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AULA 1 2017

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 CENTRO UNIVERSIÁRIO ESTÁCIO DE BRASÍLIA Campus Estácio Brasília
DIREITO CIVIL I - CCJ0006
Semana Aula: 1
O Código Civil Brasileiro
Tema
CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO
Palavras-chave
Direito Privado - Código Civil - Constituição da República - Repersonalização
Objetivos
- Discorrer sobre a importância da disciplina Direito Civil I para os objetivos do curso e empregabilidade do aluno.
- Apresentar as competências e habilidades desenvolvidas, em articulação com outras disciplinas do curso.
- Discorrer sobre a metodologia de ensino centrada na resolução de casos concretos.
- Apresentar a bibliografia básica e complementar.
- Apresentar o Plano de Ensino e o Mapa Conceitual da Disciplina.
- Orientar a utilização do material didático.
- Contextualizar o Direito Civil como principal ramo do Direito Privado.
- Fornecer ao aluno o campo estrutural do Código Civil Brasileiro e sua base principiológica.
- Discorrer sobre a relação do Direito Civil com a Constituição Federal de 1988.
Estrutura de Conteúdo
Unidade I - O Código Civil Brasileiro.
O Direito Civil como ramo do Direito Privado.
O fenômeno da codificação.
A codificação civil brasileira.
O Código Civil de 2002: estrutura, princípios norteadores e campo de incidência. 
Direito Civil e a Constituição da República de 1988.
Procedimentos de Ensino
 Apresentação aos discentes o Plano de Ensino, o mapa conceitual, a metodologia e a bibliografia. 
 
1.1. O Direito Civil como ramo do Direito Privado
Breve revisão do conteúdo administrado no semestre anterior na disciplina Introdução ao Estudo do Direito, especialmente com relação ao conceito de direito, relação entre Direito e Moral, fontes do Direito e classificação dos vários ramos do Direito.
O Direito Civil deve ser identificado como principal ramo do Direito Privado, bem como instrumento de realização dos direitos fundamentais no âmbito das relações privadas, regulando as relações entre os particulares com fundamento em na igualdade jurídica e na autodeterminação. O direito civil extrai seu nome do latim cives (cidadãos) e se dirige ao núcleo da vida em sociedade, ou seja, às relações sociais travadas de pessoa a pessoa, desde o nascimento até a morte, ou até mesmo antes daquele e depois desta.
Para ilustrar a diferença entre moral e direito em termos práticos, sugere-se o seguinte precedente do STJ:
 
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. CARÁTER INFRINGENTE INCOMPATÍVEL COM A VIA INTEGRATIVA. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL. FAMÍLIA. DANOS MATERIAIS E MORAIS. ALIMENTOS. IRREPETIBILIDADE. DESCUMPRIMENTO DO DEVER DE FIDELIDADE. IMPUTAÇÃO AO CÚMPLICE DA TRAIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.  INDENIZAÇÃO. JUROS MORATÓRIOS. PERCENTUAL.
1. Não se reconhece a negativa de prestação jurisdicional alegada quando o acórdão embargado encontra-se suficientemente fundamentado, abordando, com a profundidade adequada, toda a matéria devolvida a esta Corte Superior em sede de recurso especial.
2. O intuito infringente contido nas razões dos declaratórios é incompatível com a via recursal integrativa.
3. O dever de fidelidade recíproca dos cônjuges é atributo básico do casamento e não se estende ao cúmplice de traição a quem não pode ser imputado o fracasso da sociedade conjugal por falta de previsão legal.
4. O Superior Tribunal de Justiça firmou posicionamento no sentido de que os juros serão calculados à base de 0,5% ao mês, nos termos do artigo 1.062 do Código Civil de 1916 até a entrada em vigor do Novo Código Civil (Lei nº 10.406/2002). A partir da vigência do Novo Código Civil (Lei nº 10.406/2002), os juros moratórios deverão observar a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional (artigo 406). Atualmente, a taxa dos juros moratórios a que se refere o referido dispositivo é a taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC.
5. Embargos de declaração acolhidos apenas para esclarecer o percentual dos juros moratórios em virtude da condenação decorrente do provimento do recurso especial.
(EDcl no REsp 922.462/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/04/2014, DJe 14/04/2014)
 
1.2. O fenômeno da codificação.
Código é uma lei que busca disciplinar relações jurídicas da mesma natureza (civis, penais, trabalhistas etc.), organizando e sistematizando o direito material. Não se pode confundir código com consolidação, compilação e estatuto.
Sob o ponto de vista histórico, todo Código deve ser visto como ponto de chegada, pois, embora tente projetar comportamentos futuros reflete acontecimentos passados e a sociedade atual – por isso que a codificação deve evitar ao máximo a descrição de situações circunstanciadas e casuísticas, eis que o risco de se tornar obsoleta é muito maior.
A codificação apresenta vantagens e desvantagens:
Vantagens
- unificação do Direito vigente em uma determinada sociedade a partir de critérios uniformes;
- estudo sistematizado do Direito;
 Desvantagens
- fossilização do Direito, impedindo o desenvolvimento e o curso natural da evolução jurídica. Isso ocorreu principalmente nos Códigos oitocentistas, cujo modelo foi o Código Napoleão, em que os valores predominantes eram a propriedade e a autonomia da vontade.
- a legislação codificada atende às exigências da vida social apenas no instante em que é estabelecida;
- o apego à letra pura da Lei torna-se mais evidente, como se inexistisse Direito fora do Código.
 
"A principal desvantagem da codificação, e talvez a única, segundo a maioria dos autores, seria a rigidez, o que implica na dificuldade de sua alteração (...)
Entretanto, em termos científicos, não nos convence o argumento porquanto calcado em razões de ordem estritamente psicológicas. A apontada 'rigidez' é fruto tão somente da mentalidade do jurista que, acostumado a trabalhar com determinados e conhecidos textos, torna-se inconscientemente conservador e avesso a mudanças.
“Demais disso, a alteração de um código, para fins de adaptação da ordem jurídica, não se dá, exclusivamente, pela alteração formal dos dispositivos normativos”
(DELGADO, Mario Luiz. Codificação e descodificação do direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011. pp. 70-71).
 
1.3. A codificação civil brasileira.
Antes do Código de 1916, o direito civil brasileiro era regulamentado pelas Ordenações Filipinas de 1603, com algumas adaptações. Até mesmo após a independência o Brasil não acabou com a aplicação deste diploma português, pois a Constituição de 1824 recepcionou as Ordenações.
A Constituição do Império (1824) trazia disposição expressa pela elaboração de um Código Civil. A primeira manifestação nesse sentido foi a Consolidação das Leis Civis (1855) elaborada por Teixeira de Freitas, que foi o mesmo que redigiu o primeiro esboço do Código Civil. Este esboço, porém, não foi aceito.
Depois de várias outras tentativas de codificação, o projeto de Clóvis Beviláqua, de forte influência pandectista, foi aceito em 1899, aprovado em 1915, promulgado em 1916, com vigência a partir de 1917.
 
Códigos Históricos que influenciaram a codificação brasileira
Código de Napoleão (1804): tentativa de aproximação com o Direito Romano; individualista e burguês. Inspirou os chamados códigos oitocentistas e refletia o pensamento jurídico e político do Estado Liberal. O Código Civil brasileiro de 1916 refletia valores do iluminismo e do Estado Liberal e tinha por pilares fundamentais a família, a propriedade e o contrato.
BGB (1900): até então, o direito privado alemão era demais fracionado. O direito civil foi, então, sistematizado e organizado em um código aberto, pois Savigny entendia que para que o Código conseguisse ultrapassar barreiras espaciais e temporais, deveria conter princípios jusnaturalistas. Apartou-se do casuísmo e priorizou princípios abstratos e generalizados, como uma das formas de dar segurança ao direitoe garantir que a legislação não se tornasse logo obsoleta. Foi o primeiro Código a dividir-se em uma parte geral e mais quatro livros especiais, ao lado de uma lei de introdução ao Código Civil. O BGB influenciou a estrutura formal do Código Civil brasileiro de 1916 (parte geral e livros especiais).
 
As cláusulas gerais e os conceitos jurídicos indeterminados
 
1.4. O Código Civil de 2002: estrutura, princípios norteadores e campo de incidência.
O Código Civil de 2002, seguindo a linha do Código de 1916, também é dividido em uma parte geral e livros especiais. Além da inserção de um livro sobre o direito de empresa (unificação do direito privado), a ordem de disposição dos livros que compõem a parte especial do atual Código reflete a tentativa do legislador de sistematizar o Direito Civil, conferindo lógica e coesão ao texto codificado.
 
Estrutura do Código Civil de 1916: Parte Geral e Parte Especial (Família, Direito das Coisas, Obrigações e Sucessões).
Estrutura do Código Civil de 2002: Parte Geral e Parte Especial (Obrigações, Empresa, Direito das Coisas, Família e Sucessões).
 
Três princípios fundamentais do Código Civil de 2002:
a) ETICIDADE: superar o apego do antigo Código ao rigor formal. O atual Diploma alia os valores técnicos aos valores éticos. Por isso percebe-se, muitas vezes a opção por normas genéricas ou cláusulas gerais, sem a preocupação de excessivo rigorismo conceitual.
O mundo contemporâneo testemunha a preocupação constante dos doutrinadores jurídicos, políticos e sociais com a necessidade das relações do homem com os seus e do Estado com os seus administrados serem fortalecidas com a prática de condutas éticas. Afirma que a ética é delimitadora do comportamento humano, abrangendo a realidade que o cerca e influenciando a estrutura dos fatos e atos produzidos pelo cidadão. Declara que o Código Civil apresenta-se em forma de sistema vinculado a dois pólos: um formado em eixo central; o outro concentrado em um sistema aberto. O professor pode concluir definindo que a eticidade o Código Civil visa imprimir eficácia e efetividade aos princípios constitucionais da valorização da dignidade humana, da cidadania, da personalidade, da confiança, da probidade, da lealdade, da boa-fé, da honestidade nas relações jurídicas de direito privado.
b) A SOCIALIDADE: Está presente no novo Código a socialidade em detrimento do caráter individualista do antigo Diploma civilista. Daí o predomínio do social sobre o individual. Um exemplo interessante neste sentido é o da função social da propriedade A Constituição da República deu uma fisionomia funcional social ao direito de propriedade, que no seu art. 5º,
inciso XII, ao lado de garantir o direito de propriedade, logo em seguida no inciso XXIII.
A funcionalização do direito de propriedade importa em dar-lhe uma determinada finalidade, que na propriedade rural significa ser produtiva (art. 186) e na urbana quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressa no plano diretor (art. 182, § 2º). Tal novidade acabou por refletir-se na elaboração do novo Código Civil, em seu art. 1228, o que se mostra coerente com a inscrição de novos princípios norteadores, especialmente o da Socialidade, que vem tentar a superação do caráter manifestamente individualista do Diploma revogado, reflexo mesmo da publicização do Direito Civil, admitindo ainda a propriedade pública dos bens cuja apreensão individual configuraria um risco para o bem comum.
De lapidar redação, o § 1.º do art. 1228 estabelece que "O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas." Também digno de transcrição o § 2.º: "São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem."
c) OPERABILIDADE: Diversas soluções normativas foram tomadas no sentido de possibilitar uma compreensão maior e mais simplificada para sua interpretação e aplicação pelo operador do Direito. Exemplo disso foram as distinções mais claras entre prescrição e decadência e os casos em que são aplicadas; estabeleceu-se a diferença objetiva entre associação e sociedade, servindo a primeira para indicar as entidades de fins não econômicos, e a última para designar as de objetivos econômicos
 
1.5. Direito Civil e a Constituição da República de 1988.
Em relação a este item a ser desenvolvido pelo docente, uma sugestão é a de se começar afirmando que o Código Civil sempre representou o centro normativo de direito privado, por se preocupar em regular com inteireza e completude as relações entre particulares. Desta forma, o aluno será instado a perceber que existia uma verdadeira cisão na estrutura jurídica liberal no sentido de que a Constituição apenas deveria se preocupar em regular a dinâmica organizacional dos poderes do Estado, enquanto que ao Código Civil era reservado o regime das relações humanas, o espaço sagrado e inviolável da autonomia privada.
É exatamente nesta linha que surge a codificação de 1916, sendo fortemente influenciada pelo Código Napoleônico de 1804 e pelo BGB da Alemanha de 1896. Com aspirações de um jusnaturalismo racionalista, o Código Civil de 1916 defende os valores do patrimonialismo e de um excessivo individualismo inerentes às codificações liberais (aqui vale recordar as noções sobre as diversas correntes jusnaturalistas que o aluno aprendeu em IED, no período anterior).
Desta maneira, conferia-se ao Código o papel de garantia e regulação das relações privadas mediante a efetivação dos valores de um iluminismo liberalista. A codificação civil de 1916, então, surgiu impelida pelas ideias libertárias da burguesia ascendente, que visava à consolidação dos valores de um patrimonialismo e individualismo nas relações privadas. Assim, pelo liberalismo econômico, a Constituição exerceria um papel meramente interpretativo, somente podendo ser aplicada diretamente em casos excepcionais de lacunas dos códigos, a quem realmente caberia a missão de regular e equilibrar as relações interpessoais.
Neste sentido, o Código Civil se transforma numa verdadeira constituição do direito privado, buscando proteger o indivíduo contra as ingerências do Estado.
Importante ressaltar ao aluno, ainda que não seja o objetivo primordial desta aula, que o Código Civil de 1916 surgiu com um século de atraso das codificações individualistas e voluntaristas da Alemanha e da França, onde já se iniciavam as demandas por um maior intervencionismo estatal e pelo controle dos desequilíbrios das relações econômicas. Mas, mesmo assim, o Código de 1916 permaneceu ancorado neste modelo abstrato e totalmente inerte à realidade social e a crescente complexidade das relações humanas.
Esse excessivo individualismo e a liberdade sem limites ocasionaram grandes desigualdades sociais. Houve a necessidade de o Estado interferir nas relações de direito privado para minimizar essas desigualdades e limitar a liberdade dos indivíduos protegendo as classes menos favorecidas, em busca de uma igualdade substancial.
Aos poucos o Código Civil vai perdendo o seu papel de Constituição do direito privado. A ideia de código concebido como um sistema fechado foi sendo destruída, surgindo diversas leis especiais e, ao poucos, o Direito Civil foi se fragmentando.
Assim, a Constituição assume um novo papel de regência das relações privadas, conferindo uma nova unidade do sistema jurídico. A posição hierárquica da Constituição e sua ingerência nas relações econômicas e sociais possibilitam a formação de um novo centro unificador do sistema, definindo seus verdadeiros pilares e pressupostos de fundamentação.
Desta forma, a constitucionalização do Direito privado não importa em apenas conferir à constituição a superioridadehierárquica conformadora do ordenamento jurídico, mas, acima disto, quer proporcionar uma releitura dos velhos institutos e conceitos do âmbito privado, visando à concretização dos valores e preceitos constitucionais. A Constituição passa, assim, a definir os princípios e as regras relacionados a temas antes reservados exclusivamente ao Código Civil e ao império da vontade, como a função social da propriedade, organização da família e outros. Assim, foi se derrubando o paradigma individualista do Estado Liberal e do cidadão dotado de patrimônio, e passou-se a adotar um novo paradigma. As constituições começaram a trazer em seu bojo regras e princípios típicos de direito civil e a valorizar a pessoa colocando-a acima do patrimônio. Passou-se a buscar a justiça social ou distributiva e, aos poucos, a liberdade foi sendo limitada, com a finalidade de se alcançar uma igualdade substancial. É importante distinguir, por fim, a Constitucionalização do Direito Civil da publicização do direito privado. Muitos doutrinadores confundem essas duas situações, mas elas são distintas. 
A primeira é a analise do direito privado com base nos fundamentos constitucionalmente estabelecidos. É a aplicação dos mandamentos constitucionais no direito privado. Já a segunda é o processo de intervenção estatal no direito privado, principalmente mediante a legislação infraconstitucional. Por fim, é importante que o professor destaque para o aluno que a norma constitucional, apesar da resistência de alguns setores da doutrina, passa a ser diretamente aplicável às relações privadas. Note-se que a Constituição, por ser um sistema de normas, é dotada de coercibilidade e imperatividade e, sendo assim, é perfeitamente suscetível de ser aplicada nas relações de direito privado. E aqui é importante exemplificar, utilizando, por exemplo, o direito de família.
A Constituição de 1988, refletindo as mudanças nas relações familiares ocorridas ao longo do século XX deu um novo perfil aos institutos do direito de família.
Assim o novo CC teve que adaptar-se aos novos ditames constitucionais aprofundando-os:
- União Estável - reconhecida;
- Maioridade Civil: aos 18 anos; 
- Regime de bens: pode ser alterado por acordo entre os cônjuges;
-Exames de DNA para comprovação de paternidade: a recusa implica em reconhecimento da
filiação;
- Filhos nascidos fora do casamento: não há mais distinção entre filhos;
- Guarda dos filhos em caso de separação: os filhos podem ficar com o pai ou a mãe;
- Testamento: não mais precisa ser feito à mão pelo testador;
Sucessão: o cônjuge passa a ser herdeiro necessário.
 
Destaque-se ainda que o STF tem constantemente ressaltado a influência dos direitos fundamentais no Direito Civil, que assumiu seu papel como instrumento para assegurar o pleno desenvolvimento da pessoa (a exemplo de decisões emblemáticas como a ADI 4277 (união homoafetiva).
Estratégias de Aprendizagem
Sugere-se que o professor realize atividades com ao menos um dos filmes indicados no item cinemateca do material didático (pp. 16, 26, 33 e 34).
Indicação de Leitura Específica
Material didático:
CURIA, Luiz Roberto e RODRIGUES, Thais Camargo de Campos (col.) et al. Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2015. pp. 15-37.
Recursos
Quadro e pincel
Projetor
Datashow
Aplicação: articulação teoria e prática
Caso concreto
Rebeca comprou terreno em loteamento empreendido por Amaranta. Sem que constasse do instrumento contratual, Amaranta garantiu a Rebeca que teria vista definitiva a um belo monte, que era a grande atração do empreendimento, tendo inclusive assegurado que a legislação local não permitia edificações nos terrenos a frente do seu. Após alguns meses da aquisição do terreno, Amaranta solicitou uma alteração no plano de urbanização da cidade, que passou a permitir a edificação nos lotes em frente ao terreno de Rebeca, fazendo com que ela perdesse a visão para o monte.
Inconformada, Amaranta moveu uma ação contra Rebeca, tendo obtido êxito porque o órgão jurisdicional entendeu que pela boa-fé objetiva, existe um dever de não adotar atitudes que possam frustrar o objetivo perseguido pela autora, ou que possam implicar, mediante o aproveitamento da antiga previsão contratual, a diminuição das vantagens ou até infligir danos ao contratante.
 
Diante dos fatos narrados acima e com base no conteúdo das aulas desta semana, responda:
(a) A boa-fé objetiva é uma cláusula geral? Em caso afirmativo, explique o porquê de a boa-fé objetiva adequar-se ao conceito de cláusula geral. Em caso negativo, indique de maneira justificada a que categoria pertence a boa-fé objetiva.
(b) Qual(is) dos princípios estruturantes do CC/2002 foi(ram) levado(s) em consideração para que o magistrado interpretasse a boa-fé objetiva? Justifique.
Questão de múltipla escolha 01
Não se pode confundir codificação com compilação, estatuto e consolidação. Com efeito, o código:
 a) também chamado de coletânea, traduz-se em uma reunião ou junção de diversos textos legais, tal qual se encontram, em um único volume, adotando um critério compilador.
b) é a reunião ou agrupamento sistematizado de textos legais, de acordo com algum critério escolhido, em uma única lei ou decreto, considerando apenas as normas jurídicas em vigor sobre uma determinada disciplina jurídica.
c) é uma lei que apresenta um conjunto sistemático e unitário de normas jurídicas relacionadas à disciplina fundamental de um determinado ramo do direito.
d) se tomado em seu sentido mais estrito, não condensa normas preexistentes, mas cria direito novo para situações específicas, dispondo, no mesmo instrumento, sobre vários ramos do direito ao mesmo tempo.
 
Questão de múltipla escolha 02
Lia era casada com Carlos e mantinha relação amorosa secreta com Marcio. Ao descobrir a traição, Carlos separou-se de Lia e moveu uma ação de indenização por danos morais contra Marcio, alegando que a violação ao dever conjugal de fidelidade (art. 1566, I, CC) lhe trouxe abalo à honra. Sabendo que o dever de fidelidade é imposto apenas aos cônjuges, não aos terceiros que com eles possam se relacionar, e após uma breve pesquisa na jurisprudência do STJ (vide, a exemplo, o REsp 922.462/SP), leia as assertivas abaixo:
 
I- Márcio não deverá indenizar Carlos por danos morais.
II- Embora exista norma moral que impeça o relacionamento extraconjugal, não há qualquer previsão normativa que possa sustentar que a conduta de Marcio, ao se envolver com mulher casada, é ilícita.
 
Assinale a alternativa correta:
a) ambas as assertivas estão incorretas.
b) apenas a assertiva I está correta.
c) ambas as assertivas estão corretas e a assertiva II justifica a assertiva I.
d) ambas as assertivas estão corretas, mas a assertiva II não justifica a assertiva I.
Avaliação
Caso concreto 01
(a) A boa-fé objetiva é uma cláusula geral, eis que traduz-se como verdadeira "janela deixada pelo legislador civil em razão da mobilidade da vida", como "técnica legislativa que conforma o meio hábil para permitir o ingresso, no ordenamento codificado, de princípios valorativos ainda não expressos legislativamente, de standarts, arquétipos exemplares de comportamento, de deveres de conduta não previstos legislativamente (e, por vezes, nos casos concretos, também não advindos da autonomia privada), de direitos e deveres configurados segundo os usos do tráfego jurídico, de diretivas econômicas, sociais e políticas, de normas (...) (excerto extraído da página 30 do material didático).
(b) O princípio em questão é o da eticidade, que deve sempre orientar o magistrado na interpretação das cláusulas gerais.
 
Questão objetiva 01
Alternativa C
Indicação de leitura suplementar: DELGADO, Mario Luiz. Codificação e descodificação do direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011.
 
Questão objetiva 02
Alternativa C
Considerações Adicionais
Prof. René Dellagnezze

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