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Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRAS DOBRAS Superfícies planares quando submetidas à deformação dúctil tornam-se curviplanares. Estruturas assim formadas são chamadas de dobras (Fig.1a). Representam uma deformação permanente e são estruturas secundárias. Geneticamente, o dobramento pode ser cilíndrico e acilíndrico. O deslocamento de um cilindro no espaço, por translação, gera uma superfície cilíndrica. Dobras assim formadas são denominadas de dobras cilíndricas (Figs. 1 e 2). Caso contrário, são denominadas de dobras acilíndricas (Fig. 2). A Geometria Descritiva é integralmente aplicada no tratamento das dobras cilíndricas e, para as dobras acilíndricas, são tratadas como desmembramentos de porções cilíndricas. (a) (b) Figura 1 – (a) Uma superfície curviplanar. As ondulações (dobras) da parte frontal são aproximadamente cilíndricas; (b) Dobramento cilíndrico de uma superfície (Wilson 1961). Extraído de Ragan, D. M. (1973), Structural Geology, an introduction to geometrical techniques, 2d edition, fig. 7.1, pg.51 e fig. 7.6, pg. 53, respectivamente. Figura 2 – Dobras cilíndricas e acilíndricas, classificadas com base na superfície axial. (A) dobra cilíndrica plana; (B) dobra acilíndrica plana; (C) dobra cilíndrica não-plana; (D) dobra acilíndrica não-plana com superfície axial cilíndrica; (E) dobra acilíndrica, não-plana, com superfície axial acilíndrica (Turner and Weiss 1963). Extraído de Lockzy, L. e Ladeira, E.A. (1976), Geologia Estrutural e Introdução à Geotectônica, fig. 5.8, pg. 47. 1 Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRAS I - MORFOLOGIA DE DOBRAS Dobras têm duas formas básicas: côncavas ou convexas. As ondulações côncavas são denominadas de antiformais e as convexas de sinformais (Fig. 3). Esta é uma classificação baseada sòmente na forma da estrutura dobrada. Assim, uma sucessão de dobras é constituída por antiformais e sinformais consecutivos com seus flancos arranjados em várias posições. Um anticlinal é uma dobra onde no seu núcleo aflora a unidade mais antiga. Um(a) sinclinal é uma dobra onde no seu núcleo aflora a unidade mais nova. Esta é uma classificação baseada sòmente na idade relativa entre as unidades envolvidas. A distinção entre forma e estratigrafia torna-se importante na medida em que mais de uma fase de dobramento estiver envolvida (Fig. 4). Uma dobra revirada (overturned) é aquela na qual um dos flancos está revirado, ou seja, o sentido de juventude estratigráfica (facing) está para baixo. Assim, tem-se antiformais(clinais) e sinformais(clinais) revirados (Fig. 4E). Figura 3 – Classificação de dobras baseado na forma: antiformal (côncavo) e sinformal (convexo). Figura 4 – Classificação de dobras baseado no empilhamento estratigráfico. A = antiformal anticlinal D2; B = sinformal sinclinal D2; C = antiformal sinclinal D2; D = sinformal anticlinal D2; E = charneira da dobra mais antiga, D1. As dobras são estruturas que ocorrem em todas as escalas, desde microscópicas a macroscópicas. Assim, uma sucessão de antiformais e sinformais devem constituir sistemas de dobramentos de dimensões (ou ordens) variadas. Num sistema de dobras, chama-se de dobras parasíticas (ou dobras de segunda ordem) aquelas formadas nos flancos e charneiras de dobras maiores (ou dobras de primeira ordem). Estão distribuídas como dobras em Z e S nos flancos e M nas charneiras. A superfície que contém as charneiras das dobras parasíticas é denominada de superfície envoltória (enveloping surface) e delinea as formas das dobras de primeira ordem. A superfície envoltória das dobras de primeira ordem dão a orientação geral da superfície antes do 2 Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRAS dobramento, ou seja, a posição original da estratificação, se for este o caso (Fig. 5). Antiformais e sinformais de tamanhos kilométricos são denominados de anticlinorium ou anticlinoria, e sinclinorium ou sinclinoria. (a) (b) Figura 5 – Dobras parasíticas e superfície envoltória: (a)- antiformal definido por dobras parasíticas assimétricas em Z e S nos flancos, e simétricas em M na charneira. A superfície envoltória das dobras parasíticas define o estilo da dobra; (b)- dobras parasíticas (I e II) e superfícies envoltórias - em B, definindo dobras de primeira ordem e, em A, definindo posição original do acamamento. Extraído de Hobbs, Means & Williams (1976), An outline of Structural Geology, fig. 4.8, pg. 168. II - ELEMENTOS GEOMÉTRICOS Em superfícies dobradas cilindricamente tem-se (Fig.6): Flancos ou limbos de uma dobra são os lados da dobra. Suas atitudes (direção e ângulo de mergulho verdadeiro) são fundamentais para a visualização da estrutura. Em antiformais, por exemplo, os flancos têm sentidos de mergulho opostos. Crista (crest) de uma dobra é o seu ponto mais elevado, em relação ao plano horizontal. Calha (trough) de uma dobra é o seu ponto mais baixo, em relação ao plano horizontal. Charneira (hinge) é a região de maior curvatura da superfície dobrada. Considerando sòmente uma única superfície dobrada em 2D, tem-se um ponto de charneira (Fig. 6). Em 3D, tem- se uma linha ou zona de charneira, conforme é angulosa ou arredondada, respectivamente (Fig. 7). Superfície/plano axial (axial surface/plane) é a superfície/plano que contém todos os pontos ou linhas de charneira, numa sucessão de superfícies dobradas (Figs. 2 e 8). 3 Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRAS Eixo (axis) de uma dobra é a linha paralela ao eixo do cilindro que gerou a superfície dobrada. Nas dobras cilíndricas o eixo é a própria linha de charneira (Fig. 1b). O eixo de uma dobra está contido no plano (superfície) axial. Uma dobra estará definida pelas atitudes de seu eixo e plano axial. Ponto de inflexão (inflexion point) é o ponto a partir do qual defini-se um antiformal ou sinformal. Superfície mediana (median surface) é a superfície que os contém. Figura 6 – Elementos de dobras de uma única superfície dobrada cilindricamente, visto em 2D. Seção perpendicular ao eixo do cilindro que a gerou. (a) (b) Figura 7 – Tipos de charneira: (a) angulosas (dobras en chevron), com linhas de charneira bem definidas; (b) arredondadas, sem linha de charneira bem definida. Figura 8 – Superfície/plano axial em 3D. Contém as linhas de charneira de uma sucessão de superfícies dobradas cilindricamente. Ângulo interlimbos é o ângulo entre os flancos (limbos) de uma dobra. Nas dobras simétricas, o plano axial é um plano bissetor a esse ângulo. 4 Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRAS Quando a superfície (plano) axial é perpendicular a superfície mediana, a dobra é dita simétrica. Quando fazem um ângulo diferente de 90º, diz-se que a dobra é assimétrica (Fig. 9). Nas dobras simétricas, a charneira coincide com a crista/calha da dobra. Na dobras assimétricas não (Fig. 6) As dobras assimétricas possuem vergência, ou seja, mostramassimetria para uma determinada direção, geralmente no sentido do transporte tectônico. No caso da figura 9b, a vergência é destral (da esquerda para a direita). (a) (b) Figura 9 – Dobras simétricas (a) e assimétricas (b), vistas em 2D. Dobras também podem ser descritas pelos seus comprimentos de onda e amplitudes (Fig.10). Figura 10 – Comprimento de onda e amplitude de dobras. Extraído de Ragan, D. M. (1973), Structural Geology, an introduction to geometrical techniques, 2d edition, fig.7.5, pg.53. III - CLASSIFICAÇÃO DE DOBRAS III. 1 – CLASSIFICAÇÃO GENÉTICA • DOBRAS CILÍNDRICAS E ACILÍNDRICAS III. 2- CLASSIFICAÇÃO BASEADA NA ATITUDE DO EIXO E PLANO AXIAL (visto em seção perpendicular ao eixo) Uma das melhores classificações de dobras é aquela que utiliza este critério: atitudes do eixo (trend e plunge) e plano axial (strike e dip). Definindo-se estes dois elementos geométricos, podemos visualizar a forma da dobra (Fig. 11). 5 Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRAS Figura 11 – Classificação de dobras baseado nas atitudes do eixo e plano axial (no sentido horário): vertical, reclinada, recumbente, inclinada horizontal, normal horizontal, normal plungeante e, no centro, inclinada plungeante. Extraído de Ragan, D. M. (1973), Structural Geology, an introduction to geometrical techniques, 2d edition, fig. 7.10, pg.58. Dobra de caimento duplo (doubly plunging fold) é na qual o eixo tem duas inclinações, para lados opostos. Braquiantiformal e Braquissinformal são dobras de caimento duplo que possui extensão algo maior que sua largura. III. 3 - CLASSIFICAÇÃO BASEADA NA ABERTURA DO ÂNGULO INTERLIMBOS (visto em seção perpendicular ao eixo). Esta classificação utiliza o ângulo entre os flancos de uma dobra. Assim, uma dobra pode ser suave, aberta, fechada, apertada ou isoclinal (Fig. 12). Figura 12- Classificação de dobras baseada no ângulo interlimbos (da esquerda para direita): suave, aberta, fechada, apertada e isoclinal. Extraído de Rowland, S. M. 1986, Structural Analysis and Synthesis. A Laboratory Course in Structural Geology, fig. 6-10, pg. 81. 6 Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRAS III. 4 – CLASSIFICAÇÃO BASEADA NO ESTILO (visto em seção perpendicular ao eixo). Dobra revirada/inversa/invertida (overturned fold) é aquela na qual um dos flancos está invertido ou revirado, ou seja, o topo estratigráfico está invertido (Fig. 13). Figura 13 - Sinformal revirado. O flanco deitado mostra topo estratigráfico para cima, enquanto que o flanco subvertical mostra topo estratigráfico para a direita. Turbidito carbonático da Fm Gemsbok, Turbiditos Zerrissene, Namíbia. Homoclinal (homocline) é a denominação para a estrutura formada por uma sucessão de rochas com a mesma inclinação. Geralmente fazem parte de uma estrutura maior, como por exemplo, flancos de dobras (Fig. 14). Figura 14 – Estrutura homoclinal. Sucessão sedimentar constituída por rochas com mesma inclinação. Extraído de www.uregina.ca/~sauchyn/ geog323/image1.html. 7 Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRAS Terraço estrutural (structural terrace) é uma feição na qual camadas inclinadas tornam-se localmente horizontais (Fig. 15). Figura 15 – Terraço estrutural: camadas inclinadas tornam-se horizontais e inclinadas novamente.Extraído de Lockzy, L. e Ladeira, E.A. (1976), Geologia Estrutural e Introdução à Geotectônica, fig. 5.33B, pg. 58. Monoclinal ou flexão monoclinal (monocline/ monoclinal flexure) é uma flexão em forma de degrau que afeta camadas originalmente horizontais. É o contrário do terraço estrutural (Fig. 16). Figura 16 – Flexão monoclinal. Extraído de www.und.edu/.../ slides/folds/slide22.htm Dobras em caixa (Box fold) são aquelas que possuem zonas de charneira em forma de caixa, com dois planos axiais de inclinações opostas (Fig. 17). Figura 17 - Dobra em caixa em camada de calcário intercalado com folhelho, do Ordoviciano. Route 4, leste of Whitehall, NY. Extraído de ees2.geo.rpi.edu/.../ Folds/source/box_fold.html. Dobras cúspide-lobato (cuspate-lobate fold) são aquelas que possuem charneiras sinformais arredondadas (lobato) e charneiras antiformais formando cúspides (Fig. 18). Figura 18 – Dobras cúspide-lobato desenvolvidas no contato entre xisto (incompetente) e quartzito (competente). Loch Monar, Inverness-shire, NW Scotland. Extraído de Ramsay, J. G. & Huber, M. I. 1987, The Techniques of Modern Structural Geology, vol. 2: Folds and Fractures, fig. 19-15, pg. 395. 8 Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRAS Dobras en chevron são aquelas que possuem charneiras angulosas, são simétricas e os flancos têm o mesmo comprimento. São também chamadas de dobras em concertina ou sanfona (Fig. 19). Figura 19 – Dobras en chevron, em sucessões com estratificação bem definida (intercalações de arenitos e pelitos). Extraído da Coleção Ward e ic.ucsc.edu/.../Lectures/ Folds/Introfolding.htm. Kink bands são microdobras de charneiras angulosas com formato de flexão monoclinal, possuindo distância entre as superfícies axiais da ordem de 10 cm. Podem ser simples ou conjugados (Fig. 20). (a) (b) Figura 20 – Kink bands em sucessões com estratificação bem definida: (a) – kink band simples e, (b) – kink band conjugado, desenvolvidos em sucessão pelitica representada por intercalações de laminas de siltito (competente) e argilito (incompetente). Bigbury, South Devon, Inglaterra. Extraído de Ramsay, J. G. & Huber, M. I. 1987, The Techniques of Modern Structural Geology, vol. 2: Folds and Fractures, figs. 20-18 e 20.19, pg. 420. 9 Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRAS III. 5 – CLASSIFICAÇÃO BASEADA NA MUDANÇA DE ESPESSURA (visto em seção perpendicular ao eixo). Esta classificação está calcada nas mudanças de espessura da camada dobrada ao longo da dobra. Dobras paralelas são aquelas em que a espessura verdadeira da cada camada dobrada, medida perpendicular entre topo e base, é constante ao longo da dobra (Fig. 21a,A). Dobras concêncritas são dobras paralelas onde as camadas são dobradas em arcos com mesmo raio (Figs. 21b, 21a,C e 22). Em profundidade, dobras concêntricas têm problema de espaço nas partes internas das charneiras (intrado). Isso pode ser resolvido por uma zona de descolamento na base da sucessão a ser dobrada e conseqüente fluxo de material para o intrado da dobra, na forma de charneira cuspada (Fig. 21b, 22). (a) (b) Figura 21 – Dobras paralelas e concêntricas: em ambas, a espessura de cada camada é igual ao longo da dobra (linhas azuis em a,A). Dobras concêntricas têm charneiras externas (extrado) em forma de arcos (linhas azuis são raios círculos) e internas (intrados) em forma cúspide. Extraído de ic.ucsc.edu/.../Lectures/ Folds/Introfolding.htm (a)e Davis, G. H. (1984), Structural Geology of Rocks and Regions, fig. 11.38, pg. 377. Figura 22 – Dobras concêntricas em intercalações de calcário e folhelho (Fm Big Bend, Cretáceo). Notar sinformal com extrado concêntrico e intrado cuspado. Extraído da Internet – www.google.com.br -imagem. 10 Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRAS Dobras similares são aquelas nas quais a espessura aparente de cada camada, medida paralelamente ao traço do plano axial da dobra, é constante (Fig. 23). (a) (b) Figura 23 – Dobras similares: camadas têm as mesmas espessuras, medidas paralelamente ao traço do plano axial, independentemente da forma da dobra (a). Neste tipo de dobra têm-se espessamentos das camadas nas charneiras e adelgaçamentos nos flancos. (a) extraído de Davis, G. H. (1984), Structural Geology of Rocks and Regions, fig. 11.39, pg. 378; (b) dobras similares em quartzito precambriano, Megasseqüência Andrelândia, Minas Gerais, Brasil. III. 6. – CLASSIFICAÇÃO VISUAL DE HUDLESTON Com objetivo de melhor caracterizar as formas das dobras, Hudleston (1973) desenvolveu uma classificação visual baseada na comparação da forma da superfície dobrada, vista desde o ponto de charneira até o ponto de inflexão, com 30 formas idealizadas de superfícies dobradas. Estas formas foram separadas por tamanhos de amplitude, representados por números de 1 a 5, e pelas formas das charneiras (angulosidade), representadas por letras de A a F (Fig. 24). Figura 24 – Classificação visual de Hudleston (1973) - 30 dobras básicas com diferentes formas (A –F) e amplitudes (1-5). 11 Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRAS III. 7 – CLASSIFICAÇÃO BASEADA NA ISÓGONA DE MERGULHO (visto em seção perpendicular ao eixo) Trata-se de uma classificação idealizada por Ramsay, J. G. (1967) na qual relacionam-se as espessuras relativas da camada na charneira versus nos flancos (Fig. 25). Figura 25 – Método de determinação da espessura relativa tα para um determinado ângulo de mergulho α. (A) – hA, hB, iA e iB são pontos (linhas) de charneiras e de inflexão, respectivamente. (B) – método para medir tα usando um overlay. (C) – relações entre espessura relativa tα e espessura Tα, medidas paralelo ao traço do plano axial. Extraído de Ramsay, J. G. & Huber, M. I. 1987, The Techniques of Modern Structural Geology, vol. 2: Folds and Fractures, figs. 17.2, pg.348. MÉTODO • Faça o desenho das dobras numa seção perpendicular aos seus eixos. • Determine os pontos de charneira e de inflexão para cada camada (fig. 25A). • Trace o plano axial pelos pontos de charneira definidos e construa tangentes pelos pontos de charneira (darão a referência para α = 0). Meça a espessura ortogonal entre as duas tangentes, que representará a medida da espessura na charneira t0. • Selecione um ângulo de mergulho α e construa tangentes a superfície dobrada. Meça a distância ortogonal tα entre as duas tangentes. • Expresse tα como uma proporção de t0, onde t’α = tα/t0. A medição de tα pode ser agilizada utilizando-se um overlay com várias linhas paralelas espaçadas igualmente (Fig. 25B). • Plote t’α x α. Repita este procedimento para outros valores de α e construa uma curva contínua t’α x α, para cada metade de uma dobra (Fig. 26). 12 Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRAS Figura 26 – Gráfico de espessuras ortogonais padronizadas t’α versus ângulo de mergulho α, e os principais tipos de classes de dobras Extraído de Ramsay, J. G. & Huber, M. I. 1987, The Techniques of Modern Structural Geology, vol. 2: Folds and Fractures, figs. 17.3, pg.349. Isógonas de mergulho são linhas que unem pontos de mesma inclinação nas partes internas e externas da superfície dobrada. Estes pontos são aqueles onde as tangentes tocam a superfície dobrada. Assim, as dobras podem ser subdivididas em três classes: 1 (1A, 1B e 1C) 2 e 3. Dobras classe 1 inclui dobras paralelas (1B), onde t’α = 1, e possuem isógonas convergentes (Fig. 27). São dobras de superfícies internas com charneiras mais fechadas que aquelas das superfícies externas, mais para concêntricas. Dobras classe 2 são as dobras similares com charneiras externas algo mais fechadas que as internas. Dobras classe 3 têm isógonas divergentes e charneiras externas mais fechadas que as internas (Fig. 26 e 27). Figura 27- Características das isógonas nas três classes de dobras. Extraído de Ramsay, J. G. & Huber, M. I. 1987, The Techniques of Modern Structural Geology, vol. 2: Folds and Fractures, figs. 17.6, pg.351. 13 Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRAS IV - DOBRAS EM MAPAS GEOLÓGICOS Dobras são reconhecidas no campo e em mapas geológicos pelos mesmos padrões de afloramento – repetições de litologias, atitudes das camadas, dobras parasíticas e fechamentos de contatos (“nariz” ou charneira da dobra)(Fig. 28). Quando uma sucessão estratigráfica horizontal é dobrada (qualquer tipo de dobra) suas unidades litológicas terão seus contatos repetidos pelo menos uma vez, representando os dois flancos da dobra. A única unidade que não se repete é a que ocupa o núcleo da dobra – a mais velha, nos anticlinais e a mais nova, nos sinclinais. As atitudes dos contatos, embora possam ter direções (strike) paralelas, podem ter sentidos de mergulho divergentes (antiformais normais), convergentes (sinformais normais) ou para o mesmo quadrante (com diferentes ângulos de mergulho - dobras reviradas, ou com mesma inclinação – dobras isoclinais). A presença de dobras parasíticas, além de anunciarem a existência de uma dobra maior, indicam o sentido de seu fechamento e/ou vergência. igura 28 – Características de dobras: repetições e atitude de contatos litológicos. Notar a camada mais velha no núcleo do antiformal e a mais nova no núcleo do sinformal. As dobras também se manifestam pela topografia regional, conforme mostram as três serras alinhadas, todas constituídas pela mesma unidade litológica. Extraído da Internet, www.google.com.br - imagens. Algumas características especiais aparecem quando consideramos as posições dos eixos das dobras - se horizontais ou inclinados (“plungeantes”). • DOBRAS COM EIXOS HORIZONTAIS Em regiões bastante arrasadas topograficamente, dobras com eixos horizontais mostrarão todas as características descritas acima, além de uma particularidade – os traços dos contatos entre as unidades litológicas envolvidas serão aproximadamente paralelos (Fig. 28). Figura 28 – Padrão de afloramento de dobras com eixos horizontais – contatos terão traços aproximadamente paralelos na superfície (em terrenos topograficamente arrasados). Extraído da Internet, www.google.com.br - imagem. Sendo assim, os contatos entre as unidades litológicas envolvidas apresentarão um padrão de afloramento condizente com sua atitude (horizontal, vertical ou inclinado- regras dos V’s). Se o terreno for muito arrasado, sem expressão topográfica, os traços dos contatos tenderão a ser 14 Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRASretilíneos, não porque estejam subverticalizados, mas porque não haverá topografia para imprimir a regra dos V’s no terreno. Linhas de strike de contatos em conformidade dobrados também mostram as características descritas acima. Assim, as linhas de strike serão paralelas entre si, com sua distribuição refletindo o sentido de mergulho dos contatos, ou seja, devem decrescer ou crescer de cota no sentido do mergulho conforme representem antiformais ou sinformais (Fig. 29). Figura 29 – Padrão de distribuição de linhas de strike para um contato dobrado num antiformal normal horizontal. • DOBRAS PLUNGEANTES Dobras plungeantes são aquelas em que os eixos apresentam um ângulo de mergulho ou inclinação. Em termos geométricos, o eixo de uma dobra antiformal ao penetrar na superfície topográfica faz com que os contatos dos seus dois flancos se unam definindo, assim, a charneira, ou fechamento ou o “nariz” da dobra na superfície do terreno. Assim, antiformais têm seus fechamentos no sentido do mergulho (inclinação) de seus eixos. Sinformais, por sua vez, mostrarão um efeito oposto, ou seja, terão seus fechamentos no sentido contrário ao do mergulho de seus eixos. Um sistema de dobras antiformais e sinformais mostrará na superfície do terreno um padrão de afloramento em zig-zag, cada curva representando um fechamento de antiformal e sinformal, respectivamente (Figs. 30 e 31). Figura 30 – Padrão de afloramento de dobras com eixos inclinados. Antiformais têm fechamento no sentido do mergulho de seus eixos. Sinformais têm fechamento no sentido oposto ao do mergulho de seus eixos (bloco diagrama). A foto no lado esquerdo é o padrão zig-zag formado por antiformais e sinformais plungeantes da Cadeia de Montanhas Apalaches, USA. Extraído da Internet, www.google.com.br - imagem. 15 Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRAS Figura 31 – Padrão de afloramento em zig-zag definido por antiformais e sinformais normais inclinados (plungeantes), com eixos inclinados para a esquerda. Mapa e bloco diagrama. Extraído da Internet, www.google.com - imagem. Linhas de strike (LS) de dobras plungeantes também apresentam as mesmas características descritas acima: as LS de mesma cota de cada flanco de uma dobra se interseptam, no sentido do mergulho do eixo para antiformais e, no oposto, para sinformais (Fig. 32). Figura 32 – Padrão de distribuição de linhas de strike de um contato dobrado num antiformal normal inclinado (plungeante), para longe do observador. Extraído de Bennison, M. (1990), fig. 33, pg. 41. O plunge (inclinação) do eixo da dobra é calculado através da construção de uma seção paralela ao traço do eixo da dobra (no exemplo da fig. 32, coincide com o traço do plano axial), utilizando-se duas LS consecutivas (Fig. 33). Assim, é possível conhecer a atitude do eixo da dobra. Figura 33 – Calculo do plunge (inclinação) do eixo da dobra da fig. 32 – faz-se uma seção paralela ao traço do eixo no mapa (no caso, igual ao traço do plano axial), utilizando-se como escala vertical a mesma escala do mapa. X = distancia entre as LS de cota 700 metros e 600 metros, medido no mapa; α = ângulo de inclinação do eixo. 16 Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRAS • SIMBOLOGIA DE DOBRAS EM MAPAS Em mapas geológicos, dobras são representadas pelo traço de suas superfícies axiais e pelas direções de seus eixos, que podem ou não, coincidir com o traço da superfície axial. Setas indicando os sentidos de mergulho dos flancos completam o símbolo.Para dobras reviradas, símbolos especiais para flancos invertidos são utilizados, bem como para indicar os sentidos de mergulho dos flancos. Se a dobra tem eixo horizontal, plota-se sòmente o traço da superfície axial (p.ex. fig. 29). Se for plungeante, traça-se a seta indicando o sentido de mergulho do eixo, bem como o valor do ângulo de inclinação (fig. 34). Figura 34 – Símbolos para dobras, utilizados em mapas geológicos. Extraído de Lockzy, J.L. de & Ladeira, E.A. (1987), Geologia Estrutural e Introdução à Geotectônica, apêndice, pg. 511-512. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA BILLINGS, M.P. 1972. Structural Geology. 2a edição, Prentice-Hall, Inc. New Jersey, 606p. DAVIS, G.H. 1984. Structural Geology of Rocks and Regions. John Wiley & Sons, Inc., 492 p. HOBBS, B.E.; MEANS, W.D. & WILLIAMS, P.F. 1976. An Outline of Structural Geology, John Wiley & Sons Inc, 571 p. 17 Fabio Vito Pentagna Paciullo DOBRAS LOCKZY, L. de & LADEIRA, E. 1976. Geologia Estrutural e Introdução a Geotectônica. São Paulo, Edgard Blucher Ltd; Rio de Janeiro, CNPq, 528 pgs. PASSCHIER, C.W. & TROUW, R.A.J., 1996. Microtectonics, Ed. Springer-Verlag, 289 pg. RAMSAY, J.G. & HUBBER, M.I. 1987. The Techniques of Modern Structural Geology, vol. 2: Folds and Fractures. Academic Press, 700 pgs. TWISS, R.J. & MOORES E.M. 1992, Structural Geology, W.H. FREEMAN & COMPANY ed., 532 pgs. 18
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