade penal a emoção ou a paixão. A mensagem que se depreende do mencionado inciso é a de que a legislação penal não adota a emoção ou a paixão, mesmo que violentas, como causas que conduzem à exclusão da culpabilidade do agente.
A expressão logo em seguida denota relação de imediatidade, de proximidade com a provocação injusta a que foi submetido o agente. Isso não significa, contudo, que logo em seguida não permita qualquer espaço de tempo. O que a lei busca evitar, com a utilização dessa expressão, é que o agente que, provocado injustamente, possa ficar “ruminando” a sua vingança, sendo, ainda assim, beneficiado com a diminuição da pena. Não elimina, contudo, a hipótese daquele que, injustamente provocado, vai até a sua casa em busca do instrumento do crime, para com ele produzir o homicídio. Devemos entender a expressão logo em seguida utilizando um critério de razoabilidade.
Guilherme de Souza Nucci, analisando a expressão em estudo, preleciona: “o aspecto temporal – logo em seguida – deve ser analisado com critério e objetividade, constituindo algo imediato, instantâneo. Embora se admita o decurso de alguns minutos, não se pode estender o conceito para horas, quiçá dias. Um maior espaço de tempo entre a injusta provocação e a reação do agente deve ser encaixado na hipótese da atenuante, mas jamais do privilégio.”
Quanto à expressão injusta provocação, inicialmente devemos distinguir o que vem a ser injusta provocação, que permite a redução de pena, da chamada injusta agressão, que conduzirá ao completo afastamento da infração penal, em virtude da existência de uma causa de justificação, vale dizer, a legítima defesa.
Se considerarmos o fato como injusta agressão caberá a arguição da legítima defesa, não se podendo cogitar da prática de qualquer infração penal por aquele que se defende nessa condição; caso contrário, se entendermos como uma simples provocação, contra ela não poderá ser alegada a excludente em benefício do agente, e ele terá que responder penalmente pela sua conduta.
Concluindo, somente a agressão injusta abre a possibilidade ao agredido de se defender legitimamente nos limites legais, o mesmo não acontecendo com aquele que reage a uma provocação, pois responderá pelo seu dolo, não havendo exclusão da ilicitude de sua conduta.

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