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O conceito de narcisismo na metapsicologia freudiana da psicose

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19
FACULDADE NOBRE
BACHARELADO EM PSICOLOGIA
CREUZA DAS MERCÊS
O CONCEITO DE NARCISISMO NA METAPSICOLOGIA FREUDIANA DA PSICOSE
Feira de Santana – Bahia
2016
CREUZA DAS MERCÊS
O CONCEITO DE NARCISISMO NA METAPSICOLOGIA FREUDIANA DA PSICOSE
Artigo apresentado ao curso de Psicologia da Faculdade Nobre de Feira de Santana como requisito parcial para obtenção de Grau de Psicólogo sob supervisão da Prof.º. Dr. Magno Oliveira Macambira
Orientador: Yonetane Tsukuda
Feira de Santana – Bahia
2016
CREUZA DAS MERCÊS
O CONCEITO DE NARCISISMO NA METAPSICOLOGIA FREUDIANA DA PSICOSE
Artigo apresentado ao curso de Psicologia da Faculdade Nobre de Feira de Santana como requisito parcial para obtenção de Grau de Psicólogo sob supervisão do Profº.Dr. Magno Oliveira Macambira
Orientador: Yonetane Tsukuda 
Banca Examinadora
__________________________________________________________
Titulação Nome
Orientador
____________________________________________________________
Titulação Nome
Professor da disciplina
__________________________________________________________
Titulação Nome
Professor Convidado
Feira de Santana - BA, XXXXXXXXX de 2016.
O CONCEITO DE NARCISISMO NA METAPSICOLOGIA FREUDIANA DA PSICOSE
Creuza das mercês[1: Graduando em Bacharelado em Psicologia da Faculdade Nobre de Feira de Santana-BA (FAN). E-mail: creuza_merces@yahoo.com.br² Professor no Departamento de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Estadual de Feira de Santana – BA.]
Orientador: Yonetane Tsukuda²
RESUMO
Este artigo propõe discutir o conceito de narcisismo e sua importância para a metapsicologia freudiana das psicoses. Consideramos que o sujeito psicótico, fixado numa posição narcisista, constitui-se na resistência de uma negação e de uma fixação, pois ele se nega a transitar entre a busca de um objeto libidinal que possa suportar a sua libido primitiva e, que por sua vez, teima em se concentrar no ego. O narcisismo se divide em dois momentos no desenvolvimento humano: no primeiro momento é comum a todo sujeito, pois é essencial para a construção do ego; já o segundo momento possibilita o deslocamento do ego em torno de si mesmo em direção ao outro e ao mundo externo: tal deslocamento permite a condição de normalidade. Segundo Freud (1996), nem todas as pessoas conseguem fazer essa transição, ou seja, a energia que deveria ser dirigida a outras pessoas ou coisas – libido objetal – retorna ao ego primitivo, provocando uma catexia libidinal deformada, voltada para o próprio ego. Tal condição pode ser classificada como uma patologia, mas sua etiologia não é de ordem organísmica, mas sim um sofrimento psíquico em que o sujeito através do processo doloroso busca reconstruir o caminho da normalidade – daí a importância do conceito de narcisismo para a compreensão da psicose. Sendo assim, o desenvolvimento do ego se dá justamente em perceber que existe alguém além dele mesmo que pode ser amado, mas nem por isso deixa de amar a si mesmo. É justamente essa capacidade que fica obstruída ou limitada na psicose.
Palavras-chave: Narcisismo. Psicanálise. Psicose.
ABSTRACT 
This article proposes to discuss the concept of narcissism and its importance for the Freudian metapsychology of psychoses. We consider that the psychotic subject, fixed in a narcissistic position, is the resistance of a negation and a fixation, since he refuses to transit between the search for a libidinal object that can support his primitive libido and, in turn , Stubborn in focusing on the ego. Narcissism is divided into two moments in human development: in the first moment it is common to every subject, because it is essential for the construction of the ego; Already the second moment allows the displacement of the ego around itself towards the other and to the external world: such displacement allows the condition of normality. According to Freud (1996), not all people can make this transition, that is, the energy that should be directed to other people or things - object libido - returns to the primitive ego, provoking a deformed libidinal cathexis toward the ego itself. Such a condition can be classified as a pathology, but its etiology is not organismic, but a psychological suffering in which the subject through the painful process seeks to rebuild the path of normality - hence the importance of the concept of narcissism for the understanding of psychosis . Thus, the development of the ego is precisely in realizing that there is someone beyond himself who can be loved, but does not fail to love himself. It is precisely this capacity that is obstructed or limited in psychosis.
Keywo: Narcissism. Psychoanalysis. Psychosis.
INTRODUÇÃO 
Este artigo tem como o tema central: o conceito de narcisismo na metapsicologia freudiana da psicose o mesmo pretende abordar a problemática analisando o narcisismo primário e secundário na formação e desenvolvimento do ego e como a escolha da libido objetal pode ser preponderante na formação de quadros psíquicos dolorosos que impossibilita a comunicação do sujeito com o outro e com o mundo externo, comumente denominado de loucura ou psicose.
O presente artigo traz considerações sobre a psicanalise e como a mesma percebe o indivíduo narcisista, é preciso considerar que o inconsciente apresenta leis que são regidas diferentemente do consciente. O narcisista é um ser que se forja na resistência de uma negação e de uma fixação, pois ele se nega a transitar entre a busca de um objeto libidinal que possa suportar a sua libido primitiva e, que por sua vez, teima em se concentrar no ego. 
Faz-se necessário refletir sobre o que vem a ser normal, o que é anormal, pois todo sujeito tem por base no desenvolvimento humano o narcisismo, ou seja, a construção do ego, sendo assim, o que de fato separa a normalidade do patológico? Segundo Freud (1996), o normal está em elencar recursos internos para dar conta das frustações, recursos que a maioria das pessoas são capazes de desenvolver, quando é capaz de superar as perdas, quando ocorre o reinvestimento da libido objetal, ou seja, é capaz de encontrar outro objeto para substituir ou sublimar o que foi perdido. Contudo, quando se prende a dor da perda, quando não supera a frustação, nesse momento há um retorno da libido objetal para o ego, e de tal forma há uma fixação. Ao prender-se ao ego a libido fica estagnada promovendo mudança de humor, conflitos, mas esse processo é por demais ruidoso e esse barulho é o que caracteriza a anormalidade. Nos neuróticos, a exemplo da histeria a energia é somatizada pelo corpo, enquanto no psicótico ela é projetada. Para Freud (1996), enquanto o normal busca ocultar a dor, o anormal busca denunciá-la, ainda que de forma inconsciente, na verdade o que caracteriza a diferença entre normal e anormal é o investimento que se faz da libido objetal. Entretanto, essa linha classificatória é por demais tênue.
Segundo Costa (2009) ao se falar em sujeito, subjetividade e singularidade, a psicanálise deixa de lado as distinções segregadoras de normalidade e anormalidade. É preciso perceber o sujeito como um ser desejante, mas que nem sempre consegue contemplar tais desejos, pois as normas do meio em que vive pesa sobre ele como uma camisa de força imposta pela tirania dos que buscam enquadrar os que não se submetem às regras postas. 
REFERENCIAL TEÓRICO 
	
NARCISISMO E UMA COMPRESSÃO DA PSICOSE
Apesar do desalento de Freud em relação ao tratamento psicanalítico com psicóticos, não podemos deixar de registrar que os continuadores da obra freudiana – tanto na vertente francesa quanto na inglesa – souberam aproveitar suas reflexões sobre a psicose e a partir daí tornaram possível uma clínica da psicose. (FREIRE, 2009, p. 24)
Freud dedica longos anos de sua vida ao estudo da histeria, entretanto,seu trabalho não se limita a tal neurose, a psicose surge como objeto de pesquisa, através de intercâmbio com seu amigo Fliess, ele comunica o seu interesse pela psicose, segundo Freire (1998), “Em sua carta de 24 de janeiro de 1895 vemos que já considerava a paranoia uma neurose de defesa, cujo mecanismo principal é a projeção. ”. É preciso considerar que antes de Freud já existiam estudos sobre a psicose. Mas é em 1910 com a publicação do artigo sobre o caso Schreber que Freud dá um grande avanço em torno da psicose.
Na realidade o que Freud (1996) faz é uma análise psicanalítica da obra escrita pelo próprio Daniel Paul Schreber, intitulada de “Memória de um doente dos nervos”, trata-se de uma autobiografia em que o paranoico fala da sua patologia. A partir da mesma Freud faz uma leitura crítica pautada na psicanalise e vai apontando a gene da patologia que se configura como um autêntico caso de psicose. Vale ressaltar que Freud não teve nenhum contato com Schreber ou alguns de seus familiares, sua análise se limita a obra anteriormente mencionada.
Conforme assinala Freud (1996), Schreber é acometido por três crises que o leva a internamentos em diferentes hospitais psiquiátricos, sendo primeiro deles na clínica de Dr. Flechsig, em 1884, em decorrência de uma grave crise de hipocondria. Após a recuperação do quadro clínico passam-se oito anos sem a constatação de outra crise ou quadro patológico mais grave que venha acometer o Sr. Schreber, embora, classifique esses oitos anos como o de grandes conquistas e felicidades, em seu relato fica claro a frustação por não ter tido filhos. Em 1892 Começa a sonhar que voltará a ficar doente, mas outro fato lhe chama atenção, enquanto estava quase desperto pensava como seria bom se tornar uma mulher e copular (emasculação), o que juntamente com outros fatores contribuem para a evolução de um novo quadro psicótico, o que Freud posteriormente atribuirá de delírio primário, quando a libido retorna ao próprio ego.
Sabemos que a ideia de se transformar em mulher (isto é, de ser emasculado) constituiu o delírio primário, que ele no início encarava esse ato como grave injúria e perseguição, e que o mesmo só se relacionou com o papel de Redentor de maneira secundária. (FREUD, 1911-1914, p. 11)
Para Freud (1996) o delírio de transforma em mulher é a consumação do sonho que Schreber negou a princípio, pois ele acreditava ser uma injuria e perseguição, um ultraje ceder a um desejo homossexual. Mas transforma-se em mulher é um dos principais elementos do delírio de Schreber; O fato de não ter tido filho contribui para o quadro paranoico, tendo em vista que desafia a sua masculinidade. Contudo, os delírios e perseguições diminuem a proporção que Schreber aceita a feminilidade e passa a ter uma relação intima com Deus.
Dando continuidade à análise de Freud ao caso Schreber a segunda enfermidade surge no ano de 1893, com um acesso de insônia, o que o fez, mais uma vez, ser internado na Clínica de Dr. Flechsig, mas como não logrou bons resultados foi transferido para o asilo Sonnenstien. O segundo internamento foi acompanhado pelo retorno da hipocondria, ideias de perseguição, ilusões sensoriais, bem como estupor alucinatório. Nesse período tentou inúmeras vezes o suicídio e chegou a solicitar que lhe ministrassem veneno como meio de sanar o seu sofrimento. O quadro clínico agrava-se consideravelmente, mas não afetou a sua intelectualidade, apenas acentuou as alucinações. Agora sob os cuidados de Dr. Weber que relata:
O Dr. Weber, em seu Relatório de 1899, faz as seguintes observações: ‘Assim, parece que, no momento, independentemente de certos sintomas psicomotores óbvios, que não podem deixar de impressionar como patológicos mesmo o observador superficial, Herr Senatspräsident Dr. Schreber não apresenta sinais de confusão ou de inibição psíquica, nem sua inteligência se acha notadamente prejudicada. Sua mente é calma, a memória excelente, tem à disposição estoque considerável de conhecimentos (não somente sobre questões jurídicas, mas em muitos outros campos) e é capaz de reproduzi-los numa sequência vinculada de pensamento. (FREUD, 1911-1913, p. 10)
Nesse mesmo período suas alucinações figuram de maneira mística e religiosa e crer-se em contato direto com Deus, o que caracteriza o segundo elemento do delírio. Nas crises delirantes acredita ser perseguido pelo seu próprio médico o Dr. Flechsig, a quem denomina como “assassino da alma”. Para Freud (1996) Schreber projeta no Dr. Flechsig a imagem de alguém que outrora foi amado e honrado, o delírio busca justificar uma mudança emocional, ou seja, o médico substitui uma pessoa que teve papel marcante na vida do paciente, mas ao mesmo tempo foi uma personalidade intimidadora que o colocou numa posição inferior pelos feitos realizados e, agora é objeto da projeção – aquele que o persegue, mas que é percebido na figura de seu médico. Outro aspecto que Freud traz é a possibilidade de haver uma libido homossexual do paciente em relação ao médico em decorrência de uma dependência afetuosa e que desencadeou um desejo erótico.
Freud (1996), afirma que o segundo quadro psicótico é agravado pelo desejo contido do paciente de viver uma relação homossexual com o seu médico Dr. Flechsig. Contudo, destaca o esforço do paciente em separar o mundo inconsciente do mundo da realidade, os desejos de Schreber são oriundos de uma patologia, o que implica em dizer que ele não é, necessariamente, um homossexual, mas um sujeito que luta consigo mesmo para conter tal desejo. A relação com o médico é permeada por conflitos que geram não só a projeção, bem como o recalque. Projeta os sentimentos de hostilidade como meio de modificar o caráter emocional com relação a outrem, já o recalque figura como meio de colocar para fora um sentimento que o incomoda. Freud (1996) fala de uma transferência que possibilita uma catexia emocional e pela violência com que aflora dados sentimentos, ele crê tratar-se de um fato de origem e significação primária que está relacionado as primeiras experiências vividas na infância, cuja a figura do médico retoma tais origens. “A pessoa por que agora ansiava tornou-se seu perseguidor, e a essência da fantasia de desejo tornou-se a essência da perseguição. ” (FREUD, 1911-1913, p. 30). 
Para Freud (1996) Schreber decompõe a figura de Flechsig num processo de repetição, pois ora surge como um Deus superior, outra hora figura como um Deus médio, o que é muito característico na psicose, isso decorre do fato que alguém muito próximo ao paciente e que ele amara intensamente é substituído pelo médico, Freud diz tratar-se do pai e do irmão de Schreber. É possível ver esse processo transferencial nos quadros clínicos psiquiátricos, não só com a figura do médico, mas também com os cuidadores, enfermeiros ou pessoas que tenham uma aproximação com o doente. Contudo, Freud ao analisar a relação mítica de Schreber com Deus e tomando como empréstimo dos escritos do paciente o deus sol, que no seu delírio corresponde ao seu pai, fica claro que a ameaça paterna de submeter o paciente a castração, fornece o material para a sua fantasia de emasculação, de início reprimida e posteriormente aceita.
 Na realidade Freud (1996) expõe os conflitos interiores do paciente que estão relacionados com a moral exterior e quando o sujeito não consegue um equilíbrio entre os seus desejos e as normas sociais impostas exteriormente, surgem mecanismos de defesa, e a paranoia figura como um recurso utilizado pelo indivíduo como uma maneira de lidar com suas demandas interiores. O delírio traz os seus significados, as fantasias buscam suprir uma frustação real, no caso em questão a fantasia feminina busca suprir a frustação da paternidade que não ocorreu. Cada psicótico tem suas frustações e desenvolvem mecanismos próprios de conviver com elas, o que fica evidente no processo de repetição. O delírio é uma linguagem que fornece elementos interpretativos para se chegar a origem do conflito, entretanto, a medicina toma-a como um sintoma que deveser combatido e tal entendimento aliena o conceito de saúde mental. Na realidade o que se denomina de saúde mental é a supremacia da doença, o controle que se busca sobre o doente, quando na realidade deveria ter como foco o sujeito na sua historicidade, não se pode falar de saúde quando o foco é a doença e a subjugação de quem está doente pelo controle medicamentoso, ignorando o discurso desse sujeito que revela as nuances de sua dor.
A fala do psicótico é reveladora, outro aspecto presente na psicose é a melagomania, no caso de Schreber, segundo Freud (1996), ele sentia muito orgulho da sua linhagem, tanto ele como Flechsig vinham de famílias de grande notoriedade e não deixar descendentes era frustrante, pois o seu pai fora um homem notável e que deixou grandes feitos e filhos para dar continuidade ao nome da família, o seu irmão estava morto e ele não conseguiu procriar e dar continuidade a uma nova geração. Então passa a ser perseguido por seus monstros interiores. É assim que assume uma figura feminina e ao tornar-se amante de Deus poderia não só gerar um filho, mas povoar o mundo com uma raça superior. O que predomina é o complexo paterno não resolvido e que posteriormente gera uma série de problemas de ordem emocionais que reverberam na vida do sujeito, são os desejos não assumidos que represados, ou seja, recalcados desencadeiam crises existenciais profundas, a exemplo da psicose.
O paranoico expõe o que o neurótico teima em ocultar, entretanto, a sua comunicação traz uma linguagem muito própria, ela não está pautada na simetria de uma retórica lógica, ela simplesmente flui como uma maneira de encontrar um caminho para o equilíbrio das próprias emoções e sentimentos. O delírio não se caracteriza como uma patologia, mas como um sinal de que o paciente tenta se organizar emocionalmente:
Com o delírio definido como uma tentativa espontânea de “cura”, o processo propriamente patogênico reduz-se justamente à retração primitiva da libido. [...] o sujeito adoece em virtude de um amor de objeto que se recusa a abandonar [...]. O ruidoso processo patológico que se verifica à superfície é, pois já um esforço para reconduzir a libido aos objetos por ela abandonados... (SIMANKE, 2009, P. 161).
A psicose traça um caminho diferente da neurose, mas infelizmente é tratada, na maioria das vezes, como um estado mórbido que deve ser acompanhado como uma patologia crónica persistente sob a ótica de um tratamento medicamentoso que estabiliza o paciente e cronifica a dor. A psicose é mapeada por Freud (1911-1913) no caso Schreber e apresentada sob uma perspectiva de um transtorno mental, desencadeado por conflitos emocionais, demonstrando assim, que a psicose não está localizada no organismo, mas, assim como na histeria, o corpo somatiza boa parte dessas emoções desorganizadas e em dados casos e/ou momentos se faz necessário o uso de fármacos, nos quadros delirantes e alucinatórios eles são válidos. Mas é preciso que o problema emocional não seja tomado como um distúrbio orgânico. Eis uma das grandes contribuições da psicanálise. 
A terceira crise acompanhou Schreber até a morte, ocorreu em 1907, quando foi internado em Dözen. Freud (1996) considera que a doença da esposa de Schreber contribuiu significativamente para o terceiro internamento. Foi internado com um quadro psiquiátrico tendo alucinações auditivas e delírios e com ideias de perseguição. Dessa vez não recebe alta e permanece internado até a sua morte.
No que concerne aos quadros patológicos estes são facilmente perceptíveis, mas no campo da normalidade é impossível detectar as emoções conflituosas, nem sempre se torna visível as suas dores interiores. Não é fácil perceber a realidade da sexualidade dos que se dizem normais, principalmente quando essas pessoas são funcionais. O mesmo não se aplica as pessoas tidas como anormais, os chamados pacientes de doenças mentais, pois o delírio denuncia o que a maioria dos sujeitos lutam para omitir. Através de um estudo minucioso a psicanalise chega a uma compreensão do papel do desejo homossexual no desenvolvimento da paranoia. Freud (1911-1913), enuncia o narcisismo como um fator preponderante para a compreensão da paranoia.
O que acontece é o seguinte: chega uma ocasião, no desenvolvimento do indivíduo, em que ele reúne seus instintos sexuais (que até aqui haviam estado empenhados em atividades auto-eróticas), a fim de conseguir um objeto amoroso; e começa por tomar a si próprio, seu próprio corpo, como objeto amoroso, sendo apenas subsequentemente que passa daí para a escolha de alguma outra pessoa que não ele mesmo, como objeto. (FREUD, 1911-1913, p. 37).
Existe uma equidistância entre o autoerotismo e o amor objetal e esse distanciamento é fundamental para o desenvolvimento humano, o ser escolhido como objeto da libido contribui para uma transição da libido homossexual para o heterossexualísmo. Freud (1911-1913), afirma que após a transição para o amor objetal as tendências homossexuais não desaparecem elas são sublimadas, ou seja, direcionadas para a amizade, para o amor a humanidade, na realidade trazemos esses dois desejos em nós, o que vai desencadear a paranoia é a maneira como o desejo homossexual é reprimido. 
As pessoas que não se libertaram completamente do estádio de narcisismo - que, equivale a dizer, têm nesse ponto uma fixação que pode operar como disposição para uma enfermidade posterior - acham-se expostas ao perigo de que alguma vaga de libido excepcionalmente intensa, não encontrando outro escoadouro, possa conduzir a uma sexualização de seus instintos sociais e desfazer assim as sublimações que haviam alcançado no curso de seu desenvolvimento. (FREUD, 1911-1913, P. 38).
Os paranoicos são suscetíveis a proteger-se das relações amorosas, Freud (1996) apresenta três tipos de proposições que são determinantes para a paranoia, sendo elas: o delírio de perseguição, o delírio de erotomania, o delírio do ciúme e acresce também a melagomania:
Ora, poder-se-ia supor que uma proposição composta de três termos, tal como ‘eu o amo‘, só pudesse ser contestada por três maneiras diferentes. Os delírios de ciúme contradizem o sujeito, os delírios de perseguição contradizem o predicado, e a erotomania contradiz o objeto. Na realidade, porém, é possível um quarto tipo de contradição - a saber, aquele que rejeita a proposição como um todo: ‘Não amo de modo algum - não amo ninguém‘. E visto que, afinal de contas, a libido tem de ir para algum lugar, essa proposição parece ser o equivalente psicológico da proposição: ‘Eu só amo a mim mesmo’. Desta maneira, esse tipo de contradição dar-nos-ia a megalomania que podemos encarar como uma supervalorização sexual do ego e ser assim colocada ao lado da supervalorização do objeto amoroso, com a qual já nos achamos familiarizados. (FREUD, 1911- 1913, P. 40).
A psicose é fortemente marcada pela projeção que, por sua vez, é uma das características principais da paranoia, a projeção é o que foi abolido internamente, percepção deformada que passa a ser orientada por uma percepção externa, Simanke (2009), afirma que a projeção está também na origem das alucinações e que o que foi inibido internamente faz o seu percurso de retorno tomando por base o exterior sob a forma de alucinação e que posteriormente seria interpretada pelo delírio. Os delírios de perseguição, na realidade, é uma deformação que transforma o afeto; algo que deveria ser sentido como amor, mas que é percebido externamente como ódio. Contudo, Freud chama atenção para um ponto muito importante:
Em primeiro lugar, a projeção não desempenha o mesmo papel em todas as formas de paranóia; e, em segundo, ela faz seu aparecimento não apenas na paranóia mas também sob outras condições psicológicas... (FREUD, 1911-1913, p. 41).
A psicose está relacionada as repressões e a repressão está intimamente ligada ao como a libido se desenvolve e aos processos que a mesma dá origem. Na psicanalise os fenômenos patológicos estão vinculados a repressão, o processo da repressão está divididoem três partes, conforme assinala Freud (19996) são eles: a fixação, é quando determinado instinto ou componente deixa de acompanhar os demais, e, como consequência o seu desenvolvimento, é negligenciado a um estado mais infantil. A corrente libidinal, no entanto, passa a se comportar como se pertencesse ao sistema do inconsciente, quando reprimida é a base para determinar o resultado da terceira fase da repressão.
E Freud diz que a segunda fase é a repressão propriamente dita, ou seja, são sistemas altamente desenvolvidos do ego, e, são capazes de serem conscientes, contudo, podem se tornarem aversivos ao próprio processo inconsciente da repressão, pois o consciente e o inconsciente tomam a mesma direção e tal caminho torna possível a regressão.
Já a terceira fase, Freud (1996) diz ser a mais importante e diz respeito aos fenômenos patológicos, é quando repressão fracassa e provoca o retorno ao que é reprimido. Na realidade, é caracterizada por uma regressão do desenvolvimento da libido, um retrocesso primário. Schreber, já ao final de sua estadia na clínica de Flechsig, no seu delírio supunha ser ‘o único homem real deixado vivo’ e as poucas formas humanas que ainda via - o médico, os assistentes, os outros pacientes explicava-as como ‘miraculadas, homens apressadamente improvisados. ’ (FREUD, 1911-1913, P. 43).
Para Freud (1996), essa visão catastrófica de final de mundo ocorre porque a visão que Schreber tinha das outras pessoas como a do ambiente foi retirada e a catexia libidinal que até então havia dirigido para elas não existe mais. Logo, tudo se torna indiferente e irrelevante e só pode ser explicado pelo que Freud (1996), caracteriza como: “[...] uma racionalização secundária, como ‘miraculado, apressadamente improvisado’. O fim do mundo é a projeção dessa catástrofe interna; seu mundo subjetivo chegou ao fim, desde o retraimento de seu amor por ele. ”
A repressão consiste na ruptura da libido com relação as pessoas e coisas e é um processo silencioso, no entanto, o processo de restruturação, ou seja, o reinvestimento da libido nas pessoas e nas coisas torna-se, por demais, ruidosa. A libido é constantemente desligada das coisas e das pessoas, sem necessariamente, provocar o adoecimento. A questão levantada por Freud (1996) foi: Que emprego se faz da libido após ela ter sido liberada pelo processo de desligamento? Numa pessoa normal ela é redirecionada para outros substitutos, mas enquanto não encontra um substituto a libido fica estagnada na mente originando tensões e mudanças de humor. Nos histéricos a libido é somatizada pelo organismo, já no caso dos paranoicos a libido vincula-se ao ego e gera a melagomania, ou seja, engrandecimento do ego, retornando assim, ao estado narcisista. 
É preciso enxergar o sujeito atrás da dor e não o contrário, a dor atrás do sujeito; é preciso subjetivar o discurso delirante e percorrer os caminhos e saber em que momento a catexia foi interrompida, em que momento da vida desse sujeito o conteúdo manifesto foi represado; é preciso entender que os sintomas são sinais que pedem para ser interpretados e não destruídos, ignorados ou entorpecidos pelo discurso de quem detém o saber. Freire (2009), afirma que: “no caso da psicose, há uma regressão a um modo de funcionamento inconsciente, cuja consequência é tomar as palavras como se fossem coisas. ”. A psicose não deve ser entendida como uma doença que afeta e degenera o cérebro, ela é reflexo de catexias mal resolvidas que reclama uma compreensão semiológica e que às vezes cabe, também, uma parceria farmacológica. 
Existe uma ruptura entre o mundo real e o mundo ideal ou o mundo da fantasia e há uma razão de ser que, quando compreendida, faz toda a diferença no entendimento do discurso delirante, para Freire (2009), “... o desligamento do eu em relação ao mundo externo e a posterior criação de um novo mundo, fantástico e delirante, é a maneira encontrada para costurar aquilo que foi rasgado na origem. “ Entender a dinâmica do processo de ruptura e reconstrução na psicose é ter acesso a informações chaves que propiciarão um melhor entendimento desse discurso e, assim, permitir que esse ser tão estigmatizado, comumente, chamado “louco” tenha o que a muito lhe é negado “voz” que seu discurso não seja negligenciado por falta de uma compreensão mais ampla do próprio processo da loucura, e que a visão naturalista e reducionista que coloca o louco como um doente crônico sem solução possa ser revogada. E, ainda que não haja a chamada “cura” que ao menos possibilite uma qualidade de vida e um equilíbrio entre o real e o ideal, afinal, todos, sem exceção, convivem com esse desinvestimento constante da libido objetal, porém, muitos são capazes de redirecionar essa mesma libido para um substituto, o psicótico também busca essa reorganização, mas por vias diferentes. 
NOVOS CAMINHOS E UM NOVO SABER: O CONCEITO DE NARCISISMO
Segundo Simanke (2009) faz-se necessário distinguir o autoerotismo de narcisismo, uma vez que o primeiro é “um estado inicial do desenvolvimento da libido”. Quanto ao narcisismo ele argumenta que o mesmo está ligado aos problemas das parafrenias. As parafrenias são designadas por Freud (1914) em “Introdução ao Narcisismo” como a paranoia e a esquizofrenia, posteriormente ele acresce a esse grupo a melancolia: “Parece-me que certas dificuldades especiais perturbam o estudo direto do narcisismo. Nosso principal meio de acesso a ele continuará a ser provavelmente a análise das parafrenias. ” (FREUD, 1914, p. 08). 
E, segundo Freud (1914), para uma melhor compreensão do narcisismo ele busca fazê-lo através do entendimento das afecções orgânicas, da hipocondria, da vida amorosa e do sonho. No caso das doenças orgânicas Freud faz um paralelo entre o sujeito narcísico e alguns comportamentos de pacientes acometidos por outras patologias de ordem orgânica, pois é possível em ambos casos que esses sujeitos demonstrem desinteresse geral pelo mundo externo (coisas, pessoas e objetos) e tal desinteresse se dá em decorrência da dor que experimentam: “[...] o homem enfermo retira suas catexias libidinais de volta para seu próprio ego, e as põe para fora novamente quando se recupera. ” (FREUD, 1914, p. 08). E ele afirma que o desinteresse e a retirada da libido se aplica com relação as relações amorosas e ao sono. Entretanto, as pessoas tende a perceber tal comportamento dentro da normalidade, tendo em vista que fariam o mesmo. O sujeito que sofre de amor passa a se concentrar na própria dor e a sua libido sofre um retrocesso e voltar para o ego. No caso do sono o indivíduo demonstra um total desinteresse pelo mundo exterior, mas volta a projetar no mesmo quando tiver tal necessidade atendida, o mesmo ocorre com relação a pessoa quando voltar a se apaixonar.
Outro exemplo apresentado é o da hipocondria e ele afirma que:
[...] O hipocondríaco retira tanto o interesse quanto a libido – a segunda de forma especialmente acentuada – dos objetos do mundo externo, concentrando ambos no órgão que lhe prende a atenção... (FREUD, 1914, p. 08).
O adoecer psíquico está relacionado com o represamento da libido no ego e adoecer é um ato de desprazer:
[...] o desprazer é sempre a expressão de um grau mais elevado de tensão, e que, portanto, o que ocorre é que uma quantidade no campo dos acontecimentos materiais é transformada, aqui como em outros lugares, na qualidade psíquica do desprazer. (FREUD, 1914, p. 10).
As escolhas objetais são de suma importância, pois figuram como determinantes para o comportamento do indivíduo. No que concerne ao narcisismo é próprio afirmar que a escolha objetal está diretamente relacionada ao objeto que satisfazia as necessidades na infância. “[...].Trata-se, em todo caso, de pessoas, que no fundo buscam a si mesmas como objeto de amor...” (SIMANKE, 2009, p. 134). E nesse ponto o referido autor afirma que a esquizofrenia e a paranoia têm como ponto de fixação o narcisismo primário. Para ele Freud recorre à psicologia da repressão para explicar o destino da libido egoica quenão foi investida no objeto.
 Simanke (2009) afirma que a teoria do narcisismo e da repressão convergem para fazer surgir um novo conceito, a de que a repressão parte do ego, exercendo sobre os fatores que o contrariam o que ele denomina por “apreço do ego por si mesmo”. E conclui que “o narcisismo, abandonado em relação ao ego ao longo do desenvolvimento, aparece deslocado para esse ego ideal...” e esse ego detém todas as perfeições que a criança deixou para trás. Para Freud (1914), o que o homem projeta perante si mesmo é um substituto do narcisismo primário.
Mas como se configura a psicose na teoria freudiana? Para uma melhor compreensão é preciso entender o que Freud denomina de neurose e como esta evolui para a teoria da psicose. Para Simanke (2009), Freud emprega os termos neurose narcísica para diferenciá-las das neuroses de transferência, pois no primeiro caso há uma retirada da libido dos objetos, o que impossibilita a conexão do sujeito com a realidade exterior; enquanto no segundo caso, a capacidade de estabelecer vínculos com objetos libidinais é conservada e de tal sorte existe a possibilidade durante o tratamento o estabelecimento da transferência, tão necessária para a terapêutica psicanalítica.
Reconhecemos nosso aparelho mental como sendo, acima de tudo, um dispositivo destinado a dominar as excitações que de outra forma seriam sentidas como aflitivas ou teriam efeitos patogênicos. Sua elaboração na mente auxilia de forma marcante um escoamento das excitações que são incapazes de descarga direta para fora, ou para as quais tal descarga é, no momento, indesejável. (FREUD, 1924, p. 10).
No estudo das neuroses Freud (1914) defende a tese que apenas as neuroses de transferências podem ser tratadas obtendo uma cura. Já com as neuroses narcísicas não se pode obter o mesmo êxito, pois a incapacidade do investimento em objetos, coisas e/ou pessoas faz com que a transferência seja comprometida, impossibilitando a cura do paciente.
Como vimos anteriormente as três principais neuroses narcísicas são a paranoia, a esquizofrenia e a melancolia que foram intituladas por Freud de parafrenias. Simanke (2009), diz que nos textos que Freud aborda os aspectos das três neuroses narcísicas existem estruturas comuns e que as mesmas contribuem para uma definição do que Freud concebe como psicose. Na psicose os objetos reais são substituídos por imaginários, conservando nesses objetos o que há de agradável e alimentando assim a sua fantasia e sustentando o ideal narcísico onipotente. Entretanto, há uma diferença entre o ideal do ego e o ego ideal. 
Podemos dizer que o indivíduo tem erigido no seu interior um ideal pelo qual mede o ego atual, enquanto que no outra falta essa formação ideal. A formação do ideal seria, de parte do ego, a condição para a repressão. (FREUD, 1914, p. 16).
A formação ideal do ego se dá com a participação dos pais e demais tipos de autoridades, bem como pela junção dos aspectos culturais e pela idealização do próprio ego, os conflitos são decorrentes de tais processos, bem como pela repressão. Sendo assim, o homem faz as suas escolhas, e estas aumentam as exigências do ego, contudo, o narcisista tende a não erigir o ideal do ego e se prende a uma fantasia por não suportar a realidade e o desejo de prender-se as experiências da vida infantil:
[...[ o homem se mostra incapaz de abrir mão de uma satisfação de que outrora desfrutou. Ele não está disposto a renunciar à perfeição narcisista de sua infância; e quando, ao crescer, se vê perturbado pelas admoestações de terceiros e pelo despertar de seu próprio julgamento crítico, de modo a não mais poder reter aquela perfeição, procura recuperá-la sob a nova forma de um ego ideal. O que ele projeta diante de si como sendo seu ideal é o substituto do narcisismo perdido de sua infância na qual ele era o seu próprio ideal.
Tal realidade é comum nos quadros da psicose, a de uma ruptura com a realidade, mas existe um mecanismo de defesa que pode ser utilizado e que não está sob a junção das exigências do ego e da repressão que é a sublimação, tendo em vista que a mesma promove uma satisfação diferente da sexual. A sublimação está ligada a libido objetal. Nesse processo o objeto idealizado não é alterado, ele é, simplesmente, engrandecido. Freud infere que a idealização é possível tanto na libido do ego como na libido objetal. A ideação aumenta as exigências do ego, favorecendo a repressão, enquanto a sublimação pode atender as exigências sem envolver a repressão. Entretanto, não se deve confundir a repressão com a sublimação, pois uma independe da outra no processo de ideação.
Contudo, vale salientar que o ideal do ego narcisista é investido por uma considerável quantidade de libido homossexual, ou seja, o objeto do desejo está no próprio indivíduo, no que se assemelha a si próprio. Outro fator a se considerar é que as críticas exteriores contribuem para a formação de uma consciência regressiva e que esta se encontra no próprio plano da doença:
[...] Mas a revolta contra esse ‘agente de censura’ brota não só do desejo, por parte do indivíduo (de acordo com o caráter fundamental de sua doença), de libertar-se de todas essas influências, a começar pela dos pais, mas também do fato de retirar sua libido homossexual delas. A consciência do paciente então se confronta com ele de maneira regressiva, como sendo uma influência hostil vinda de fora. (FREUD, 1914, p. 17).
Nos paranoicos é comum os elementos da autocrítica da consciência e da auto-observação coincidirem e formarem sistemas especulativos. O sonho também se constitui em um agregador desses dois elementos. Freud (1914) apresenta uma diferenciação da autoestima do sujeito normal e do sujeito neurótico, a princípio a autoestima se apoia na libido narcisista. No parafrênico ela tende a ser alta, enquanto que na neurose de transferência ela é rebaixada, assim como o fato de ser amado aumenta a autoestima e o de não ser amado a reduz. A escolha objetal narcisista implica em ser amado. 
O estar apaixonado implica em traçar um percurso entre a libido do ego o alcance do objeto e nesse percurso o objeto sexual torna-se o ideal sexual. Na realidade é a escolha objetal que determinará o que ou a quem amar. No caso do narcisista a libido é retirada do objeto e reinvestida no próprio ego, ou seja, a incapacidade de amar a outrem faz com que a libido homossexual retorne ao ego e o sujeito torna-se o seu próprio objeto de desejo. 	Comment by CREUZA MERCES: O termo aqui é incapacidade ou dificuldade? Estou exausta e ao reler fiquei em dúvida.
A falta de satisfação que brota da não realização desse ideal libera a libido homossexual, sendo esta transformada em sentimento de culpa (ansiedade social). [...] A frequente causação da paranoia por um dano ao ego, por uma frustração da satisfação dentro da esfera do ideal do ego, é tornada assim mais inteligível, bem como a convergência da formação do ideal e da sublimação no ideal do ego, e ainda a involução das sublimações e a possível transformação de ideais em perturbações parafrênicas. (FREUD, 1914, p. 20-21).
As condutas narcísicas fazem-se presentes em várias patologias mentais e mantem correlação com outras patologias de ordem orgânica, a exemplo da demência; a de ordem psíquica como na hipocondria; bem como a vivencia do cotidiano, tomando por base a realidade o sono que retira do sujeito o interesse pelas coisas do mundo exterior; no sonho quando o desejo está disfarçado em decorrência da censura e, por fim, as relações amorosas, cuja pulsões sexuais substituem o ideal do ego transformando no ego ideal. Uma das maneiras de se evidenciar o processo primário está no sonho:
É nos sonhos e nos sintomas que os processos primários se apresentam de forma privilegiada para Freud, enquanto o pensamento da vigília, a atenção, o raciocínio e a linguagem são exemplos de processos secundários. (GARCIA-ROZA, 2009, P. 58).
A realidade da neurose em muitos quesitos funde-se com a realidade da psicose, embora tenham as suas especificidades.Na metapsicologia freudiana o narcisismo pode ser entendido como uma psicose, mas não se restringe tão somente ao campo da patologia, tendo em vista que a mesma faz parte da vida do sujeito normal, já que contribui para a construção do eu (ego), logo é um processo natural do comportamento humano. Não há necessidade da patologização do narcisismo, embora, se reconheça que o mesmo pode incorrer em uma patologia a depender do seu grau de reinvestimento no próprio ego.
METODOLOGIA
Para o desenvolvimento dessa pesquisa bibliográfica, foi realizada leitura reflexiva em torno o conceito de narcisismo na metapsicologia freudiana da psicose, buscando nos diferentes teóricos o subsídio que fundamentou o presente trabalho. 
A abordagem da pesquisa foi qualitativa, pois busca descrever a literatura de maneira que respeitando o sujeito no processo de construção social, tendo em vista que essa abordagem é largamente utilizada na área das ciências sociais conforme assevera Gil (2002). Já o método utilizado foi o dialético, pois o mesmo:
{...) fornece as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade, já que estabelece que os fatos sociais não podem ser entendidos quando considerados isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, econômicas, culturais etc. {...}. (GIL,2008, p. 33). 
A fase inicial do trabalho constituiu-se de um levantamento da literatura a respeito do tema abordado e utilizado para análise de conteúdo. Para tanto foi realizado um estudo sistemático desenvolvido a partir de análise de publicações de livros, artigos científicos, com o objetivo de conhecer a historicidade do tema explorado.
A segunda etapa da pesquisa foi constituída de uma escrita sistematizada dos conceitos elencados através das leituras crítica-reflexivas. Sendo assim, considera-se que os processos metodológicos utilizados no trabalho foram suficientes para a compreensão da temática em questão, ou seja, o conceito de narcisismo na metapsicologia freudiana da psicose.
4 CONCLUSÃO 
O narcisismo na metapsicologia freudiana da psicose figura como um processo natural ao desenvolvimento humano, pois no primeiro momento o mesmo auxilia na construção do eu (ego) e, posteriormente auxilia no seu desenvolvimento. Nos primeiros anos de vida a criança é possuidora apenas de um autoerotismo que por sua vez não constitui o eu da criança, pois a construção do ego se dá pelo investimento de uma ação exterior na criança, na realidade, as figuras paternas investem no filho o narcisismo primário há muito esquecido. A ação psíquica dos pais coaduna-se com o autoerotismo construindo assim uma autoimagem da criança, ou seja, o eu (ego). A esse processo Freud (1914) chama de narcisismo primário. 
Posterior a construção do ego prevalece o seu desenvolvimento, no segundo momento há um deslocamento da libido do ego para a libido objetal. Esse processo se dá gradualmente tendo como elemento norteador dessa trajetória o complexo de castração. O desinvestimento da libido no ego ocorre porque o menino percebe que não pode competir com o pai pela posse da mãe - Complexo de Édipo - a ausência do falo o coloca numa posição inferior e a ameaça de ser castrado, o faz redirecionar a sua libido para um objeto que está além do prazer sexual. 
Na menina o complexo de castração se faz presente pela frustação de não ter um pênis e posteriormente por perceber que sua mãe também não o possui, ela passa da rejeição a mãe, a identificação posterior com a mesma para ganhar o amor paterno. Nesse processo há a construção da identidade sexual, bem como a construção do limite do espaço corporal. Esse desinvestimento da libido no ego (libido egoica) para investir na libido do objeto (libido objetal) garante o desenvolvimento do ego e a normalidade do comportamento do sujeito.
Entretanto, nem todos os processos de desinvestimento da libido egoica ocorre dessa maneira no caso do narcisismo a libido egoica é desvinculada e investida no objeto, contudo, o sujeito não suporta abrir mão do que ele tem como realidade perfeita vivida na infância e dessa maneira ele retira a libido do objeto e a reinveste no ego, a esse processo é denominado de narcisismo secundário.
No sujeito psicótico a realidade não suportada sofre uma ruptura e o que poderia ser vivido como o ideal do ego, passa a ser vivenciada como o ego ideal, pois há uma catexia libidinal em torno do ego e a fantasia passa a ser o substituto do real. O movimento de reinvestir uma energia exterior libido objetal no ego garante ao sujeito uma maneira de lidar com a frustação de não desejar abrir mão de seu objeto de prazer vivido na infância, sendo assim, a psicose prende-se ao narcisismo primário que se torna a sua fonte de prazer, a zona de conforto da qual o psicótico não quer ausentar-se.
Freud (1914), defende a tese que é através da sublimação ou da repressão que o indivíduo constrói o seu processo de ideação e que a idealização pode pertencer tanto a libido do ego como a libido do objeto. Ele afirma que na sublimação o objeto idealizado não é modificado, mas engrandecido, enquanto na repressão os valores construídos culturalmente, os limites impostos pelos pais e os questionamentos do próprio ego geram conflitos que fazem com que o superego surja como elemento norteador e repressor ditando regras e valores éticos e morais. Na realidade é a partir da repressão que surge o ideal do ego. Entretanto, no psicótico esse ideal do ego não é formado. O que vai estar presente é a energia homossexual que tomara o ego como o seu objeto de desejo, ou seja, o seu objeto sexual, pois na psicose a libido sexual torna-se a libido objetal.
Sendo assim, é possível inferir que o conceito de narcisismo na metapsicologia freudiana da psicose tem grande relevância para a compreensão do processo narcisista, bem como para desmistificar o narcisismo enquanto ou apenas como transtorno mental, tendo em vista que o mesmo está presente na construção e no desenvolvimento do eu (ego) e, mesmo com o investimento da libido do ego na libido objetal, é possível, encontrar um quantum do narcisismo primário na personalidade do sujeito, a exemplo da autoestima, bem como da capacidade de amar, pois esvaziamento da libido do ego para o investimento da libido objetal caracteriza-se como uma maneira de busca no outro o prazer oriundo do narcisismo primário. O desenvolvimento do ego se dá justamente em perceber que existe alguém além dele mesmo que pode ser amado, mas nem por isso deixa de amar a si mesmo. 
A reconexão com o mundo externo se dá, conforme afirma Freud (1996) de maneira ruidosa, é o psicótico buscando reinvesti a libido objetal no mundo exterior, enfim, ele grita para o mundo a sua dor e esse grito é a tentativa de encontra o caminho de volta é o desligar-se do eu narcísico, para constitui o eu com o outro, com o mundo.
REFERÊNCIAS 
COSTA, Adriana Cajado. Psicanálise & Saúde Mental: a análise do sujeito psicótico na instituição psiquiátrica. São Luiz – MA: EDUFMA. 2009. 
DRUBSCKY, Camila Andrade. Até que ponto o narcisismo pode ser datado? Uma reflexão à luz das contribuições de Piera Aulagnier. 2008. 146f. Tese (Doutorado em Psicologia) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. 
FREIRE, Joyce M. Gonçalves. “Uma reflexão sobre a psicose na teoria freudiana”, in Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, vol. I, no. 1, março de 1998, pp. 86-110.
FREUD, S. (1914). Sobre o narcisismo: uma introdução. Em: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Vol. XIV. Rio de Janeiro: Imago. 1996.
GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o inconsciente. 24ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2009. 
GIL, Antonio Carlos, Como Elaborar Projeto de Pesquisa. 4ª. ed. - São Paulo: Atlas, 2002.
______, Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª. ed. - São Paulo: Atlas, 2008. 
MAURANO, Denise. Para que serve a Psicanálise? 3ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zarah. 2010.
SAMPAIO, Eloy San Carlo Máximo. MIGLIAVACCA Eva Maria.Narcisismo e psicose em Freud. Disponível em: http://www.psicopatologiafundamental.org/upload, s/files/vcongresso/mr_105_-_eloy_sampaio_e_eva_migliavacca.pdf. Acessado em 02 de setembro de 2016.
SIMANKE, Richard Theisen. A formação da teoria freudiana das psicoses. São Paulo: Loyola. 2009.

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