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Centro de Ciências da Natureza Licenciatura em Ciências Biológicas Disciplina: Paleontologia Docente: I e II Relatório- Floresta Fóssil de Teresina e José de Freitas Discente: Outubro de 2022. Relatório- Floresta Fóssil de Teresina e José de Freitas 1. Introdução Teresina é a única capital brasileira a ter uma floresta fóssil em uma área urbana, a floresta conta com 13 hectares, 9 mil m² e cerca de 70 troncos fossilizados, está localizada na zona leste teresinense, as margens do Rio Poti, e em 2010 foi tombado como patrimônio pelo Ministério da Cultura. Os troncos fósseis, já citados, foram notados primeiramente por Lisboa (1914), e se inserem numa formação rochosa denominada: Formação Pedra de Fogo (Santos e Carvalho, 2004). O parque possui um valor imensurável para a cultura piauiense, desde paleontólogos, historiadores, geólogos, e todos aqueles que se interessam por este assunto, pois é rico em informações que contam com dados importantes sobre parte de como foi a “vida” na Terra no período permiano, período este, que antecede até mesmo os dinossauros. Podemos citar como táxons vegetais encontrados na floresta; Psaronius sp., e uma espécie que ficou conhecida nesse sítio, chamada de Teresinoxylon euzebioi (Caldas et al, 1989). Infelizmente, mesmo possuindo uma grande importância, o parque vem sofrendo com o descaso público, o espaço possui poucas instalações que o caracterizam como sítio arqueológico, está praticamente abandonado pelos órgãos públicos, no local não há segurança, e tem lixo em alguns pontos, não há placas de sinalização, e nem profissionais que possam instruir o visitante, a sociedade também não possui conhecimento sobre o local, porque não há empenho por parte da Prefeitura em divulgar ou promover o parque. Mesmo com tantas dificuldades, o Parque Municipal da Floresta Fóssil do Rio Poti possui um raro acervo paleontológico, desta forma, merece o total reconhecimento por parte de representantes políticos e da sociedade, para voltar a ser um local preservado, para isso, seria necessário voltar a investir em ações sociais e educativas, imediatamente. Com a aula de campo feita ao parque, podemos constatar toda a sua importância, e o valor que possui não só para estudantes e pesquisadores, mais para a ciência, educação e cultura, que ultrapassa o território piauiense. Para a aula de campo que ocorreu em José de Freitas (JF), pôde-se perceber a riqueza de geodiversidade dos sítios arqueológicos da região, bem como, demonstrou na prática a importância dessa modalidade de ensino (aulas de campo) fundamental nas aulas de paleontologia, atrelando o conteúdo teórico com a prática. 2. Objetivos -Observar os fósseis; -Analisar as condições de preservação do parque Floresta Fóssil de Teresina e dos sítios arqueológicos de JF. -Identificar os impactos ambientais que se intensificaram nos últimos anos. -Desenvolver um olhar educacional que evidencie a importância que a Floresta fóssil representa para o ensino de paleontologia e para sociedade, assim como, dos sítios arqueológicos. 3. Metodologia A metodologia baseou-se em aulas de campo ministrada e guiada pelo Prof. e paleontólogo Willian Matsumura, na qual, nos orientou sobre a floresta fóssil e sobre geodiversidade de sítios arqueológicos de JF, bem como, disponibilizou artigos que tratassem da temática, a citar: “O Parque Floresta Fóssil do Rio Poti como ferramenta para o ensino de Paleontologia e Educação Ambiental” (Quaresma e Cisneiros, 2013), também se fez necessário a busca por mais conteúdos disponibilizados na internet que foram utilizados como referência na produção deste trabalho. Durante as aulas obteve-se o registro em fotografias e anotações no caderno de campo, para ilustrar os resultados, alinhando-os às pesquisas realizadas. 4. Resultados- Floresta Fóssil de Teresina Como já supracitada, a floresta conta com cerca de setenta troncos fossilizados, predominando as gimnospermas e poucas pteridófitas. Entre as espécies mais conhecidas do parque, estão: Psaronius sp. (que eram espécies de samambaias que chegavam a 10 metros de altura) e Teresinoxylon eusebioi (“o primeiro termo, que indica o nome genérico da espécie, em homenagem a Teresina; o segundo, que indica o epíteto específico, em referência e homenagem ao geólogo Eusébio de Oliveira, um dos pioneiros na pesquisa de fósseis no Piauí”). Os afloramentos (troncos fossilizados) encontrados em Teresina datam dos Períodos Carbonífero e Permiano, avaliados, entre 345 e 225 milhões de anos atrás. Muitas plantas são encontradas em posição vertical (posição de vida ou de crescimento), representando que se tornaram fósseis naquele exato lugar em que viveram. Nota-se também, que apesar da Floresta fóssil está localizada dentro de uma zona intertropical, os fósseis de vegetais encontrados lá, sugere a presença de espécies de plantas diferentes das florestas desta mesma categoria. (IPHAN, 2013). (Figura 1). Figura 1- Tronco fossilizado em posição de vida. Os pesquisadores acreditam que a formação desse sítio arqueológico aconteceu depois que a base delas foi soterrada e com passar do tempo ocorreu o processo de silicificação, que é quando a sílica penetra nas partes porosas dos troncos até que eles fiquem petrificados. Uma demonstração de que se trata realmente de fósseis de vegetais, são pelos anéis de crescimento ainda presentes. (Figura 2). Figura 2- Anéis de crescimento de um tronco fossilizado. Foto: Bruna Oliveira, 2022. Foto: Bruna Oliveira, 2022. Adentrando um pouco mais no conceito de permineralização, o processo se inicia imediatamente após a queda do resto num ambiente de deposição de sedimentos (córrego, rio, lago, mar…) ou durante o soterramento num desses locais (Figura 3). Figura 3. Permineralização. Fonte: Bruna Oliveira, 2022. Para à autora Branco, este processo pode ser exemplificado da seguinte maneira: “O que acontece em geral, é que uma solução rica em sílica ou cálcio consegue preencher os espaços vazios entre as células, poros e no interior das células. Com o passar do tempo, a perda de água promovida pelo soterramento induz a formação de cristais de quartzo, no caso de uma solução rica em sílica, calcita, ou no caso do cálcio. Esses cristais possuem tamanhos diminutos, da ordem de poucos micrometros (1/1000 de um milímetro), que preservam a anatomia original inclusive das células, e por ser muito estáveis no caso da sílica, permitem a manutenção dos fósseis por muitos milhões de anos”. (BRANCO, 2017, on-line). Ainda na Floresta Fóssil pode-se observar o esgoto sem tratamento que cai diretamente no rio Poti, prejudicando-o, pois com esse despejo há um acúmulo de sujeira e matéria orgânica que impede a presença de oxigênio, tornando a existência da fauna insustentável. (Figura 4 e 5). Figura 4-5. Despejo irregular de esgoto no Rio Poti. Fonte: Bruna Oliveira, 2022. Como supracitado, a floresta fóssil tem como formação: “Pedra do fogo”, Faria Jr. & Truckenbrodt (1980a, 1980b) descreveram a estratigrafia da formação, dividindo-a em: Membro Sílex Basal, Membro Médio e Membro Trisidela. O membro sílex basal intercala siltitos e bancos dolomíticos com abundantes concreções e horizontes silicosos, o membro médio é constituído por camadas de arenitos finos com estratificações cruzadas, que intercalam siltitos, folhelhos e bancos carbonáticos com pequenas concreções silicosas. E o membro trisidela intercala arenitos finos, siltitos, folhelos e bancos carbonáticos.(Figura 6 e 7). As madeiras fósseis são encontradas associadas aos siltitos e arenitos finos avermelhados com manchas brancas, que pertencem às partes mais superiores da formação. Figura 6-7. Formação Pedra de Fogo. Fonte: Bruna Oliveira, 2022. Observou-se no interior do parque uma forma estrutural erodida do leito marginal do rio Poti, com formações rochosas no seu interior, com material transportado pelo fluxo do rio. Percebeu-se também a prática de pesca extrativista no local, sem fiscalização e/ou regulação para esta atividade. (Figura 8). Figura 8. Leito do Rio Poti no Parque Floresta Fóssil de Teresina. Fonte: Bruna Oliveira, 2022. As pedras encontradas no leito do rio Poti, são um registro de uma atividade realizada no período Paleolítico, também chamado de Pedra Lascada, durante esse período, os hominídeos teriam desenvolvido a habilidade de criar instrumentos e ferramentas, inicialmente a partir da pedra toda, depois lascando algumas para utilizar como objetos cortantes ou mesmo para realizar raspagens. (Figura 9). Figura 9. Pedras encontradas na margem do rio Poti. Fonte: Bruna Oliveira, 2022. Uma outra técnica utilizada antigamente, era para acender fogo, que consistia em provocar atrito entre um sílex e pirita. Essa fricção produz faíscas muito energéticas, com o intuito de acender o fogo em gramas ou folhas secas. (Figura 10). Figura 10. Professor demostrando como o atrito entre as pedras pode produzir faíscas. Fonte: Bruna Oliveira, 2022. Durante a passagem pelo parque observarmos uma vegetação de médio e grande porte, árvores de até 15m (aproximadamente) e arbustos, bem como, plantas rasteiras. Essa vegetação atual é bastante influenciada pela antropização, apresentando poucos exemplares nativos, a maioria das plantas é oriunda de um reflorestamento, e é uma vegetação composta por cerrado, caatinga e mata ciliar. (Figura 11-12). Figura 11-12. Vegetação do Parque Floresta Fóssil. Fonte: Bruna Oliveira, 2022. Há presença de uma fauna rica e diversificada no parque, a citar: cobras, pássaros, iguanas, e uma grande variedade de insetos. ( Figura 13). Figura 13. Jiboia vista no parque. Fonte: Bruna Oliveira, 2022. Observa-se na figura acima, em meio a cobra, algumas embalagens de plástico. Em todo o trajeto nas trilhas, bem como, no leito do rio, foi notado uma quantidade considerável de lixo, demonstrando um “abandono” pelo poder público. 4.1 Resultados- José de Freitas A fazenda Mocambo, local visitado para estudo, pertence à formação Piauí, apresenta em seus calcários, conteúdo significativo de uma fauna de invertebrados representada por “moluscos bivalves, anelídeos, briozoários, esponjas, ostracodes, fragmentos de crinoides, equinoides, holoturóides, peixes, foraminíferos arenáceos, conodontes, escolecodontes, braquiópodes e trilobitas”. (Figura 14, 15 e 16). Figura 14-15. Registros fossilíferos encontrado na visita à Fazenda Mocambo. Fonte: Bruna Oliveira, 2022. Figura 16. Registros fossilíferos encontrado na visita à Fazenda. Fonte: Bruna Oliveira, 2022. As camadas da Formação Piauí foram divididas por Lima & Leite (1978) e Lima Filho(1992) em duas partes: a inferior, constituída de arenitos róseos, médios, com intercalações de siltitos vermelhos e verdes; e a superior, composta por arenitos avermelhados com intercalações de leitos e lâminas de siltitos vermelhos, finos leitos de calcários e evaporitos. (Figura 17). Figura 17. Formação Piauí, Mocambo-JF. Fonte: Bruna Oliveira, 2022 As superfícies de acamamento são de base quase horizontal. São interpretadas como deposição de duna eólica, que intercalam estratificações plano-paralelas, que são interpretadas como sedimentação interdunais. (Figura 18). Figura 18. Formação Piauí. Fonte: Bruna Oliveira, 2022 Os arenitos róseos são recobertos por folhelhos vermelhos, que intercalam marcas de onda e gretas de ressecamento. Ocorrem na parte central da bacia, e são interpretados como de origem lagunar ou lacustre. Os folhelhos avermelhados em variações laterais de fácies intercalam carbonatos (Calcário Mocambo). (Figura 19). Figura 19. Calcário Mocambo Fonte: Bruna Oliveira, 2022 O tipo de rocha encontrado no segundo local visitado em José de Freitas, é bem diferente do calcário Mocambo, apesar de ser também um calcário, a diferença está na quantidade de calcário, que é menor, em compensação terá uma maior quantidade de siltito, e também uma grande quantidade de matéria orgânica, desta forma ele torna-se mais fino e com uma coloração cinza. (Figura 20). Figura 20. Rocha. Fonte: Bruna Oliveira, 2022 Ainda pode ser dividida em uma camada mais abaixo- cinza mais escuro, divido em dois intervalos: uma parte superior e outra inferior. Mais acima tem uma camada de arenito, em vermelho (blocos de areia). Então, a parte de baixo calcário ou calcilutito, depois vem argila (no meio), e acima, blocos de arenito. (Figura 21). Figura 21. Camadas. Fonte: Bruna Oliveira, 2022 Entre os restos de animais passíveis de preservação incluem-se as estruturas formadas de sílica (óxido de silício), como as espículas das esponjas; a calcita (carbonato de cálcio), como as conchas de muitos moluscos e os corais; a quitina, substância que forma o esqueleto dos insetos; e/ou a celulose, encontrada na madeira. (Figura 22). Figura 22. Sílica. Fonte: Bruna Oliveira, 2022 5. Conclusão Diante das informações aqui enunciadas, percebe-se que o Parque Floresta Fóssil de Teresina é um ambiente rico em dados científicos, e seria um ambiente propicio para imergir os alunos em aulas de educação ambiental, demonstrar através dos fósseis lá encontrados, fatos que marcaram a história do nosso planeta, e até da nossa região. No entanto, a área apresenta-se mal conservada (com lixo em toda parte) e totalmente desprotegida (sem fiscalização, ou segurança), com as amostras de fósseis totalmente vulneráveis à ação dos condicionantes naturais e do vandalismo. Vale ressaltar a importância das aulas de campo, pois desenvolve capacidades nos alunos, a citar: observação, coletas de informação, pesquisa, e desenvolve a capacidade do(a) aluno(a) de atrelar o conteúdo teórico com a prática. Referências ANDRADE, K.K.; CAVALCANTI, A. P. B. Condicionantes Da Paisagem e Paleogeografia: Parque Ambiental Floresta Fóssil, Teresina/Piauí-Brasil. v.9. n.1. 2016. Disponível em: https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/climatologia/article/view/8391/ 5922. Acesso em: 03 de out. de 2022. BARROS, J. Floresta Fóssil do Rio Poti, Teresina – PI. Patrimônio cultural do Piauí. Coordenação de Registro e Conservação – CRC/SECULT. 2015. Disponível em: https://crcfundacpiaui.wordpress.com/2015/04/08/floresta-fossil-do-rio-poti/.Acesso em: 30 de agosto de 2022. BRANCO, F. S. R. Como um tronco ou um osso vira pedra? PaleoMundo. Fevereiro de 2017. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/paleoblog/2017/02/15/como- um-tronco-ou-um-osso-vira-pedra/. Acesso em: 01 de setembro de 2022. Estudo indica que Neandertal sabia fazer fogo. 2018. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2018/07/19/interna_internacional,974 480/estudo-indica-que-neandertal-sabia-fazer-fogo.shtml. Acesso em: 03 de out. de 2022. FILHO, S. A Paleoflora de Teresina. Algo sobre. Disponível em: https://www.algosobre.com.br/biologia/a-paleoflora-de-teresina.html. Acesso em 30 de agosto de 2022. PINTO, T. Por que Idade das Pedras? Disponívelem: https://www.preparaenem.com/historia/por-que-idade-das-pedras.htm. Acesso em 03 de out. de 2022. SANTOS, M. E. C. M. S; CARVALHO, M. S. S. Paleontologia das Bacias do Parnaíba, Grajaú e São Luis. Reconstituições Paleobiológicas. 2004. Rio de Janeiro. https://crcfundacpiaui.wordpress.com/
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