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OS FÓSSEIS E A EVOLUÇÃO BIOLÓGICA A evolução pode ser definida como uma mudança na freqüência gênica que persiste por várias gerações no decorrer do tempo. A modificação pode ocorrer em uma única transição, de uma geração para outra, ou pode ser estendida a duas ou mais gerações. Compreende variabilidade genética e diferenças ambientais, além de determinar modificações morfológicas, anatômicas e comportamentais nos organismos. O princípio da evolução diz que "todos os organismos desenvolveram-se no curso do tempo a partir de ancestrais mais primitivos, e todos eles possuem uma herança filogenética, através da qual toda a vida se perpetua". A maioria das espécies novas surge nas populações periféricas confinadas nos limites da área de dispersão da espécie progenitora emigrando até encontrar um nicho ecológico adequado. Com exceção de alguns casos especiais de homomorfia (similaridade de formas entre indivíduos evoluídos de ancestrais diferentes), que podem levar a enganos de identificação, o processo evolutivo não produziu formas integralmente repetitivas, motivo pelo qual os fósseis tem largo emprego na datação e correlação de camadas. No contexto da evolução é de grande importância a paleogeografia. E como a configuração dos mares e continentes sofreu a influência da tectônica de placas, esta constitui igualmente um fator de relevância a ser considerado, devido a sua influência no mundo orgânico. O desenvolvimento da Teoria da Evolução está ligado às evidências paleontológicas, pois entre todas as ciências correlatas, a Paleontologia é a única a investigar com a perspectiva do tempo geológico. O principal papel da Pelontologia é comprovar o processo evolutivo através do documentário contido nas rochas. Por meio do estudo dos fósseis é possível traçar as linhas evolutivas de determinados grupos biológicos, como por exemplo, os proboscídeos, ursos, peixes pulmonados e amonóides. Em nível mais geral, a evolução dos vertebrados representa um caso de filogenia atestada pelos fósseis. As espécies que aparecem e desaparecem por evolução filética são chamadas de cronoespécies, paleoespécies ou ainda espécies evolutivas. Leis e Princípios da Evolução I.)Adaptação: Para a Paleontologia, corresponde à modificação morfológica de um organismo, imposta pela seleção natural, que resulta em melhor ajustamento do mesmo às condições de seu ambiente a)Convergência, Divergência e Irradiação Adaptativa (morfologia-grupos) A convergência adaptativa parte de grupos diversos que convergem para um ponto comum, geralmente determinado pelo seu habitat, ou seja, animais pertencentes a diferentes linhagens filogenéticas, que tendo em vista o fato de terem vivido no mesmo ambiente, adquiriram formas similares (exemplo = braquiópodos permianos e biválvios cretácicos - semelhantes a corais ). A divergência adaptativa parte de um único grupo, cujos componentes sofrem irradiação adaptativa, isto é, divergem para habitats diferentes. Corresponde à diversificação de um grupo bem sucedido (exemplos - répteis no Mesozóico e mamíferos no Cenozóico). Radiação Adaptativa e Evolução Explosiva são termos usados para episódios de proliferação rápida de novas formas; e extinção em massa denota episódios de rápido desaparecimento de táxons. b) Homologia e Analogia (órgãos) A Homologia pode ser definida como similaridade entre diferentes partes de organismos com descendência comum. Os órgãos homólogos possuem origem e função similar, e adaptação distinta (exemplo => asas de pterossauros quirópteros e aves; golfinhos ictiossauros e tubarões). Em contraposição, na Analogia os caracteres são puramente adaptativos, sendo portanto semelhantes na função e aparência, e com distinta origem (exemplo => asas de insetos e quirópteros). c) Norma Adaptativa (genótipos) "Um conjunto de genótipos relacionados em consonância com as demandas do ambiente, é a norma adaptativa de uma população (Dobzhansky, 1955). "É importante para a taxonomia, formação de raça, e na especiação. d) Pré-Adaptação e Pós-Adaptação (mudança por variação ambiental) A pré-adaptação corresponde a caracteres secundários que o organismo possui para mudar de ambiente. Há remodelação do material genético por um longo período de tempo, tanto no genótipo quanto no fenótipo (forma, estrutura, fisiologia e comportamento). Já a pós-adaptação é a resposta imediata às variações ambientais, consequentemente apenas o fenótipo se modifica no organismo. e) Co-evolução (pressão adaptativa) Compreende às mudanças recíprocas resultantes da pressão adaptativa, que duas ou mais espécies não aparentadas exercem uma sobre a outra. II) Lei de Dollo (1893) ou Princípio da Irreversibilidade da Evolução "A evolução é sempre progressiva, isto é, não admite recuo, nem retorno à forma antiga, em um processo contínuo e irreversível." Esta lei é aceita apenas como regra geral, dada a existência de determinados organismos que a contrariam (por exemplo, os répteis adaptados à vida aquática, que não voltaram a ser peixes). III) O Princípio da Biogênese "A ontogênese de um organismo é a recapitulação abreviada de sua filogenia". Isto é, os estágios embrionários dos organismos superiores assemelham-se aos estágios adultos de seus antecessores. Níveis Evolutivos A evolução pode ser considerada em três níveis, e é aqui onde a documentação paleontológica assume valor particular, pois observar somente os organismos viventes, impossibilita traçar as linhas desse tipo de estudo. * Microevolução - corresponde à especiação e adaptação. Novas espécies se originam a partir da interação entre espécies predecessoras e o ambiente. * Macroevolução - corresponde à irradiação adaptativa. Ocorre diversificação de um filo inicial em outros, a partir da adaptação em seus próprios ambientes. * Megaevolução - corresponde à origem de um novo taxon. É o aparecimento de novos sistemas de organização. Fundamenta-se nos mesmos princípios da macroevolução, embora seja mais difícil de ser compreendida, porque as ligações entre categorias taxonômicas superiores (filo, classe, ordem) são pouco claras, graças a falta de registros paleontológicos. Ritmos Evolutivos (Simpson) * Taquitélico - quanto ritmo e radiação adaptativa são rápidos. Isso se dá quando determinado grupo biológico tem êxito, evolui rapidamente e origina novos filos adaptados a diferentes ambientes. Fornece fósseis de interesse estratigráfico. * Horotélico - Superada a fase inicial de desenvolvimento de um grupo, o ritmo diminui tornando-se mais lento (normal). O número de novos taxons é igual ao número de taxons extintos. * Braditélico - quando ao sofrer o vigor inicial, o número de extinções supera o número de taxons que persiste em tempos sucessivos. Os grupos biológicos que evoluíram neste ritmo são atualmente relíquias, entrando em declínio após o seu surgimento, sendo denominados fósseis vivos. Espécie Biológica x Espécie Paleontológica No reconhecimento das espécies, a Biologia leva em conta apenas a sua distribuição atual. Segundo Wolfe (1977), a espécie é um grupo de organismos que se assemelham entre si mais do que aos organismos de um outro grupo qualquer, ao menos que por uma característica bem definida. Para a Paleontologia, espécies representam etapas num processo contínuo de modificação orgânica, com limites verticais problemáticos para a sistemática paleontológica. Simpson (1961) propôs a definição de espécie evolutiva para caracterizar uma linhagem que se envolve separadamente das outras e com seu próprio aspecto evolutivo e tendências evolutivas. Esta definição é consistente com a definição genética da espécie biológica. Mesmo sem deixar claro os critérios utilizados para delimitar as espécies,o autor sugere que diferenças morfológicas entre as espécies extintas devem ser pelo menos tão grande quanto espécies viventes de um mesmo grupo taxonômico (ou grupo similar). Subespécie é um termo aplicado para populações ou grupos de populações isoladas geograficamente, que são geneticamente distintas, mas não suficientemente diferente para ser isolada reprodutivamente. Sob a ótica paleontológica, subespécie também pode ser usado para denotar estágio intermediário, na substituição de uma espécie por outra, durante a transição filética. Teorias evolutivas * Lamarckismo: "A função cria o órgão". Baseado em dois princípios: a) o ambiente externo modela os organismos (noção de adaptação); e b) as modificações trazidas pela ação do ambiente são transmitidas hereditariamente. * Darwinismo: A evolução é um processo contínuo e gradual, que ocorreu devido a seleção natural (eliminação dos indivíduos menos adaptados por ajustamento às condições do ambiente) exercida a nível populacional. "A luta pela vida", melhor definida por Prénant como "pressão da população". Darwin também admitiu a hereditariedade dos caracteres adquiridos. * Ortogênese: Mudança persistente unidirecional sem interferência da seleção natural. Postula predeterminação evolutiva sem explicar o seu mecanismo. * Saltacionismo: Defende a origem de novos tipos por variação descontínua, ou seja, a geração de uma espécie é alcançada por uma única mutação gênica. Neodarwinismo - é ultimada por qualquer fator ambiental, biológico ou abiótico, capaz de aumentar a probabilidade de certos indivíduos de uma população que manifeste variação poderem sobreviver para se reproduzir. Assim os alelos gênicos passam para a outra geração, e esta mudança na freqüência dos alelos da geração seguinte constitui uma evolução. A seleção natural atua diretamente sobre o fenótipo, e indiretamente sobre seu genótipo. * Pontuísmo (Gradualismo Filético): As espécies novas geram-se por divisão de linhagens, com especiação alopátrica, propiciando a evolução de espécies novas a partir de populações periféricas afastadas geograficamente da espécie ancestral. A evolução se dá por alternância de um evento de mudanças rápidas e marcantes em pequenas populações, e outro por ausência de mudança durante um intervalo de tempo superior ao da manifestação do primeiro. Observa-se nessa evolução dois níveis distintos, micro e macroevolução. Escolas Evolutivas As relações que fundamentam a ordenação dos organismos em grupos podem ser genéticas, filogenéticas ou fenéticas. As três escolas existentes são: * Evolutiva Clássica: fundamentada no Neodarwinismo e no moderno conceito de espécie, é uma escola eminentemente filogenética, onde as espécies afiguram-se como integrantes de linhagens que se bifurcam sucessivamente através do tempo se anastomosar. * Taxonomia Numérica ou Fenética: É a ciência da classificação dos organismos por meios mecânicos ou matemáticos. Fundamenta-se na similaridade fenética (fisiologia, morfologia, bioquímica e comportamento), num dado momento, onde todos os caracteres tem igual ponderação, sem considerar-se a descendência. A Paleontologia não é usada como instrumento de análise porque não se aplica a história da evolução dos caracteres utilizados. É o agrupamento de unidades taxonômicas ou taxons por métodos numéricos com base nos estados de seus caracteres. Nesta modalidade de classificação, chamada classificação fenética, a técnica mais comumente empregada é da de análise de agrupamento (análise cluster). Os procedimentos usuais são: a) seleção das UTO( Unidade Taxonômica Operacional) a ser classificada; b) seleção de um grupo de caracteres fenéticos para descrever as UTO; c) comparações entre as UTO’s; d) determinação dos grupos ou clusters de UTO’s com base nas similaridades; e) construção dos fenogramas ou dendogramas, que expõem os resultados dos agrupamentos. * Sistemática Filogenética ou Cladística: fundamentada em critérios genealógicos ou filogenéticos. É representada em diagramas chamados cladogramas. Um de seus aspectos relevantes é a sua aplicação na Biogeografia, pois associada à Paleontologia fornece a evolução dos grupos no ambiente e/ou evolução dos grupos e do ambiente. Clado refere-se a um agrupamento filogenético de táxons relacionados entre si. A filogenia consiste em hierarquizar os clados, e com o auxílio da taxonomia cladística produzir uma classificação que reflita a hierarquia natural dos clados. Tectônica de Placas e Evolução Os eventos decorrentes da Tectônica de Placas têm grandes reflexos na biogeografia e na evolução. No ambiente marinho afetam a distribuição dos organismos (através da criação de barreiras), os regimes de temperatura e correntes, além da estabilidade vertical das colunas d'água. O deslocamento das massas continentais modifica a sua posição em relação aos padrões climáticos, alternando-os também. Estes eventos podem causar imprevisíveis regimes de recursos tróficos. Por outro lado, a fragmentação de um continente conduz a uma diversificação dos organismos, através do endemismo, e os recursos tróficos tendem a aumentar por causa da estabilização do clima. Portanto, a diversificação/irradiação adaptativa e o endemismo são as principais respostas do mundo orgânico aos estímulos provocados pelos eventos tectônicos. Exemplo - A quebra do Pangea foi responsável pelas extinções no P-Tr, e pela irradiação de faunas no Meso e Cenozóico. Uma ligação terrestre produz uma divergência na fauna marinha e convergência na fauna continental, constituindo um complementarismo. Em suma, levando-se em conta que a tectônica de placas promove mecanismos de agrupar ou fragmentar continentes, além de gerar cadeias de montanhas por colisão de placas, os organismos sofrem alterações ambientais ou biogeográficas. A partir daí surgem novas linhagens evolutivas e desaparecem outras. Extinção Desaparecimento de entidades taxonômicas resultante da incapacidade dos organismos muito especializados suportarem alterações em seus ambientes. São classificadas em filéticas ou pseudoextinções (dentro de uma linhagem) ou finais ( término de uma linhagem). Os agentes apontadas como causas para explicar as extinções são quase todas de caráter geológico ou biológico, tais como fatores extraterrestres, climáticos, tectonismos de grandes amplitudes, inversão magnética, glaciações, regressões marinhas, mudança na salinidade dos mares, envenenamento natural, deficiência de oxigênio, e outros como predação, competição, coevolução, fome, doença, e depauperação genética. Segundo Lewin (1982) o processo de extinção inicia-se com uma fase denominada de extinção seletiva, desencadeada a partir do desequilíbrio na pirâmide trófica devido às mudanças ambientais. Os organismos que dependem de uma única fonte alimentar, denominados especialistas, estão mais vulneráveis a desaparecerem, assim como os indivíduos que numa posição mais inferior na pirâmide , dependem destas para a sua sobrevivência. De uma maneira geral aceita-se que as flutuações do nível do mar causaram drásticas mudanças ambientais, sejam locais, regionais ou globais. Com a redução do habitat marinho e conseqüente alteração na distribuição geográfica, produzidas pela migração continental, muitas vezes acompanhadas de mudanças climáticas e de salinidade, envenenamento de certas partes do oceano e desestabilização da estratificação das águas oceânicas, muitas formas de vida desapareceram no decorrer do tempo geológico. Para explicar as extinções marinhas, a hipótese mais recente é apontada por Wilde & Beny (1984), baseada na desestabilização da estratificação de densidade das águas oceânicas. Segundo os autores, um resfriamento climático acarretaria na quebra da estabilidade de estratificação,e conseqüente subida de águas profundas tóxicas ou não condicionadas biologicamente. A natureza das espécies em ecossistemas, comunidades e a biosfera resulta de processos evolutivos através do tempo geológico, e sempre condicionados às características ambientais. Assim, os táxons extintos são marcadores tanto temporais quanto ecológicos, pois um fenômeno de extinção está sempre relacionado com desestabilização ambiental. Remontando-se ao Permiano, considerado o período mais crítico da história da vida sobre a Terra, onde desapareceram importantes grupos sistemáticos (como corais tabulados e rugosos, trilobitas e fusulinídeos), uma grande desestabilidade nos recursos tróficos devido a coalescência dos continentes no PANGEA, gerou uma exacerbada competição, que culminou com a eliminação de muitos componentes da biota. Os táxons extintos são considerados excelentes fósseis guias, assim como são os elementos de suporte na comprovação da profunda modificação ambiental ocorrida neste período. Correlação entre a Evolução dos Animais e das Plantas A evolução dos animais e das plantas estão interligadas. As plantas foram as primeiras a invadir o continente, e pela sua atividade fotossintética não só representam fonte de alimentação para os herbívoros, como também abrem indiretamente caminho para os carnívoros. Já o desenvolvimento das plantas com flores (angiospermas) se deu principalmente pelo transporte de suas sementes através dos insetos, patas de tetrápodos, etc, aumentando assim a sua área de dispersão.
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